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Novas tecnologias no ensino de matemática: possibilidades e

desafios

Marcelo Antonio dos Santos


Mestre em Matemática Aplicada – UFRGS, Professor na Faculdade
Cenecista de Osório (FACOS) e professor da rede Pública Estadual de Ensino.
marceloprof@bol.com.br

Resumo: Neste trabalho, são propostas reflexões acerca do uso de novas tecnologias no
ensino da Matemática. Após a contextualização do tema, o texto apresenta os conceitos de
tecnologia educacional e de software educacional. Algumas questões são problematizadas
com o objetivo de fomentar discussões sobre o tema, principalmente considerando concepções
inadequadas em relação ao modo como alguns recursos e softwares educativos são inseridos
no processo de ensino-aprendizagem da disciplina.

Palavras-chave: Ensino, matemática, software, tecnologia

Abstract: In this paper, are offered reflections about the use of new technologies in teaching
mathematics. After the context of the subject in the introduction, the text presents the concepts
of educational technology and educational software. Some issues are problematized in order to
foster discussions on the topic, mainly regarding inadequate conceptions regarding the way
some resources and educational software are included in the teaching-learning of the discipline.

Key-words: Teaching, mathematics, software, technology

Introdução

Vivemos em uma sociedade em constante transformação. Porém, onde tudo


parece se desenvolver de uma forma extremamente rápida, a prática docente
segue, em muitos casos, a mesma linha de ensino de mais de dois séculos
atrás.

A lousa, os livros muitas vezes desatualizados, a régua de madeira, o velho


diário, a lista de exercícios, ainda são os principais recursos utilizados por
muitos professores. Enquanto o professor desenvolve sua aula, os alunos
enviam mensagens de seus “ipods” ou acessam a internet, com aparelhos
celulares cada vez mais avançados ou com seus “netbooks”.

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O uso da informática tem adquirido importância cada vez maior no dia-a-dia,
nos mais diversos setores. Esta presença crescente do computador e de outros
recursos em diversas atividades de nossas vidas e, conseqüentemente na
escola, nos remete a diversas questões, como por exemplo, a possibilidade de
utilização do computador no desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem.

A utilização das chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC


tem sido um tema presente em diversos debates, considerando suas
potencialidades e limitações no contexto atual de nossas escolas.

Tecnologias no Ensino da Matemática: Contextos e Cenários

As reflexões aqui apresentadas sintetizam experiências relacionadas a


diversos contextos. Em vários momentos, posiciono-me como professor de
Matemática da rede pública estadual de ensino. Em outros, como professor do
curso de Licenciatura em Matemática de uma instituição privada.

Como professor de Matemática da rede pública estadual de ensino, deparei-me


com uma das principais dificuldades relatadas pelos professores quanto à
utilização de novas tecnologias: a não disponibilidade delas nas escolas. Por
muitas vezes, pude perceber o distanciamento entre a teoria e a prática, pois
como pesquisador, desenvolvia estudos sobre a utilização da informática na
educação matemática, mas a escola não contava com laboratórios de
informática.

Mesmo considerando o fato de que a escola não contava com laboratórios de


informática, chamava a atenção o ceticismo dos colegas, que consideravam o
computador uma “ameaça” ao processo de ensino-aprendizagem. Era comum
ouvir expressões como “o computador não ajuda a aprender, apenas facilita a
execução de tarefas”.

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A disponibilidade de recursos não é o único desafio para a utilização da
informática na educação. O contato constante com professores de Matemática
da região tem possibilitado outras leituras. Para muitos professores, “levar” a
turma ao laboratório de informática para realizar pesquisas na internet continua
sendo a atividade mais citada. È claro que a internet pode e deve ser utilizada
como recurso, há diversas possibilidades, porém, deve existir planejamento
cuidadoso da atividade, para que este recurso faça parte de um contexto.

A expressão “novas tecnologias” geralmente é empregada em referência ao


uso da informática. No entanto, ao conceituar tecnologia, deve-se pensar em
um contexto mais amplo, em que a informática é apenas uma entre as
inúmeras tecnologias disponíveis.

Na literatura, encontramos vários conceitos de tecnologia educacional.


Segundo Reis (2009),

O conceito de tecnologia educacional pode ser enunciado como o


conjunto de procedimentos (técnicas) que visam "facilitar" os processos
de ensino e aprendizagem com a utilização de meios (instrumentais,
simbólicos ou organizadores) e suas conseqüentes transformações
culturais.

Um vídeo, por exemplo, é um recurso que pode ser utilizado para fins
educacionais. É claro que o computador pode ser usado para editar um vídeo,
através de softwares específicos, mas a utilização do recurso não vai depender
da disponibilidade de computadores.

Sobre a importância das tecnologias e as relações com a Matemática,


D’Ambrosio (1996), comenta:

Ao longo da evolução da humanidade, Matemática e tecnologia se


desenvolveram em íntima associação, numa relação que poderíamos
dizer simbiótica. A tecnologia entendida como convergência do saber
(ciência) e do fazer (técnica), e a matemática são intrínsecas à busca
solidária do sobreviver e de transcender. A geração do conhecimento
matemático não pode, portanto ser dissociada da tecnologia disponível.

Diante disso, é preciso refletir sobre a forma com que as tecnologias são
inseridas no processo de ensino-aprendizagem da matemática. Muitos

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professores acreditam que estão inovando ao utilizar um equipamento de
projeção, por exemplo. No entanto, se este equipamento está sendo utilizado
apenas para projetar e ler textos, como instrumento de “apoio” ao professor, o
que ocorre é uma mera substituição da lousa, com pequena vantagem.

Assim como o equipamento de projeção, existem muitos recursos tecnológicos


que tem características que se assemelham a métodos de ensino baseadas na
transmissão do conhecimento, na memorização e posterior reprodução de um
modelo.

Em contraponto à grande variedade de recursos tecnológicos disponíveis,


percebe-se uma concepção equivocada do uso desses recursos. Nesse nível
de análise, as escolas privadas não de diferenciam da escola pública, pois a
existência ou não do recurso não causa mudança nos resultados do processo
de ensino-aprendizagem. Retorno ao exemplo citado anteriormente: projetar
textos em um “Data Show” e escrever no quadro. Qual a diferença?

A informática no Ensino de Matemática

Especificamente em relação à informática, pesquisas recentes têm mostrado


que sua utilização constitui-se em uma poderosa ferramenta na superação de
vários obstáculos inerentes ao aprendizado. O enfoque da informática
educativa não é o computador como objeto de estudo, mas como meio para
adquirir conhecimentos (VALENTE, 1999).

Nesse contexto, a internet é apenas um dos inúmeros recursos disponíveis. O


advento dos chamados softwares educativos trouxe novas perspectivas para o
uso da informática no ensino.

Entende-se por software educativo todo software que pode ser usado para fins
educacionais. Um software não projetado especificamente para fins
educacionais também pode ser utilizado como software educativo, como é o
caso das planilhas ou processadores de textos.

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Em relação ao uso de softwares educativos no ensino da Matemática, Gravina
(1998) afirma que

no contexto da Matemática, a aprendizagem nesta perspectiva


depende de ações que caracterizam o “fazer matemática”:
experimentar, interpretar, visualizar, induzir, conjeturar, abstrair,
generalizar e enfim demonstrar. É o aluno agindo, diferentemente de
seu papel passivo frente a uma apresentação formal do conhecimento.

A efetiva contribuição de softwares educativos no processo de ensino


aprendizagem está diretamente ligada aos recursos que eles disponibilizam e a
forma como são utilizados. De acordo com TAJRA (2001), o professor precisa
conhecer os recursos disponíveis dos programas escolhidos para suas
atividades de ensino, somente assim estará apto a realizar uma aula dinâmica,
criativa e segura.

Existem diversos tipos de softwares educativos, porém, é preciso que o


professor avalie a natureza do software, em relação às características que
propiciarão experiências significativas. Segundo GRAVINA (1998), ainda é
grande a oferta de softwares que, mesmo tendo interface com interessantes
recursos de hipermídia (som, imagem, animação, texto não linear), nada mais
oferecem aos alunos do que ler definições e propriedades e aplicá-las em
exercícios práticos (tipo tutorial) ou testar e fixar “conhecimentos” através da
realização de exercícios protótipos e repetitivos, que no máximo avançam em
grau de dificuldade (tipo prática de exercícios).

Outra questão que merece atenção é a compreensão dos professores em


relação a quando ou em que etapa do processo de ensino-aprendizagem se
insere um software educativo. O emprego da informática não tem como
objetivo único facilitar a resolução de um exercício ou possibilitar uma
visualização mais ampla de um gráfico por exemplo. Observa-se que muitos
professores acreditam que um software educacional complementa o
desenvolvimento de determinado conteúdo. Nesses casos, o professor
desenvolve o conteúdo teoricamente, ou através de materiais concretos,
propõe exercícios ou situações-problema em que o aluno aplica o conteúdo

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estudado e em um último momento, propõe o uso de algum software, para
complementar os estudos.

Também é comum o uso de tutoriais, ou “exercício e prática”. Nesses


softwares, a abordagem pedagógica identificada consiste no computador
ensinando o aprendiz, o aluno, que se coloca em uma situação de repetição de
um modelo ou de aplicação de uma fórmula para resolver um exercício.

Em contraponto, existem softwares que permitem a utilização do computador


como ferramenta educacional. Segundo esta modalidade, de acordo com
Valente (1995), o computador não é mais o instrumento que ensina o aprendiz,
mas a ferramenta com a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto, o
aprendizado ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do
computador.

Nessa abordagem, o desafio para o professor é ensinar com tecnologia, ou


seja, empregar uma sequência didática em que o computador, através de um
software educativo, seja utilizado para desenvolver um conteúdo. É o
computador como parte do planejamento do professor, não sendo utilizado
para fins ilustrativos, que pelas suas características (som, imagens coloridas,
animações,...) acaba causando uma mera impressão visual, porém, sem
resultados significativos em termos de aprendizagem. Nessa perspectiva, a
informática adquire um importante significado no processo de ensino-
aprendizagem da Matemática.

Considerações finais

Considerando o contexto social em que as nossas escolas estão inseridas, em


que as tecnologias da informação e comunicação alteram significativamente a
forma como as pessoas se relacionam e a forma como a informação é
propagada e processada, apresenta-se aos professores um novo perfil
discente. Nesse contexto, é preciso que o professor esteja “conectado”,
pesquisando constantemente sobre metodologias de ensino condizentes com
essa realidade.

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Não basta apenas utilizar um recurso tecnológico como “apoio às aulas”.
Pensando dessa forma, o professor estará reproduzindo através da tecnologia
os métodos de ensino que hoje são considerados “tradicionais”. Planejar a sua
aula, com o uso de tecnologias atuais, exige fundamentação teórica e
conhecimento dos recursos que aquela tecnologia proporcionará.

Existem muitas questões em aberto quando se trata do emprego de novas


tecnologias no ensino de Matemática. Isso explica parte do título desse artigo:
possibilidades e desafios.

Como pesquisador constante de sua própria prática, o professor precisa buscar


novos significados dos conteúdos a serem desenvolvidos, tendo como base o
desenvolvimento tecnológico e as aplicações desses conteúdos no contexto
atual.

Em relação à formação dos futuros professores, em nossos cursos de


Licenciatura em Matemática, será que estamos preparando nossos
acadêmicos para o uso de novas tecnologias? A academia está propiciando um
olhar crítico e reflexivo sobre as novas relações que se estabelecem entre o ato
de ensinar e de aprender, com o uso da informática? São questões a serem
aprofundadas em um próximo artigo.

Referências bibliográficas

AYRES, Dalvina Amorim. Software Educativo: Uma reflexão sobre a


avaliação e utilização no ambiente escolar. 2009.
http://www.redem.org/boletin/boletin310709f.php

FAGUNDES, Lea da Cruz; Informática e Educação em Idéias, nº 4. Governo


do estado de São Paulo: São Paulo, 1994.

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GRAVINA, Maria Alice, Santarosa, Lucila Maria Costi. (1998) A Aprendizagem
da Matemática em Ambientes Informatizados. Informática na Educação:
Teoria e Prática, vol. 1, n. 1. Porto Alegre: UFRGS – Curso de Pós-Graduação
em Informática na Educação.

TAJRA, Sanmya Feitosa. Informática na Educação: novas ferramentas


pedagógicas para o professor na atualidade./ Sanmya Feitosa Tajra. 3.ed.
rev. atual e ampl. – São Paulo: Érica, 2001.

VALENTE, José Armando. Diferentes usos do Computador na Educação.


http://www.nuted.edu.ufrgs.br/biblioteca/artigos/uso_comp_educacao.html

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