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O VOTO COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO

Pedro Henrique Soterroni, Sérgio Tibiriçá Amaral

O Brasil é uma democracia representativa, dada a impossibilidade de todos os cidadãos participarem das
discussões e decisões sobre os negócios do Estado em Brasília. Delegamos estas tarefas aos
representantes eleitos pela maioria da população por meio de um mandato. Ocorre que, na maioria das
vezes, estes representantes não agem pelo interesse dessa maioria que os elegeu e sim pelos seus
próprios interesses ou ainda pela vontade de um determinado grupo que financia as campanhas
eleitorais. Buscam vantagens e fazem negócios por vezes ilegais, mas sempre imorais. Há corruptos e
corruptores que constroem fortunas sem suor firmam-se no poder, surrupiando verbas deixando rombos
nos cofres públicos. Isto reflete diretamente nos preços dos impostos, dos combustíveis e na deficiência
dos serviços públicos, como saúde e principalmente educação. Diante disto, muitos cidadãos afastam-se
da vida política e não se interessam pelo assunto, deixando de fazer uso de seu direito de votar e ser
votado nas eleições. Comparecem às urnas simplesmente para não sofrer nenhuma sanção imposta pelo
Estado. Outras vezes é pior, negociam o voto, traídos pela necessidade econômica e falta de educação.
Votam por votar, sem nenhum compromisso político, elegendo assim, maus políticos, que desvirtuam a
finalidade de sua representação perante o povo. Políticos que representam apenas seus próprios
interesses. Num Estado democrático é imprescindível a participação dos cidadãos na escolha dos seus
representantes, sendo o direito de voto fundamental para o exercício da cidadania. Este direito
consolidado no artigo 14 da Constituição Federal o qual diz: “A soberania popular será exercida pelo
sufrágio universal e pelo voto direto secreto, com valor igual para todos”. Portanto, os brasileiros
precisam despertar sobre a importância de estarem informados sobre os acontecimentos e escândalos
políticos, pois são os políticos dependem da opinião pública. Saber dos agentes políticos e das suas
administrações. O voto precisa ser usado como mecanismo de transformação, afastando os maus
políticos da administração do País. Não que não haja legislação para punir o mau político, a lei existe.
Um dos problemas é morosidade dos processos no Judiciário. Mas, enquanto não temos um instrumento
célere, devemos usar sabiamente os que estão em nosso alcance. O melhor “inseticida” contra o mau
político é a reprovação nas urnas. Não naqueles que tiveram seus nomes envolvidos em escândalos nem
os que tentam comercializar o voto. Somente assim conseguiremos transformar o País mais justo e com
oportunidade para todos. A democracia representativa proporciona essa solução.

Voto Consciente: um forte instrumento de mudança política e


social
Na Grécia, os cidadãos atenienses levavam a sério a política, haja vista que se sentiam contentes em
participar de decisões que interessavam a todos. No Brasil hodierno, contudo, não se observa a mesma
seriedade, dado que subsistem práticas que dificultam o exercício do voto consciente, apesar de sua
importância para o futuro do País. Nesse contexto, destacam-se o desinteresse social e a troca do
sufrágio por interesses pessoais como dois agentes tonificadores dessa questão.

Em um primeiro momento, pontua-se que fatores ligados ao descrédito da população dado à política
fomentam a problemática. Nesse sentido, o filósofo Platão defendia que não há problemas com as
pessoas que não gostam de princípios políticos, mas elas serão governadas por aquelas que os apreciam.
Por esse ângulo, os indivíduos desinteressados, que não enxergam o poder transformador de seu voto,
deixam o destino da Nação a cargo dos demais eleitores, o que pode levar à ascensão de líderes políticos
indesejáveis. Logo, enquanto esse cenário permanecer vigente, a consciência no que tange ao sufrágio
estará abalada.

Além disso, a priorização de vantagens individuais em detrimento das coletivas corrobora o revés. A
esse respeito, o período da República Velha tinha como uma de suas características o “voto de
cabresto”, ferramenta utilizada pelos coronéis para controlar o voto popular a partir da compra deste. De
forma análoga àquela época, em algumas cidades brasileiras, sobretudo as interioranas, tal prática ainda
existe, uma vez que a prefeitura é a principal fonte de renda nesses locais e, pois, a permuta do sufrágio
por cargos públicos é muito comum. Assim, essa situação representa um retorno a conjunturas do
passado e, dessarte, precisa passar por ressignificações.

Portanto, é preciso evidenciar a importância do voto consciente para o futuro do Brasil. Para tanto, cabe
ao Tribunal Superior Eleitoral – instância jurídica incumbida de organizar o processo eleitoral brasileiro
–, por meio das emissoras de TV e rádio e de parceria com o Ministério Público, não só difundir a
capacidade de mudança social advinda do voto popular, mas também solicitar fiscalizações mais rígidas
em épocas de eleição, a fim de mobilizar os eleitores que perderam o interesse pela política brasileira e
de coibir a compra de votos, bem como a sua troca por bens e cargos públicos. Feito isso, a seriedade da
política brasiliense poderá ser semelhante à da ateniense.

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