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Feminismo 1

Tempo: 44'33”

Conversa com
Susana de Castro

Murilo: Olá, esse é o podcast Filosofia Pop. Eu sou Murilo Ferraz e aqui comigo está o
Marcos Carvalho Lopes, e hoje a gente recebe a Doutora em Filosofia e Professora da
Universidade Federal do Rio Janeiro, Susana de Castro. Esse é o nosso episódio de número
9 e hoje a gente vai falar sobre o Feminismo. Obrigado ao ouvinte Tiago Cieiro por deixar o
seu comentário e avaliação no iTunes. Um abraço para os ouvintes Felipe Ferrari, Luca
Oliveira e Juliano Silva que enviaram e-mail pra contato@filosofiapop.com.br abraço
também aos ouvintes Daniel Gotz, Rafael, Cristiano Machado, Daniel Caldeira, Adão
Cláudio, Emerson Carvalho, Maurício Silva, Marcos Ramon, Tales, Beatriz Gomes, Michele
Santos, Rafael Rodrigues e Tiago Weiner que deixaram seus comentários no site
Filosofiapop.com.br. No Filosofia Pop a gente pretende conversar sobre temas filosóficos
numa linguagem mais acessível. A ideia é usar também referências culturais como filmes,
músicas, programas de TV para ilustrar alguns conceitos e dialogar com ideias mais
próximas da gente. A cada quinze dias, sempre às segundas-feiras, a gente vai estar aqui
pra continuar essa conversa com vocês. Vamos então para nossa conversa sobre Feminino.

[música]

Murilo: Hoje a gente tem o prazer de receber a Susana de Castro que é Doutora em Filosofia,
professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e é coordenadora do Laboratório
Antígona de Filosofia e Gênero. Eu gostaria de pedir para você se apresentar primeiro pro
pessoal, pra quem não te conhece, dizer com o que você trabalha.

Susana de Castro: Eu sou professora de Filosofia da UFRJ, trabalho há algum tempo já com
as questões relacionadas a Filosofia e Gênero, publiquei um livro pela Manolo sobre as
mulheres nas tragédias gregas, e em seguida, pela Editora Sete Letras aqui do Rio de Janeiro
o livro Filosofia e Gênero.

Murilo: A nossa conversa de hoje vai ser sobre o Feminismo. E eu gostaria de começar

1
Essa é uma transcrição (sem revisão de conteúdo ou de vícios de fala) do episódio #009 do podcast filosofia pop
(filosofiapop.com.br). O programa é apresentado por Murilo Ferraz Franco e Marcos Carvalho Lopes. O bate papo
foi ao ar em 24 de Agosto de 2015.
2 #009-Feminismo

perguntando para você Susana: o que é o Feminismo?

Susana de Castro: Ah, o Feminismo é uma filosofia política, quer dizer, ela já vem de uma
trajetória, de uma discussão política acerca da igualdade de gêneros. Entre os dois gêneros,
o masculino e o feminino, se constata, historicamente, uma desigualdade de direitos. Então
é um movimento com uma pauta política reivindicatória, e também é um movimento que
questiona e discute o espaço da mulher na sociedade de uma maneira geral. O Feminismo
é uma discussão que se você for pautar, historicamente, ele inicia com a Revolução Francesa,
com o debate em torno da igualdade de direitos entre cidadãos da época, em que não se
configurava o espaço feminino. Aí foi que se criou essas discussões, a partir disso. A Mary
Wollstonecraft, que é uma inglesa, fez uma discussão em torno dessa questão. E depois a
gente vai ter os seus desenvolvimentos que vão culminar num movimento sufragista que
começou no início do Século XX pelo direito ao voto. Aí você vai ter os desdobramentos até
os dias de hoje. Mas o Feminismo é, principalmente, um debate político acerca da posição
da mulher na sociedade, o combate às desigualdades, desigualdades que são decorrentes
do seu papel, que é um papel servil e subalterno. Na maioria das vezes, isso ao longo da
História foi sendo, por conta das lutas foi sendo combatido. Hoje, você tem uma situação
diferente do que era há um século atrás, ou mesmo há duas gerações passadas, mas ainda é
um debate que está sendo travado em toda a sociedade.

Murilo: Como você vê o lugar da mulher hoje, na sociedade de hoje. Você acha que ainda
tem muita coisa pra ser alcançado pelo Feminismo? Como é que está esse avanço hoje?

Susana: É, o que eu havia dito, a luta é uma luta política, constante... Nós temos hoje uma
situação um pouco melhor, ou até bastante melhor do que era há um tempo atrás, mas você
percebe que ainda temos muita coisa a ser discutida, debatida. A questão da desigualdade
salarial é uma questão presente. A questão do modo como a mulher é abordada na
sociedade, sempre de acordo com o modelo de feminilidade muito objetificante. Isso não
está sendo discutido. E você acaba tendo como resultado, o que é a questão principal, a
desigualdade na política até, você não tem o reconhecimento da contribuição, da voz
feminina nos debates contemporâneos como ele poderia estar de uma maneira bem mais
aprofundada.

Marcos: Há uma divisão clássica, parece, de ondas de Feminismo, de duas gerações de


feminismo. Eu não entendo, eu queria que a Susana falasse um pouco sobre essas duas
ondas, sei lá, acha relevante essa divisão? Porque eu acho que tem uma espécie de evolução,
até de perguntas e interrogações que aconteceram historicamente.

Susana: É, interessante essas localizações de “ondas”, porque é uma luta histórica. Então
você tem a primeira onda que é o movimento sufragista do início do Século XX. Você vai ter
uma segunda onda que é da década de 70, que é chamada segunda onda, que é muito
influenciada pela obra da Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo. Essa segunda onda, ela
surge também dentro do contexto da, digamos, revolução sexual. A liberdade sexual da
mulher é um tema, mas também há a questão do combate, muito presente na obra da Simone
de Beauvoir, ao chamado Mito da Feminilidade ou o Eterno Feminino, que é essa noção de
que a mulher, ela é essencialmente mãe ou companheira do marido e sempre terá uma
posição subalterna ou servil, e não está... ela é preparada, ela nasce com destino ao
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casamento então ela é praticamente... na década de 70 ela tinha ainda acesso a educação
universitária, mas ainda era muito voltada pro destino: o objetivo é casar e ter filho. E essas
feministas na década de 70 vão reivindicar um espaço público na esfera tanto do trabalho
quanto na esfera social, de um reconhecimento a importância da contribuição, da
capacidade de articulação da mulher. Na década de 70 você vai ter essa segunda onda. A
terceira onda, ela surge posteriormente pra questionar a dimensão da interseccionalidade,
ou seja, as feministas da segunda onda foram consideradas representantes das mulheres de
uma classe média preocupada com a questão da inserção no trabalho e com uma marcação
de raça, mulheres brancas assim. Então as questões que a terceira onda passou a trazer
diziam respeito às questões, também, da mulher operária, das questões da mulher negra,
que não são as mesmas da mulher branca classe média. Isso surgiu na terceira onda, que,
hoje, questiona também questões relacionada à classe e raça. Hoje em dia você tem um
movimento que está dentro dessa terceira onda que a contribuição que a teoria queer traz
para a terceira onda. A teoria queer vai questionar também a heteronormatividade e vai dizer
que há questões que ultrapassam só a noção de uma mulher, somente a mulher
heterossexual, ou mesmo a transsexual. Todas essas questões do universo queer, que têm a
ver a questão da sexualidade, também passam a entrar na pauta do feminismo
contemporâneo, a questão dessa diversidade que está na pauta hoje, você vai ter autoras
que estão, hoje, sendo lidas como a Judith Butler, a Beatriz Preciato, que é agora é Paul
Beatriz Preciato, que também tratam de temas importantes para o Feminismo.

Murilo: Parece que tem uma intersecção, uma intersecção eu não sei, mas sim uma relação,
então, forte do Feminismo com outros pensamentos envolvendo gênero também fora de só
pensar em homem e mulher então, né?

Susana: Isso, exato.

Murilo: Pensando mais em questões de gênero de uma forma mais ampla.

Susana: É, gênero só temos dois, que é a questão do binarismo, a princípio só temos dois
gêneros, mas a própria noção de gênero, como já mostrava a Simone Beauvoir, é uma
construção cultural, as mulheres são condicionadas a um comportamento feminino, isso não
é biológico. E, essa corrente mais contemporânea vai dizer que até o biológico não é algo
essencial, necessário, o biológico também é algo que você pode transformar, a pessoa nasce
com um sexo biológico x, mas pode querer ou ter a necessidade de ser outro. E isso faz parte
do universo em que a gente vive, isso não é pra ser considerado uma anormalidade ou uma
degeneração, mas são as forma contemporâneas de se buscar a realização da sua satisfação
pessoal, com o seu corpo, com quem você quer ser. A questão do binarismo é uma questão
muito complicada na sociedade contemporânea. O mundo parece dividido em dois gêneros
quando essa fixação, ela é muito determinada pelos condicionantes culturais. Os
condicionantes culturais privilegiam normas e valores que dizem respeito à sociedade
patriarcal com privilégio para o homem branco CIS, como se dizem as trans, que ai esse vai
ter uma facilidade de adquirir o status quo que as outras identidades que saem desse núcleo,
elas vão ser sempre marginalizadas.

Murilo: Um ponto importante hoje, principalmente na Internet, eu acho, que as pessoas se


escondem um pouco achando que têm algum anonimato, você vê uma reação, um
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reacionarismo muito grande com as pautas feministas, inclusive, tem gente usando termos
como feminazi e tal, sempre se revoltando contra a luta feminista de igualdade. O que você
acha desse cenário hoje no Brasil principalmente?

Susana: A questão das redes sociais e da Internet há pouco eu vi alguma referência sobre
isso, você abre espaço para a manifestação de todos os tipos, né? E manifestações são muito
espontâneas, imediatas, não muito qualificadas. As pessoas não estão muito querendo
discutir, debater nada, elas estão assim, meio que buscando só provocação, criar polêmica.
Eu não sei se isso é sintoma de uma intolerância real ou mais porque a rede propicia esse
espaço para a provocação e essa reação assim espontânea. De qualquer maneira o Brasil
passa por uma situação, hoje, de manifestações de intolerância, de considerações que você
possa ter contra aquele que foge da norma, e são sempre de uma maneira, às vezes, muito
violenta. Mas cabe à sociedade combater esse tipo de atitude, de comportamento. De uma
maneira geral, você pode pautar sempre: a luta provocou reação, [isso vale para] qualquer
movimento. Hoje, você tem movimentos que são contra reação à atitude das mulheres que
estão reivindicando uma igualdade de direitos e um espaço mais igualitário da realização
da sua identidade, da sua liberdade de ser o que queira ser, da sua vontade de dizer o que
pensa sem temer uma censura. É uma disputa por espaço, o espaço de ser porta-voz de seus
próprios anseios e não aquela que vai escutar os outros falarem o que é melhor para ela.
Então esse espaço de disputa vai ter sempre uma contrarreação. Agora, a questão é saber se
essa contrarreação, ela vai continuar e por quanto tempo, aí a gente vai ter que ver. Mas é
normal que as pessoas se sintam afetadas porque elas... alguns, não estou dizendo que todos
os homens sejam assim, mas alguns preferiam aquele modelo de mulher boneca que não
oferece nenhum tipo de opinião, que não discute, que não reage. Esse modelo ainda é um
modelo que passa pelo imaginário de alguns jovens, não sei, mas pode ser que esteva com
data marcada para acabar. Não sei, talvez não.

Murilo: Não sei se é uma visão otimista também, achar que está com data marcada pra
acabar...

Susana: É, não, é otimismo. É porque as gerações novas, as jovens pelo menos, nas cidades
como o Rio de Janeiro assim, elas estão mais ousadas do que elas eram. Não sei. Acho que
ela não mais querendo ser subalternas e servis. Porque era o que se espera, né? Que elas
sejam... que elas possam frequentar as universidades, mas nunca disputando o espaço de...
sei lá, de liderança ou espaço de ser porta-voz de alguma coisa. Elas precisam saber sempre
o seu lugar, que é um lugar que não é de protagonismo. E me parece que as jovens não estão
mais querendo isso. Elas querem ser protagonistas das suas próprias histórias. E isso eu
acho é algo que está ocorrendo.

Marcos: Eu estava procurando aqui, demorei para encontrar, o nome de uma travesti do Rio
de Janeiro, a Indianara Siqueira, que ela tem aquela perspectiva sobre o binarismo. Ela quer
forçar a sua própria prisão, mostrando os seios em público para os juízes a julguem, já que
ela é um homem ela poderia andar sem camisa, né? Se colocarem ela na condição de homem
ela poderia andar sem camisa. Mas se criminalizam o corpo feminino, e a condenam por
isso, seria já o reconhecimento que as mulheres não têm os mesmos direitos. Então, em
vários lugares, ela tira a blusa, mostra os seios para forçar o poder público a se posicionar
em relação a isso. Até hoje, ela não consegue, não consegue ter o resultado que ela queria,
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que houvesse um julgamento da condição dela. Geralmente, o pessoal desvia, os juízes se


desviam de qualquer julgamento sobre isso. Só que é uma prática que mostra como o
binarismo acaba sendo problemático, como, muitas vezes, o corpo feminino é colocado
como perigoso no nosso cotidiano, não temos os mesmos direitos no cotidiano, não é?

Susana: É, é um pouco complexo, né, essa situação porque ela enquanto homem poderia
tirar a blusa, mas enquanto mulher ela seria... estaria se considerando que ela estaria
fazendo um atentado ao pudor. A questão do corpo feminino, ele é muito foco da mídia, da
propaganda, a mulher pode ser.… ela é, sempre foi, mais, hoje, em outras áreas uma grande
consumidora e também vendedora de produtos. Expor o corpo da mulher ao lado de um
produto é uma forma de você vender melhor um produto. A Sky, certamente, lucra tendo a
Gisele Bündchen vendendo a sua antena, porque vende melhor, é uma questão de mercado.
Agora, acaba objetificando essa imagem, essa imagem, ela fica muito desprovida de uma
alma pensante, ela é quase que uma... o equivalente ao produto. E é isso que é complicado.
O corpo da mulher, ele é objeto até de intervenção pública porque ela não pode dispor do
corpo se ela quiser interromper uma gravidez não desejada, o poder público não deixa.

Murilo: Uma questão que, hoje, muita gente fica se perguntando... como você já falou aqui
várias vezes que a luta feminina, ela vem até assim, ganhando espaço e mudou muita coisa
na sociedade, agora, tem uma coisa que entra em debate é se um homem pode ser
considerado feminista ou não. Eu queria saber o que você pensa sobre isso.

Susana: É, o que eu penso é o homem como antes, na sociedade segregacionista, o homem,


a mulher branca, sabem que estão, mesmo na sociedade que tem um racismo oculto, não
muito falado, existem privilégios derivados da sua condição física, o fato de você ter
determinada cor de pele já te favorece ou se você tem determinado gênero te favorece. O
fato de você nascer homem te dá privilégios numa sociedade patriarcal, porque você vai ser
aquele que vai ter acesso à facilidade pra conseguir empregos melhores remunerados, você
vai ser considerado alguém que já tem, intelectualmente, mais capacidade do que o outro
gênero. Tudo isso é privilégio. Então é muito importante que os homens reconheçam que
isso é dado como privilégio num primeiro momento. Agora, num segundo momento os
homens, claro, que podem ser feministas, porque é uma luta que diz respeito ao direito das
mulheres, junto com homens e com todos tipos de gêneros, de serem protagonistas das suas
próprias histórias. Porque a questão toda do Feminismo, marcadamente, de segunda onda,
é mostrar como a imagem do que é o feminino, do que é a mulher, é construída a partir de
uma ótica do que interessa à cultura masculinista. Então a gente não sabe nem que mulher
nós queremos ser, entendeu? Porque a mulher que nos disseram, nos condicionaram desde
o berço a ser é uma mulher que responde a um papel construído dentro de uma família
patriarcal, dentro de um estado patriarcal. Então, nem que mulher nós seremos a gente sabe.
Talvez nem se formos outras mulheres talvez os homens também sejam outros homens. É
uma questão ainda do futuro, né?

Murilo: Acho também que fica muito sobre um... uma questão só de um título também, né?
Acho que o importante, na verdade, é o homem reconhecer a importância e se policiar nos
seus comportamentos. Agora, se vai ser chamado ou não de feminista acho que é uma coisa
até meio irrelevante para o homem, né? Não sei também.
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Susana: Eu acho que é, politicamente, se autodenominar um homem feminista, eu acho


interessante. Mas, do ponto de vista do privilégio, isso em nada altera o privilégio inerente
a sua condição biológica inclusive. Mas é você reconhecer que as suas relações cotidianas,
os seus relacionamentos com as pessoas pode ser pautado por esse tipo de preocupação. É
importante. Reconhecer como pauta política, são poucos os que reconhecem.

Murilo: Entra numa questão também que você e a... também tem a Márcia Tiburi, que entra
nisso, que tem uma proposta de criação até de um partido, pra ter representatividade da
mulher nesse espaço político. Eu gostaria que você falasse um pouco sobre isso também,
sobre esse projeto como é que está?

Susana: É, o projeto está ainda em discussão. Você tem redes de feministas espalhadas pelo
Brasil inteiro. Existem partidos feministas na Espanha e na Alemanha, só que com pouca
representatividade. Acho que não conseguem eleger cadeira pro parlamento. Não tenho
esse dado muito claro. Mas é uma vontade política de você não ser mais, digamos assim,
“ah, é uma pauta importante para o PSOL, pensar as mulheres do PSOL.” Ou “é importante
do PT, as mulheres do PT.” Ao invés de ser o grupo à parte, tornar a pauta política do
partido, girar em torno de questões ligadas ao Feminismo, à luta pela igualdade de gênero,
que passa pelo aspecto político, né? Porque, tradicionalmente, há uma ideia de que o homem
representa um espaço neutro, de racionalidade neutra, né? O homem é o ser humano, então
você pode eleger um cara que está no parlamento que homem que está a ter representando.
Essa é a lógica, a racionalidade da política e até da Filosofia. Mas o fato da sua corporeidade
ser marcada por um tipo de experiência que não é o mesmo tipo de experiência que uma
mulher tem já te inviabiliza a ser o representante dela. Se a gente for falar assim, em termos,
físico, biológicos, você não vai conseguir dar conta dessa experiência que é a experiência de
ser mulher. Então, por isso precisamos eleger mulheres que nos representem. Essa que é a
ideia do partido que é uma Partida, porque o problema do partido que é uma construção
muito masculinista, essa ideia de representante, né? O cara é representante... rei é o
representante de Deus na terra. São sempre representantes, mas esse representante é o
representante que é o indivíduo também. Enquanto indivíduo, ele tem as suas
particularidades e essas particularidades são determinantes no modo como ele pensa. A
ideia de que a Filosofia, ela pode ser não corpórea muito vem disso, não reconhecimento do
seu espaço, do privilégio que você tem de ter determinado tipo de cor. A gente precisa falar
de representantes e o nosso Congresso é, historicamente, excludente pro espaço feminino.
Você tem uma maioria masculina, homens que governam o país, e ai é complicado.

Murilo: É, até pouco tempo atrás, pouquíssimo tempo atrás mulher não podia nem votar,
quanto mais ser votada. Então o...

Susana: É, não. E quando elas são votadas... essa é uma questão da Partida. Quando elas são
votadas elas não têm uma pauta feminista. As mulheres são votadas sem reconhecer que
elas precisam levar ou ser representantes de pautas que dizem respeito a questões da luta
da mulher. E elas vão para o Congresso e, muitas vezes, sem uma formação política, com
essa orientação, né? E ai fazem a política que é a política do mercado, mais racionaria que
existe.

Marcos: Se a gente sempre pensa de forma pragmatista, até no livro Filosofia e Gênero, há
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perspectiva sempre é de buscar o reconhecimento, mas também buscar políticas públicas


que levem a mudar a situação. Você acha que cotas, nesse caso, seria uma forma... cotas mais
efetivas, seria uma forma de trazer a mulher para o palco político? Não só para o palco
político, mas nas universidades também, porque nos departamentos, muitas vezes, você
tem o predomínio de homens e as mulheres não têm as mesmas condições, muitas vezes,
que os homens de formação ou de concorrer, porque tem muita dificuldade nesses múltiplos
papéis que a mulher tem que representar. Eu fiz um concurso para professor e concorri com
uma menina, ela tinha que voltar para casa rapidamente porque o filho dela era deficiente,
ela teve a gravidez durante o doutorado, e nós dois temos o título de doutor, só que eu
reconheço que não é uma luta justa, não é algo justo.

Susana: Hum hum.

Marcos: Talvez ela tivesse muito mais méritos e tivesse muito mais condições de representar
pautas do eu. Então você acha que a questão de buscar cotas seria algo importante nesse
sentido? Tem isso no horizonte? Da Partida?

Susana: É, eu acho que cotas é uma política pública, uma política interessante, acho
importante que se tenha, mas ela tem que vir acompanhada de política cultural. Política
cultural implica hoje... sim, falando concretamente, você lutar pelo seu espaço de articulação
de ideias, espaço de publicização das questões. Você tem que tornar à pauta da mídia
nacional as reivindicações das mulheres, mas se tornar público de uma maneira que não seja
marginal no jornal, entendeu? Tornar essas questões prioritárias, tornar essas questões como
questões de importância nacional. A questão do tratamento que as mulheres recebem nas
maternidades públicas, a questão essa que você fez referência, você tem um espaço de creche
muito mal suprido. Como é que você vai, ao mesmo tempo, trabalhar e cuidar do seu filho?
Essa distribuição dos papéis, como é que você distribuiu os papéis? A mulher trabalha, o
homem trabalha: quem vai tirar a licença maternidade vai ser só a mulher? Como é que vai
ser essa distribuição? Né? Essa sociedade precisa entender que não são as mães que são as
responsáveis, são as mães, os pais, a grande família. E tudo isso tem que tornar prioritário,
pauta nacional. Não sei como fazer isso, eu acho que cota não adianta, porque a cota nem
preenche. Os partidos não conseguem preencher 5% de vagas que eles teriam que ter.
Imagina se isso se tornar... agora, recentemente, a proposta era aumentar esse percentual e
não foi conseguido. Eu acho que tem de partir da questão cultural. E essa é a mais
complicada porque nós temos, na mídia, representantes femininos que são exceções, mais
essas exceções acabam se tornando modelo pra dizer “não, as mulheres já conquistaram
espaço”. Espaço na mídia, espaço na televisão, nos jornais. Mas elas são exceções porque
elas... a grande maioria dos articuladores de opinião nos jornais, os editorialistas, os âncoras:
são homens. E quando são mulheres, elas acham que não tem que ter uma pauta específica,
a pauta delas é uma pauta que diz respeito às grandes questões e que isso não envolve as
questões menores que é a mulher que tem cinco, seis filhos e cria sozinha numa favela do
Rio de Janeiro.

Marcos: A Susana escreveu sobre Lady Gaga, escreveu sobre a Xuxa, escreveu sobre a Marta,
eu queria perguntar para ela e pedir que ela me falasse da diferença entre essas rainhas, a
rainha dos baixinhos, a Xuxa, e a rainha do futebol, a Marta. Como as duas representam o
feminino? Eu sei que ela escreveu sobre isso por isso que eu estou pedindo para falar sobre,
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eu acho que dá um tema bom de diálogo.

Susana: É, a Xuxa, ela tem uma questão também racial, a Xuxa, ela é uma beleza platinada
de um modelo caucasiano, como os norte-americanos dizem. E a Marta não, ela é, digamos
assim, cabocla, né? Ela tem essa mistura, ela é popular nesse sentido. E os ideais que a mídia
propaga, do ideal da beleza, é muito essa beleza artificial que é a beleza da Xuxa, que é uma
beleza que não corresponde a nossa cultura mestiça, misturada, que é a cultura brasileira,
formada pela junção de pelo menos, sei lá, três raças, se isso a gente pode chamar de raça,
os brancos, os negros, os índios. Então a nossa realidade não é essa realidade “loura
platinada”, digamos assim, da Xuxa. Enquanto personagem, ela também reproduz um ideal
de feminino dócil, doce, meigo, enquanto a Marta, ela é agressiva, ela é durona, ela tem que
disputar espaço, ela joga futebol, que é uma área considera quase que domínio exclusivo
dos homens. Então ela enfrenta e enfrentou muitos preconceitos, tenho certeza, enquanto a
Xuxa foi seguindo aquela fórmula que é a fórmula da mulher que é modelo fotográfico,
depois posa pra revistas eróticas, tem relacionamento com homens, assim, de grande
projeção pública, e vão galgando espaço, espaço e culminou na história do Show da Xuxa,
no qual ela ganhou índices de audiências enormes. E aí o que a gente se questiona é isso, né,
a mídia também, ela reproduz papéis e incentiva modelos de mulheres que não ferem essa
condição, ela pode ser milionária, mas ela vai ser sempre aquela mulher meiga, dócil, quase
que subserviente de uma certa maneira, ela não vai querer uma mulher que seja agressiva e
que tenha opiniões próprias. E além do que o show era de uma burrice, de uma fraqueza
enquanto show, show de... sei lá se a gente pode chamar de educacional, mas não tinha nada
de educacional. Acho isso triste.

Marcos: Eu acho que é interessante, assim, eu tenho alunos aqui que vieram da... muitos
alunos africanos e eu mostrei pra eles uma foto do Show da Xuxa, eles perguntaram se,
realmente, aquilo era um show pra crianças. Eles ficaram assustados.

Susana: É, não, tem isso, é.

Marcos: Outra coisa também que eu acho que é interessante é quando você destaca como a
apresentação do corpo feminino no futebol pode ser, de certa forma, transformadora. Eu
acho que isso também é bem interessante, quando a mídia resiste a colocar em pé de
igualdade o futebol feminino e o futebol masculino... Há pouco tempo a gente teve Copa
do Mundo de novo e novamente não houve espaço para as mulheres, pra Copa do Mundo
feminina na mídia brasileira... Parece que é ameaçador realmente, né? Não temos essa
isonomia assim de representação. Esses corpos femininos que jogam futebol, eles
representam algum tipo de ameaça, e não é velada, acaba sendo explícita quando a mídia
esconde e não dá espaço, né?...

Murilo: Só um complemento também a esse comentário: uma vez perguntaram pro


presidente a FIFA, o Blatter, perguntaram pra ele o que poderia ser feito pra melhorar o...
até a audiência, a aceitação do futebol feminino no mundo. Aí ele falou que, talvez,
poderiam colocar shortinhos mais curtos nas mulheres, mais apertados.

Susana: É, complicado, né? Essa pergunta, ela pode meio que resumir até um pouco tudo
que a gente falou porque você tem que pensar que quem faz cobertura jornalística
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privilegia... a ênfase é uma ênfase sempre pelo tipo de sucesso que o sucesso do jogador
homem. Você vai ver a cobertura do Neimar, o que esse cara ganha em termos de dinheiro
e a diferença que ganha ele, o que ganha a Marta. Está certo que a mulher começou a jogar
futebol muito depois, né? Sempre foi um espaço muito masculino. Quando a mulher entra
no futebol, ela entra com uma... Maria de Chuteira, eu não sei como é que se chama, aquela
que vai ser a esposa do cara, o interesse dela é pela grana dele, enfim. Tem uns esteriótipos
assim. Mais é a dificuldade que você tem de reconhecer o papel, o protagonismo das
mulheres nos esportes, no jornalismo. Ela só vai ter um espaço nessas áreas se for dentro de
um padrão que é um padrão de um tipo de feminilidade muito voltado pros interesses de
um padrão masculino, de masculinidade. Então você vai ter a mulher que é aquela
preocupada com a sua apresentação física, vai ser aquela que vai ter sempre preocupação
com a juventude, com a magreza, que vai dedicar grande parte do seu tempo indo a
cabeleireiros, preocupada com dieta. Então não resta tempo pra nada, pra ela fazer mais
nada. Como é que você vai ser uma jogadora de futebol, uma recordista, preocupada em
saber se a maquiagem está correta? Então é um jogo duplo, você ao mesmo tempo estimula,
mas, no fundo, você queria que todas elas fossem as bonequinhas de luxo. Só que não dá,
não tem como você manter a preocupação com a própria aparência e preocupar-se como o
outro te vê. Ai você não consegue o foco necessário pra dedicar-se a atividade, que é a
atividade que te exige toda a atenção. E eu acho que essa contradição, as pessoas possuem
na mídia, no jornal. Ao mesmo tempo elas se alegram quando as mulheres ganham as
medalhas. Acho que nós, nesse último Pan-americano, as mulheres tiveram, acho que até
mais medalhas do que os homens. Os recordes estão vindo mais das mulheres, ou as
medalhas das mulheres do que dos homens.

Marcos: Eu queria falar da Mulher-Maravilha, eu acho que tem que falar da Mulher-
Maravilha. Só pra gente fechar. Eu acho que é importante.

Susana: Você quer que eu fale sobre a Mulher Maravilha?

Marcos: No sempre destaca... você escreveu sobre quadrinhos, né, e da importância que pra
você tem a Mulher Maravilha. Eu acho que esse lugar simbólico de um outro tipo de
representação da mulher é interessante ressaltar isso. Por que a Mulher Maravilha é
importante pra você?

Susana: Bom, a Mulher-Maravilha, ela, na verdade, foi objeto de uma pesquisa. Eu descobri
que para as mulheres norte-americanas, as feministas, a Mulher-Maravilha foi um modelo
de mulher porque ela estava ali concorrendo ao lado de figuras como Batman e Super-
Homem num espaço de protagonismo dentro das revistas, né? A DC Comics, ela tinha a sua
própria linha e era escrita por um cara, o Moulton2, que era um cara que era bígamo e tinha
um interesse em mostrar que a mulher, ela podia ser também... enfim, ter uma atitude mais
decisiva. Agora, o universo das histórias em quadrinho, pelo menos da Mulher-Maravilha
e Super-Homem, é bem maniqueísta, você não tem uma psicologia um pouco mais
complexa. Isso é uma coisa que eu também discuto no feminismo, discuto junto das minhas
colegas que estão nesse processo de formar a Partida, que a gente não pode ficar também
achando que o universo feminino é um universo do bem, do bom, que a sociedade vai ficar

2 William Moulton Marston (1893-1947)


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muito melhor se nós mulheres estivermos, assim, a frente das coisas. Acho que se a gente
cair nessa dicotomia de bem versus mal o nosso discurso não vai trazer muita mudança. E
a gente tem que entender que é complexa a situação toda, não existe o bem versus mal. O
que existe é um a disputa, uma luta, são relações... são pessoas que estão querendo ser
protagonistas e porta-voz dos seus anseios. E aí vai encontrar resistência, né? Mas não vai
significar que nós, mulheres, e os homens são maus. Tem mulheres que são tão perversas e
pérfidas quanto há homens que são bons e interessantes de qualquer maneira. Não sei. Eu
acho que a Mulher-Maravilha, ela é uma figura dentro do universo das histórias em
quadrinhos, que carece dessa complexidade psicológica. Ela entra dentro dessa dicotomia
dos bons contra os ruins, dos justos contra os injustos que acaba, assim, não sendo muito
interessante pra um debate mais qualificado. Mas é uma iniciativa boa em termos de
projeção, de visualização do que o potencial da mulher pode ser. Mas não adianta
reproduzir estereótipos, né? Não sei, isso é muito mais complexo. Eu estou aqui falando,
mas é muito mais complexo porque, de certa forma, ela é uma mulher, mas as atitudes dela
são muito definidas por um modelo masculino. Você teria que ler elas com mais cuidado
pra ver como ela foi projetada por uma cabeça masculina. Mas ela foi usada, na década de
70, como um modelo pras feministas. Só que lendo você vai entender que ela age de acordo
com um modelo que está na cabeça de um homem.

Murilo: É, bom, então eu acho que o tempo aqui já está bacana e a gente pode partir então
pras indicações.

[música]

Murilo: Então vamos agora começar aqui as indicações. Susana você tem alguma coisa pra
indicar pra gente hoje?

Susana: Olha, tem muita coisa legal que merece ser lido, dois livros que eu indico assim pra
quem está querendo entrar na questão do Feminismo, pelo menos da segunda onda, seria o
clássico da Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo, o clássico da década de 70 que é a
Germaine Greer, A Mulher Eunuco, que é um livro também muito interessante. E eu gosto
muito da Naomi Wolf, O Mito da Beleza. Todos esses três estão traduzidos, alguns podem
ser encontrados, talvez, na Estante Virtual, se já saíram do catálogo. Mas são livros muito
interessantes. Agora, em filmes você tem que... eu estou assim, pra ver, está na minha estante,
dois filmes que eu acho que podem ser interessantes pra ser vistos, o Maria Antonieta que
é uma personagem muito interessante, que ela também é trabalhada pelo Foucault no livro
Os Anormais. E o Biutiful, que é a história de um pai, a relação dele com os filhos. Enfim,
eu não vi esses dois filmes, mas eles estão na minha estante pra ver. Tem recentemente a
Ninfomaníaca do Lars von Trier que alguns consideram um pouco aquela versão mulher
masoquista, porque é o padrão homem sadista, uma mulher masoquista. Não sei, mas eu
gostei do primeiro, eu não vi o segundo. Filmes tem muito, filmes eu adoro filmes. Mas
filmes têm muita coisa boa sendo produzidas que merecem ser discutidas e debatidas. A
gente pode um dia fazer uma outra sessão só sobre filmes.

Murilo: Opa, seria...

Susana: Aí eu preparo melhor, assim...


11 #009-Feminismo

Murilo: Seria muito bacana, muito prazer.

Marcos: Filme de terror.

Susana: Ah é, filme de terror, tem coisas bem legais. A gente pode falar só sobre cinema, eu
vou gostar. De ouvir também as sugestões que vocês têm ai de filmes legais.

Murilo: Seria bem interessante. E o Marcos, Marcos você trouxe alguma indicação para a
gente Marcos?

Marcos: Tem dois livros aqui que são muito bons, recomendo. Um chama As Mulheres das
Tragédias Gregas, poderosas. Ele fala sobre aposição que as mulheres ocupam dentro das
tragédias gregas, como agentes, né? Então é uma investigação bem interessante da
Professora Susana de Castro da UFRJ. O outro é A Filosofia e Gênero, também da Susana
de Castro. E a Susana que foi minha orientadora, né. Então esses dois livros aqui eu
recomendo pra toda pessoa que quiser ter um primeiro olhar sobre o Feminismo de uma
perspectiva que seja mais prática, uma perspectiva pragmatista.

Murilo: Nós estamos chegando aqui ao fim do programa e eu queria agradecer muito a
Professora Susana por ceder esse tempo pra gente que o papo foi muito bom, foi muito
interessante, aprendi assim, muitas coisas mesmo sobre Feminismo, que pra gente que é
homem? É muito mais complicado tratar desse tema, tem que ter sempre uma voz feminina
porque a gente não sofre as mesmas pressões, as mesmas coisas que as mulheres sofrem na
sociedade, né?

Susana: Hum hum.

Murilo: Eu queria abrir aqui agora para você divulgar o seu trabalho, algum meio de contato,
enfim, fazer o jabá que você quiser aqui.

Susana: A conversa foi ótima, obrigada pela oportunidade de trocar ideias. No meu
departamento eu coordeno o Laboratório Antígona de Filosofia e Gênero, então eu convido
os ouvintes, as pessoas que estiverem ouvindo essa conversa, a entrarem no site do
Programa de Pós-graduação e Filosofia da UFRJ, o PPGF, lá tem o link, tem o bannerzinho
do Laboratório Antígona, clica e vai entrar no nosso blog. E o nosso blog tem todas as
informações sobre as nossas pesquisas. Lá vocês vão encontrar, vão acessar o filme que a
gente fez, o média metragem, O Fracasso dos Estereótipos de Gênero, que está no youtube,
mas pode ser visto ali diretamente. E a partir daí, eu acho que todos os e-mails estão no blog
e podem ser acessados e a gente pode estar mandando algum material de divulgação,
alguma coisa que queiram.

Murilo: Ok, a gente coloca todos os links, a postagem no site. Só agradecer novamente aqui
a presença da Professora Susana, que a conversa foi excelente mesmo, foi muito boa. E eu
peço pra você que está ouvindo agora, comentar lá nosso site o Filosofiapop.com.br, que a
participação de vocês é muito importante, dá muita força pra gente continuar o trabalho. Se
você quiser, você pode mandar também um e-mail para a gente pro
12 #009-Feminismo

contato@filosofiapop.com.br. Lá no site a gente vai colocar todas as referências, tudo que foi
citado aqui no episódio, link pra redes sociais também e para nossa página no Facebook. E
se você quiser ajudar a gente a crescer, a divulgar nosso trabalho para compartilhar esse
episódio e avaliar a gente também no iTunes que ajuda a gente a subir na classificação lá e
trazer mais ouvintes. Bom, obrigado a todos que participaram e daqui a quinze dias a gente
está de volta.

[canção Desconstruindo Amélia com Pitty]

Já é tarde, tudo está certo


Cada coisa posta em seu lugar
Filho dorme, ela arruma o uniforme
Tudo pronto pra quando despertar

O ensejo a fez tão prendada


Ela foi educada pra cuidar e servir
De costume esquecia-se dela
Sempre a última a sair

Disfarça e segue em frente


Todo dia, até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também

A despeito de tanto mestrado


Ganha menos que o namorado
E não entende o porquê
Tem talento de equilibrista
Ela é muitas, se você quer saber

Hoje aos trinta é melhor que aos dezoito


Nem Balzac poderia prever
Depois do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda vai pra night ferver

Disfarça e segue em frente


Todo dia, até cansar
E eis que de repente ela resolve mudar
Vira a mesa
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
13 #009-Feminismo

Já não quer ser outro


Hoje ela é um também

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