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ECONOMIA GLOBAL
LUIS DONCEL
A carne está especialmente cara, com uma oferta em queda por causa da
peste africana que assola o rebanho suíno chinês. No Brasil, conforme
noticiou o EL PAÍS, o fenômeno transformou o alimento em produto de
luxo. Segundo a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), o preço da carne teve alta de 8,09% em
novembro, o maior impacto individual na inflação geral (de 0,51%).
China e
Bolsonaro
De acordo com o índice da FAO, é preciso remontar a 2014 para encontrar transformam a
carne em
a carne custando tão caro no mundo. Também sobem os óleos,
produto quase
especialmente o de palma. Os analistas advertem que esse coquetel de luxo no
ameaça provocar uma espiral de preços. Brasil
Enquanto os pedidos sobem, a oferta se retrai. O surto de peste africana decretado pela
China no ano passado atingiu o mercado com força: obrigou a sacrificar milhões de animais
e fez disparar a demanda por carne de porco no resto do mundo. O impacto vai além, porque
também impulsionou a demanda por outros produtos de origem animal. “Os consumidores
chineses querem carne. E se não houver porco, procurarão alternativas como o frango,
[outras] aves e a carne bovina”, explica Drechsler.
Além desse fator conjuntural, os analistas detectam tendências de mais longa duração.
“Preparem-se para a próxima alta nos preços da comida”, diz o título de um relatório
publicado há um mês pelo departamento de análise do Nomura. “Desde 2010, os preços
vinham numa tendência de baixa. Mas há riscos, aos quais por enquanto não se deu a devida
atenção, de uma alta que poderia se prolongar por vários anos”, diz Rob Subbaraman, autor
do relatório, falando por telefone de Cingapura.
Outros fatores que explicam as tensões pelo lado da oferta são a falta de investimentos no
setor agrícola nos últimos anos —por causa justamente dos preços baixos dos últimos anos
— e a crescente demanda por carne, um setor que exige grandes extensões de terra e
quantidades de água —a qual é retirada, portanto, do cultivo de outros produtos. A guerra
comercial iniciada pelo Governo de Donald Trump joga mais lenha na fogueira das
incertezas.
“Vemos pistas de que os preços globais dos alimentos poderiam começar a subir em breve:
da peste suína africana na China aos incêndios catastróficos na Austrália, passando pelo
aumento do preço da cebola na Índia”, resume o relatório do banco japonês. A FAO prefere
não fazer previsões, mas admite os riscos da situação atual. Frente ao alarmismo, o
especialista Denis Drechsler insiste em contextualizar a atual elevação dos preços: "Alcançar
o nível máximo nos dois últimos anos pode assustar, mas é preciso recordar que estamos
em preços mínimos do ponto de vista histórico. Não vemos uma crise iminente”.
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