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Introdução
Na sociedade contemporânea brasileira, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem sido foco de atenção das políticas
públicas, pois a falta de alfabetização e educação básica não é apenas uma fonte de atraso social, mas é um grande obs-
táculo ao desenvolvimento econômico. Disso decorre que os programas mais recentes para a educação de adultos pre-
veem um tempo maior dedicado à alfabetização e pós-alfabetização, visando garantir maior domínio dos instrumentos
da cultura letrada, para que as pessoas possam utilizá-los tanto na vida diária como na continuação de seus estudos e
para o desenvolvimento profissional.
O sistema educacional brasileiro busca promover o desenvolvimento equitativo do País; no entanto, tem sido difícil
atender aos requisitos de democratização. Os diferentes níveis de educação estão marcados pela desigualdade regional,
pela diversidade social e étnica, que parecem perpetuar a desigualdade da sociedade brasileira através da educação, o que
vem a exigir uma atenção especial para a EJA. Nesse caso, não basta abrir salas de aulas para atender a essa modalidade
de ensino: é preciso um processo de ensino e aprendizagem adequado a esses estudos, o qual não pode ser uma repro-
dução de práticas pedagógicas dos ensinos fundamental e médio regulares.
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A Educação Matemática e a Educação Estatística na EJA
Para discutir a formação matemática e estatística dos educandos da EJA, inicialmente considera-se o pressuposto de
que o professor seja um profissional com capacidade de decisão e comprometido socialmente com a melhora cultural
do meio em que trabalha; portanto, precisa dialogar com seus alunos sobre o processo de ensino e aprendizagem dos
conteúdos a serem priorizados durante as aulas.
O processo de ensino e aprendizagem de Matemática e de Estatística na EJA deve incorporar à prática pedagógica
conceitos, procedimentos e atitudes relativos aos conhecimentos matemáticos e estatísticos que são desenvolvidos em
meio às vivências dos alunos e que emergem nas interações sociais, nas experiências pessoais e profissionais destes e in-
tegram sua cultura. A aquisição de tais conceitos pelos estudantes, por desenvolver seu racíocinio lógico, dedutivo, ana-
lítico e crítico, contribui para que exerçam sua cidadania e desenvolvam atividades profissionais diversificadas.
É necessário incorporar à Educação Matemática e à Educação Estatística os conhecimentos e os procedimentos
construídos e adquiridos nas leituras que esses jovens e adultos fazem do mundo e de sua própria ação nele, de manei-
ra a expandir e diversificar as suas práticas de leitura do mundo, possibilitando o acesso democrático à cultura letrada
(Fonseca, 2002).
A Matemática e a Estatística são ciências vivas, dinâmicas, produtos históricos, sociais e culturais. Nessa perspectiva,
as manifestações dos estudantes devem ser geradoras de situações-problema. Eles, cada um à sua maneira, resolverão os
problemas e as questões elaboradas ou apresentadas. Ao professor cabe a função de fazer o elo desse conhecimento do
cotidiano (informal) com o conhecimento científico (formal).
A Educação Matemática e a Educação Estatística são instrumentos para essa transposição, devendo fornecer subsídios
para que os alunos se tornem indivíduos independentes, competentes, críticos e confiantes nos aspectos relacionados a
essas áreas. Elas devem subsidiar e promover o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, possibilitando-lhes adquirir
capacidades para analisar e resolver situações problemáticas, seja no contexto escolar, seja no cotidiano de sua vida.
Isso remete à necessidade de viabilizar experiências escolares nas quais os alunos façam escolhas sobre o que e como
irão investigar. Para isso, o professor precisa orientá- los quanto aos objetivos do estudo e ao tipo de questões a que eles
procuram responder, quanto à natureza do fenômeno a ser estudado e às condições em que ele ocorre (Abrantes, 1994).
Durante o segundo semestre de 2010, desenvolvemos um projeto de formação contínua de professores de matemá-
tica que atuam na EJA junto à Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de São Paulo. Um dos focos abordados
foi a importância da Educação Estatística para os estudantes da EJA. A maioria dos professores que participaram dos
encontros de formação — aproximadamente 150 professores — não tem trabalhado Probabilidade e Estatística em suas
aulas.
Desenvolvemos, com esses professores, atividades relativas ao ensino e à aprendizagem da Probabilidade e da Esta-
tística, nas quais eles puderam solucionar problemas e realizar experimentos que lhes permitiram avaliar a importância
de incluir o estudo de tais temas em suas aulas.
Ao final dos encontros, deveriam elaborar uma proposta de trabalho com seus alunos, envolvendo uma das temáticas
abordadas nos encontros. Alguns desses docentes escolheram a Probabilidade e a Estatística. Apresentaremos a seguir
o projeto que dois professores enviaram, relatando o trabalho desenvolvido com os alunos.
Considerações
Percebe-se que os professores precisam inserir-se em processos de formação contínua que focalizem Combinatória, Pro-
babilidade e Estatística a partir de situações centradas na resolução de problemas, a fim de permitir ao aluno analisar
e utilizar procedimentos matemáticos e estatísticos, sem que necessariamente ele domine os conceitos formalmente.
Na EJA, a abordagem da Análise Combinatória deve focalizar o estudo sobre agrupamentos possíveis e a resolução
de problemas de contagem; não se deve envolver o estudo de fórmulas, mas trabalhar pelo princípio fundamental da
contagem. O estudo da Probabilidade deve ser centrado na realização de experimentos em que se possa observar o mo-
vimento aleatório presente nos fenômenos e nas propostas de situações-problema com temáticas diversas.
As atividades de ensino em estatística devem considerar a onipresença da variabilidade considerando a proposta de
problemas estatísticos, a realização de projetos de investigação estatística, a realização de experimentos e de confronto
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com simulações para exercitar a tomada de decisão.
Assim a Educação Matemática contribuirá de forma significativa para a formação dos educandos da EJA, viabilizan-
do que eles adquiriam maiores possibilidades, ao ocuparem seus espaços na vida em sociedade.
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Referências Bibliográficas
Abrantes, P. (1994). O trabalho de projeto e a relação dos alunos com a matemática. A experiência do projeto Mat 789. Lisboa:
Associação dos Professores de Matemática.
Fonseca, M. da C. F. R. (2002). Educação Matemática de jovens e adultos: especificidades, desafios e contribuições. Belo
Horizonte: Autêntica.
Lopes, C. E. (2010). Caderno de orientações didáticas para EJA -—matemática: etapas complementar e final. Secretaria Municipal
de Educação. São Paulo, SME/DOT.