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Ressonância em circuito RLC

Sângela Laisla Vieira e Luiz Bernardo Palma Nunes1


1 Departamento de Fı́sica, Universidade Federal de Minas Gerais, MG, Brasil

I. Introdução
1 1
Quando o fasor de tensão aplicado a um circuito elétrico 2π f0 L = →
− f0 = √ . (4)
2π f0C 2π LC
contendo resistência, reatância indutiva e reatância capacitiva
está em fase com o fasor de corrente, diz-se que o circuito é A frequência de ressonância é um parâmetro fundamental
ressonante. que descreve o comportamento do circuito RLC, e dela deri-
vam outros dois parâmetros relevantes. A largura de banda e
o fator de qualidade Q do circuito.
A. Descrição Teórica A largura de banda da ressonância é definida como o inter-
valo de frequências dentro do qual a potência media efetiva no
Em um circuito RLC como o mostrado na figura (1) abaixo, resistor Pre f (ω), e equivalentemente do circuito no momento,
a Lei de Ohm é escrita como: é maior ou igual á metade do valor máximo, ou seja, ∆ω cor-
responde a amplitude a meia-altura da curva da potência em
ε
I(t) = . (1) função da frequência.
Z
R
Onde ε é a tensão alternada da fonte, I(t) é a corrente no ∆ω = . (5)
L
circuito, e Z seu equivalente resistivo chamado impedância,
que depende da resistência R, e das reatâncias capacitiva Xc e A potencia correspondente a largura de banda δ ω é então:
indutiva XL dos elementos:
∆ω Pω
q Pre f (ω0 + )= 0. (6)
Z = R2 + (XL − XC )2 (2) 2 2

Figura 1: Circuito RLC em série. com resistência R, capa-


citância C, indutância L.

Aplicando-se 2 em 1 pode-se reescrever a corrente como: Figura 2: Curva de potencia em função da frequência ω do
circuito.
ε
I=p . (3)
R + (XL − XC )2
2
O fator q do circuito diz respeito a qualidade ressonante do
circuito para uma potencia, e é a razão entre a frequência de
Na frequência de oscilação para a qual a corrente é máxima, ressonância e a largura de banda da ressonância.
XL e Xc se cancelam mutuamente, e o circuito se comporta
como um circuito resistivo. Onde o fasor tensão aplicada o
circuito, e o fasor de corrente do circuito estão em fase. ωr
Q= (7)
Tal frequência é chamada de frequência de ressonância e é ∆ω
obtida igualando-se XL e XC : Substituindo 4 e 5 em 6, tem-se que o fator q é dado por:
Experimento 5. Ressonância em circuito RLC

L
Q = 2π f0 . (8)
R
Como substituindo 4 em 8 temos:
r
1 L
Q= (9)
R C
A potencia efetiva da resistência, e equivalentemente do cir-
cuito. Assim como a corrente, na ressonância também será
máxima, uma vez que pela lei de Ohm, a potência é dada por:

V2
Pre f = cos(φ ) (10)
2R
Onde cos(φ ) é um fator de correção, e diz respeito a defa-
sagem de sinais φ .
 
XL − XC
φ = arctan (11)
R

Como para o caso de ressonância Xl = Xc , φ = 0 e o fator Figura 3: Esquema do circuito utilizado.


de correção da potência vale 1.
Para determinação da frequência de ressonância f0 , foram
tomados valores de tensão no resistor utilizando-se o osci-
II. Método Experimental loscópio. Em seguida transformando-as em corrente, com a
Lei Ohm I = Vr /R, foi realizado um gráfico de corrente no
Objetivo resistor, que é equivalente a corrente do circuito em serie, em
função da frequência do sinal da fonte.
Analisar o comportamento dos componentes de um circuito
RLc em função da frequência da tensão da fonte e determinar
a frequência de ressonância, e seu fator de qualidade.

Materiais

– Gerador de Áudio-frequência
– Osciloscópio Digital
– Painel de ligação
– Cabos banana
– Resistor (3.7 ± 0.2) · 102 Ω Figura 4: Gráfico da corrente no resistor em função da
frequência de tensão no circuito, em destaque a √
frequência
– Capacitor (2.3 ± 0.1) · 10−8 F
f0 (2.81607 ± 0.00002) · 103 Hz, e os pontos de 1/ 2 da cor-
– Indutor (1.4 ± 0.7) · 10−1 H Voltı́metros rente máxima que apontam a largura do pico (1.8 ± 0.2) ·
103 Hz, obtidos através de um ajuste lorentziano

Procedimentos e Resultados Por fim foi realizado um ajuste lorentziano no gráfico,


que retornou para a frequencia de ressonancia um valor
O circuito RLC analisado foi montado conforme esquema de (2.81607 ± 0.00002) · 103 Hz. Para fins comparativos
abaixo com resistor de resistência (3.7 ± 0.2) · 102 Ω, indu- a frequência de ressonância f0 foi calculada teoricamente
tor com indutância (1.4 ± 0.7) · 10−1 H, capacitor (2.3 ± 0.1) · utilizando-se a equação (4):
10−8 F, e fonte de tensão (6.0 ± 0.8)V pp.

2
Experimento 5. Ressonância em circuito RLC

1
f= p = (2.80±0.09)·103 Hz
2π (1.4 ± 0.7) · 10−1 · (2.3 ± 0.1) · 10−8

Comparando-se o valor obtido teoricamente de (2.80 ±


0.9) · 103 Hz, com o valor medido no gráfico de (2.81607 ±
0.00002) · 103 Hz, nota-se que ambos correspondem. Sendo o
valor obtido através do ajuste lorentziano cerda de 3% mais
preciso que o calculo teórico. Tal diferença na precisão se
deve ao fato do uso do ajuste e da incerteza da medida da lar-
gura contar com a imprecisão apenas das medidas tomadas, já
o calculo teórico possui a propagação das incertezas de L e C,
o que certamente aumenta a imprecisão do valor obtido.
Para obtenção experimental do fator de qualidade o mesma
mesmo ajuste utilizada acima foi explorado, o qual retornou
um parâmetro (1.8 ± 0.2) · 103 que foi igualado a ∆ f . Dis- Figura 5: Gráfico dos equivalentes resistivos Xc (verde), XL
pondo de tal valor o fator Q foi obtido através da equação (7) (azul), R(preto) e Z(vermelho), em função da frequência de
. oscilação da tensão no circuito.

2816.07 Nota-se que cada elemento possui sua dependência particu-


Q= = (1.5 ± 0.2) lar com ω.
1800
Para o resistor observa-se que independente do valor de ω
Para comparação análoga a da frequência de ressonância, o a resistência se mantém constante, já que a mesma independe
fator q foi calculado através da equação 8: da frequência ω da tensão no circuito. Já a reatâncias capaci-
tiva e indutiva, variam respectivamente inversa e diretamente
2π · 2.8 · 103 · 1.4 · 10−1 proporcionais ao crescimento de ω.
Q= = (6.5 ± 0.5) Nota-se ainda, que para a frequência de ressonância, XC
3.8 · 102 e XL possuem ambos os mesmos valores, logo o único ele-
Percebe-se uma diferença nos valores encontrados de mento que realiza trabalho no circuito durante a ressonância
(6.5 ± 0.5) para o resultado teórico e de (1.5 ± 0.2) para o é a resistência. Tais comportamentos estão previstos na li-
resultado experimental de cerca de 92%. teratura como discutido na introdução e estão relacionados a
A diferença se deve ao fato da largura do pico encontrado variação da impedância com ω, que como é possı́vel observar
experimentalmente ser muito alta, o que diminui o valor do no gráfico possui valor mı́nimo na frequência de ressonância,
Q experimental, a largura do pico é relacionada com a in- e tal valor é igual a resistência do circuito.
dutância, quanto menor a indutância maior será a largura do Vale comentar que como a frequência de ressonância não
pico, logo para medidas mais exatas do fator Q é recomendado depende da resistência do circuito, mudar o seu valor resulta-
o uso de um indutor com indutância alta. ria apenas no aumento do pico no gráfico, que sugeriria um
Para a analise dos equivalentes resistivos de cada elemento aumento na corrente máxima do circuito. Já ao alterar-se os
em função da frequência do sinal da fonte, foram tomadas outros componentes do circuito, a frequência de ressonância
valores de tensão dos componentes em função da frequência seria deslocada.
de tensão no circuito. Por serem inversamente proporcionais ao quadrado da
O valor dos equivalentes resistivos XC no capacitor, XL no frequência de ressonância como a equação (4) explicita. Ao
indutor e R no resistor foram obtidos utilizando se a lei de diminuir o produto de seus valores, a frequência de res-
Ohm V /I, utilizando se as correntes calculadas para cada sonância seria maior, o que faria o pico do gráfico se deslocar
frequência no procedimento de obtenção da frequência de res- para a direita. No caso contrario, aumentando-se o seu pro-
sonância. O gráfico abaixo compara os equivalentes resisti- duto o pico deslocaria-se para a esquerda, logo a frequência
vos de cada elemento, tal como a impedância do circuito em de ressonância seria menor.
função da frequência de oscilação do sinal de tensão da fonte.

III. Conclusão

O presente experimento tinha como intuito geral a ana-


lise do comportamento de um circuito RLC em série ao
variar-se a frequência de tensão aplicada no mesmo. Para
isso foram medidos valores de frequência de ressonância
(2.81607 ± 0.00002) · 103 Hz, bem como o fator de qualidade

3
Experimento 5. Ressonância em circuito RLC

do circuito (1.5 ± 0.2). Notou-se que a frequência de res- VII. Bibliografia


sonância media estava coerente com as previsões teóricas de
(2.80 ± 0.09) · 103 Hz. Já acerca do fator de qualidade previsto • Guia de Laboratório Fı́sica Experimental: Eletromag-
teoricamente, houve uma incompatibilidade de 92% que foi netismo, Universidade Federal de Minas Gerais.
discutida na seção acima.
Foi ainda discutido a influencia dos elementos do circuito • Sears e Zemansky. Fı́sica 3 - Eletromagnetismo. CBL,
na curva de corrente em função da frequência de oscilação da 2009.
tensão, e das dependências dos equivalente resistivos com a
variação da mesma. • H. Moysés Nussenzveig. Curso de Fı́sica Básica - Vo-
Por fim foi possı́vel concluir que o modelo de Oscilado- lume 3.
res amortecidos é uma poderosa ferramenta para analise de • Aula ressonância série, prof Luis S.B. Marques, insti-
circuitos RLC, através do qual é possı́vel analisar fenômenos tuto federal Santa Catarina.
como a ressonância que permeia diversas áreas da Fı́sica e
tem fundamental importância, tanto do ponto de vista didático • Guia do Laboratório de Fı́sica , experimento 8: Cir-
quanto do ponto de vista de aplicações práticas, que vão desde cuito RLC com corrente alternada: ressonância e filtros
construções civis a aplicações eletrônicas. passa-banda e rejeita-banda, Universidade Federal Rio
de Janeiro Xerém.

Apêndice • Circuito RLC-Wikipédia, a enciclopédia Livre.


• Help Online- Originlab-Lorentz.
As incertezas calculadas neste experimento foram obtidas
através do método de derivadas parciais cuja expressão para a
incerteza de uma gradeza X, que dependa de variáveis A e B
é dada por:
s 2  2
∂ ∂
∆X = (X) ∆A + (X) ∆ B (12)
∂A ∂B

IV. Incerteza de F0 teórico

v !2 !2
u
1 u (2.3 · 10−8 ) 0.1402
t
3 0.007 + 3 · (1 · 109 ) = 90Hz
2π 2 · (0.1402 · 2.3 · 10−8 ) 2 2 · (0.1402 · 2.3 · 10−8 ) 2

V. Incerteza de Q Teórico

v !2
u 2  2
u 0.1402 2800 2800 · 0.1402
2π t · 90 + · 0.007 + · 20 = 0.5
379.3 379.3 (379.3)2

VI. Incerteza de Q experimental

s 2  2
1 2816.07
· 0.02 + · 200 = 0.2
1800 18002

4
Experimento 5. Ressonância em circuito RLC

Tabelas Frequência da Fonte Tensão no Resistor


·103 Hz(±5%) V (±5%)
0.5 0.24
1.0 0.40
Tensão no indutor Tensão no capacitor
1.5 0.64
V (±5%) V (±5%)
2.0 1.04
0.03 2.02
2.2 1.32
0.16 2.18
2.5 1.64
0.56 2.53
2.7 1.94
1.42 3.27
2.8 1.96
2.29 3.90
2.9 1.90
3.50 4.55
3.0 1.92
4.67 4.90
3.2 1.70
4.82 4.83
3.5 1.50
4.96 4.60
4.0 1.16
5.05 4.50
4.5 0.92
4.86 3.72
5.0 0.79
4.56 2.98
5.5 0.68
3.97 1.96
6.0 0.58
3.60 1.35
6.5 0.54
3.37 0.97
7.0 0.48
3.24 0.96
7.5 0.44
3.17 0.52
8.0 0.42
3.14 0.38
8.5 0.38
3.14 0.25
9.0 0.36
3.16 0.13
9.5 0.34
3.17 0.10
10.0 0.30
3.21 0.06
11.0 0.26
3.25 0.04
12.0 0.23
3.31 0.03
3.39 0.02 Tabela II: Medidas tomadas experimentalmente.
3.43 0.01
3.57 0.01

Tabela I: Medidas tomadas experimentalmente.

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