Você está na página 1de 31

2017

- 02 - 15

Revista dos Tribunais


2016
RT VOL.970 (AGOSTO 2016)
JURISPRUDÊNCIA ANOTADA
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

Tribunal Superior Eleitoral

1. VEREADOR – Eleição – Ocultação do histórico criminal – Fraude eleitoral

TSE - AgRg no REsp 1-37.2013.6.10.0003 /Estado do Maranhão - Plenário - j. 03.05.2016 - m.v. - Rel.
Dias Toffoli - DJe 25.05.2016 - Área do Direito: Eleitoral.

VEREADOR – Eleição – Ocultação do histórico criminal – Fraude eleitoral – Ocorrência – Conduta com
clara finalidade de iludir o eleitor e burlar a legislação eleitoral – Conceito de fraude, ademais, que
engloba todas as hipóteses que afetam a normalidade do pleito eleitoral e a legitimidade do mandato.

Veja também Jurisprudência

RT 910/623, DJe 11/02/2011 - CRIME ELEITORAL - Falsificação de documento particular


para fins eleit...

RT 964/709, WEB - PREFEITO MUNICIPAL – Eleição – Substituição de candidato pelo seu


filh...

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL Nº 1-37.2013.6.10.0003 – CLASSE 32


– SÃO LUÍS – MARANHÃO

Relator originário: Ministro Gilmar Mendes

Redator para o acórdão: Ministro Dias Toffoli

Agravante: Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira

Advogados: Ezikelly Silva Barros – OAB nº 31903/DF e outros

Agravado: Werbeth Macedo Castro

Advogados: Francisco Manoel Martins Carvalho – OAB nº 3323/MA e outros

Ementa

ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO


ELETIVO. VEREADOR. DUPLA IDENTIDADE. OCULTAÇÃO DE HISTÓRICO CRIMINAL. FINALIDADE
CLARA DE LUDIBRIAR O ELEITOR E BURLAR A LEGISLAÇÃO ELEITORAL. FRAUDE. CONFIGURAÇÃO.
AGRAVO PROVIDO.

1. O TSE, no julgamento do REspe nº 1-49/PI, rel. Min. Henrique Neves, assentou que “o conceito da
fraude, para fins de cabimento da ação de impugnação de mandato eletivo (art. 14, § 10, da
Constituição Federal), é aberto e pode englobar todas as situações em que a normalidade das
eleições e a legitimidade do mandato eletivo são afetadas por ações fraudulentas, inclusive nos casos
de fraude à lei”.

2. A alteração da conclusão firmada pela maioria da Corte de origem não implica reexame de fatos e
provas, mas apenas o adequado enquadramento jurídico da conduta imputada ao agravado,
porquanto a realidade fática em discussão foi devidamente delineada pelo Tribunal de origem.

3. O candidato, em que pese tenha utilizado na campanha eleitoral o apelido pelo qual era conhecido
e apresentado todos os documentos exigidos por lei no momento do registro de candidatura
referentes ao seu nome verdadeiro, ao ocultar seu histórico criminal, agiu de forma fraudulenta,
com a finalidade clara de ludibriar o eleitor e burlar a legislação eleitoral.

4. A conduta analisada nos autos, e reconhecida pelo Tribunal a quo como caracterizadora da fraude
apregoada pelo art. 14, § 10, da Constituição Federal, afetou a normalidade das eleições e a
legitimidade do mandato eletivo outorgado ao agravado.

5. Agravo regimental provido para, provendo-se o recurso especial interposto, julgar procedente a
ação de impugnação de mandato eletivo, restabelecendo a sentença de piso.

ACÓRDÃO

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por maioria, em dar provimento ao agravo
regimental para, dando provimento ao recurso especial eleitoral, julgar procedente a ação de
impugnação de mandato eletivo, nos termos do voto do Ministro Dias Toffoli.

Brasília, 3 de maio de 2016.

MINISTRO DIAS TOFFOLI – REDATOR PARA O ACÓRDÃO

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES: Senhor Presidente, na origem, Paulo Roberto Pinto Lima
Oliveira ajuizou ação de impugnação de mandato eletivo em desfavor de Werbeth Macedo Castro,
eleito vereador pelo Município de São Luís/MA nas eleições de 2012, em razão de fraude no
requerimento de registro de candidatura consistente em omissão de informações sobre sua vida
pregressa com o intuito de ludibriar o eleitorado.

Segundo a inicial, o réu, ao apresentar-se com identidade diversa daquelas em que sofrera
condenação criminal, impediu que o eleitor conhecesse seu histórico de improbidade moral e
política, utilizando-se de artifício apto a induzi-lo a erro e a influenciar sua escolha, o que
comprometeria a lisura do processo eleitoral e a igualdade na disputa pelo sufrágio.

O Juízo da 3ª Zona Eleitoral/MA julgou procedente o pedido e decretou a cassação do mandato


eletivo do réu, Werbeth Macedo Castro, determinando a imediata diplomação e posse do suplente
(fls. 734-740).

O Tribunal Regional Eleitoral, por maioria, negou provimento ao recurso eleitoral em acórdão assim
ementado (fl. 802):
RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES 2012. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. ALEGAÇÃO
DE FRAUDE NO REGISTRO DE CANDIDATURA. DUPLICIDADE DE IDENTIDADES. PREFACIAL DE
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. REJEIÇÃO. COMPROVAÇÃO DE FRAUDE ELEITORAL.
CONHECIMENTO. IMPROVIMENTO.

– Se mediante uma seqüência de atos ardilosos e fraudulentos, o candidato impede o eleitorado de


conhecer aspectos negativos de sua vida pregressa, é forçoso reconhecer a existência de fraude
eleitoral.

– Recurso conhecido e improvido.

Os embargos de declaração opostos por Werbeth Macedo Castro (fls. 818-840) foram parcialmente
acolhidos pelo TRE, que lhes concedeu efeitos infringentes ao suprir omissão quanto ao fato de a
conduta não possuir “potencialidade lesiva hábil para influir no resultado de sua eleição, devido à
fragilidade do acervo probatório constante dos autos” (fl. 968). Eis a ementa do acórdão (fl. 959):

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ELEITORAL INOMINADO. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO E


CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO. COMPROVAÇÃO DO VÍCIO DE OMISSÃO DA PONTENCIALIDADE [sic].
OCORRÊNCIA DE EFEITOS INFRINGENTES NO ACÓRDÃO EMBARGADO. REFORMA DA SENTENÇA
QUE CASSOU O MANDATO DO EMBARGANTE. CONHECIMENTO E ACOLHIMENTO PARCIAL.

I. O acórdão embargado não se omitiu no exame da alegação de que a fraude imputada ao


embargante possui conotação eleitoral. Neste ponto, o suposto vício denota o propósito de rediscutir
matéria já decidida por esta Corte.

II. É possível a atribuição de efeitos infringentes aos embargos declaratórios em casos excepcionais,
em que o reconhecimento de omissão tenha por consequência a alteração do julgado.

III. Este Tribunal não se pronunciou acerca da potencialidade da conduta do embargante no


resultado da eleição, o que revela a presença do vício de omissão no acórdão embargado. Constatada
omissão no julgamento, cumpre afastá-la.

IV. Em sede de ação de impugnação de mandato eletivo, faz-se necessária a presença de provas
robustas, a fim de que se comprove a potencialidade da conduta para influenciar o resultado do
pleito.

V. Os autos não reúnem elementos suficientes para extrair da conduta do embargante, não obstante
sua reprovabilidade, potencialidade lesiva hábil para influir no resultado de sua eleição.

VI. As alterações promovidas pela LC nº 135/2010 referem-se apenas à representação de que trata o
art. 22 da Lei de Inelegibilidades, razão pela qual continua sendo analisada a potencialidade lesiva
em sede de ação de impugnação de mandato eletivo.

VII. Embargos conhecidos e parcialmente acolhidos.

A essa decisão, foram opostos embargos declaratórios por Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira (fls.
991-1.000) e por Werbeth Macedo Castro (fls. 1.004-1.010), ambos rejeitados, conforme acórdão de
fls. 1.042-1.049.

Irresignado, Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira interpôs recurso especial com fundamento no art.
276, inciso I, alínea a, do Código Eleitoral e no art. 121, § 4º, inciso I, da Constituição Federal, no
qual alegou violação ao art. 14, § 10, da Carta Magna.
Nas razões recursais, o recorrente

a) pugnou pela revaloração dos fatos delineados no acórdão regional, por ser este contrário às
provas dos autos;

b) sustentou que “não há que se fazer uma relação causal entre a fraude [e] o resultado do pleito,
como sugere o acórdão recorrido, mas sim demonstrar que a conduta é apta a atingir (positiva ou
negativamente) o eleitorado, como ocorreu no caso dos autos” (fl. 1.060);

c) aduziu que a conduta do candidato – ocultação de sua vida pregressa desabonadora – foi apta a
interferir na manifestação de vontade do eleitorado, em afronta ao princípio da autenticidade
eleitoral e, por conseguinte, ao princípio democrático.

O presidente do TRE inadmitiu o recurso especial por entender não preenchidos os seus
pressupostos específicos (fls. 1.069-1.071).

Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira interpôs agravo de instrumento (fls. 1.075-1.082), argumentando
não pretender o reexame das provas dos autos, mas tão somente a revaloração jurídica dos fatos
delineados no acórdão regional. Reafirmou ainda o cabimento do especial em razão da expressa
transgressão à Carta Magna, conforme prevê o art. 121, § 4º, inciso I, da CF/1988.

Devidamente intimado, Werbeth Macedo Castro não apresentou contrarrazões (fl. 1.087).

A Procuradoria-Geral Eleitoral opinou pelo provimento dos recursos (fls. 1.095-1.101).

Os autos foram-me distribuídos e, em 30.3.2015, vieram-me conclusos (fl. 1.105).

Em decisão de fls. 1.106-1.119, neguei seguimento ao recurso especial.

Werbeth Macedo Castro interpõe agravo regimental (fls. 1.129-1.146) no qual insiste em argumentar
que a omissão de informações caracterizaria fraude a ensejar a procedência da ação de impugnação
de mandato eletivo. Assevera que “o caso dos autos não discute nenhuma causa de inelegibilidade”
(fl. 1.132) e, em razão disso, a matéria não estaria preclusa.

Acrescenta que “a jurisprudência desse c. TSE já evoluiu no sentido de admitir o cabimento de AIME,
mesmo com base em ABUSO, a fatos ocorridos ANTES do período de candidatura” (fl. 1.133) e que
“não existe previsão legal, para que casos de FRAUDE possam ser arguidos via AIRC, não há falar em
preclusão da matéria” (fls. 1.134-1.135).

Afirma que “é inequívoco na moldura fática delineada pelo v. acórdão regional que o [candidato]
possuía outra identidade, sobre a qual existem [ sic ] uma série de condutas desabonadoras à [ sic ]
um pretenso candidato a cargo eletivo” (fl. 1.136) e que “utilizou de ardil e fraude para privar os
eleitores do conhecimento de suas práticas nada republicanas” (fl. 1.137).

Sustenta que a supremacia do interesse público garante aos eleitores o direito de conhecer de
maneira ampla e irrestrita o candidato ao pleito e que o “agravado impediu que o eleitor conhecesse
seu histórico de improbidade moral e política, utilizando-se de artifício apto a induzir o eleitor a
erro e a influenciar sua escolha, o que comprometeria a lisura do processo eleitoral e a igualdade na
disputa pelo sufrágio” (fl. 1.141).

Defende que “a ocultação de sua vida pregressa desabonadora [do candidato], teve GRAVIDADE
suficiente para interferir na manifestação de vontade do eleitorado (liberdade de voto), maculando
o pleito municipal de 2012” (fl. 1.144), e que há no acórdão regional provas robustas da fraude
praticada.

Por fim, argumenta a impossibilidade do julgamento monocrático do recurso, pois o caso não se
enquadra nas hipóteses do art. 36, § 6º, do RITSE.

Requer a reconsideração da decisão agravada ou a sua submissão ao Plenário do TSE para reformar
a decisão monocrática.

É o relatório.

VOTO (vencido)

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): Senhor Presidente, inicialmente, é necessário


ressaltar que, estando a decisão do Regional em harmonia com a jurisprudência deste Tribunal
Superior, pode o relator proferir decisão monocrática, nos termos do art. 36, § 6º, do RITSE.

Eis a fundamentação da decisão agravada (fls. 1.109-1.118):

Considerando que o agravante aponta suposta violação à Constituição Federal e o recurso preenche
os demais pressupostos de admissibilidade, dou provimento ao agravo para melhor análise do apelo
especial.

A questão controvertida neste recurso é saber se o recorrido, Werbeth Macedo Castro, eleito
vereador pelo Município de São Luís/MA no pleito de 2012, praticou fraude eleitoral ao omitir
informações sobre sua vida pregressa no requerimento de registro de candidatura, conduta apta a
ensejar a cassação de seu mandato eletivo.

Anoto, inicialmente, ser incontroverso nos autos o fato de o candidato ter apresentado no momento
do requerimento de registro de candidatura todos os documentos exigidos pela legislação eleitoral,
referentes à sua identidade verdadeira, pois, conforme assentou o Regional, “é certo que o exame da
vida pregressa do recorrente não foi obstado haja vista que apresentou as certidões exigidas para o
registro de sua candidatura” (fl. 807).

No mesmo sentido, extraio do voto vencido do acórdão que julgou os primeiros embargos (fls. 973-
974):

A primeira hipotética omissão trazida à [ sic ] lume diz respeito ao fato de o embargante ter
registrado sua candidatura com a identidade verdadeira, mas não com a identidade falsa que possui
de forma incontroversa (fls. 106 – cópia)

Da leitura que transcrevo do voto condutor do Acórdão, não constato tal omissão apontada. Vejamos
o trecho de fls. 806:

Pela análise dos documentos acostados aos autos, infere-se que o recorrente dispunha de duas
identidades civis: Werbeth Macedo Castro RG 493004955 SSP/MA (fls. 474) e Werbeth Machado
Castro RG 02872492007-0 SSP/MA (fls. 41), além de usar outras variações de nome constantes em
documentos não oficiais.

No entanto – e este é o ponto crucial do presente caso –, esta Justiça Especializada não possui
competência para julgar o ilícito porventura cometido pelo recorrente ao utilizar-se de múltiplos
pseudônimos, tarefa essa pertencente unicamente à Justiça Comum.
Assim sendo, o julgamento em tela deve se limitar à verificação da ocorrência ou não de fraude
ocasionada pela omissão do recorrente acerca de suas outras identidades no momento do registro de
candidatura.

Ora, com simples leitura já é possível inferir que o embargante concorreu com sua verdadeira
identidade e não com o seu RG falso. De qualquer forma, se tal inferência não for possível, para
aclarar, faço constar no Acórdão que, ao registrar sua candidatura, o embargante fez uso de seus
documentos originais.

Na espécie, a causa de pedir da AIME circunscreve-se ao fato de que Werbeth Macedo Castro, no
requerimento do registro de sua candidatura, omitiu já haver usado documentos de identificação
falsos, tendo sido possivelmente condenado com nome diverso do verdadeiro, com o intuito de
ludibriar o eleitorado sobre sua vida pregressa.

Extraio do acórdão as circunstâncias fático-jurídicas que ensejaram inicialmente a procedência da


ação de investigação judicial eleitoral (fls. 806-809):

Pela análise dos documentos acostados aos autos, infere-se que o recorrente dispunha de duas
identidades civis: Werbeth Macedo Castro RG 493004955 SSP/MA (fls. 474) e Werbeth Machado
Castro RG 02872492007-0 SSP/MA (fls. 41), além de usar outras variações de nome constantes em
documentos não oficiais.

No entanto – e este é o ponto crucial do presente caso –, esta Justiça Especializada não possui
competência para julgar o ilícito porventura cometido pelo recorrente ao utilizar-se de
múltiplos pseudônimos, tarefa essa pertencente unicamente à Justiça Comum.

Assim sendo, o julgamento em tela deve se limitar à verificação da ocorrência ou não de fraude
ocasionada pela omissão do recorrente acerca de suas outras identidades no momento do registro de
candidatura.

O recorrente é conhecido pelo apelido de “Beto Castro” entre seus eleitores, sendo esta a sua
designação na urna. Logo, sob este parâmetro e tendo em vista que o aludido apelido
conforma-se a qualquer de seus nomes, não há que se falar em indução a erro da parcela de
cidadãos que o elegeu como vereador. Não, se adotado como parâmetro o apelido suso
mencionado.

O alegado uso, pelo recorrente, da duplicidade de nomes como forma de ocultar do eleitorado o
processo penal pelo qual respondeu – o que interferiria assim nas eleições –, é, sob meu ponto de
vista, o enfoque a ser analisado.

É certo que o exame da vida pregressa do recorrente não foi obstado haja vista que
apresentou as certidões exigidas para o registro de sua candidatura. Tudo isso esgotaria a
discussão sobre o caso se, e somente se, fosse o direito eleitoral uma ciência exata, o que tenho por
incorreto.

Com efeito, o que nós temos no caso em apreço é um cidadão que ousou ludibriar todo o sistema de
segurança do Estado, bem como o Poder Judiciário se deixando ser processado e condenado com a
certeza da impunidade, vez que sempre se apresentou com documentos falsos. Respondeu pelo
crime praticado como um fantasma. Ao ser preso, apresentou os documentos falsos. O inquérito foi
concluído reconhecendo a prática da conduta ilícita. O Juiz condenou aplicando a norma ao caso
concreto entendendo que a conduta se amoldava ao tipo. E quem deveria responder pelo crime?
Quem foi o condenado? Foi o Werbeth Macedo Castro RG 493004955 SSP/MA (fls. 474)? Não
Excelências. Foi o Werbeth Machado Castro RG 02872492007-0 SSP/MA (fls. 41). O falso. E um outro
questionamento surge: qual a razão dessa prática? A resposta é simples. Omitir sua condição de
condenado para não afetar sua candidatura a vereador que se avizinhava.

Vossas Excelências antes de magistrados são humanos e eleitores. Tendo um candidato com o qual
simpatizassem, se V. Exas. soubessem que esse candidato havia sido condenado em um processo de
natureza penal, Vossas Excelências compareceriam à urna para elegê-lo como seu representante no
Legislativo ou mesmo no Executivo? Acredito que não, haja vista que o que se pretende é ter como
representante pessoa tida como “ficha limpa”.

Acredito que os eleitores de São Luis foram privados, mediante uma sequência de atos ardilosos e
fraudulentos, de saber a realidade sobre a vida de um dos candidatos e é esta a real razão da
exigência das certidões destinadas ao registro das candidaturas. Por tais considerações, tenho que
não assiste razão ao recorrente.

Diante do exposto, e em dissonância com o parecer ministerial, voto pelo conhecimento e


desprovimento do presente recurso para manter a decisão de base que julgou procedente a Ação de
Impugnação de Mandato Eletivo, ao tempo em que determino a posse do suplente Paulo Roberto
Lima Oliveira como vereador de São Luis, Capital do Estado do Maranhão. (Grifo nosso)

No entanto, o acórdão que julgou os embargos concedeu-lhes efeitos infringentes para considerar a
ação improcedente. Transcrevo no que interessa trechos da decisão regional (fls. 963-968):

Como se denota, Senhor Presidente, embora o recorrente possua dois registros civis de identidade e
o fato de haver requerido o seu registro com o nome Werbeth Macedo Castro não impediu, no
período de registro e de propaganda eleitoral, a exploração de sua vida pregressa pelos adversários.

Ora, a despeito do silêncio do embargante sobre a sua vida pregressa, tem-se que a exigência de
conduta diversa, seja qual for a hipótese, padece de manifesta inconstitucionalidade por pretender-
se impingi-lo a produzir prova contra si mesmo.

Tal exigência afronta ao [ sic ] inciso LXIII do art. 5º da Constituição Federal, assim como ao [ sic ]
art. 8º, parágrafo 2º, alínea “g”, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que – ratificada
pelo Brasil em 1992 – foi incorporada ao ordenamento pátrio com status de norma constitucional.

Neste caso, como sustentado pela douta Procuradoria Eleitoral, a falha esteve em seus adversários,
que não exploraram o fato de o embargante ter dois registros civis de identidade e sobre o processo
penal pelo qual respondeu como forma de causar-lhe prejuízo político durante a campanha.

[...]

Excelências, este caso é muito emblemático, porém, revestido de tecnicidade jurídica, pois a situação
fática destes autos, a meu ver, não constitui artifício ou ardil, de modo a lesar ou ludibriar o
eleitorado, a configurar a fraude examinável em ação de impugnação de mandato eletivo.

[...]

Indago: há condenação do embargante?

Não.

Não se nota em nenhum dos documentos constantes dos autos a existência de condenação criminal
transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado em desfavor do embargante que importe na
inelegibilidade prevista na alínea “e” do inciso I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90.

Entendo, Senhores Desembargadores, que o ordenamento jurídico nacional obsta a presunção da


existência de causas de inelegibilidade, para preservar, o que sempre se presume, a elegibilidade, eis
que o registro de candidatura não pode ser indeferido com base na vida pregressa do candidato.

Assim como esta Corte Regional, o próprio embargado e o MPE não indicaram a existência de uma
condenação contra o ora recorrente, seja colegiada ou transitada em julgado, tornando inadmissível
a presunção de sua inelegibilidade com base na art. 1 [ sic ], I, e, da LC 64/90, sob pena de gravíssima
violação a direito político fundamental do candidato.

A propósito, comungo, também, com a preocupação do representante ministerial desta Corte e do


ilustre Relator originário, Des. Sérgio Muniz, ao alegarem que a conduta do embargante é totalmente
desabonadora, não sendo exemplo pra ninguém, pois o que se pretende no Legislativo ou Executivo
é ter-se representante com “ficha limpa”.

Afirma, ainda, o embargante calar-se o acórdão no tocante a [ sic ] falta da aferição da


potencialidade da conduta para alterar o resultado das eleições. Neste ponto, assiste razão ao
embargante porque, de fato, não houve pronunciamento desta Corte sobre a matéria.

A propósito, colho dos autos depoimentos das testemunhas arroladas pelo embargado:

Ubiratan da Silva Campos (fl. 629):

“Que, ao tomar ciência pela mídia de duplicidade de documentos, carteira de identidade, CPF, título de
eleitor, ignorou, porque acredita que era mentira, pois, acaso fossem verdade esses fatos, o requerido
nem poderia ser candidato;”

Genilson Bastos Gomes (fl. 630):

(...) somente tivera conhecimento que o mesmo (sic) estava envolvido em prática de crimes pela
imprensa, após as eleições; que reside no bairro Areinha, sendo que o requerido reside no bairro de
Fátima e que por vezes frequenta a residência deste; que as pessoas com quem tivera contato, as quais
se manifestaram sobre esses fatos, ficaram surpresas, em razão de conhecerem o requerido e que não
acreditaram porque o requerido estava acima de qualquer suspeita”

Dos depoimentos acostados, não há nenhuma passagem que as testemunhas não sufragariam o
nome do embargante caso soubessem dos fatos acima delineados. Para se verificar a potencialidade,
seria necessário levar ao divã parte expressiva dos eleitores que votaram no embargante, para saber
se o que realmente pensavam antes do escrutínio era contrário após a divulgação dos fatos.

Como destacado pelo Desembargador Clodomir Reis em seu voto (fl. 907), no próprio bairro do
embargante (Fátima) – onde foi possivelmente seu eleitorado –, acredita que essas informações são
de conhecimento geral.

Em sentido semelhante ao composto, reproduzo trecho do parecer ministerial, do ilustre Doutor


Régis Richael , que bem examinou o caso (fl. 796):

(...) Vale ressaltar também que não foi o fato de ter requerido registro de candidatura com o nome
“Werberth Macedo Castro” que impediu o eleitorado de ter ciência de registros desabonadores
praticados pelo recorrente com o nome “Werbeth Machado Castro”.
Todavia, mesmo se em concluindo que a hipótese dos autos configuraria fraude a que se refere o art.
14, §10, da Constituição Federal, tenho que não foi apreciada por esta Corte se o fato detinha
potencialidade para desequilibrar o pleito, conforme entendimento uníssono do TSE [...]

Na linha do decidido pelo colendo TSE, em sede de AIME, a potencialidade lesiva ao resultado do
certame eleitoral não se afigura por simples cálculo aritmético, mas deve ser apreciada sob o ângulo
da gravidade da conduta ilícita praticada pelos candidatos, [...]

Observo, entretanto, não ser possível extrair da conduta do embargante potencialidade lesiva hábil
para influir no resultado de sua eleição, devido à fragilidade do acervo probatório constante dos
autos e a míngua de lastro legal e jurisprudencial.

Repito: em harmonia com a Douta Procuradoria é de se concluir que, a prática do embargante, não
obstante sua reprovabilidade, não é possível extrair potencialidade para alterar o resultado das
eleições.

Nessa perspectiva, forçoso concluir que não há nos autos elementos suficientes para se reconhecer
que a ocorrência da fraude seria suficiente para alterar o resultado do pleito.

Em outras oportunidades, tenho ressalvado meu ponto de vista em benefício da jurisprudência do


TSE, porque essa questão, certamente, terá encontro marcado na Corte Superior Eleitoral.

Portanto, resta claro que o provimento jurisdicional embargado padece do vício de omissão, por ser
nítida no acórdão embargado a falta de aferição da potencialidade da conduta do embargante para
alterar o resultado das eleições. Assim, impõe-se o provimento dos declaratórios para que o vício
seja sanado.

Peço vênia ao insigne relator para votar pelo acolhimento parcial dos embargos opostos por
Weberth Macedo Castro e lhes atribuo efeitos infringentes para reformar a conclusão do acórdão
embargado e, consequentemente, a sentença de base que cassou o mandato do embargante. (Grifo
no original)

No julgamento do Ag nº 4.661/SP, rel. Min. Fernando Neves, em 15.6.2004, este Tribunal assentou que

[...] A fraude eleitoral a ser apurada na ação de impugnação de mandato eletivo não se deve
restringir àquela sucedida no exato momento da votação ou da apuração dos votos, podendo-se
configurar, também, por qualquer artifício ou ardil que induza o eleitor a erro, com possibilidade de
influenciar sua vontade no momento do voto, favorecendo candidato ou prejudicando seu
adversário.

Contudo, consoante firme entendimento jurisprudencial desta Corte, é inviável a arguição de


suposta causa de inelegibilidade – condenação criminal com decisão transitada em julgado – em
ação de impugnação de mandato eletivo proposta com fundamento em fraude no processo eleitoral.

Ressalto que o histórico criminal do candidato poderia ensejar, eventualmente, a impugnação de seu
registro de candidatura, entretanto, constato que os fatos apontados não se subsumem às hipóteses
previstas no art. 14, § 10, da CF/1988 para o ajuizamento da AIME, o que denota a preclusão
da matéria. Nesse sentido, cito o seguinte precedente:

RECURSO ESPECIAL. DESCABIMENTO. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. ABUSO DO


PODER POLÍTICO. ABUSO DE AUTORIDADE.
– Nos termos do art. 14, § 10, da CF ( LGL 1988\3 ) , na ação de impugnação de mandato eletivo
serão apreciadas apenas alegações de abuso de poder econômico, corrupção ou fraude, não
sendo possível estender o seu cabimento para a apuração de abuso de poder político ou de
autoridade strictu sensu , ou seja, que não possa ser entendido como abuso do poder econômico.

– Na hipótese sob exame, o Tribunal Regional Eleitoral justificou a procedência da AIME apenas em
razão da prática de abuso de autoridade de delegado de polícia, que fazia abordagens e prisões
contra possíveis opositores.

– Recurso a que se dá provimento para afastar a cassação do mandato do primeiro recorrente.

– Prejudicialidade dos apelos interpostos pelo vice-prefeito e pelo segundo colocado.

(REspe nº 28.208/CE, rel. Min. Marcelo Ribeiro, julgado em 25.3.2008 – grifo nosso)

Vale ressaltar também o teor do voto proferido no Ag nº 6.507/RJ, de minha relatoria, julgado em
25.4.2006, em que se verificou igualmente a aplicação do princípio da preclusão eleitoral,
fundamento precípuo desta seara jurídica:

Venho demonstrando, em várias oportunidades, preocupação com a eternização das controvérsias


eleitorais, o que tem efeitos claros sobre a efetiva realização da democracia.

As eleições diretas são, sem dúvida, o melhor meio de um povo escolher seus governantes. A
população tem direito não só a escolher livremente seus candidatos como também a ver as
eventuais demandas envolvendo temas eleitorais serem rapidamente resolvidas, de modo que os
eleitos possam ocupar os cargos para os quais foram democraticamente escolhidos.

Por isso, a celeridade e a preclusão têm papel tão relevante no Direito Eleitoral.

A preclusão rege todo o processo eleitoral, impedindo, por exemplo, que quem não impugnou
o pedido de registro de candidatura recorra da decisão que o defere ou indefere. Da mesma
forma, não será admitido recurso contra a apuração se não houve impugnação perante a Junta
contra as nulidades arguidas, como também inelegibilidade infraconstitucional não alegada em
pedido de registro somente poderá ser suscitada em recurso contra expedição de diploma se for
superveniente.

[...]

Na pesquisa que efetuei na jurisprudência, verifiquei que questão similar já foi objeto de discussão
por este Tribunal, no Acórdão nº 61, de 6.11.97, relator Ministro Costa Porto, com a diferença de se
tratar de ação de impugnação de mandato eletivo.

Destaco da ementa a parte pertinente:

“Recurso ordinário em ação de impugnação de mandato eletivo de senador, julgada procedente por
TRE, concomitantemente com recurso contra expedição de diploma.

(...)

6. Fatos supostamente acontecidos antes da escolha e registro do candidato, que não guardam
relação direta com o pleito eleitoral e que não foram objeto de procedimento ou investigação
judicial antes das eleições, não se prestam para fundamentar ação de impugnação de mandato
eletivo, com sérias consequências no mandato popular colhido das urnas. Recurso provido para
julgar improcedente a ação.

(...)”. (grifo nosso)

Como se vê, não se considerou possível que fatos ocorridos antes do período de registro de
candidaturas somente fossem alegados em ação de impugnação de mandato eletivo, que se dá
em até quinze dias após a diplomação.

Esse entendimento foi trazido a debate pelo Ministro Fernando Neves – tendo sido acolhido pelo
Plenário –, que assim argumentou:

“(...)

Em linha de princípio, não me parece possível, nem correto, que ações de administradores públicos
que se verificaram antes do início do período eleitoral e que possam ser entendidas como desvio ou
abuso de poder político, sejam como que reservadas ou fiquem guardadas para somente serem
submetidas ao crivo do Poder Judiciário após a realização das eleições, após o voto dado pelo eleitor
ao candidato devidamente registrado pelas cortes eleitorais, com consequências no resultado da
vontade popular, que não foi viciada por alguma irregularidade ocorrida no curso do processo
eleitoral.

(...)

Concluo, assim, que temos uma série de atos possivelmente ocorridos antes da escolha do
candidato e de seu registro. E dessa verificação resulta minha Indagação: será possível que
tais atos possam fundamentar a ação de impugnação de mandato eletivo de que cuida o art 14,
§ 10, da Constituição? Minha resposta é firmemente negativa. As consequências desses
alegados fatos na elegibilidade do recorrente deveriam ter sido consideradas por ocasião do
registro de sua candidatura.

(...)

(...) Realmente, não é possível que uma situação anterior ao período eleitoral propriamente dito –
que formalmente se inicia com a escolha dos candidatos pelos partidos políticos –, conhecida de
todos mas não arguida por ninguém por ocasião do registro (ou deficientemente alegada por
alguém), possa ser trazida para discussão apenas após as eleições e ocasionar a nulidade de uma
imensa quantidade de votos dados pelos eleitores a um candidato registrado pela Justiça Eleitoral.
Lembro, aqui, os ensinamentos do Ministro Diniz de Andrada, que sempre privilegiou a real vontade
do eleitor, desde que não tenha ela resultado de manifesto vício.

(...) Nesse caso, porque os atos apontados como desvios teriam ocorrido antes do registro da
candidatura, deveriam eles ter sido discutidos naquele momento. Não tendo sido, não me parece
possível que isso venha a acontecer em ação de impugnação de mandato eletivo.

(...)”. (grifo nosso)

Do Acórdão/TSE nº 11.046, destaco as razões expostas pelo eminente Ministro Roberto Rosas:

“(...) o art. 14, § 10, que colocou a fraude, a corrupção e o abuso de poder econômico a um nível
constitucional, não vai permitir que se afaste o princípio da preclusão. Essa é que é a questão
fundamental, que tem que ser discutida na ação de impugnação do mandato, porque, data vênia, se
se afastar a preclusão por fraude ou corrupção, desaparecerá todo o processo eleitoral e todo o
mundo vai esperar os quinze dias depois da diplomação para propor a ação de impugnação do
mandato. Não haverá mais questão eleitoral, todas circunscreverão à ação de impugnação do
mandato daquele que é vencido. O instituto da preclusão, aqui, no direito eleitoral, e na Justiça
eleitoral, nesses 50 anos de justiça eleitoral, com uma grande orientação pretoriana, tem como
finalidade acabar com aquilo que realmente não se impugnou no momento próprio.

(...)”. (grifo nosso)

Também trago a lume a fundamentação do voto do Ministro Néri da Silveira no Acórdão nº 61:

“(...)

O que me parece é que se esses fatos, se esses eventos ou essas irregularidades são anteriores ao
período de propaganda, não podem servir de fundamento à ação de impugnação do mandato, de
acordo com o nosso sistema.

Ademais, esses fatos já seriam de conhecimento do autor da ação, ora recorrido, pela publicidade
que tiveram, pelo conhecimento que os meios políticos tinham da conduta do governador,
considerada irregular, considerada atentatória dos dispositivos legais.

(...)

Penso que um dos fundamentos que foram deduzidos do recurso – e que me parece ter ficado
envolvido com o exame dos fatos – é o fundamento da preclusão. O processo eleitoral tem na
preclusão seu princípio básico. Preclui determinadas alegações, determinados fundamentos,
vencidos a uma certa fase. Por quê? Porque é normal que o vencido no pleito eleitoral não fique
satisfeito e que busque, então, contraditar a vitória do opositor. Se os fatos da vida pregressa de
um candidato podem ser rebuscados e postos de novo ao exame da Justiça e invocados para
perturbar o exercício ou a legitimidade do mandato, o processo, a rigor, não terminaria nunca.

Não é sem razão que o processo presidido pela Justiça Eleitoral termine efetivamente. Hoje temos
uma exceção nesse sistema novo que é a ação de impugnação de mandato eletivo, a qual começa
depois da diplomação. Quando se encerra o processo eleitoral, admite-se o recurso da diplomação do
candidato. O nosso sistema atual é mais rigoroso, ele está mantendo ainda sob controle da Justiça
Eleitoral, além do recurso de diplomação, uma ação nova, que é a ação de impugnação. Mas por
quê? Por ocorrências durante o processo eleitoral, durante a propaganda eleitoral, durante o
período eleitoral, fatos esses que provavelmente não puderam ser apurados a tempo e a modo, para
terem uma inovação ainda no momento da diplomação do candidato.

(...)”.

[...]

Admitir o contrário contribuiria não somente para a demora na definição dos candidatos que
realmente exercerão os cargos eletivos, mas também impediria que o eleitorado, ao escolher
determinado candidato, tivesse conhecimento de que havia contra ele demanda eleitoral que
poderia inviabilizar sua candidatura.

Ademais, assentou a maioria da Corte Regional que a conduta do candidato em omitir informações
sobre seu histórico criminal se revelou potencialmente insuficiente para influenciar no resultado do
pleito, por não impedir que o eleitorado conhecesse o candidato. Extrai-se ainda da moldura fática
delineada pelo acórdão regional que Werbeth Macedo Castro utilizou na campanha eleitoral o
apelido pelo qual era conhecido – “Beto Castro” – sendo este inclusive o nome constante na urna
eleitoral, bem como apresentou todos os documentos exigidos por lei no momento do registro de
candidatura referentes ao seu nome verdadeiro.

Em outras palavras, não vislumbro, na espécie, fraude no processo eleitoral, porquanto se permitiu
ao eleitor conhecer o candidato ao pleito sem prejuízo à investigação de sua vida pregressa, bem
como à arguição de supostas irregularidades no momento do registro de sua candidatura,
inexistindo desvirtuamento das finalidades do sistema eleitoral. Nesse sentido:

Ação de impugnação de mandato eletivo. Fraude. Inelegibilidade.

– Não é cabível a ação de impugnação de mandato eletivo para, a pretexto de fraude, argüir questões
relativas a inelegibilidade.

Agravo regimental não provido.

(AgR-REspe nº 1604-21/AL, rel. Min. Arnaldo Versiani, julgado em 13.12.2011)

Ação de impugnação de mandato eletivo. Fraude. Inelegibilidade.

1. A fraude objeto da ação de impugnação de mandato eletivo diz respeito a ardil, manobra ou ato
praticado de má-fé pelo candidato, de modo a lesar ou ludibriar o eleitorado, viciando
potencialmente a eleição.

2. O fato de o prefeito reeleito de município transferir seu domicílio eleitoral e concorrer ao mesmo
cargo em município diverso, no mandato subsequente ao da reeleição, pode ensejar discussão sobre
eventual configuração de terceiro mandato e, por via de consequência, da inelegibilidade do art. 14,
§ 5º, da Constituição Federal, a ser apurada por outros meios na Justiça Eleitoral, mas não por
intermédio da ação de impugnação de mandato eletivo, sob o fundamento de fraude.

Recurso especial provido.

(REspe nº 36.643/PI, rel. Min. Arnaldo Versiani, julgado em 12.5.2011)

Ainda que superado esse óbice, ressalto que a ação de impugnação de mandato eletivo busca tutelar
a normalidade e a legitimidade do pleito, sendo imprescindível a robustez do conjunto probatório
para caracterizar a prática de fraude, tendo em conta que não se pode condenar o candidato por
conduta omissiva decorrente de obrigação não prevista em lei, exigindo-lhe que produza provas
contra si. Confiram-se:

Ação de impugnação de mandato eletivo. Governador. Fundamento. Fraude. Urna eletrônica. Provas
e indícios. Ausência.

Embora não se exija prova inconcussa e incontroversa para a propositura de ação de impugnação de
mandato eletivo, é necessário, conforme estabelece o art. 14, § 10, da Constituição Federal, que a
AIME seja instruída com provas hábeis a ensejar a demanda.

Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRgAg nº 5.473/PB, rel. Min. Caputo Bastos, julgado em 20.6.2006)

Ação de impugnação de mandato eletivo. Abuso de poder.


1. A ação de impugnação de mandato eletivo deve ser proposta com fundamento em abuso do poder
econômico, corrupção ou fraude, não se prestando para a apuração de prática de conduta vedada a
agente público, prevista no art. 73 da Lei nº 9.504/97.

2. Em sede de ação de impugnação de mandato eletivo, faz-se necessária a presença de acervo


probatório contundente no sentido de que tanto a prática de corrupção eleitoral como a de abuso
do poder econômico tiveram potencialidade para influenciar o resultado das eleições.

Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgR-AI nº 104-66/BA, rel. Min. Arnaldo Versiani, julgado em 18.9.2012 – grifo nosso)

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. ELEIÇÕES 2006. DEPUTADO


FEDERAL. RECURSO ORDINÁRIO. CABIMENTO. ART. 121, § 4º, IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
ABUSO DO PODER ECONÔMICO, POLÍTICO E DE AUTORIDADE. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO.
PROVA ROBUSTA. AUSÊNCIA.

1. É cabível recurso ordinário quando a decisão recorrida versar matéria que enseja a perda do
mandato eletivo estadual ou federal, tenha ou não sido reconhecida a procedência do pedido.

2. É incabível ação de impugnação de mandato eletivo com fundamento em abuso do poder político
ou de autoridade strictu sensu, que não possa ser entendido como abuso do poder econômico.

3. A ação de impugnação de mandato eletivo exige a presença de prova forte, consistente e


inequívoca.

4. Do conjunto probatório dos autos, não há como se concluir pela ocorrência dos ilícitos narrados
da inicial.

Recurso ordinário desprovido.

(REspe nº 28.928/AC, rel. Min. Marcelo Ribeiro, julgado em 10.12.2009 – grifo nosso)

Com essas premissas, concluo, em consonância com o acórdão recorrido, que o fato, ainda que
mereça reprimenda moral ou eventualmente seja punível em outras esferas jurídicas – civil e penal,
por exemplo –, não alcança a seara eleitoral, porque não se mostrou grave a ponto de atingir o bem
jurídico protegido pela ação ora intentada, qual seja, a normalidade e a legitimidade do pleito.

Ao contrário do que alega o agravante, o que se extrai da moldura fática do acórdão regional é que
“o fato de [o candidato] haver requerido o seu registro com o nome Werbeth Macedo Castro não
impediu, no período de registro e de propaganda eleitoral, a exploração de sua vida pregressa pelos
adversários” (fl. 963), portanto não há falar em fraude ao processo eleitoral.

Ademais, o TRE/MA analisou os fatos “sob o ângulo da gravidade da conduta ilícita praticada
pelos candidatos ” (fl. 966 – grifo nosso) e, por não existirem provas robustas da suposta fraude,
julgou improcedente o pedido, entendimento em consonância com a jurisprudência do TSE segundo
a qual “a cassação do mandato em sede de ação de impugnação de mandato exige a presença de
prova robusta, consistente e inequívoca, o que não ocorreu nos presentes autos” (REspe nº 4287650-
26/PB, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6.2.2014).

Assim, por não assistir razão ao agravante, mantenho a decisão agravada por seus fundamentos.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.


PEDIDO DE VISTA

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Senhores Ministros, realmente é um caso que
impressiona.

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: A mim também, Senhor Presidente.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Impressiona, porque o cidadão tinha dupla
identidade.

A SENHORA MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA: Ele tinha dois títulos eleitorais.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Então ele votava até duas vezes. Pode ter votado
duas vezes nele mesmo.

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: Exato.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Então o fato de ele ter praticado atos ilegais sob
um outro nome... O fato é que o ato foi praticado pela mesma pessoa natural.

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: Sob o subterfúgio de um segundo documento de


identidade.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): Mas ele se habilitou na eleição com esse nome,
que é o verdadeiro.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Mas o nome verdadeiro era limpo. Sujo era o
nome...

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): Mas isso foi discutido também.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Mas o ato em si, para mim, é muito...

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): O fato é que não havia confusão entre os
personagens.

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: Eu havia pensado em provermos o agravo para trazê-lo a
julgamento colegiado.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Eu vou pedir vista.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): Aparentemente, ele era elegível.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Porque a questão de alguém ter dois títulos de
eleitor, mesmo que não seja candidato, já é crime.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): Mas é preciso julgar.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): É crime!

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): É preciso julgar.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): É patente.

A SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: E esse fato chega ao conhecimento da Justiça Eleitoral...
O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA: Eu recebi memorial da advogada, em que se
assenta que essa decisão estaria desafiando o nosso entendimento, que ampliamos o conceito de
fraude na AIME.

Pelo que percebi, o Tribunal Regional Eleitoral seguiu exatamente esse sentido. Num primeiro
momento, o TRE concluiu que havia fraude, aceitou a AIME e estabeleceu que a fraude estava
caracterizada.

Vieram os embargos de declaração, o Tribunal manteve o cabimento da AIME por fraude – então
isso não é uma questão que está sendo discutida nesse caso – mas, ao julgar os embargos de
declaração, deu efeitos modificativos, porque entendeu que esses fatos, ainda que existentes, não
teriam repercussão no pleito, não teriam alcançado efeito prático para afetar a normalidade e a
legitimidade das eleições.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): O que se alega é que ele não mostrou a outra
identidade, que permitiria discutir os seus antecedentes, a sua vida pregressa, no pleito eleitoral.

Na verdade, inclusive, o Tribunal entende que isso não impediu... Pelo contrário, todo mundo sabia
que se tratava do mesmo Werbeth e, portanto, todos os fatos a ele imputados foram discutidos.

A questão aqui é: mesmo a condenação deveria levar à inelegibilidade, se fosse o caso de ser
aplicada, porque se tratava da mesma pessoa, obviamente.

Então, não é disso que se cuida. A questão é que ele apresentou os documentos, de fato originais. É
isso que o Tribunal assenta.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Senhores Ministros, peço vista dos autos.

EXTRATO DA ATA

AgR-REspe nº 1-37.2013.6.10.0003/MA. Relator: Ministro Gilmar Mendes. Agravante: Paulo Roberto


Pinto Lima Oliveira (Advogados: Ezikelly Silva Barros – OAB nº 31903/DF e outros). Agravado:
Werbeth Macedo Castro (Advogados: Francisco Manoel Martins Carvalho – OAB nº 3323/MA e
outros).

Decisão: Após o voto do Ministro elator, desprovendo o agravo regimental, antecipou o pedido de
vista o Ministro Dias Toffoli.

Presidência do Ministro Dias Toffoli. Presentes as Ministras Maria Thereza de Assis Moura e Luciana
Lóssio, os Ministros Gilmar Mendes, Luiz Fux, Herman Benjamin e Henrique Neves da Silva, e o
Vice-Procurador-Geral Eleitoral em exercício, Odim Brandão Ferreira.

SESSÃO DE 16.2.2016.

VOTO-VISTA

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Senhores Ministros, trata-se de agravo regimental
interposto por Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira (fls. 1.129 a 1.146) contra decisão de fls. 1.106 a
1.119, na qual o eminente Ministro Gilmar Mendes, negando seguimento a recurso especial,
manteve o acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE/MA) que, em sede de embargos
de declaração, afastou a cassação do mandato de Werbeth Macedo Castro, vereador eleito em 2012.

Na espécie, o pedido formulado por Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira, nos autos da ação de
impugnação de mandato eletivo proposta em desfavor de Werbeth Macedo Castro, foi julgado
procedente pelo Juízo da 3ª Zona Eleitoral/MA, que reconheceu a existência de fraude na conduta
praticada pelo impugnado, consistente na ocultação de informações sobre a sua vida pregressa, no
requerimento de registro de candidatura, com o intuito de ludibriar o eleitorado.

Tal decisão foi inicialmente mantida pelo TRE/MA que, por maioria, negou provimento ao recurso
eleitoral interposto pelo candidato cassado. O acórdão regional recebeu a seguinte ementa:

RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES 2012. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO. ALEGAÇÃO


DE FRAUDE NO REGISTRO DE CANDIDATURA. DUPLICIDADE DE IDENTIDADES. PREFACIAL DE
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. REJEIÇÃO. COMPROVAÇÃO DE FRAUDE ELEITORAL.
CONHECIMENTO. IMPROVIMENTO.

– Se mediante uma sequência de atos ardilosos e fraudulentos, o candidato impede o eleitorado de


conhecer aspectos negativos de sua vida pregressa, é forçoso reconhecer a existência de fraude
eleitoral.

– Recurso conhecido e improvido. (fl. 802)

Todavia, os embargos de declaração opostos a esse julgado foram parcialmente acolhidos, com
atribuição de efeitos infringentes, para reformar a conclusão do acórdão embargado e,
consequentemente, a sentença que cassou o mandato do embargante. Eis a ementa do julgado:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ELEITORAL INOMINADO. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO E


CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO. COMPROVAÇÃO DO VÍCIO DE OMISSÃO DA PONTENCIALIDADE [sic].
OCORRÊNCIA DE EFEITOS INFRINGENTES NO ACÓRDÃO EMBARGADO. REFORMA DA SENTENÇA
QUE CASSOU O MANDATO DO EMBARGANTE. CONHECIMENTO E ACOLHIMENTO PARCIAL.

I. O acórdão embargado não se omitiu no exame da alegação de que a fraude imputada ao


embargante possui conotação eleitoral. Neste ponto, o suposto vício denota o propósito de rediscutir
matéria já decidida por esta Corte.

II. É possível a atribuição de efeitos infringentes aos embargos declaratórios em casos excepcionais,
em que o reconhecimento de omissão tenha por consequência a alteração do julgado.

III. Este Tribunal não se pronunciou acerca da potencialidade da conduta do embargante no


resultado da eleição, o que revela a presença do vício de omissão no acórdão embargado. Constatada
omissão no julgamento, cumpre afastá-la.

IV. Em sede de ação de impugnação de mandato eletivo, faz-se necessária a presença de provas
robustas, a fim de que se comprove a potencialidade da conduta para influenciar o resultado do
pleito.

V. Os autos não reúnem elementos suficientes para extrair da conduta do embargante, não obstante
sua reprovabilidade, potencialidade lesiva hábil para influir no resultado de sua eleição.

VI. As alterações promovidas pela LC nº 135/2010 referem-se apenas à representação de que trata o
art. 22 da Lei de Inelegibilidades, razão pela qual continua sendo analisada a potencialidade lesiva
em sede de ação de impugnação de mandato eletivo.

VII. Embargos conhecidos e parcialmente acolhidos.

Os embargos de declaração opostos a esse decisum por ambas as partes foram rejeitados (fls. 1.042 a
1.049).

Nas razões do recurso especial, Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira apontou violação ao art. 14, § 10,
da Constituição Federal, alegando, em síntese, que:

a) o único fundamento para o acolhimento dos embargos de declaração consistiu tão somente na
pretensa omissão, reconhecida pelo voto condutor do acórdão, em relação à aferição da
potencialidade da conduta para alterar o resultado das eleições;

b) para a configuração da fraude nos termos do art. 14, § 10, da Constituição Federal, não há que se
fazer uma relação causal entre o ato e o resultado do pleito, como sugere o acórdão recorrido, mas
sim demonstrar que a conduta é apta a atingir, positiva ou negativamente, o eleitorado, como
ocorreu no caso dos autos;

c) “o ilícito praticado pelo recorrido, ocultação de sua vida pregressa suja e desabonadora
(catalogadas na folha corrida do pseudônimo por ele criado), impediram o confronto dessa
informação pelos demais candidatos no salutar embate eleitoral e o seu conhecimento pelo eleitor –
que exerceu o voto cego em relação ao recorrido, porque foi induzido a erro, na medida em que
desconhecia que ao votar em Werbeth Macedo Castro, que tinham por honesto e de bom caráter,
votava também em Werbeth Machado Castro, receptador de veículos roubados, estelionatário, etc.
[...]” (fl. 1.061);

d) a postura adotada pelo recorrido, que suprimiu do debate político sua vida pregressa, afronta o
princípio da autenticidade eleitoral e, consequentemente, o princípio democrático;

e) mostra-se presente a gravidade da conduta do recorrido, a qual foi decisiva para ludibriar o
eleitorado, carecedor de informações acerca da integridade moral e política do candidato, fato
determinante na opção de voto.

O recurso foi inadmitido pelo Presidente do Tribunal a quo (fls. 1.069 a 1.071).

Contra essa decisão, Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira interpôs o agravo de fls. 1.075 a 1.082, no
qual repisou as alegações aduzidas no recurso especial e infirmou o fundamento da decisão
agravada de que o apelo nobre não se presta para questionar violação constitucional.

Não foram apresentadas contrarrazões (certidão à fl. 1.088).

A Procuradoria-Geral Eleitoral opinou pelo provimento dos recursos (fls. 253 a 256).

Em 27.4.2015, o eminente Ministro Gilmar Mendes deu provimento ao agravo para, analisando o
recurso especial, negar-lhe seguimento. A decisão foi assim ementada:

Eleição 2012. Agravo de instrumento. Recurso especial. Ação de impugnação de mandato eletivo.
Vereador. Fraude. Requerimento de registro de candidatura deferido. Omissão de dados. Vida
pregressa do candidato. Preclusão eleitoral. Recurso desprovido. 1. Segundo jurisprudência deste
Tribunal, “a fraude eleitoral a ser apurada na ação de impugnação de mandato eletivo não se deve
restringir àquela sucedida no exato momento da votação ou da apuração dos votos, podendo-se
configurar, também, por qualquer artifício ou ardil que induza o eleitor a erro, com possibilidade de
influenciar sua vontade no momento do voto, favorecendo candidato ou prejudicando seu
adversário” (Ag nº 4.661/SP, rel. Min. Fernando Neves, julgado em 15.6.2004). 2. Na espécie, o
TRE/MA, ao analisar os fatos e as provas produzidos nos autos, concluiu que a conduta do candidato
em omitir informações sobre sua vida pregressa se revelou potencialmente insuficiente para
influenciar no resultado do pleito, por não impedir que o eleitorado conhecesse o candidato, uma
vez que ele utilizara na campanha o apelido pelo qual era conhecido, sendo este inclusive o nome
constante na urna eleitoral, além de que todas as certidões exigidas por lei foram apresentadas no
momento do registro de candidatura. 3. Princípio da preclusão eleitoral. É inviável a arguição de
suposta causa de inelegibilidade em ação de impugnação de mandato eletivo proposta com
fundamento em fraude no processo eleitoral. Precedente. 4. Inexistência de fraude no processo
eleitoral, porquanto se permitiu ao eleitor conhecer o candidato ao pleito sem prejuízo à
investigação de sua vida pregressa, não se constatando desvirtuamento das finalidades do sistema
eleitoral. 5. A ação de impugnação de mandato eletivo busca tutelar a normalidade e a legitimidade
do pleito, sendo imprescindível a robustez do conjunto probatório para caracterizar a prática de
fraude, tendo em conta que não se pode condenar o candidato por conduta omissiva decorrente de
obrigação não prevista em lei, exigindo-lhe que produza provas contra si. 6. Provido o agravo de
instrumento para, analisando-se o recurso especial, negar-lhe provimento. (fls. 1.106-1.107)

Sobreveio o presente agravo regimental, no qual Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira argumenta, em
suma, que:

a) o decisum combatido partiu de premissa equivocada ao entender ser inviável a arguição de


suposta causa de inelegibilidade – condenação criminal com decisão transitada em julgado – em
ação de impugnação de mandato eletivo, o que denotaria, em tese, a preclusão da matéria;

b) não há falar em preclusão, pois é incontroverso que não se discute nos autos nenhuma causa de
inelegibilidade, muito embora tenha o agravado praticado vários ilícitos com identidade falsa, mas
tão somente que a omissão dessas informações caracteriza a fraude prevista no § 10 do art. 14 da
Constituição Federal;

c) na linha da jurisprudência desta Corte, não é possível arguir a ocorrência de fraude via ação de
impugnação de registro de candidatura (AIRC), na qual são aferidas as condições de elegibilidade e
as causas de inelegibilidades;

d) “ainda que se admita ad argumentandum que o conceito de FRAUDE deva se restringir àquelas
ocorridas no processo de votação, é forçosa a evolução desse entendimento para que seja dada a
exata interpretação à norma constitucional prevista no §10, art. 14 CF/88” (fl. 1.135);

e) é inequívoco, na moldura fática delineada no acórdão regional, que o ora agravado, embora tenha
registrado sua candidatura com identidade verdadeira, possuía outra identidade sobre a qual existe
uma série de condutas desabonadoras a um pretenso candidato a cargo eletivo;

f) para o exame da caracterização de fraude não se discute o interesse do agravado de não produzir
prova contra si próprio, ao omitir do eleitorado sua segunda identidade, “ mas tão somente a
supremacia do interesse público no sentido de que o ELEITOR POSSUI O DIREITO DE CONHECER O
CANDIDATO ” (fl. 1.138);

g) “o e. TRE/MA, mesmo entendendo ser incontroversa a ocorrência de FRAUDE ELEITORAL, partiu


da premissa equivocada de que não haveria prova de que o ardil usado na consumação do ilícito
tivesse potencial suficiente para lesar a normalidade e legitimidade do pleito ” (fls. 1.142-1.143);

h) nos termos do art. 22, XVI, da LC nº 64/90, não é necessária a comprovação da potencialidade da
conduta para interferir no resultado do pleito, sendo suficiente a aferição da sua gravidade;

i) é inegável que o ora agravado impediu que o eleitor conhecesse seu histórico de improbidade
moral e ética, utilizando-se de artifício apto a induzir o eleitor a erro e a influenciar sua escolha,
conduta com gravidade suficiente para interferir na manifestação da vontade do eleitoral (liberdade
de voto), maculando o pleito municipal de 2012; e

j) o recurso interposto não comporta julgamento monocrático, porquanto não há precedente


específico quanto ao tema de duplicidade de identidade impugnada via AIME sob a alegação de
fraude eleitoral.

Requer a reconsideração da decisão agravada para dar provimento ao recurso especial ou,
alternativamente, que o feito seja submetido a julgamento do Plenário, possibilitando às partes,
inclusive, a realização de sustentação oral.

Na sessão jurisdicional do dia 16.2.2016, o e. relator Ministro Gilmar Mendes votou pelo
desprovimento do agravo regimental, reafirmando os fundamentos da decisão agravada, nos termos
da seguinte ementa:

ELEIÇÃO 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO


ELETIVO. FRAUDE. DUPLA IDENTIDADE. AUSÊNCIA DE PROVAS. AGRAVO DESPROVIDO.

1. Pode o relator proferir decisão monocrática, nos termos do art. 36, § 6º, do RITSE, para negar
seguimento a recurso manifestamente improcedente ou contrário à jurisprudência do Tribunal sem
que isso caracterize usurpação de competência do Plenário ou cerceamento de defesa.

2. O TRE/MA, ao analisar o conjunto probatório, concluiu que a conduta do candidato em omitir


informações sobre sua vida pregressa não impedira que o eleitorado o conhecesse, uma vez que ele
utilizara na campanha o apelido pelo qual era conhecido, tampouco que, no período de registro e de
propaganda eleitoral, fosse sua vida pregressa explorada pelos adversários.

3. A decisão regional está em consonância com a jurisprudência do TSE segundo a qual “a cassação
do mandato em sede de ação de impugnação de mandato exige a presença de prova robusta,
consistente e inequívoca, o que não ocorreu nos presentes autos” (REspe nº 4287650-26/PB, rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 6.2.2014).

4. Decisão agravada mantida por seus próprios fundamentos. Agravo regimental desprovido.

Na sequência, pedi vista antecipada dos autos para melhor exame da matéria.

É o relatório. Passo a me manifestar.

Na decisão agravada, consta que “a questão controvertida neste recurso é saber se o recorrido,
Werbeth Macedo Castro, eleito vereador pelo Município de São Luís/MA no pleito de 2012, praticou
fraude eleitoral ao omitir informações sobre sua vida pregressa no requerimento de registro de
candidatura, conduta apta a ensejar a cassação de seu mandato eletivo” (fl. 1.109).

Entendeu o e. Min. Gilmar Mendes ser “inviável a arguição de suposta causa de inelegibilidade –
condenação criminal com decisão transitada em julgado – em ação de impugnação de mandato
eletivo proposta com fundamento em fraude no processo eleitoral” (fl. 1.114).

Ressaltou Sua Excelência que, embora o histórico criminal do candidato pudesse ensejar,
eventualmente, a impugnação de seu registro de candidatura, “os fatos apontados não se subsumem
às hipóteses previstas no art. 14, § 10, da CF/1988 para o ajuizamento da AIME, o que denota
a preclusão da matéria”.
Não obstante o percuciente voto proferido pelo e. relator, peço vênia para divergir, por entender que
a questão relativa ao cabimento da AIME, na espécie, encontra-se superada.

O Tribunal de origem, ao acolher parcialmente os primeiros embargos de declaração opostos pelo


ora agravado, concedendo-lhes efeitos infringentes, não rediscutiu a ocorrência de fraude, mas
apenas se o fato detinha potencialidade para alterar o resultado do pleito. Assentou, ainda, a
inexistência de condenação criminal transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado em
desfavor do embargado.

Do voto condutor do referido acórdão, extrai-se o seguinte excerto (fls. 963-965):

[...]

Embora o entendimento do TSE inclinava-se no sentido de que a fraude prevista no art. 14, § 10, da
Constituição Federal, estava atrelada apenas ao processo de votação, entendo que a matéria sob
apreciação, por sua expressa previsão constitucional, macula não só a votação, mas sim todo
processo eleitoral.

Na hipótese, há a alegação que o embargante utilizou-se de um artifício que viciou todo o processo
eleitoral. Assim, não se deve restringir a fraude eleitoral somente ao processo de votação,
razão pela qual este Tribunal trilhou bem ao rejeitar a preliminar de carência de ação, por
inadequação da via eleita .

[...]

Não se nota em nenhum dos documentos constantes dos autos a existência de condenação criminal
transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado em desfavor do embargante que importe na
inelegibilidade prevista na alínea “e” do inciso I do art. 1º da Lei Complementar n. 64/90. [Grifei]

No julgamento dos embargos opostos pelo ora agravante, destaco a seguinte passagem (fls. 1.046-
1.047):

Com efeito, discutiu-se exaustivamente no acórdão recorrido se as condutas desabonadoras


imputadas ao primeiro embargante, e reconhecidas por esta Corte como caracterizadoras da
fraude apregoada pelo art. 14, § 10, da Constituição Federal , reuniram condições de alguma
forma influir no resultado do pleito no qual concorreu.

Aliás, esse era o cerne da discussão, se haveria “ nos autos elementos suficientes para se reconhecer
que a ocorrência da fraude seria suficiente para alterar o resultado do pleito. ”

Portanto, nesse particular, não se rediscutiu se houve ou não fraude, mas se a conduta do
embargante, de possuir dois registros civis, possuía potencialidade lesiva.

Esse ponto ficou expressamente esclarecido do voto condutor, verbis :

No presente caso, entendeu, por maioria, o Tribunal pela ocorrência de fraude, consubstanciada na
utilização, pelo ora embargante, da duplicidade de nomes como forma de ocultar do eleitorado o
processo penal pelo qual respondeu.

[...]

Afirma, ainda, o embargante calar-se o acórdão no tocante a falta de aferição da potencialidade da


conduta para alterar o resultado das eleições. Neste ponto, assiste razão ao embargante porque, de
fato, não houve pronunciamento desta Corte sobre a matéria.

Por conseguinte, não se vê como incompatíveis os argumentos expendidos, visto que a questionada
expressão “ reprovabilidade da conduta ” se relaciona com a existência de fraude eleitoral, já
admitida por este Regional, e não com a potencialidade lesiva da conduta do embargante.

Logo, a questão da fraude e a potencialidade lesiva da conduta se referem a questões distintas,


tanto que mereceram desta Corte tratamento dispare, de modo que na há nenhum prejuízo em
se reconhecer como existente um e ausente outro, como de fato ocorreu . [Grifei]

O entendimento do TRE/MA, no tocante à impossibilidade de se restringir a fraude eleitoral somente


ao processo de votação, mostra-se consentâneo com a atual jurisprudência desta Corte.

O TSE, no julgamento do REspe nº 1-49/PI, em 4.8.2015, Rel. Min. Henrique Neves , passou a
interpretar o termo fraude constante do art. 14, § 10, da Constituição Federal de forma ampla,
considerando-se todas as situações – inclusive a de fraude à lei – que possam afetar a normalidade
do pleito e do mandato.

Naquela ocasião, em que se discutiu suposta adulteração de documento e falsificação de assinaturas


para o preenchimento de candidaturas do gênero feminino, o e. relator Min. Henrique Neves assim
consignou:

Realmente, o cabimento da ação de impugnação de mandato eletivo deve ser admitido como
instrumento processual de salvaguarda da legitimidade e da normalidade das eleições contra
toda sorte de abuso, corrupção ou fraude , não cabendo impor limitações ao texto constitucional
que não estejam previstas na própria Constituição Federal.

Nessa linha, cumpre destacar que essa compreensão do conceito de fraude para efeito do cabimento
da ação de impugnação de mandato eletivo não encerra, em si, interpretação extensiva, mas o mero
reconhecimento de que onde o constituinte não distinguiu, não cabe ao legislador ordinário ou ao
intérprete distinguir para efeito de reduzir o alcance do comando constitucional.

Ademais, a interpretação do dispositivo constitucional também deve considerar a existência das


demais regras e princípios contidos no corpo da Constituição, de forma a permitir a harmonização
das hipóteses de cabimento da AIME com os fins lídimos de eleições que reflitam a vontade popular,
livres de quaisquer influências ilegítimas, tal como consta do § 9º do art. 14 da Constituição Federal,
autêntico vetor interpretativo no que toca às ações eleitorais.

Nesse aspecto, as alegações de fraude à lei, nas quais se aponta que determinada regra foi
atendida a partir de suposto engodo praticado pela agremiação política, não podem ter a sua
análise extirpada do âmbito da ação de impugnação de mandato eletivo .

Tal posicionamento também foi aplicado no AgR-REspe nº 1-69/CE, julgado em 25.2.2016, no qual se
analisou o cabimento da AIME para apurar eventual falsificação de assinatura em pedido de registro
Confira-se:

ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO


ELETIVO. FRAUDE. CONCEITO ABERTO. PRECEDENTE. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA.

1. A controvérsia dos autos reside em saber se eventual falsificação de assinatura em pedido de


registro enquadra-se na hipótese de fraude objeto de ação de impugnação de mandato eletivo. O
Regional entendeu que a fraude passível de apuração em AIME é somente a que ocorre durante a
votação e/ou apuração.

2. O TSE, ao julgar o REspe nº 1-49/PI, rel. Min. Henrique Neves da Silva, em 4.8.2015, assentou que “o
conceito da fraude, para fins de cabimento da ação de impugnação de mandato eletivo (art. 14, § 10,
da Constituição Federal), é aberto e pode englobar todas as situações em que a normalidade das
eleições e a legitimidade do mandato eletivo são afetadas por ações fraudulentas, inclusive nos casos
de fraude à lei”.

3. Os requisitos de admissibilidade do recurso especial foram satisfatoriamente demonstrados, tendo


sido reconhecida violação legal e devidamente prequestionada a matéria.

4. Recurso especial provido com o fim de anular o acórdão recorrido e determinar o retorno dos
autos à instância de origem, para a regular instrução probatória da ação.

5. Manutenção da decisão agravada. Agravo regimental desprovido. (AgR-REspe nº 1-69/CE, Rel. Min.
Gilmar Mendes, DJe de 20.4.2016)

Desse modo, a controvérsia recursal, a meu ver, se restringe em saber se a conduta apreciada nos
autos – “fraude, consubstanciada na utilização, pelo ora embargante, da duplicidade de nomes como
forma de ocultar do eleitorado o processo penal pelo qual respondeu” (fl. 962) – seria suficiente para
afetar a normalidade das eleições e a legitimidade do mandato eletivo.

O Tribunal de origem, por maioria, concluiu não ser possível extrair da prática imputada ao
impugnado potencialidade lesiva hábil para influir no resultado de sua eleição, devido à fragilidade
do acervo probatório constante dos autos.

Reproduzo, abaixo, a fundamentação do voto condutor do acórdão recorrido (fls. 965 a 968):

A propósito, comungo, também, com a preocupação de representante ministerial desta Corte e do


ilustre Relator originário, Des. Sérgio Muniz , ao alegarem que a conduta do embargante é
totalmente desabonadora, não sendo exemplo pra ninguém, pois o que se pretende no Legislativo ou
Executivo é ter-se representante com “ficha limpa”.

Afirma, ainda, o embargante calar-se o acórdão no tocante a [ sic ] falta da aferição da


potencialidade da conduta para alterar o resultado das eleições. Neste ponto, assiste razão ao
embargante porque, de fato, não houve pronunciamento desta Corte sobre a matéria.

A propósito, colho dos autos depoimentos das testemunhas arroladas pelo embargado:

Ubiratan da Silva Campos (fl. 629):

“Que, ao tomar ciência pela mídia de duplicidade de documentos, carteira de identidade, CPF, título de
eleitor, ignorou, porque acredita que era mentira, pois, acaso fossem verdade esses fatos, o requerido
nem poderia ser candidato;”

Genilson Bastos Gomes (fl. 630):

(...) somente tivera conhecimento que o mesmo (sic) estava envolvido em prática de crimes pela
imprensa, após as eleições; que reside no bairro Areinha, sendo que o requerido reside no bairro de
Fátima e que por vezes frequenta a residência deste; que as pessoas com quem tivera contato, as quais
se manifestaram sobre esses fatos, ficaram surpresas, em razão de conhecerem o requerido e que não
acreditaram porque o requerido estava acima de qualquer suspeita”
Dos depoimentos acostados, não há nenhuma passagem que as testemunhas não sufragariam o
nome do embargante caso soubessem dos fatos acima delineados. Para se verificar a potencialidade,
seria necessário levar ao divã parte expressiva dos eleitores que votaram no embargante, para saber
se o que realmente pensavam antes do escrutínio era contrário após a divulgação dos fatos.

Como destacado pelo Desembargador Clodomir Reis em seu voto (fl. 907), no próprio bairro do
embargante (Fátima) – onde foi possivelmente seu eleitorado –, acredita que essas informações são
de conhecimento geral.

Em sentido semelhante ao composto, reproduzo trecho do parecer ministerial, do ilustre Doutor


Régis Richael , que bem examinou o caso (fl. 796):

(...) Vale ressaltar também que não foi o fato de ter requerido registro de candidatura com o nome
“Werberth Macedo Castro” que impediu o eleitorado de ter ciência de registros desabonadores
praticados pelo recorrente com o nome “Werbeth Machado Castro”.

Todavia, mesmo se em concluindo que a hipótese dos autos configuraria fraude a que se refere o art.
14, §10, da Constituição Federal, tenho que não foi apreciada por esta Corte se o fato detinha
potencialidade para desequilibrar o pleito, conforme entendimento uníssono do TSE [...]

Na linha do decidido pelo colendo TSE, em sede de AIME, a potencialidade lesiva ao resultado do
certame eleitoral não se afigura por simples cálculo aritmético, mas deve ser apreciada sob o ângulo
da gravidade da conduta ilícita praticada pelos candidatos, [...].

[...]

Observo, entretanto, não ser possível extrair da conduta do embargante potencialidade lesiva hábil
para influir no resultado de sua eleição, devido à fragilidade do acervo probatório constante dos
autos e a míngua de lastro legal e jurisprudencial.

Repito: em harmonia com a Douta Procuradoria é de se concluir que, a prática do embargante, não
obstante sua reprovabilidade, não é possível extrair potencialidade para alterar o resultado das
eleições.

Nessa perspectiva, forçoso concluir que não há nos autos elementos suficientes para se reconhecer
que a ocorrência da fraude seria suficiente para alterar o resultado do pleito.

Em outras oportunidades, tenho ressalvado meu ponto de vista em benefício da jurisprudência do


TSE, porque essa questão, certamente, terá encontro marcado na Corte Superior Eleitoral.

Portanto, resta claro que o provimento jurisdicional embargado padece do vício de omissão, por ser
nítida no acórdão embargado a falta de aferição da potencialidade da conduta do embargante para
alterar o resultado das eleições. Assim, impõe-se o provimento dos declaratórios para que o vício
seja sanado.

O e. relator, Min. Gilmar Mendes – embora tenha rechaçado o fundamento do Tribunal Regional de
que restou configurada a fraude imputada ao embargante – manteve a conclusão adotada pelo
acórdão regional de que o fato não se mostrou grave a ponto de atingir a normalidade e a
legitimidade do pleito.

Destaco, a propósito, os seguintes trechos de seu voto (fl. 1.117-1.180):

[...]
Ademais, assentou a maioria da Corte Regional que a conduta do candidato em omitir informações
sobre seu histórico criminal se revelou potencialmente insuficiente para influenciar no resultado do
pleito, por não impedir que o eleitorado conhecesse o candidato. Extrai-se ainda da moldura fática
delineada pelo acórdão regional que Werbeth Macedo Castro utilizou na campanha eleitoral o
apelido pelo qual era conhecido – “Beto Castro” – sendo este inclusive o nome constante na urna
eleitoral, bem como apresentou todos os documentos exigidos por lei no momento do registro de
candidatura referentes ao seu nome verdadeiro.

Em outras palavras, não vislumbro, na espécie, fraude no processo eleitoral, porquanto se permitiu
ao eleitor conhecer o candidato ao pleito sem prejuízo à investigação de sua vida pregressa, bem
como à arguição de supostas irregularidades no momento do registro de sua candidatura,
inexistindo desvirtuamento das finalidades do sistema eleitoral. Nesse sentido:

[...]

Ainda que superado esse óbice, ressalto que a ação de impugnação de mandato eletivo busca tutelar
a normalidade e a legitimidade do pleito, sendo imprescindível a robustez do conjunto probatório
para caracterizar a prática de fraude, tendo em conta que não se pode condenar o candidato por
conduta omissiva decorrente de obrigação não prevista em lei, exigindo-lhe que produza provas
contra si. Confiram-se:

[...]

Com essas premissas, concluo, em consonância com o acórdão recorrido, que o fato, ainda que
mereça reprimenda moral ou eventualmente seja punível em outras esferas jurídicas – civil e penal,
por exemplo –, não alcança a seara eleitoral, porque não se mostrou grave a ponto de atingir o bem
jurídico protegido pela ação ora intentada, qual seja, a normalidade e a legitimidade do pleito.

Em que pese o entendimento do nobre relator, ouso divergir dos fundamentos invocados por Sua
Excelência.

Assento, primeiramente, que a alteração da conclusão firmada pela maioria da Corte de origem não
implica reexame de fatos e provas, mas apenas o adequado enquadramento jurídico da conduta
imputada ao agravado, porquanto a realidade fática em discussão foi devidamente delineada pelo
Tribunal de origem.

Extraio do acórdão que desproveu o recurso eleitoral interposto por Werbeth Macedo Castro as
seguintes circunstâncias fático-jurídicas, também reproduzidas na decisão ora agravada (fls. 806-
809):

Pela análise dos documentos acostados aos autos, infere-se que o recorrente dispunha de duas
identidades civis: Werbeth Macedo Castro RG 493004955 SSP/MA (fls. 474) e Werbeth Machado
Castro RG 02872492007-0 SSP/MA (fls. 41), além de usar outras variações de nome constantes
em documentos não oficiais.

No entanto – e este é o ponto crucial do presente caso –, esta Justiça Especializada não possui
competência para julgar o ilícito porventura cometido pelo recorrente ao utilizar-se de múltiplos
pseudônimos, tarefa essa pertencente unicamente à Justiça Comum.

Assim sendo, o julgamento em tela deve se limitar à verificação da ocorrência ou não de fraude
ocasionada pela omissão do recorrente acerca de suas outras identidades no momento do registro de
candidatura.
O recorrente é conhecido pelo apelido de “Beto Castro” entre seus eleitores, sendo esta a sua
designação na urna. Logo, sob este parâmetro e tendo em vista que o aludido apelido conforma-se a
qualquer de seus nomes, não há que se falar em indução a erro da parcela de cidadãos que o elegeu
como vereador. Não, se adotado como parâmetro o apelido suso mencionado.

O alegado uso, pelo recorrente, da duplicidade de nomes como forma de ocultar do eleitorado o
processo penal pelo qual respondeu – o que interferiria assim nas eleições –, é, sob meu ponto de
vista, o enfoque a ser analisado.

É certo que o exame da vida pregressa do recorrente não foi obstado haja vista que apresentou as
certidões exigidas para o registro de sua candidatura. Tudo isso esgotaria a discussão sobre o caso
se, e somente se, fosse o direito eleitoral uma ciência exata, o que tenho por incorreto.

Com efeito, o que nós temos no caso em apreço é um cidadão que ousou ludibriar todo o
sistema de segurança do Estado, bem como o Poder Judiciário se deixando ser processado e
condenado com a certeza da impunidade, vez que sempre se apresentou com documentos
falsos. Respondeu pelo crime praticado como um fantasma. Ao ser preso, apresentou os
documentos falsos. O inquérito foi concluído reconhecendo a prática da conduta ilícita. O Juiz
condenou aplicando a norma ao caso concreto entendendo que a conduta se amoldava ao tipo. E
quem deveria responder pelo crime? Quem foi o condenado? Foi o Werbeth Macedo Castro RG
493004955 SSP/MA (fls. 474)? Não Excelências. Foi o Werbeth Machado Castro RG 02872492007-0
SSP/MA (fls. 41). O falso. E um outro questionamento surge: qual a razão dessa prática? A resposta
é simples. Omitir sua condição de condenado para não afetar sua candidatura a vereador que
se avizinhava.

Vossas Excelências antes de magistrados são humanos e eleitores. Tendo um candidato com o qual
simpatizassem, se V. Exas. soubessem que esse candidato havia sido condenado em um processo de
natureza penal, Vossas Excelências compareceriam à urna para elegê-lo como seu representante no
Legislativo ou mesmo no Executivo? Acredito que não, haja vista que o que se pretende é ter como
representante pessoa tida como “ficha limpa”.

Acredito que os eleitores de São Luis foram privados, mediante uma sequência de atos ardilosos e
fraudulentos, de saber a realidade sobre a vida de um dos candidatos e é esta a real razão da
exigência das certidões destinadas ao registro das candidaturas. Por tais considerações, tenho que
não assiste razão ao recorrente.

Diante do exposto, e em dissonância com o parecer ministerial, voto pelo conhecimento e


desprovimento do presente recurso para manter a decisão de base que julgou procedente a Ação de
Impugnação de Mandato Eletivo, ao tempo em que determino a posse do suplente Paulo Roberto
Lima Oliveira como vereador de São Luis, Capital do Estado do Maranhão.

Vale transcrever, ainda, parte do voto proferido pelo relator do feito na origem, no julgamento dos
primeiros embargos de declaração (fls. 977 a 978):

Mais uma vez, equivoca-se o embargante. O recurso foi desprovido não pela existência ou não de
condenação ou causa de inelegibilidade por parte de Werbeth Macedo Castro. O fundamento da
decisão foi a ocultação intencional de sua vida pregressa, na qual consta que responde ou respondeu
a vários processos com identidade falsa (RG omitido quando do registro de candidatura,
oportunidade em que se apresentou certidões do RG limpo). À guisa de ilustração, às fls. 73-74
repousa um auto de prisão em flagrante em que o embargado foi flagrado na condução de um
veículo roubado e apresentou o RG falso, isto é, em nome de Werbeth Machado Castro. Vê-se
que o embargante – mesmo que não tenha sido condenado – foi indiciado e processado cível e
criminalmente (inclusive preso em flagrante, repita-se), por vários ilícitos, o que restou
omitido à Justiça e ao eleitorado quando do registro de candidatura do embargante. Eis o
motivo do improvimento do Recurso Eleitoral pelo aresto embargado. [Grifei]

Denota-se, a partir do quadro fático esboçado pela instância regional, que o candidato, em que pese
tenha utilizado na campanha eleitoral o apelido pelo qual era conhecido – “Beto Castro” – e
apresentado todos os documentos exigidos por lei no momento do registro de candidatura
referentes ao seu nome verdadeiro, ao ocultar seu histórico criminal, agiu de forma fraudulenta,
com a finalidade clara de ludibriar o eleitor e burlar a legislação eleitoral.

Como bem apontou a douta Procuradoria-Geral Eleitoral, “se um candidato procede


fraudulentamente, engana o Estado, o eleitor, e, graças a isso, consegue se eleger, é óbvio que é
possível impugnar a validade dessa relação jurídica, constituída que foi com bases claramente
reprovadas pelo ordenamento jurídico” (fl. 1.099).

Do parecer ministerial, por elucidativo, cabe destacar ainda o trecho a seguir (fls. 1.100-1.101):

[...] Se o candidato, mediante o uso de artifícios que chegam a ter caráter criminoso, oculta a
realidade, de modo a apresentar um quadro falso a respeito de sua história pessoal e de sua vida
pregressa, obviamente está se valendo de ardil que violenta os propósitos da legislação eleitoral que
obriga o candidato a expor certos dados ao conhecimento geral e da justiça.

Na verdade o ardil permitiu ao candidato expurgar de sua história pregressa dados da realidade
extremamente relevantes, com claro propósito de enganar o eleitor e todo o sistema de controle
estabelecido pela legislação eleitoral que regula o registro de candidatura.

Portanto, há fraude e ela é relevante para abalar a legitimidade do pleito e da própria candidatura
do autor desse ilícito. Não há necessidade de se fazer qualquer teste com os eleitores – como quis
sugerir o acórdão impugnado – para se medir o abalo que essa fraude causa na normalidade da
eleição. A conduta abala o próprio prestígio da Justiça Eleitoral, enganada que foi pelo ardil
engenhoso do candidato. Além disso, a fala ética consumada pelo recorrido, em aberto desprezo aos
mecanismos estabelecidos em lei, valendo-se de ardil para apresentar-se como candidato sem
qualquer registro negativo, tem evidente caráter anormal e a legitimação desse tipo de conduta
obviamente desmoraliza a autoridade do órgão de controle das eleições.

É papel da Justiça Eleitoral zelas pela legitimidade e normalidade do pleito, razão por que a
legislação eleitoral lhe defere competência para cassar registros ou diplomas de candidatos que
violentem esses valores. Se é assim, não parece compatível com essa função institucional admitir
que se valide ou se confira normalidade à conduta de candidato que use de mecanismos claramente
condenáveis para ocultar a realidade e esconder fatos que lhe são desfavoráveis na sua história
pessoal.

Acrescente-se que, no tratamento das duplicidades/pluralidades de inscrições eleitorais,


especialmente com o advento da biometria, é possível que se determine o cancelamento de todos os
registros coincidentes.

Além disso, a legislação partidária vigente no pleito de 2012, no qual eleito o recorrido, previa que,
constatado caso de dupla filiação, ambas eram consideradas nulas para todos os efeitos. Obviamente
que se garantia ao interessado a ampla defesa e o devido processo legal, mas, ante a sua omissão, o
sistema de filiação partidária procedia ao cancelamento automático de ambos os registros.
Desse modo, considerando, inclusive, que a Justiça Eleitoral se preocupa em manter um cadastro
eleitoral hígido, de modo a possibilitar a correta aferição das condições de elegilibilidade, no meu
sentir, a conduta analisada nos autos, de todo reprovável, afetou a normalidade das eleições e a
legitimidade do mandato eletivo outorgado ao ora agravado. Reconheço, pois, a ofensa ao art. 14, §
10, da Constituição Federal.

Ante o exposto, com as mais respeitosas vênias ao eminente relator, voto no sentido de dar
provimento ao agravo regimental de Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira para, provendo-se o recurso
especial interposto, julgar procedente a AIME, restabelecendo a sentença de piso.

É o voto.

VOTO (ratificação)

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): Senhor Presidente, o caso é por si só lamentável.
Evidentemente, o desejável seria que alguém nesse tipo de situação sequer se habilitasse como
candidato e que os próprios partidos fizessem a seleção.

No caso, não se questiona se a identidade com que o candidato se apresentou é a correta e


corresponde, inclusive, ao seu nome de campanha – ou de guerra, como queiram: Beto Castro.

O fato é que esse candidato teria uma condenação usando outra identidade – há aqui essa diferença.
De qualquer sorte, fica claro que ele está inscrito na Justiça Eleitoral como Werbeth Macedo Castro.
Portanto, a questão é: seria recomendável que ele fosse candidato? Mas ele acabou logrando o
registro e não há nenhuma falsidade na identidade com que ele se apresentou à Justiça Eleitoral.

O que se discute é que, ao apresentar uma identidade e não a outra que se diz falsa, teria ele
permitido que a sua ficha na polícia não aparecesse. De qualquer forma, tudo isso foi discutido.

De fato, tinha ele dupla identidade e com a identidade “A”, falsa, ele teria sido condenado por um
crime. Mas esses fatos são conhecidos.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Faço uma pergunta ao Ministro Gilmar Mendes:
um grande integrante de crime organizado geralmente é conhecido pelo apelido. Então, ele se
registra com o nome verdadeiro e a Justiça Eleitoral não pode fazer nada?

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): Eu insisto em que não há aqui nenhum
escamoteamento. Ele se chama Werbeth Macedo Castro, portanto esse é o registro de nascimento, é
a identidade, é o registro eleitoral. Ele tinha outro nome com outro registro, e o nome que ele usava
na Justiça Eleitoral é Beto Castro.

Mas não tenho a menor simpatia pela causa. Penso que temos de exigir que os partidos políticos
façam essa seleção.

Vivemos agora essa realidade na Justiça Eleitoral. Aqueles que bateram tantas palmas na Câmara
dos Deputados pela Lei da Ficha Limpa se deparam hoje com o fato de que mais de 140
parlamentares são, de alguma forma, denunciados ou investigados. A própria Lei, infelizmente,
acaba não contribuindo com essa depuração que se espera.

Penso que a questão é realmente delicada. Eu não teria nenhuma dúvida de que ele estaria atingido
pela Lei da Ficha Limpa se tivesse sido condenado pela segunda vez, ainda que com um segundo
nome. E ponto final. O que o impugnante exige aqui? Que ele teria de se apresentar como autor de
delitos na propaganda eleitoral, o que não é crível. Porque é isso que ele estava esperando.

Então, é só isso. De fato, não houve nenhuma sonegação de dados. Trata-se de pessoa com o
codinome Beto de Castro. E os malfeitos dele também foram apontados na eleição. Infelizmente, os
eleitores também acabaram por elegê-lo.

Em suma, este é um daqueles casos em que fico incomodado e não gostaria de discutir, porque
revela nossa miséria – decadência mesmo.

Ninguém comprou gato por lebre aqui, porque, de fato, é ele mesmo. O Tribunal inclusive
reconheceu não ter havido dúvida sobre a identidade. Trata-se do mesmo sujeito autor de crime, etc.
Não obstante essa folha corrida, o público achou por bem elegê-lo. Essa é a questão.

VOTO

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER: Senhor Presidente, peço vênia ao eminente Ministro Gilmar
Mendes para acompanhar a divergência aberta por Vossa Excelência.

Na verdade, o juízo de primeiro grau o havia cassado.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): Julgou procedente.

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER: Exatamente. Ele julgou procedente. Foi um juízo de
procedência.

O Regional, num primeiro momento, manteve a sentença. Foram opostos embargos de declaração,
que foram rejeitados. E apenas na oposição dos segundos embargos de declaração houve alteração
do decidido. O recurso especial veio por violação de preceito constitucional, do art. 14, § 10, e o
eminente Ministro Gilmar Mendes negou seguimento. Daí esse agravo regimental.

Comungo da compreensão de Vossa Excelência. Entendo que, em função de o fato ser incontroverso,
há possibilidade, sim, da análise. Apesar da extrema ponderação dos fundamentos do eminente
relator, fico com a divergência de Vossa Excelência.

VOTO

A SENHORA MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA: Senhor Presidente, quando o caso foi
trazido, chamou-me a atenção a particularidade das duas carteiras de identidade. Com a devida
vênia do Ministro Gilmar Mendes, concordo que essa conduta abala o prestígio da Justiça Eleitoral, a
legitimidade e a normalidade do pleito.

Acolho, portanto, os fundamentos trazidos por Vossa Excelência, para acompanhá-los.

VOTO

O SENHOR MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Senhor Presidente, peço vênia ao eminente relator para
acompanhar a divergência inaugurada por Vossa Excelência. Não há dúvida, trata-se de uma única
pessoa com dois registros. A questão é se esse é um fato relevante para a Justiça Eleitoral, ou não.

Peço vênia ao eminente relator para acompanhar a divergência.

VOTO

O SENHOR MINISTRO HENRIQUE NEVES DA SILVA: Senhor Presidente, a questão foi muito bem
posta por Vossa Excelência. Não se trata aqui de saber se se deve ou não alargar o conceito de
fraude, que já foi definido pelo Tribunal Superior Eleitoral em precedentes. Ao fim e ao cabo, o que
se põe a decidir é se houve ou não gravidade no fato.

Pelo que compreendi do voto, mesmo que se tenha concorrido com pseudônimo conhecido – o
pseudônimo é uma forma de identificação –, toda documentação apresentada foi com base na
identidade verdadeira.

O eleitor tem o direito de ter todas as informações sobre a vida pregressa do candidato. Se há de
certa forma uma vida pregressa seccionada entre o falso e o verdadeiro, o eleitor não tem acesso a
esse total das informações; ele terá as informações apenas daquele registro verdadeiro. Ao passo
que todas as demais condenações – aqui se fez menção a uma, mas podem existir outras – não foram
levadas ao conhecimento do eleitor.

Penso que isso revela algo que tem efetiva gravidade a afetar o processo eleitoral.

Peço vênia ao eminente relator para acompanhar Vossa Excelência.

VOTO

O SENHORA MINISTRA LUCIANA LÓSSIO: Senhor Presidente, peço vênia ao eminente relator para
acompanhar o brilhante voto de Vossa Excelência. Parece claro haver aqui duas identidades, e o
candidato faz uso de uma delas, que está limpa, para fins de atender à Lei da Ficha Limpa. Essa
conduta atenta a mais não poder aos princípios da boa-fé objetiva e até mesmo a confiança do
eleitor na própria Justiça Eleitoral. Tal conduta macula, em meu entender, de forma muito clara, a
legitimidade do pleito. E também se põe aqui, de forma cristalina, a fraude perpetrada pelo
candidato, como muito bem destacado por Sua Excelência.

É como voto, Senhor Presidente.

ESCLARECIMENTO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (relator): Senhor Presidente, aproveito o momento para
dizer que considero mais graves, a macular as eleições, as fraudes, por exemplo, em termos de
propagandas enganosas – como tive oportunidade de apontar aqui, em vários casos.

Há aqui, de fato, um problema que Vossa Excelência quer resolver e tem essa iniciativa, no sentido
do registro. É uma vergonha que alguém consiga registrar-se com dois nomes, mas, no caso, o nome
autêntico é esse. Não há nenhum engano, nenhum engodo em relação ao conhecimento dos
eleitores. O indivíduo era conhecido, isso o tribunal atesta e nós não podemos rever. Apenas para
que não julguemos coisas diferentes.

Considero que as premissas que o Tribunal está a assentar são úteis para que se possa, depois,
anular eleições nesses casos notórios de fraude. Infelizmente, os assuntos estão se resolvendo por
outro meio, mas temos, nesta Corte, a chance de nos pronunciar sobre isso em tantas eleições que se
realizam enganando eleitores.

Mas acredito que essas premissas que o Tribunal está a assentar serão outras para casos futuros.

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (presidente): O Ministro Gilmar Mendes toca num ponto
relevante. Quando assumi aqui, no TSE, Sua excelência já era Presidente do Supremo Tribunal
Federal. E tive a oportunidade de aqui ombrear com Vossa Excelência em sua segunda passagem.
Inicialmente, como substituto, eu ficava vencido exatamente na tese de que como o único veículo
para cassação é a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) – e tive a oportunidade, no IDP,
nos congressos que Vossa Excelência realiza, de trazer essa discussão –, o termo “fraude” da
Constituição deve ser interpretado da mais ampla forma. E logrou depois, com o passar do tempo,
essa posição passando a ser realmente mais vencedora, hoje praticamente unânime, no sentido de
que essa fraude que a Constituição apresenta é todo tipo de fraude que conspurca o processo
eleitoral, seja por meio de abuso dos veículos de comunicação, abuso da máquina, abuso do poder e
abusos como os tais.

Eu gostaria de agregar – e até deixei aqui anotado para registro do acórdão – mais dois
fundamentos: nas eleições de 2012, a dupla filiação partidária levava ao cancelamento das duas. O
caso é das eleições de 2012. Isso foi alterado. Mas aqui nós estamos no âmbito das eleições de 2012.
Então vejam que, por ter dois partidos, a pessoa perdia o registro.

Outra questão: nós estamos realizando o cadastramento biométrico. Todos aqueles que, no
batimento da biometria, aparecem em mais de um registro, o cancelamento dos dois é automático.
Até que seja regularizado.

Então, agrego mais esses dois fundamentos ao meu voto. Penso que são extremamente relevantes,
porque, se for feita a identificação pela biometria do ponto de vista físico e alguém tem duas, três,
quatro identificações, essa pessoa perde todas, até a verdadeira. Ela vai ter de se recadastrar
novamente na Justiça Eleitoral, porque não é possível à Justiça Eleitoral saber de antemão qual é a
verdadeira.

EXTRATO DA ATA

AgR-REspe nº 1-37.2013.6.10.0003/MA. Relator originário: Ministro Gilmar Mendes. Redator para o


acórdão: Ministro Dias Toffoli. Agravante: Paulo Roberto Pinto Lima Oliveira (Advogados: Ezikelly
Silva Barros – OAB nº 31903/DF e outros). Agravado: Werbeth Macedo Castro (Advogados: Francisco
Manoel Martins Carvalho – OAB nº 3323/MA e outros).

Decisão: O Tribunal, por maioria, deu provimento ao agravo regimental para, dando provimento ao
recurso especial eleitoral, julgar procedente a ação de impugnação de mandato eletivo, nos termos
do voto do Ministro Dias Toffoli, que redigirá o acórdão. Vencido o Ministro Gilmar Mendes.

Presidência do Ministro Dias Toffoli. Presentes as Ministras Rosa Weber, Maria Thereza de Assis
Moura e Luciana Lóssio, os Ministros Gilmar Mendes, Herman Benjamin e Henrique Neves da Silva,
e o Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Nicolao Dino.

SESSÃO DE 3.5.2016. 1)

© edição e distribuição da EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA.

Você também pode gostar