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Editores:
Marcos Carvalho Lopes e Pedro Acosta-Leyva
Mobilização política dos/as imigrantes africanos/as pela conquista de seus direitos no Ceará
Introdução
O presente artigo é parte de meus interesses de pesquisa, na atualidade, que visam além
de compreender as formas de negação de direitos aos/às imigrantes africanos/as no Brasil,
apreender suas formas de mobilizações individuais e coletivas para a conquista de seus direitos
na diáspora.
No meu artigo intitulado “Mobilização política dos imigrantes africanos no Atlântico
Sul pela conquista de direitos em São Paulo: o caso da morte da Zulmira em 2012”
(MALOMALO, 2016a), minhas análises focaram-se em único caso; e a metodologia proposta
além de ser interdisciplinar, privilegiou a abordagem de uma história social preocupada com a
preservação da memória de lutas coletivas.
Diferente do trabalho anterior, este texto foca, de um lado, suas análises sobre os
problemas enfrentados pelos/as imigrantes africanos no estado do Ceará, no período de 2012-
2015 que marca a estadia do seu autor na qualidade de migrante, ativista e docente. De outro
lado, preocupa-se em revelar as formas individuais e coletivas dos/as imigrantes africanos/as da
diáspora cearense de agir e resistir perante as diferentes formas de violências, racismo,
discriminação, preconceito, xenofobia e insegurança.
Divido o texto em quatro partes. A primeira trata dos procedimentos metodológico da
investigação; a segunda preocupa-se em explicar essas categorias analíticas: Poder simbólico
hegemônico, poder simbólico contra-hegemônico e a violência; a terceira analisa alguns casos de
violências, racismo e insegurança que afetam a vida de imigrantes africanos/as e a quarta mostra
de que forma estes articulam, de maneira individual e coletiva, suas agencias para defender seus
direitos.
1
Doutor em Sociologia, Docente no programa de Mestrado Interdisciplinar em Humanidades, Instituto de
Humanidades e Letras/Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, São Francisco do
Conde, Bahia, Brasil; líder do Grupo de pesquisa África-Brasil: Produção de conhecimento, Sociedade civil,
Desenvolvimento e Cidadania Global; integrante e fundador do IDDAB. Contato: basilele@UNILAB.edu.br
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Bas’llele Malomalo
2
Cf. GOMES, Marianna. Africanos quebram barreiras, mudam cenário e já somam mais de 2 mil no Ceará. Tribuna,
Fortaleza, 02 set. 2015. Disponível em: http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/cotidiano-2/africanos-quebram-
barreiras-e-ja-somam-mais-2-mil-no-ceara/. Acessado em 2 set. 2015; PEREIRA, Gino. Origem e destino dos
estudantes africanos. Os programas não estão preparados logisticamente para receber os estudantes. O Povo,
Fortaleza, 16 set. 2015. Disponível em:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2015/09/16/noticiasjornalopiniao,3504621/origem-e-destino-dos-
estudantes-africanos.shtml. Acessado em 16 set. 2015.
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Mobilização política dos/as imigrantes africanos/as pela conquista de seus direitos no Ceará
3
Para mais detalhes: SCHUCMAN, Vainer Lia; CARDOSO, Lourenço Conceição. Dossiê Branquitude. Revista da
ABPN, v. 6, n. 13, mar.-jun. 2014, p. 1-251.
4
A feminização das migrações é um dos assuntos dos debates atuais para quem trabalha no ou estuda este campo.
No último Fórum Social Mundial das Migrações, ocorrido em São Paulo, de 07 a 10 de julho de 2016; e nos
seminários internacionais que temos organizado (IX Seminário de Mobilidade Humana & I Seminário Internacional
Migrações e Diásporas Africanas, Unilab/Ceará, de 17 a 18 de setembro de 2015; X Seminário de Mobilidade
Humana & II Seminário Internacional Migrações, Diásporas Africanas e Cooperação Sul-Sul, Unilab/Ceará, de 18 a
19 de outubro de 2016), o reconhecimento da sua relevância tem levado os/as organizadores/as a criarem GTs
específicos sobre esse tema. A Revista Interdisciplinar de Estudos de Mobilidade Humana publicou um dossiê sobre
o tema: REMHU. “Feminização das migrações”. Vol. 15, n. 29, p. 1-216, ano XV, 2007. Disponível em:
http://www.csem.org.br/remhu/index.php/remhu/issue/view/4. Acessado em: 05 jan. 2016.
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5
A teoria de campo de Bourdieu continua a orientar o nosso olhar sobre as temáticas de gênero e movimentos
sociais, tendo-se em conta esses textos: BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2003; ______. Conferência do prêmio Goffman: A dominação masculina revisitada. In: LINS, Daniel. A
dominação masculina revisitada. Campinas: Papirus, 1998, p. 11-27; ______. Contrafogos: táticas para enfrentar a
invasão neoliberal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; ______. Contre-feux 2: Pour um mouvement social européen.
Paris: Raisons d’agir, 2001;______. Si le monde social m´est supportable, c´est parce que je peux m´indigner. Paris:
Éditions de l´aube, 2001; ______. Intervention, 1961-2001: sciences sociales et action politique. Marseille: Agone,
2002.
6
A teoria de Bourdieu tem recebido também críticas de ser reproducionista, não dar magem à liberdade dos agentes
sociais ou às mudanças social (DEVREUX, Anne-Marie. Pierre bourdieu e as relações entre sexos: uma lucidez
obstruída. In: CHABAUD-RYCHTER, Danielle et al. O gênero nas Ciências sociais: releitura críticas de Max
Weber a Bruno Latour. Brasília/São Paulo: UNB/UNESP, 2014, p. 85-103; BONNEWITZ, Patrice. Primeiras lições
sobre a sociología de P. Bourdieu. Petrópolis: Vozes, 2003). Embora tenha respondido a essa crítica, por exemplo,
no Prefácio de “A dominação masculina. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003”; o mais importante é se
apropriar critica e criativamente da sua teoria levando-se sempre em conta os contextos de novas pesquisas. Há
também críticas em relação aos equívocos de Bourdieu e do seu discípulo Wacquant sobre as relações raciais no
Brasil que eles acham ser uma reprodução da política racial dos movimentos negros dos Estados Unidos
(HANCHARD, Michael. Política transnacional negra, antiimperialismo e etnocentrismo para Pierre Bourdieu e Loïc
Wacquant: exemplo de interpretação equivocada. Estudos Afro-Asiáticos, ano 24, n. 1, p. 63-96, 2002).
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A ação social, como toda ação, pode ser determinada: 1) de modo racional referente a
fins: por expectativas quanto ao comportamento de objetos do mundo exterior e de
outras pessoas, utilizando essas expectativas como “condições” ou “meios” para
alcançar fins próprios, ponderados e perseguidos racionalmente, como sucesso; 2) de
modo racional referente a valores: pela crença consciente no valor – ético, estético,
religioso ou qualquer que seja sua interpretação - absoluto e inerente a determinado
comportamento como tal, independentemente do resultado; 3) de modo afetivo,
especialmente emocional: por afetos ou estado emocionais atuais; 4) de modo
tradicional: por costume arraigado (WEBER, 2004, p. 15).
Como se pode perceber em Weber, toda ação social encontra a sua legitimidade na
razão, nos valores (éticos, estéticos ou religiosos), na emoção e na tradição. Esse outro trecho
dele é crucial para pensarmos toda a ação social – inclusive a noção do poder - na sua relação
com a história, na perspectiva das epistemologias do Sul subalterno e dos Estudos Africanos
(MALOMALO, 2014; SANTOS; MENESES, 2010). “A ação social [...], afirma Weber, orienta-
se pelos comportamentos de outros, seja este passado, presente ou esperado como futuro. Os
“outros” podem ser indivíduos e conhecidos ou uma multiplicidade indeterminada de pessoas
completamente desconhecidas [...]” (WEBER, 2004, p. 13-14).
Embora Weber seja um autor cujo pensamento privilegia à racionalidade ocidental, pode
se perceber que compreendia que a análise de uma ação humana deve levar em conta as
influências dos comportamentos de agentes que compõem a história de uma sociedade. Esta é
composta pelo presente, passado e futuro. Dessa forma, a concepção global da história dos povos
não europeus que os estudos da complexidade, as epistemologias do Sul e a História da África
reivindicam, encontra todo seu sentido na proposta de Weber. Dito em outras palavras, na
contemporaneidade, exige-se que se abandone a concepção linear da história - e temos
consciência que isso não é o forte de Weber – para uma concepção circular; e unilateral para uma
concepção holística, isto é, que leva em conta que a história é construída a partir das ações de
grupos sociais que as legitimam na sua razão, nos seus valores, nos afetos e nas tradições
(SANTOS, 2003; MALOMALO, 2016b).
Dito isso, compreendo que o poder é antes de mais nada uma ação humana e suas
motivações são várias. Qualquer definição de um conceito exige nos alinhar a partir de uma ou
mais de uma perspectiva teórica. Retomo aqui a definição do poder simbólico de Bourdieu, por
considerá-la uma das formas perfeitas de traduzir várias tradições sociológicas (neo-kantiana;
estruralista; marxista).
O poder simbólico, poder subordinado, é uma forma transformado, quer dizer, irreconhecível,
transfigurada e legitimada, das outras formas de poder: só se pode passar para além da
alternativa dos modelos energéticos que descrevem as relações sociais como relações de força e
os modelos cibernéticos que fazem delas relações de comunicação, na condição de se
descrevem as leis de transformação que regem a transmutação das diferentes espécies de capital
em capital simbólico e, em especial, o trabalho de dissimulação e de transfiguração (numa
palavra, de eufemização) que garante uma verdadeira transubstanciação das relações de força
fazendo ignorar a violência que elas encerram objectivamente e transformando-as assim em
poder simbólico, capaz de produzir efeitos reais sem dispêndio aparente de energia.
(BOURDIEU, 2002, p. 15; grifos nossos).
Recuperando Weber, compreendemos que toda ação humana tem seus motivos; e
comportam seus fins. Com Karl Marx e Friedrich Engels (1973), compreendemos que as classes
lutam para preservar seus interesses. O que Bourdieu interpreta como a luta estabelecida no
campo pelas classes para a apropriação do poder simbólico.
Quando visto do ponto de vista de grupos dominados, como faz a tradição marxista,
percebe-se que os “interesses” das ações dos grupos dominantes e grupos dominados são
diferentes (MARX; ENGELS, 1973). Os dos primeiros grupos tendem para a dominação ou a
manutenção do sistema. Parafraseando Agamben (2015), trata-se de um poder político soberano
que transforma as formas de vida em vida-nua, isto é, corpos destituídos do direito à vida. A
biopolítica é a melhor forma que os poderosos encontraram para controlar as vidas de seres
humanos, especialmente, a vida dos povos que pensam, agem ou querem pensar e/ou agir de
diferentes formas. O texto do referido autor torna-se interessante por colocar no centro da
discussão a vida dos/as imigrantes na contemporaneidade que, frequentemente, se veem
desprovidos de seus direitos da parte daqueles que acham que têm o poder de decidir sobre suas
vidas.
Para ser justo com Bourdieu (2001, 2002, 2003), deve se dizer que a sua teoria de
campo, ao definir as estratégias que cada classe elabora dentro de um determinado campo na
disputa do poder simbólico do mesmo, ele tem o cuidado de diferenciar o que são as estratégias
de manutenção da doxa, isto é, da ordem estabelecida, das estratégias de subversão. É
exatamente essa diferenciação que nos interessa e nos leva a lidar com outras tradições teóricas
construída a partir do Sul global subalterno (SANTOS; MENESES, 2010).
Dessa forma, compreendemos que as ações dos grupos dominados tendem a reverter a
ordem estabelecida; tendem a ser ações de enfrentamento, resistência e subversão. Parafraseando
Agamben (2015), trata-se de um poder político popular que transforma as formas de vida em
vida política, isto é, repletas de potências e possibilidades de criar seus modos diferentes de
viver, pensar, agir e criar a felicidade.
O projeto epistemológico de Boaventura de Sousa Santos me interessa não somente pelo
fato de pensar o mundo em consideração aos povos do Sul global, mas também, pela sua
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Bas’llele Malomalo
Para os objetivos analíticos deste livro [texto], considero ser hegemônico, no nosso tempo, uma
rede multifacetada de relações econômicas, sociais, políticas, culturais e epistemológicas
desiguais nas interações entre três estruturas principais de poder e dominação – capitalismo,
colonialismo e patriarcado – que definem a sua legitimidade (ou dissimulam a sua
ilegitimidade) em termos do entendimento liberal do primado do direito, democracia e direitos
humanos como a personificação dos ideias de uma boa sociedade. Paralelamente, considero ser
contra-hegemônica a mobilização social e política que se traduz em lutas, movimentos ou
inciativas, tendo por objetivos eliminar ou reduzir relações de autoridade partilhada,
recorrendo, para isso, a discursos e práticas que são inteligíveis transnacionalmente mediante
tradução intercultural e articulação de ações coletivas. (SANTOS, 2014, p. 35).
conjunto de ações mobilizadas pelos grupos dominados para resistir, subverter ou revolucionar o
campo das relações de forças que os oprimem, portanto, almejando a emancipação.
Todavia é preciso alguns cuidados como nos alerta Santos (2014), pois “em alguns
domínios de interação global o binário hegemônico/contra-hegemônico não cobre todo campo
das possibilidades” (p. 35). E ele estava se referindo a atuações sociais que não são nem
hegemônicas, nem contra-hegemônicas. Nesse sentido, considera não hegemônicas – esse é o
terceiro conceito que ele traz – as atuações sociais (lutas, iniciativas e práticas) que resistem
contra formas hegemônicas de dominação, mas visariam substituí-las por outras formas de
dominação que reproduziriam ou mesmo agravariam as desigualdades das relações de poder
social. O que se percebe é que as práticas não hegemônicas são aquelas que não são nem
hegemônicas, nem contra-hegemônicas. Oscilam entre os dois polos.
Do nosso ponto de vista, para saber se o poder simbólico de um agente deve ser
qualificado como violência, isto é, uma ação com fins de dominação; ou se deve ser qualificado
como emancipação, dependerá da avaliação que se faz sobre todo processo de produção das
relações de poder simbólico (BOURDIEU, 2005). Assumindo o ponto de vista dos oprimidos do
Sul subalterno, de forma particular de africanos/as e seus/suas descendentes (FANON, 1979;
NASCIMENTO, 1978; MORRE, 2007; MALOMALO; FONSECA; BADI, 2015), uma ação
humana é classificada como violência quando viola os direitos de existência de um povo, classe,
grupo social ou uma raça. Violência é diferente de uma simples coerção ou de uma força. Nesse
sentido é que todo poder simbólico é hegemônico quando concentra de forma vertical todo poder
para um grupo social negando as liberdades e direitos de outros grupos (tratarei disso nas páginas
a seguir). De lado oposto, todo poder simbólico é declarado emancipatório quando visa, mesmo
que de forma ambígua, a expansão dos direitos das pessoas e da coletividade. Dentro desse tipo
de prática, sem negar as relações de forças que ocorrem entre os diferentes agentes sociais, se
manifesta de forma horizontal e participativa. Considero nesse texto, as ações usadas para
discriminar, excluir, privar os imigrantes de seus direitos de cidadania como constituintes do
poder simbólico hegemônico; e as ações contrários como parte do poder simbólico contra-
hegemônico, isto porque são práticas e iniciativas que visam a ampliação da dignidade humana.
O segundo conceito que pretendo qualificar é da violência simbólica.
A dominação, para Bourdieu, é resultado de violência simbólica que é uma prática que
acontece de forma invisível. É interessante o empreendimento analítico feito por ele, porém
considerando os aportes de outros estudos sobre a violência na contemporaneidade, prefiro lançar
mão a esses para conseguir um conceito analiticamente mais amplo. Ou, seja, emprego o
conceito de violência aqui na sua multidimensionalidade e interseccionalidade, considerando
suas dimensões simbólicas e físicas.
Começo com o trecho de um texto de Maria Cecília de Souza Minayo em que se esforça
em conceituar a violência e desde o início faz observar que se trata de um fenômeno de
causalidade complexa.
A violência não é uma, é múltipla. De origem latina, o vocábulo vem da palavra vis que
quer dizer força e se refere às noções de constrangimento e de uso da superioridade
física sobre o outro. No seu sentido material o termo parece neutro, mas quem analisa os
eventos violentos descobre que eles se referem a conflitos de autoridade, a lutas pelo
poder e a vontade de domínio, de posse e de aniquilamento do outro ou de seus bens.
Suas manifestações são aprovadas ou desaprovadas, lícitas ou ilícitas segundo normas
sociais mantidas por usos e costumes naturalizados ou por aparatos legais da sociedade.
Mutante, a violência designa, pois – de acordo com épocas, locais e circunstâncias –
realidades muito diferentes. Há violências toleradas e há violências condenadas.
(MINAYO, 2005, p. 14).
Em seguida, a autora argumenta que a maior parte das dificuldades para conceituar a
violência vem do fato dela ser um fenômeno da ordem do vivido e cujas manifestações provocam
ou são provocadas por uma forte carga emocional de quem a comete, de quem a sofre e de quem
a presencia. Para entender sua dinâmica na realidade brasileira, ela sugere que se compreenda
conjuntamente a visão que a sociedade projeta sobre o tema, recorrendo-se à filosofia popular e
ao ponto de vista erudito. Ela identifica que: 1. “os eventos violentos sempre passam pelo
julgamento moral da sociedade” (p. 13); 2. para o senso comum, a violência é vista como crime,
corrupção e pecado. A violência dominante na consciência contemporânea é a criminal e
delinquencial; 3. para a visão erudita, a violência é vista como um fenômeno interiorizado na
“consciência; é a negação de direitos, instrumento de poder e portadora de especificidade
histórica” (p. 15).
Interessa-me o segundo ponto em que Minayo (2005) destaca o julgamento moral que a
sociedade tem sobre o tema da violência. A sociedade significa aqui a visão do senso comum e a
visão dos cientistas sobre a violência. O terceiro levantado por Minayo, que faz parte das
preocupações de nossos esforços teóricos, é a concepção científica sobre a violência como
fenômeno social.
Dito em outros termos, partindo das epistemologias do sul global subalterno e
compreendendo que não existe a neutralidade científica, ou seja, tendo em conta que toda ação
humana, inclusive a científica, fundamenta-se numa complexidade de motivações de ordem
racional, ética, estética, emocional, política e econômica, considero como violência toda ação que
afeta negativamente a sociedade ou uma parcela dela.
Quanto à contribuição dos cientistas, tomo como relevante essas considerações de
Minayo para o propósito deste trabalho.
Filósofos e cientistas também têm contribuído para pensar o assunto. Domenach (1981),
um dos grandes pensadores sobre o tema, sublinha a idéia de que a violência está inscrita
e arraigada não só nas relações sociais, mas principalmente, é construída no interior das
consciências e das subjetividades. Portanto, esse fenômeno não pode ser tratado apenas
como uma força exterior aos indivíduos e aos grupos. Sua visão se projeta na direção
contrária ao senso comum que costuma colocá-la como um fenômeno sempre produzido
pelo “outro” [...]. (MINANYO, 2005, p. 15).
Aqui volto a alguns elementos que considero importante na definição de violência proposta pela
Minayo (2005) que tinha mencionado anteriormente. A violência deve sempre ser tratada
teoricamente no plural. “A violência não é uma, é múltipla” (MINAYO, 2005, p. 14); é um
“fenômeno empírico mutante, já que plural, polissêmico e referido aos valores e à cultura.”
(PORTO, 2016, p. 90). No esforço de classificar as formas de violência, Minayo e Capurchande
(2011, p. 61-74) identificam esses tipos: Violência criminal; violência estrutural; violência
institucional; violência interpessoal; violência intrafamiliar; violência auto-infligida; violência
cultural; violência de gênero; violência racial ou étnica violência contra a pessoa deficiente.
“De origem latina, o vocábulo vem da palavra vis que quer dizer força e se refere às
noções de constrangimento e de uso da superioridade física sobre o outro” (MINAYO, 2005, p.
14). Hannahh Harendt (2016) já estabeleceu a distinção entre força: “deveria indicar a energia
liberada por movimentos físicos ou sociais” (p. 61), e violência: distingue-se por seu “caráter
instrumental; opera como ferramentas planejadas e usadas com o propósito de multiplicar o vigor
natural até que, em seu último estágio de desenvolvimento, possam substitui-lo” (p. 63). Para
sairmos dessas guerras teóricas, sugiro considerar a força, o poder, a violência como ações
sociais carregadas de fins e interesses a serviço de seus agentes. Desse ponto de vista, a violência
é toda ação executada por um agente para dominar um outro agente. Trata-se eticamente de uma
ação negativa que impede que os outros façam o gozo de seus direitos de cidadania.
Em outras palavras, essa sentença de Minayo (2005, p. 14) que vê a violência como
“constrangimento e [...] uso da superioridade física sobre o outro”, nos permite observar que são
os agentes detentores do poder simbólico hegemônico que executam ações de violência sobre os
outros. A teoria de poder simbólico de Bourdieu (2005) nos alertou para ampliarmos a nossa
compreensão sobre as formas não físicas das violências. Ademais, nos exige considerar os
tempos, espaços e interesses que motivam as tomadas de posições dos agentes que comentem a
violência ou que são vítimas delas.
Nesse sentido a definição que Minayo e Rehana Dauto Capurchande nos sugerem, no
seu texto intitulado “A violência faz mal à saúde e à qualidade de vida: conceitos, teorias e
tipologia de violência”, torna-se plausível para os efeitos da nossa proposta: “Não se conhece
nenhuma sociedade totalmente isenta de violência. Ela consiste no uso da força, do poder e de
privilégios para dominar, submeter e provocar danos a outros: indivíduos, grupos e
colectividades” (MINAYO; CARPURCHANDE, 2011, p. 44). Dito de outra maneira, a
violência é um meio que as classes dominantes usam para dominar os outros. Ao agir dessa
forma, negam liberdades das pessoas e das coletividades.
“No seu sentido material, o termo parece neutro, mas quem analisa os eventos violentos
descobre que eles se referem a conflitos de autoridade, a lutas pelo poder e a vontade de domínio,
de posse e de aniquilamento do outro ou de seus bens” (MINAYO, 2005, p. 14). Essa situação
nos convida a encarrar a prática das Ciências Sociais do ponto de vista do materialismo histórico,
isto é, partindo do concreto, das experiências cotidianas. Isso que chamo de prática da
bioepistemologia (MALOMALO, 2017a); ou o princípio epistemológico que Guerreiro Ramos
(1995) denomina de se estudar o “negro desde dentro”. Como já afirmei, nessa nossa perspectiva,
não há neutralidade científica; os conceitos que os/as cientistas produzem para analisar os
fenômenos sociais, partem de suas realidades históricas e subjetivas. Por isso, a nossa recusa em
equiparar a violência, no sentido que empregam aqui, à força ou à coerção durkhemiana
(DURKHEIM, 1978).
Trago essa definição da violência de Porto para consolidar a definição que estou
sugerindo.
Violências poderiam, então, ser consideradas como negação da alteridade. Lembrando
que tal alteridade não se coloca em relação a um sujeito indefinido, mas, ao contrário,
face a alguém que tem cor, sexo, idade, além de outros caracteres distintivos, o que
acaba por colocar em ação a sujeição criminal de que fala Michel Misse (2008). Não
sendo definitiva, ou conclusiva, é uma definição que permite refletir teoricamente e
trabalhar empiricamente, reconhecendo o caráter finito, dinâmico e mutante da realidade
social e, em consequência, da teoria que reflete sobre ela. (PORTO, 2016, p. 105)
As ações de violência, que abordaremos nesse trabalho e me pautando nas reflexões da
Conferência de Durban, nos relatórios de PNUD e ACNUR7 (entre outros), referem-se ao
racismo, à discriminação racial, à xenofobia e às intolerâncias correlatas; ao preconceito racial,
ao machismo, à insegurança que afetam os/as afrodescendentes e os/as imigrantes africanos/as no
7
CONFERENCIA MUNDIAL CONTRA O RACISMO, a discrimina racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas.
Durban, 31 de agosto a 08 de setembro de 2001. Disponível em:
http://www.unfpa.org.br/Arquivos/declaracao_durban.pdf. Acessado em 10 jan. 2016; PNUD. Relatório do
Desenvolvimento Humano: Racismo, pobreza e violência – Brasil 2005. Disponível em: <www.pnud.org.br>.
Acessado em : 15 dez. 2005;ACNUR. Tendencias globales : Desplazamientos forzados en 2016. 2017. Disponível
em: http://s3.amazonaws.com/unhcrsharedmedia/2017/2017-06-19-Global-Trends-2016/2016_TendenciasGlobales-
ESP-BAJA.pdf. Acessado em 20 de janeiro de 2017
mundo e no Brasil. Este país é o campo da minha análise. Compreendo que há um racismo anti-
negro/a e esse afeta de forma brutal e particular os/as imigrantes africanos/as que se
encontrarem em situação de vulnerabilidade pela simples condição de serem imigrantes e de não
dominarem a gramática do racismo à brasileira. O que reforça duplamente a sua discriminação.
Em relação às mulheres africanas imigrantes, essa violência se amplifica por causa do machismo
(LANGA, 2016).
Por fim, essa afirmação de Minayo precisa ser aproveitada para nossas reflexões
conceituais iniciais:
Suas manifestações [da violência] são aprovadas ou desaprovadas, lícitas ou ilícitas segundo
normas sociais mantidas por usos e costumes naturalizados ou por aparatos legais da sociedade.
Mutante, a violência designa, pois – de acordo com épocas, locais e circunstâncias – realidades
muito diferentes. Há violências toleradas e há violências condenadas. (MINAYO, 2005, p. 14).
Volto a insistir sobre a diferença que se deve estabelecer entre atos coercivos, - que
visam certos fins educativos, reparatórios ou compensatórios entre indivíduos, grupos sociais ou
instituições -, e atos de violência. Sem essas distinções, como estou tentando mostrar aqui, corre-
se o risco de confundir a violência com a força ou a coerção social. Essas últimas ações mesmo
quando se realizam contra a vontade dos agentes a eles subjugados, visam até certo ponto, ou
idealmente falando, a emancipação, o estabelecimento da ordem social referendando-se na justiça
e na ética. A violência como a emprego aqui, parafraseando Arendt (2016), é o uso de um
conjunto de instrumentos de dominação por um agente individual ou coletivo contra um outro
agente, que se encontra em situação desigual, almejando negar a sua humanidade. Desse ponto de
vista, força ou atos coercivos podem ser aprovados ou desaprovados; mas a violência e atos
violentos são eticamente reprováveis.
Analiso, nessa seção, as violências que afetaram os/as estudantes africanos/as entre 2012
e 2015, a partir dos conceitos de poder simbólico hegemônico e violência simbólica opressora,
servindo-me de quatro casos coletados das fontes documentais, sendo ciente do racismo existente
no Ceará (LANGA, 2016); e deste estado ser classificado no Mapa de Violência de 2015 como
um dos mais violenta do país (WAISELFISZ, 2015).
Primeiro caso. No Programa de Pós-Graduação de Desenvolvimento e Meio Ambiente
da Universidade Federal do Ceará (UFC), acompanhamos o caso de um docente brasileiro que
8
Há outros casos em outros Estados: Cf. MELLO, Marília. UFPE: africanos sofrem preconceito. Estudantes
relataram que são excluídos pelos demais alunos por causa da cor. Folha de Pernambuco, 25 set. 2015.
Texto/Vídeo. Disponível em: http://www.folhape.com.br/cotidiano/2015/9/ufpe-africanos-sofrem-preconceito-
0424.html. Acessado em 25 set. 2015.
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.3 | Nº. 1 | Ano 2017 | p. 71
Mobilização política dos/as imigrantes africanos/as pela conquista de seus direitos no Ceará
assaltos que eles vêm sofrendo na cidade. Ademais, têm acontecido roubos de celulares e
computadores dentro da universidade, nos pontos de ônibus e nas residências. Os últimos casos,
mais graves, foram roubos seguidos de tentativas de morte com arma de fogo: os assaltantes
atiraram em um estudante guineense que estava indo para sua casa, e em um timorense, que
estava na sua residência9.
Langa (2016), no seu trabalho, identificou um movimento contrário da parte dos/as
proprietários/as de imóveis em Fortaleza. Tratando-se de uma grande cidade quando comparada
às cidades onde se encontra a UNILAB, ele observou a recusa da parte de alguns deles/delas em
alugar apartamentos para os/as estudantes africanos/as por presumir que são pobres. A
discriminação racial que ocorre aqui aparece de forma sutil aos modos do racismo à brasileira
(MUNANGA, 1999). Langa (2016) e Souza (2016) observam que os/as estudantes brancos/as
têm geralmente recebido um tratamento privilegiado tanto da parte dos/as proprietários/as dos
imóveis como dos/as colegas e funcionários/as de universidade.
Vistos na ótica da teoria da branquitude (MALOMALO, 2014), os problemas de aluguel
abordados acima apontam para a intersecção da discriminação racial e econômica. Observa-se de
um lado que em Fortaleza, cidade grande, os/as proprietários/as de imóveis por se encontrarem
numa situação de grande demanda, tendem a discriminar os/as africanos/as por considerá-los/as
pobres. Ou seja, pautam o seu comportamento no mito de que ser africano/a é ser pobre, mesmo
sabendo que os/as que procuram imóveis estariam, em tese, aptos em pagar. De outro lado, nas
cidades de interior, onde se encontra UNILAB, percebe-se que a demanda de imóveis é
impulsionada pela maioria de estudantes africanos/as que compõem um número em torno de sete
centos/as dentro de um universo de três mil estudantes brasileiros e timorenses (hoje em torno de
70). Os/as proprietários/as, nas cidades pobres do interior, discriminam seus/suas clientes não
lhes negando o aluguel, mas aumentam o preço. Cria-se o mito dos/as estudantes estrangeiros/as,
especificamente africano/a e timorense como “ricos/as”.
A minha experiência de campo e as publicações sobre a presença de estudantes
africanos/as em Acarape e Redenção revelaram a existência de atos de racismo, discriminação e
xenofobia (SOUZA; MALOMALO, 2016; LANGA, 2016; MOURÃO, 2016). Esses estudantes
continuam a ser tratados/as ainda como descendentes de escravos/as; gente que veio de países
pobres e que vivem na selva. Mourão (2016) e Langa (2016) mencionam ainda em seus
trabalhos, o caso de um estudante guineense que foi acusado de estuprar uma estudante do
mesmo país e a forma como o caso foi divulgado irresponsavelmente por alguns/algumas
9
Além de me ter sido contado verbalmente, acompanhei o assunto pelo Facebook e consegui capturar as conversas
dos estudantes, vítimas de tentativa de assalto e assassinato no dia 18 de agosto de 2015; 12h 56 min. Disponível
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.3 | Nº. 1 | Ano 2017 | p. 72
Bas’llele Malomalo
Nesse referido texto, a autora estabelece um diálogo com outros/as autores/as não
somente da Psicologia social ou dos Estudos das relações raciais no Brasil. Trata-se de um
trabalho rico, construído numa perspectiva interdisciplinar que destaca os aspectos emocionais,
históricos e sociológicos do racismo de brancos/as contra negros/as no Brasil. Sendo de acordo
com a argumentação da Bento, trago alguns elementos de Fanon que possibilitam refletir, do
ponto de vista do imaginário branco, sobre a relação entre o racismo e a sexualidade dos/as
negros/as brasileiras e africanos/as.
Para compreender psicanaliticamente a situação racial, concebida não globalmente mas sentida
por consciências particulares, é preciso dar uma grande importância aos fenômenos sexuais.
Com respeito ao judeu, pensa-se no dinheiro e nos seus derivados. Com respeito ao negro, no
sexo”. (FANON, 2008, p. 140).
Tratando-se de um texto que se pauta nas obras literárias, artísticas e científicas, Fanon adotou
um estilo sarcástico que faz com que se identifique os trechos do mesmo assunto em várias
páginas. A sua tese é essa: o corpo do negro incomoda o branco.
[...] Nenhum anti-semita pensaria em castrar um judeu. Matam-no ou o esterilizam. O preto é
castrado. O pênis, símbolo da virilidade, é aniquilado, isto é, é negado. [...] é na corporeidade
que se atinge o preto. É enquanto personalidade concreta que ele é linchado. É como ser atual
que ele é perigoso. O perigo judeu é substituído pelo medo da potência sexual do preto.
(FANON, 2008, p. 142).
O autor de Pele negra e máscaras brancas, ao analisar as patologias sexuais do branco para com
o/a negro/a, o faz, neste livro, em comparação ao outro/a oprimido/a que é o/a judeu/judia. Para
Fanon (2008), as fantasias do branco, suas projeções têm como consequências a construção de
uma pseudo-imagem do outro: “O preto é fixado no genital, ou pelo menos aí foi fixado”; “O
preto representa o perigo biológico. O judeu, o perigo intelectual”. “Ter fobia do preto é ter medo
do biológico. Pois o preto não passa do biológico. É um animal. Vive nu. É só Deus sabe...” (p.
143). Ou ainda em diálogo crítico com o psicanalista da colonização Mannoni, Fanon (2008) nos
alerta sobre as representações negativas da branquitude sobre o negro no que diz respeito ao
estupro: “O autor [Mannoni] integra o judeu ao seu levantamento. Não vemos nisso nenhum
inconveniente. Mas aqui o preto é senhor: É especialista da questão: quem diz estupro, está
dizendo preto” (p. 144).
A categoria de gênero dentro dos estudos das relações raciais e de migração torna-se
indispensável pela sua capacidade em trazer outras especificidades que as categorias de raça e
classe ao tratar-se de sujeitos negros, brasileiros/as ou africanos/as, não proporcionam. Os
trabalhos de Lorena Souza (2014) e Ercílio Langa (2016) têm o mérito de considerar as
condições de vidas das mulheres africanas, estudantes ou simples trabalhadoras residentes em
Goiás ou no Ceará. Seus trabalhos revelam que os/as estudantes e migrantes africanos/as sofrem
de forma diferenciada as violências simbólicas que atingem os membros da sua comunidade.
Dito em outras palavras, elas sofrem as violências causadas pelo racismo e pelo machismo numa
sociedade capitalista. Langa (2016) mostra, por exemplo que, se os corpos dos/as africanos/as
são vistos como corpos exóticos; as africanas têm tido dificuldades peculiares em se relacionar
amorosamente com os homens brasileiros. Além disso, imperam um preconceito, da parte de
mulheres e homens brasileiros/asas, de que são mulheres submissas, portanto, “fáceis”.
Terceiro caso. Partindo da Audiência Pública que as associações africanas tiveram no
Ceará, em 16 de setembro de 2015, com as autoridades, pretendo ressaltar somente alguns dos
problemas, por exemplo, o mau atendimento dos/as africanos/as nos serviços privados e públicos
(bancos, estabelecimento de comércio, ônibus, etc.). Eles/elas queixaram-se, particularmente, dos
maus tratos e abuso de autoridade da Polícia Federal de migração. São recorrentes casos de
descasos; de receberem informações diferentes dos/as atendentes e, quando se queixam, são
ameaçados de serem colocados na prisão por desacato à autoridade10. Esse caso lembra de que
maneira funciona o racismo institucional em relação aos/às imigrantes africanos/as: privação de
ter acesso a um serviço de qualidade e intimidações quando se faz uma queixa para a
concretização do seu direito (LANGA, 2016; ESPIRO; VOSCOINIK; ZUBRZYKI, 2016). A
situação se agrava ainda quando não se compreender como funciona o racismo à brasileira ou,
10
Depoimento de um estudante africano da UFC participante da Audiência Pública convocada pelo mandato do
deputado Renato Rosano na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará no dia 16 de setembro de 2015; para mais
informações: ATA DA AUDIÊNCIA INTERNA entre Defensoria Pública da União e as associações africanas no
Ceará, Fortaleza, 2 de março de 2016 e DOCUMENTO sobre a situação dos estudantes e imigrantes africanos no
Estado do Ceará apresentado na audiência pública na Assembleia Legislativa do Ceará no dia 16 de setembro de
2015.
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.3 | Nº. 1 | Ano 2017 | p. 74
Bas’llele Malomalo
11
Para ter mais detalhes sobre os dois casos que não abordo nesse texto: ÚLTIMO SEGUNDO. Estudante de cabo
verde é espancado e morre em Fortaleza. Fortaleza, 10 out. 2011. Disponível em:
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/ce/estudante-de-cabo-verde-e-espancado-e-morre-em-
fortaleza/n1597129082158.html. Acessado em: 30 jul. 2015;
O DEMOCRÁTA. Comunicado: Falecimento de um estudante guineense em Brasil. 15 de maio 2015. Disponível em:
http://www.odemocratagb.com/comunicado-falecimento-de-um-estudante-guineense-em-brasil/. Acessado em: 30
jul. 2015.
12
HOMEM CONFESSA atropelamento de universitário africano. O Povo, Fortaleza, 30 jun. 2015. Disponível em:
http://www.opovo.com.br/app/fortaleza/2015/07/30/noticiafortaleza,3476969/homem-confessa-atropelamento-de-
universitario-africano.shtml. Acessado em 30 jul. 2015.
Fanon (2008), que usa os termos negro e preto como sinônimos, resume o seu
raciocínio nessa palavra: “Na Europa, o Mal é representado pelo negro” (p. 160; grifos do
autor). Sabemos que essa branquitude racista é que transforma os corpos negros, brasileiros ou
africanos em objetos (MALOMALO, 2014). Dito em outras palavras, parafraseando Giorgio
Agamben (2015), o fato de nascer negro/a, ou seja, não branco/a, leva os/as brancos/as a criar um
‘campo’ em que as formas de vidas negras são separadas na sua dimensão de ‘vida nua’. Só para
lembra. Para Agamben: campo é algo que deve ser olhado como “a matriz oculta, o nomos do
espaço político no qual ainda vivemos” (p. 41). “O campo, que agora se instalou firmemente no
seu interior, é o novo nomos biopolítico do planeta” (p. 47).
A relação entre o homo sacer e a vida nua se expressa nessas considerações de um
interprete de Agamben:
Com a expressão Blob Leben (mera vida), Benjamin faz referência a essa parte de vida que
suporta o nexo entre violência e direito, à vida que está em relação com a violência soberana.
Para Benjamin, ademais, é essa vida nua a que é proclamada sagrada [...]. A partir dessas
indicações, Agamben dirigirá sua atenção até a figura de homo sacer; na qual pela primeira vez
se afirma o caráter sacro da vida humana. Festo a descrever nestes termos: homem saGrado,
homo sacer, é aquele que o povo julgou por algum delito, e não é licito sacrificá-lo, porém, se
alguém o mata, não será condenado por homicídio [...].
A vida do homo sacer, a vida nua, é a vida da qual se pode dispor sem necessidade de celebrar
sacrifícios e sem cometer homicídio. Nenhuma das explicações oferecidas a respeito logrou dar
razão do duplo caráter do homo sacer: insacrificavel, porém exposto à morte (CASTRO, 2016,
p. 54).
A vida nua, diferente de outras forma-de-vida, é a vida que foi separada da sua forma.
Por isso, perde o seu potencial de ser. Quem a separe é o soberano: agente – estatal ou não estatal
- que se vê no direito de decidir o direito de vida ou de morte de um outro agente. Na perspectiva
do argumento defendido aqui os/as brancos/as que se outorgam todos os direitos de viver para si
mesmos e os negam para os outros: negros/as brasileiros/as e imigrantes africanos/as.
Transformam estes em homo sacer, no caso específico deste estudo, transformados em
‘africanos/as’, ‘negros/as’ e ‘estrangeiros/as’. Como tais são vistos/as como pessoas inferiores,
forasteiros/as que não compreendem a gramática social brasileira, portanto, indivíduos que não
têm ninguém para defendê-los/as e por isso podem ser aniquilados/as fisicamente.
Considerando os efeitos de negação dos direitos dos/as imigrantes africanos/as, que as
práticas sociais analisadas evidenciam, acredito que devem ser considerados como parte do poder
simbólico hegemônico que (re)produz a violência. Ademais, os casos analisados apontam a
necessidade de se usar o conceito violência no plural, isto é, destacar suas diversas manifestações
e formas de atingir cada imigrante africano/a enquanto agente individual e coletivo do campo da
migração brasileira/cearense.
13
Só para mencionar alguns a título de exemplo: DIÁSPORA AFRICANA E AFRICANOS NO CEARÁ: em busca
da justiça e dignidade humana, 4 de maio de 2015. Disponível em:
http://www.UNILAB.edu.br/noticias/2015/05/04/encontro-discute-diaspora-africana-e-africanos-no-ceara-em-
busca-da-justica-e-dignidade-humana/. Acessado em 4 maio 2015; IX SEMINÁRIO DE MOBILIDADE
HUMANA E I SEMINÁRIO INTERNACIONAL MIGRAÇÕES E DIÁSPORAS AFRICANAS, promovido pela
Pastoral de Migrantes da Arquidiocese de Fortaleza e o Grupo de Pesquisa África-Brasil, nos dias 17 a 18 de
setembro de 2015, em Redenção. Disponível em: http://www.UNILAB.edu.br/noticias/2015/08/21/UNILAB-sedia-
ix-seminario-de-mobilidade-humana-e-o-i-seminario-internacional-migracoes-e-diasporas-africanas-nos-dias-17-e-
18-de-setembro/. Acessado em 21 ago. 2015.
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.3 | Nº. 1 | Ano 2017 | p. 78
Bas’llele Malomalo
O outro momento, que explica melhor a relação entre a participação de um/a migrante,
enquanto portadora da memória individual e da memória coletiva, é a construção das estratégias
coletivas que ocorreu antes do dia 16 de setembro de 2015, quando as Irmãs Missionárias
Scalabrinianas e uma leiga, todas integrantes da Pastoral de Migrantes da Arquidiocesana de
Fortaleza, me procuraram, logo antes de um seminário sobre mobilidade humana e migrações
africanas que estávamos organizando juntos/as em 17 e 18 de setembro de 201614. Solicitaram-
me mobilizar os/as estudantes africanos/as com intuito de participar na Audiência Pública que
elas tinham conseguido por intermediário do deputado Renato Rosano. Essa audiência, ocorrida
em 16 de setembro de 2016, tendo por tema “A situação dos imigrantes africanos que residem no
Ceará”, tinha por finalidade a resolução dos problemas que os/as imigrantes africanos/as, a
maioria estudantes, estavam enfrentando.
As fontes desta investigação nos levam a identificar os agentes que estruturam o campo
da migração africana cearense e que participaram, na qualidade de parceiros/as institucionais, da
referida Audiência Pública que teve lugar na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Tem-
se, de um lado, a representante da Defensoria Pública da União (DPU), o representante da
Advocacia Frei Tito, a delegada da Polícia Federal do Setor da Imigração, o Pró-reitor das
Relações Institucionais da UNILAB e o representante do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas do Estado do Ceará15. De outro lado, entre as associações dos/as imigrantes africanos/as
ou de apoio aos/às imigrantes, pode-se destacar: a Associação dos Estudantes Africanos no
Estado do Ceará, a Associação dos Estudantes de Guiné-Bissau no Estado do Ceará, Movimento
Pastoral de Estudantes Africanos no Estado do Ceará, do IDDAB, as Irmãs Scalabrinianas, a
Pastoral Arquidiocesana do Migrante, o Instituto Nova África, a Associação dos Estudantes de
Cabo Verde/UNILAB e o Grupo de Pesquisa África-Brasil/UNILAB.
Além das estratégias dos agentes envolvidos nos processos de defesa dos/as direitos, o
estudo dos movimentos sociais exige que se identifique suas pautas (GOHN, 1999). Nossas
fontes revelam que o que os imigrantes africanos/as no Ceará queriam na Audiência Pública de
2016 e ainda querem hoje é que se elaborem políticas públicas que atendam às suas necessidades,
enquanto sujeitos de direitos, especialmente, as dos estudantes. Além dos problemas relativos à
14
IX SEMINÁRIO DE MOBILIDADE HUMANA E I SEMINÁRIO INTERNACIONAL MIGRAÇÕES E
DIÁSPORAS AFRICANAS14, promovido pela Pastoral de Migrantes da Arquidiocese de Fortaleza e o Grupo de
Pesquisa África-Brasil, nos dias 17 a 18 de setembro de 2015, em Redenção. Disponível em:
http://www.UNILAB.edu.br/noticias/2015/08/21/UNILAB-sedia-ix-seminario-de-mobilidade-humana-e-o-i-
seminario-internacional-migracoes-e-diasporas-africanas-nos-dias-17-e-18-de-setembro/. Acessado em 21 ago.
2015.
segurança, racismo e xenofobia que afetam suas vidas, estes/estas, durante a audiência,
destacaram os seguintes problemas: discriminação nos aluguéis de imóveis; demora no
recebimento do Registro Nacional de Estrangeiro (RNE) no serviço da imigração e do
recebimento de diploma da parte das faculdades particulares; mau atendimento da parte da
Polícia Federal na regularização de vistos; perseguições em lugares públicos e a impossibilidade
de trabalhar e terem acesso a um estágio renumerado. Os/as estudantes da UNILAB denunciaram
a demora na entrega de moradias estudantis16. Como se pode perceber, tratam-se dos problemas
que tinha apresentados anteriormente na segunda seção.
Os/as autores/as que trabalham com a Avaliação da Quinta Geração17, numa perspectiva
da Nova Sociologia Econômica, como Jean-Marc Fontain e Élaine Lachance (2005), entendem
que a compreensão das práticas de atores/as coletivos/as passa pela avaliação de suas avaliações,
ou seja, estas são fontes documentais suscetíveis em proporcionar a apreensão de um poder
simbólico na sua forma hegemônica ou contra-hegemônica. Dessa forma é que no dia 6 de
outubro de 2015, tivemos uma reunião de trabalho para avaliar os progressos realizados depois
da Audiência Pública do dia 16 de setembro de 2015. Entre as conquistas, identificamos que a
representante do Ministério Público Federal, na qualidade da Defensora Pública da União, Drª
Lídia, colocou à disposição um dia da semana para resolver as demandas coletivas dos estudantes
africanos. O escritório de advocacia Frei Tito também tinha se colocado à disposição.
As últimas notícias que obtivemos, em março de 2016, é que muitos estudantes de
Fortaleza estão tentando resolver seus problemas junto à Defensoria Pública da União18.
Ademais, o atendimento dos estudantes na Polícia Federal teria melhorado depois de tanta
insistência e busca de diálogo da parte da Defensoria Pública da União com ela.
[...] Situação dos estudantes com relação à Polícia Federal (perda de visto, deportação, alto
valor da taxa, multa). a) Segundo a defensora, informada pela delegada da PF, Alexandra, a
Polícia Federal não vai mais cobrar a multa quando passarem os últimos trinta dias da data de
renovação de visto. Por exemplo: quem chega aqui no dia 14 de fevereiro de 2015 renova o
visto até 14 de janeiro deste ano. Caso o estudante comparecer na PF depois dessa data era
cobrada a multa. Mas agora essa multa não tem mais; b) O estudante pode comparecer na PF e
abrir o processo de prorrogação do visto, caso não tiver dinheiro no momento. Mas precisa ir
antes da data, para evitar futuras consequências. Assim como quem não conseguir fazer o
15
ESTUDANTES AFRICANOS pedem regularização migratória no Ceará. Sobral news, Sobral, 17 set. 2015.
Disponível em: http://sobralnews.com.br/novo/estudantes-africanos-pedem-regularizacao-migratoria-no-ceara/.
Acessado em 17 set. 2015.
16
ESTUDANTES AFRICANOS pedem regularização migratória no Ceará. Sobral news, Sobral, 17 set. 2015.
Disponível em: http://sobralnews.com.br/novo/estudantes-africanos-pedem-regularizacao-migratoria-no-ceara/.
Acessado em 17 set. 2015; DOCUMENTO sobre a situação dos estudantes e imigrantes africanos no estado do
ceará apresentado na audiência pública na assembleia legislativa do ceará no dia 16 de setembro de 2015.
17
Para esses autores, a Primeira Geração de Avalição iniciou de 1800 a 1900; a Segunda Geração de Avalição, entre
1900 e 1930; a Terceira Geração de Avalição, entre 1930 e 1957; a Quarta Geração de Avalição, entre 1958 a 1972 ;
e a Quinta Geração de Avalição, a partir de 19972 até hoje. (MALOMALO, 2017a, p. 115-121).
18
DEFENSORIA APRESENTA auxílio aos africanos. O Estadão, Fortaleza, 7 out. 2015. Disponível em:
http://www.oestadoce.com.br/geral/defensoria-apresenta-auxilio-aos-africanos. Acessado em 7 out. 2015.
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.3 | Nº. 1 | Ano 2017 | p. 80
Bas’llele Malomalo
agendamento eletrônico deve ir antes data de renovação. c) Não tem mais 8 dias de deportação.
A PF não vai mais atuar ninguém para sair no país em 8 dias, como faziam antes. Ao estudante
que perder o visto será dado um documento que vai assegurar sua permanência até terminar a
faculdade. É importante ressaltar que este documento, segunda a Drª Lívia, não tem o mesmo
peso do visto. d) Quem estiver com o visto vencido deve fazer o pedido de prorrogação na
Superintendência da PF que fica perto de Rodoviária (é ali que se resolve esse assunto) e não
no Departamento da Polícia Federal. e) O estudante que estiver numa situação financeira crítica
e não tem dinheiro para pagar a taxa da emissão do RNE na Polícia Federal, pode passar na
Defensoria Pública da União. f) Quem não tiver dinheiro para pagar, não será proibido de
renovação, porém, a PF fará a solicitação para emissão do RNE, mas darão um prazo para o
pagamento do RNE... E lembrar que, todos esses pontos se por ventura não estão a se cumprir,
podem passar informação à Associação a fim de dar os encaminhamentos ao DPU na próxima
reunião do dia 16...19
Considerações finais
Este texto, em consonância com outros trabalhos de Langa (2016) e Souza (2016) e de
forma particular o da Espiro, Voscoboinik e Zubrzyki (2016), identificou de que maneira as
diferentes formas de violências que se manifestam através do racismo, preconceito, machismo,
insegurança, maus atendimentos nos serviços, afetam negativamente a vida dos/as imigrantes
africanos/as, majoritariamente estudantes, no Ceará, nas cidades em que se encontra a UNILAB
(Acarape e Redenção) e em Fortaleza. Para tanto, partindo da sociologia de Bourdieu e de
Boaventura de Sousa Santos elegeu o conceito de poder simbólico hegemônico e da violência (de
MINAYO, 2005; MINAYO; CAPURCHANDE, 2011) para compreender o conjunto de práticas
negadoras dos direitos de cidadania dos/as imigrantes africanos/as.
Os aportes teóricos utilizados numa perspectiva das interseccionalidades de raça, classe
e gênero exigiram que se olhasse os agentes reprodutores do campo da imigração africana a
partir e dentro da pluralidade de suas identidades. Isso me possibilitou apropriar-me do conceito
de violência na sua multidimensionalidade: psicológica, econômica, racial, política, racial e de
gênero.
19
ATA DA AUDIÊNCIA INTERNA entre Defensoria Pública da União e as associações africanas no Ceará,
Fortaleza, 2 de março de 2016.
Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.3 | Nº. 1 | Ano 2017 | p. 81
Mobilização política dos/as imigrantes africanos/as pela conquista de seus direitos no Ceará
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(NPGS/UNILAB) com base na cooperação solidária sul-sul. In : MALOMALO, Bas´Ilele ;
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Bas’llele Malomalo
Doutor em Sociologia, Docente no programa de
Mestrado Interdisciplinar em Humanidades,
Instituto de Humanidades e Letras/Universidade
da Integração Internacional da Lusofonia Afro-
Brasileira, São Francisco do Conde, Bahia, Brasil;
líder do Grupo de pesquisa África-Brasil: Produção
de conhecimento, Sociedade civil,
Desenvolvimento e Cidadania Global; integrante e
fundador do IDDAB. Contato:
basilele@UNILAB.edu.br.
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