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MENINAS

NA ESCOLA,
MULHERES
NA CIÊNCIA
FERRAMENTAS PARA
PROFESSORES DA
EDUCAÇÃO BÁSICA
MENINAS
NA ESCOLA,
MULHERES
NA CIÊNCIA
FERRAMENTAS PARA
PROFESSORES DA
EDUCAÇÃO BÁSICA

Patrocínio Realização
SUMÁRIO

Ferramentas para a reflexão: avaliações


QUESTÕES DE GÊNERO: EU, A ESCOLA E A SOCIEDADE 26
4
Do que estamos falando quando o assunto é gênero 28
Possibilidades de reflexão 31
Como você se percebe quanto à igualdade de gênero? 32
PROGRAMA MULHERES NA CIÊNCIA E INOVAÇÃO Como você percebe as regras sociais de gênero ao seu redor? 34
Palavras iniciais Como você percebe a questão de gênero na escola? 41

AS CIENTISTAS DO AMANHÃ ESTÃO NA ESCOLA HOJE

6
42
Apresentação

Ferramentas para a prática: planos de atividades

8
EXPERIÊNCIAS E AÇÕES:
POR MAIS MENINAS E MULHERES NA CIÊNCIA

Diversidade de gênero: um novo paradigma para a ciência 46


Ferramentas para a informação: referências Meninas na ciência e datas comemorativas 53
SOBRE MENINAS, MULHERES, EDUCAÇÃO E CIÊNCIA Perspectivas de gênero em contexto de desastres:
um jogo de consenso 60
Mulheres na ciência: quantas são e onde estão 10 Imaginando cientistas 68
Por que incentivar meninas? 16
Estereótipos em desconstrução 20
Como a escola motivou as cientistas de hoje 22
Iniciativas para aproximar meninas da ciência 24
Palavras iniciais

Programa mulheres
na ciência e inovação
O programa Mulheres na Ciência é uma iniciativa criada Ao promover oportunidades nos campos Ciência, tecnologia e inovação estão no DNA do Museu Esses são os objetivos do Museu do Amanhã
pelo British Council Brasil que tem como objetivo promover da ciência, tecnologia, engenharia e matemá- do Amanhã, um ambiente de perguntas sobre a época de | IDG – Instituto de Desenvolvimento e Gestão
uma ciência mais diversificada e representativa de gênero. tica – na sigla em inglês STEM – para meninas grandes transformações em que vivemos e os diferentes ca- na concepção e realização do programa Mulhe-
Como parte desse programa, em parceria com o Museu do e jovens mulheres, prestamos uma significativa minhos que se abrem para as próximas décadas. Afinal, já não res na Ciência e Inovação em parceria com o
Amanhã, foi desenvolvido o treinamento Mulheres na Ciên- contribuição à sociedade e assim consegui- é possível imaginar nem criar o futuro sem esses elementos. British Council, que, na primeira edição, contou
cia e Inovação que visa fortalecer a liderança feminina na mos inspirar, no Brasil e no Reino Unido, al- E se a ciência é importante para a vida de todos, é im- com a parceria do CNPQ, CONFAP e Fábrica de
inovação de base científica e tecnológica. gumas das mentes mais brilhantes que temos portante que todos participem da vida da ciência. Um ideal Start-ups. Garantir oportunidades de treinamen-

PALAVRAS INICIAIS
Oferecer condições para que as escolas garantam que em nossas sociedades. Em nome da equidade, que passa pela equidade de gênero. As mulheres tornaram to para as pesquisadoras brasileiras que dese-
atuais e futuras gerações se conectem aos conhecimentos diversidade e igualdade de oportunidades, pre- possível a viagem da humanidade à Lua, tripulam a estação jam inovar e empreender é uma estratégia para
construídos e acumulados historicamente é um compro- cisamos corrigir essa tendência e garantir que espacial que dá voltas ao redor da Terra, participam das fortalecer a liderança das mulheres na inovação
misso com o hoje e também com o amanhã do Brasil e do incentivemos mais meninas a estudar ciências missões que nos levarão à Marte. No entanto, ao falarmos de base científica e tecnológica e para o empo-
mundo. Esta é uma missão de todos, em que cada um faça e a considerar as áreas de STEM como um ca- sobre a conquista espacial, a primeira imagem que nos vem deramento feminino. E se optamos em produzir
com que tais bens comuns, sejam eles científicos, artísticos minho profissional possível. à cabeça costuma ser de homens. Esse é só um exemplo uma publicação destinada às professoras e aos
4 ou culturais, estejam à disposição de qualquer pessoa, inde- Gostaria de agradecer ao Museu do Ama- entre muitos que atestam que por um longo tempo as áreas professores da educação básica sobre o estímu- 5
pendentemente de raça, cor, credo ou sexo. nhã, “nosso parceiro” nesta iniciativa, pela ma- de ciência, tecnologia, engenharias e matemática foram re- lo às meninas a seguirem carreiras científicas é
O sucesso de meninas em termos de trajetória escolar neira inovadora com a qual vem enfrentando presentadas como um mundo masculino. Algo que a histó- porque elas serão as protagonistas do futuro. As
no Brasil deve ser destacado. Ainda hoje meninas e me- os desafios nesse campo. Espero que esta pu- ria mostra ser um grande equívoco. cientistas do amanhã estão em sala de aula hoje.
ninos recebem estímulos diferenciados que, ao invés de blicação estimule a reflexão sobre a equidade Quando esse imaginário começou a ser construído e
promoverem maior equidade, aprofundam desigualdades. de gênero na educação brasileira e que, no como ele se perpetua até hoje vêm sendo cada vez mais Carlos Henrique Oliveira
Sobretudo quando olhamos para o campo das ciências, intervalo de uma geração, tenhamos conse- objeto de estudo. Da mesma forma em que aumenta o nú- Diretor Executivo do Museu do Amanhã | IDG -
as atitudes presentes no cotidiano escolar fazem com que guido alcançar uma representação igualitária mero de iniciativas para dar visibilidade à presença das mu- Instituto de Desenvolvimento e Gestão
meninas se engajem menos e se sintam menos motivadas entre homens e mulheres envolvidos na área lheres na ciência, é essencial buscar formas de reduzir os
a lidar com problemas matemáticos e lógica, por exemplo. de STEM nas universidades e em carreiras no obstáculos que dificultam suas carreiras e de aumentar as
Décadas de pesquisa têm mostrado que anos dessas práti- mundo todo. oportunidades para que elas ocupem postos de liderança.
cas estão relacionado ao menor engajamento de meninas
e jovens mulheres em carreiras científicas e tecnológicas. Martin Dowle
É nesse emaranhado de pequenas práticas pouco elabo- Diretor do British Council Brasil
radas e às vezes não muito conscientes que educadoras e
educadores enfrentam as raízes dessas desigualdades. Neste
contexto o British Council e o Museu do Amanhã mais uma vez
somam esforços para colaborar com esse desafio. Como parte
do programa Mulheres na Ciência e Inovação, convidamos pro-
fissionais da educação para uma jornada de autoconhecimento
e reflexão sobre como promover maior igualdade de oportuni-
dades entre meninas e meninos no ensino de ciências.
Apresentação elas desde a escola até a universidade. Além Além disso, alguns dos temas abordados no

As cientistas do amanhã
de dados sobre a produção científica, você po- texto ganham vida em depoimentos de pesqui-
derá conhecer estudos que demonstram que sadoras participantes do programa Mulheres
exemplos, modelos e estímulos recebidos ao na Ciência e Inovação e de professoras e pro-

estão na escola hoje


longo da trajetória de escolarização influen- fessores que participam do Inspira Ciência –-
ciam a percepção das meninas e adolescentes programa de formação de professores da edu-
e as afastam de áreas de ciência, tecnologia, cação básica realizado pelo Museu do Amanhã,
engenharias e matemática (hoje, em sua sigla IDG - Instituto de Desenvolvimento e Gestão e
em inglês, muito se fala do STEM). O que se o British Council.
espera nessa seção é que você tenha uma vi-
são ampla da questão de gênero nas ciências
e possa compreender como algo que costuma
O Brasil tem cerca de 48 milhões de estudantes na educação básica, sejam ser visto na universidade e no mercado de tra-
crianças e adolescentes em idade escolar ou pessoas jovens e adultas que balho começa, na verdade, na escola.
tiveram a oportunidade de voltar às salas de aula. Entre eles estão milhões de Em seguida, a segunda seção “Questões de PARA SABER MAIS
meninas, adolescentes e jovens mulheres descobrindo a si, o outro e o mundo. gênero: eu, a escola e a sociedade” traz ferra-
Na escola, elas aprendem, nutrem sonhos, despertam interesses e fazem mentas para que você possa avaliar a sua sen- QR CODES E IMAGEM ILUSTRATIVA

APRESENTAÇÃO
escolhas importantes para suas vidas. sibilidade e atenção às questões sobre igual- Ao longo desta publicação são
dade entre homens e mulheres em diferentes apresentadas referências e materiais
dimensões, assim como ajudar a avançar sobre extras que podem ser acessados pelo seu
esse tema, em especial incentivando sua inser- smartphone a partir da leitura dos códigos,
ção na sala de aula para estimular a relação das como o ilustrado na figura abaixo. Além de
6 Ao lado delas, você, professora ou professor, partici- der. Também explica porque esse programa meninas com a ciência. fonte de informação e pesquisa para você, 7
pa desses momentos, o que torna a sua atuação decisiva desenvolveu esta publicação: para que profes- Entendendo que a equidade entre mulhe- professora e professor, a ideia é que essas
para o desenvolvimento de cada uma delas e do país soras e professores tenham mais ferramentas res e homens é um desafio global do qual a ferramentas possam servir para incrementar
como um todo. Afinal, a educação ajuda a construir o para abordar em sala de aula a presença das ciência, as escolas e você fazem parte, fica a suas práticas, podendo ser utilizadas em
futuro delas e elas ajudarão a construir o futuro do país. mulheres na ciência e estimular as meninas a pergunta: como levar o tema para a sala de atividades com os estudantes em sala de
Por isso, você é indispensável no que pode ser uma das seguirem carreiras científicas. Assim, essa ini- aula? Assim, a terceira seção desta publicação, aula. Basta baixar um aplicativo de leitura
maiores conquistas do nosso tempo: a equidade de gênero, ciativa abrange desde a educação básica até o “Experiências e ações: por mais meninas e mu- de QR code e navegar nas informações.
um esforço histórico e global para que mulheres e homens ensino superior e a pós-graduação. Em outras lheres na ciência”, traz exemplos de referência
tenham direitos, responsabilidades e oportunidades iguais palavras, abrange desde as meninas na escola para o planejamento de aulas e a oferta de ex-
ao longo da vida. Algo que só poderá ser alcançado com a até as mulheres na ciência. periências que já dão certo.
consolidação de oportunidades educacionais para as mu- Há, ao longo de toda a publicação, ques-
lheres desde meninas, de forma que em qualquer idade elas >> FERRAMENTAS PARA A CONSTRUÇÃO tões e atividades para que você possa refletir
possam participar – e protagonizar – as grandes transforma- DE UMA CIÊNCIA COM EQUIDADE e realizar suas pesquisas, como também suges-
ções do século 21. A publicação que você tem em mãos traz re- tões de investigações e práticas que podem
Isso explica porque o Museu do Amanhã, o British Coun- ferências para você abordar na escola o tema ser adaptadas ou trabalhadas na íntegra com
cil e o IDG - Instituto de Desenvolvimento e Gestão realizam das mulheres na ciência com o objetivo de es- os estudantes. Nem sempre o assunto central
o programa Mulheres na Ciência e Inovação. Esta é uma timular novas abordagens que coloquem meni- será a questão do gênero – um tema qualquer
iniciativa com o objetivo de ampliar a presença, o protago- nas e meninos em pé de igualdade como pro- poderá ser trabalhado de forma que todos e
nismo e a liderança das mulheres nas áreas de ciência, tec- tagonistas de suas histórias. A primeira seção todas as estudantes conheçam exemplos de
nologia, engenharias e matemática por meio de um treina- “Sobre meninas, mulheres, educação e ciên- mulheres notáveis naquele contexto, algo es-
mento composto por palestras e workshops oferecido para cia”, revela a presença feminina na ciência, in- sencial para a construção de modelos, tanto
pesquisadoras brasileiras que desejam inovar e empreen- cluindo os principais desafios enfrentados por para meninas quanto para meninos.
8
etty fidele / unsplash

SOBRE
MENINAS,

E CIÊNCIA
EDUCAÇÃO
MULHERES,
9

FERRAMENTAS PARA A INFORMAÇÃO: REFERÊNCIAS


unsplash
Se você pensar bem, existe algo em comum Na educação superior, as mulheres somam
entre a descoberta da radioatividade, o primei- mais da metade (55%) das matrículas de gradua-

/
bret kavanaugh
ro algoritmo processado por uma máquina e, ção, segundo o Ministério da Educação (MEC),
mais recentemente, o registro inédito da ima- dados semelhantes aos da média mundial, que
gem de um buraco negro e o sequenciamento é de 53%, de acordo com a Unesco. As chances

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genético em tempo recorde do novo coronaví- de elas terminarem os estudos e conseguirem
rus no Brasil. Todas essas descobertas foram um diploma no ensino superior também é maior
protagonizadas por mulheres! Mas elas ainda do que os homens. O relatório Education at a
enfrentam desafios para seguir carreira nas Glance de 2019 da OCDE aponta que as mu-
áreas de ciência, tecnologia, engenharias e lheres brasileiras (25 a 64 anos) têm 34% mais
NA CIÊNCIA:
matemática. De acordo com o Instituto de Es- chances de se formar no ensino superior do que
tatísticas da Organização das Nações Unidas os homens. E essa tendência cresce cada vez
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UIS- mais, já que entre as mulheres mais jovens, de
MULHERES

-Unesco), as mulheres somam hoje menos de 25 a 34 anos, as chances de conseguir um di-


30% dos pesquisadores no mundo, apesar de ploma universitário sobem para 42%.
representarem metade da população mundial. No campo científico, no entanto, o acesso
Resolver problemas que abrangem a diver- não significa o desenvolvimento de uma reali-
sidade e a inclusão na carreira científica é fun- dade de equidade consolidada. O problema, no
damental para que a igualdade de oportunida- Brasil e no mundo, é que a proporção de mulhe-
des entre homens e mulheres seja alcançada res diminui quando olhamos para os diferentes
não só na ciência, mas produza resultados de momentos de carreiras científicas. Nas primeiras
transformação em todos os campos da nossa etapas – na iniciação científica, que acontece
10 convivência em sociedade. Nesse contexto, a durante a graduação, e em programas de mes- 11
tarefa de estimular e dar oportunidades às me- trado e doutorado –, as mulheres são maioria.
ninas para que elas sigam esse caminho come- Em estágios mais avançados da carreira, no
ça na escola, evidenciando o papel essencial
das professoras e professores nessa jornada.
Na educação básica, aliás, as mulheres são a
maioria entre os professores em sala de aula,
bem como na direção das escolas.
Menos de 30%
dos pesquisadores
O primeiro passo está na igualdade de aces- no mundo são mulheres
so, quesito em que avançamos bastante, já Fonte: Unesco
que a presença feminina melhorou como um
todo na educação do país. Hoje, no Brasil e em

QUANTAS SÃO
muitos outros lugares do mundo, meninas têm No Brasil, entre os adultos com
trajetórias escolares mais longevas, e proporcio- mais de 25 anos, concluíram
nalmente mais meninas conseguem concluir o o ensino médio:
ensino médio. De acordo com a Pesquisa Anual
por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Con- 49,5%

E ONDE ESTÃO
tínua) de 2018, realizada pelo Instituto Brasileiro das mulheres
de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção
de pessoas de 25 anos ou mais de idade que
finalizaram, no mínimo, o ensino médio, era de
45%
dos homens
49,5% entre mulheres e 45% para os homens. Fonte: IBGE/PNAD-C, 2018
“O maior desafio que encontrei o impacto de ter filhos na carreira científica No entanto, o mesmo não acontece com os “A engenharia ainda é um
ao longo da minha carreira das brasileiras. A principal forma de avaliar a homens. Ao se tornarem pais, a taxa de pro- meio bastante masculino. Foi,
foi conciliar trabalho e produtividade de pesquisadores é quantificar dutividade entre cientistas homens pode até e tem sido, um longo processo
maternidade. Tenho 3 filhas e as suas publicações científicas. Um estudo de aumentar. De acordo com estudo publicado de autoafirmação como uma
durante os primeiros anos (até 2017 desse grupo realizado com mais de mil em 2016 por pesquisadores da Califórnia, nos mulher que produz ciência e

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6 anos) delas sempre sofria pesquisadoras revela que, enquanto as cien- Estados Unidos, os maiores beneficiários de que, de certa forma, contribui
quando saía para trabalhar.” tistas sem filhos apresentam uma curva as- políticas voltadas para pesquisadores que se para o país, avançar na ciência
Aida Araújo Ferreira, cientista da cendente em sua produção, aquelas que se tornaram pais e mães são os homens. Em mui- e tecnologia.”
computação e professora do Instituto tornam mães têm uma queda na quantidade tos casos, eles dedicaram o período da licença Iasmin Cristina Santana Santos,
Federal de Pernambuco (UFPE) de publicações até quatro anos após o nasci- paternidade para trabalhar mais e aumentar estudante de engenharia elétrica na
mento do primeiro filho, para só depois disso sua produção, enquanto os cuidados com a Universidade de São Paulo (USP)
começar a produzir mais novamente. Tal fato criança ficam a cargo da mãe.
entanto, a assimetria na distribuição e influência estaria relacionado ao período de licença ma- Esses dados evidenciam que são necessárias
entre os sexos se torna determinante. No país, ternidade, quando a mãe fica afastada de suas mudanças na cultura de cuidados com os filhos,
apenas um em cada quatro pesquisadores senio- atividades profissionais, e aos cuidados com não apenas durante o período da licença mater-
res é mulher. Nos grupos de pesquisa do Con- os filhos nos primeiros anos de vida. nidade/paternidade, como também nos primei-
selho Nacional de Desenvolvimento Científico e ros anos de vida das crianças, que seguem como >> QUASE IGUAL, MAS COM DIFERENÇAS
Tecnológico (CNPq), elas são a maioria (51%) – uma responsabilidade majoritariamente feminina. Mesmo sendo minoria nas etapas mais avan-
mas a proporção se inverte quando o assunto é Uma consequência desse cenário é um de- çadas da carreira e recebendo menos verba para
liderança, posição ocupada por homens em 53% sequilíbrio no financiamento das pesquisas feitas pesquisa, as cientistas brasileiras têm produzido
dos casos, segundo dados da instituição compi- por homens e mulheres. Isso porque a produtivi- cada vez mais. Elas já são responsáveis por quase
ladospela organização Gênero e Número. dade é o que mais pesa para que pesquisadores metade da produção científica nacional, segundo o
12 “Eu tive muita dificuldade recebam dinheiro para os seus estudos. O CNPq, estudo “Gender in the Global Research Landscape”, 13
>> TETO DE VIDRO para realizar a pós-graduação. principal órgão de financiamento da ciência no divulgado em 2017 pela editora científica Elsevier.
Esse fenômeno em que grande parte das mu- Estudava à noite e avançava de país, concede bolsas cujos valores aumentam Em 20 anos, a presença feminina passou
lheres avança na carreira científica apenas até madrugada, pois esperava as à medida que cresce a produção do cientista. de 35% para 44% entre os pesquisadores bra-
certo limite foi apelidado de “teto de vidro”. Mas crianças dormirem. Meu tempo Ou seja, quem produz mais tem mais verba para sileiros que publicam estudos científicos. Os
os fatores que contribuem para essa situação era sempre cronometrado e fazer pesquisa. E entre as bolsas com valores dados são de outro relatório sobre gênero na
têm sido estudados e entendidos, deixando-os inúmeras vezes precisei abrir mais altos (de nível 1A), concedidas entre 2013 ciência publicado em 2020 pela Elsevier, “The
cada vez menos invisíveis. Um deles está na difi- mão das coisas da universidade e 2017, 75% foram destinadas a homens. Researcher Journey Through a Gender Lens”.
culdade de encontrar equilíbrio entre vida profis- por causa das minhas tarefas A boa notícia é que as agências que finan- O Brasil fica atrás somente da nossa vizinha
sional e pessoal, como acontece também em ou- domésticas e de mãe. Para ir ciam a pesquisa científica no Brasil começaram Argentina (onde as mulheres já são maioria,
tras atividades profissionais desempenhadas por a eventos ou congressos, eu a olhar para o tema. O CNPq passou recente- 51%) e de Portugal (48%), e à frente de países
mulheres. De acordo com o Instituto de Pesquisa dependia de terceiros para mente a permitir que se inclua no currículo aca- como França (39%), Reino Unido (38%), Esta-
Econômica Aplicada (Ipea), enquanto em 2015 os ficar com as crianças. Várias dêmico os nascimentos ou adoções de filhos dos Unidos (34%) e Alemanha (32%).
homens brasileiros dedicavam em média cinco vezes solicitava os vizinhos de pesquisadores homens e mulheres, para
horas semanais a afazeres domésticos, essa taxa para ficar com meus filhos que essas informações possam ser levadas em
era de 19 horas para as mulheres. Isso significa enquanto ia fazer prova.” conta no momento de avaliar a produção dos
que elas acabavam trabalhando oito horas a mais cientistas em cada período. Ainda, tanto o CNPq As mulheres brasileiras têm

34%
Juliana Teixeira de Magalhães,
por semana para dar conta de tudo. microbiologista, professora da quanto a Coordenação de Aperfeiçoamento de
A maternidade é outro fator que influencia Universidade Federal de São João Pessoal de Nível Superior (Capes) adotaram re-
a trajetória das cientistas, de acordo com da- del Rei (UFSJ) e cofundadora de duas gimes de prorrogação de bolsas para pesquisa- mais chances de se formar no
dos do Parent in Science, grupo formado por startups que surgiram a partir de doras em virtude de parto ou adoção a partir de ensino superior do que os homens
pesquisadores gaúchos que tem analisado resultados de pesquisas acadêmicas 2015 e 2011, respectivamente. Fonte: OCDE, 2019
Elas são maioria em todos de bolsas. De acordo com os dados gundo o IBGE). Os dados são da repertórios empregados na reso- Mulheres trabalham
os níveis da educação superior mais recentes da PNAD Contínua do pesquisa #QuemCodaBr, feita pela lução de problemas, aumentam as 8 horas a mais por semana
no país (graduação, mestrado IBGE, as mulheres brancas corres- PretaLab, iniciativa de inclusão de chances de se chegar a resoluções que homens para dar conta
e doutorado) pondem a 23% da população brasi- mulheres negras na inovação e na e inovações que possam beneficiar dos afazeres domésticos
Fonte: INEP/MEC leira; as pretas, 5% e as pardas, 24%. tecnologia, e pelo ThoughtWorks, um maior número de pessoas. E es- Fonte: IPEA

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As mulheres negras, grupo formado consultoria global de software. ses resultados são essenciais para
pelas pretas e pardas, representa- A inclusão e a diversidade são enfrentarmos os grandes desafios Pesquisadoras que se tornam

75%
das bolsas de pesquisa com
ram portanto, quase um terço da
população do país.
A baixa representação de mu-
importantes por permitir que os
diversos grupos sejam represen-
tados na vida em sociedade. E
de nosso tempo, da saúde à se-
gurança alimentar, das mudanças
climáticas às comunidades susten-
mães apresentam queda na
produção até o quarto ano
do nascimento do/a filho/a
valores mais altos do CNPq (de lheres negras vem desde o início também porque, quanto maior a táveis, que afetam a todos – sejam Fonte: Parents in Science
nível 1A) vão para homens da carreira acadêmica. De acordo variedade de pontos de vista e de mulheres ou homens, brancos ou
Fonte: CNPq / Gênero e Número com a pesquisa “Estatísticas de negros, jovens ou idosos.
gênero – indicadores sociais das
mulheres no Brasil”, realizada pelo
Esse pretenso equilíbrio de- IBGE em 2018, o percentual de mu-
saparece quando se analisa a lheres brancas com ensino supe-
proporção de pesquisadores nas rior completo (23,5%) é 2,3 vezes
diferentes áreas do conhecimen- maior do que o de mulheres pretas
to. Carreiras com vocação para o ou pardas (10,4%).
cuidado, como enfermagem, por Para além do mundo acadê- PARA SABER MAIS
exemplo, têm três vezes mais pes- mico, a sub-representação de
14 quisadoras autoras de trabalhos mulheres e pessoas negras está “Ainda causa surpresa ver mulheres na ciência?” O 15
científicos no Brasil do que ho- presente também em outras ativi- podcast Café da Manhã, da Folha de S.Paulo, dedicou um
mens. Na exatas, por sua vez, a si- dades profissionais. Em tecnolo- programa inteiro ao tema das mulheres na ciência. O assunto em
tuação é oposta: para cada cinco gia, por exemplo, elas são apenas destaque foram as cientistas brasileiras que sequenciaram em
autores brasileiros, somente uma um terço dos que atuam na área, tempo recorde o genoma do novo coronavírus encontrado no
é mulher – cenário que se repete apesar de ambos os grupos serem país nos dias anteriores.
em vários outros países. maioria na população brasileira
(52% mulheres e 56% negros, se- Infográfico da Gênero e Número traz um panorama sobre
>> A IMPORTÂNCIA DA a participação feminina na ciência nacional a partir de
REPRESENTATIVIDADE dados do CNPq.
E DA DIVERSIDADE
Quando se fala sobre representativi- Reportagem “Sem considerar maternidade, ciência
dade nas ciências, é preciso lembrar brasileira ainda penaliza mulheres”, da Gênero e Número.
que a busca pela equidade não se
restringe ao gênero e a áreas es- “A maior dificuldade é ser O relatório “Gender in the Global Research Landscape”
pecíficas. No que se refere à raça, vista como cientista, e não (Elsevier, 2017) traz um panorama da participação das
as discrepâncias são ainda maiores. como mulher ou como uma mulheres na ciência em diversos países e áreas.
Em 2017, 31% das bolsas de pes- [pessoa] negra.”
quisa do CNPq foram destinadas a Alessandra Nascimento Pontes, O estudo “The Researcher Journey Through a Gender Lens”
mulheres brancas, enquanto mu- enfermeira e doutoranda em distúrbios (Elsevier, 2020), examina a participação na pesquisa, a
lheres pretas e pardas receberam, do desenvolvimento pela Universidade progressão na carreira e as percepções de pesquisadoras mulheres
respectivamente, 3% e 12% do total Presbiteriana Mackenzie em diversos países do mundo, em 26 áreas.
6 anos
POR QUE
como pessoas “fora do comum”, especialmente
inteligentes, e o fazer ciência como algo fora
do alcance de pessoas normais. Esses exem- é a idade em que meninas

AS MENINAS
plos influenciam o modo de pensar dos jovens. passam a se achar menos
O seu papel como educadora ou educador inteligentes que meninos

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tem grande importância no que diz respeito à
ampliação das possibilidades de trajetórias pro-
fissionais e pessoais desses jovens. Nesse sen- 1 em cada 5
DEVEM SER
tido, a publicação Por que discutir gênero na nascidos no país é filho/a de mães
escola?, da ONG Ação Educativa, mostra que o com 19 anos de idade ou menos
ambiente educacional, como parte integrante
da sociedade, pode reproduzir as relações de

INCENTIVADAS
desigualdade entre meninos e meninas, mas
também entre pessoas no geral por fatores
como, por exemplo, religião, raça e orientação
sexual. Meninas frequentemente são cobradas
unsplash

a serem delicadas e são elogiadas por serem


bonitas, enquanto os meninos são saudados
/
ellyot

pela sua coragem e ouvem que devem “engolir


o choro”, pois isso é “coisa de mulherzinha”. A
própria apresentação do conceito de “mulherzi-
Quando você pensa em cientistas, qual é a primeira nha” como algo negativo está carregada de uma inteligentes que os meninos – sendo que, até
16 imagem que vem à sua cabeça? Além do estereótipo do compreensão de mundo que identifica o femini- então, elas se consideravam tão inteligentes 17
jaleco branco (e da cara de louco), a imagem de cientista no com fraqueza e ineficiência. quanto eles. Essa percepção acaba influen-
geralmente está associada a homens mais velhos, de pele Em que pese a função da escola em valorizar ciando a escolha das disciplinas que elas vão
branca. Isso vale para você, professora ou professor, mas diferentes culturas e modos de ser e viver, res- cursar e, em última instância, a área profissional
também para os jovens, que muitas vezes buscam inspi- peitando crenças e valores, ela não apenas pode em que vão atuar.
rações para os caminhos que começam a trilhar, seja em como deve assumir seu potencial transformador O tratamento e os incentivos recebidos na
suas vidas pessoais seja, futuramente, em suas escolhas no combate a essas desigualdades relacionadas infância são tão importantes que o Fundo de
profissionais. Nesse contexto, despertar o interesse das a diferenças sexuais, de orientação sexual e de População da ONU (UNFPA, sigla em inglês) afir-
meninas pela ciência desde a educação básica passa por identidade de gênero. Compreendendo que es- mou em relatório, em 2016, que o cumprimento
apresentar modelos que mostrem que, sim, a ciência tam- sas diferenças são construídas histórica e cultu- da Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desen-
bém é lugar de mulheres. ralmente, podemos nos mobilizar para transfor- volvimento Sustentável (ODS) estava diretamen-
mações que contemplem a construção de uma te relacionado ao apoio oferecido a cerca de 60
A imagem que temos de cientistas vem sociedade mais justa e alinhada às agendas de milhões de meninas no mundo, naquele momen-
dos livros de história e também dos materiais desenvolvimento da nossa época. to com 10 anos de idade e que em breve inicia-
didáticos, que muitas vezes ilustram grandes Essas desigualdades também são construí- riam sua passagem da adolescência para a vida
trabalhos científicos apenas com exemplos das na “cabeça” de meninos e meninas desde adulta. O relatório afirmava também que práti-
de homens que fizeram ciência. E também é muito cedo. Um estudo publicado na revista cas como casamento e gravidez precoce, por
construída pela mídia, quando vemos majori- científica Science, em 2017, mostra que os es- exemplo, impedem as meninas de alcançarem
tariamente pesquisadores do sexo masculino tereótipos de gênero sobre a capacidade inte- seu pleno potencial para atingir a idade adulta
sendo entrevistados na televisão ou em repor- lectual emergem na infância e influenciam os e contribuírem para o progresso econômico
tagens nos jornais. Mas a questão vai além do interesses das crianças. A partir dos seis anos e social das suas comunidades e nações. No
gênero: cientistas são muitas vezes retratados de idade, as meninas passam a se achar menos Brasil, são 1,6 milhão de meninas dessa idade,
Média geral de pontos segundo o IBGE. E um em cada Em suas avaliações, o Pisa tam- Esse cenário na educação básica acaba se refletindo
dos estudantes no Pisa cinco nascidos vivos no país é fi- bém mede algumas atividades nas escolhas profissionais dos jovens em áreas como ma-
lho ou filha de mães com 19 anos dos estudantes no seu cotidiano – temática, ciências da computação, física, engenharia, in-
matemática: de idade ou menos, de acordo como jogar videogame sozinho ou dústria e construção. Em 2012, apenas 14% das mulheres
Brasil: com o Ministério da Saúde. Dedi- em colaboração online com outros que entraram na universidade pela primeira vez escolheram

+9 pontos

FERRAMENTAS PARA A INFORMAÇÃO: REFERÊNCIAS


car atenção ao desenvolvimento jogadores - e a sua autoconfian- campos relacionados à ciência, de acordo com o relatório.
desse grupo é decidir se o futuro ça em relação às áreas do exame. Em contrapartida, 39% dos jovens de sexo masculino que
para os meninos será apresentado como universo No estudo “O que está por trás da entraram na universidade naquele ano optaram por seguir
OCDE: expandido ou horizonte limitado desigualdade de gênero na edu- um desses campos de estudo.

+5 pontos
para os meninos
não só para essas meninas, como
para toda a comunidade da qual
elas fazem parte.
cação?”, de 2015, a OCDE aponta
que a falta de confiança das jovens
em relação à ciência e à matemá-
tica prejudica o seu desempenho.
ciências: >> DESEMPENHO As meninas, mesmo aquelas de alto PARA SABER MAIS
Brasil: desempenho igual de E CONFIANÇA desempenho escolar, tendem a ter
meninos e meninas No caso das ciências e áreas corre- baixo rendimento em comparação A publicação “Por que discutir gênero na escola?”, da
OCDE: latas, a falta de estímulo a nossos e com os meninos quando são apre- ONG Ação Educativa, traz (em uma linguagem bastante

+2 pontos
para as meninas
nossas jovens de uma forma geral e
mais especificamente das meninas
repercute no seu desempenho em
sentados exercícios que fogem do
modelo tradicional escolar a que
estão acostumadas e são convida-
simples e agradável) reflexões sobre a igualdade de gênero e
possibilidades de ação para a promoção de direitos iguais para
meninas e meninos no ambiente escolar.
avaliações internacionais, como no das a pensar como cientistas (por
leitura: Programa Internacional de Avalia- exemplo, quando são convidadas Estudo publicado na revista Science mostra que os
18 Brasil: ção de Estudantes (Pisa). O exame a formular situações matematica- estereótipos de gênero começam cedo: aos seis anos, 19

+26 pontos
para as meninas
comparativo é realizado pela OCDE
em vários países a cada três anos, e
avalia o desempenho dos estudan-
mente ou interpretar fenômenos
cientificamente). Na média dos paí-
ses da OCDE, os meninos superam
as meninas passam a se achar menos inteligentes que os seus
colegas do sexo masculino.

OCDE: tes de 15 anos em três domínios: as meninas nessa habilidade em O relatório Situação da População Mundial 2016 do Fundo

+30 pontos
para as meninas
ciências, matemática e leitura.
De uma forma geral, o Brasil
não vai bem, e as diferenças entre
cerca de 16 pontos - o equivalente
a quase cinco meses de escola, de
acordo com a publicação.
de População da ONU (UNFPA) destaca que a garantia
de direitos e oportunidades para meninas de 10 anos é essencial
para que elas se tornem adultas produtivas e para que possam ser
meninas e meninos é mais elevada O documento aponta que essa atingidos os objetivos da Agenda 2030.
Fonte: Pisa/OCDE, 2018 que na média dos outros países diferença entre meninos e meninas
avaliados. Na prova de 2015, o per- na capacidade de pensar como cien- O relatório analítico do Pisa/OCDE “O que está por trás
centual de meninos brasileiros com tista pode estar relacionada à auto- da desigualdade de gênero na educação?” mostra os
Para a OCDE, a autoconfiança rendimento mais elevado em ciên- confiança dos estudantes, fenômeno resultados de meninas e meninos nas diversas áreas avaliadas
poderia explicar a diferença cias (com pontuação no nível de que se repete em diversos países do e aponta que o desempenho mais baixo delas em ciências e
entre meninos e meninas na proficiência 5 ou mais) era o dobro mundo. “Quando os estudantes são matemática é consequência da falta de confiança.
capacidade de pensar como em relação às meninas. Na média mais autoconfiantes, eles se dão a
um cientista dos países da OCDE, o percentual liberdade de falhar, de se envolver Relatório de desempenho dos estudantes brasileiros no
de meninos nesse grupo de alto nos processos de tentativa e erro Pisa 2015
desempenho era apenas um quar- que são fundamentais para a aquisi-
to maior que o das meninas. ção de conhecimentos em matemá- Notícia do Nexo sobre os resultados dos estudantes
tica e ciências”, indica o relatório. brasileiros no Pisa em 2018
O interesse das meninas pela ciência – que, como vimos, A tendência de como as crianças enxergam cientistas tra- Cientistas pelos olhos das crianças
está relacionado ao seu desempenho nas áreas STEM e às ça um paralelo com o aumento real do número de mulheres > décadas de 1960 e 1970:
suas escolhas profissionais – passa pelos modelos que lhes que fazem pesquisa pelo mundo. Da década de 1960 até os apenas
são apresentados ao longo de suas vidas, seja em casa ou
na escola. Tais referências podem ser determinantes para
dias atuais, o percentual de mulheres que ocupavam cargos
científicos aumentou de 28% para 49% nas ciências biológi- 1%
DESCONSTRUÇÃO ampliar as possibilidades de trajetórias dessas meninas, en-

FERRAMENTAS PARA A INFORMAÇÃO: REFERÊNCIAS


cas, de 8% para 35% em química e de 3% para 11% em física dos desenhos infantis retratavam mulheres
corajando-as a trilharem caminhos pelo mundo científico. e astronomia, de acordo com dados da revista Science. como cientistas
> hoje:
ESTEREÓTIPOS EM
A boa notícia é que as jovens têm cada vez mais se sentido repre- O aumento da representatividade das mulheres nas
sentadas na ciência. Um estudo publicado em 2018 analisou dese-
nhos de cientistas feitos por estudantes norte-americanos entre 5 e
18 anos ao longo de cinco décadas e concluiu que, apesar de ainda
ciências, portanto, tem um efeito catalisador no interesse
das meninas em seguir a carreira científica ou em área cor-
relatas nas quais historicamente predominam os homens.
1/3
dos jovens representam cientistas
haver uma predominância do cientista homem no imaginário infantil, o Nesse sentido, as carreiras em STEM ainda apresentam um como mulheres entre as meninas,
panorama tem se modificado na última década. Cada vez mais cientis- desafio para o equilíbrio entre mulheres e homens. Outra essa taxa é maior que 50%
tas mulheres são desenhadas, principalmente pelas meninas. pesquisa, realizada na Suécia em 2016, mostrou que a sen-
Nas décadas de 1960 e 1970, menos de 1% dos estudantes descre- sação de “pertencimento social” guia a escolha de mais ho-
veu os cientistas como mulheres. Mas o percentual de mulheres repre- mens para carreiras em STEM e mais mulheres para áreas Modelos importam
sentadas aumentou com o tempo, atingindo um terço dos desenhos in- de saúde, ensino básico e doméstico – mesmo em um país A representatividade de gênero em
fantis em 2016. E os números são ainda maiores para as estudantes do com maior igualdade entre os gêneros na vida em socieda- determinadas carreiras pode orientar
sexo feminino, que passaram a desenhar mulheres cientistas em mais da de. De acordo com o estudo, adolescentes sentem que se as escolhas profissionais das meninas
metade dos casos na década passada. “encaixam” melhor em áreas em que há maior presença do
seu próprio gênero.

20 21

PARA SABER MAIS


Artigo científico analisa os desenhos
de jovens sobre cientistas ao longo de 50
anos e revela que, cada vez mais, as mulheres são
representadas, principalmente pelas meninas.

Reportagem da revista Superinteressante


traz perfis no instagram que retratam
mulheres na ciência.

Pesquisa mostra a importância de modelos


de gênero e da sensação de pertencimento na
escolha de jovens sobre suas carreiras profissionais.
COMO A “A escola despertou o meu interesse pela
ciência alimentando minha curiosidade!

ESCOLA
Lembro que um professor propôs que
ao invés de seguirmos o método usual
de provas, fizéssemos um projeto que

FERRAMENTAS PARA A INFORMAÇÃO: REFERÊNCIAS


abordaria, de uma maneira ou outra, os
assuntos que seriam tratados naquela

INCENTIVOU
Algumas pesquisadoras nos contam como a educação
básica foi determinante na sua escolha pela carreira cientí- disciplina. O fato de ter que pesquisar,
fica e como docentes, como você, têm um papel fundamen- tirar dúvidas, ser mais ativa nos estudos
tal no incentivo do gosto das meninas pela ciência. fomentou em mim a curiosidade em estar

AS CIENTISTAS
envolvida no meio científico.”
“A minha professora de química era Iasmin Cristina Santana Santos, estudante de
espetacular. Foi ela que, com todo seu engenharia elétrica na Universidade de São Paulo (USP)
conhecimento, empolgação e aulas bem

DE HOJE
elaboradas despertou meu interesse
pela ciência.” “Estudei boa parte da minha
Juliana Kloss, química e docente da Universidade vida em uma escola pública
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) de aplicação que estimulava
o pensar e a curiosidade.
“Acredito que as aulas práticas As feiras de ciências
em laboratório de ciências eram minhas atividades
que tive na escola foram complementares preferidas!
22 fundamentais para despertar Eu caprichava muito nos 23
meu interesse pela ciência. trabalhos para apresentar.”
Além disso, não me esqueço Klena Sarges, pesquisadora em
de uma visita que fizemos à saúde pública na Fundação Oswaldo
Universidade de São Paulo Cruz (Fiocruz)
(USP), principalmente no
Museu de Anatomia.”
Renata Bannitz Fernandes, bióloga “Como a grande maioria do corpo
e fundadora de empresa inovadora na docente de escola pública, sempre
área de biofármacos tive professoras mulheres de ciências.
Mas foi no ensino médio, nas aulas de
biologia, que me encantei pela área.
Desde então, sabia que eu atuaria
em alguma área que ‘mexesse com
depositphotos

bicho’ – poderia ser ciências biológicas,


zootecnia, veterinária, algo do tipo.
Acabei me tornando bióloga e, hoje, não
/
alla serebrina

me arrependo!”
Flávia Virginio, entomologista e curadora da
Coleção Entomológica do Instituto Butantan
“Mestres, estimulem o espírito
criativo e inovador dos estudantes em
atividades práticas, ajudem-os a fazer
o melhor e inscrevam os trabalhos
dos seus alunos em mostras e

FERRAMENTAS PARA A INFORMAÇÃO: REFERÊNCIAS


premiações científicas fora do âmbito
da escola. Eles ficarão cada vez mais
estimulados a estudar com prazer e
confiantes que há um lugar para eles
no mundo.”
Klena Sarges, pesquisadora em saúde pública na
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)

RECADOS PARA
24 VOCÊ, PROFESSORA 25

E PROFESSOR
british council

“Você é essencial para manter a curiosidade


destes alunos. Nunca, jamais... corte a
vontade que eles têm por saber mais.
Incentive, questione, impulsione o
questionamento. E lembre-se: não existe
pergunta idiota!”
Flávia Virginio, entomologista e curadora da Coleção
Entomológica do Instituto Butantan
26
romane gautun / unsplash

EU, A
QUESTÕES
DE GÊNERO:

SOCIEDADE
ESCOLA E A

FERRAMENTAS PARA A REFLEXÃO: AVALIAÇÕES


27
DO QUE
Falar em gênero é falar em todo um conjunto
de regras sociais que são ensinadas e cobradas
das pessoas desde o seu nascimento e ao longo de
suas vidas, de acordo com o seu sexo biológico. É

ESTAMOS
falar sobretudo de normas e comportamentos es-
perados e, muitas vezes, exigidos com certo grau
de naturalidade e normalidade.

FERRAMENTAS PARA A REFLEXÃO: AVALIAÇÕES


Os padrões de feminino e masculino socialmente
esperados de uma pessoa são comumente chama-

FALANDO
dos de padrões de gênero. São comportamentos,
formas de agir, sentir e reagir ensinados e incorpo-
rados como se fossem regras imutáveis da natureza,
algo que estivesse escrito no DNA. No entanto, são
classificações arbitrárias que definem o que cada

QUANDO Sexo é o referencial biológico e fisiológico de uma determinada pessoa


[genitália masculino | intersexo | genitália feminina]

O ASSUNTO
Identidade de gênero é a experiência interna e individual de gênero que pode ou não corresponder
ao sexo atribuído ao nascimento
[feminino | masculino | não binário]
28 • Cisgênero é toda pessoa em que a identidade de gênero corresponde ao sexo atribuído ao nascimento 29
• Transgênero é toda pessoa em que a identidade de gênero não corresponde ao sexo

É GÊNERO
atribuído ao nascimento
• Não binário é toda pessoa em que a identidade de gênero não está limitada às definições
de masculino ou feminino

Orientação sexual é a classificação de uma pessoa de acordo com o seu desejo sexual e/ou afetivo
[heterossexual | bissexual | homossexual ]

pessoa deveria seguir, uma forma de imposição diferenciações é que se produzem desigual-
do que é certo e do que é errado. dades. Em outras palavras, ao passo que algu-
As categorias apresentadas de forma es- mas expectativas sociais são atribuídas a de-
quemática possibilitam inúmeras combinações. terminadas características, sistemas claros de
É possível uma pessoa ter nascido com geni- hierarquia e de dominação são estabelecidos,
tália masculina, não se vestir de acordo com o culminando inclusive em crenças de superiori-
padrão de gênero estabelecido e sentir afeto dade de um sexo sobre o outro.
unsplash

e desejo por pessoas do mesmo sexo biológi- Mas, afinal, o que significam termos como igual-
/

co. De forma análoga e indo além, divisões de dade de gênero, empoderamento feminino, entre
christina wocintechchat

gênero impõem determinadas formas de olhar outras expressões usadas na televisão, jornais, re-
para certas atitudes ou formas de sentir e de- des sociais, Youtube e podcasts? A ONU tem defi-
monstrar afeto como algo mais masculino ou nições que ajudam a entender melhor o que está
mais feminino. Dessas progressivas pequenas em debate mundo afora e nesta publicação.
POSSIBILIDADES
>> GÊNERO ca que mulheres e homens são
Gênero refere-se a papéis, com- os mesmos, mas que os direitos,
portamentos, atividades e atri- responsabilidades e oportunida-

DE REFLEXÃO
butos que uma dada sociedade des dos homens e das mulheres
em um dado momento considera não devem depender do fato de
apropriado para homens e mu- nascerem do sexo masculino ou
lheres. Esses atributos, oportuni- feminino. Igualdade de gênero

FERRAMENTAS PARA A REFLEXÃO: AVALIAÇÕES


dades e relacões são socialmen- indica que os interesses, neces-
te construídas e são aprendidas sidades e prioridades de homens
por meio de processos de so- e mulheres devem ser levados Refletir sobre como lidamos cotidianamente com as questões de gênero permite
cializacão. Elas são específicas a em consideracão, reconhecendo identificar onde estamos e avaliar para onde podemos prosseguir visando a equidade.
um contexto e a um tempo, bem a diversidade dos diferentes gru- Com isso, é possível pautar ações individuais e no nosso contexto de atuação para en-
como são mutáveis. O gênero de- pos de homens e mulheres. frentar as desigualdades entre mulheres e homens. No contexto escolar, essa prática
termina o que é esperado, permi- ganha um papel fundamental na medida em que pode levar a ações que promovam uma
tido e valorizado em uma mulher >>EMPODERAMENTO FEMININO educação pautada na igualdade de estímulos e oportunidades para meninas e meninos.
ou em um homem em um deter- O empoderamento das mulheres
minado contexto. Na maioria das consiste em realçar a importân- Mas como avaliar como lidamos individual- refletir sobre seus posicionamentos frente às
sociedades, há diferenças e desi- cia de que as mulheres adquiram mente e como sociedade com as relações en- questões de gênero. A segunda tem como
gualdades entre mulheres e ho- o controle sobre o seu desenvol- tre homens e mulheres, meninas e meninos? foco refletir sobre as relações de gênero na
mens nas responsabilidades que vimento, devendo o governo e Diferentes metodologias são utilizadas nas sociedade e a terceira trata dessas questões
lhes foram atribuídas, atividades a sociedade criar as condições pesquisas sobre as relações de gênero na vida com maior foco no contexto da sua atuação
realizadas, acesso e controle so- para tanto e apoiá-las nesse pro- da população em geral ou de grupos especí- pedagógica, na escola.
30 bre recursos, bem como oportuni- cesso, de forma a lhes garantir a ficos. Muitas delas usam escalas para gerar 31
dades quanto à tomada de deci- possibilidade de realizarem todo dados, por exemplo, sobre a importância de
são. O gênero é parte do contexto o seu potencial na sociedade, políticas públicas específicas para as mulheres
sociocultural mais amplo e junto e a construírem suas vidas de e equidade de representatividade (como na PARA SABER MAIS
com raça e etnia, ao menos no acordo com suas próprias aspi- pesquisa Ibope/ONU Mulheres desenvolvida
Brasil, conformam componentes racões. Para fomentar o empo- no Brasil em 2018), ou sobre a sensibilidade in- O documento da Usaid apresenta uma série de
de desigualdades estruturantes, deramento das mulheres é es- dividual para igualdade de gênero (como a de- escalas utilizadas em pesquisas sobre questões
onde mulheres e população negra sencial elaborar, implementar e senvolvida pela Organização Mundial da Saúde de gênero em diferentes países. Há também referências
apresentam os piores indicadores monitorar a plena participacão (OMS) no contexto da avaliação de programas para essas pesquisas.
socioeconômicos. delas em políticas e programas de saúde). Além dessas, há escalas de empo-
eficientes e eficazes de refor- deramento feminino, estereótipos de gênero, A OMS desenvolveu uma Escala de Avaliação
>> IGUALDADE DE GÊNERO ço mútuo com a perspectiva de participação nas decisões e tarefas domés- Responsiva de Gênero (GRAS) em saúde que
Para a Constituicão Federal Bra- gênero, inclusive políticas e pro- ticas, entre outras compiladas pela Agência inclui cinco níveis que avaliam políticas e
sileira, homens e mulheres são gramas de desenvolvimento em dos Estados Unidos para o Desenvolvimento programas em saúde.
iguais em direitos e obrigações. todos os níveis. Internacional (Usaid). Existem ainda propostas
Conforme as definições interna- de cartografias e mapas mentais que auxiliam A pesquisa Ibope/ONU Mulheres avaliou o grau de
cionais, igualdade de gênero re- Fonte: Adaptado do “Glossário de ter- na percepção individual e coletiva acerca das importância de diferentes aspectos, dentre
fere-se à igualdade em direitos, mos do Objetivo de Desenvolvimento questões de gênero em diferentes contextos. eles a necessidade de políticas de saúde,
responsabilidades e oportunida- Sustentável 5” da ONU Brasil Convidamos você a refletir sobre sua per- educação, cultura e segurança específicas
des das mulheres e dos homens, cepção e atuação por meio de três ferramen- para a equidade e ainda sobre a participação das
bem como das meninas e dos tas. A primeira é uma escala de avaliação de mulheres na política.
meninos. Igualdade não signifi- sensibilidade de gênero que permite a você
COMO VOCÊ SE
Para cada contexto sugerido – trabalho, família,
amigos – reflita sobre porque você se percebe em um
determinado nível.

PERCEBE QUANTO À
• Quais são as atitudes, ações e ideias que
contribuíram para a sua escolha?
• Os diferentes contextos em que está inserido

IGUALDADE DE GÊNERO?
comumente influenciam suas atitudes e posições

FERRAMENTAS PARA A REFLEXÃO: AVALIAÇÕES


sobre gênero?
• Você acha possível se mover nessa escala?
Em caso positivo, o que será necessário para
isso acontecer?

Se pararmos para refletir, é possível identificar, grosso modo, se somos mais ou menos sen-
síveis às questões acerca da igualdade de direitos, responsabilidades e oportunidades entre
homens e mulheres. Mas em que medida isso se dá na nossa vida cotidiana? Esta ferramenta
busca avaliar a sensibilidade individual para tais questões por meio de uma escala construída
com base no instrumento da OMS de avaliação de programas e políticas em saúde. Leia a
descrição de cada um dos níveis e reflita. Considerando sua experiência de vida, em qual(is)
ponto(s) da escala você se encontra quando está no seu contexto de atuação profissional? E
quando está entre amigos, família ou na comunidade em geral, ele se mantém o mesmo?

32 33

Desigual Indiferente Sensível Transformador


Minhas atitudes e posições podem perpetuar Minhas atitudes e posições são indiferentes Nos meus posicionamentos, reconheço a Em minhas atitudes e posições, considero
a desigualdade de gênero, reforçando quanto às normas, papéis e relações de existência de normas, papéis e relações normas, papéis e relações de gênero para
normas, papéis e relações desiguais. gênero. Não considero as diferenças de de gênero, assim como também consigo mulheres e homens e como elas afetam
Frequentemente minhas ideias e atitudes oportunidades e desafios impostos para identificar formas de discriminação e cada grupo. Atuo especificamente para
concordam com o princípio de que um sexo mulheres e homens. Geralmente, entendo dominação. Contudo, não tomo atitudes transformar normas, papéis e relações
merece mais direitos ou oportunidades do ser “justo” por tratar todos da mesma forma. específicas para que a desigualdade seja prejudiciais.
que o outro. diminuída ou erradicada.

Fonte: Escala adaptada de WHO Gender Responsive Assessment Scale.


Disponível em https://www.who.int/gender/mainstreaming/GMH_Participant_
GenderAssessmentScale.pdf
Agora, de forma similar, reflita sobre as perguntas a seguir

COMO VOCÊ PERCEBE


e, se possível, anote suas respostas.

• Você já foi instruído(a) a “agir como uma mulher” ou lhe

AS REGRAS SOCIAIS DE
disseram que uma determinada ação não era “para mu-
lheres”? Se sim, pense em como isso fez você se sentir.
• Você já ouviu outras mulheres ou meninas serem ins-

FERRAMENTAS PARA A REFLEXÃO: AVALIAÇÕES


truídas a “agir como uma mulher”?

GÊNERO AO SEU REDOR?


• Por que você acha que as pessoas dizem isso para
mulheres e meninas?

Compare suas respostas. Caso você tenha respondido


afirmativamente a uma ou mais perguntas acima, procure
relembrar quais foram as situações em que isso aconteceu
Passando agora para uma reflexão para além da dimensão individual, convidamos e como isso fez você ou outras pessoas se sentirem. Você
você a refletir sobre as diferenças nas regras sociais para homens e mulheres e na consegue lembrar quem foram as pessoas que estavam en-
forma como elas influenciam a vida das pessoas. Note que as percepções podem variar volvidas? A quem se dirigiu essa instrução? E você consegue
dependendo de fatores como classe social, cor/raça e etnia, por exemplo. É preciso lembrar as razões pelas quais as pessoas envolvidas, ou mes-
considerar ainda as variações individuais em função da própria identidade de gênero e mo você, foram levados a tomar esse tipo de atitude?
da experiência de vida.

34 Procure completar as atividades sugeridas serem pressionadas a seguir normas e padrões REFLEXÃO 35
abaixo independentemente de como você se de comportamento compartilhados pela maio- Essas instruções geralmente são feitas
caracteriza. Isso significa que mesmo que você ria da sociedade na qual estão inseridas. Esse quando são detectados comportamentos que
unsplash

tenha mais facilidade para refletir sobre si mes- conjunto de atividades pode ser feito individual- fogem à norma, ou seja, fogem à expectativa
mo, é essencial refletir também sobre o outro e mente ou coletivamente, nesse caso é impor- em um determinado contexto social e cultu-
/
christina wocintechchat

nas diferentes formas em que se relacionam. Da tante notar e refletir sobre as diferenças e proxi- ral. O importante é pensar no que essa cons-
mesma forma, é importante que você perceba midades entre as percepções dos participantes. trução de ser homem ou mulher significa em
como as pessoas de um mesmo sexo biológico seu contexto - não apenas no que você acre-
podem intencionalmente ou não pressionar e >>AGIR COMO HOMEM, dita, mas no que entende que são as expec-
AGIR COMO MULHER tativas para homens e mulheres na sociedade
Reflita sobre as perguntas a seguir. Se possível, em que está inserido.
anote suas respostas. Vamos refletir agora sobre como a socie-
dade cria regras diferentes para os compor-
• Você já foi instruído(a) a “agir como um tamentos considerados adequados para ho-
homem” ou lhe disseram que uma deter- mens e mulheres. Essas regras são, muitas
minada ação não era “para homens”? vezes, chamadas de normas de gênero por-
• Você já ouviu homens ou meninos serem que definem o que é “normal” para homens e
instruídos a “agir como um homem”? mulheres pensarem, sentirem e agirem. Elas
• Você já disse a alguém para “agir como geralmente restringem a vida das pessoas,
um homem”? mantendo os homens em sua caixa “atue
como um homem” e as mulheres em sua cai-
xa “atue como uma mulher”.
provedor
Agindo como homem Veja o exemplo:
Em muitas sociedades, espera-se que os homens
1. Características sejam fortes. Isso não se restringe à força física,
e comportamentos masculinos embora essa característica também possa ser
O que as pessoas de sua comunidade dizem ou esperada, mas o sentido de forte pode estar as-
esperam em relação ao comportamento de me- sociado a ter poder ou não demonstrar fraqueza.
ninos e homens? Veja no mapa ao lado algumas Dessa forma, “forte” se encaixaria na sua lista? forte corajoso

FERRAMENTAS PARA A REFLEXÃO: AVALIAÇÕES


características e circule aquelas que você iden-
tifica no seu entorno. Há também espaços para 2. Atores sociais
que você coloque outras características que fa- Agora reflita sobre quais atores sociais influen-
zem parte do seu contexto. ciam na manutenção desses comportamentos
e expectativas. Mais uma vez, circule aqueles
Lembre-se: não há respostas certas ou erradas. que você identifica na sua comunidade/socie- está sempre
A ideia é refletir sobre as expectativas em rela- dade e, caso haja outros atores, insira-os nos pronto para o sexo agressivo
ção às diferentes identidades de gênero. Devem espaços em branco. controlador
ser circuladas as expectativas comuns em rela-
ção à masculinidade em sua comunidade/socie- 3. Minha caixa
dade, e não especificamente o que você acredi- Escreva na sua caixa os comportamentos que
ta que deve ser esperado dos homens (embora você circulou e grife as setas dos atores sociais
ambos possam coincidir às vezes). que os influenciam.
difícil Características
e comportamentos
36 Atores sociais 37
masculinos
parceiros políticas e leis
ou cônjuges governamentais

pares (amigos,
indivíduos das
instituições assume
colegas de trabalho religiosas
e/ou de escola)
instituições riscos não chora
(professores,
empregadores,
membros da meios de
equipe
família comunicação
médica, polícia)
autossuficiente
tem/teve várias
parceiras sexuais
minha caixa independente

tomador
reforça
de decisão
frequentemente
ser heterossexual
vestir-se de deve
forma “respeitável” gerar
Agindo como mulher filhos

1. Características e plo, que se houver uma diferença entre os côn-


comportamentos femininos juges, elas devem aderir à decisão dos maridos,
Agora, comece a pensar em “agir como uma mu- como chefes da família. “Submissa” poderia se
lher”. Quais comportamentos são considerados encaixar na sua lista? fraca frágil

FERRAMENTAS PARA A REFLEXÃO: AVALIAÇÕES


adequados para mulheres em sua comunidade? Em seguida circule os atores sociais que
Circule no diagrama os comportamentos que influenciam na manutenção desses compor-
você reconhece no seu contexto e insira outros tamentos. Por fim, escreva no interior da sua
que estiverem faltando nos círculos em branco. caixa os comportamentos que você circulou
e/ou complementou, e grife as setas dos atores
agradar o
Veja o exemplo: sociais que você selecionou.
Em muitas sociedades, espera-se que as mulhe-
parceiro lida com
res sejam submissas (especialmente em relação sexualmente apaziguadora várias tarefas
aos seus maridos). Isso pode significar, por exem- simultaneamente

Características
e comportamentos
38 Atores sociais 39
femininos
parceiros políticas e leis
ou cônjuges governamentais
instituições
responsável
pares (amigos,
colegas de trabalho
indivíduos das religiosas pelo trabalho
instituições
e/ou de escola)
(professores, doméstico atraente
empregadores,
membros da meios de
equipe
família comunicação
médica, polícia)
cuidadora
não ter vários
passiva/ parceiros sexuais
minha caixa submissa

cuidado com
não demonstrar casamento/
demasiado relacionamento
interesse sexual
>> Refletindo sobre as “caixas”
Agora é hora de examinar os cenários e ampliar a reflexão. Ob- COMO VOCÊ PERCEBE
A QUESTÃO DE GÊNERO
serve as suas caixas e reflita a partir das seguintes questões:
• Viver sobre essas expectativas limita a sua vida e as
das pessoas ao seu redor?

NA ESCOLA?
• O que acontece com mulheres e homens que tentam
fugir das regras de gênero? O que as pessoas dizem

FERRAMENTAS PARA A REFLEXÃO: AVALIAÇÕES


sobre elas e eles? Como são tratados?
• Como isso afeta a vida das mulheres e homens? Como
pode influenciar o futuro de meninas e meninos? Após avaliar sua sensibilidade em relação à equidade de gênero e refletir sobre as regras
sociais impostas para homens e mulheres na sociedade, o foco desta atividade é a sua percep-
Por fim, procure refletir sobre as proximidades e distâncias ção sobre como as escolas e as comunidades escolares em que está inserido pensam e atuam
das suas ações e atitudes com os comportamentos e carac- sobre as questões de gênero, em especial na ciência. Para isso, convidamos você a avaliar os
terísticas presentes nas caixas. Quais deles podem estar mais itens presentes no diagrama a seguir, selecionando na escala o grau relativo a cada item, con-
presentes ou ser mais exercitados para um futuro com mais forme sua percepção. Em seguida, observe o cenário formado pelas suas percepções e reflita
igualdade entre homens e mulheres? sobre como as questões de gênero estão inseridas no seu contexto profissional.

Fonte: Adaptado de Act Like a Man, Act Like a Woman - EngenderHealth for a Qual o grau de
better life. Disponível em https://www.engenderhealth.org/pubs/gender/gen-
der-toolkit/act-like-a-man-act-like-a-woman.html) importância dada transformação comprometimento engajamento engajamento fundamentação e fundamentação
às questões das ideias sobre da direção e dos professores pessoal para informação nas e informação
de gênero na gênero em ações coordenação para inserir as abordar as discussões sobre nas discussões
comunidade pela comunidade em inserir questões de questões de gênero entre sobre gênero

40 escolar? escolar? as questões gênero em suas gênero em os profissionais entre docentes e 41


de gênero práticas? suas práticas? da escola? estudantes?
nas práticas
escolares?

alto alto alto alto alto alto alto

unsplash
/
christina wocintechchat
médio médio médio médio médio médio médio

baixo baixo baixo baixo baixo baixo baixo

• O cenário parece favorável para promover a igualda-


de de gênero?
• Como esse cenário pode influenciar as meninas na
escolha de seus caminhos profissionais?
• O que é essencial para discutir o tema na(s) escola(s)
em que você atua?
• O que você pode fazer para engajar a comunidade
escolar?
• O que é possível fazer para ampliar a frequência do
tema nas suas práticas?
42
dima baranow / depositphotos

E AÇÕES:
POR MAIS

MULHERES
MENINAS E

NA CIÊNCIA
EXPERIÊNCIAS

FERRAMENTAS PARA A PRÁTICA: PLANOS DE ATIVIDADES


43
“Eu acho importante para mostrar a além de outras que construímos a partir das di- agentes no desenvolvimento Meninas Olímpicas, estudantes. Para cada área do
representatividade, estimular outras meninas, versas experiências que pesquisamos e dos de- científico e tecnológico do Brasil. projeto criado por Nara conhecimento são apresentadas
mostrar essa possibilidade de caminho para poimentos coletados. Essas atividades podem Coordenado pelas pesquisadoras Bigolin, professora do curso as competências específicas,
elas e trabalhar dentro de um dos objetivos da ser ampliadas ou adaptadas para outras temá- Carolina Brito e Daniela Pavani, de sistemas de informação da unidades temáticas e habilidades

FERRAMENTAS PARA A PRÁTICA: PLANOS DE ATIVIDADES


sustentabilidade que é a igualdade de gênero. ticas e contextos. as ações incluem oficinas Universidade Federal de Santa a elas relacionadas.
A forma que eu faço é colocar o assunto Destacamos nas atividades elementos es- de ciências e debates sobre Maria (UFSM) para incentivar Especificamente quanto à
dentro de algum outro tema, geralmente senciais de um roteiro base, tais como os ob- questões de gênero em escolas mais meninas a participarem de etapa do ensino médio, uma
citando alguma mulher que esteve envolvida jetivos educacionais e as questões que foram públicas, curso de robótica, competições científicas, promove das principais mudanças é que,
ali, como a Marie Curie na física, ou na química levantadas para se chegar a eles; os diferentes produção de filmes para difundir o treinamento de alunas dos além dos conteúdos da base
ou na astronomia, mas eu nunca vi isso de recursos e práticas que podem ser utilizados, a presença de mulheres em ensinos fundamental e médio das comum, as escolas ofertem
uma forma sistemática. Tem uma dificuldade especialmente as mídias digitais; referências carreiras de ciência e tecnologia, redes pública e privada. As aulas os chamados itinerários
no currículo que não deixa parar e fazer com contextualizadas; possibilidades de avaliação; capacitação de professores são ministradas por voluntárias formativos, que enfatizam a
que o tema da aula seja mulheres na ciência, formas de estabelecer relações com a BNCC, do ensino básico na área de que preparam os grupos para investigação científica e
não tem um espaço no currículo para trabalhar entre outras. O objetivo é que você possa criar ciências, campanhas contra o participarem de olimpíadas empreendedorismo.
isso, mas eu tenho pensado em trabalhar isso atividades de acordo com suas pesquisas e in- machismo entre outros. educacionais regionais, nacionais No caso das ciências da
de forma mais frequente.” teresses de seus alunos e alunas. e internacionais. natureza não há a clássica divisão
Rafaela Lima, professora de ciências e biologia na Escola Seguindo o conceito que permeia esse mate- Projeto A.M.E. - nas disciplinas de biologia,
Estadual Duque de Caxias, Escola Municipal Alberto Pirro rial, os exemplos de atividades inserem-se em uma Associação Mulher SOBRE A BNCC química e física, são tratados
em Queimados e no Colégio Pensi, no Rio de Janeiro perspectiva de investigação/ação e propiciam a das Estrelas, liderado pela A Base Nacional Comum grandes temas que seguem as
reflexão docente e discente. astrônoma brasileira Duília de Curricular (BNCC) é atualmente unidades temáticas presentes no
Diversas práticas, saberes e pesquisas vêm Mello, busca estimular crianças o principal documento oficial ensino fundamental. Espera-se
mostrando a importância de envolver os estu- e jovens a descobrirem seus que tem por objetivo ser que ao final da educação básica
44 dantes nas reflexões acerca da participação das INICIATIVAS PARA APROXIMAR talentos a partir do conhecimento um instrumento unificador e os conhecimentos construídos 45
mulheres na ciência. Não à toa, essa temática AS MENINAS DA CIÊNCIA científico (por meio de clubes norteador das políticas públicas propiciem ao jovem elaborar
passou a constituir com maior frequência os dis- Alguns projetos desenvolvidos e feiras de ciências, iniciação educacionais, sendo utilizado argumentos, promover discussões,
cursos de órgãos e organizações como o MEC, por universidades, associações científica e palestras) e utilizá- como referência para os currículos avaliar situações e fenômenos,
a Unesco e a OCDE. Observamos também um e instituições buscam estimular los na escolha da carreira, desenvolvidos em âmbito estadual apresentar propostas alternativas,
aumento significativo no número de publicações a aproximação das meninas com especialmente nas áreas STEM. e municipal, de forma a garantir tomar iniciativas e decisões, fazer
acadêmicas e de divulgação sobre o assunto, a ciência, a tecnologia e áreas as aprendizagens essenciais uso criterioso das tecnologias.
bem como aparecimento e diversificação de ini- correlatas. Selecionamos alguns Projeto Meninas ao longo da escolaridade, com No que se refere àrea de
ciativas como Meninas na Ciência, Elas nas Exa- exemplos, entre vários que SuperCientistas, de respeito à autonomia das escolas matemática, a etapa do ensino
tas, Mulheres das Estrelas, dentre várias outras existem pelo Brasil afora, para pesquisadores da Universidade e professores e considerando médio apresenta uma proposta
que podem inclusive fazer parte do seu cotidiano. que você possa se inspirar Estadual de Campinas (Unicamp), a heterogeneidade da de organização curricular que
Nesta seção apresentamos algumas sugestões e compartilhar com sua turma. realiza oficinas e palestras com sociedade brasileira. segue as unidades temáticas do
de atividades (planos de aula, projetos trans/multi- meninas do ensino fundamental II De forma bastante sintética, ensino fundamental. Destacam-se
disciplinares, sequências didáticas) visando auxiliar Meninas na Ciência, de escolas públicas e particulares a BNCC é constituída por um entre as habilidades a inclusão
você a incluir as questões sobre mulheres na ciência projeto de extensão para que elas tenham exemplos conjunto orgânico e progressivo de tecnologia, robótica e
no seu planejamento. As propostas visam superar o da Universidade Federal do Rio da atuação de mulheres na de aprendizagens essenciais programação, além da importância
tratamento pontual dessas questões em sala de aula, Grande do Sul (UFRGS), tem ciência e possam se inspirar a ao desenvolvimento dos do uso de tecnologias como
uma vez que são tratadas dentro de outras temáticas como objetivo atrair meninas seguir carreiras científicas. A indivíduos. Em um primeiro ferramentas para aprendizagem
como inovação e caminhos profissionais ou, ainda, para as carreiras de ciência e equipe do projeto é composta plano são apresentadas as e educação financeira.
quando o tema central são as questões ambientais. tecnologia e estimular mulheres por oito pesquisadoras mulheres competências gerais da
Procuramos trazer exemplos de atividades que que já escolheram estas carreiras de diferentes departamentos e educação básica que sintetizam
são executadas por professoras e professores, a persistirem e se tornarem faculdades da instituição. os direitos de aprendizagem dos
Diversidade de gênero: ceito etc, e que fossem capazes de refletir sobre as difi-
culdades enfrentadas por mulheres para ter representativi-

um novo paradigma
dade na carreira acadêmica, sobretudo em cargos de chefia,
e de criar uma forma de divulgação e reconhecimento das

FERRAMENTAS PARA A PRÁTICA: PLANOS DE ATIVIDADES


mulheres cientistas que atuaram ao longo da história.

para a ciência Taxonomia dos objetivos educacionais


(por Rodrigo Caccere, mestre em biologia celular e estrutural e
professor da Escola Viva, em São Paulo) Observe os objetivos educacionais da atividade, eles ex- cognitivo é o mais conhecido e utilizado pelos
pressam aquilo que o professor queria que os estudantes educadores nos planejamentos educacionais
>> CONTEXTO aprendessem ao longo do processo. Diversas pesquisas em para a definição não só dos objetivos, mas
O trabalho surge dentro do contexto de estudo sobre ori- educação se debruçam em criar taxonomias para a orga- também das estratégias e de sistemas de
gem da vida. Chamei a atenção dos alunos [para o fato de] nização dos objetivos educacionais. A mais famosa delas é avaliação. Como característica central, a taxo-
que não havia, dentre os cientistas que o livro didático trazia taxonomia de Bloom, criada por Benjamin Bloom na década nomia neste domínio é estruturada em níveis de
como referências sobre o assunto, nenhuma mulher, nenhu- de 1950. Muitas adaptações foram feitas posteriormente, in- complexidade crescente. De forma geral, para
ma pessoa negra, indígena ou oriental. Então propus que corporando conhecimentos construídos na área. adquirir uma habilidade situada em um próximo
fizéssemos o trabalho trimestral sobre mulheres na ciência. A taxonomia dos objetivos educacionais possui 3 domí- nível, o estudante deve ter dominado e adquiri-
O 2º ano do ensino médio tem como uma das perguntas nios principais: cognitivo, afetivo e psicomotor. O domínio do a habilidade do nível anterior.
essenciais (perguntas que norteiam reflexões na série): “Pa-
radigmas da ciência determinam visões de mundo?”. Lembrar Relacionado a reconhecer e reproduzir ideias e conteúdos. Reconhecer requer distinguir e
Uma questão norteadora pode auxiliar na determina- selecionar uma determinada informação e reproduzir ou recordar está mais relacionado à
46 ção dos objetivos educacionais. Você ou a sua escola deter- busca por uma informação relevante memorizada 47
minam alguma questão para cada ano de escolaridade? Há
questões específicas para a sua disciplina? Entender Relacionado a estabelecer uma conexão entre o novo e o conhecimento previamente
adquirido. A informação é entendida quando o aprendiz consegue reproduzi-la com suas
>> ALINHAMENTOS DA ATIVIDADE “próprias palavras”.
À BNCC E CURRÍCULOS
Por conta do foco da atividade ser a temática das mulheres Aplicar Relacionado a executar ou usar um procedimento numa situação específica e pode também
na ciência ela pode ser realizada no desenvolvimento das abordar a aplicação de um conhecimento numa situação nova.
diversas competências presentes na base e currículos, bem
como pode ser realizada de diferentes formas. Uma proposta Analisar Relacionado a dividir a informação em partes relevantes e irrelevantes, importantes e menos
interessante é fazê-la no início de um ciclo, retomando as mu- importantes e entender a inter-relação existente entre as partes.
lheres estudadas e entrevistadas cada vez que forem abor-
dados os temas de suas áreas de atuação. O mesmo proces- Criar Significa colocar elementos junto com o objetivo de criar uma nova visão, uma nova solução,
so pode ocorrer ao final do ciclo ou ainda ser realizado em estrutura ou modelo utilizando conhecimentos e habilidades previamente adquiridos.
paralelo ao desenvolvimento das diferentes competências. Envolve o desenvolvimento de ideias novas e originais, produtos e métodos por meio da
percepção da interdisciplinaridade e da interdependência de conceitos
>> OBJETIVOS EDUCACIONAIS
O objetivo do trabalho foi identificar e avaliar a baixa di- Avaliar Relacionado a realizar julgamentos baseados em critérios e padrões qualitativos e
versidade de gênero na carreira acadêmica, sobretudo no quantitativos ou de eficiência e eficácia.
contexto histórico. Ao final do processo era esperado que
os estudantes compreendessem conceitos relativos à Fonte: Adaptado de Ferraz, A. P. C. M.; Belhot, R. V. “Taxonomia de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações do
diversidade de gênero, como feminismo, machismo, precon- instrumento para definição de objetivos instrucionais”. Gestão & Produção, São Carlos, v. 17, n. 2, p. 421-431, 2010.
As versões revisadas da taxonomia apontam para a exis- >> PREPARAÇÃO PESSOAL PARA aula 4 >> Reflexão sobre minorias e
tência de duas dimensões distintas no domínio cognitivo, DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE produção acadêmica. Assistimos tre-
uma delas relaciona-se ao processo cognitivo, expressada na As fontes utilizadas para conhecer ou aprofundar o conheci- chos (previamente selecionados) do
figura anterior. A segunda dimensão, chamada conhecimen- mento sobre a temática das mulheres na ciência foram dispo- debate sobre mulheres na ciência do

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to, está diretamente relacionada ao conteúdo, ou seja, ao “o nibilizados (via link) para os estudantes em plataforma virtual: programa Ciência Aberta publicado no
que” se espera que o estudante aprenda. Ela é dividida em canal do Youtube da Agência Fapesp
quatro categorias: factual/efetivo, conceitual, procedimental • Debate sobre mulheres na ciência: https://www.youtube. (https://www.youtube.com/watch?-
e metacognitivo. Assim, as versões revisadas trabalham com com/watch?v=PpMeZLidELs v=PpMeZLidELs). Na segunda metade
uma taxonomia bidimensional. • Site Cientistas Feministas: https://cientistasfeministas. da aula o tema foi colocado em discus-
wordpress.com/ são com os alunos.
Vamos ver como a taxonomia dos objetivos • Podcasts sobre o tema:
educacionais funciona para esta atividade. • http://pesquisa.ufabc.edu.br/ciencion/2019/03/08/ aula 5 >> Produção em sala de aula:
mulheres-na-ciencia-trajetorias/ compilação/digitação da entrevista
Objetivos: • http://pesquisa.ufabc.edu.br/ciencion/2019/04/05/ realizada com uma cientista (orienta-
1. compreender conceitos relativos à diversidade de mulheres-na-ciencia-carreiras-e-desafios/ ção dada na aula 1 desta sequência).
gênero, como feminismo, machismo, preconceito etc.
2. identificar e avaliar acerca da baixa diversidade de gê- >> O PROCESSO aula 6 >> Produção em sala de aula:
nero na carreira acadêmica, sobretudo no contexto histórico. O trabalho foi todo desenvolvido dentro da disciplina de bio- escrita de reportagem sobre mulheres
3. refletir sobre as dificuldades enfrentadas por mu- logia e durou oito aulas, tempo de um mês (duas aulas por na ciência, com orientação e supervi-
lheres para ter representatividade na carreira acadêmica, so- semana), dentro de uma organização trimestral do ano letivo. são do professor.
bretudo em cargos de chefia. A sequência de aulas foi ordenada da seguinte maneira:
4. criar uma forma de divulgação e reconhecimento das aula 7 >> Produção em sala de aula:
48 mulheres cientistas que atuaram ao longo da história. aula 1 >> Apresentação do trabalho a ser desenvolvido no escrita da reportagem sobre mulheres 49
trimestre. Cada grupo recebeu o contato de uma mulher cien- na ciência, com orientação e supervi-
tista para realizar uma entrevista (presencial ou à distância), bem são do professor. Os estudantes fize-
como o nome de uma mulher relevante na história da ciência. ram a entrega da reportagem poste-
TABELA TAXONÔMICA
As cientistas atuais foram contatadas previamente riormente em ambiente virtual.
Dimensão do Dimensão do processo cognitivo
pelo professor, portanto sabiam que receberiam o
conhecimento
contato dos estudantes. O roteiro para entrevista aula 8 >> Devolutiva dos trabalhos e
1. Recordar 2. Compreender 3. Aplicar 4. Analisar 5. Avaliar 6. Criar
fazia parte das orientações do trabalho. fechamento.
A. Factual objetivo 2 objetivo 2
B. Conceitual objetivo 1 objetivo 3
aula 2 >> Contextualização do trabalho, em
C. Procedimental objetivo 4
D. Metacognitivo
aula expositiva, sobre o funcionamento do currí- >> INFRAESTRUTURA NECESSÁRIA
culo Lattes e sobre o CNPq. Computador com caixa de som e projetor, além
de notebooks para escrita da reportagem. Para
aula 3 >> Reflexão sobre maternidade e produ- as entrevistas, que foram realizadas fora do ho-
PARA SABER MAIS ção acadêmica. Assistimos trechos (previamen- rário das aulas, os estudantes precisavam de
te selecionados) do debate sobre mulheres na gravador ou alguma ferramenta para filmar/re-
Conheça mais sobre as taxonomias dos objetivos ciência do programa Ciência Aberta publicado gistrar as falas das entrevistadas.
educacionais no artigo “Taxonomia de Bloom: revisão no canal do Youtube da Agência Fapesp (https://
teórica e apresentação das adequações do instrumento para www.youtube.com/watch?v=PpMeZLidELs). Na
definição de objetivos instrucionais” (Ferraz e Beholt, 2010). O segunda metade da aula o tema foi colocado
texto traz também alguns exemplos de análise dos objetivos em discussão com os estudantes.
educacionais de planos de aula.
Para adaptar e ampliar
Já sabemos que planejar uma ati- No caso da atividade exposta,
vidade é essencial, mas nem sempre foram realizadas aulas expositivas,
temos boas ferramentas à mão. Além apresentação de vídeos seguido
de objetivos educacionais bem defi- de discussão em grupos, desenvol-

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nidos, é preciso prever a duração da vimento da entrevista em grupo e >> MULHERES CIENTISTAS NA WIKI
atividade, quais serão as estratégias
para que os alunos atinjam os obje-
confecção da reportagem e apre-
sentação do trabalho para a classe,
A partir da constatação que as mulheres somam apenas 20%
dos colaboradores da Wikipédia, foram criadas diferentes ini-
* A palavra edit-a-thon ou
editathon vem da fusão de duas
tivos e a infraestrutura necessária. também realizadas em grupo. ciativas como a da universitária Emily Temple-Wood que, ciente palavras “edit” (editar) e “marathon”
Veja a seguir uma proposta de ação. da diferença de representatividade de gênero entre as informa- (maratona). Esse nome foi dado
AVALIAÇÃO ções sobre cientistas na Wiki, criou “WikiProject Women Scien- para eventos como encontros ou
Com base nos objetivos definidos A avaliação do professor foi realiza- tists”, para assegurar a qualidade e a diversidade de biografias maratonas em que editores de
é preciso selecionar os conteúdos da por meio de análise do quanto de mulheres cientistas. A iniciativa despertou uma onda de ata- comunidades online como Wikipedia,
que serão abordados. Como é possível os alunos conseguiram executar o ques à universitária que respondeu criando uma página sobre OpenStreetMap e LocalWiki editam
ver na atividade, foram selecionados que estava proposto, sobretudo nos mulheres cientistas a cada comentário sexista que recebeu. e aprimoram um tópico ou tipo de
conteúdos de diferentes categorias: casos de grupos em que a atividade Essa iniciativa inspirou a pesquisadora em física Jessica conteúdo específico. Nesses eventos
proposta não foi plenamente execu- Wade a fazer uma empreitada para inserir uma biografia de é também incentivada a inclusão
• Relacionados aos conceitos tada. Com isso, foi possível identifi- cientista mulher por dia. Considerando as biografias em in- de novos editores, por isso envolve
de gênero na ciência: materni- car em quais pontos teria sido im- glês disponíveis na Wiki, apenas 17% delas são de mulheres, geralmente um treinamento básico.
dade e produção acadêmica, portante fazer outras intervenções. se filtrarmos para as páginas sobre cientistas esse índice é
minorias e produção acadêmi- Os estudantes e o processo ainda mais baixo. Conheça as iniciativas citadas
ca, entre outros. foram avaliados por meio da parti- No nosso país o projeto Editathon das Minas* incenti- Editathon das Minas
• Relacionados a procedimen- cipação em cada aula e por meio va mulheres no Brasil a participarem da edição de conteúdos
50 tos: como realizar uma entre- do produto final, correspondente à e assim ampliar os conteúdos femininos na rede. 51
vista, como usar a plataforma reportagem escrita. Além disto, no Como ampliação ou adaptação da atividade “Diversidade
Lattes, como escrever uma re- fechamento da sequência didática, de gênero: um novo paradigma para a ciência”, incentive os Emily Temple-Wood
portagem, entre outros. os alunos fizeram relatos orais sobre estudantes a criarem ou ampliarem páginas Wiki sobre cien-
• Relacionados a atitudes: va- a experiência vivida no trabalho. tistas mulheres brasileiras.
lorizar as mulheres que con-
tribuíram com o desenvolvi- Conheça o produto final desen-
mento da ciência ao longo do volvido pelos estudantes na ativida-
“Houve depoimentos tempo, entre outros. de do professor Rodrigo Caccere
interessantes, como o de uma “Diversidade de gênero: um novo
jovem que, ao visitar o Instituto Em seguida deve ser planejado o paradigma para a ciência”
Oceanográfico da USP, relatou desenvolvimento da atividade que
ter se surpreendido com o consiste em detalhar o passo a passo,
local e que passou a cogitar ou seja, quais são as ações e como
a ideia de ser cientista. Outra elas serão desenvolvidas. Defina as
aluna ainda se disse muito estratégias ou recursos didáti-

dave guttridge
cos que serão usados para trabalhar -Wood
feliz de ter conversado com a Emily Temple a Wad
e
cientista que entrevistou e que os conteúdos, como os alunos devem Jessic
tinha adorado ter aprendido estar organizados, qual o tempo de

/
keilana
com a entrevistada a perceber desenvolvimento de cada ação e qual
que luto é também um verbo”. a infraestrutura necessária.
Rodrigo Caccere
A Wikipédia possui um
programa de educação
>> MULHERES CIENTISTAS EM TODA PARTE
Com o intuito de ampliar a visão de que mulheres cientis- Meninas na ciência
e datas comemorativas
da Wikimedia Foundation para tas (e cientistas em geral) trabalham apenas nas universida-
mobilizar e capacitar novos des ou centros de pesquisa, sugerimos esta ampliação da

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colaboradores dos projetos atividade de criação de biografias, que pode ser realizada
Wikimedia. O Wikipédia conjuntamente com o professor de português. Assim como
no Ensino é voltado para foi feito na atividade do professor, a ideia é que os estudan- (por Lucineia Alves doutora em ciências, especialista em ensino de ciências
professores e comunidade tes criem biografias de mulheres cientistas que estão ativas e professora da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro)
escolar, com o objetivo de que por meio de entrevistas, trabalhando, portanto, esse gêne-
os alunos sejam sujeitos ativos na ro textual. Mas para além de trabalhar esse tipo de texto, >> CONTEXTO
edição e criação de páginas Wiki. a proposta é que os alunos conheçam outros espaços em Dentro da disciplina de ciências, o tema “Mulhe- As atividades relativas às datas comemorati-
que mulheres cientistas atuem e produzam conhecimentos. res na Ciência” é tratado em algumas datas co- vas são realizadas como projetos dentro de mi-
Incentive a turma a buscar mulheres cientistas em museus, memorativas especiais, como o Dia Internacional nha disciplina de ciências. Na disciplina eletiva
O programa possui centros de ciência, organizações não governamentais, orga- das Mulheres - Elas nas Ciências, onde realizo um “Meninas na Ciência”, as atividades são realiza-
também materiais de nizações sociais e empresas. trabalho com minhas alunas e meus alunos sob das como aulas.
apoio, dentre eles você pode A iniciativa “500 Women Scientists” (500 Mulheres Cien- o título “Mulheres na Ciência”. No Dia da Cons-
conhecer projetos inspiradores tistas, em português) possui uma ferramenta chamada “Re- ciência Negra realizo um trabalho, também com >> ALINHAMENTOS DA ATIVIDADE À
desenvolvidos por professoras e quest a Woman Scientist” (Solicite uma Cientista) na qual há minhas alunas e meus alunos sob o título “Cientis- BNCC E CURRÍCULOS
professores do mundo todo. um mapa interativo que permite obter o contato de mulheres tas negros”, enfatizando o papel das mulheres ne- Da mesma forma que a atividade anterior, es-
cientistas em diversos campos de atuação. É possível usar gras na ciência. Ambas atividades são realizadas sas têm como foco a temática das mulheres
filtros como país e área de pesquisa. O Brasil conta com 675 dentro das aulas de ciências. Já em minha disci- na ciência e por isso ela pode ser realizada no
Além disso o programa mulheres cientistas inscritas que atuam em diversas áreas e plina eletiva, a inserção do tema é total, inclusi- desenvolvimento das diversas competências
52 conta com os chamados em vários tipos de instituições como hospitais com centros ve a denominação dela é: “Meninas na Ciência”. presentes na base e currículo. Como estão re- 53
embaixadores, voluntários que de pesquisa, laboratórios farmacêuticos, museus, empresas Essa disciplina é oferecida somente para alunas lacionadas a datas comemorativas, elas seguem

unsplash
atuam como tutores para auxiliar governamentais, entre outros. e, como toda eletiva, é opcional. um calendário pré-definido, todavia o processo
estudantes e professores que pode ser iniciado em diferentes momentos e

/
national-cancer-institute science in hd
estão usando a Wiki em sala “Infelizmente, a maioria das referências a apresentação dos resultados deve coincidir
de aula. Dentro do programa de cientistas que os estudantes possuem com as datas. Nessa perspectiva, outras datas
de ensino, o Brasil participa do são homens, o que, inclusive, é retratado podem ser incluídas como o Dia Internacional
projeto Wikipédia na Universidade nos cinemas. Gostamos de conversar das Mulheres e Meninas na Ciência, 11 de feve-
que tem como objetivo principal de uma forma leve sobre como o reiro. Você pode também criar um calendário
estimular estudantes, professores feminismo e todos os movimentos de mensal ou semanal para homenagear mulheres
e universidades a utilizarem a empoderamento atuam na construção na ciência. Veja o exemplo da Fiocruz que criou
Wikipédia como uma ferramenta de uma sociedade mais igualitária. Sendo um calendário de homenagem a cientistas ne-
de ensino. assim, apresentar cientistas mulheres, gras e pioneiras no Brasil.
sejam as pioneiras como Marie Curie,
que ganhou 2 prêmios Nobel, ou Rosalind
Franklin, que teve seu nome omitido da
descoberta do DNA por uma questão de
machismo do marido, é algo que deve ser
realizado com frequência.”
Aline Soares Magalhães, professora de
química e biologia no Colégio Marques
Rodrigues (Rio de Janeiro)
>> PREPARAÇÃO PESSOAL PARA TABELA TAXONÔMICA
DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE Dimensão do Dimensão do processo cognitivo
conhecimento
As fontes utilizadas para a preparação pessoal visando o de-
1. Recordar 2. Compreender 3. Aplicar 4. Analisar 5. Avaliar 6. Criar
senvolvimento das atividades são: artigos, revistas e textos.

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A. Factual objetivo 2 objetivo 2
Por serem todos obtidos através da internet, sempre mencio-
B. Conceitual objetivo 1 objetivo 3
no a fonte e os deixo disponíveis para consulta.
C. Procedimental objetivo 4
Exemplos:
D. Metacognitivo
• Geledés Instituto das Mulheres Negras. 23 cientistas
negras que mudaram o mundo. Disponível em: https://
www.geledes.org.br/23-cientistas-negras-que-muda-
ram-o-mundo/
• Revista Mulheres na Ciência. 2019. British Council. Dis-
ponível em: https://www.britishcouncil.org.br/sites/de- >> O PROCESSO to verde) em plantas não verdes, montagem
fault/files/d1_revista.pdf> Atividade do Dia Internacional da Mulher – Elas do disco de Newton e engajamento das meni-
nas Ciências: foram selecionados nomes de algu- nas em campanhas na escola como o Outubro
>> LEVANTAMENTO DE CONHECIMENTOS PRÉVIOS mas cientistas e foi solicitado aos alunos e alunas Rosa. Foram utilizados materiais variados, de
Na disciplina eletiva o levantamento prévio foi realizado infor- que realizassem uma pesquisa sobre a cientista acordo com cada atividade prática, sendo os
malmente na primeira aula, onde se pode perceber que as que ele(a) havia recebido o nome. Em uma folha materiais comprados com meus recursos pró-
alunas desconheciam quase que totalmente os assuntos. de papel A4, eles colaram uma foto da cientista e prios ou da escola. Disciplina eletiva “Meninas
escreveram um resumo sobre a vida dela. na Ciência”: materiais variados a depender dos
>> OBJETIVOS Após o período de uma semana para a reali- experimentos selecionados.
O objetivo principal da atividade do Dia Internacional da zação do trabalho, cada aluno foi à frente da tur-
54 Mulher - Elas nas Ciências foi fazer com que os alunos co- ma e apresentou sua pesquisa. A duração foi de >> INFRAESTRUTURA NECESSÁRIA 55
nhecessem o trabalho de mulheres que escolheram a ciên- 50 minutos (uma aula). Alguns trabalhos foram Dia Internacional da Mulher e Dia internacional
cia como profissão e [destacar] que muitas delas realizaram selecionados e colocados em um mural no cor- da Consciência Negra: computador com acesso
pesquisas ou feitos que contribuíram/contribuem muito para redor da escola para que outros alunos também à rede, impressora, materiais de papelaria (fo-
toda a sociedade. Eles também tinham que criar uma bio- pudessem apreciar as pesquisas. lhas, cartolina, lápis e canetas coloridas).
grafia da cientista e apresentar oralmente os resultados. A Atividade do Dia da Consciência Negra – fo- Disciplina eletiva Meninas na Ciência: ma-
atividade do Dia da Consciência Negra também tinha como ram selecionados alguns cientistas negros, mas teriais variados a depender dos experimentos
objetivo mostrar aos alunos a importância de cientistas ne- principalmente cientistas mulheres, através de selecionados.
gros, especialmente cientistas mulheres. pesquisas na internet. Uma foto e um resumo
O objetivo geral da disciplina eletiva “Meninas na Ciência” da vida dessas cientistas foram impressos e le- >> AVALIAÇÃO
era despertar o gosto das meninas pela ciência. Para isso, vados para sala de aula. Cada aluno(a) escolheu Todas as minhas práticas foram avaliadas pela
elas vivenciaram experimentos das áreas de química, física e um(a) cientista(a) e, após ler o resumo, compar- coordenação pedagógica da escola. Em relação
biologia, além de criar campanhas de conscientização para tilharam com seus colegas. Assim, toda a turma, aos alunos, a avaliação das atividades dentro
o Outubro Rosa. ao final da atividade, pôde conhecer a história da disciplina de ciências foi realizada de acordo
Para exercitar a prática de definir objetivos educacionais e o trabalho de vários cientistas negros(as). A com critérios estabelecidos: a relevância das in-
convidamos você a analisar os objetivos dessa atividade. atividade teve duração de 50 minutos (1 aula). formações, a apresentação oral do aluno e o ca-
Você pode também usar a tabela taxonômica para classificar Disciplina eletiva “Meninas na Ciência” – nes- pricho no trabalho escrito. Na disciplina eletiva
e evidenciar os objetivos da atividade. sa eletiva foram desenvolvidos vários conteúdos, as avaliações são realizadas sempre de maneira
tais como, determinação do pH (potencial de hi- informal ao final da aula.
drogênio) de substâncias usadas no cotidiano,
extração de DNA de banana e observação deste
ao microscópio, verificação de clorofila (pigmen-
Para adaptar e ampliar
A avaliação formativa • As estratégias e recursos utili-
O pressuposto da avaliação zados, bem como o tempo, fo-
formativa é que o ensino e a ram suficientes para desenvol-
aprendizagem são processuais ver as ações?

FERRAMENTAS PARA A PRÁTICA: PLANOS DE ATIVIDADES


e, portanto, a avaliação deve ser • O que deve ser adaptado e o >> PRODUTOS DIVERTIDOS Cada cromo pode ser de uma mulher cien-
contínua. O objetivo central é servir que pode ser melhorado? Nas atividades da professora Lucineia e do professor Rodrigo tista, contendo uma imagem e sua área de
como diagnóstico e ferramenta foram desenvolvidos produtos que resultaram em biografias atuação ou principal contribuição dela para
de revisão do processo de Há diversos instrumentos que sobre mulheres cientistas produzidas pelos estudantes. Se- a ciência. Essas informações podem permear
ensino e tendo como meta final o podem ser usados na avaliação guindo ainda a proposta de conhecer a diversidade de mulhe- as páginas do álbum, ou ainda serem utiliza-
desenvolvimento de aprendizagens. formativa como observação res cientistas que fazem e fizeram história, você pode criar no- das para agregar ao álbum um jogo de per-
Dessa forma, ela deve informar em sala de aula, participação vos produtos que envolvam a criatividade e ludicidade. Jogos guntas e respostas. Nesse caso, no verso do
o professor sobre a eficácia de nas dinâmicas, apresentação e coleções são ótimos exemplos que agregam mão na massa, cromo, os estudantes podem inserir pequenas
sua mediação, regulando suas oral, desenhos, provas escritas, criação e brincadeira. perguntas cujas respostas estão próximas ao
práticas. Para o aluno a avaliação dramatização, seminários, Que tal criar um álbum de figurinhas das mulheres cien- local em que a figurinha será colada. Veja o
é necessária para que ele produção textual, entre outras. tistas? Ele pode ser dividido cronologicamente, em áreas de exemplo, com as informações nos balões.
compreenda em que lugar está atuação ou da forma que a criatividade alcançar.
do processo, quais dificuldades Vejamos quais foram as formas
encontra e possa enfrentá-las. de avaliação declaradas pela pro-
fessora Lucineia nas atividades Dia
Katemari Rosa sonhava em
Com isso em mente, se você Internacional da Mulher - Elas na ser astrônoma desde os 8 anos.
tem um conjunto de aulas e Ciência e Dia da Consciência Negra. Influenciada pelas visitas ao Katherine Johnson era
observatório e planetário da sua matemática e fez parte da
ações planejadas para a sua • Relevância das informações co- cidade tornou-se física e doutora equipe de mulheres negras do
56 atividade, busque incluir algum letadas na etapa de pesquisa em educação em ciências. Centro de Pesquisa Langley da 57
Atualmente lidera o projeto Nasa que calculou a trajetória
instrumento de avaliação para • Apresentação oral “Contando nossa história: negras dos primeiros lançamentos
cada momento. Lembre-se • Capricho do trabalho escrito e negros nas ciências, tecnologias espaciais. Seus cálculos foram
e engenharias no Brasil” com o essenciais para o sucesso da
de abarcar instrumentos para objetivo de resgatar a história de missão Apolo 11 que levou Neil
avaliar também a sua atuação Que tal analisar a atividade “Di- cientistas negros brasileiros. Armstrong a pisar na Lua em
nas diferentes etapas do versidade de gênero: um novo pa- 1969. Katherine morreu em
2020 com 101 anos.
processo. Algumas questões radigma para a ciência” buscando
podem ajudá-lo a construir os identificar os instrumentos de
instrumentos de avaliação. avaliação nas diferentes etapas?
Quais outros instrumentos pode-
• Como foi o envolvimento e riam ser incluídos?
a participação dos alunos?
• A proposta foi compreendida
pelos alunos?
Fã da série Cosmos desde que tinha
• O que eles aprenderam e quais 11 anos, Duília de Mello resolveu
reflexões fizeram? aos 14 que queria ser astrônoma.
Enfrentou diversos desafios e hoje é
• Quais foram as dificuldades en- pesquisadora da Nasa. Já identificou
frentadas e o que foi mais sim- uma supernova e desvendou os
berçários de estrelas. Concebeu e
ples para os alunos realizarem? é diretora da Associação Mulheres
• Quais foram os pontos fortes nas Estrelas (AME) para incentivar os
jovens a seguir carreiras científicas,
da atividade e quais os desafios especialmente as meninas.
você enfrentou?
MENINAS NAS OLIMPÍADAS
A participação das escolas em eventos relacionados às áreas STEM como olimpíadas de
matemática, olimpíadas de ciências (ONC), olimpíadas e feiras de robótica, entre outros,
são excelentes oportunidades para trazer à tona as questões sobre representatividade

FERRAMENTAS PARA A PRÁTICA: PLANOS DE ATIVIDADES


QUAL FOI O POSSÍVEL feminina nessas áreas. É também um momento oportuno para incentivar a participação
INCENTIVO PARA QUE A e engajamento de todos os estudantes nas áreas de STEM, lançando mão de estratégias
PESQUISADORA SEGUISSE como grupos de estudo ou fóruns de discussão.
A CARREIRA CIENTÍFICA?

QUAL IMPORTANTE Em 2019, o Instituto de A Olimpíada Brasileira em que estudantes de 12 a 18


PROJETO ELA LIDERA? Matemática Pura e de Ciências (OBC) anos projetam, programam e
Aplicada (Impa), que realiza as seleciona estudantes para constroem robôs capazes de
olimpíadas de matemática em nível participar de olimpíadas realizar tarefas.
nacional, criou o 1º Torneio Meninas internacionais junior.
na Matemática para incentivar a Diversas iniciativas de
participação das meninas em um universidades, organizações não
ambiente mais estimulante para elas. A Olimpíada Brasileira governamentais e empresas
de Robótica (OBR) tem também devem estar no radar.
como público alvo estudantes de Algumas delas foram citadas no
O desempenho brasileiro nas áreas STEM >> OUTRA OPÇÃO DE PRODUTO DIVERTIDO A Olimpíada Brasileira escolas públicas ou privadas item “Iniciativas para aproximar
A análise do desempenho dos estudantes brasileiros no Além do álbum de figurinhas podem ser criados de Matemática (OBM) do ensino fundamental, médio as meninas da ciência”. Procure
Pisa ao longo do tempo mostra que houve uma melhora jogos como caça palavras das cientistas. A fer- é destinada a estudantes ou técnico de todo Brasil. Ela inserir em suas atividades a
58 significativa até 2009, todavia nas avaliações posteriores, ramenta Geniol permite criar caça palavras com de diversos níveis de possui competições práticas participação em ações online e 59
até 2018, os resultados tendem à estagnação em todos diferentes graus de complexidade. As palavras escolaridade, incluindo e provas teóricas. pesquise na sua região eventos
os domínios. Mais alarmante é, no entanto, a porcentagem a serem encontradas podem ser, por exemplo, o ensino superior. Já a Olimpíada oferecidos por essas instituições.
de estudantes brasileiros que apresentam proficiência a área de atuação das cientistas e o jogo pode Brasileira de Matemática das Escolas
abaixo do nível básico em ciências e matemática em contar com uma breve descrição delas a partir Públicas (OBMEP) é destinada em A Mostra Nacional de
comparação com a média da OCDE, como mostra a dos dados coletados na biografia. nível nacional às escolas públicas Robótica (MNR) é uma Outra opção interessante
tabela a seguir. Vale destacar que para cada um dos e, mais recentemente, também às mostra científica para divulgar é a Semana Nacional
domínios – leitura, matemática e ciências – são elencados escolas privadas, para estudantes trabalhos de todo o Brasil na de Ciência e Tecnologia do
níveis de proficiência que correspondem ao conjunto do ensino fundamental II e médio. área de robótica. Voltada para MCTIC. A adesão ao evento é
de competências alcançadas. Há 6 níveis de letramento Ambas ficam a cargo do Impa com todos os níveis de ensino incluindo livre e as escolas podem divulgar
nos domínios de matemática e ciências De acordo com apoio da Sociedade Brasileira de nível superior e pós-graduação suas atividades.
os critérios adotados, considera-se que estudantes com Matemática (SBM). e pesquisadores.
desempenho no nível 1 ou abaixo de 1 não atingem o nível
básico de proficiência
A Olimpíada Nacional O Festival Sesi de
de Ciências (ONC) faz Robótica é destinado a
anos ciências (BR) ciências (OCDE) matemática (BR) matemática (OCDE) parte do programa Ciência na crianças de 9 a 18 anos e agrega
2006 61,2% 19% 72,5% 26% Escola, realizada por diferentes experiências do Torneio de
2009 54,3% 18% 69,1% 22% sociedades científicas e se Robótica First Lego League que
2012 54,9% 18% 68,2% 23% destina a estudantes do ensino incentiva estudantes a buscarem
2015 56,6% 21% 70,2% 23% médio e do último ano (9º ano) do soluções para problemas
2018 55,3% 22% 68,1% 24% ensino fundamental. cotidianos, o First Tech Challenge
Perspectivas de gênero >> ALINHAMENTOS DA ATIVIDADE
À BNCC E CURRÍCULOS
Preparação pessoal
Para além dos recursos

em contexto de desastres:
As mudanças climáticas são foco de habilidades e publicações sobre
presentes na BNCC e estão inseridas em temas aquecimento global que estiver

FERRAMENTAS PARA A PRÁTICA: PLANOS DE ATIVIDADES


um jogo de consenso
ambientais. Dentre as competências gerais, a trabalhando, sugerimos a leitura do
base ressalta que até o final da educação básica relatório do IPCC, com destaque
o aluno deve desenvolver conhecimento sobre às questões de gênero.
causas e consequências de questões globais
(atividade elaborada em parceria com Gabriela Couto, mestre em ciências ambientais e relevantes, como mudança climática, migração, Conheça alguns aspectos
pesquisadora do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas pobreza e desigualdades. Além de valorizar e en- sobre como as questões
Espaciais - Inpe) gajar-se em ações positivas acerca do respeito climáticas afetam
aos direitos humanos e ao meio ambiente para a desigualmente homens e
sobrevivência da humanidade e do planeta. mulheres.
>> CONTEXTO GERAL Este jogo do consenso, inspirado em debates Do ponto de vista das disciplinas, as habili-
Para entender o papel do gênero em contexto de desas- para a tomada democrática de decisões, busca dades relacionadas ao clima ocorrem em geo- No livro Riscos e
tres é preciso, a priori, reconhecer que nosso planeta está discutir essas questões a partir das pesquisas grafia, ciências da natureza e matemática. No 6º desastres - caminhos
mudando. A comunidade científica de uma forma geral con- desenvolvidas pela bióloga Gabriela Couto no ano em geografia, os alunos devem desenvolver para o desenvolvimento
corda que o planeta vem sofrendo alterações espaço-tem- Inpe. Considerando esse contexto partimos das habilidades sobre padrões climáticos e avaliar sustentável é possível conhecer
porais em seus processos geo-físico-químico-biológicos seguintes questões norteadoras: alguns efeitos como ilhas de calor (EF06GE03, como os desastres afetam
devido a pressões antropogênicas, ou seja, causadas pelo EF06GE05 e EF06GE13). Consequências das desigualmente homens e mulheres
ser humano, levando a mudanças ambientais e climáticas • Quais são os possíveis cenários de mu- alterações climáticas de forma mais específica e diferentes faixas etárias.
em escala global. De acordo com os relatórios do Painel In- danças climáticas? ocorrem entre as habilidades a serem desenvol-
60 tergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), essas • As consequências das mudanças climá- vidas no 8º ano (EF08CI14 e EF08CI16). O artigo “O papel da 61
alterações planetárias são responsáveis pelo aumento em ticas afetam de forma diferente homens No ensino médio, as diversas competências mulher na prevenção de
grandeza e frequência no número de extremos climáticos, e mulheres? envolvem a aplicação de conhecimentos sobre desastres ambientais:
sendo estes um dos elementos primordiais responsáveis • O que precisamos discutir hoje para que matéria, energia, biodiversidade, entre outros, experiências internacionais e
pelo crescimento no número de desastres associados ao essas mudanças sejam menos acentua- de forma a garantir a sustentabilidade ambiental sua aplicabilidade ao contexto
clima, assim como o número de mortos, feridos e pessoas das amanhã? e social. Além disso, as competências do ensino brasileiro” mostra a importância da
desalojadas em todo o planeta. • Quais argumentos podem ser usados para médio incentivam o aluno a tomar posições e/ou mulher em cenários de catástrofes.
Como afirmam os documentos produzidos nas Conven- a defesa de propostas que levem em con- encontrar soluções para questões ambientais, a
ções sobre Mudança Climática das Nações Unidas, “As mu- sideração a necessidade de adaptação partir da análise de questões científicas e políti- Dois vídeos interessantes
lheres são as mais atingidas pela mudança climática, mas aos impactos já sentidos globalmente? cas ambientais, tal como propõe esta atividade. que podem ser utilizados com
também são elas as catalisadoras fundamentais para uma a sua turma são:
mudança positiva. O conhecimento e a experiência delas é • TED Talks com
crucial para uma mitigação bem-sucedida da mudança cli- Amber Fletcher, professora
mática, bem como para a adaptação à mudança climática”. de sociologia da
Desastres recorrentes em diversos países vêm mostrando o Universidade de Regina, no Canadá.
importante papel da ação local e imediata de mulheres, bem • A linda animação
como da participação delas para a promoção de medidas e Justiça climática e
políticas para a prevenção e mitigação desses eventos. ambiental do canal
Women’s Environment and
Development Organization.
Para adaptar e ampliar
>> OBJETIVOS veis no tabuleiro. A primeira rodada começa com
• Apresentar perspectivas de gênero como elemento um dos grupos apresentando uma das suas car-
chave em contexto de mudanças ambientais e climá- tas de questionamento e uma de informação. Os
ticas globais, e seus impactos sobre as pessoas frente outros grupos devem adicionar outras informa-

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aos desastres naturais; ções para o questionamento, podendo inclusive >> PARA CADA PROBLEMA, UMA INOVAÇÃO rio em que é possível inserir informações sobre
• Construir argumentos com base nos interesses indivi- questionar a relevância das informações apre- Desastres recentes como os de Mariana e Brumadinho, além diversas variáveis e ainda conhecer aspectos
duais e coletivos sobre a temática, utilizando as infor- sentadas anteriormente. Todos os grupos devem dos diversos desmoronamentos que ocorrem nas épocas científicos sobre hormônios, contracepção, en-
mações e questões selecionadas; ter um/a redator/a para anotar as informações chuvosas, têm sido estudados levando em conta como os di- tre outros assuntos. Ainda associados ao ciclo
• Discutir os diferentes argumentos coletivamente e se- principais sobre os questionamentos de cada ro- ferentes gêneros são afetados. Com mais informações e em- menstrual, inúmeros produtos foram lançados
lecionar ou construir um conjunto de medidas/políti- dada. A/o líder do grupo deve organizar as falas basamento, poderemos visualizar com clareza a vulnerabilida- nos últimos anos como calcinhas para mens-
cas públicas consensuais; de forma que todos do grupo tenham chance de de, mas também o protagonismo, das mulheres em situações truação, coletores menstruais, absorventes or-
• Incentivar as meninas a atuar em posições de lideran- falar. Ao final de cada rodada os grupos devem de desastres, construindo ações que diminuam os riscos para gânicos e hipoalergênicos.
ça nos grupos de trabalho. decidir internamente quais informações são mais elas, incentivem o seu empoderamento e levem ao melhor en- A partir do conhecimento obtido no jogo e
relevantes para o questionamento em discussão. frentamento dessas situações. com base nas diferentes iniciativas citadas, realize
aula 1 >> Levantamento de ideias prévias sobre o Mas não é necessário esperar uma catástrofe ambiental para com seus alunos uma atividade com objetivo de
assunto a partir das questões norteadoras. Assistir aula 4 >> Agora os alunos deverão chegar a um tomar atitudes. No nosso dia a dia, vivenciamos outras escalas criar produtos ou serviços para ajudar a solucio-
junto com os estudantes os vídeos indicados sobre consenso com base nas informações coletadas de desafios que afetam desigualmente os gêneros. A violência nar problemas que afetam as meninas e/ou mu-
questões de gênero e mudanças climáticas. Explicar a durante a discussão. Leia as três propostas apre- doméstica é um ponto de atenção que precisa ser equaciona- lheres da comunidade nas quais estão inseridos. É
proposta do jogo e dividi-los em grupos, de forma que sentadas, peça para que os grupos analisem indi- do, na medida em que coloca meninas e mulheres em situações importante considerar que as soluções propostas
ao menos metade deles sejam liderados por meninas. vidualmente cada uma delas e confrontem com graves de violação de direitos, inclusive, com risco de morte. não compreendem as mulheres como um grupo
Imprimir o tabuleiro, cartas verdes e azuis, quadro de as anotações da discussão coletiva. Cada grupo Diversas iniciativas têm buscado soluções para o problema, ga- homogêneo e deve respeitar as diferenças e con-
avaliação das propostas e fichas propostas de acordo deve selecionar a proposta que mais representa rantindo proteção ao bem-estar e às vidas dessas mulheres, tais textos vivenciados por elas. Essa proposta baseia-
62 com o número de grupos (link abaixo). a visão compartilhada por todos ou pela maioria. como o desenvolvimento de aplicativos e soluções tecnológicas -se em processos de mentoria para empreende- 63
O consenso deverá ser obtido por meio da ava- com a finalidade de evitar situações de risco para elas. dorismo e inclui as seguintes partes:
aula 2 >> O jogo do consenso tem três fases: i) liação com níveis de satisfação (não satisfatória, O Mete a Colher é um app para denunciar casos de vio-
levantamento e apropriação de informações em medianamente satisfatória, satisfatória) para cada lência doméstica de forma anônima e oferecer uma rede de
subgrupos, ii) debate coletivo e iii) escolha ou cons- proposta. O quadro deverá ser preenchido por apoio para mulheres que precisam de ajuda. O SOS Mulher e
trução de medidas compartilhadas. Entregue um ta- meio de uma votação de cada proposta, e aquela Circle of 6 são aplicativos em que contatos são cadastrados
buleiro, cartas azuis e verdes para cada grupo (a ficha que obtiver o maior número de grupos satisfeitos e podem receber sua localização em caso de emergência.
de propostas só deve ser entregue aos grupos na representará a mais consensual. Caso haja equi- O Malalai é uma evolução dos dois anteriores, pois além dos
última fase). Nessa aula, eles devem ler a introdução líbrio do grau de satisfação entre duas propostas contatos de emergência, permite identificar rotas seguras
sobre o tema que será debatido neste jogo: Cenários ou que nenhuma delas atinja um grau razoável com base em informações sobre iluminação, movimento, po-
de mudanças climáticas e impactos sentidos de for- ou bom de satisfação, sugira aos alunos a cons- liciamento, ponto comercial aberto. Os contatos podem ser
ma diferencial entre homens e mulheres. Em segui- trução de uma nova proposta. Por fim, questione acionados para acompanhar o percurso e são avisados ao
da devem ler as cartas de questionamento (azuis) e os alunos se existe sempre uma posição política término do deslocamento. O Femitaxi, Nushu e Lady Driver
selecionar duas que sejam significativas para eles. O para tudo o que se convive. são aplicativos de transporte com motoristas mulheres. Nem
próximo passo é ler as cartas informativas (verdes) e todos esses aplicativos, no entanto, funcionam além de algu-
escolher cinco delas que tenham relações com os mas capitais e grande parte da população feminina não tem
questionamentos previamente selecionados. A/o lí- O tabuleiro do jogo acesso a recursos semelhantes.
der do grupo deve organizar a escolha dessas cartas e as cartas estão disponíveis Foi também a partir da necessidade de meninas e mu-
por consenso do grupo ou votação. aqui para impressão lheres de organizar o ciclo menstrual e conhecer melhor as

depositphotos
mudanças corporais e de sentimentos nas diversas fases
aula 3 >> É hora da discussão coletiva. As cartas dele que foram criados aplicativos como Clue, Calendário
selecionadas na aula anterior devem ficar disponí- menstrual, Flo e Womanlog. Eles funcionam como um diá-

/
puhhha
1. Individualmente, os alunos vamente. As soluções devem ser >> QUEM ESTÁ À FRENTE CARTA REVELAÇÃO #1
devem identificar problemas coti- discutidas em função da sua viabi- DESSA INVENÇÃO?
dianos enfrentados por meninas e lidade e em consenso e uma delas Muitas pesquisas empolgantes e produtos
mulheres de suas comunidades. deve ser escolhida. sensacionais estão sendo desenvolvidos nes-

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2. Reunidos em grupos, cada 6. Os grupos apresentam suas se exato momento, e à frente de vários deles
participante apresentará o proble- propostas para o coletivo e cole- estão mulheres cientistas e empreendedoras.
ma levantado por ele/a e porque tam ideias e questões para aprimo- Diversas vezes, sem o devido reconhecimento,
ele é importante. Cada grupo deve rar o projeto. esse importante papel social desempenhado
avaliar com qual dos problemas 7. Agora é hora de se engajar pelas mulheres acaba sendo sub representado,
quer trabalhar, levando em consi- no desenvolvimento do serviço dificultando às meninas identificar esse cami-
deração a possibilidade de criar ou produto. nho profissional como uma possibilidade.
Ester S
soluções para ele. Em uma proposta inversa àquelas apresen- abino
3. Em seguida é necessário Sugerimos que mais uma vez tadas anteriormente, sugerimos que o ponto de
criar uma ou mais hipóteses acerca você busque colocar as meninas partida agora seja conhecer produtos e proces-
do problema. em posições de liderança, sem- sos científico-tecnológicos desenvolvidos ou em
Jesus
4. O próximo passo é sondar pre estabelecendo um clima de desenvolvimento, liderados por mulheres. Jaqueline de
se a hipótese é válida junto às pes- colaboração. Utilize o processo De forma a tornar mais lúdica a atividade, su-
soas que irão se beneficiar do pro- realizado durante essa atividade gerimos a construção de um jogo tipo perfil. No
duto ou serviço. Eles devem criar em suas pesquisas-ação. Busque entanto, a base da proposta pode ser usada para
um conjunto pequeno de questões compreender quais são os desa- construir diferentes produtos.
que permitam testar a hipótese e fios e possibilidades associados a Você pode selecionar as pesquisas e pro-
dar algumas pistas sobre as possí- lideranças femininas nos grupos e dutos que quer trabalhar e/ou levantar com os
64 veis soluções. Escolha com eles um envolvimento dos meninos nesse alunos, algumas invenções ou processos cientí- Espaço para foto das 65
período para realizar a pesquisa e o tipo de proposta. A partir dessa fico-tecnológicos que achem relevantes (neste cientistas/empreendedoras
espaço amostral para que haja um avaliação, crie estratégias que pos- momento não precisam ser escolhidos apenas
nível de confiança satisfatório. sam engajar todos os estudantes a aqueles liderados por mulheres). Apresente para
5. Agora é hora de analisar a participar ativamente na sociedade eles algumas dessas ideias, como os exemplos a
sondagem: eles devem tabular os rumo à equidade de gênero. seguir. Peça para que cada aluno ou dupla produ-
dados e, com base nos resultados, za um conjunto com a carta revelação, envelope
propor soluções. Caso o resultado e carta informação sobre uma pesquisa/produto/
da sondagem mostre que a hipó- invenção/descoberta. Quanto mais cartas, mais
tese não é verdadeira, os alunos interessante será o jogo.
podem adaptá-la ou criar uma nova
hipótese, fazendo a sondagem no-

PARA SABER MAIS


A legislação brasileira trata
especificamente da violência
doméstica e familiar contra a mulher,
visando a proteção ao bem-estar e à vida.
ENVELOPE #1 Com a turma dividida em grupos, cada um de- CARTA REVELAÇÃO #2
Formação inicial: les deve receber todos os envelopes com as cartas
biomedicina e medicina revelação dentro (ou seja, devem ser produzidos
Especialidade: genômica e conjuntos de envelope + carta revelação para cada

FERRAMENTAS PARA A PRÁTICA: PLANOS DE ATIVIDADES


epidemiologia de doenças pesquisa/produto/invenção/descoberta no núme-
causadas por vírus ro de grupos participantes). Você deve sortear uma
Instituição: Instituto de carta informação e cada grupo, na sua vez, escolhe
Medicina Tropical da USP um número para obter a informação correspon-
dente. Os grupos podem dar palpite sobre qual é
o envelope a qualquer momento. O estudante que CARTA INFORMAÇÃO #2
produziu a carta da rodada deve guardar segredo 1. Fundou empresa de pesquisa e
para tornar o jogo mais instigante! desenvolvimento de marcadores
moleculares em oncologia.

por cinco mulheres e um homem, 2. Os marcadores moleculares


entre médicos, biomédicos e desenvolvidos em sua pesquisa
a
farmacêuticas. O trabalho foi Luciana Silv permitem identificar o método mais
feito em parceria com o Instituto eficiente para tratamento de câncer.
Adolfo Lutz, responsável pelas
contraprovas das infecções no espaço para foto das 3. A sua empresa já recebeu
estado de São Paulo. cientistas/empreendedoras diversos prêmios, dentre eles II
Prêmio de Inovação do Grupo
66 CARTA INFORMAÇÃO #1 5. A equipe de cientistas que Fleury e o 6ª Circuito Einstein de 67
1. Um processo que normalmente demora 15 lideram faz parte do Cadde (Centro Startup, do Hospital Albert Einstein.
dias, foi feito em apenas 48 horas no Brasil. Conjunto Brasil-Reino Unido para
Lideraram cientistas que analisaram o patógeno Descoberta, Diagnóstico, Genômica 4. O objetivo dos produtos
que infectou um brasileiro que havia viajado para e Epidemiologia de Arbovírus), uma desenvolvidos pela sua empresa
a Itália e disponibilizaram a sequência genética do parceria da USP com a Universidade ENVELOPE #2 é viabilizar um tratamento
vírus para todos os cientistas do mundo. de Oxford. Um dos grandes Formação inicial: biologia personalizado para cada paciente,
objetivos é mapear o desenrolar Especialidade: biologia com ferramentas de detecção
2. A sua pesquisa sobre o novo coronavírus (SARS- de epidemias, estudar os vírus para molecular de células de câncer e monitoramento da doença e
CoV-2) determinou a sequência completa do entender quais são as mudanças Instituição: Empresas OncoTag marcadores prognósticos, dando ao
genoma viral encontrado no Brasil. sofridas ao longo da trajetória que e CELLType profissional de saúde um panorama
eles percorrem, de pessoa em sobre o curso da doença.
3. A sua análise revelou que, no Brasil, o pessoa e de país em país.
patógeno apresenta diferenças em relação 5. A partir de suas pesquisas a
àquele identificado em Wuhan (o epicentro 6. Sequenciar o coronavírus é respeito do câncer ginecológico,
da epidemia na China), se aproximando mais importante para adotar medidas dos prognósticos e tipos de
das amostras do coronavírus observadas na mais adequadas e tentar conter tratamentos quimioterápicos
Alemanha no final de janeiro de 2020. sua disseminação. Sua pesquisa correspondentes, desenvolveu
foi essencial para desenvolver um kit de exame molecular para
4. Lideram a equipe do Instituto de Medicina estratégias de combate a avaliação da provável evolução do
Tropical da USP que mapeou o genoma do doenças causadas por vírus câncer de ovário. Esse kit é vendido
coronavírus que chegou ao Brasil, composta como ebola e zika. pela sua empresa.
Imaginando cientistas
Use o molde abaixo para criar um cientista de acordo com

CABEÇA
a sua percepção. Antes da montagem, customize o modelo
desenhando e colorindo rosto, cabelo, roupa e acessórios. .
Você pode utilizar esta atividade com seus alunos para

BRAÇO ESQUERDO
conhecer os estereótipos deles acerca da imagem de um/a
cientista. Para realizar uma pesquisa-ação sugerimos que a
atividade seja feita em duas etapas:

• no início de algum trabalho sobre o tema das mulheres


ou de questões de gênero na ciência, podendo ser
usada para levantamento de conhecimentos prévios
• ao final do trabalho sobre o tema

A ideia é comparar as possíveis mudanças que ocorreram


na forma como os estudantes enxergam um/uma cientista.
É possível produzir gráficos que mostrem como algumas
variáveis diferiram entre as etapas, tais como o número de
cientistas representados como mulheres, roupas e acessó-
68 rios comumente associadas ao fazer científico, entre outros.
Aproveite também para discutir os dados apresentados no
item “Estereótipos em desconstrução” desta publicação.

BRAÇO DIREITO

CORPO
PERNAS
depositphotos

PERNAS
/
dima baranow
Após esse percurso de conhecimento, re-
flexão e ação sobre a importância da diver-
sidade e das diversas representatividades
na ciência, convidamos você a escrever uma
carta convite para que mais educadoras e
educadores percorram também esta jorna-
da. Você tem um papel central na constru-
ção de uma educação inclusiva, promovendo
a igualdade de oportunidades para meninas
e meninos e os incentivando a seguirem
carreiras científicas. Agora que você possui
mais ferramentas para isso, use o seu pro-
tagonismo para engajar outras professoras
e professores e a comunidade escolar. Tudo
isso na busca pela equidade de gênero na
ciência, mas não só: por um mundo em que
o conhecimento seja produzido por todos e
para todos.
BRITISH COUNCIL MUSEU DO AMANHÃ | IDG - PROGRAMA MULHERES
Instituto de Desenvolvimento NA CIÊNCIA E INOVAÇÃO |
diretor nacional: e Gestão 2019 E 2020
Martin Dowle
diretor presidente: gerente sênior de educação superior e ciência:
diretora de educação: Ricardo Piquet Vera Oliveira
Diana Daste
diretor executivo: gerente de projetos de
gerente sênior de educação superior e ciência: Henrique Oliveira educação superior e ciência:
Vera Oliveira Raíssa Daher
diretora de operações:
gerente sênior de educação básica: Roberta Guimarães analista de projetos de educação e ciência:
Luis Felipe Serrao Heloísa Fimiani
diretora de desenvolvimento
gerente de projetos de de público e parcerias: Museu do Amanhã | IDG - Instituto
educação superior e ciência: Maria Garibaldi de Desenvolvimento e Gestão
Raíssa Daher
diretora de projetos: diretor de desenvolvimento científico:
gerente de projetos de educação básica: Julianna Guimarães Alfredo Tolmasquim
Alessandra Moura
diretora de desenvolvimento institucional: diretora de desenvolvimento
analista de projetos de educação e ciência: Renata Salles de público e parcerias:
Heloísa Fimiani Maria Garibaldi
diretor administrativo financeiro:
analista de projetos de educação: André Tapajós coordenador de pesquisa:
Isabela Milanezzi Davi Bonela
curador geral:
estagiária de educação: Luiz Alberto Oliveira gerente de comunicação:
Beatriz Santanna Joana Pires
diretor de desenvolvimento científico:
Alfredo Tolmasquim coordenadora de desenvolvimento de
parcerias e relações institucionais:
Maria Helena Gonçalves

pesquisadora:
Meghie Rodrigues

analista de pesquisa de público:


Ruy Cotia
IDG | Museu do Amanhã; British Council.
Publicação
Meninas na escola, mulheres na ciência: Ferramentas para
pesquisa, conteúdo e textos:
professores da educação básica. Vol. 1. Rio de Janeiro: IDG |
Percebe | Pesquisa, Consultoria e
Museu do Amanhã, 2020. 72 p. : il. Treinamento Educacional
ISBN: 978-65-87551-00-5 Ana Paula Morales
Maria Paula Correia de Souza

1. Ensino de ciências. 2. Educação científica. 3. Formação de supervisão técnica:

professores. I. IDG | Museu do Amanhã. II. British Council. III. IBM. Joana Pires e Luis Felipe Serrao

IV. Título. coordenação editorial:


Davi Bonela

projeto gráfico e diagramação:


Dorotéia design | Adriana Campos

revisão:
Daisy Silva de Lara
Patrocínio Realização Parceiros
Patrocínio Realização

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