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Entrevista realizada por : Carla Amaral Silveira , Maria Salete Melo Martins Pinto , Regina Helena
Miranda , Valesca Florence Iserhardt

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No dicionário Aurélio a atividade de curador de arte é descrita como ³responsável pela organização
e manutenção de acervo de arte´, mas na prática a atividade de curadoria tem muitos
desdobramentos que vão além da definição mencionada. No Brasil, muito recentemente há cursos
relacionados à curadoria.

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Depende do foco principal. Se ele se refere a um tema específico, se ele está relacionado com a
linguagem de um artista ou ainda se o foco é determinado pelas obras para uma exposição
específica.

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As etapas poderão variar: pode-se partir das obras que já estão determinadas, bem como de um
local em uma instituição cuja filosofia de trabalho obedece a determinados princípios.

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Trabalho a quase 53 anos nas artes visuais, e eu e a equipe do meu estúdio absorvemos todas as
etapas do fazer artístico desde a criação e realização das obras, a produção da mostra, incluindo a
museografia, a montagem, a criação de convites, catálogo, cartaz, o mailing e a divulgação até a
venda doas obras.
Aprendi tudo na ³guerra´, usando conhecimento e intuição para alcançar os objetivos propostos.
Me surpreende muito o desdobramento de profissionais que ocorre hoje: curador, montador,
iluminador, museólogo, desing gráfico e marchand.
A mim a curadoria também me dá prazer, pois a encaro e o é uma atividade criativa.

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A curadoria vinculada a uma instituição pode oferecer mais vantagens econômicas, o que é muito
bom, mas uma curadoria independente poderá ser mais desafiadora, muitas vezes, e justamente
por falta de recursos econômicos.

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Um profissional tem de resolver o assunto de curadoria com competência. Naturalmente que a


empatia com a obra poderá tornar o trabalho mais prazeroso.

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Saber exatamente a que público se destina e apresentar a mostra de forma agradável, acessível,
mas que tenha um forte embasamento didático, apresentando sutilmente.

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Concordo, mas tem de se ter cuidado, pois o ³rótulo´ de curador vê-se muito absurdo e há
curadores ditatoriais, o que prejudica as artes também.

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Um artista talentoso e com uma obra consistente ingressará no sistema das artes sozinho ou pela
mão de um curador. Os curadores não são deuses.


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Penso que com o artista iniciante o curador tem de se aproximar com mais cuidado e dar espaço
para que o jovem se expresse. No caso do artista com obra consolidada o curador tem de
descobrir aspectos que não foram abordados anteriormente. Entretanto, nos dois casos a
aproximação tem de ser de respeito e carinho.

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O trabalho foi feito da seguinte forma: escolha dos artistas e troca de e-mails entre eles e eu, para
que o trabalho de cada um fosse conhecido pelos os outros. Sugeri que se fizesse uma instalação.
Como a escolha do tema foi a Travessa Venezianos, e foi necessário fazer uma pesquisa histórica
sobre a vida e costumes dos antepassados dos moradores da travessa.
O grupo decidiu fazer uma obra na qual se identificasse o cunho pessoal dos seis artistas e eu
recomendei que eles se expressassem com liberdade e ousadia.
Fizemos uma maquete para visualizar como ficaria o trabalho e depois a executamos, e na
montagem fizemos os ajustes necessários
O trabalho ficou com um eixo central indicado pelas caixas impressas das fotos da Fernanda
Chemale. Eixo cortado horizontalmente por outro eixo imaginário, a faixa de segurança do
Leonardo Fanzelan.
O trabalho do Antônio Augusto Bueno dialoga com o trabalho da Lílian Maus, estabelecendo
também um eixo como com a obra dos espelhos da Kátia Costa.
Para ³fechar´, segurar a composição ficou decidido que o Gerson Reichert usaria toda a parede
oposta a porta de entrada da sala da Chico Lisboa com desenho a carvão, infelizmente ele não
usou toda a parede e a composição da instalação acabou sendo prejudicada.

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Atualmente Porto Alegre é uma cidade muito estimulante para se trabalhar com artes plásticas.
Temos uma Bienal do mercosul, um atuante Instituto de Artes, recentemente foi inaugurado a
Fundação Iberê Camargo e, além disso, temos o museu de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul. A
Associação de Artes Plásticas Chico Lisboa está comemorando seu septuagésimo aniversário com
um quadro de aproximadamente quatrocentos associados.
No ano passado foram realizados dois grandes eventos: ESSA POA É BOA e a BIENAL B, que
reuniram mais de duas centenas de artistas.
O que é difícil e tem de ser mudado é a pouca divulgação que os meios de comunicação dão às
artes plásticas. E com a inclusão das artes plásticas nas escolas de primeiro e segundo graus,
consequentemente, poderíamos formar um público apreciador e consumidor de arte.
Há muitas coisas para serem abordadas nesta pergunta, que daria uma longa reflexão e
conversa.
Para complementar o trabalho, além da entrevista com ZoraviaBettiol, incluímos as idéias de
Fernando A. F. Bini, contidas no seguinte texto extraído do site http://www.muvi.advant.com.br/:

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Depois que, no início do século, Marcel Duchamp expôs um objeto de uso, um mictório, assinou, e
decretou que era uma obra de arte, provocando uma inversão completa no mundo da arte;
separando o artístico e o estético, ele não só ³desestetizou´ a obra de arte como também
³estetizou´ o nosso cotidiano e os nossos objetos de uso: o valor de mercado e o valor estético de
um objeto de arte ficaram sujeitos a que o artista decida que ele é obra de arte e que o museu o
acolha como tal (nominal e institucional).Se no passado, de posse de critérios estéticos, os críticos
de arte tinham que auxiliar o público a ler e a entender as obras de arte, o que faremos hoje,
numa época em que o artista faz ³não importa o que´ (Thierry de Duve) ou que ³todo homem é
um artista´ (Joseph Beuys)?Sabemos, por ErwinPanofsky, a respeito das ³propriedades sensíveis´
das obras de arte, que elas possuem uma ³camada primária de sentidos´ a qual podemos penetrar
com base na nossa experiência existencial, mas ele se refere também a uma segunda camada,
pertencente a região dos significados e somente inteligível àqueles que possuem os conceitos que
ultrapassam as propriedades sensíveis.O ³olho´ é um produto da história reproduzido pela
educação e, a nossa capacidade de ver está associada ao nosso saber. Temos necessidade então
de orientação para podermos ver e entender toda a lógica interna de uma obra e não somente
fruirmos ingenuamente o que supostamente são dados para o deleite artístico. Para Anne
Cauquelin, a arte moderna, produto da sociedade moderna, faz parte do ³regime do consumo´: a
arte é interpretada como objeto cultural que requer um consumo cultural e determina um
mercado de arte. Era necessário excitar o desejo, de provocar, de fabricar a necessidade de
possuir a obra de arte, e a arte moderna produz então a ³crítica de arte´.A arte contemporânea
está ligada ao regime da comunicação, a nossa sociedade é a de comunicação, com as suas redes
e as suas ³infovias´: ³entrar na rede´ é ter acesso (³é estar conectado´) a todos os pontos dos
canais tecnológicos (telefonia, audiovisual, informática, inteligência artificial, etc.) que constróem
uma realidade em segundo grau, uma realidade simulada (Paul Virillo, Jean Baudrillard). Esta
sociedade tem necessidade de auxiliares da produção, de auxiliares dos artistas, pois aos artistas
cabe a parte da criação da obra.Estes auxiliares são os críticos de arte, os assessores de
imprensa, os agentes culturais, os jornalistas, os experts e os curadores. Por vezes o conservador
ou o diretor de um museu pode desempenhar o papel de crítico ou de curador; o crítico pode não
só escrever, mas também divulgar a obra do artista na rede de galerias e de colecionadores,
realizar expertises de obras de arte ou ser curador de exposição.Se a intenção da arte de hoje é
de trabalhar sobre a linguagem como comunicação, ela ultrapassa a Duchamp que seguidamente
usava o jogo de linguagem articulando um objeto e seu título (por exemplo no mictório
mencionado no início, ele assinou com o nome de R. Mutt, e isto foi nos Estados Unidos ± mute
em inglês é mudo: uma obra muda em significados? ± o título TheFountain, A Fonte em
português, mas La Fontaine em francês, sua língua original, pode se referir a Jean de La Fontaine,
o autor das Fábulas). Agora as ³proposições-títulos´ são elas mesmas os objetos ± tautológicos
para Joseph Kosuth, que está assentado na arte conceptual.Aatividade do curador é complexa e
não se restringe a ³pendurar os quadros na parede´, a ³decorar o Salão ou a exposição´ ou ainda
dispor as esculturas no interior da sala. O Curador deve desempenhar, pelo menos, duas
atividades simultâneas: a de organizar a exposição e a de fazer a sua crítica pois ³se o curador
não tem o trabalho de pensar criticamente a exposição, ele corre o risco de se ver como um
simples ³pendurador de quadros´ (Stella Teixeira de Barros, curadora), a curadoria tem sempre
que apresentar uma leitura crítica, pois uma exposição jamais escapa de um pensamento teórico
que a sustente.De posse da idéia, o curador deve fazer a escolha do artista (ou dos artistas) e das
obras (os artistas não sabem necessariamente escolher o melhor trabalho para representá-los),
mas isto é também o papel do crítico. A preocupação com a montagem da exposição é que exige
um profissional treinado para projetar a organização e a ocupação do espaço com as obras
escolhidas, sobre a idéia preestabelecida. Nos aproximados de uma atividade de design da
exposição enquanto atividadeprojetual de apresentação do produto. Mas a curadoria é ainda mais
complexa, o público deve ser visto não como consumidor (da arte moderna) mas como receptor
de informação, o curador deve provocar leituras, das mais fáceis para um publico leigo até as mais
difíceis e deixar claro que esta é uma formulação possível, mas que existem outras. A arte atual
utiliza com freqüência a citação, o simulacro, onde toda a história da arte está ai refletida, nesta
diversidade de linguagens o curador deve ter a preocupação didática, é frustrante ir a uma
exposição da qual nada se consegue entender, e não falo somente em relação às obras expostas.É
ainda importante que o curador se preocupe com o folheto de apresentação ou o catálogo da
exposição, escolhendo as imagens mais representativas que nele devem constar e fazendo, ao
menos, o texto de apresentação, onde deverá deixar clara a(s) idéia(s) que nortearam a
exposição.Muitas vezes a culpa de uma má exposição não é só do curador, diretores ou
responsáveis por instituições quando o contratam já tem uma idéia pronta do que querem e dão
ao curador pouca liberdade de agir sobre sua idéia, outras vezes querem que este se preocupe
somente com a escolha das obras ou com a disposição delas no espaço da exposição.Isto se
agrava mais entre nós onde não existem locais para a formação destes profissionais, que dada a
sua complexidade deveriam ser preparados em cursos de graduação e de pós-graduação em
nossas universidades. O RoyalCollegeofArt de Londres possui um curso de pós-graduação (Visual
ArtsAdministration) com um programa prático de curadoria junto com as Galerias de Arte oficiais
do Reino Unido. Na França existe a opção da formação como Comissário de Exposições desde a
graduação, mas são os estudantes de pós-graduação que encontram melhores programas de
prática de curadoria junto aos museus de Arte Contemporânea como é o caso da Galeria Nacional
do Jeu de Paume.Não podemos esquecer que a arte é sempre o espelho onde o homem pode ler a
sua verdadeira face; na arte contemporânea o ³que mais interessa é exatamente o que de
incerteza, de estranhamento, ela pode nos oferecer´ (Agnaldo Farias), por isso a importância de
profissionais competentes e bem preparados para que esta face estranha e incerta não seja
equivocadamente mostrada.
Fernando A. F. BiniProfessor de Estética e História da Arte - Associação Paranaense de Artistas
Plásticos
Agosto de 1999. t !

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