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DEMASIADAS MUJERES
Publicado No Brasil Pela Editora Monterrey
Ilustração De Capa: Benício
JVS – 450205/450209
CAPITULO PRIMEIRO
Um tipo muito espanhol
Barco a vela versus lancha
Meio biquíni não é melhor que uma borboleta morta?
1
Torre mundialmente famosa, relíquia dos tempos do domínio árabe e que está para a cidade de
Sevilha como a Torre Eiffel para Paris.
então a estava beijando em estilo andaluz, isto é, como dizia
ele, “a toda vela e de vento em popa”.
Assim que, decorridos três minutos de beijo, Antoinette
teve de descolar sua boca da do espanhol, ofegando, quase
asfixiada:
— Paco, você é um homem terrível!
— Por um beijinho de nada? — sorriu ele.
— Um beijinho de nada! Quase me mata! Quase me
anfitia...!
— Asfixia, não infitia — corrigiu Rivelles. — Olhe,
boneca, será melhor falarmos francês, pois não gosto de
ouvir maltratar minha língua como você faz.
— Mas eu querro aprrrender espanhol...
— Está bem. Mas com outro que tenha mais paciência
do que eu. Assim, falemos em francês, se você não quiser
dar um mergulho de cabeça no mar.
— Você me jogaria no mar? — perguntou Antoinette, já
em francês, um pouco assombrada. — E também seria
capaz de me bater?
— Alto aí, benzoca. Jogaria você no mar, sim; mas
nunca lhe daria uma surra. Sou um cavalheiro e, além disso,
um espanhol. E os espanhóis nunca surram as mulheres...
Bem, quase nunca. Apenas quando não há nenhum touro
brabo pelas imediações. Nunca reparou como somos
galantes e amáveis com o sexo tolo?
— O sexo tolo?
— Sim. Nada de sexo fraco, meu amor... Isso ficou pra
trás. .. Agora as mulheres são bem fortes, mas continuam
tolas como antes. Não está de acordo?
— Acho que não, Paco.
— Pois eu digo que sim. Olhe: a mais esperta das
mulheres não serve nem para pentear um homem.
— Você esquece os homens tolos. Conheço alguns que
são uns perfeitos idiotas.
— Eu, por exemplo?
— Não, você não.
— Pois eu sim, visto que há cinco minutos não lhe dou
um beijo.
E deu-lhe. Só que nesta vez não pode durar tanto como
nas anteriores. Mal decorrera um minuto escasso, o barco
balançou com mais força que até então, evidenciando
claramente que alguém tinha subido a bordo, ou melhor,
saltado do cais sobre a coberta.
Imediatamente, Paco Rivelles deixou de beijar a
francesinha e de interessar-se pelos segredos de seu biquíni.
Afastou-a, lançou um suspiro de resignação e olhou para a
entrada da pequena cabina, que emoldurava um céu
avermelhado, com pinceladas rubras, douradas e violáceas.
Na realidade, aquela luz policromica era o último vestígio
do dia. Em menos de dois minutos, a noite desceria sobre
Nice.
Também Antoinette ficou olhando para a entrada,
aparentemente um pouco aborrecida.
E os dois viram o gigantesco indivíduo que entrou,
inclinando-se muito. Um homem de um metro e noventa,
ombros largos e tórax robusto, todo vestido de branco e com
um chapéu miúdo, que deixava escapar umas madeixas
ruivas.
Olhou de um para outro, como surpreendido. Por fim,
seu olhar fixou-se no espanhol.
— Señor Rivelles? — perguntou.
— Eu mesmo. O senhor é o agente da CIA que estou
esperando?
O recém-chegado franziu o cenho. Acabou de entrar.
Continuava fixando Paco.
— Sou a pessoa que está esperando, sim — admitiu.
— Então, tire esse chapéu, homem. Está diante de uma
dama. Como é seu nome?
O agente da CIA tirou o chapéu, talvez um tanto irritado.
— Meu nome é, atualmente, Monsieur Pernot. Espero
que isso lhe baste, señor Rivelles.
— Sente-se, monsieur Pernot. E por falar em bebida2,
quer um uísque? Ou prefere manzanilla? Como sabe, é um
vinho espanhol, mais propriamente andaluz, que atira o
mais valente de costas no chão quando ele está começando
a dizer que é uma bebida fraca... Uísque ou manzanllia?
— Nenhuma das duas coisas. Vim aqui para trabalhar,
señor Rivelles, não para celebrar. Quem é esta moça?
— Chama-se Antoinette, é francesa encontrei-a há dois
dias na praia, tomando sol. Disse-lhe um galanteio, riu-se e
então convidei-a para compartilhar minha vida... durante
uma semana. Ela está encantada. Não é verdade,
Antoinette?
— Estou sim, Paco.
— Está vendo? — riu o espanhol. — É preciso saber
tratar as mulheres. Na realidade, são como pequenas e
graciosas máquinas de self-service, de “sirva-se você
mesmo”. É só apertar o botão adequado, e elas reagem
como você deseja. Uma vez...
2
Pernot — marca de absinto.
— Señor Rivelles, tem o que prometeu? — cortou o
homem ruivo da CIA.
— Refere-se ao microfilme com aqueles complicados
desenhos de uma complicadíssima coisa chamada
centralizador fotográfico?
— A isso, exatamente.
— Bem... pode ser que tenha e pode ser que não. Quero
dizer que talvez esteja neste barco e talvez não esteja.
Trouxe os cem mil dólares que pedi por esse invento?
— Não.
— Neste caso, monsieur Pernot, temo que não haverá
acordo. Quando saí da Espanha, meu irmão Juan me disse:
“Paco, o mundo é uma completa sujeira; está todo cheio de
ladrões e rufiões. Sabes quanto me custou meu invento, de
modo que não te deixes enganar. Se não houver pesetas pela
frente, não entregues o microfilme.” E asseguro-lhe,
monsieur Pernot: é justamente o que penso fazer. Não há
dólares? Pois não há centralizador fotográfico!
— Está falando com um agente da CIA, señor Rivelles.
Paco acendeu um cigarro e olhou ironicamente para o
americano.
— Por isso mesmo, monsieur Pernot.
— Desconfia de nós?
— De vocês? Não... Paco Rivelles desconfia de todo o
mundo. Por que não da CIA? Compreenda, monsieur
Pernot: cem mil dólares são seis milhões de pesetas, mais
ou menos. Com seis milhões de pesetas, a vida é muito
agradável na Espanha. E meu irmão Juan, coitado, merece
viver muito bem depois de estudar tanto. Eu não, admito.
Sempre vivi sem fazer força. Nunca trabalhei nem sequer
dirigindo a colheita da azeitona. Se enganassem a mim, não
me incomodaria muito. Mas ao meu irmão, monsieur
Pernot, ninguém vai enganar enquanto Paco Rivelles estiver
vivo. Assim sendo, ou me dá agora mesmo os cem mil
dólares, ou está desmanchado o trato. Okay, como se diz na
sua terra?
— Okay — sorriu o espião americano. — Mas as coisas
vão ser feitas de modo diferente. Por dois motivos.
Primeiro, que a CIA quer reservar-se o direito de examinar
esse invento de seu irmão Juan antes de pagar os cem mil
dólares.
— Parece-me razoável. E o outro motivo?
— Bem, digamos que a CIA tem interesse em contratar
um homem como o senhor.
Paco Rivelles ficou pensativo uns segundos.
— Está me oferecendo um emprego, monsieur Pernot?
— Algo parecido. Mas não precisa responder agora.
Terá tempo de pensar durante a viagem.
— Que viagem?
— A que vai fazer. — O espião americano sacou um
envelope do bolso. — Aqui tem sua passagem. Partirá
dentro de sete dias no transatlântico “Empire”, que sai do
Havre diretamente para Nova Iorque.
— Não me agrada Nova Iorque — declarou Paco. —
Cheira a petróleo e cimento.
— É uma opinião sua.
— Além disso, viajar custa dinheiro e...
— Todas as despesas pagas, señor Rivelles.
— Ah! Talvez Nova Iorque me agrade. Estarão à minha
espera lá?
— Talvez sim, talvez não. Tem apenas que embarcar no
“Empire”, levando o microfilme que contém o invento de
seu irmão. Oportunamente, terá notícias da CIA.
— Que espécie de notícias?
— Alguém lhe entregará cem mil dólares e, em
retribuição, o senhor lhe entregará o microfilme. Depois,
seguirá viagem a Nova Iorque e, lá, alguém lhe perguntará
se pensou na proposta de trabalhar para a CIA.
— Disponho de uma semana, foi o que disse?
— De mais. O navio parte dentro de sete dias, mas a
travessia durará outro tanto. Quatorze dias, señor Rivelles.
— Tempo suficiente para pensar. Pagam bem na CIA?
— Não muito bem — quase riu o espião. — Mas é
divertido.
— Está-me convencendo, monsieur Pernot. — Vejamos
essa passagem.
Apanhou o envelope, abriu-o e assentiu com a cabeça.
— Muito bem. Onde quer que o deixe, monsieur Pernot?
— Como? Não entendo...
— Pareceu-me que falava muito bem o espanhol —
sorriu Paco. — Pergunto-lhe onde quer que o deixe. Quer
dizer que o levarei em meu barco aonde desejar.
— Não é necessário. Voltarei a...
— Ficará em dificuldades se desembarcar aqui mesmo.
Há dois homens que não me perderam de vista durante toda
a tarde. Estão passeando de um lado para outro pelo cais e,
não sei por que, parece-me que também eles querem o
centralizador fotográfico.
O agente da CIA ficou olhando fixamente para Paco,
que indicava uma das vigias circulares da cabina.
Aproximou-se dela e olhou para onde apontava o dedo do
espanhol. Viu primeiro um homem e, uns vinte metros mais
além, o outro, ambos com um ar distraído... Mas se Paco
Rivelles desconfiava do verdadeiro motivo da presença
daqueles homens ali, mais teria que desconfiar ainda um
espião profissional, um agente da CIA.
Pernot sacou um grande revólver com silenciador.
— Guarde isso — disse Paco. — Iremos no barco, com
toda calma. Nada de matar gente... se possível.
— Não se engane, Rivelles — grunhiu Pernot.
— Esses homens têm uma lancha preparada, garanto.
— Certamente previram que poderíamos escapar no
barco.
— De qualquer modo, tentemos.
— Quem são eles?
— Não sei. Mas já os vi algumas vezes atrás de mim, o
que me incomodou um pouco. Se, por exemplo, são da
MVD soviética, ou do MI.5 britânico, por que não se
aproximam e fazem-me outra oferta melhor que a da CIA?
— Era capaz de aceitá-la?
— Pergunta-me se aceitaria uma oferta superior aos cem
mil dólares da CIA, monsieur Pernot?
— É o que pergunto.
— Então, o senhor não é muito esperto. Vamos... ou
prefere lutar por nada?
Pernot resmungou alguma coisa, guardou o revólver,
olhou outra vez pela vigia e depois para Antoinette.
— E ela?
— Virá conosco. Não é, Antoñita?
— Eu... eu preferia desembarcar, Paco.
— Por quê?
— Tenho... medo...
— Medo! — riu o espanhol. — Tem medo estando eu
aqui? Não acredito!
— Mas se esses homens perseguirem seu barco e houver
uma luta a tiros... eu posso sair ferida...
— Nada disso! Você verá como vamos nos divertir...
Gosta de navegar, monsieur Pernot?
— Se temos que partir, melhor que seja logo —
resmungou o agente da CIA.
— Às suas ordens — riu Paco. — Coloquem os
cinturões de segurança que vamos decolar. Ah, monsieur
Pernot, por favor: vigie-me bem Antoñita, pois tem um
revólver em sua linda bolsa de praia. Seria muito
desagradável que disparasse e ferisse alguém, não acha?
Rindo, Paco Rivelles saiu da cabina para a coberta. Suas
pernas ainda podiam ser vistas, quando a francesinha saltou
para a bolsa multicor que estava sobre uma poltrona.
Chegou a ela, abriu-a frenèticamente, meteu a mão dentro...
Monsieur Pernot não a deixou fazer mais. Arrebatou-lhe
a bolsa das mãos e, com uma violenta bofetada, mandou a
belezoca aos trambolhões até junto da escadinha que levava
à coberta.
De cima, chegou a voz risonha de Paco Rivelles:
— Ai, Antoñita, Antoñita, como você é boba! Devia ter
mais cuidado, pois monsieur Pernot não é espanhol nem
gentil como eu.
O americano retirou o pequeno revólver da bolsa de
Antoinette e guardou-o. Sacou o seu, indicando o convés.
— Para cima — ordenou secamente. — Vejamos o que
tentarão seus amigos, mocinha.
— Não sei do que está falando...
— Suba, ou dou-lhe um outro tapa que fará você ir
voando até Paris... ou até Moscou. Até aonde?
Antoinette apertou os lábios e não respondeu. Pernot
empurrou-a para a escadinha, com absoluta descortesia,
subindo atrás dela, sempre apontando- lhe as costas fluas
com seu grande revólver munido de silenciador.
Paco já estava acabando de soltar as amarras do barco,
que balançou com mais força sobre as águas do porto.
Imediatamente, soltou a vela, empunhou a roda do leme e o
barco afastou-se velozmente do cais, enquanto os dois
homens que por lá perambulavam lançavam-se a toda a
pressa para uma lancha a motor pintada de vermelho, na
qual havia outro homem fazendo frenéticos sinais de
chamado.
— Não sei — disse Paco, com a cabeça voltada — por
que têm tanta pressa. Este é um simples barco a vela e eles
devem contar com um motor de cinqüenta cavalos...
Poderão alcançar-nos fàcilmente. Não vai guardar o
revólver, monsieur Pernot?
— Está louco? Não disse que logo nos alcançarão? E
acha que devo guardar o revólver!
— Não será preciso, vai ver. Olá, Antoñita! Você deve
estar com frio. Brrr!
Estremeceu comicamente, apanhou um quepe de iatista
sobre o assento da popa e colocou-o, olhando amàvelmente
para a francesinha de biquíni.
O barco deslizava veloz mar afora, mas a lancha
aproximava-se a toda a velocidade, com um homem ao
volante e dois do lado de estibordo, revólveres na mão.
— Estão zangados porque levamos sua amiguinha —
comentou o espanhol. — Mas isso é bom, para não
pensarem que só eles são espertos neste mundo. Há dois
dias conheci Antoinette, que se mostrou muito amável
comigo. Tanto que se eu fosse algum ingênuo pensaria que
me bastava olhar uma mulher para trazê-la a bordo. Bem...
— sorriu. — Isso não deixa de ser verdade, admito. Mas
nunca me agradaram muito as conquistas tão fáceis. Então,
pus-me a pensar e concluí que minha querida Antoñita devia
ter algum jogo escondido. Pouco depois, vi os dois homens
no cais e descobri que, enquanto ela e eu nos divertíamos
por aí, em Nice, eles davam uma busca em meu barco. E
então já não houve muito em que pensar... Não é verdade,
minha vida?
— Cão! — xingou Antoinette.
— Como você é vulgar, querida... Mas uma linda
francesinha não xingaria assim, não é mesmo, monsieur
Pernot? De que nacionalidade será a nossa Antoinette?
— Russa — resmungou Pernot.
— Não diga! Será melhor que se deitem sobre a coberta:
os amiguinhos dela estão-se aproximando, e têm revólveres
na mão. É capaz de acreditar que não estou gostando nada
disto, Pernot? Deitem-se, por favor.
Pernot deixou-se cair, arrastando rudemente Antoinette.
E poucos segundos depois a lancha vermelha passava perto
deles, deixando uma branca esteira de espuma sobre as
águas já enegrecidas pela noite. Da borda brotaram alguns
clarões, mas Paco Rivelles, encolhido junto à roda do leme,
sorriu com indiferença.
A lancha passou, avançou até uns cem metros diante do
barco, depois fez uma curva fechada, lançando-Se
novamente ao ataque. Enquanto isto, o barco a vela tinha
manobrado também, desviando- se da linha reta, obrigando
a lancha a girar mais e mais, adernando quase
perigosamente.
— Já estão de volta — informou o espanhol. —
Esperemos que tenham tão má pontaria como antes. Não se
movam daí, vocês.
O barco parecia voar para o largo, e a lancha passou
novamente a menos de dez metros. Viram-se outra vez os
clarões dos disparos feitos da borda, e Paco Rivelles tornou
a sorrir... até que viu os pequenos orifícios na vela. Então,
pareceu aborrecer-se. A vela perdeu parte de sua força,
devido ao ar que se filtrava através dos furos produzidos
pelas balas. Evidentemente, prosseguindo naquela marcha, a
vela iria rasgar-se, e esta idéia acabou de aborrecer
completamente Paço Rivelles.
Continuaram ainda mar afora e outra vez a lancha
passou a menos de dez metros. As luzes da Baía dos Anjos
pareciam um brilhante rosário multicor. Então, Paco colheu
a vela e olhou para Pernot.
— É melhor render-nos, Pernot. Essa gente está com
más intenções... e uma boa vela custa muito dinheiro.
— Deixe de tolice! Sabe manejar um revólver?
— Sei manejar qualquer coisa, Pernot. Sobretudo um
revólver. Quando prestei meu serviço militar na Espanha...
— Isso não importa agora! Pegue este revólver da garota
e mostremos a esses patifes que...
— Você é mal-educado, Pernot. Ia dizer-lhe que em meu
país, devido a meus estudos superiores, fiz o serviço militar
com o posto de alferes. Você já deve saber que a Espanha
não é um país muito rico, mas nos ensinam a combater
muito bem. Lembro-me de um soldado que...
— Aí vêm eles em cima de nós!
— Não, homem. Vêm em marcha curta. Isso quer dizer
que já se deram conta de que não queremos lutar. Veja o
que faço com o revólver de Antoñita...
Atirou-o na água e aproximou-se da borda, agitando
muito os braços.
— Ei! Nos rendemos! — gritou em francês.
Pernot levantou-se violentamente, apontando o revólver,
resmungando qualquer coisa. Mas Paco tirou-lhe
tranqüilamente a arma e jogou-a igualmente ao mar.
De imediato, e enquanto o americano se desfazia em
maldições, Antoinette pôs-se de pé, correndo para a proa e
gritando algo para os seus amigos da lancha.
— Pois tínhamos razão — comentou Paco, risonho: — a
pequena é mesmo russa, Pernot... Ou pensa você que não?
— Vá para o diabo, estúpido!
Paco Rivelles tomou a sorrir, mas de um modo frio que
o espião americano não pode captar. A lancha vermelha
aproximava-se muito lentamente, enquanto Antoinette não
deixava de gritar coisas em russo. O barco, que parecia à
mercê da corrente, ia girando, virando a proa diretamente
para a lancha, cujo motor tinha deixado de funcionar.
— Será melhor que sente aqui, Pernot, ao leme. Segure-
o com força. Apenas isso. Está claro?
Afastou-se da borda e dirigiu-se tranqüilamente para o
centro do barco. Soltou de golpe a corda da vela, que inchou
no mesmo instante, fazendo o barco saltar em direção à
lancha vermelha. Antoinette foi precipitada para trás, caindo
perto de Paco, que se agarrou ao mastro e colocou o pé
sobre o ventre da russa, imobilizando-a contra a coberta. Da
lancha partiram os gritos dos três homens e também alguns
disparos, que passaram por cima dos ocupantes do barco,
perfurando novamente a vela. Mas a embarcação estava já
lançada contra a lancha, com toda a força do vento do mar.
O que a estivera tripulando saltou sobre os controles, pôs o
motor em marcha... com tão pouca sorte que a lancha virou
de flanco para o barco a vela, justamente no momento em
que a proa deste chocava-se contra o casco. Ouviu-se um
forte rangido, e fragmentos de madeira e plástico saltaram
pelo ar. Em menos de dois segundos, a lancha vermelha
ficou praticamente partida em dois pedaços, afundando com
rapidez e deixando passar o barco a vela, que prosseguiu
mar afora.
— Está bem, Pernot? — perguntou Paco, risonho.
— Que o diabo me carregue! Estou sim...
— Não se amaldiçoe por isso, homem. A vida é a coisa
mais formosa que temos. Não é verdade, Antoñita?
Tirou-lhe o pé de cima e ajudou-a a levantar-se.
Apontou para trás, onde ainda se viam os três homens que
bracejavam para manter-se à tona.
— Seus amigos são bons nadadores?
— São.
— Pois melhor para eles. Quanto a você....
— Não pode me matar, não...
— Querida, sou um cavalheiro. Nem sequer bateria em
você, como fez monsieur Pernot. É uma coisa muito feia.
Mas em compensação, demonstrarei que sempre cumpro
com minha palavra jogando-a na água. Você também sabe
nadar?
— Mas é muita distância daqui até a praia!
— Enquanto há vida, há esperança. Sabe de uma coisa?
Não quero separar-me de você sem guardar uma
recordação...
Com um movimento preciso, arrebatou-lhe a peça
superior do biquíni, depois olhou-a sorridente, como um
menino que tivesse feito uma boa brincadeira.
— Que coisa mais linda!... E agora, um elegante salto
por sobre a borda...
— Não!
Sem se perturbar, ele ergueu-a nos braços, aproximou-se
da borda e passou-a por cima, dominando tranqüilamente
sua resistência.
— Vá com Deus, amorzinho...
E deixou-a cair. Olhou-a uns segundos, agitando a peça
superior do biquíni como se fosse um lenço. Depois, chegou
perto da vela e examinou-a com ar zangado. Apanhou a
bolsa de praia da falsa francesa, derramou seu conteúdo
sobre a coberta e logo viu as cédulas.
— Ah-ah! Dinheiro francês. Espero que haja o suficiente
para comprar uma vela nova. Não gosto de remendos. E
como a culpa de que minha vela se tenha estragado é dela,
pagará por uma nova.
Meteu dentro da bolsa as outras coisas, aproximou-se do
silencioso e carrancudo Pernot e entregou-a.
— Talvez encontre algo interessante aqui dentro, amigo.
Oh, lamento ter atirado o seu revólver no mar. Espero que
logo possa conseguir outro.
— Como fez?
— O quê?
— Isso de partir a lancha em dois... Tem um reforço de
metal na proa do barco, Rivelles?
— Exatamente. Você não precisava impacientar- se.
Quando Paco Rivelles diz uma coisa, essa coisa já está
praticamente feita.
— O que me parece é que Paco Rivelles é um homem
perigoso.
— Já lhe disse que em minha terra nos ensinam a lutar
bem. Suponho que agora me dará um montão de dólares
para gastos adicionais durante minha viagem a Nova Iorque.
Que tal... cinco mil?
— De acordo — acabou por sorrir o espião americano:
— terá esse dinheiro.
— Espero passar muito bem durante a travessia. Onde
quer que o deixe antes de levar meu barco para ser
consertado num lugar discreto e onde saiba que o
encontrarei ao meu regresso dos Estados Unidos?
— Continuemos navegando. Indicarei o lugar. Vai
guardar mesmo isso como um “souvenir”, Rivelles?
Paco agitou a peça ao biquíni, sorrindo infantilmente.
— Bem, há quem colecione borboletas mortas, selos do
correio, ossos de animais pré-históricos. Que tem de mau
conservar meio biquíni?
CAPITULO SEGUNDO
Uma velhota de mau gênio
Transatlântico de luxo
Mulheres demais...
3
A agente “Baby” chama indiscriminadamente a todos os agentes da CIA, seus
colaboradores, de Johnny. Ela já apareceu como Duquesa de Montpelier em duas
sensacionais aventuras: ESPIONAGEM CIENTIFICA e ÚLTIMO TENTÁCULO
Depois da olhadela superficial, Paco dedicou-se
seriamente a revistar o camarote. Lera muitas coisas sobre
espionagem para confiar em nada nem em ninguém. E
assim, revolveu tudo à procura de microfones, bombas,
câmaras de televisão, ou qualquer coisa parecida. Afinal de
contas, a linda Antoinette, que tão deliciosamente o tinha
distraído durante aqueles dias em Nice, sabia há uma
semana que ele ia tomar aquele navio. E os espiões,
principalmente quando sabem as coisas a tempo, preparam
tudo muito bem.
Mas não. Não havia nada. Nem câmaras de TV, nem
microfones, nem bombas. Tudo bem.
Naquele momento o transatlântico zarpava. Paco olhou
pela janela circular para os personagens que, de terra firme,
davam adeus agitando lenços. Um olhar apenas, porque
aquilo de despedidas sempre o deixava aborrecido. Se uma
pessoa diz que vai embora, diz-se-lhe adeus e pronto.
Depois voltará, se quiser e puder.
E como ainda faltavam duas horas para o jantar, Paco
Rivelles achou que poderia matar o tempo num dos bares de
bordo. O mais luxuoso, naturalmente. Não há nada mais
divertido que fazer a grande vida quando pagam os outros.
A CIA, por exemplo.
Estava já para abrir a porta quando se lembrou de
alguma coisa. Deu uma palmada na testa, foi ao sofá e
sentou-se. Tirou um sapato, abriu o salto e do vão existente
neste sacou uma pequena esfera de plástico. Tornou a calçar
o sapato e olhou em torno, até que seu olhar fixou-se num
pequeno quadro moderno. Um quadro surrealista, todo em
traços negros, azuis, vermelhos e amarelos. Deus saberia o
que significava aquilo. Aproximou-se e passou a mão pela
tela. Não era tela, mas papel fotográfico Uma excelente
reprodução fotográfica de algum quadro que, sem dúvida,
devia ser famoso. Com a unha, esteve seguindo uma das
linhas negras, até encontrar uma fenda. Rompeu então a
cápsula de plástico, sacou a finíssima tira de microfilme e
encaixou-a longitudinalmente na fenda. Depois, deu uma
volta pelo camarote e olhou de súbito para o quadro.
Nada. Nem ele mesmo podia ver o microfilme, apesar de
saber exatamente onde estava. Aproximou-se mais, mais,
mais... Depois olhou de diversos ângulos, já com as luzes
acesas, certificando- se de que não havia nenhum reflexo
revelador.
E já tranqüilo, abandonou o camarote, percorreu o
corredor até o centro do barco, encontrou a passagem que ia
dar no convés, foi a este e jogou a diminuta esfera de
plástico ao mar, sem nenhum gesto visível. Simplesmente,
apoiou-se à borda e deixou-a cair. Esteve ali uns cinco
minutos olhando para o Havre já longínquo.
Depois pensou que já era tempo de tomar um bom
conhaque. Encaminhou-se para a popa e entrou no “Glass
Enelosed Bar”, realmente instalado entre paredes de vidro,
com todo o mar à vista. Sentou- se a uma mesinha e ficou
deslumbrado com a beleza da jovem que entrava naquele
momento. Uma loura de olhos verdes ultra luminosos, que
veio ocupar a mesa vizinha. Ela sorriu quando o garçom
aproximou-se. Tinha cruzado as pernas, mostrando-as o
bastante para que Paco passasse a noite na esperança de
encontrá-la na manhã seguinte numa das piscinas, em
biquíni...
—... cavalheiro?
Ergueu vivamente o olhar e sobressaltou-se vendo diante
dele um garçom, cuja atitude era a clássica de quem tem
muita paciência e é capaz de repetir inúmeras vezes a
pergunta: “Que deseja tomar, cavalheiro?”.
— Oh, bem... Conhaque... Um “Carlos I”.
— Com gelo?
— Não, absolutamente!
O garçom afastou-se e Paco pôs-se a olhar para a loura
de olhos verdes, que sorria daquele modo capaz de derreter
corações. Ela devia tê-lo também um pouco fraco, pois
olhou para ele.
E então, entrou a ruiva. Com o que, as preferências de
Paco Rivelles com relação ao belo sexo ficaram
notàvelmente confusas. Louras ou ruivas? Porque se a loura
era tremenda, a ruiva era de fazer soltar gritos. Ela sentou-
se ao balcão, mostrando mais ainda as pernas do que a loura
e convencida de que suas costas parcialmente nuas eram
sensacionais. E eram, eram...
— O conhaque, cavalheiro.
— O quê?
— Le cognac, Monsieur.
— Ah, oui... Merci...
O garçom, como deve ser, não se alterava. Mas não Paco
Rivelles, que pouco depois, quando estava degustando o
primeiro gole do “Carlos I”, sofreu uma sacudidela nervosa
que quase o fez engasgar.
Mas que diabo estava acontecendo ali? Acaso não
haveria mulheres feias no mundo? Bem, talvez as houvesse
no mundo, mas não no transatlântico “Empire”. A loura era
sensacional e a ruiva, fantástica. Mas aquela morena que
acabava de entrar, alta, flexível, com uns enormes olhos
cinzentos um pouco exóticos, rasgados, um corpo incrível...
Não estava direito. Às vezes passava uma semana
procurando uma mulher que fosse digna de suas atenções. E
agora, em menos de três minutos, encontrava ali três
beldades como nunca havia sonhado. Isso, afinal de Contas,
não era verdadeira sorte, pois não poderia dedicar-se às três
ao mesmo tempo, sobretudo estando todos eles no mesmo
barco.
Olhou a loura e ela sorriu-lhe, levemente, mas com
visível simpatia. Um olhar de relance à morena valeu-lhe
mais um sorriso. Uma olhadela à ruiva, e esta mostrou os
belos dentes num sorriso destes de atirar um homem de
costas no chão.
Paco Rivelles acenou para o garçom.
— Diga, cavalheiro.
— Por favor: quantos conhaques tomei?
— Aqui, um apenas.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Um conhaque normal?
— O que pediu, cavalheiro.
— Bem... Deverei crer em tudo que meus olhos vêem.
Você vê a mesma coisa?
O garçom permitiu-se um breve sorriso.
— Creio que sim, cavalheiro. E se me permite, direi que
o “Empire” está de sorte desta vez.
— É o que penso eu — quase riu o espanhol. — Pode
mandar-me um boy?
— Imediatamente. Mais conhaque, talvez?
— Não, não. O bom deve ser dosado.
— Sem dúvida, cavalheiro.
O garçom afastou-se e Paco viu-o fazer sinal a um boy,
que logo chegou à mesa. Um rapazola esperto, cujo olhar
malicioso brilhou intensamente quando Paco pediu-lhe para
comprar um ramo de flores.
— De que se ri?
— De nada, cavalheiro — sobressaltou-se o boy.
— Bom... Além do mais lindo ramo que você puder
encontrar, quero que me compre também uma caixa de
bombons. Está claro?
— Sim, senhor. E que mais?
— Nada mais.
— Só duas coisas?
— Rapaz — suspirou Paco —, não é bom crescer muito
depressa. Deixe de maus pensamentos e vá comprar o que
lhe disse... e leve ao camarote K, para a velha duquesa de
Montpelier. Entregue em mão. Poderá reconhecê-la
fàcilmente porque usa óculos, tem sessenta anos e muito
mau gênio. Se ela atirar as flores e os bombons em sua
cabeça, tudo o que você tem a fazer é sair correndo... Okay,
boy?
— Okay — riu o garoto.
— E outra coisa: nada de pensar que a duquesa e eu...
Hem?
— Não, senhor. Não estou pensando nada.
— Vá, então. Tome este dinheiro. O que sobrar, para
você. Se não sobrar nada, venha me dizer.
Esteve ainda dez minutos no bar, um pouco desolado
porque a ruiva tinha ido embora, deixando atrás de si um
sorriso sensacional que parecia destinado exclusivamente a
ele, apesar de já haver outros homens presentes. Antes de
retirar-se, ele ainda lançou alguns olhares românticos à
morena e à loura. Esta correspondia bem, mas a morena
parecia ter esfriado. Sua expressão era muito séria. De
qualquer modo, olhava francamente para o espanhol, sem
tentar nenhum dissimulo.
Após um passeio pelo convés, Paco regressou a seu
camarote disposto a vestir-se para o jantar. Abriu a porta,
entrou e acendeu a luz... e ficou olhando estupefato para o
extraordinário visitante. Melhor dito, para a extraordinária
visitante clandestina.
Sua estupefação foi tal que durante alguns segundos
esteve incapaz de reagir. Aquela mulher estava vestida de
malha negra, uma espécie de maillot completo que
modelava primorosamente o mais perfeito corpo feminino
até então visto por Paco Rivelles, o qual, atônito, olhava-o
de cima a baixo, de baixo a cima, de direita a esquerda, de...
Olhasse por onde olhasse, aquela mulher possuía a plástica
mais admirável do mundo e isso se tornava bem evidente
devido à malha negra justíssima, que também lhe cobria a
cabeça, deixando livre apenas o rosto, e isto parcialmente,
pois que ela usava meia máscara. Era como uma sombra
maravilhosa, um sonho, uma ilusão!
— Puxa vida! Quem é você? — perguntou Paco.
A mulher aproximou-se, sorrindo tão encantadoramente
que o espanhol sentiu as pernas fracas, como se seus joelhos
amolecessem. Pelas aberturas da máscara, uns enormes,
belíssimos olhos azuis pareciam lançar faíscas irônicas e
ternas ao mesmo tempo.
A mulher de negro ergueu a mão, suavemente. Tão
suavemente que Paco chegou a pensar que a oferecia para
que a beijasse. E quando começava a inclinar-se para fazê-
lo, aquela mão pareceu tornar-se rígida. E antes que ele
pudesse pensar em mais nada, recebeu de um lado do
pescoço um golpe seco, fulminante.
Caiu de joelhos diante da dama de negro e, então,
recebeu o segundo golpe, agora na nuca.
Possivelmente, Paco Rivelles nem sequer teve tempo de
pensar que naquele luxuoso transatlântico havia mulheres
demais...
CAPITULO TERCEIRO
Em trajos menores
Pugilato a bordo
Homens demais...
4
Fazenda com criação de touros, na Espanha.
— Mas não me meti exatamente a espião. Isso
simplesmente aconteceu. Tanto podia ser a espionagem
como qualquer outra coisa.
— Sem dúvida. Já lhe disse que o considero um
aventureiro nato. E por isso lhe proponho: quer trabalhar
para a CIA?
— Você tem capacidade para admitir-me ou recusar-me?
— Claro que tenho. Minha voz é ouvida muito
atentamente na CIA, de uns tempos para cá. O que eu disser
será feito, por importante que seja. Aceita?
— Não.
— Pode pensar antes de decidir, Paco.
— Está pensado, querida. Paco Rivelles não trabalha
para ninguém. O mundo é grande, o horizonte sem limites.
Nunca aceitarei trabalhar recebendo instruções. Nunca.
— Respeito sua decisão. E agora, já que sabemos que
você não tem nenhum irmão, muito menos um irmão
inventor, diga-me de onde tirou o microfilme que contém os
planos do centralizador fotográfico.
— Foi uma casualidade.
— Que espécie de casualidade?
— Não quero dizer.
A dama de negro pareceu impacientar-se, mas só um
instante. Tornou a sorrir.
— Sei que é teimoso, logo não adianta insistir. Agora,
diga-me outra coisa: por que um milionário em pesetas, em
terras e touros arrisca a vida por cem mil dólares, e está
disposto a enganar quem quer que seja para conseguir mais?
— Porque isso me diverte.
— Só por isso?
— Só. Por outro lado, o dinheiro nunca sobra.
— Em que o emprega?
— Em produzir mais dinheiro.
Um amável sorriso apareceu nos lábios da dama de
negro.
— Ouviu falar da chamada “Fundação
Antipoliomielite”, Paco?
— Não — replicou secamente o espanhol.
— Não? Pois fica muito perto de Sevilha, numa formosa
planície, entre canteiros de flores vermelhas e amarelas,
granadas, palmeiras, oliveiras e tanques com curiosos jogos
de água. Ali, trezentas e quatorze crianças estão sendo
atendidas por especialistas e vivem sob os cuidados de um
dedicado grupo de religiosas. Lembra-se agora, Paco?
— Não — repetiu Rivelles.
— Pois sua memória é péssima, meu amigo. Essa
instituição se mantém graças à generosidade de um só
homem, o mesmo que a criou. Esse homem é o Marquês de
Campo Bravo.
— Ouça, eu não entrei em contato com a CIA para lhe
contar minha vida. Convença-me de que é a pessoa que
estou esperando: entrego-lhe o microfilme, recebo meus
cem mil dólares e boa-noite. Okay?
— No okay — contestou sorrindo a dama de negro. —
Primeiro, porque já lhe disse que tenho o microfilme.
Segundo, porque quero prosseguir este jogo até o fim.
— Que fim?
— Já que não me quer dizer, saberei por meus próprios
meios da procedência do microfilme, ou seja, do invento.
Além disso, quero saber qual a participação da MVD, do
Deuxième Bureau e do MI-5 em tudo isto. São coisas que
não podem acontecer sem minha intervenção, Paco. Não
seria próprio de mim.
— E você... quem é? Não a vi antes, em algum lugar...?
— Que lhe parece? — riu a dama de negro.
— Minha memória diz que não... Eu nunca esqueceria
uma mulher com sua plástica, sua boca, seus olhos... Mas
sei que já a vi antes... Onde e quando?
— Continue pensando, Paco. Talvez me localize, no fim.
Enquanto isso, creio que devo dizer-lhe hasta la vista.
— E meu dinheiro?
— Tenha paciência.
— Outra coisa: terá que provar-me que é a enviada da
CIA.
— Provarei... quando chegar o momento. Adeus... E
tome cuidado: os dois assassinos já estão despertando. Teria
sido melhor matá-los, mas se eu tivesse lançado um gás
letal você também estaria morto.
— Isso lhe causaria pena?
Os olhos azuis brilharam intensamente um instante.
Depois a dama de negro sacudiu os perfeitos ombros,
dirigiu-se à porta, abriu-a e saiu ao corredor. Quando Paco
Rivelles foi olhar, o corredor estava deserto.
— Talvez seja uma bruxa que voa sem vassoura.
Fechou a porta e olhou para Folka e Eminov, que se
agitavam cada vez mais, recuperados dos efeitos do gás.
Apanhou os revólveres de ambos, se no sofá e acendeu um
cigarro. Quando os dois já estavam em condições de
entender perfeitamente, estendeu o braço, indicando o
banheiro.
— Entrem lá, cavalheiros, apanhem as toalhas de banho
e ponham-se a limpar o camarote. Tudo bem limpo. No
quero que fique nem uma gota de sangue. E se pensam que
minha aversão pelas armas significa que não sei usá-las,
nada mais fácil para mim que desfazer esse engano.
Em poucos minutos, o camarote ficou limpo, sem se
verificar qualquer incidente. Depois Paco obrigava-os a
guardar as toalhas sob seus casacos, fazendo o possível para
dissimular o volume. Por fim, indicou a porta.
— E agora, iremos der esse passeio pelo convés de que
falaram antes. Observem, porém, senhores, que tenho um
revólver o bolso da calça e outro no paletó. Em estilo
gangster... Pode ser que tenha que comprar outro smoking,
mas, como bem o dissecam, não creio que vocês possam
comprar vidas.
Saíram os três do camarote, Paco atrás dos russos,
pensando na mentira que lhe contara a dama de negro. Uma
mentira ingênua... Por que lhe havia dito que tinha o
microfilme, se o microfilme continuava na fenda existente
no quadro, onde ele o deixara logo ao chegar a bordo? Sem
dúvida, aquela mulher tinha posto sua vida a descoberto em
menos de três minutos, mas... acaso isto significava que
devia confiar nela? Como saber se era a autêntica enviada
pela CIA?
Bem, tinha apenas que continuar brincando do espião.
De um momento para outro, tudo se saberia e acabaria a
brincadeira.
Chegaram ao convés e, junto à borda, Folka e Eminov
voltaram-se para ele, expectantes.
— Não há nenhuma dúvida, senhores: têm que saltar.
— Saltar... ao oceano?
— Exato. Está claro que podem recusar-se, considerando
que a altura é de uns oito ou dez metros. Mas estou certo de
que são exímios saltadores de trampolim... De qualquer
modo, escolham: ou saltam por bem, ou saltam por mal. E
só têm três segundos para decidir. De modo que...
Eminov e Folka compreenderam que o espanhol ia matá-
los se não saltassem à água. Ficaram tão certos disso, vendo
aqueles olhos tornados por um momento incandescentes,
que não hesitaram. Lançaram-se por sobre a borda. Apoiado
a esta, Paco Rivelles ouviu a queda dos corpos na água, viu
os círculos formados em sua superfície, depois a emersão de
duas cabeças, que logo ficaram para trás.
Atirou os dois revólveres, sorriu e, enquanto regressava
ao camarote, teve um de seus freqüentes rasgos de humor:
— Homem ao mar! — gritou.
CAPITULO SÉTIMO
Bola de plástico no fundo da piscina
Misterioso bilhete em italiano
Uma bonita loura à espera...
CAPITULO NONO
O chá de Madame la Duchesse
História de um microfilme
Muito espiã, inclusive para um profissional
A SEGUIR: