Você está na página 1de 19

GERAÇÃO DE

ENERGIA ELÉTRICA
Controle de tensão
no gerador síncrono
Miguel Francisco da Silveira

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Definir o papel de um sistema de controle de tensão no gerador síncrono.


>> Descrever a ação de controle na tensão terminal do gerador.
>> Apresentar exemplos de sistemas de controle de tensão no gerador síncrono.

Introdução
A maior parte do sistema interligado nacional (SIN) é baseada em sistemas de
geração hidrelétrica, uma fonte de energia limpa, que possui a queda d’água
como fonte de energia, a turbina como máquina primária e o gerador síncrono
como unidade de geração de energia elétrica. Dessa forma, as máquinas síncronas
formam a base do sistema de geração de energia elétrica brasileiro (EMPRESA DE
PESQUISA ENERGÉTICA, 2020).
Em um sistema de geração, o controle da frequência e da tensão geradas é de
grande relevância, uma vez que implica questões de qualidade de energia fornecida.
Manter o controle e a estabilidade dessas variáveis faz parte do gerenciamento
do sistema (OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO, 2020a). Entender como
essas variáveis se comportam e se interacionam é muito importante para um
engenheiro e o exercício de suas atividades.
Neste capítulo, você vai estudar o controle de tensão em um gerador síncrono,
entender a ação do controle nos níveis de tensão terminal do gerador e ver exem-
plos de sistemas de controle de tensão no gerador síncrono.
2 Controle de tensão no gerador síncrono

Tensão no gerador síncrono


Máquinas elétricas de corrente alternada são classificadas entre máquinas
síncronas e máquinas assíncronas, ou de indução. As máquinas assíncronas
são muito utilizadas como motores industriais, enquanto as síncronas podem
operar como motores ou geradores, dependendo da excitação de campo.
A classificação entre assíncrona e síncrona é dada pelo comportamento das
velocidades dos campos magnéticos e da velocidade angular do rotor, sendo
uma máquina síncrona quando a velocidade dos campos magnéticos está em
sincronia com a velocidade do rotor, a velocidade síncrona. Nas máquinas
assíncronas, existe um escorregamento entre essas variáveis, a velocidade
angular mecânica do rotor será menor que a velocidade dos campos mag-
néticos (FITZGERALD; KINGSLEY JUNIOR; UMANS, 2006).
O gerador síncrono ainda pode ser classificado em razão de suas caracte-
rísticas construtivas, em relação às características mecânicas do rotor como
sendo de polos lisos ou polos salientes. Tipicamente geradores que operam
em baixa rotação, como os geradores para hidrelétricas, são do tipo polos
salientes, e os geradores de alta rotação, como as termoelétricas, são do tipo
de polos lisos (FITZGERALD; KINGSLEY JUNIOR; UMANS, 2006).
Na Figura 1, podemos ver a representação com corte interno de um gerador
síncrono de polos salientes.

Figura 1. Representação com corte interno de um gerador síncrono de polos salientes.


Fonte: Adaptada de Kundur (1994).
Controle de tensão no gerador síncrono 3

Na Figura 1, é possível observar o rotor, de polos salientes, e o respectivo


enrolamento de campo no rotor, enrolamento este que será responsável por
formar um eletroímã, e consequentemente um campo magnético, para a geração
de energia elétrica nos enrolamentos de armadura. Os enrolamentos trifásicos
de armadura também estão apresentados na Figura 1, no estator, como fases
A, B e C. O entreferro, os eixos magnéticos de cada fase e os eixos direto e em
quadratura do rotor também são trazidos na Figura 1 (KUNDUR, 1994).
Um gerador síncrono é modelado em um circuito elétrico para análise e
entendimento das características e dos comportamentos elétricos. A Figura
2 traz essa representação, sendo um modelo por fase. As demais fases são
análogas, com defasagem de 120° entre cada uma.

Figura 2. Modelagem simplificada de um gerador síncrono, por fase.

Os elementos da Figura 2 são a tensão gerada (Êaf), a reatância síncrona (Xs),


a resistência de armadura (Ra) e a tensão terminal (Va). Entretanto, para que haja
geração de energia elétrica, é necessário que exista giro do rotor e corrente no
enrolamento de campo (FITZGERALD; KINGSLEY JUNIOR; UMANS, 2006).
O controle da tensão gerada, para que o gerador opere dentro das espe-
cificações estabelecidas, ficará a cargo do controlador de tensão, conhecido
como regulador de tensão (RT) ou regulador automático de tensão (AVR, do
inglês automatic voltage regulator) (FINCH et al., 1991).

A tensão é controlada pelo regulador de tensão que atua no en-


rolamento de campo do gerador. A velocidade é controlada pelo
regulador de velocidade, ou governador, que tipicamente atua na turbina, na
máquina primária, e não diretamente no gerador síncrono.
4 Controle de tensão no gerador síncrono

Os controladores de velocidade e tensão têm papel de destaque em um


sistema de geração, pois refletem em parâmetros de qualidade de energia.
O submódulo 2.9 — Requisitos mínimos de qualidade de energia elétrica
para acesso ou integração à rede básica — do Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS), que trata de questões de qualidade de energia elétrica (QEE),
estabelece como 0,1 Hz (para mais ou para menos) a máxima variação ins-
tantânea de frequência aceitável devido a variações de carga. O submódulo
9.7, que trata dos indicadores de QEE da rede básica, estabelece os níveis de
tensão adequadas em regime permanente para os diferentes níveis de tensão
nominal (OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO, 2020a).
As faixas adequadas, precárias e críticas são representadas na Figura 3.

Figura 3. Classificação da tensão de atendimento, ou tensão de leitura (TL), em regime


permanente, em função da tensão nominal (TN) para barramentos sob responsabilidade de
concessionárias de transmissão, em referência à tensão contratada (TC).
Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico (2020a, p. 8).

Cabe ao regulador de tensão, junto com os demais sistemas de controle,


atuar nos geradores síncronos para que os níveis de qualidade de energia sejam
atendidos. O regulador automático de tensão possui um papel relevante sobre
o desempenho do gerador síncrono, tanto em operações isoladas quanto em
operações integradas, sendo apenas o regulador de velocidade insuficiente para
controlar e regular as variações de carga no caso de o gerador não trabalhar
em paralelo com um barramento infinito (AZZOUZ; ELASSAL; ELSEDAWI, 1997).
Controle de tensão no gerador síncrono 5

Controle de tensão terminal


A tensão terminal do gerador síncrono é a tensão entregue ao sistema, li-
teralmente a tensão nos terminais externos do gerador, já descontadas
todas as perdas por impedâncias internas. É, portanto, a tensão de interesse
(FITZGERALD; KINGSLEY JUNIOR; UMANS, 2006).
Considerando o modelo simplificado do gerador síncrono apresentado
na Figura 2, e por meio de simples análise de circuito, se deduz a tensão nos
terminais (Va) do gerador síncrono de acordo com a Equação (1).

(1)

A reatância de síncrona (Xs) e a resistência de armadura (Ra) fazem parte


dos parâmetros construtivos da máquina, portanto não podem ser controla-
dos durante a operação do gerador. A corrente de armadura (Ia) será função
da potência disponibilizada ou da corrente demandada pela carga. Sendo
assim, o controle da tensão terminal deverá atuar sobre a tensão gerada (Êaf)
(FITZGERALD; KINGSLEY JUNIOR; UMANS, 2006).
A Figura 4 apresenta um diagrama fasorial das tensões em um gerador
síncrono de polos lisos, onde Va é apresentado como Vϕ.

Figura 4. Diagrama fasorial de um gerador síncrono.


Fonte: Chapman (2013, p. 205).

Na Figura 4, é possível verificar a tensão terminal (Vϕ), a tensão gerada (Ea),


o ângulo de carga entre elas (δ) e os fasores de queda de tensão na reatância
de síncrona (jXsIa) e na resistência de armadura (IaRa).
A tensão gerada, por sua vez, é função da corrente de campo e da frequ-
ência, conforme a Equação (2).

(2)

Na Equação (2) constam as seguintes variáveis:


6 Controle de tensão no gerador síncrono

 Eaf = tensão gerada [V];


 If = corrente de campo [A];
 Laf = impedância mútua entre campo e armadura [H];
 ωe = velocidade angular elétrica [rad/s].

Laf é dependente das características construtivas do gerador e não pode


ser controlado na operação da máquina. As variáveis de controle da tensão
gerada são, portanto, a corrente de campo (If) e a frequência elétrica (fe)
(FITZGERALD; KINGSLEY JUNIOR; UMANS, 2006).
A velocidade angular e a frequência elétrica são relacionadas de acordo
com a Equação (3).

(3)

A quantidade de polos do gerador e a velocidade de giro do rotor (n) e a


quantidade de polos do gerador vão definir a frequência elétrica, conforme
a Equação (4).

(4)

O número de polos trata-se de uma característica construtiva de cada


máquina e não pode ser controlado, dessa forma a frequência da tensão gerada
dependerá única e exclusivamente da velocidade de rotação do rotor (n), ou
seja, do conjugado da fonte primária. Na Equação (4), n é dado em rotações
por minuto (rpm) (FITZGERALD; KINGSLEY JUNIOR; UMANS, 2006).

A frequência elétrica do sistema elétrico brasileiro é estabelecida


em 60 Hz conforme os procedimentos de rede do Operador Nacional
do Sistema Elétrico (2020b).

A tensão terminal e a corrente fornecida, o torque, ou conjugado, irão


resultar na potência reativa e na potência ativa gerada, dados de extrema
relevância em um sistema de geração (CHAPMAN, 2013).
Em resumo, há duas variáveis de controle em um gerador síncrono, que
são a corrente de campo e a velocidade angular do eixo, as quais vão atuar
sobre as quatro variáveis de saída (ELGERD, 1976):
Controle de tensão no gerador síncrono 7

 Pg = potência ativa gerada [W];


 Qg = potência reativa gerada [VAr];
 Va = tensão de armadura [V];
 f = frequência da tensão gerada [Hz].

Essas afirmações são aplicáveis aos geradores que operam de forma


isolada, conforme o apresentado na Figura 5.

Figura 5. Gerador alimentando carga de forma isolada.


Fonte: Chapman (2013, p. 214).

O gerador da Figura 5 alimenta diretamente uma carga, sem operação em


paralelo com outro gerador nem de forma interligada ao SIN.
O SIN, assim como qualquer outro grande sistema de geração interligado,
formará um sistema robusto que estabelecerá os padrões de frequência e
de tensão, o que é comumente chamado de barramento infinito. Conforme
Chapman (2013, p. 233):

Um barramento infinito é um sistema de potência tão grande que sua tensão e


sua frequência não variam, independente de quanta potência ativa ou reativa é
retirada ou fornecida ao sistema.

A Figura 6 mostra a representação da ligação de um gerador síncrono ao


barramento infinito.

Figura 6. Gerador síncrono operando em paralelo ao barramento infinito.


Fonte: Chapman (2013, p. 234).
8 Controle de tensão no gerador síncrono

O gerador conectado ao barramento infinito, conforme a Figura 6, adotará


a frequência e a tensão terminal do barramento infinito. Portanto, ao gerador
ser conectado a um barramento infinito, após sua sincronização, as variações
no torque da máquina primária ou na corrente de campo não mais ocasionarão
alterações na frequência e na tensão terminal, respectivamente, pois estas
serão mantidas com os mesmos valores do barramento, devido à sua grande
inércia. Essas alterações então afetarão as potências reativas e ativas, dei-
xando, assim, o sistema com apenas duas variáveis de saída (ELGERD, 1976).
Para que um gerador possa ser conectado a um barramento infinito,
ou simplesmente em paralelo a outro gerador, certas condições devem ser
atendidas. Elas são chamadas de condições de sincronismo, pois representam
o sincronismo do gerador com o barramento infinito. De acordo com Elgerd
(1976), os critérios a seguir, entre o gerador e o barramento infinito, devem
ser satisfeitos para que ocorra a conexão ao sistema:

a) possuir a mesma frequência e a mesma sequência de fase;


b) possuir o mesmo módulo de tensão;
c) tensões deverão estar em fase, sem diferença angular entre a tensão
da rede e do gerador.

A condição a) é atingida por controle da velocidade angular da máquina pri-


mária; b) é obtido por meio de alterações da corrente de campo do gerador; e c)
por meio da correta ligação das fases do gerador com o barramento infinito.
Essas condições estão ilustradas na Figura 7.

Figura 7. Condições de sincronismo.


Controle de tensão no gerador síncrono 9

Na Figura 7, UR , US e UT são as tensões de fase do barramento, e UU, UV e


UW são as tensões terminais do gerador. A tensão em fase, sem diferença de
tensão entre gerador e barramento, ocorrerá quando ΔU (diferença de tensão)
for zero, ou muito próximo a zero (ELGERD, 1976).
Um experimento didático interessante e que remete aos controles manuais
existentes no início das operações dos sistemas interligados é a técnica do fogo
girante. Nessa técnica, são utilizadas lâmpadas entre as fases do gerador e do
barramento infinito. Deve-se observar as lâmpadas acenderem e apagarem
para poder atuar sobre a velocidade de giro do rotor e sobre a tensão terminal,
através da corrente de campo, ajustando assim a frequência e a amplitude da
tensão gerada, e realizar o acoplamento do gerador ao barramento no momento
correto, quando as lâmpadas apagarem, demonstrando então que não há
diferença de potencial entre o gerador e o sistema (ELGERD, 1976).
A Figura 8 apresenta o esquema de ligação considerando a técnica do
fogo girante.

Figura 8. Ligação do gerador ao sistema.


Fonte: Adaptada de Elgerd (1976).

No entanto, a operação prática não utiliza métodos manuais, a verificação


eletrônica de sincronismo é precisa e coíbe manobras arriscadas que pode-
riam trazer enorme risco ao gerador e aos operadores. Para os equipamentos
comerciais, existe uma função de verificação de sincronismo já estabelecida,
10 Controle de tensão no gerador síncrono

que atuará sobre o disjuntor que faz o acoplamento entre o gerador e o barra-
mento infinito. De acordo com o American National Standards Institute (ANSI),
a função “25” é relativa aos relés de verificação de sincronismo (SCHWEITZER
ENGINEERING LABORATORIES, 2020).
O RT, ou AVR, como já dito, é o equipamento responsável pela excitação
dos geradores síncronos, atuando diretamente na corrente de campo. Quando
o gerador está operando a vazio, ele é responsável por ajustar a tensão de
saída para o nível desejado, e quando o gerador está trabalhando interligado
a um barramento infinito, o regulador é responsável pelo controle de potência
reativa e pela estabilidade da máquina (FINCH et al., 1991).

As excitatrizes com escovas eram os primeiros sistemas de excitação


de campo. Atualmente, o sistema de excitação, controlado pelo
regulador de tensão, é totalmente baseado em eletrônica de potência e sistemas
de controle com malhas realimentadas, com consequente controle preciso da
corrente de campo.

Um sistema de controle de tensão (RT) irá monitorar as variáveis de tensão


terminal, de tensão de barramento, frequência e corrente de armadura e irá
atuar sobre a corrente de campo (If) por meio de um sistema de controle,
operando em malha fechada, que, por sua vez, irá atuar no sistema de excita-
ção eletrônico. Já um controlador de velocidade irá monitorar essas mesmas
variáveis e atuará sobre a máquina primária, controlando a sua velocidade
de rotação de forma mecânica (CHAPMAN, 2013).
A Figura 9 representa esse esquema de atuação.

Figura 9. Ligação do gerador ao sistema.


Controle de tensão no gerador síncrono 11

Na Figura 9, é possível observar as variáveis de entrada do bloco de con-


trole e suas variáveis de saída, para atuação na corrente de campo e na
velocidade de rotação.

Sistema de controle de tensão do gerador


na prática
O controle da tensão, ou da potência reativa, é então baseado na ação dos
blocos de controle do regulador de tensão (RT), ou AVR, que irá atuar sobre a
corrente de campo. A Figura 10 apresenta essa representação, com o princípio
de atuação de um RT.

Figura 10. Representação básica de um RT.


Fonte: Adaptada de Benmouyal (2007).

Na Figura 10, observa-se, ainda, a opção de utilização de regulador ma-


nual, em vez do regulador automático com blocos de controle. Essa opção
não é recomendada devido às chances de falhas causadas pelo operador
(BENMOUYAL, 2007).
12 Controle de tensão no gerador síncrono

Entretanto, as técnicas de controle empregadas nas malhas de controle


podem variar de acordo com cada fabricante desses equipamentos. Existem,
inclusive, padrões matemáticos de teste de estabilidade para os controles dos
AVR. O padrão IEEE Std 421.5-2016 – Prática Recomendada IEEE para Modelos
de Sistema de Excitação para Estudos de Estabilidade de Sistema de Potência
(tradução livre de “IEEE Recommended Practice for Excitation System Models
for Power System Stability Studies”) traz esses modelos matemáticos para
os estudos e simulações dos sistemas de excitação e controle associados,
incluindo os AVRs e controles suplementares como estabilizadores do sis-
tema de potência (PSS, do inglês power system stabilizers) (IEEE STANDARDS
ASSOCIATION, 2016).
A Figura 11 mostra um dos modelos presentes no IEEE 421.5-2-16, apenas
para ilustração.

Figura 11. Sistema de excitação modelado, padrão DC2C.


Fonte: Adaptada de IEEE Standards Association (2016).

O bloco da Figura 11 traz como saída EFD, que será a tensão aplicada no
enrolamento de campo, alterando consequentemente a corrente de campo.
Controle de tensão no gerador síncrono 13

O controle da tensão terminal, ou da potência reativa disponibilizada,


por meio do controle da corrente de campo pode se dar de diversas for-
mas. Comercialmente pode ser utilizados blocos de controle tradicionais,
como o PID (proporcional, integral, derivativo). A Figura 12 apresenta um
exemplo de uso prático de um bloco de controle da corrente de campo
utilizado em um AVR.

Figura 12. Modelo de controle de corrente de campo de um AVR.


Fonte: Adaptada de Automatronic (2010).

O mesmo regulador de tensão (RT ou AVR) da Figura 12 também controlará


a potência reativa (Q) do gerador síncrono por meio da ação sobre a corrente
de campo. De mesmo modo, um bloco PID pode ser utilizado nesta malha de
controle, conforme demonstrado na Figura 13.

Figura 13. Modelo de controle de reativos de um AVR.


Fonte: Adaptada de Automatronic (2010).
14 Controle de tensão no gerador síncrono

Os blocos de controle que operam o RT sempre deverão considerar as


curvas de capabilidade do gerador síncrono sob controle, visto que
essa curva define os limites operacionais do gerador e os limites de estabilidade
em regime desse gerador.

Outras técnicas de controle podem ser utilizadas, como a phase locked


loop (PLL) para o controle de um gerador conectado à rede, que se mostrou
muito efetivo para sistemas desbalanceados (RODRIGUEZ et al., 2007). Diver-
sas outras técnicas são utilizadas, ou estudadas, e irão depender de cada
aplicação específica.
Além disto, existem diversos equipamentos comerciais que realizam a
função de RT de forma isolada ou de forma integrada com outras. O bloco
de controle representado previamente na Figura 9 já apresenta o controle
de tensão e velocidade em um único bloco, o que pode ocorrer na prática,
com sistemas que integram RT e ARV em um único sistema.

O regulador ARVTI 2000, da empresa Automatronic, integra os regu-


ladores de velocidade e tensão, distintos, com comunicação interna
entre eles, de modo que os dois possam controlar e monitorar a todo o instante.
Após o ciclo de partida da máquina, ambos os reguladores operam em conjunto
para que os níveis desejados possam ser alcançados, permitindo operação
do gerador de modo paralelo, interligado ao SIN ou de forma independente
(AUTOMATRONIC, 2010). Além deste, existem inúmeros outros fabricantes que
oferecem soluções similares.

Ainda de forma comercial, e com foco em sistemas de geração de pequeno


porte, a integração de funções pode ocorrer ainda com outro tipo de sistemas,
como equipamentos que integram sistemas de proteção com os reguladores.

O relé 700GT da SEL é dedicado às aplicações de geração distribuída,


possuindo, assim, funções de proteção e de controle para o lado do
gerador e para o lado da concessionária. Esses relés permitem, ainda, que sejam
executadas lógicas adicionais para o controle da unidade geradora, bem como
funções específicas como o sincronismo automático (Figura 14).
Controle de tensão no gerador síncrono 15

Figura 14. Ligação do relé multifunção ao sistema.


Fonte: Adaptada de Schweitzer Engineering Laboratories (2018).

Portanto, fica evidente o papel e a importância do AVR na operação e na


estabilidade do gerador síncrono, tanto na etapa de sincronização desse
gerador quanto na operação com carga alimentada diretamente ou conectada
ao barramento infinito. As alterações no valor da corrente de campo (If) irão
gerar alterações no valor da tensão terminal caso esteja operando de forma
isolada, ou na potência reativa caso o gerador síncrono esteja operando de
forma interligada ao barramento infinito; os blocos de controle empregados
são parte de destaque nesse contexto.

Referências
AUTOMATRONIC. ARVTi2000: regulador de velocidade e tensão integrado: revisão 05 de
02/08/2010. Guaramirim: Automatronic, 2010. 80 p. Disponível em: http://automatronic.
com.br/uploads/manuais/1361305575-manual-arvti-2000.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.
AZZOUZ, E.; ELASSAL, A.; ELSEDAWI, I. Effects of AVR systems on the performance of
synchronous generators. In: CANADIAN CONFERENCE ON ELECTRICAL AND COMPUTER
ENGINEERING. ENGINEERING INNOVATION: VOYAGE OF DISCOVERY, 1997, St. John's. Pro-
ceedings […]. Piscataway: IEEE, 1997. p. 47–50.
BENMOUYAL, G. O impacto do sistema de excitação dos geradores síncronos nos relés
e sistemas de proteção. Pullman: Schweitzer Engineering Laboratories, 2007. 16 p. Dis-
ponível em https://cms-cdn.selinc.com/assets/Literature/Publications/Technical%20
Papers/6281_SynchronousGenerators_GB_pt_BR_Web.pdf?v=20190903-220621. Acesso
em: 24 abr. 2021.
16 Controle de tensão no gerador síncrono

CHAPMAN, S. J. Fundamentos de máquinas elétricas. 5. ed. Porto Alegre: AMGH; Book-


man, 2013. 700 p.
ELGERD, O. I. Introdução à teoria de sistemas de energia elétrica. São Paulo; McGraw-
-Hill do Brasil, 1976. 604 p.
EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Balanço energético nacional 2020: relatório síntese
/ ano base 2019. Rio de Janeiro: EPE, 2020. 72 p. Disponível em: https://www.epe.gov.
br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publica-
cao-479/topico-521/Relato%CC%81rio%20Si%CC%81ntese%20BEN%202020-ab%20
2019_Final.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.
FINCH, J. W. et al. Advanced digital techniques applied to turbine generator excitation
control. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON CONTROL, 1991, Edinburgh. Proceedings
[…]. Piscataway: IEEE, 1991. v. 2. p. 1089–1094.
FITZGERALD, A. E.; KINGSLEY JUNIOR, C.; UMANS, S. D. Máquinas elétricas: com introdução
a eletrônica de potência. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. 648 p.
IEEE STANDARDS ASSOCIATION. IEEE Std 421.5-2016: IEEE recommended practice for
excitation system models for power system stability studies. New York: IEEE, 2016. 193 p.
KUNDUR, P. Power system stability and control. Palo Alto: McGraw-Hill, 1994. 1176 p.
OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO. Submódulo 2.7 – indicadores de qualidade
da energia elétrica da rede básica: revisão 2020.12. Rio de Janeiro: ONS, 2020a. 16 p.
Disponível em http://apps08.ons.org.br/ONS.Sintegre.Proxy/ecmprsite/ecmfragments-
documents/Subm%C3%B3dulo%209.7-IN_2020.12.pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.
OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO. Submódulo 2.9 – requisitos mínimos de
qualidade de energia elétrica para acesso ou integração à rede básica: revisão 2020.12.
Rio de Janeiro: ONS, 2020b. 15 p. Disponível em: http://apps08.ons.org.br/ONS.Sintegre.
Proxy/ecmprsite/ecmfragmentsdocuments/Subm%C3%B3dulo%202.9-RQ_2020.12.
pdf. Acesso em: 24 abr. 2021.
RODRIGUEZ, P. et al. Decoupled double synchronous reference frame PLL for power
converters control. IEEE Transactions on Power Electronics, Piscataway, v. 22, n. 2,
p. 584–592, Mar. 2007.
SCHWEITZER ENGINEERING LABORATORIES. SEL-300G: generator relay. Pullman: Schweit-
zer Engineering Laboratories, 2020. 20 p. Disponível em: https://cms-cdn.selinc.
com/assets/Literature/Product%20Literature/Data%20Sheets/300G_DS_20200624.
pdf?v=20200707-170009. Acesso em: 24 abr. 2021.
SCHWEITZER ENGINEERING LABORATORIES. SEL-700G: relé de proteção de gerador. Cam-
pinas: Schweitzer Engineering Laboratories, 2018. 16 p. Disponível em: https://cms-cdn.
selinc.com/assets/Literature/Product%20Literature/Flyers/700G_PF00211PT_20180925.
pdf?v=20191016-151345. Acesso em: 24 abr. 2021.

Leituras recomendadas
HENDERSON, D. An advanced electronic load governor for control of micro hydroe-
lectric generation. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON POWER ELECTRONICS, DRIVES
AND ENERGY SYSTEMS FOR INDUSTRIAL GROWTH, 1996, New Delhi. Proceedings […].
Piscataway: IEEE, 1996. p. 997–1001.
MONTICELLI, A. J. Fluxo de cargas em redes de energia elétrica. São Paulo: Edgard
Blücher, 1983. 164 p.
Controle de tensão no gerador síncrono 17

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos


testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores
declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.

Você também pode gostar