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Transformador: Modelo Ideal,

Modelo Real e Ensaios

ENG04407 – Conversão Eletromecânica de Energia I

Prof. Dr. Paulo Roberto Eckert

Departamento de Engenharia Elétrica - DELET


Escola de Engenharia - EE
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Introdução
 Embora o transformador não seja um dispositivo de conversão
eletromecânica de energia, ele é um componente indispensável dos
sistemas elétricos de potência que viabiliza a conversão de energia.
 Os conceitos de circuitos magnéticos estudados previamente são
fundamentais para entender o funcionamento de um transformador
real.
 O transformador é um dispositivo de concepção simples no qual
bobinas são enroladas em um núcleo ferromagnético de alta
permeabilidade.
 Transformadores permitem:
- adequação de níveis de tensão em sistema elétricos de potência;
- isolamento elétrico entre carga e fonte;
- casamento de impedâncias para otimizar a transferência de potência;
- utilização em instrumentação (TCs) e (TPs), por exemplo.
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Introdução
Os principais aspectos abordados no estudo de transformadores serão:
 Formas construtivas;
 Perdas no cobre, o fluxo disperso, a histerese e as correntes parasitas
no transformador;
 Correntes de excitação a vazio, e de inrush. Harmônicas em
transformadores trifásicos e monofásicos.
 Circuito equivalente para determinação das relações de
transformação reais;
 Eficiência e regulação de tensão de um transformador;
 Circuito equivalente de um transformador a partir de ensaios;
 Ligações de transformadores trifásicos;
 Autotransformadores;
 Transformadores de instrumentação (TCs) e (TPs);
 Condições de operação em paralelo;
OBS: O estudo será voltado para transformadores que operam na
frequência da rede dos sistemas elétricos de potências, isto é 50 e 60 Hz.
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Formas Construtivas
 Quanto à distribuição de fluxo magnético no núcleo, os
transformadores podem ser classificados em:
- transformador de núcleo envolvido;
- transformador de núcleo envolvente.

Monofásico de núcleo envolvido Monofásico de núcleo envolvente


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Formas Construtivas
Os transformadores trifásicos também podem ser de núcleo envolvido e
de núcleo envolvente. Como em todo projeto de engenharia existem
vantagens e desvantagens que podem justificar o uso de um ou de outro.

Trifásico de núcleo envolvido Trifásico de núcleo envolvente


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Transformador Ideal
No transformador ideal as perdas são desprezadas, o acoplamento
magnético é perfeito e quando não há carga no secundário a corrente
primária é nula.

Regra do ponto: quando o sentido de referência da corrente é tal que ela


entra no enrolamento pelo terminal assinalado por um ponto, a
polaridade da tensão induzida no outro enrolamento é positiva no
terminal assinalado com um ponto.
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Transformador Ideal
O equacionamento básico de um transformador ideal operando em um
sistema de tensão senoidal é dado por:
Note que essa relação
v1 N1 i N estabelece que a força
 1
 2 magnetomotriz FMM do
v2 N 2 i2 N1 primário e do secundário são
iguais.
É comum referir-se à relação entre o número de espiras, como relação de
transformação. Dependendo do autor esta relação será dada por N1/N2 ou
N2/N1. Ambas as relações podem ser usadas, desde que empregadas
corretamente. É sugerido utilizar:
1 : a v2  av1
N2
a
N1 i1
i2 
a
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Transformador Ideal
Para obter a impedância refletida para o primário em função da relação de
transformação, tem-se:
i1 1 : a i2 i1

v1 v2 Z v1 Z'

v1 v2 v
Z' i1  ai2  a  a2 1
i1 Z Z

2
Z  N1 
Z'  Z N 
a2  2

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Transformador Ideal
Exemplo:
Dado o circuito abaixo, determine:
a) A potência dissipada no resistor de 4 kΩ.
b) A relação de transformação a se o transformador com relação 1:4 for
substituído por outro com relação 1:a de forma que a potência
transferida para o resistor de 4 kΩ seja máxima.
c) Qual é o valor da potência dissipada no resistor de 4 kΩ na condição de
máxima transferência de potência determinada no item b)?

10 Ω 1 : 2,5 1:4

100 Vrms 4 kΩ

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Transformador Ideal
Exemplo:
Potência em função da relação de transformação a no caso do exemplo
anterior.

2
 
 100  4k
P  2 2
 10  4k  2.5 a
 2.52 a 2 

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Transformador Real
TRANSFORMADOR SEM CARGA
Sabe-se que quando o transformador opera sem carga, uma pequena
corrente (comparada á corrente nominal) circula pelo enrolamento e esta
produz um fluxo senoidal no núcleo do transformador.

 (t )  máxsen(t )
d 1 (t )  (t )
e1 (t )   N1   N1máx cos(t )
dt dt
2
E1  fN1máx  4, 44 fN1máx
2

E1 V1
máx  
2 fN1 2 fN1

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Transformador Real
TRANSFORMADOR SEM CARGA
 Observe que o fluxo não é dependente da corrente de carga!!!
 Ele é dependente da tensão aplicada no enrolamento primário.
 É dependente da frequência de excitação, que em sistemas de potência
praticamente é invariante.
 E é dependente do número de espiras do primário do transformador.
E1
máx 
2 fN1
OBS: Quando o transformador estiver operando com carga, haverá uma
queda de potencial na impedância série do transformador, como será visto
na sequência, e esta queda de potencial fará com que E1  V1, logo o fluxo
no núcleo pode diminuir um pouco se não houver compensação por meio
da elevação da tensão de alimentação.

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Transformador Real
TRANSFORMADOR SEM CARGA
 A corrente de magnetização produz uma potência reativa, logo estará
defasada de 90° da tensão de alimentação.
 Além da corrente de magnetização, existe uma corrente, somada a de
magnetização, gerada a partir das perdas ferromagnéticas no núcleo.
Esta corrente está em fase com a tensão de alimentação.

OBS: A corrente resultante é conhecida como corrente de excitação do


transformador.
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Transformador Real
TRANSFORMADOR SEM CARGA
O modelo do transformador nesta condição pode ser representado da
seguinte forma:
I I 2'  0 1 : a

 Ic Im  
V1 E1 E2
Rc Xm  

Onde:
Rc modela as perdas ferromagnéticas no núcleo (perdas por histerese e por
correntes parasitas);
Xm modela a reatância magnetizante do transformador.

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Transformador Real
TRANSFORMADOR COM CARGA
Quando o transformador opera com carga, haverá uma queda de potencial
nas resistências elétricas dos enrolamentos. Estas resistências podem ser
representadas no modelo, conforme segue:
I1 I 2' 1 : a I2

 R1 Ic Im   
R2
V1 E1 E2 Z V2
Rc Xm   

Onde:
R1 modela a resistência série do enrolamento primário;
R2 modela a resistência série do enrolamento secundário.

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Transformador Real
TRANSFORMADOR COM CARGA
Quando o transformador opera com carga, uma parte do fluxo do
enrolamento primário não vai concatenar o secundário e vice-versa.

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Transformador Real
TRANSFORMADOR COM CARGA
Este fluxo disperso, produz uma reatância chamada de reatância de
dispersão, que pode ser inserida no modelo, conforme segue:

I1 I2
I 2' 1 : a
   
X1 R1 I Im R2 X2
V1 c E1 E2 Z V2
Rc Xm   

Onde:
X1 é a reatância de dispersão do enrolamento primário;
X2 é a reatância de dispersão do enrolamento secundário.

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Transformador Real
O modelo representado abaixo é o modelo completo do transformador
operando em frequências industriais.

A partir deste modelo é possível determinar:


 as perdas por condução no transformador;
 as perdas no núcleo do transformador;
 o rendimento do transformador;
 o defasamento angular inserida pelo transformador;
 a regulação de tensão do transformador;
 etc.
1 : a
 
X1 R1 R2 X2
V1 Rc Xm Z V2
 

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Variações do Modelo Equivalente
O modelo equivalente apresentado anteriormente é o modelo completo por
fase de um transformador de potência que opera com frequência na ordem
de 50-60Hz.
1 : a
 
X1 R1 R2 X2
V1 Rc Xm Z V2
 

Existem, no entanto, simplificações deste modelo que podem ser aplicadas


dependendo do grau de detalhamento que se pretende obter na análise. As
simplificações mais comuns do modelo são mostradas abaixo:

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Variações do Modelo Equivalente
A primeira simplificação, conhecida como modelo L, apenas desloca o
ramo série do lado primário para somar-se ao lado secundário refletido
conforme figura

 
Req  R1  R2 ' X eq  X 1  X 2 '
V1 Rc Xm V2
 

A simplificação é aplicável, pois a queda de potencial no ramo série pouco


influencia a tensão sobre o ramo de excitação e, ainda assim, permite
considerar a impedância série do circuito.

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Variações do Modelo Equivalente
O modelo L permite a reflexão também para o lado secundário, se este for o
interesse, conforme figura.

 Req  R1 ' R2 X eq  X 1 ' X 2 


V1 Xm ' V2
Rc '
 

Esta simplificação permite determinar perdas no transformador,


deslocamento angular, e regulação de tensão e rendimento.

Uma aplicação típica deste modelo é para a determinação dos parâmetros


do circuito equivalente por meio de ensaios.

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Variações do Modelo Equivalente
Uma outra simplificação possível e aceitável é desconsiderar o ramo de
excitação, conforme figura.

 Req  R1  R2 ' X eq  X 1  X 2 ' 


V1 V2
 

Essa simplificação é aplicável, sem gerar erros significativos, em


transformadores de grande porte (maior ou igual a centenas de kVA), nos
quais a corrente de excitação é muito pouco significativa.

Esse modelo permite determinar as perdas por condução, o defasamento


angular e a regulação de tensão. Pode ser aplicado, por exemplo, em análise
de sistemas de distribuição de energia.
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Variações do Modelo Equivalente
Na análise de sistemas elétricos de potência é possível empregar uma
simplificação que considera somente a reatância série do transformador.

 X eq  X 1  X 2 ' 
V1 V2
 
Essa simplificação é aplicável, sem gerar erros significativos, em
transformadores de grande porte (ordem de MVA), nos quais a corrente de
excitação é pouco significante, e a resistência série é muito menor que a
reatância série.
Esse modelo permite determinar o defasamento angular inserido pelo
transformador e permite determinar de forma aproximada a regulação de
tensão. Esse modelo é empregado, por exemplo, na análise de sistemas de
transmissão de energia.
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Ensaios para Determinação do Modelo Equivalente
A determinação dos parâmetros é realizada por meio de dois ensaios:

1 – ensaio de curto-circuito;
2 – ensaio a vazio ou de circuito aberto.

O ensaio de curto-circuito consiste em curto-circuitar um dos lados do


transformador e aplicar uma tensão no lado oposto até que seja atingida a
corrente nominal no lado onde foi aplicada a tensão. Neste ensaio são
medidas: a corrente do lado onde foi aplicada a tensão, a tensão aplicada e a
potência ativa.

O ensaio a vazio ou de circuito aberto consiste em abrir os terminais de


um dos lados do transformador e aplicar a tensão nominal no lado oposto.
Neste ensaio são medidas: a corrente do lado onde foi aplicada a tensão, a
tensão aplicada e a potência ativa.

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Ensaios para Determinação do Modelo Equivalente
ENSAIO DE CURTO-CIRCUITO
Ligação e medidas:

Circuito equivalente T
R1 X1 R2 ' X2 '
Rc Xm

Circuito equivalente L
Req X eq
Rc Xm

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Ensaios para Determinação do Modelo Equivalente
ENSAIO DE CURTO-CIRCUITO
O ensaio de curto circuito permite determinar a impedância equivalente
série, pois o ramo de excitação pode ser desprezado. As equações abaixo
são aplicáveis:

Vcc Pcc
Z eq  Req  2 X eq  Z eq  Req 2
2

I cc I cc
É possível determinar individualmente R1 e R2’ a partir da medida das
resistência dos enrolamentos; no entanto, é difícil determinar de forma
isolada X1 e X2’ sem uma análise detalhada e complexa da distribuição do
campo nos enrolamentos sob condições de carga.
Se for necessário obter os parâmetros isolados é comum fazer a
aproximação:
R1  R2 '  0,5 Req X 1  X 2 '  0,5 X eq

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Ensaios para Determinação do Modelo Equivalente
ENSAIO A VAZIO
Ligação e medidas:

Circuito equivalente T

R1 X1 R2 ' X2 '
Rc Xm

Circuito equivalente L
Req X eq
Rc Xm

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Ensaios para Determinação do Modelo Equivalente
ENSAIO A VAZIO OU DE CIRCUITO ABERTO
O ensaio a vazio permite determinar a impedância do ramo de excitação,
pois a impedância série pode ser desprezada. As equações abaixo são
aplicáveis:

Vca 2 Vca 2
Zm  Rc 
Vca Xm 
I ca Pca (Vca I ca ) 2  Pca 2

A determinação de Rc e Xm permite conhecer as perdas ferromagnéticas no


núcleo e permite determinar a potência reativa necessária para magnetizar o
transformador.
Se uma maior precisão na determinação deste parâmetros for desejável,
pode-se fazer inicialmente a determinação de R1 e X1 e considerar estes para
determinação de Rc e Xm, mas raramente isso é necessário.

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Ensaios para Determinação do Modelo Equivalente
OBSERVAÇÕES PRÁTICAS REFERENTES AOS ENSAIOS
O lado cujos ensaios são realizados pode variar de acordo com a conveniência e
de acordo com a disponibilidade de equipamentos para realização do ensaio.

O ensaio a vazio geralmente é realizado aplicando tensão nominal no lado de


baixa tensão, por conveniência. Neste ensaio são determinadas características
associadas ao núcleo ferromagnético.

O ensaio de curto-circuito geralmente é realizado fazendo-se o curto-circuito no


lado de baixa tensão, por conveniência, pois o valor nominal de corrente no
lado de alta é menor e a tensão que se precisa aplicar geralmente não ultrapassa
5-15% do valor nominal.

Importante: é preciso tomar cuidado na hora de montar o circuito equivalente


se o ensaio foi realizado em lados opostos. Deve-se fazer a reflexão de
impedâncias para adequação do circuito equivalente.

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Ensaios para Determinação do Modelo Equivalente

Exemplo:
Determine o circuito equivalente de um transformador de 20 kVA,
60 Hz, que apresenta relação de transformação nominal de
8000:240 V. Os resultados dos ensaios são apresentados abaixo:

Ensaio a vazio Ensaio de curto-circuito


(lado de baixa) (lado de alta)
Vca = 240 V Vcc = 489 V
Ica = 7,133 A Icc = 2,5 A
Pca = 400 W Pcc = 240 W

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Principais referências
BIM E., Máquinas Elétricas e Acionamento, 2ª Ed., Campus:
Elsevier, 2012.

CHAPMAN, S. J. ELECTRIC MACHINERY


FUNDAMENTALS, 4th Ed., MacGraw Hill, 2005.

FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY, C. J.; UMANS S. D.


Electric Machinery, 6th Ed., MacGraw Hill, 2003.

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