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Materiais de construção mecânica I

Aula 2 – Estruturas cristalinas

MURILO PARRA CUERVA


OBJETIVO

Mostrar as formas cristalinas, suas estruturas moleculares,


seus comportamentos. Aprender sobre os números de
coordenação e sistemas de interação entre os átomos. Ver
as formações cristalinas de Bravais e suas derivativas, assim
como seus parâmetros de rede.

Nesta Aula

 Interações entre átomos

 Número de coordenação

 Arranjos atômicos

 Parâmetros de rede e fator de empacotamento


Interações entre átomos

A interação entre os átomos ocorre através de sua


eletrosfera. Assim como vimos na aula anterior, a eletrosfera
é formada por camadas de valência onde os elétrons se
encontram, porém, para efeito de cálculos, a interação entre
os átomos ocorre no que chamamos de raio atômico ou raio
iônico.

Obviamente o tamanho do raio atômico vai variar de


acordo com a quantidade de elétrons presente do átomo,
como pode ser visto no caso do ferro, o raio atômico do Fe é
maior do que o Fe2+, e este, maior do que o Fe3+.

Figura 1: Raio atômico do ferro.

Alguns fatores podem alterar o tamanho do raio


atômico, tal como a temperatura, a valência e até mesmo os
átomos vizinhos, que geram forças de repulsão. A
temperatura age aumentando o grau de vibração dos
elétrons, fazendo as camadas se expandirem.
Número de coordenação

O número de coordenação corresponde ao número de


átomos vizinhos mais próximos (2,3,4,6,8,10).

r
R
R

Figura 2: Representação do raio atômico e interação entre átomos.

O átomo central de raio “r” é o cátion e os átomos


adjacentes de raios “R” são ânions.

Fatores que afetam o número de coordenação (NC):

 Valência (ligações covalentes, direcionais)

 Empacotamento atômico (atração/repulsão)


Há uma regra para o número de coordenação, ou seja, o
número máximo de átomos que circundam o átomo central
pode ser estimado através da relação entre raio do átomo
central e o raio dos átomos periféricos. Esta relação é
mostrada na tabela abaixo.

r/R N.C. máximo

< 0,155 2

0,155 - 0,225 3

0,225 - 0,414 4

0,414 - 0,732 6

0,732 - 1,000 8

1 12

Tabela 1: Relação entre raios e o número de coordenação.

Vamos fazer alguns exemplos de compostos e seus


números de coordenação.
1) Cloreto de cálcio:

A relação de raios do BeCl2 é de: r/R<0,155; assim, seu


número de coordenação é 2.

Figura 3: Cloreto de cálcio.


Fonte: Notas de aula professor Juno Gallego, Unesp- Feis.
https://www.feis.unesp.br/Home/departamentos/engenhariamecanica/maprote
c/aula3.pdf

2) Cloreto de césio:

A relação de raios do CsCl é de: 0,732< r/R<1,000; assim,


seu número de coordenação é 8.

Figura 4: Cloreto de césio.


Fonte: https://cutt.ly/5dnAeAy.
3) Alumínio, titânio ou zinco:

A relação de raios é de: r/R=1,000; assim, seu número de


coordenação é 12.

Figura 5: Alumínio, titânio ou zinco.


Fonte: https://cutt.ly/7dnAn6w.

Arranjos atômicos

Os arranjos atômicos podem ser divididos em três seções:

Estruturas amorfas Estruturas moleculares Estruturas cristalinas


a) Estruturas amorfas:

Nas estruturas amorfas de ligas metálicas e vidros, a


ordenação atômica pode ser observada apenas em curtas
distâncias interatômicas.

Os amorfos são sólidos, cujas partículas não têm estrutura


regular.

Figura 6: Estrutura não amorfa à esquerda, e amorfa à direita.


Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/4104396/.
b) Estruturas moleculares:

As estruturas moleculares encontradas nos materiais


poliméricos são resultantes da repetição de monômeros
(milhares de vezes) e são ligadas entre si por ligações
covalentes. Estes polímeros têm peso molecular elevado.

Figura 7: Alguns exemplos de polímeros.


Fonte: https://cutt.ly/qdnA5m6.
c) Estruturas cristalinas:

As estruturas cristalinas apresentam uma ordenação na


distribuição de seus átomos, efeito que pode ser visualizado
através de microscópio.

Todos os cristais pertencem a um dos 7 sistemas


cristalinos existentes, cujas posições atômicas podem ser
determinadas por um dos 14 reticulados de Bravais. Este
nome é dado em homenagem a Auguste Bravais que
descobriu os padrões de cristalização das estruturas
cristalinas.

As redes de Bravais constituem uma importante


ferramenta de análise tridimensional em geometria
euclidiana. A combinação desses reticulados com as 4
operações de simetria possíveis (reflexão, rotação, inversão e
rotação-inversão) resulta em, no máximo, 230 arranjos.
Figura 8: Sistemas cristalinos.
Fonte: Adaptado de https://cutt.ly/ldnDSBL.
Agora estudaremos os quatorze reticulados de Bravais:

Diz-se parâmetro de rede o comprimento lateral da


célula.

 Triclínico:

Parâmetros de rede: a ≠ b ≠ c

Ângulo entre parâmetros: α ≠ β ≠ γ

Figura 9: Sistema triclínico.


Fonte: https://cutt.ly/5dnFerJ.

 Monoclínico:

Os monoclínicos podem ser divididos em monoclínico


primitivo (P) e monoclínico de base centrada (C).

Parâmetros de rede: a ≠ b ≠ c

Ângulo entre parâmetros: α = γ ≠ β; β =90°


Figura 10: Sistema monoclínico.
Fonte: https://cutt.ly/HdnFlEN.

 Tetragonal:

Os tetragonais podem ser divididos em tetragonal


primitivo (P) e tetragonal de corpo centrado (I).

Parâmetros de rede: a = b ≠ c

Ângulo entre parâmetros: α = γ = β = 90°

Figura 11: Sistema tetragonal.


Fonte: https://cutt.ly/HdnFlEN.
 Trigonal/romboédrico:

Parâmetros de rede: a = b = c

Ângulo entre parâmetros: α = γ = β < 90°

Figura 12: Sistema romboédrico.


Fonte: https://cutt.ly/HdnFlEN.

 Hexagonal:

Parâmetros de rede: a = b ≠ c

Ângulo entre parâmetros: α = β = 90°; γ = 120°

Figura 13: Sistema hexagonal.


Fonte: https://cutt.ly/HdnFlEN.
 Ortorrômbico:

Os ortorrômbicos podem ser divididos em ortorrômbicos


primitivo (P), ortorrômbicos de base centrada (C),
ortorrômbicos de corpo centrado (I) e ortorrômbicos de face
centrada (F).

Parâmetros de rede: a ≠ b ≠ c

Ângulo entre parâmetros: α = γ = β = 90°

Figura 14: Sistema ortorrômbico.


Fonte: https://cutt.ly/HdnFlEN.

 Cúbico:

Os cúbicos podem ser divididos em cúbicos primitivo (P),


cúbicos de corpo centrado (I) e cúbicos de face centrada (F).

Parâmetros de rede: a = b = c

Ângulo entre parâmetros: α = γ = β = 90°


Figura 15: Sistema cúbico.
Fonte: https://cutt.ly/HdnFlEN.

Parâmetros de rede e fator de empacotamento

Como dito anteriormente, o parâmetro de rede nada


mais é do que o comprimento das arestas do polígono
circunscrito na célula analisada.

O fator de empacotamento (FE) é o quão preenchido


está a célula, por isso, o fator de empacotamento é a razão
entre o volume do átomo e o volume do polígono circunscrito.

𝑁. 𝑉á𝑡𝑜𝑚𝑜
𝐹𝐸 =
𝑉𝑐é𝑙𝑢𝑙𝑎
Onde:

- N é o número de átomos que efetivamente ocupam a


célula.

- Vátomo é o mesmo volume da esfera, dado por:

4
𝑉𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 = . 𝜋. 𝑅 3
3

- R é o raio do átomo.

- Vcélula é o volume da célula unitária.

I) Cristais cúbicos simples:

Se analisarmos a porção que fica interna ao cubo


circunscrito em cada vértice, teremos 1/8 de átomo;
e como temos 8 vértices, teremos a soma de
somente um átomo em todo o cubo circunscrito,
como pode ser visto na figura abaixo. Ainda na
mesma figura conseguimos identificar o parâmetro
de rede para o cubo simples que, neste caso, é a
soma dos raios de dois átomos adjacentes.
Figura 16: Estrutura de cristais cúbicos simples.
Fonte: https://cutt.ly/fdnHoCZ.

1 4⁄ . 𝜋. 𝑅 3
𝐹𝐸 = . 8 . 3 = 0,52
8 (2. 𝑅)3

II) Cristais cúbicos CCC:

Se analisarmos a porção que fica interna ao cubo


circunscrito em cada vértice, teremos 1/8 de átomo;
e como temos 8 vértices, somamos 1 átomo inteiro,
porém, neste caso (CCC), temos outro átomo que
está no centro do cubo, assim, soma-se o seu valor
inteiro, como pode ser visto na Figura 18. Outra
diferença está no parâmetro de rede desta estrutura
cristalina, como pode ser observado na Figura 17.
Figura 17: Parâmetro de rede CCC.
Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/14621822/.

Figura 18: Estrutura de cristais cúbicos de corpo centrado.


Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/14621822/.

1 4⁄ . 𝜋. 𝑅 3
𝐹𝐸 = ( . 8 + 1) . 3 3 = 0,68
8
(4. 𝑅⁄ )
√3
III) Cristais Cúbicos CFC:

Se analisarmos a porção que fica interna ao cubo


circunscrito em cada vértice, teremos 1/8 de átomo;
e como temos 8 vértices, somamos 1 átomo inteiro,
porém, neste caso (CFC), temos a metade de um
átomo em cada face do cubo, como pode ser visto na
Figura 20. Outra diferença está no parâmetro de rede
desta estrutura cristalina, como pode ser observado
na Figura 19.

Figura 19: Parâmetro de rede CFC.


Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/14621822/.
Figura 20: Estrutura de cristais cúbicos de face centrada.
Fonte: https://cutt.ly/fdnHoCZ..

1 1 4⁄ . 𝜋. 𝑅 3
𝐹𝐸 = ( . 8 + . 6) . 3 3 = 0,74
8 2
(4. 𝑅⁄ )
√2

IV) Cristais hexagonais HC:

Os hexágonos têm dois parâmetros de rede, “a” e “c”.


Depois de cálculos geométricos, consegue-se achar
o valor da razão entre “c” e “a”, que é de 1,633.

Já na contagem de átomos internos, temos 1/6 de


átomo em cada aresta, meio átomo na base inferior
e superior e três átomos inteiros no interior do
hexágono, como pode ser visto através da Figura 21.
Figura 21: Estrutura de cristais hexagonais compactos.
Fonte: Fonte: https://cutt.ly/fdnHoCZ.

O fator de empacotamento do hexagonal compacto é de


0,74.

Conclusão:

Nesta aula, aprendemos sobre as estruturas cristalinas de Bravais


e seus reticulados. Aprendemos também sobre parâmetro de
rede e fator de empacotamento. Na próxima aula, veremos os
índices de Miller.
Referências

Van Vlack, L. H. Princípios de ciência dos materiais. São


Paulo: Ed. Edgard Blucher, 1970.

Guy, A. G. Ciência dos materiais. São Paulo: LTC/Edusp,


1980.

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