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EXPANSÃO URBANA E OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA UNIDADE DE

CONSERVAÇÃO (UCS) DA SABIAGUABA, FORTALEZA-CE

Matheus Vieira Rodrigues1, Ana Carla Oliveira de Barros1, Ana Jéssica Gomes Câmara1,
Daniel Victor Martins de Araujo1, David Dias de Carvalho1, Felipe Paula Maciel1, Gracielly
Barbosa Maia1, Ivanildo Fernandes Anselmo1, Jocilene Araujo Silva1, Matheus Domingos
Andrade de Sá1, Matheus Vieira Rodrigues1, Nayara Alexandre Alves1, Paulo Henrique da
Silva do Carmo1, Valdir Braga Abreu Junior1, Victor de Sena Rodrigues1, Wesley Gomes
Ferreira1, Wagner Vinicius Amorim2.

petcctuece@gmail.com1, wagner.amorin@uece.br2

PET Centro de Ciências e Tecnologias (PET - CCT), Universidade Estadual do Ceará


(UECE), Fortaleza, CE.

EIXO TEMÁTICO: Sustentabilidade como meio de Transformação

Resumo
O presente estudo tem por objeto de estudo a pressão do processo de urbanização no bairro
Sabiaguaba, localizado na cidade de Fortaleza-CE, no qual há uma área de preservação
ambiental, cujas problemáticas referentes ao processo de urbanização pelas quais vem
passando, por exemplo, com a construção e manutenção da CE-010 e da ponte que liga a
Avenida Dioguinho à CE, como também a gestão do Poder Público com relação às Unidades
de Conservação (UCs) do local que são a Área de Proteção Ambiental (APA) e o Parque
Natural Municipal de Dunas da Sabiaguaba (PNMDS) existentes naquela área nos levam
pesquisar, compreender, analisar os impactos socioambientais advindos da pressão da
expansão territorial urbana naquela área. Além desse enfoque, damos ênfase na mobilização
social e nos desafios dos moradores da comunidade local no âmago das ações das
Organizações Não Governamentais (ONGs) ambientais frente à essas questões.

Palavras – chave
Fortaleza-CE; Mangue da Sabiaguaba; Unidade de Conservação; Expansão urbana.
Introdução
A cidade de Fortaleza, capital do Ceará, passa por uma constante expansão territorial urbana
proveniente do desenvolvimento urbano-industrial desde a década de 1970 (SOUZA et al.,
2011) trazendo impactos para a referida área. Ao longo do século XX o aumento da atuação
antrópica acarretou impactos negativos para o meio ambiente, por exemplo, a contaminação
de recursos hídricos, dos manguezais, do solo e da zona costeira de um modo geral.
O bairro da Sabiaguaba (Figura 1) encontra-se em um ambiente de campos de dunas e
manguezais. Sua praia tem sofrido com um processo urbanístico para torná-la um ponto
turístico de Fortaleza. A partir disso, problemas ambientais gerados pela apropriação do meio
pelo homem devem ser analisados, objetivos do presente trabalho.

Figura 1: Fortaleza-CE - Localização das UCs e rodovias no bairro Sabiaguaba. 2018.

Fonte: PET-CCT (2018)

Na área em estudo, as dunas apresentam-se sob três aspectos morfodinâmicos: móveis, semi-
fixas e fixas. As dunas recentes ou móveis são formadas a partir da acumulação de sedimentos
removidos da face de praia. Normalmente ocorrem cobrindo a geração de dunas mais antigas,
embora, em algumas áreas, estejam assentadas diretamente sobre os sedimentos terciários da
Formação Barreiras (BRANDÃO, 1998). Entre as fozes dos rios Pacoti e Cocó, a morfologia
se encontra bem definida, na qual encontramos grande quantidade de rastros de migração de
dunas, formando por vezes dunas do tipo longitudinal. Estas são caracterizadas como
acumulações dispostas paralelamente ao vento dominante representando, portanto, formas
alongadas. Suas dimensões possuem extensão de várias centenas de metros com altura e
comprimento de algumas dezenas de metros (PINHEIRO, 2008).
A construção da ponte sobre o Rio Cocó, também conhecida como Ponte da Sabiaguaba,
iniciou-se em novembro de 2002, mas em março de 2003 foi embargada, em função de um
desmatamento considerável da vegetação de mangue e de cajueiros aos arredores da área,
mas, posteriormente deu-se continuidade à obra e ela foi concluída em 2010. Ligada ao final
da ponte, foi construída a CE-010 até o entroncamento com a CE-040, finalizada em 2018, a
qual, segundo o Governo do Estado do Ceará, é uma obra importante que visa a integração e
maior mobilidade entre os portos do Mucuripe e Pecém, principais portos do Estado do Ceará.
Após a construção desse trecho nota-se o problema do avanço da areia em direção às
rodovias, isso explica-se pelo fato de serem dunas móveis e sua movimentação é um processo
natural, ocorrendo com frequência em regiões litorâneas dominadas por ventos que sopram
costa adentro e essas condições são plenamente satisfeitas na região do litoral de Fortaleza
(BRANDÃO, 1998, p. 50). Visto isso, ocorre a retirada dos sedimentos das dunas da rodovia,
no entanto, o problema maior é o descumprimento do trato feito com os moradores e ONGs
que defendem a área, a realocação totalmente errônea e despreparada dos sedimentos da duna,
conhecida como Duna do Pôr do Sol da praia de Sabiaguaba.
Brandão (1998, p. 44) fala sobre os aspectos limitantes da região litorânea, cita o cuidado com
a implantação de complexos viários próximos destas regiões dunares. E é este o caso que
abordamos como objeto desta pesquisa, em cuja área de pesquisa vêm sendo retirados
sedimentos do campo de dunas móveis (na Sabiaguaba, bairro de proteção ambiental no
município de Fortaleza- CE) por atualmente existir a CE – 010, ligada a Avenida Dioguinho,
onde as mesmas cruzam a APA do Parque Municipal de Dunas da Sabiaguaba (PNMDS). A
retirada de sedimentos está acontecendo em função da justificativa que esta vem obstruindo a
via.
Segundo Mendonça (2002), o processo de industrialização e urbanização é um fator
preponderante para a alteração da dinâmica dos elementos da natureza, comprometendo a
qualidade de vida da população das mais variadas formas, sendo este um processo
impulsionador para a forte expansão imobiliária que está constantemente ameaçando o
sistema de dunas devido ao baixo custo e a facilidade da retirada da areia, assim, sendo alvo
da indústria da construção civil. A construção da ponte de 490 metros que liga o final da Praia
do Futuro II (ou Caça e Pesca) à praia da Sabiaguaba, passando sobre o rio Cocó, foi
responsável por diversos problemas ambientais.
Atualmente, o mangue e os campos de dunas encontram-se desprotegidos mesmo com a
existência de duas Unidades de Conservação: Área de Proteção Ambiental e o Parque Natural
Municipal de Dunas da Sabiaguaba (PNMDS) criados em 2006. Os campos de dunas
característicos da área são importantes elementos de manutenção de areia na praia e filtragem
da água.
Metodologia
Com a finalidade de entender os processos que ocorrem na Praia da Sabiaguaba, os
procedimentos metodológicos usados foram: o levantamento bibliográfico conceitual, que
abordou as dinâmicas costeiras, o processo de urbanização no litoral e impactos ambientais;
produção cartográfica para localizar espacialmente a área de pesquisa aplicando técnicas de
geoprocessamento e análise de dados; a análise jornalística, das leis, dos códigos para o
melhor entendimento da problemática em questão e que evidenciasse a atuação das ONGs e
dos moradores da área.
Após essa etapa procedeu-se com organização e compilação dos dados e das informações,
discussão e análise dos resultados e, finalmente, análise textual e redação do trabalho, com
vistas a apresentar e discutir os resultados dessa pesquisa que vem sendo desenvolvida pelo
PET-CCT desde o ano de 2018. Vale salientar que para além da pesquisa em si, o grupo tem
participado de ações sociais na área periódicas, como, por exemplo, participação nos mutirões
de limpeza do mangue.

Resultados e Discussão
Com a criação do Plano de Manejo de Sabiaguaba (2010) foram estabelecidas normas para o
uso sustentável da área e o manejo dos recursos naturais de forma correta. Segundo o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), de 18 de julho de 2000, em seu art. 27 e
parágrafos:

Art. 27. As unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo.


§ 1o O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua
zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o
fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades
vizinhas.
§ 2o Na elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo das
Reservas Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das
Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e
das Áreas de Relevante Interesse Ecológico, será assegurada a ampla
participação da população residente.
§ 3o O Plano de Manejo de uma unidade de conservação deve ser elaborado
no prazo de cinco anos a partir da data de sua criação.

A Área de Proteção Ambiental e o Parque Natural Municipal das Dunas de Sabiaguaba são
áreas de fiscalização dos órgãos públicos para o desenvolvimento sustentável local. Porém, a
utilidade desta área de proteção não é de utilidade simplesmente da comunidade que reside no
local, mas também de construções que sejam aprovadas pelo Conselho Gestor da Sabiaguaba
(CGS) criado pelo Decreto nº 12.970, de 26 de Junho de 2016, com a participação da
população em relação à necessidade do Poder Público, partindo do princípio que a APA tem
seus objetivos já definidos no processo de estabelecer ações de conservação ambiental e não
apenas de preservação. Isso demostra que a utilização da área pode estabelecer ações
indesejadas pelos membros da comunidade e afetando o espaço, trazendo perspectivas de
ocupação desordenada e/ou indesejadas pelos locais.
Vale ressaltar que Conselho Gestor da Sabiaguaba (CGS) foi constituído com o objetivo de
consolidar e legitimar o processo de planejamento e gestão participativa e tem um papel de
grande importância para a fiscalização, pois faz o acompanhamento da execução e aplicação
do Plano de Manejo das Unidades de Conservação da Sabiaguaba, garantindo o seu caráter
participativo, manifestando-se quando houver obra que cause impacto no entorno e auxiliar na
captação e otimização do recursos para o desenvolvimento sustentável das áreas protegidas. O
conselho gestor deve ter a representação de órgãos públicos, tanto da área ambiental como de
áreas afins (pesquisa científica, educação, defesa nacional, cultura, turismo, paisagem,
arquitetura, arqueologia e povos indígenas e assentamentos agrícolas), e da sociedade civil,
como, por exemplo, a população residente e do entorno, população tradicional, povos
indígenas, proprietários de imóveis no interior da UC, trabalhadores e setor privado atuantes
no local, comunidade científica e organizações não-governamentais com atuação comprovada
na área.

Conclusões:
As dunas são consideradas ecossistemas dinâmicos e frágeis devido a sua propensão às
mudanças espaciais e morfológicas, mesmo quando submetidas a pequenos stress ambientais.
Os impactos negativos da atividade humana em dunas costeiras têm sido consideráveis, e
muitas delas encontram-se em adiantado estado de degradação, sendo que em alguns casos
foram completamente removidas – tal é o caso da maior parte do litoral de Fortaleza, como a
Praia de Iracema, Mucuripe e Praia do Futuro. Nesse ritmo, trata-se apenas de uma mera
questão de tempo, para que se assente asfalto e “modernidade” no litoral de Sabiaguaba
(PINHEIRO et al., 2008).
Visto que o problema maior é o descumprimento do trato feito com os moradores e ONG’s
que defendem a localidade, visto que está sendo feita uma realocação totalmente errônea e
despreparada dos sedimentos da duna conhecida como Duna do Pôr do Sol da praia de
Sabiaguaba. Segundo a diretora e advogada do Instituto Verdeluz, uma das ONGs atuantes na
área, a ação aprovada pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA)
de retirada dos sedimentos dunares pelo Departamento Estadual de Rodovias (DER) como
alternativa menos degradante do que a construção da rodovia, estava sujeita à condicionantes
de recuperação da área degradada e retorno dos sedimentos para o Parque Municipal das
Dunas da Sabiaguaba, no entanto, o que foi visto no local foi a retirada não apenas da areia
que ocupava a rodovia, mas sim do corpo da duna, diferente do que foi acordado,
preocupando os ambientalistas a degradação do meio ambiente e as consequências futuras que
essa ação pode acarretar.
Em 2010 foi aprovado o Plano de Manejo para as duas UCs, no entanto, a comunidade
tradicional composta por cerca de 30 famílias que estão lá há mais de 100 anos, ainda espera o
documento ser efetivado. Segundo os moradores, nas duas unidades não existem placas ou
qualquer sinalização e nem fiscalização.
Placas informativas e orientadoras da importância e da diversidade socioambiental;
monitoramento; campanhas de educação ambiental; construções com práticas permaculturais
(único parque no Brasil com zoneamento permacultural) etc., não foram priorizadas (mesmo
estando projetadas e caracterizadas como fundamentais para a gestão das UCs) e, dessa forma,
gerando problemas sérios na continuidade das qualidades ambientais e nas importantíssimas
funções ecologias das dunas, manguezais, fauna, flora, reservas estratégicas de água doce do
freático, captura de dióxido de carbono, dissipadoras das ilhas de calor e amenizadora do
clima urbano, sítios arqueológicos, entre outras. Ressaltamos que a APA comporta-se como a
zona de amortecimento (exigência do SNUC) e deve ser tratada de modo especial, de modo a
minimizar possíveis impactos que possam interferir na qualidade ambiental do Parque.
Portanto, é necessária uma ampla campanha para que a sociedade conheça o plano de manejo,
uma vez que é esse o instrumento orientador das ações, programas, projetos e usos adequados
para essas fundamentais UCs e, dessa forma, assegurar e potencializar a qualidade de vida dos
fortalezenses e a biodiversidade.

Referências:

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