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Discente: Joyce Dutra Nani

Matrícula: 20191530016

“As eleições são competitivas quando eleitores são capazes de determinar os vencedores e, o
mais importante, quando podem destituir os governantes em exercício se assim o desejarem.”
(Przeworski, 2018). Esse é um dos conceitos chave que Adam Przeworski explora em seu
livro “Por que eleições importam?” e que será alvo de discussão durante o ensaio a seguir.

Em um passeio pelo desenvolvimento das eleições e sua importância, o autor destrincha todos
os pormenores de um tema que gera discussões desde a sua implantação até os dias atuais, e o
motivo pelo qual - mesmo não sendo consenso - para ele é a forma mais adequada de política
eleitoral. Em sua visão, todos os esforços devem estar voltados para a capacidade de pessoas
livremente escolherem quem as governa e de que forma o faz.

Sendo essa a forma mais apropriada de escolha, como em todo processo, neste também há
regras que devem ser cumpridas. Como por exemplo: quem pode ou não votar, se a votação é
direta ou indireta, se o voto é obrigatório ou facultativo, se a eleição é aberta ou não, entre
outros. E estas regras têm influência direta sobre seus resultados - mesmo os menores detalhes
fazem diferença.

Regras são dispositivos legais que cabem a todos os jogadores da partida, ou seja, todos os
cidadãos que se dispõem a participar do processo eleitoral independente do sexo, situação
econômica ou cor. Entretanto, o nível de cumprimento ou até mesmo comprometimento com
as mesmas varia a depender de 1) o que se tem a perder com o resultado e 2) os mecanismos
disponíveis para alterar o processo durante o seu andamento.

Os competidores aceitam sua derrota e saem democraticamente da partida quando sabem que
haverá chance de uma retórica mais para frente e nesta, a possibilidade de vitória. Quando
isso é uma incógnita e o futuro eleitoral embaçado, algumas medidas podem ser tomadas a
fim de garantir a vitória. Caso o detentor do aparato estatal enxergue uma possível derrota na
próxima eleição, o uso dos mecanismos a seu favor são uma realidade próxima. Sempre com
o objetivo de não sair do poder.
Um exemplo deste apontamento feito por Adam pode ser visto no Brasil durante as eleições
de 2022, onde o ex-presidente - na época atual presidente - Jair Bolsonaro usou de
mecanismos a seu favor para garantir sua reeleição, como a implantação do aumento do valor
do Auxílio Brasil e uma maior abrangência a quem deveria ser beneficiado por outros
programas do Governo. Entretanto, o mesmo não teve o final esperado sendo então o primeiro
presidente da história do Brasil a não ser reeleito desde que foi aprovada a emenda
constitucional que permitia a reeleição em 1997.

Entre outras formas de controle mostradas por Adam estão a monitorização sobre as agências
que conduzem pesquisas econômicas e publicam números sobre a inflação e a taxa de pobreza
e também o controle sobre a mídia. Os dois exemplos aqui citados estão diretamente ligados
um ao outro pois mesmo que a mídia seja regulada por uma entidade independente do
Governo, sua direção é indicada nominalmente e muda a cada governo, tendo então uma
“mão” para controlar como e se esses números serão divulgados - que podem mostrar a
ineficiência do Governo ou a falta de políticas públicas.

Fora estes dispositivos usados de forma velada, há também a repressão por meio da força
física. Esta pode ser usada para reprimir um início de levante da oposição ou impedir a
participação política de um determinado grupo ou ator que seja uma ameaça a sua vitória.

Uma vez que algum tipo de oposição se torna pública, a repressão requer força bruta e os
líderes oposicionistas são mortos, presos ou exilados. Entretanto, nos últimos anos os
protestos eleitorais têm assumido uma posição mais pacífica contra os resultados de eleições
tidas como injustas, sendo inclusive chamados de “revoluções coloridas”.

A vida política de María Corina Machado, ex-deputada da Venezuela, pode ser vista como um
exemplo desta forma de repressão mas sem o uso de violência. Líder da oposição
venezuelana, María teve seus direitos políticos cassados por mais 15 anos no último mês pelo
regime venezuelano sob a justificativa de apoiar Juan Guaidó - ex-líder da oposição - e apoiar
sanções americanas ao Governo de Maduro.

As primárias venezuelanas ocorrem em outubro e Corina, que ocupava o primeiro lugar nas
pesquisas, não poderá concorrer pois foi declarada inelegível.
Um terceiro fator importante no resultado das eleições é o que move o mundo: dinheiro.
Política custa dinheiro, não há como refutar essa afirmação. Entretanto, diferente dos
exemplos anteriores, este não permite implicar uma vantagem direta aos governantes em
exercício na disputa pois o autor explica que até o momento em que foi escrito, não havia
consenso sobre a eficácia dos gastos de campanha sob a partilha dos votos.

E, por fim, o último recurso usado para atrapalhar uma eleição justa: a fraude. Este é utilizado
quando nenhum dos exemplos anteriores surte efeito. Entretanto, é preciso entender que este
conceito não é o mesmo que manipulação eleitoral, fraude é uma violação das regras do jogo
por mais injustas que sejam. Como por exemplo: a compra de votos ou a invasão de
escritórios da oposição para roubar segredos, como o caso de Watergate.

Porém, a linha que separa a fraude da manipulação é tênue. Comprar votos individualmente
em uma eleição é fraude e é crime, mas incentivar a economia às vésperas de uma eleição não
é - a depender da forma como é feita.

Em suma, Adam conclui que eleições competitivas não são “justas”, estas devem ser
conduzidas por alguns regulamentos e todas as regras alteram as chances de um candidato ou
outro. Não há nenhuma forma legal de impedir que os partidos em competição utilizem meios
para aumentar suas chances de vitória.

Por esse motivo, existem instituições criadas para controlar e regular o processo eleitoral a
fim de minimizar o número de fraudes e transgressões. No Brasil quem cumpre esse papel é o
TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a nível Federal e o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) a
nível estadual. O TRE é responsável, entre outras coisas, por fazer cumprir as decisões do
TSE.

Por fim, o livro de Przeworski nos incita a refletir sobre a nossa participação ativa na vida
política e a importância das eleições na sociedade contemporânea, sendo um mecanismo
essencial para a expressão da vontade popular, permitindo que os cidadãos influenciem
diretamente as decisões que afetam suas vidas. Explorando também os detalhes que permeiam
esse processo e suas consequências. Por isso, “Por que eleições importam?” é uma leitura
essencial para o desenvolvimento de um pensamento crítico sobre eleições.

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