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PROPRIEDADES DE
EQUILÍBRIO DE UM GÁS DE
ELÉTRONS LIVRES
APROXIMAÇÃO ADIABÁTICA
123
sucesso da aproximação de elétrons livres no caso dos sólidos metálicos vem
do fato de que este modelo incorpora um dos resultados mais fundamentais
da teoria quântica: o princípio da exclusão de Pauli(1). O princípio da exclusão
conduz a uma descrição estatística do gás de elétrons que é profundamente
diferente da distribuição clássica de Maxwell(2)-Boltzmann(3).
8.1.1 O Modelo
2 2
− k (r ) = E k (r ) . (8.1)
2m
124
ou seja, k (r ) é um auto-estado do operador momento linear. No entanto, é
conveniente usar o vetor de onda como o bom número quântico para
caracterizar o comportamento espacial do elétron. No jargão da área,
costuma-se dizer que “um certo elétron está num estado k “.
A periodicidade do sistema cristalino é introduzida no problema através
das condições de contorno de Born-von Kármán:
e ik x L = e = e ik z L = 1 .
ik y L
2 2 2
kx = nx ; k y = ny ; kz = nz , (8.6)
L L L
onde nx , ny , nz são inteiros quaisquer, que também podem ser usados como
números quânticos para caracterizar o estado orbital do elétron livre. Desta
forma, as condições de contorno cíclicas impõem que há apenas um valor
permitido para o vetor de onda no volume (2 / L)3 do espaço recíproco. Em
outros termos, o número de valores de 𝑘⃗ por unidade de volume do espaço
recíproco é V / 8 3, tal como havíamos obtido anteriormente para os vetores
de onda de fônon. Observa-se que, embora o modelo não considere qualquer
interação energética entre os elétrons e a rede cristalina, as condições de
contorno de Born-von Karman qualificam o espaço no qual os elétrons se
movem.
O vetor de onda k especificaria inteiramente o estado de um elétron livre
se este não tivesse um grau de liberdade adicional: o spin intrínseco. Assim,
o
auto-estado de um elétron livre é descrito pelo vetor de onda k , que
especifica o estado orbital, e pelo número quântico de spin, mS = 1/2, que
especifica a orientação paralela ou anti-paralela do spin eletrônico em relação
ao eixo de quantização.
125
8.1.2 A Densidade de Estados e a Energia de Fermi(4)
O estado de mais baixa energia para uma partícula do gás de elétrons livres
sujeito às condições de contorno periódicas e cujo volume é supostamente
infinito, tem vetor de onda k = (0, 0, 0) . De acordo com a estatística clássica,
todos os elétrons do gás deveriam condensar neste estado à temperatura
nula. No entanto, os elétrons são férmions, para os quais é válido o princípio
da exclusão de Pauli, que impede a dupla ocupação de um estado quântico
num mesmo sistema físico. Consequentemente, apenas dois elétrons, com
spins opostos, podem ocupar o estado correspondente ao vetor k = 0 . Os
demais elétrons do gás deverão ocupar níveis de energia mais altos. De acordo
com a definição
(8.6), os menores valores não-nulos para o vetor de onda são
do tipo k = (2 / L , 0, 0) ; (0, 2 / L, 0) ; (0, 0, 2 /L) . São, portanto, seis os
estados de mesma energia correspondentes, nos quais apenas doze elétrons
podem ser colocados. Assim,dado um certo número de partículas, os estados
orbitais k , com energia E (k ) , são preenchidos em sequência, respeitando o
princípio de minimização da energia total e o princípio de Pauli, até que todos
os elétrons estejam acomodados.
Figura 8.1. Preenchimento dos orbitais de mais baixa energia de um gás de elétrons
bidimensional sujeito às condições de contorno periódicas. Em (a) 2
elétrons são acomodados. Em (b) são 18 elétrons. Em (c) são 42 elétrons
e em (d) estão colocados 68 elétrons do gás.
126
estejam preenchidos. Infere-se, pela sequência representada na figura 8.1,
que o preenchimento dos estados permitidos no limite em que número de
elétrons se torna muito grande define uma região circular no espaço
recíproco. Numa rede tridimensional, esta região será uma esfera. No interior
da esfera estarão os estados ocupados. A energia EF, que delimita a fronteira
entre estados eletrônicos ocupados e vazios em temperatura nula, é
denominada de energia de Fermi.
Para determinarmos a energia de Fermi EF, devemos calcular o número de
estados orbitais contidos num certo volume esférico do espaço recíproco.
Lembrando que o número de valores permitidos de k por unidade de volume
do espaço recíproco é V / 8 3 , deduzimos que o número de estados orbitais
contidos numa esfera de raio k = k será
𝑉 4
𝑁(𝑘) = ( ) 𝜋 𝑘3. (8.7)
8𝜋 3 3
1 𝑑𝑁(𝑘)
𝑁(𝐸) = . (8.8)
𝑉 𝑑𝐸
1 𝑑𝑁(𝑘) d𝑘
𝑁(𝐸) =
𝑉 𝑑𝑘 𝑑𝐸
(2𝑚)3⁄2
𝑁(𝐸) = 𝐸 1⁄2 . (8.9)
4𝜋2 ℏ3
127
elétrons em T = 0 K (ou seja, o número de elétrons por unidade de volume) é
dada por
𝑁𝑒 𝐸
= 2 ∫0 𝐹 Ν(𝐸) 𝑑𝐸 , (8.10)
𝑉
ℏ2
𝐸𝐹 = (3𝜋 2 𝑛)2⁄3 . (8.11)
2𝑚
2 k F2
EF = . (8.12)
2m
128
Assim, um sistema de Ne elétrons livres no estado fundamental (em
temperatura nula), ocupa uma esfera de raio kF no espaço- k . A energia de
Fermi, E F = 2 k F2 2m , é a energia de um elétron que possui vetor de onda kF
e está situado na superfície da esfera.
A superfície de energia constante (no espaço-k) correspondente à energia
EF é chamada de superfície de Fermi. Na aproximação de elétrons livres, a
superfície de Fermi é uma superfície esférica de raio kF. Em sistemas
metálicos reais, as superfícies de Fermi podem adquirir formatos complexos.
Outro parâmetro que se costuma definir é a velocidade de Fermi.
k F
vF = , (8.14)
m
EF = k BTF . (8.15)
129
Tabela 8.a. Energias de Fermi, temperaturas de Fermi e velocidades de Fermi
calculadas com o modelo de elétrons livres para alguns metais.
________________________________________________________________
1
f (E) = ( E − ) k BT
. (8.16)
e +1
130
– O Limite de Forte Degenerescência
2 k BT
= E F [1 − ( ) 2 ] + (T 4 ) , (8.17)
12 E F
– O Limite Clássico
131
quais constituem o espectro para E 0, correspondem à extremidade de alta
energia de f(E), tal como mostra a figura 8.3.c. Então, para energias positivas,
a distribuição de Fermi-Dirac se aproxima da distribuição de
Maxwell-Boltzmann:
1
f (E) = ( E − ) k BT
e k BT
e − E k BT . (8.18)
e +1
𝑇2
≅ 𝑁𝑒 𝑘𝐵2 ,
𝐸𝐹
132
1 𝜕
𝐶𝑒 = ∆𝐸
𝑉 𝜕𝑇
𝑁𝑒 𝑇 𝑁𝑒 𝑇
≅ 𝑘𝐵2 = 𝑘𝐵
𝑉 𝐸𝐹 𝑉 𝑇𝐹
EV = 2 E ( E ) f ( E ) dE . (8.19)
0
EV f
Cel = = 2
E N(E) dE . (8.20)
T 0 T
f
f
Cel = 2 N( E F ) (E − E F ) dE + E F dE
0 T 0 T
f E − EF e k BT
= , (8.22)
T k BT 2 E − EF
(e k BT
+ 1) 2
obtemos
133
ex ex
Cel = 2 N( E F ) k BT
2 2
x dx + k E F
2
x dx .
− EF k BT
(
ex + 1
2
) B
− EF k BT (
e +1
x 2
)
ex ex
Cel = 2 N( E F ) k BT x
2 2
dx + k B E F x
2
dx . (8.23)
− e +1
x
(2
) − e + 1
x 2
(
)
A primeira integral definida na expressão acima é igual a 2 / 3 e a segunda
integral é nula. Então, finalmente obtemos uma expressão para o calor
específico eletrônico na forma
2
Cel = 2 k B2 N( E F )T , (8.24)
3
Cel = T . (8.25)
Ctotal = T + A T3 . (8.26)
134
representado como C / T versus T2. A linha reta obtida mostra a validade da
equação (8.26). A intersecção da reta com o eixo vertical fornece a constante
e da inclinação se pode obter a constante A, que permite a determinação da
temperatura de Debye segundo a expressão (7.46).
ne 2
=
2
. (8.28)
p
0m
135
imaginamos o gás movendo-se como um todo em relação ao fundo de cargas
positivas, tal como esquematizado na figura 8.5.
Figura 8.5. Movimento coletivo dos elétrons de condução relativamente aos íons
fixos no volume metálico.
Es = , (8.29)
2 0
d 2
m 2 = −eE , (8.30)
dt
d 2 ne
m = −e = −e (8.31)
dt 2
0 0
ou seja,
d 2 ne 2
+ =0 ,
dt 2 m 0
136
completa, a permissividade pode depender do vetor de onda das oscilações
do plasma. Portanto, as frequências também dependerão do vetor de onda.
Assim, plasmons correspondentes a ondas progressivas podem ocorrer. A
frequência de plasma é elevada. Para densidades eletrônicas típicas de um
metal 𝜔𝑝 pode alcançar valores da ordem de 1016 Hz. Tal magnitude
corresponde a um quantum de energia ℏ𝜔𝑝 de alguns elétrons-volts, sendo
comparável à energia de Fermi.
137
Verifica-se, observando a figura 8.6, que as componentes planares
Fx = −ev y B e Fy = ev x B operam como forças restauradoras ao longo das
componentes x e y do movimento circular eletrônico, respectivamente. Em
outros termos, se pode escrever Fx = −k x e Fy = −k y , onde k = m B2 . Para
obtermos este resultado, consideramos que x = R cos (B t ) e y = R sen (B t ) ,
onde R é o raio da órbita ciclotrônica.
1
E = ( p + ) B , (8.35)
2
138
de raio kF. Os estados energéticos quantizados correspondem a círculos
concêntricos, rotulados pelo inteiro p. Para o caso tridimensional, a esfera de
Fermi fica subdividida em cilindros concêntricos, que são denominados de
tubos de Landau. Os círculos de energia constante (no caso bidimensional),
ou os tubos de Landau (em 3D) são fortemente degenerados, pois os estados
de elétron livre, que se distribuem nas N pequenas superfícies
k = 4 2 / A
no caso bidimensional, ou nos N pequenos volumes k = 8 3 / V no caso
tridimensional, colapsam nos círculos de Landau (2D), ou nos tubos de
Landau (3D), respectivamente.
No caso tridimensional, a expressão completa para as energias eletrônicas
é dada por
1 2 2
E = ( p + )B + kz , (8.36)
2 2m
onde fica claro que o movimento de partícula livre não é afetado na orientação
paralela ao campo aplicado, ou seja, o eixo-z.
(a) (b)
Figura 8.7. (a) Órbitas de Landau num gás de elétrons bidimensional em presença
de campo magnético. As energias destes estados são quantizadas
segundo a equação (8.35). (b) Quantização em tubos de Landau dos
estados energéticos de um gás de elétrons no caso tridimensional.
139
Landau. Assim, o aumento continuado do campo fará com que níveis de
Landau sucessivos, correspondentes a valores de p progressivamente
menores, atravessem o nível de Fermi em sequência. Isto provoca o
esvaziamento dos níveis com energias superiores a EF, já que as energias
eletrônicas não podem exceder este valor.
(a)
(b)
Figura 8.8 (a) Níveis de Landau no caso de fracos campos aplicados ou grandes
energias térmicas e (b) no limite quântico em que B kBT
140
(a) (b)
EF 1
p= − , (8.36)
B 2
Figura 8.10. Variação das energias quantizadas dos níveis de Landau em função da
indução magnética aplicada. Na medida em que a magnitude do campo
magnético aumenta, níveis de Landau correspondentes a menores
valores de p atravessam o nível de Fermi e são depopulados.
141
8.5 CONCLUSÃO
Notas biográficas:
142
(7) Lev Davidovich Landau (1908 – 1968). Físico teórico e matemático soviético, com
contribuições fundamentais no desenvolvimento de diversas áreas da física;
alcançou grande destaque no campo da física de materiais, com estudos em
magnetismo, supercondutividade, superfluidez, teoria eletrônica de metais e muitas
outras. Com E. Lifshitz escreveu o famoso “Curso de Física Teórica”, em dez volumes.
Recebeu o prêmio Nobel de Física de 1962 pela teoria da superfluidez do hélio.
(8) Charles Augustin de Coulomb (1736 – 1806). Físico e engenheiro francês,
conhecido pelos estudos que desenvolveu no campo da eletrostática; formulou a lei
sobre a interação entre cargas elétricas estáticas que leva seu nome.
Leitura sugerida:
C. Kittel - caps. 7 e 8
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