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INSTITUTO DE FÍSICA
Preparação de Amostras de
Radiocarbono e Aplicações de AMS
em
Arqueologia e Geologia Marinha
Orientador:
Prof. Dr. Roberto Meigikos dos Anjos
Niterói
2003
Autora: Kita Chaves Damasio Macario
Ciências
i
To Mary Ann
ii
Agradecimentos
Às populações pré-históricas que, com seu esforço, ergueram os sambaquis e sem os quais
Ao pessoal da Biblioteca, sempre gentil e disponível, especialmente à Rita, por todo trabalho
À Valéria, da PROPP.
Ao Jeferson, da Geociências.
iii
Ao pessoal que foi e que é do grupo: Simone, Marco Aurélio, Eduardo, Helena, Ciro, João,
A todo pessoal do PRIME Lab: Elmore, Linda, Lu, Pankaj, Sharif, Tom, Brad,
especialmente o Ken e a Mary Ann.
A Dinha, Luzia, Papai, e, especialmente, Mamãe, por todas as formas de ajuda possíveis.
iv
Resumo
Fluminense, para serem medidas pela técnica de Espectrometria de Massa com Aceleradores.
Raros – PRIME Lab – da Universidade de Purdue, em Indiana, nos Estados Unidos. Durante
Geociências. As técnicas de preparação e medida destas amostras são descritas, bem como os
cálculos e as correções necessárias para se obter a idade de uma dada amostra natural de
carbono.
v
Abstract
This work presents the implantation project of a sample preparation laboratory for
the Purdue Rare Isotope Measurement Laboratory – PRIME Lab – in Indiana, United States.
During this period, samples from Archaeology and Geosciences research projects were
prepared. The sample preparation and measurement techniques are described, as well as the
calculations and corrections for obtaining a given natural carbon sample age.
The main results of the research projects involved in this thesis were the reevaluation
of pre-historical settlements chronology on the Brazilian Coast and the intermittence of this
occupation. It was also determined the Brazilian Continental Slope sedimentation rate in the
Campos basin and its relation to sea level fluctuations was studied.
vi
Índice
Página
Capítulo 1 Introdução 1
2.1.1 Pré-tratamento 15
2.2.3 O Acelerador 34
vii
Página
4.2 Equipamento 65
viii
Página
Marinha
ix
Página
x
Índice das Figuras
Página
aminoácidos testados
xi
Página
Idade calibrada
IF-UFF
xii
Índice das Tabelas
Página
carbono
xiii
Capítulo 1
Introdução
isótopos instáveis têm de decair de forma específica com o tempo, é possível estimar a idade
Essa técnica foi proposta por Libby no final da década de 40 para medir amostras de
carbono [Libby et alii, 1949]. Utilizando um medidor Geiger-Müler para detectar a radiação β
14
emitida pelo C, e conhecendo a atividade específica deste isótopo, foi possível calcular a
idade de amostras arqueológicas. Com o passar do tempo, outras aplicações foram surgindo
Na década de 70, com a evolução dos aceleradores usados para o estudo de reações
acelerador, cuja alta energia permite a separação das massas dos isótopos.
1
diversas novas aplicações. Ela permite também a generalização da datação radioativa para
outros elementos de meia vida longa, para os quais é impossível o uso da técnica
convencional.
cessam as trocas de matéria com o meio ambiente. A concentração após um tempo t depende
C (t ) = C 0 e − λt (1.1.1)
1 t1
τ= = 2
λ ln 2 (1.1.2)
2
Conhecida a concentração isotópica atual, a idade da amostra pode ser então determinada:
C (t ) (1.1.3)
t = −τ ln
C0
dC (1.1.4)
A(t ) = − = A0 e −λt
dt
A(t ) (1.1.5)
t = −τ ln
A
0
A medida da atividade de uma amostra pode ser feita utilizando, por exemplo,
detectores a gás ou cintiladores. Os detectores a gás são câmaras contendo um gás, a baixa
3
pressão, que é ionizado pela radiação. Os pares elétron-íon são coletados em eletrodos,
radiação é absorvida por um material orgânico ou cristal com capacidade de emitir luz. Os
−
ln 2 ∆t
∆N t1 ln 2∆t
= 1 − e 2 ≈
N t1 (1.1.6)
2
período de tempo ∆t. A aproximação é válida para ∆t muito menor que a meia-vida t1/2.
Em geral é necessário um tempo de medida bastante grande para atingir uma boa
14
precisão. No caso do C, por exemplo, cuja meia vida é 5730 anos, é necessário medir a
atividade de uma amostra de 1 g durante doze horas para obter a contagem de 10000 eventos
à do 14C não poderiam ser medidos pela técnica convencional. Assim, a datação radioativa foi
4
1.1.2 A Datação de Radiocarbono
50000 anos.
atividade inicial. Esse valor pode ter sido medido ou pode ser estimado a partir das taxas de
14 14
O C é produzido na atmosfera por interação de átomos de N com nêutrons
14
secundários, originários da radiação cósmica, através da reação N(n,p)14C, formando 14CO
pela reação com oxigênio [Korff e Mendell, 1980]. A taxa média global é de 2.2
elementos pesados (U e Th), a interação de raios cósmicos secundários com a litosfera e, mais
14
O CO é oxidado pelo radical OH-, produzido pela dissociação fotolítica do ozônio
seguida pela reação do oxigênio excitado com vapor d’água, gerando 14CO2. Desta forma, o
14 13 12
C se mistura aos isótopos estáveis C e C e entra no ciclo global do carbono, sendo
consumido pelos seres vivos ao longo de sua existência. A partir de sua morte, as trocas de
carbono com o meio ambiente são interrompidas e o sistema passa a estar isolado. Assim,
14
enquanto no meio ambiente a produção de C continua, naquele sistema o decaimento
radioativo é o único fator a alterar a razão isotópica do carbono. Como essa redução se dá a
5
Para medir diretamente a concentração isotópica em uma amostra de carbono é
necessário separar os átomos de 12C, 13C e 14C e contá-los. Diferindo apenas por suas massas,
de massas diferentes. A técnica se baseia no fato de que uma partícula carregada sofre uma
deflexão em sua trajetória, em função de sua massa, ao passar por um campo magnético.
Íons de carga q são extraídos de uma amostra, acelerados a uma energia E e então
ME
∝ (Br )
2
q 2 (1.2.1)
a sensibilidade de um sistema desses não ultrapassa 10-11, não sendo suficiente para
relação ao carbono total. Para se ter resolução suficiente de forma a separar estes isótopos por
suas massas, é preciso utilizar energias da ordem de milhões de elétron-volts (MeV). Energias
dessa ordem são obtidas em aceleradores de partículas desenvolvidos para o estudo de reações
nucleares.
6
1.2.1 A Técnica de Espectrometria de Massa com Aceleradores – AMS
que os íons fossem detectados com energias de ordem de MeV [Muller, 1977]. Desta forma, a
interferência de isótopos e isóbaros pôde ser eliminada usando técnicas de Física Nuclear.
analisador magnético, de alta energia, seleciona o estado de carga desejado e os íons são
nucleares.
determinado átomo numa amostra em até uma parte em 1015. Em relação à técnica β
104 e o tempo de medida de 102 para a contagem direta dos átomos da amostra por AMS.
para datar aquelas insuficientes para serem diretamente datadas. Um grão de milho
encontrado em uma fogueira, por exemplo, pode ter sua idade associada àquela medida para o
7
também estes seriam considerados contemporâneos. Este método pode ser inadequado em
certas situações, enquanto a datação direta de um simples grão de milho pode significar a
milho no México central, que havia sido datado por associação a madeira e carvão de 7000
anos AP e quando medido diretamente por AMS resultou em 5500 anos AP [Long et alii,
1989].
A técnica de AMS também abre espaço para novas aplicações como, por exemplo, na
área biomédica. O uso do radiocarbono como traçador em seres vivos é de grande importância
já que todo tecido orgânico é composto de carbono. A adição de uma ínfima quantidade de
exalado. A quantidade de material radioativo é pequena demais para produzir qualquer dano
direta de elementos de meia-vida longa como o 10Be (1.5 x 106 anos), o 26Al (7.1 x 105 anos),
o 36Cl (3.01 x 105 anos), o 41Ca (1.04 x 105 anos) e o 129I (1.7 x 107 anos), entre muitos outros,
além da possibilidade do uso de isótopos estáveis, que são utilizados como traçadores em
materiais semicondutores.
8
organismo, sendo muito importante para se conhecer doenças como a osteoporose [Resnick e
26
Greenspan, 1989]. O uso do Al para rastrear o efeito do alumínio no cérebro e rins,
Uma revisão feita por Fifield [1999] aborda as diversas aplicações dos isótopos de
36 129
meia-vida longa em várias áreas, como Geociências e Ciências Ambientais. O Cl e o I,
10
por exemplo, são usados em Hidrologia e como traçadores de lixo nuclear. O Be é muito
como traçador e na cronologia de eventos como queimadas [Santos, 1999] e variações nas
condições climáticas [Souza, 2000]. A datação de foraminíferos, por exemplo, pode trazer
para desenvolvê-la.
9
1.2.2 AMS no Brasil
Embora a técnica de AMS ainda não esteja totalmente implantada nos aceleradores do
Brasil, seu uso é muito difundido entre pesquisadores brasileiros de diversas áreas, que
enviam suas amostras para serem datadas no exterior a um custo bastante elevado. Grupos de
AMS. Dois deles devem vir a ser utilizados para este fim, um na Universidade de São Paulo e
outro na Universidade Federal do Rio de Janeiro. No entanto, esses sistemas têm que ser
investimento financeiro e de desenvolvimento técnico. Por outro lado, a maior parte do valor
cobrado para a datação por AMS, cerca de 75% do total, é relativa ao preparo das amostras.
amostras para AMS deve ser instalado. A implantação de um laboratório desse tipo
grafite, as amostras poderão ser medidas no Brasil, ou mesmo enviadas para o exterior para
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serem medidas por um valor muito mais acessível, enquanto os aceleradores de laboratórios
Dentro dos objetivos do presente trabalho está a capacitação de pessoal para projetar o
Universidade Federal Fluminense. Para tanto, foi realizado um estágio de um ano no PRIME
Estados Unidos.
Todo o trabalho foi realizado visando uma fundamental integração os com diversos
Bacia de Campos, também no Rio de Janeiro, contribuíram para o estudo das variações do
11
No Capítulo 4 é feita a descrição do projeto do laboratório de preparação de amostras
aquisição de material.
desde seu pré-tratamento, sua passagem pelo acelerador, até o resultado medido para a
concentração isotópica.
12
Capítulo 2
Materiais e Métodos
Esse capítulo aborda a técnica de preparação e medida das amostras de carbono por
AMS, desde a forma em que são encontradas em sítios arqueológicos ou coletadas no fundo
do oceano, como foi o caso, passando pelo tratamento químico a que são submetidas, até a
Os procedimentos têm por base aqueles utilizados para as amostras medidas. Todo o
Para ser levada ao acelerador e medida, a amostra deve se encontrar numa forma
conveniente, de modo que, a partir dela, se possa produzir um feixe de íons. Assim, o carbono
pode ser utilizado sob a forma de grafite ou gás carbônico, de acordo com a fonte de íons de
que se dispõe.
A amostra deve passar por um tratamento químico a fim de ser convertida à forma
desejada. É necessário, porém, muito cuidado para desprezar átomos de carbono que tenham
aderido à amostra posteriormente e cuja idade não represente sua idade real. Porções de outros
13
materiais ou mesmo frações da própria amostra podem interferir no resultado. É fundamental,
removidos.
Para cada tipo de material a ser datado deverá ser utilizado um procedimento distinto,
amostra que contém o carbono original e cuja datação seja considerada fidedigna.
Vários são os materiais disponíveis que podem ser usados em projetos envolvendo a
técnica de AMS. Alguns se apresentam de forma abundante, enquanto outros são bastante
tratamento pode ser complexo e dispendioso. Deve-se levar em conta que, em certos casos,
mais de um tipo de amostra pode ser utilizado para uma mesma datação. Portanto, é preciso
encontrado em sítios arqueológicos, formando fogueiras, que muito podem dizer dos
habitantes locais [Lima et alii, 2002]. Também pode ser utilizado pela geoquímica para datar
Ossos têm um grande potencial para datação arqueológica. São encontrados em grande
parte dos sítios e sua datação representa a idade real de uma espécie que teria passado pelo
local, e não apenas a de uma amostra contemporânea associada. Além disso, permitem
relacionar a idade com aspectos culturais, raças, dieta e muitas outras informações que podem
14
O carbonato de cálcio encontrado em conchas e carapaças de foraminíferos é um
exemplo de material inorgânico cuja datação é também de grande importância. Seu uso vai
Outros materiais, como turfa, cerâmica, corais, etc, também são largamente utilizados
para datação por radiocarbono. De cada material devem ser removidos átomos de carbono
transformada em gás carbônico, passando então por uma linha de vácuo, onde é purificada,
do elemento a ser medido. Acelerado a altas energias, o feixe pode ser separado em função de
sua massa e os isótopos podem ser medidos. A seguir, serão descritos, em linhas gerais, os
2.1.1 Pré-tratamento
A preparação das amostras de carbono para medida por AMS requer tratamento
específico para cada tipo de material. Todos os procedimentos específicos aqui descritos têm
O pré-tratamento das amostras tem como objetivo remover contaminantes que possam
alterar os resultados das datações. Esses contaminantes podem vir de outros materiais que, em
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aderido à amostra, ou podem ser parte da própria amostra, uma fração cuja composição
propicie a troca de carbono com o ambiente ou que, por algum motivo, não represente a idade
ferramentas como pinça, lâmina ou escova de aço. Dependendo do estado em que se encontra
o material pode ser necessária uma lavagem em água deionizada ou até mesmo limpeza ultra-
químico, uma seqüência de tratamentos com reagentes, para separar a fração a ser medida. De
acordo com o tipo de material estima-se a quantidade necessária a ser utilizada de modo a
Tabela 2.1
Sementes 5 a 20
Madeira 10 a 25
Carvão 20 a 30
Turfa 50 a 100
Plantas 80 a 150
Carbonato 20 a 60
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Essa quantidade vai depender do tipo de processo químico pelo qual a amostra deve
É importante notar que a composição de alguns materiais pode variar bastante. Por
produzir uma amostra grande demais e outra de quantidade insuficiente para ser medida.
químico. Com o objetivo de isolar o carbono original em cada tipo de material, amostras
Amostras orgânicas podem ser extraídas de diversos materiais, como turfa, carvão,
amostra mais bem preservada, ou seja, cuja datação represente sua idade real, a época em que
o sistema biológico trocava carbono com o ambiente. Para tanto, deve-se utilizar apenas a
matéria orgânica presente, removendo, com um tratamento ácido, carbonatos que façam parte
da amostra. No entanto, nem todo carbono derivado de compostos orgânicos estará no sistema
desde sua morte. Ácidos húmicos e fúlvicos originários do processo de decomposição são
considerados contaminantes e devem ser removidos, e isso é feito através de tratamento com
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uma base. Esse tratamento, porém, pode acarretar a aderência de carbonatos contemporâneos
à amostra e, portanto, deve-se repetir o tratamento ácido para que estes sejam removidos.
Para a maior parte das amostras de sólidos orgânicos, o tratamento denominado ABA
(ácido-base-ácido) é o mais indicado. Após a limpeza física, as amostras devem ser reduzidas
quantidade necessária do material é medida diretamente no tubo de ensaio que será usado
concentração de 1M (molar). A amostra deve ser mantida num banho seco a cerca de 95o C
com todo o material. Ao final do tratamento, centrifuga-se a amostra para que se possa
remover o líquido com uma pipeta. Outros tratamentos com ácido devem ser realizados, de
forma semelhante, até que o ácido permaneça límpido e nenhum gás evolva.
agita-se para que o precipitado se misture à água. Centrifuga-se e retira-se o líquido. Repete-
Em seguida, a amostra deve ser tratada com cerca de 3 ml de hidróxido de sódio, cuja
concentração pode variar de 1 M a diluições maiores para materiais muito delicados. O tubo
de ensaio é mantido a cerca de 95o C por períodos de 1 hora. Durante esse tempo os tubos
devem ser agitados periodicamente. Ao final de cada período, eles devem ser centrifugados e
18
o sobrenadante removido com pipeta. Os tratamentos com base devem ser realizados até que o
Para amostras que requerem muitos tratamentos, pode-se optar por períodos de no
mínimo 15 minutos, desde que o último tratamento dure 1 hora. Assim mesmo, podem ser
necessários mais do que um dia de tratamentos com base. Neste caso, deve-se realizar duas
lavagens e a amostra deve ser mantida em ácido clorídrico 0.1 M durante a noite. No dia
seguinte, pode-se continuar o tratamento após duas outras lavagens. Esse cuidado é tomado
para minimizar o tempo em que a amostra estará exposta à base, diminuindo assim a absorção
sendo que na terceira, o tubo com água é mantido a cerca de 95o C por 15 minutos antes de ser
centrifugado.
Ao final do processo o tubo de ensaio é mantido no banho seco a cerca de 95o C até
O tratamento ABA pode sofrer variações para alguns tipos específicos de amostras
orgânicas. É preciso que se defina que fração do material deve ser eliminada e que fração
deve ser medida. É possível que se deseje medir a fração húmica, e, para tanto, o processo vai
até o tratamento básico onde o líquido que seria descartado é exposto ao ácido, precipitando a
diferentes materiais orgânicos, apenas o primeiro tratamento ácido é realizado. Para a datação
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de uma peça em cerâmica, por exemplo, deve-se avaliar que parte da amostra se relaciona à
idade da peça. É possível datar várias frações, como restos de alimento, pintura, ácidos
Em alguns casos, para obter uma datação mais confiável, pode ser necessário não
apenas separar o carbono orgânico e retirar contaminantes externos, mas isolar uma molécula
isolada garante que o carbono em sua composição é original. Nesses casos será preciso uma
quantidade maior de material. Esse é o caso de amostras de tecido ósseo, das quais se deseja
uma molécula específica para ser medida. 80% da composição do tecido ósseo é carbonato de
contaminantes). Deste modo, a datação da parte inorgânica do tecido ósseo não é considerada
confiável. Os 20% restantes são matéria orgânica, da qual 88% é colágeno. O colágeno é uma
Um tecido ósseo moderno contém 176 mg de colágeno por grama de material. Com a
idade, porém, o colágeno original se degrada. Seu estado de preservação depende, também,
20
colágeno que permanece intacto vai diminuindo, no entanto a sua composição apresenta um
padrão que se mantém durante a diagenese, até que reste aproximadamente 5% da proteína
original. Portanto, a fração de colágeno é considerada preservada, já que pode ser reconhecida
e isolada.
Uma amostra que contenha 20% ou mais do colágeno original é considerada ideal para
ser medida. Quanto mais degradada a amostra, maior é a chance de contaminação e maior será
de amostra são suficientes, ao passo que, para um osso em estado ruim de preservação, 1 g do
tecido pode não conter a quantidade de carbono requerida. No caso do osso estar em péssimo
específicos para serem medidos [Stafford et alii, 1991] Para tanto, a quantidade necessária de
material pode passar a dezenas de gramas. Estimar o estado de preservação de uma peça é de
quantidade necessária de material para produzir o carbono desejado (2 mg). Para tanto, pode-
se utilizar a técnica de cromatografia líquida. Uma pequena parte da amostra é preparada para
a peça. Afinal, sua datação pode vir a ser considerada impossível, caso o estado de
físico é feito para toda a amostra visto que não é destrutivo. Raspas feitas com uma lâmina
21
fornecem quantidade suficiente para o estudo dos aminoácidos. A amostra de teste é
uma lavagem com água deionizada. A amostra é, então, hidrolisada em ácido clorídrico 6 M a
cerca de 95o C.
colágeno por grama de osso é, então, calculada, sendo igual à soma das massas dos
cromatografia líquida.
Figura 2.1 Gráfico da composição da amostra (azul) e do colágeno puro (vermelho) relativa
22
Se o tecido ósseo em questão encontra-se razoavelmente preservado e a quantidade de
amostra disponível é suficiente, prepara-se a amostra para datação. O osso deve ser triturado
para permitir a penetração dos reagentes. No caso de uma peça grande, ela pode ser perfurada
com uma broca, de forma que o pó produzido seja usado e sua forma seja preservada. Nesse
caso, as brocas não devem ser reutilizadas antes de uma limpeza completa, como descrito no
Apêndice A.
hora. São necessários pelo menos 6 tratamentos. Ao fim de cada um deles, algumas gotas de
indicam o fim do tratamento com ácido. Após 3 lavagens em água deionizada, utiliza-se uma
base para remover ácidos fúlvicos e húmicos. Tratamentos de 1 hora com hidróxido de sódio
devem ser repetidos até que o líquido permaneça incolor. Diferentemente das demais amostras
orgânicas, os tratamentos com ácido e base são feitos à temperatura ambiente, de forma que a
molécula do colágeno permaneça intacta. Novamente a amostra é lavada com água deionizada
amostra é mantida aquecida a 58o C [Brown et alii, 1988] até que a gelatina se dissolva. O
líquido é filtrado a 0.45 µm para que se descarte partículas com tamanho superior ao da
molécula do colágeno. Em seguida é purificado numa coluna de troca de íons [Law e Hedges,
1989]. A gelatina é colocada na resina hidratada, onde é lavada com 18 ml de água a 1 ml/min
23
Ao final do processo, como para as demais amostras orgânicas, o tubo de ensaio é
mantido no banho seco a cerca de 95o C até que a amostra esteja completamente seca e pronta
para a combustão.
mm de espessura.
No tubo são adicionadas 0.50 g de óxido cúprico e uma tira de folha de prata de 5 mg.
Ele é aquecido a 900o C por 30 minutos para queimar qualquer contaminante orgânico
ocorre aquecendo-se o tubo em mufla, a 900o C, por 3 horas. O óxido cúprico é utilizado
como agente oxidante e a folha de prata para remover compostos sulfúricos liberados durante
o processo de oxidação.
Cada tubo de combustão contendo CO2 é levado à linha de vácuo numa sanfona.
24
2.1.5 Amostras Inorgânicas
estiveram submersas, é possível ter havido trocas de carbono entre o carbonato da superfície
ácido para remover a parte superficial da amostra. Calcula-se então a quantidade de carbono
são então fechados com uma rolha de borracha e conectados à linha de vácuo através da
agulha, sendo evacuados e então removidos. Utilizando seringa de vidro, é injetado ácido
fosfórico em quantidade suficiente para liberar todo o CO2 contido na amostra, não havendo
CO2 extraído das amostras. O dióxido de carbono pode ser levado diretamente a uma fonte de
25
íons apropriada. A abordagem mais comum, no entanto, é a conversão a grafite por redução
catalítica do gás.
Obtido o CO2, seja por combustão de amostras orgânicas ou pela dissolução em ácido
de amostras de carbonato, o gás é injetado numa linha de vácuo de forma a ser purificado e
transferido ao tubo onde será grafitizado. A Figura 2.2 apresenta a ilustração de uma linha de
grafitização.
A estrutura da linha considerada é de aço inox e tubos de quartzo. Todas as partes são
previamente limpas e então mantidas em vácuo permanentemente por uma bomba de vácuo
turbomolecular. Uma descrição dos métodos de limpeza da linha de grafitização pode ser
vista no Apêndice A.
26
Na Figura 2.2 as letras correspondem às válvulas que separam os segmentos da linha.
Apenas aquelas no caminho utilizado devem estar abertas, as demais devem permanecer
fechadas para proteger da contaminação as partes que não estão em uso, e que devem estar em
vácuo. Quando um segmento contiver uma fração contaminada ou estiver em contato com o
Intervalos de 5 minutos com uma válvula aberta são suficientes para a evacuação de
internas abertas e a pressão mantida abaixo e 10-3 Torr visam à limpeza da linha de vácuo
A ordem em que as amostras serão passadas pela linha de grafitização deve ser
estipulada visando minimizar a contaminação de uma amostra pela outra. De acordo com a
Os tubos de combustão selados são colocados numa sanfona de aço inox onde são
quebrados. Os tubos de ensaio de carbonato, fechados com rolha de borracha, são evacuados
Uma mistura de gelo seco triturado e álcool etílico é utilizada como armadilha para
reter a água presente na amostra, enquanto o CO2 segue pela linha de vácuo. Outra armadilha,
27
de nitrogênio líquido, congela o CO2, enquanto os demais gases presentes na amostra (cujos
pontos de solidificação sejam mais elevados que a temperatura do nitrogênio líquido) são
descartados.
massa convencional. Espectrômetros de massa com aceleradores, em geral, não têm resolução
suficiente para medir essa razão, da ordem de 10-2, com precisão suficiente.
Devido a uma pequena bolha na lateral interna do tubo maior, o tubo menor não encosta no
fundo, onde é colocado zinco metálico. No interior do tubo pequeno coloca-se ferro. Já em
vácuo, a parte do tubo que contém ferro é aquecida à cerca de 725o C para se remover
qualquer impureza. O zinco é então aquecido à cerca de 550o C causando sua evaporação e
calosidade é selada com maçarico e removida. O CO2 é, então, transferido e aprisionado com
O tubo é mantido a 700o C por 10 horas, deixado no forno para esfriar até a
temperatura ambiente e aquecido novamente a 700o C por mais 10 horas. A esta temperatura o
28
O monóxido de carbono decompõe-se formando grafite na reação catalisada pelo
ferro:
Sendo a quantidade de zinco suficiente, todo CO2 produzido por essa reação é
convertido em grafite, em repetidos ciclos até que não haja mais CO2.
topo do tubo. Se esta não estiver presente, deve-se repetir o processo de aquecimento.
contendo a grafite produzida e o ferro. A mistura deve ser pressionada num cadinho de cobre,
que será levado à fonte de íons. É importante que fique bastante compacta para não causar
flutuações na corrente que será produzida. Para isso, utiliza-se um pino e um martelo.
para que suas concentrações isotópicas sejam determinadas. O equipamento necessário, bem
O sistema utilizado para medida de amostras pela técnica de AMS é semelhante àquele
utilizado pela Física Nuclear para estudar mecanismos de reações nucleares na região de
baixas energias de bombardeio. Assim, podem ser utilizados tanto aceleradores eletrostáticos
29
de até 20 MV (originalmente instalados para medidas de Física Nuclear e que tenham sido
adaptados para uso de AMS) como pequenos aceleradores que operam com tensões de 0.5 a 3
que permite chegar a uma tensão terminal de 7.5 MV. Para medida de amostras de carbono a
tensão de terminal foi fixada em 4 MV, permitindo obter uma energia de feixe ideal para a
separação energética dos seus isótopos. A Figura 2.3 apresenta uma ilustração do seu sistema
acelerador. Ele consiste, basicamente, de uma fonte de íons, uma pré-aceleração, um injetor
Figura 2.3
Ilustração do sistema acelerador Tandem do PRIME Lab [Elmore et alii, 1997].
30
2.2.1 Fonte de Íons
As mais utilizadas são as do tipo sputter [Middleton, 1983], ou seja, fontes de íons negativos
césio é utilizado por ser alcalino (fácil de produzir íons positivos) e pesado (alta seção de
choque de sputtering). A Figura 2.4 mostra o esquema de uma fonte de íons deste tipo.
Figura 2.4 Ilustração de uma fonte de íons negativos do tipo sputter [Middleton, 1983].
de um eletrodo metálico ionizador, que produz o feixe de Cs+ por ionização térmica. O
eletrodo tem formato apropriado, visando gerar uma alta intensidade de corrente. Geralmente
cilíndrico, posicionado próximo à amostra permite que os íons Cs+ sejam focalizados pelo
campo eletrostático num pequeno ponto no centro da amostra. Esta, sob a forma de grafite, é
31
compactada num cadinho de cobre com aproximadamente 1 mm de diâmetro interno, que
pode conter até 120 catodos. Este sistema funciona como o tambor de um revólver, de modo
que, a cada vez, uma amostra seja transferida para o ponto de foco do feixe de Cs+. Durante
Nos catodos são colocadas, além das amostras cujas razões isotópicas se deseja medir,
14
uma amostra que praticamente não contenha C. Esta amostra tem a finalidade de
proporcionar medidas de níveis de fundo, cujo resultado deve ser subtraído dos demais. Além
desta, também se usa uma amostra padrão de razão isotópica conhecida, para a normalização
Muito cuidado deve ser tomado para evitar efeitos de “memória” (ou seja,
amostras de acordo com suas idades estimadas, de forma a medi-las em ordem crescente de
concentração de 14C.
32
Alguns laboratórios utilizam fontes de íons a gás que medem diretamente o CO2
entanto, esse tipo de fonte apresenta maior efeito de “memória”, além de produzir feixes
Ao deixar a fonte de íons, o feixe negativo passa por uma pré-aceleração antes de
entrar no analisador magnético. A energia de injeção deve ser de 50 a 150 KeV. A focalização
detector.
O analisador magnético é responsável pela seleção dos íons que devem entrar no
acelerador em função de sua massa. Ao passar por ele, o feixe é defletido do ângulo
determinado pelo seu valor de ME/q2, sendo E a energia fornecida ao feixe na pré-aceleração,
q a carga negativa obtida na fonte de íons e M a massa de cada íon. Ajustando-se o campo
magnético do imã analisador é possível defletir, do ângulo desejado, íons com uma
Por exemplo, para feixes de íons oriundos de uma amostra de carbono, pode-se ajustar
o campo magnético do imã de tal forma que apenas elementos de massa 14 sejam
12 13
direcionados para a entrada do tubo acelerador. Com isso, os isótopos estáveis C e C
seriam defletidos por um ângulo diferente desta direção e não entrariam no acelerador.
33
e realizando a sua medida correspondente. Este procedimento é conhecido como injeção
seqüencial.
Para que dois isótopos sejam direcionados simultaneamente para a entrada do tubo
14
acelerador, é necessário que um deles seja defletido para o acelerador (em geral, o C) e o
13
segundo (por exemplo, C) tenha a sua trajetória corrigida por um conjunto de lentes de
óptica iônica (dipolos e quadrupolos eletrostáticos) para que este feixe estável também seja
Íons de alta energia podem se formar na fonte de íons e, tendo massa pequena, originar
acelerador. Também íons moleculares de massa igual à do isótopo selecionado e outros íons
isóbaros podem vir a entrar no acelerador. Contudo, grande parte dessa interferência será
eliminada mais adiante, seja pela instabilidade dos íons moleculares ao passar pelo stripper,
pela seleção do analisador magnético de alta energia ou pela capacidade de separação dos íons
no detector.
2.2.3 O Acelerador
34
Figura 2.5 Esquema de um acelerador do tipo Tandem.
O acelerador é montado num tanque de aço contendo um gás isolante (SF6) a alta
pressão. A finalidade deste gás é evitar descargas entre o terminal e o meio externo. Uma
coluna de isolamento sustenta os tubos de aceleração, no interior do tanque, por onde passa o
feixe.
stripper. Sua finalidade é quebrar as moléculas e arrancar os elétrons dos íons incidentes,
deixando-os em estados de carga positivos. Essa característica faz com que esse tipo de
acelerador seja ideal para a técnica de AMS, já que cria um obstáculo para íons moleculares
que causariam interferência. De uma forma geral, o stripper pode ser gasoso ou pode ser
Assim, no primeiro tubo, de baixa energia, o feixe de íons negativos é acelerado numa
diferença de potencial. Passando pelo stripper, os íons perdem elétrons e o feixe torna-se
35
a ser acelerado no tubo de alta energia numa diferença de potencial de sentido contrário. O
controle de estabilidade da tensão do terminal deve ser feito através de um voltímetro gerador
(GVM) devido à baixa intensidade de corrente dos feixes de elementos raros utilizados em
AMS.
gasoso [Bonani et alii, 1990]. Este consiste de um canal metálico em cujo centro um gás
(Argônio, por exemplo) é despejado lentamente, como ilustra a Figura 2.6. A alimentação do
gás é feita por uma válvula controlada. Uma bomba turbomolecular o remove das
extremidades do canal injetando-o novamente no centro, fazendo com que ele circule. Ao
passar pelo gás, os íons perdem elétrons e saem positivos do canal do stripper.
Ao longo da trajetória do feixe, desde a fonte de íons até o detector, existem copos de
36
2.2.4 Analisador Magnético de Alta Energia
transmissão do feixe bem como minimizar a interferência de moléculas de mesma massa que
14
O C pode sofrer a interferência das moléculas de 7Li2, 12CH2 e 13CH. A escolha do
estado de carga 3+ minimiza essa interferência [Gove et alii, 1980]. A molécula de 7Li2 que se
são desviados e têm suas correntes medidas em copos de Faraday. O feixe do radioisótopo,
Existem vários tipos de detectores de partículas carregadas. Entre eles, podem ser
vôo.
37
O copo de Faraday também funciona como detector, medindo apenas a intensidade da
corrente do feixe, sem identificar a massa ou o número atômico dos íons que o compõem.
Como na técnica de 14C -AMS é necessário obter a relação entre o número de átomos de 14C e
o de 13C (ou 12C) presentes na amostra, este dispositivo é usado como detector de um isótopo
estável. Em geral, ele é posicionado logo após o segundo ímã analisador, no ângulo em que o
isótopo estável é defletido. Interferências causadas por isóbaros não são significantes perante
de µA.
interferência seja relevante. É nesse momento que a sensibilidade da técnica de AMS se torna
evidente. Graças à alta energia fornecida pelo acelerador ao feixe de íons, é possível
Para tanto, são utilizados detectores desenvolvidos para o estudo de reações nucleares. Esses
detectores medem energia e perda de energia do íon e os utilizam como parâmetros para
Superfície, por exemplo, determina apenas a energia de cada íon, enquanto uma câmara de
ionização distingue os íons pelo número atômico. Detectores de Tempo de Vôo separam os
íons em função de sua massa. Também é possível utilizar sistemas combinados de dois tipos
por isóbaros ou isótopos, esses fatores podem ser suficientes para separar o íon de interesse.
14
De todos os isótopos utilizados para AMS, o C é o mais fácil de ser separado de seus
contaminantes.
38
Em aceleradores projetados para uso exclusivo de 14C em AMS é comum utilizar um
detector de barreira de superfície. Para a detecção de outros isótopos radioativos, como 36Cl e
26
Al, por exemplo, o sistema de detecção tem que ser mais complexo, devido ao grave
antes do detector. Recentemente foi construído pelos grupos da UFF e USP [Santos et alii,
No PRIME Lab, que trabalha com vários isótopos radioativos além do 14C, é utilizada
uma câmara de ionização com múltiplos anodos [Knies e Elmore, 1994] semelhante à
Figura 2.7
Ilustração de uma
câmara de ionização
multi-anodo.
O feixe entra no detector por uma janela de Mylar de 2.5 µm de espessura e atravessa
uma região contendo um gás (P10 – 90 % de argônio e 10 % de metano) a baixa pressão (50
Torr). Os íons vão ionizando o gás e perdendo energia até parar. Os pares elétron-íon
39
formados vão sendo capturados pelo campo elétrico transversal, produzindo um sinal elétrico.
Assim, são obtidas a taxa de perda de energia ∆E e a energia total E, que se relacionam da
seguinte forma:
MZ 2
∆E ∝ (2.2.1)
E
determinado o número atômico de cada elemento que chega ao detector. A distinção entre
potencial, o de maior massa terá menos energia. Isso pode ser visto no espectro de energia
40
A partir da energia fornecida ao radioisótopo é possível prever em que região do
espectro de energia vão se distribuir as contagens relativas a ele. Assim, determina-se uma
“janela” de energia para o radioisótopo, dentro da qual, todas as contagens computadas são
associadas a ele. A Figura 2.9 mostra o espectro de energia total e aquele com a “janela” na
Figura 2.9
Espectro total das contagens em função
da energia residual e “janela” na energia
14
correspondente ao C [Shapira et alii,
1975].
41
Com isso reduz-se, automaticamente, o espectro a um número de eventos. Esse valor,
14
que corresponde ao número de átomos de C na amostra, será dividido pelo número de
anteriormente). Um atenuador pode ser posto no caminho do isótopo mais intenso, reduzindo
sua intensidade de um fator conhecido. A intensidade de corrente do isótopo estável pode ser
constantemente monitorada num copo de Faraday fixado fora da linha do feixe principal,
permanecem constantes.
medido no detector. A injeção seqüencial deve ser rápida e pode ser feita variando os
parâmetros do acelerador. Esse processo não exige que copos de Faraday estejam fixos fora
elementos distintos. Este é o modo de injeção do feixe de íons adotado no PRIME Lab. No
caso da medida de carbono, são detectados o 14C, na câmara de ionização, e o 13C, no copo de
Faraday. A escolha deste isótopo estável requer uma variação menor no campo do analisador
magnético.
42
A medida de cada amostra é feita em ciclos. Um ciclo corresponde a um período de
A medida em ciclos é de grande importância para a acurácia dos resultados, tanto para
performance do sistema.
calculada tanto para a amostra desconhecida quanto para a amostra padrão. O resultado final é
a razão entre a concentração isotópica medida para a amostra desconhecida e aquela para a
43
Erros internos e externos são levados em conta para cada seqüência de ciclos. Os erros
internos são calculados a cada ciclo de medida e propagados no cálculo do erro da seqüência
Desta forma, são obtidas as razões entre o radioisótopo e o isótopo estável presentes
na amostra a ser datada. No próximo capítulo serão descritos os principais passos para a
44
Capítulo 3
Cálculo da Idade
possa ser comparado com qualquer outra datação, de qualquer laboratório e a qualquer tempo.
Por outro lado, deve-se buscar a maior fidelidade possível para as datações. O efeito de
resultados devem ser corrigidos posteriormente. A calibração dos resultados, usando como
base amostras de idades conhecidas, visa corrigir estes problemas. Assim, neste capítulo,
dita.
45
C A (t )
t = −τ ln (3.1.1)
C A (t = 0 )
A concentração isotópica é a razão de 14C por carbono total e pode ser aproximada à
14 14
C C
C= ≈
14
C + C + 12C
13 12
C (3.1.2)
Como visto no capítulo anterior, ela pode ser medida diretamente através da separação
Foundation) no Arizona [Donahue et alii, 1990], é medida a razão 14C/13C, em uma amostra
14 C 14 C 13C
12 = 13 12 (3.1.3)
C A C A C A
46
Para tanto, porém, é necessário conhecer não apenas a concentração isotópica atual,
mas a inicial, correspondente ao tempo t=0 em que o organismo trocava carbono com o
constante ao longo do tempo, pode-se igualar esse valor à concentração isotópica inicial da
Para que isso seja possível, nenhum outro fator pode influenciar a razão do
radioisótopo pelos isótopos estáveis. No entanto, ao trocar carbono com o meio ambiente, a
absorção dos isótopos se dá de forma diferenciada para cada organismo. Assim, pode haver
meio ambiente sem que eles tenham a mesma concentração isotópica. Assim, concentrações
isotópicas de organismos contemporâneos podem ser relacionadas, mas desde que se leve em
conta o fracionamento.
dos isótopos 13/12, diferentes por uma unidade de massa [Craig, 1954]. Com base nesse
47
padrão de comportamento, é possível usar a razão dos isótopos estáveis, independente do
tempo, para determinar o fator de fracionamento isotópico que vem alterar a razão 14/12. A
2
13C
12
14C 14C C A[ depois ]
12 = 12 13 (3.1.5)
C A[ depois ] C A[ antes ] C
12
C A[ antes ]
2
13C
12
14C 13C 14C 13C C A[ depois ]
13 12 = 13 12 13
C A[ depois ] C A[ depois ] C A[ antes ] C A[ antes ] C (3.1.6)
C A[ antes ]
12
13C
12 (3.1.7)
14 C 14 C C A[ depois ]
⇒ 13 = 13
C A[ depois ] C A[ antes ] 13C
12
C A[ antes ]
químicas através das quais os diferentes organismos interagem com o meio ambiente em que
vivem. Também durante a preparação das amostras pelo tratamento com reagentes químicos,
Seja qual for a origem do fracionamento isotópico, seu efeito total pode ser observado
13
e corrigido, medindo-se a razão dos isótopos estáveis C/12C, já que os isótopos 13
Ce 14
C
48
reagem a ele de forma semelhante, e com uma razão constante, de acordo com as equações
(3.1.5) e (3.1.7). Se a razão dos isótopos estáveis for medida por espectrometria de massa
acelerador fica indeterminado. A escolha de se medir o isótopo 13C ao invés do 12C minimiza
valores medidos:
2
13 C
12
C abundância natural
C corrigida = C medida
13 C
12 (3.1.8)
C medida
isotópica inicial de uma amostra A àquela da atmosfera, como na equação (3.1.4). Da mesma
uma amostra padrão atual Cpa, também corrigida para o fracionamento isotópico:
2
13 C
12
CA corrigida CA medida C pa medida
= 13 C
C pa C pa (3.1.9)
corrigida medida
12
C A
medida
49
13C δ 13 C A 13C
12 = 1 + (3.1.10)
C A 1000 12 C PDB
relação ao padrão de referência PDB, a razão isotópica 13C/12C de uma amostra de carbonato
de cálcio de Belemnitella america de uma formação da Carolina do Sul, EUA, em partes por
mil (‰):
13C 13C
12 − 12
C A C PDB (3.1.11)
δ CA =
13
1000
13C
12
C PDB
atmosfera desse ano [Goodwin, 1962b], ambas normalizadas para δ13C= -25‰,
correspondente ao valor médio postulado para a madeira terrestre [Stuiver e Polach, 1977]:
Idade = −T ln
C A[ −25 ]
(3.1.12)
C 1950[ −25 ]
14
onde T = 8033 anos é a vida média do C, determinada por Libby, correspondente à meia-
vida de 5568 anos. Embora o valor revisado de 5730 anos seja mais correto, a chamada
50
“meia-vida de Libby” foi adotada por convenção internacional para facilitar comparações
entre resultados atuais e anteriores à revisão [Goodwin, 1962a]. Essa diferença produz um
oxálico. Especialmente preparada, sua atividade foi definida depois de comparação com
amostras de madeira da era pré-industrial (1890 DC), e corrigida para o ano de 1950, de modo
Muller, 1981]. Por definição, a madeira pré-industrial tem δ13C= -25‰ e, portanto, todas as
Logo, o valor medido 14C/13C deve ser corrigido pelo seu δ13CA medido para dar:
25
1−
C
14
C
14
13 = 13 1000 (3.1.13)
C A[δ ] 1 + δ C A
13
C A[ −25]
1000
idade obtida será relativa a esse ano. Ou seja, será expressa em “anos antes do presente” (anos
Ao longo do tempo, outras amostras padrão de ácido oxálico foram produzidas, mas
suas atividades são sempre relativas ao padrão internacional estipulado. A amostra padrão de
51
ácido oxálico usada nos experimentos foi a NBS SRM 4990C, que se relaciona com a amostra
14C 14C
13 = 0.7404 13
C 1950[ −25] C NOX [ −17.8] (3.1.14)
14 C 14 C
13 13 25
C A[− 25 ] C A[− 25] C A[δ ] 1−
F= = 14 = 1000 (3.1.15)
C1950[− 25] C 14 C δ 13
1 + C A
13 0.7404 13
C 1950[− 25] C NOX [−17.8] 1000
14 C
13 25
C A[δ ] 1− (3.1.16)
Idade = −T ln F = −8033 ln 1000
0.7404 C
14
δ 13
1 + C A
13C 1000
NOX [ −17.8]
onde os valores medidos, da maneira descrita no Capítulo 2, para cada par de amostras padrão
14 C 14 C
e desconhecida, são, respectivamente, 13 e 13 , além de seu δ 13CA,
C NOX [ −17.8 ] C A[δ ]
52
É importante ressaltar que a idade de radiocarbono deve ser calculada obedecendo às
tempo. O uso do padrão de ácido oxálico relacionado à amostra do ano de 1950, o uso desse
ano como “presente” e a normalização das concentrações isotópicas para δ13C= -25‰ em
mesma forma, são mantidos a suposição de que o nível atmosférico de 14C tenha sido sempre
constante e o uso do valor desatualizado de 5568 anos para a meia vida do 14C, apesar desses
resultados para qualquer forma de erro introduzido pelo modelo teórico e pelas convenções
estabelecidas. Essa correção é feita de forma empírica, observando-se os valores medidos para
dendrocronologia, datação em função dos anéis de crescimento dos troncos das árvores,
apresenta flutuações. Além de aumentar com o tempo, o que já era esperado devido ao uso da
meia-vida de 5568 anos, essa diferença apresenta um comportamento senoidal do presente até
Esse padrão reflete o fato de que o nível de 14C atmosférico sofreu variações ao longo
53
radiação galáctica cósmica e, mais recentemente, da queimada de combustíveis fósseis e de
14
testes nucleares. A concentração de CO2 na atmosfera está diretamente ligada com a
produção do radical OH-, como foi visto no Item 1.2. Mesmo que o 14
CO seja produzido a
intensidade da luz solar, e é através do CO2 que o carbono é absorvido pelos seres vivos.
Como a datação pela medida da razão isotópica atual da amostra se baseia na premissa
com ela, a concentração isotópica dos seres vivos, que trocavam carbono com o meio
ainda mais complicada, já que a concentração isotópica inicial pode ser diferente daquela da
de gás carbônico nesses meios causa uma idade aparente mais antiga.
idades de radiocarbono calculadas podem ser calibradas a fim de buscar maior acurácia das
para anéis de árvore com suas respectivas datações radiocarbônicas. Utilizando árvores que
tenham vivido ao mesmo tempo e na mesma atmosfera que as amostras datadas, elimina-se o
54
Amostras são tiradas de sequóias e carvalhos de até 10 mil anos AP. Parâmetros mais
antigos são calculados a partir de comparações entre medidas da razão 234U/230Th de corais e
suas idades de radiocarbono. A curva utilizada para calibração, exibida na Figura 3.1, é
converter uma distribuição gaussiana em torno de uma idade de radiocarbono calculada numa
distribuição gaussiana da idade calibrada. Como mostra a Figura 3.2, uma única idade
convencional pode representar dois pontos distintos. Este problema mostra a necessidade do
uso de outro método de calibração que não simplesmente a interceptação da curva, gerando
55
uma imagem no eixo x. É utilizada, então, uma distribuição Bayesiana [Dehling e van der
da idade calibrada.
O desvio padrão médio dos pontos da curva é utilizado para calcular o desvio padrão
que dá origem ao intervalo de confiabilidade. Outras fontes de erro podem ser introduzidas
neste momento, como multiplicadores de erro do laboratório ou no caso em que seja estimada
que determinam a curva, são utilizados para calibrar as idades convencionais. No presente
trabalho, as calibrações foram feitas com o programa OxCal 3.1 da Universidade de Oxford
56
[Bronk Ramsey, 2000; 1995]. A Figura 3.3 apresenta o exemplo da calibração de uma
amostra atmosférica datada em (4500 ± 80) anos AP. Os intervalos de calibração, com 1σ e
Cristão (AC/DC) ao invés de anos antes do presente. Aqui as curvas são ajustadas para anos
longo do tempo, uma diferença na concentração isotópica dos hemisférios. Como o banco de
57
dados de idades de radiocarbono para amostras de idades conhecidas utilizado para a
calibração tem por base medidas de amostras coletadas no hemisfério Norte, a calibração de
idades de amostras coletadas no hemisfério Sul deve ser feita após uma correção para a
950 a 1850 DC [McCormac et alii, 2002], propõe uma correção de (– 41 ± 14) anos de
radiocarbono para amostras do hemisfério Sul. Essa correção deve ser aplicada antes da
No caso de amostras marinhas a calibração visa corrigir as idades não apenas para
reservatório marinho, mas também para diferenças causadas pela diluição de carbonatos
concentração de 14C e gerando datações mais antigas do que deveriam. Amostras da superfície
14
apresentam uma diferença de 400 anos de C em relação a amostras atmosféricas e essa
Não sendo possível obter datações de amostras marinhas de idades conhecidas com a
mesma continuidade que a medida de anéis de árvores fornece, é utilizada uma curva de
58
reservatório marinho a essas variações. A curva de calibração para reservatório marinho,
apresentada na Figura 3.4, não apresenta as mesmas estruturas locais que a curva atmosférica.
Para amostras marinhas um fator de correção local também deve ser aplicado [Stuiver
e Braziunas, 1993], antes de submeter a data à curva de calibração. Nesse caso, não há apenas
uma diferença entre os hemisférios, mas também diferenças entre cada região em particular.
As correções necessárias são obtidas a partir de medidas feitas por diversos grupos de
atualizados, tabelados para cada região, estão disponíveis para consulta [Reimer, 2002].
59
O exemplo apresentado na Figura 3.5 pode ser comparado ao exemplo da Figura 3.3,
mostrando a calibração no caso de uma amostra marinha datada em (4500 ± 80) anos AP. Os
resultados calibrados, com 95.4% de confiabilidade, são, respectivamente, (5450 – 4850) anos
AP e 4850 – 4440 anos AP, para uma amostra atmosférica e uma amostra marinha com a
Figura 3.5 Exemplo de calibração de amostra marinha: faixa da curva de calibração (azul),
distribuição Gaussiana da Idade convencional (vermelho) e distribuição Bayesiana da Idade
calibrada (preto).
que se possa avaliar a idade real das amostras de forma a se fazer comparações entre elas.
estatísticos dados aos pontos, às interpolações e às barras de erro, as datas calibradas podem
60
padronizada em função de uma razão isotópica medida, é absoluta. Portanto, é importante
relatar a idade calibrada visando a maior acurácia da datação, mas é fundamental apresentar a
61
Capítulo 4
Como visto no Capítulo 2, a preparação das amostras de carbono, para que possam ser
datadas por AMS, é parte fundamental do processo e necessita cuidados muito específicos.
Um dos objetivos deste trabalho foi a obtenção dos conhecimentos necessários para a
amostras. Tal laboratório foi projetado e está sendo instalado no Instituto de Física da
diversos que fazem parte do presente trabalho, além de amostras de fundo e amostras padrão,
e grafitizadas mais de 200 amostras. O projeto do laboratório para o IF-UFF se baseia nas
62
construção da linha de grafitização para purificação do dióxido de carbono proveniente das
amostras já foi adquirido, como pode ser visto na listagem do Apêndice B e, tão logo novos
Nuclear Experimental da UFF. Ele ocupará parte de uma de suas salas, com dimensões de
aproximadamente 6m x 9 m.
isolar o local de tratamento químico do local onde são analisadas as amostras brutas. Além
disso, foi levada em conta a localização das saídas de água e da capela em relação ao prédio.
necessária.
Figura 4.1
63
Legenda da Figura 4.1
usado para a primeira limpeza de amostras brutas e sua estocagem. O limpador ultra-sônico
deve ficar nesta sala já que será usado na limpeza de peças contaminadas e amostras muito
sujas.
A seguir, a sala com fornos e linha de grafitização. A linha é utilizada para evacuar
tubos de combustão, purificação de gás carbônico das amostras e transferência para tubos de
grafitização. O material relacionado a ela deve estar neste ambiente: gelo seco e equipamento
para o preparo das armadilhas, maçarico e cilindros de gás para selagem dos tubos, forno de
grafitização para imediata disposição dos tubos. As amostras já grafitizadas, ainda nos tubos,
64
serão armazenadas nesta sala. O forno para secagem de peças também ficará nesta sala de
modo que possa ficar próximo ao local da limpeza de peças, mas fora da área mais suja.
tratamento das amostras, desde sua observação em microscópio, pesagem, tratamento químico
até a secagem será feito nesta sala. Os tubos de grafitização e combustão serão preparados no
O quarto ambiente pode ser uma pequena sala, destinada apenas à preparação dos
catodos. Basta uma mesa ou bancada com as ferramentas para pressionar a grafite na cavidade
dos catodos e um armário para armazenamento dos mesmos até que sejam levados ao
acelerador para a medida da razão isotópica. Esta sala deve ser mantida com umidade elevada
4.2 Equipamento
utilizado no PRIME Lab, visando atingir os padrões de qualidade deste laboratório, mas de
65
balança, centrífuga etc.), para a preparação propriamente dita das amostras, como foi descrito
no Capítulo 2; e material de consumo (tubos de quartzo, luvas, tubos de ensaio etc.), essencial
A Figura 4.2 apresenta uma fotografia da linha de grafitização do PRIME Lab, com o
objetivo de permitir a visualização dos componentes necessários para a sua montagem. Ela
dispõe (da esquerda para a direita) de agulha para tubos de carbonato, medidor de pressão
para monitoração da linha, balão de dióxido de carbono “morto” para amostras de fundo,
sanfona para quebra de tubos de combustão, duas armadilhas para nitrogênio e gelo seco, tubo
para envio de parte da amostra para medida de razão dos isótopos estáveis por Espectrometria
em função da pressão, duas saídas de tubos de grafitização para acelerar o processo já que a
preparação dos tubos é demorada e pode ser simultânea, saída para evacuação de tubos de
combustão.
66
Válvulas separam cada segmento da linha de grafitização de modo que o gás pode ser
um aquecedor portátil.
Depois de montado, o laboratório terá que ser testado antes que possa ser utilizado
para preparação de amostras desconhecidas. Dois objetivos devem ser atingidos visando o
amostra. Para a verificação do bom desempenho do laboratório devem ser testados os níveis
contaminação. Numa primeira etapa devem ser monitorados os níveis de fundo do laboratório.
Devem ser preparadas amostras de carbono “morto”, ou seja, que não contenham qualquer
14
C. Quatro tipos de amostras de fundo devem ser medidas, de forma a avaliar o ambiente e
periodicamente. Para tanto, utilizam-se filtros de lã de vidro umedecidos com metanol. Deve-
67
se recolher material do chão, paredes e superfícies de equipamentos. Essas amostras devem
Para testar a linha de vácuo devem ser preparadas amostras de dióxido de carbono
produzidas na própria linha. Para tanto, utiliza-se o CO2 originado da reação de calcita com
ácido fosfórico. Os procedimentos para se preencher o balão da linha de grafitização com CO2
armazenado para ser utilizado quando necessário, para a monitoração dos níveis de fundo da
linha.
pode ser testado preparando-se amostras de grafite “morto”. Basta seguir todos os passos de
14
cada tipo de preparação, utilizando grafite que não contenha C. Assim, qualquer
Para testar o preenchimento dos catodos deve-se utilizar também o grafite “morto”,
orgânicas e inorgânicas, de idades conhecidas, fornecidas pelo IAEA. Uma série dessas
amostras, com idades variadas, devem ser preparadas no laboratório e enviadas para medida
68
Caso haja alguma discrepância nos resultados, deve-se avaliar em que estágio do
processo de preparação podem estar acontecendo problemas. Para isso, prepara-se uma
estratégicos. As amostras seriam então enviadas ao laboratório externo para seguir com o
processo de preparação até a sua medida, e a comparação dos resultados revelaria a origem da
discrepância.
todo o mundo que se submetem voluntariamente a este teste. A avaliação é feita pelo NIST
(National Institute of Standards and Technology) e os resultados das datações devem ser
entregues para comparação e publicação do desempenho dos diversos laboratórios. Com isso,
radiocarbônicas.
69
Capítulo 5
radiocarbono por AMS no presente trabalho. Estes projetos envolvem grupos de pesquisa nas
isótopos estáveis podem ser vistos no Apêndice D. Alguns trabalhos ainda estão em
Arqueologia Brasileira.
litoral fluminense.
70
5.1 Taxa de Sedimentação na Bacia de Campos e Correlação com
[Andree et alii, 1984; Bard et alii, 1989; Bard, 1988; Bond et alii, 1997; Schneider et alii,
1996; Vergnaud-Grazzini et alii, 1983], embora seja um assunto ainda pouco estudado. Esse
trabalho faz parte de uma pesquisa sobre variações no nível do mar produzidas por mudanças
Para estudar essas variações é preciso saber se o fundo do mar é estável nessa região e, caso
seja, qual a taxa de acumulação de sedimento e como ela se relaciona com o nível do mar.
71
Nesse trabalho foram datadas cinco amostras de foraminíferos coletadas durante o
programa REVIZEE no talude superior ao largo de Cabo Frio, no sudeste brasileiro, como
mostra o mapa na Figura 5.1. O quadrado vermelho indica o local de onde foram retiradas as
oceano.
72
Foraminíferos secretam uma carapaça calcárea em equilíbrio físico-químico com a
LAGEMAR. Após uma lavagem com água, as amostras foram passadas por peneiras de
mecha 0.500 a 0.062 mm a fim de eliminar barro e lodo, deixando apenas areia fina e
73
Figura 5.3 Foraminífero bentônico Uvigerina peregrina [Fontanier, 2000].
PRIME Lab para serem preparadas e medidas pela técnica de AMS. Cada amostra tinha em
como discutido no Item 2.1.5, a fim de remover a camada externa, que poderia ter sofrido
alguma contaminação por troca de carbono mais recente com o meio ambiente. Lavadas em
água deionizada e secas, as amostras foram evacuadas em tubos de ensaio, onde foi injetado
ácido fosfórico para dissolver o carbonato. O CO2 extraído foi purificado na linha de vácuo e
74
selecionados no analisador magnético de alta energia e detectados. A amostra padrão utilizada
O cálculo das idades foi feito como descrito no Capítulo 3, chegando-se à idade
a curva de calibração para amostras marinhas de Stuiver e Braziunas [1998], depois de uma
aparente da costa brasileira, para onde não se tem informação experimental da correção
necessária.
Das cinco amostras datadas, quatro tinham idades que aumentavam com a
profundidade, como esperado, e uma é mais recente, como mostram a Tabela 5.1 e a Figura
5.4.
Figura 5.4
Gráfico das idades
x profundidade
das amostras de
foraminífero.
75
Tabela 5.1 Idade das amostras por profundidade.
A taxa média de sedimentação para a coluna foi calculada em (6.2 ± 0.7)cm/1000 anos
considerando quatro das amostras que obedecem a um padrão linear de acordo com a
equação:
Uma explicação plausível para a idade recente da amostra de 20-22 cm poderia ser
76
Utilizando idades calibradas ao invés da idade convencional, a taxa média de
valores distintos, apresentados nas Tabelas 5.2 e 5.3. As flutuações em torno do valor médio
não são muito grandes, considerando as barras de erro, mas retratam as variações na dinâmica
do fundo do oceano ao longo dos últimos 7000 anos, e, provavelmente, se devem ao fato de
que a plataforma continental nessa região tem, em sua superfície, ondas de areia que se
de sedimentação.
77
A grande maioria das curvas de nível do mar para a costa brasileira se baseia em
conchas de moluscos e corais coletados em terra e apenas algumas amostras do fundo do mar.
No presente trabalho, além de utilizar amostras do fundo do mar, é datada uma estratigrafia de
fina escala (cm), revelando a taxa de sedimentação e a dinâmica sedimentar dos últimos 7000
Apesar de se tratar de uma estreita área de recife, cortada por cânions, os resultados
apontam uma encosta estável, com sedimentos na mesma ordem em que foram depositados.
Numa área próxima, datações revelaram [Souza, 2000] perturbações do fundo do oceano. A
será feita, pois em função dela determina-se a temperatura em que viviam aqueles
de Sambaquis
78
provavelmente das terras altas do interior. Ao chegar na costa eles se tornaram pescadores e
coletores de moluscos, já que estes eram os recursos mais fartos e fáceis de se obter da região.
determinava a escolha dos assentamentos. A partir da acumulação intencional dos seus restos
alimentares – conchas e ossos de animais – eles construíam montes, que hoje evidenciam sua
rotina e ritos funerários. Esses montes são chamados Sambaquis, da palavra de origem Tupi
do Norte da costa do Rio Grande do Sul (510 W, 300 S) ao Estado da Bahia (380 W, 150 S),
como esboça a Figura 5.5, sendo mais concentrados no Estado de Santa Catarina (470 W, 280
79
A Figura 5.6 mostra o maior deles, o Sambaqui de Garopaba, SC, com 30 metros de
demográfico foi possível. A fartura de alimento ao longo de todo o ano permitia uma
interação extremamente favorável com seu sistema de subsistência. Com o passar do tempo, o
80
A datações radiocarbônicas dos sambaquis são fundamentais para a compreensão da
ascensão e colapso desse tipo de assentamento, que se manteve por, pelo menos, quatro mil
anos, até o início da era Cristã, quando suas evidências desaparecem. Nesse momento,
chegam à costa os bem sucedidos horticultores vindos do interior. Capazes de produzir seu
próprio alimento, com uma organização social diferente e mais complexa, mais avançados
coletores.
atestando a ocupação inicial da costa por volta de 6500 anos AP [Lima, 2000]. A distribuição
de freqüência dessas datas apresentada na Figura 5.7 mostra que essa cultura atingiu seu ápice
35
Frequencia de datações radiocarbônicas
30
25
20
15
10
0
7750-8000
7250-7500
6750-7000
6250-6500
5750-6000
5250-5500
4750-5000
4250-4500
3750-4000
3250-3500
2750-3000
2250-2500
1750-2000
1250-1500
750-1000
0-500
81
5.2.1 Sambaquis da Baia da Ribeira
Este trabalho foi feito em conjunto com o grupo de Arqueologia da professora Tânia
Andrade Lima, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e teve como
Reis, RJ. Amostras de carvão de fogueiras foram coletadas nos Sambaquis do Algodão,
Caieira, Major e Peri em ilhas dessa região, muito próximas entre si, como mostra a Figura
5.8.
82
Figura 5.9 Estratigrafia do Sambaqui do Algodão.
último, datado anteriormente de (3350 ± 80) anos AP (WSU 3359) [Lima, 1991]. A amostra
83
datada no presente trabalho foi coletada da camada inferior, a 60 cm de profundidade. O
resultado esperado para essa datação corresponderia a uma ocupação diferente e mais antiga.
armazenadas em bolsas plásticas até serem mandadas para o PRIME Lab para preparação,
com ácido clorídrico para remover a fração inorgânica. Lavadas com água deionizada, as
amostras passaram por até 20 tratamentos de uma hora com hidróxido de sódio até que a
Lavadas novamente com água deionizada, um outro tratamento com ácido clorídrico foi feito
antes de lavar, secar e submeter as amostras à combustão em tubos evacuados contendo óxido
cúprico e prata, à 900o C. O CO2 foi introduzido na linha de grafitização a fim de ser
purificado e transferido para os tubos de grafitização. Essa parte do processo foi feita da
mesma forma para todas as amostras, já que todas são amostras naturais de carbono. As
condições de medida foram as mesmas que aquelas descritas para os foraminíferos no Item
5.1. O cálculo das idades foi feito como descrito no Capítulo 3, utilizando para calibração o
84
programa OxCal [Ramsey, 2000] com a curva de calibração atmosférica de Stuiver et alii
[1998] após a correção regional de – (41 ± 14) anos de radiocarbono [McCormac et alii,
foram respectivamente (1420 ± 80) AP ou cal DC (530 – 890) (2σ) e (1520 ± 80) AP ou cal
DC (400 – 690) (2σ). Por um lado esses resultados corroboram a ideia de contemporaneidade
entre esses dois sítios. Por outro lado os distancia da cronologia obtida para o nível superior
A amostra do Major (PLID T00-0679) foi datada em (190 ± 80) AP ou cal DC (1630 –
1950) (2σ). Essa data foi considerada recente demais e parece corresponder à ocupação
O nível inferior do Algodão (PLID T00-0677) foi datado em (7860 ± 80) AP ou cal
AC (7050 – 6450) (2σ). Uma data tão antiga seria considerada improvável se não houvesse
três outras datações tão fora do período aceito para a ocorrência dos sambaquis e tão
Essas datações foram feitas décadas atrás para dois sambaquis diferentes. Por serem
tão fora da média das datações de sambaquis elas foram contestadas. Em 1956, Laming e
Emperaire [1968] obtiveram duas datas: (7803 ± 1300) AP e (7327 ± 1300) AP em Gif-sur-
Yvette, França, para o Sambaqui de Maratuá, localizado na região de Santos, São Paulo. Essas
datações foram refutadas [Garcia, 1979]. Em 1981, Kneip[1981] obteve uma segunda datação
85
similar: (7958 ± 224) AP (SPC 207), para o Sambaqui de Camboinhas, no Rio de Janeiro, que
foi contestada pela suposição, que posteriormente foi provada estar errada [Muehe e Kneip,
1995], de que as faixas de areia sobre as quais estavam os sambaquis teriam se formado mais
recentemente que a idade presumida dos mesmos. Até o momento, ambas as datações eram
vistas com grande descrédito. Esses sítios, juntamente com o Algodão, possuem grande
proximidade geográfica, estando no eixo Rio/São Paulo, muito longe do núcleo de Santa
Catarina.
Até o presente, seria admissível assumir que as datações mais antigas da costa
essas datas apareçam no Rio de Janeiro e São Paulo. Isso demonstra que os assentamentos
iniciais não correspondem àqueles em que a cultura alcançou os mais altos níveis de
expressão.
pode-se cogitar que tais pescadores-coletores poderiam ter se originado no Platô de São
Paulo, não muito longe do Sambaqui do Algodão. Consideramos que o Vale da Ribeira, em
São Paulo, é uma das possibilidades de comunicação da costa com o campo na barreira
constituída pelas montanhas da Serra do Mar. Essa hipótese é reforçada pela existência de
sítios com moluscos fluviais ao longo do curso do Rio da Ribeira, havendo uma datação de
86
Desta forma, o presente resultado nos faz reconsiderar as outras três datações
costa Brasileira em pelo menos dois mil anos [Lima, 2002; 2003; 2004]. Este é um resultado
Esse trabalho faz parte de um estudo feito com o grupo da professora Maria Dulce
meio ambiente das populações pré-históricas que habitavam os sambaquis [Gaspar, 1991;
1995; 1998], o núcleo da Boa Vista é estudado. Localizado na planície fluvial entre os rios
Una e São João, distrito de Búzios, Rio de Janeiro, o grupo de nove sambaquis, chamado
grupo São João, ocupa uma área de aproximadamente 25 km2. Quatro deles estão
concentrados num intervalo de 1900 m e formam o núcleo Boa Vista. A Figura 5.10 mostra a
formaram de faixas isoladas do mar, havia mangues e regiões alagadas até 20 km da costa,
87
A distribuição espacial dos sambaquis na área do Rio de Janeiro mostra que eles não
ocorriam como assentamentos isolados, mas como grupos, formando unidades com
Figura 5.10
Agrupamentos
São João e
Tamoios
[Barbosa, 2001].
88
O sambaqui IBV 1 foi largamente analisado por Gaspar e os demais foram pouco
estudados [Gaspar, 1991; 1995; 1998]. Nesse trabalho foram datadas amostras do sambaqui
2001; 2002].
A Figura 5.11 mostra a topografia do Sambaqui IBV 4, cuja base está 8 metros acima
do nível do mar e 2.5 km da costa. Para esse trabalho foram realizadas vinte escavações nas
e diferenças internas entre o grupo São João, a fim de verificar o modelo macroespacial
89
de comida, cinzas e carvão de fogueiras, ossos humanos e vestígios de casas. Algumas
fogueiras associadas com enterramentos, outras com restos de sementes e conchas calcinados.
Estudos da região externa aos sambaquis mostram não haver qualquer evidência de
ocupação humana fora dos sítios. O modelo proposto por Gaspar [1991; 1998] sugere que as
populações dos grupos interagiam entre si e que os maiores sambaquis estavam localizados
sambaqui também está relacionado com suas dimensões. As nove datações anteriores,
[Gaspar, 1998].
90
A maioria encontra-se na faixa de 3000 a 4500 anos AP e duas datações correspondem
a um período mais recente. Gaspar [1998] propôs que os quatro sambaquis haviam sido
sambaquis não corresponderia a uma ocupação tão longa e, sendo assim, essas datações foram
enviadas ao PRIME Lab como parte deste projeto. As amostras foram preparadas e medidas
A Tabela 5.5 apresenta os resultados das datações, que confirmam a ocupação mais
antiga do núcleo IBV em torno de 4500 anos AP, mas também a ocupação recente em torno
de 2000 anos AP. Esse resultado também poderia reafirmar a longa ocupação do núcleo.
Entretanto, o presente trabalho vem propor uma interpretação diferente. Como tal período de
ocupação é incompatível com a média dimensional dos sambaquis IBV, a indicação é de uma
Identificação Material Idade Convencional (anos AP) Idade Calibrada (anos AP)
(95.4%)
91
A análise distribucional das datações disponíveis para esses sambaquis leva à
interpretação de que eles foram ocupados em dois períodos distintos: o primeiro, mais denso,
com uma população maior, entre 4500 e 3000 anos AP; e o mais recente, na faixa de 2000
o retorno para o IBV 4. A proximidade temporal nas datações do IBV2 e do IBV4 sugere que
suas ocupações fossem concomitantes e ainda que, possivelmente, o mesmo aconteceria com
o IBV1 e o IBV3, levando a um padrão de ocupação de pares de sambaqui. Porém, para esse
Figura 5.12 Datações do núcleo Boa Vista e nível do mar ao longo do tempo (curva azul).
92
Na Figura são apresentadas idades calibradas para os sambaquis a fim de se
trabalhar com resultados mais acurados. A curva de variação do nível do mar, no entanto, se
baseia em datações não calibradas de materiais variados, o que gera um erro sistemático.
Trata-se de uma curva aproximada que visa analisar as tendências de variação de nível do mar
ao longo do tempo. Três períodos podem ser observados: (i) Entre 6000 e 4200 anos AP o
nível do mar estava de 2 a 3 metros acima do nível atual, atingindo 5 metros há 5100 anos AP.
A área sobre a qual está o grupo IBV se formou depois desse período. No período de emersão,
de 5100 a 3900 anos AP, com a formação das lagoas e mangues, ocorreram os primeiros
assentamentos na região. (ii) Entre 3900 e 3600 anos AP o nível do mar aumentou
rapidamente, atingindo 4 metros acima do nível atual. Com isso formaram-se lagoas e grandes
áreas alagadas e ocorreu a imersão de áreas de baixa topografia. Esse período corresponde ao
assentamento do grupo Boa Vista (IBV2 e IBV4) e sua ocupação mais densa. (iii) De 3600
anos AP até o presente houve um declínio contínuo do nível do mar, afora uma oscilação de
origem climática entre 3000 e 2500 anos AP, secando pequenas lagoas. A ocupação mais
recente do grupo Boa Vista corresponde ao período relativamente curto de alto nível do mar.
Assim, pode-se concluir que os períodos de nível do mar elevado, em que as vastas regiões
camadas estratigráficas, mostra que eles estão associados a recursos provenientes de água
doce, o que significa que o IBV4 foi mais intensamente ocupado em períodos de alto nível do
93
5.2.3 Os sítios Corondó e Malhada
Malhada e Corondó estão localizados no município de Cabo Frio, no litoral do Rio de Janeiro,
e são associados à Tradição Itaipu (região central do Rio de Janeiro até a região central do
é simples, vinculada à fase Una da Tradição homônima, bastante rara e restrita à camada mais
superficial. Uma amostra de cerâmica do sítio Malhada foi coletada na camada superficial e
datada, neste trabalho, com o objetivo de verificar se esta camada está relacionada a uma
reocupação.
O sítio Malhada está assentado na extremidade de uma colina suave, adentrando uma
antiga lagoa, hoje drenada. Lagoas salgadas ou salobras são características dessa área do
litoral fluminense, sendo resultado do rebaixamento do nível do mar, após sua elevação
arenosas. O solo do campo contíguo à antiga lagoa encontra-se na cota de 5.30 m enquanto o
sítio eleva-se até a cota de 8.50 m. Até o presente trabalho a data mais antiga deste sítio era de
(4020 ± 80) anos AP, para a camada IV, não havendo datações para sua base. Uma amostra de
é uma significativa diferença entre os sítios Itaipu e os tradicionais sambaquis, uma vez que
evidenciam uma economia bem mais diversificada. Duas outras amostras de material ósseo,
94
humano e animal, do sítio Malhada tiveram sua composição de aminoácidos analisada,
uma colina baixa, no sopé de um cordão de elevações suaves, no bordo de antigas lagoas,
base do sítio assenta-se sobre terreno arenoso, cuja periferia está sobre praia fóssil, com
montículos da bivalve Anomalocardia sp. Sobre esta base podem-se observar antigos
associados à camada IV, datada entre (3720 ± 95) e (4260 ± 75) anos AP. Uma amostra de
2.1.5 e tendo as amostras de carvão e cerâmica, isoladas a fração orgânica, conforme os Itens
Malhada, representada pela amostra de concha (PL00-0671), foi datada em (4400 ± 80) anos
AP ou (4810 – 4330) anos AP, levando-se em conta a calibração para reservatório marinho,
com 95.4% de confiabilidade (Item 3.2.2), mostrando que o sítio é ainda mais antigo do que
se supunha.
95
A amostra de carvão do sítio Corondó (PL00-0672) foi datada em (3520 ± 80) anos
AP, ou (3980 – 3480) anos AP, levando-se em conta a calibração atmosférica, com 95.4% de
contemporâneas.
A amostra de cerâmica do sítio Malhada (PL00-0670) foi datada em (2500 ± 110) anos
AP. Essa data se refere ao material orgânico extraído da amostra, relacionado a plantas,
utilizadas na confecção do barro, que representam uma fração muito reduzida do material
total. A amostra não foi suficiente para ter sua idade corrigida para o fracionamento isotópico,
o que é equivalente a estimá-la igual a δ13C= -25‰. A idade calibrada é de (2800 – 2300)
anos AP, com 95.4% de confiabilidade. Essa datação é bem mais antiga do que se esperava
em sua maioria no período de 2000 anos AP até a chegada do Europeu, que muito contribuiu
para sua extinção. Ocupados principalmente por grupos de horticultores, esses sítios
profusão, muitas vezes dispostas de forma ritual. Devido ao contato com os europeus em sua
fase final, há muitos relatos que descrevem esses sítios e seus ocupantes, auxiliando na
96
Foram datadas amostras dos sítios Aldeia Tupinambá de Morro Grande e do sítio Toca
Araruama, Região dos Lagos, RJ, e foi estudado em conjunto com a pesquisadora Angela
Buarque, do Museu Nacional. Esse tipo de assentamento se refere a grupos com maior
Das três datações, anteriores a este trabalho, disponíveis para este sítio, duas
apresentavam problemas. Além de uma data de (1740 ± 90) anos AP (Beta Analytic 84333),
carvão em (2200 ± 70) anos AP (Gyf-sur-Ivette). Esta última foi feita a partir de amostra de
carvão disperso, o que poderia colocá-la sob questionamento, pela falta de contextualização
arqueológica. Uma terceira datação, de uma urna funerária de cerâmica, feita por
termoluminescência, resultou numa idade extremamente recente: (315 ± 50) anos AP [Latini,
1998]. Esta data é questionada pelo fato de não terem sido encontrados neste sítio vestígios de
cerâmica datada poderia ter tido sua idade alterada por uma queimada mais recente no local,
Como o objetivo de esclarecer essa questão, foram enviadas duas novas amostras para
serem datadas no PRIME Lab, ambas de carvão. A primeira, retirada de uma fogueira
97
encontrada a 40 cm de profundidade. A fogueira é uma estrutura mais confiável para coleta de
amostras do que um pedaço de carvão isolado, cuja procedência não se pode assegurar. A
segunda, coletada no interior da mesma urna funerária datada por TL, apresentada na Figura
5.13.
O sítio foi escavado em 1995, quando as amostras foram coletadas com pinça,
colocadas diretamente em sacos plásticos e estocadas, até serem enviadas ao PRIME Lab.
Elas foram preparadas e medidas da mesma forma descrita para as amostras do Item 5.2.1, por
serem orgânicas.
fogueira foi datado em (2600 ± 160) anos AP (Plid 00 0688), ou seja, é ainda mais antigo que
aquele datado anteriormente. O resultado mostra uma interseção dos períodos em viveram os
98
grupos sambaquianos e ceramistas, sendo forte indicador de que a desestruturação dos
sambaquianos estaria ligada à presença dos Tupi, grupo tecnologicamente mais qualificado. A
Confirmando a idade da urna datada por TL, o carvão de seu interior foi datado em
(510 ± 160) anos AP (Plid 00 0686). Apesar da grande barra de erro, esta data pode ser um
contato com portugueses, é bastante provável que a idade real da amostra, cuja idade
Pesquisas em outras regiões indicam que um mesmo sítio pode ter sido reocupado após
propícias para horticultura), haveria uma constante reocupação desses espaços. As datações
existentes para a aldeia de Morro Grande podem estar comprovando esta hipótese.
região é que ela tem características materiais constantes e variáveis formais estabelecidas
para servir a funções definidas ainda que com alguma variabilidade no uso cotidiano. Tanto as
formas cerâmicas quanto os motivos decorativos presentes nas peças cerimoniais têm uma
variabilidade muito pequena e esse dado se repete quando se compara peças de norte a sul do
país. A Figura 5.14 mostra as tigelas associadas ao enterramento, encontradas junto à urna.
99
Figura 5.14 Tigelas associadas ao enterramento.
Esse padrão de cerâmica, assim como o tipo de lugar escolhido para os assentamentos,
mostram que o sítio poderia ter sido reocupado, depois de muito tempo, por outros grupos,
Foi datada uma amostra de osso humano coletada no sítio Toca dos Urubus, no
tecidas, urnas de cerâmica com restos humanos, além de vários artefatos. O material foi
100
A Tradição Una é encontrada no Noroeste (datações mais antigas) e Sul de Minas Gerais,
Serra Fluminense, Região dos Lagos e Baixada de Campos, no Rio de Janeiro, além da Serra
do Espírito Santo (datações mais recentes). No entanto, para a Fase Mucuri, encontrada neste
pele, retirada do interior de uma urna, teve sua composição analisada. O material foi
preparado de acordo com os procedimentos do Item 2.1.3, passando então pelo processo de
Problemas com o acelerador durante a medida causaram uma grande barra de erro para
o resultado. Datada em (1430 ± 400) anos AP (PL 00-0669), a calibração do resultado gerou
um intervalo de (2350 – 550) anos AP, abrangendo um longo período de tempo. Apesar da
grande barra de erro, o resultado mostrou que a ocupação era mais antiga do que se
101
Capítulo 6
Conclusões
Este trabalho de tese teve como objetivos, além do aprendizado das técnicas de
preparação de amostras de carbono no Instituto de Física da UFF, para medidas externas por
AMS. Para tanto, foi realizado um estágio de doze meses no Laboratório de Medida de
Isótopos Raros da Universidade de Purdue (PRIME Lab), em Indiana, nos Estados Unidos.
foraminíferos. A orientação estrangeira dos trabalhos foi feita pelo professor Dr. David
de carbono foi auxiliado pelo Dr. Ken Mueller, responsável pelo setor de amostras naturais de
carbono.
Esta fase do trabalho foi dividida em duas etapas. A maior parte do tempo foi
depois de adquirida toda a experiência necessária, foram preparadas as amostras dos grupos
de pesquisa brasileiros.
102
A etapa de aprendizagem possibilitou ainda a participação ativa no desenvolvimento e
implantação da técnica de preparação de ossos no PRIME Lab. Esta técnica não era oferecida
oito amostras de dentes e ossos que faziam parte de nosso projeto, e em troca dessa
colaboração.
sendo feita de forma racional, visando minimizar os custos, mas sem prejudicar a qualidade
do serviço que será prestado. Parte do material já foi adquirido, priorizando a construção da
linha de grafitização.
pelo NIST (National Institute of Standards and Technology). Estando apto a oferecer o
serviço de preparação de amostras de carbono para serem datadas por AMS, o laboratório
atenderá aos diversos grupos de pesquisa que fazem uso desta técnica e, freqüentemente,
103
A interdisciplinaridade é a base deste projeto, que em todo seu desenvolvimento teve
como objetivo interagir com esses grupos de pesquisa, entre arqueólogos e geocientistas,
de preparar suas amostras e convertê-las em grafite, reduzindo em muito o custo das datações.
possibilitou a determinação de taxas de sedimentação ao longo dos últimos sete mil anos,
dando informações sobre o nível do mar e a estabilidade do fundo oceânico no local. Essas
Vários sítios arqueológicos foram estudados a partir das datações realizadas. O sítio
cerâmico Aldeia Tupinambá de Morro Grande, em Araruama, RJ, estudado pela pesquisadora
teve duas datações num intervalo de dois mil anos, revelando a longa duração de sua
ocupação e uma possível relação deste tipo de sítio com a extinção dos sambaquis.
Os sítios Malhada e Corondó, em Cabo Frio, RJ, estudados pelo grupo do pesquisador
Paulo Seda, do IAB (Instituto de Arqueologia Brasileira), foram datados a partir de amostras
de cerâmica, carvão e concha. Essas datações contribuíram para uma análise comparativa dos
sítios. Uma amostra de tecido ósseo humano do sítio Toca dos Urubus, no município de Santa
Maria Madalena, RJ, estudado pelo mesmo grupo, foi datada, revelando uma ocupação mais
104
Duas datações de um dos sambaquis do núcleo da Boa Vista, no distrito de Búzios, RJ,
estudado pela pesquisadora Márcia Barbosa, do Museu Nacional, permitiram a análise de que
essas ocupações, relacionadas entre si, davam-se de forma intermitente. As novas datas
contribuíram também para uma comparação entre o nível do mar ao longo dos últimos sete
Analisados pela Dr. Tânia Andrade Lima, também do Museu Nacional, dois dos
Sambaquis da Baia da Ribeira, Angra dos Reis, RJ, mostraram ter sido ocupados
simultaneamente, possibilitando futuros estudos de relações entre esses sítios, e num período
das ocupações. A maior contribuição deste trabalho, no entanto, está relacionada à datação da
camada inferior do Sambaqui do Algodão. Esta revelou que a ocupação do litoral brasileiro é
dois mil anos mais antiga do que se supunha, e ocorreu a partir dos atuais estados do Rio de
Janeiro de São Paulo, e não de Santa Catarina, onde a cultura dos sambaquis floresceu mais
fortemente.
As amostras de tecido ósseo que não puderam ser datadas devido à insuficiência de
material serão substituídas por outras, disponíveis em maior quantidade, que representem as
Amostras do sítio Serrano, no município de Araruama, RJ, estudado pela pesquisadora Angela
Buarque, do Museu Nacional e amostras do sítio Malhada, em Cabo Frio, RJ, estudado pelo
grupo do pesquisador Paulo Seda, do IAB, serão preparadas e datadas. Uma nova medida da
amostra de tecido ósseo do sítio Toca dos Urubus será feita a fim de diminuir o erro do
resultado.
105
Desta forma, pode-se concluir que este trabalho de doutorado atingiu seus objetivos,
14
não somente na capacitação em preparação de amostras de C para AMS, mas também
trazendo importantes informações para diversos trabalhos de ponta nas áreas de arqueologia e
106
Apêndice A
Procedimentos de Limpeza
amostras de carbono para AMS. Eles são destinados à limpeza de potes de vidro tipo pyrex,
plásticos, anéis de borracha para vedação (o-rings) e todo equipamento de aço inox, incluindo
as partes da linha de grafitização. Seguindo esses procedimentos, assegura-se de que não haja
qualquer equipamento deve ser usado apenas para a preparação de amostras naturais, ou seja,
com baixo nível de 14C. A limpeza não é suficiente para remover contaminação por amostras
enxágües com água ultrapura devem ser feitos, individualmente, segurando a peça contra o
fluxo de água e não deixando as peças de molho num recipiente. Sobretudo para as sanfonas,
nas quais os tubos de amostra são quebrados, que ficam muito contaminadas pela amostra, e
O desengorduramento das peças deve ser feito, eventualmente, quando estas tiverem
sido lubrificadas ou usadas com materiais oleosos. Apenas o-rings necessitam ser
107
Para simplificar, algumas abreviações serão utilizadas para reagentes e procedimentos
Água destilada = AD
Tricloroetileno = TCE
imersas em TCE, e submetendo-as à LUS a 50o C. O TCE deve ser, então, descartado e cada
peça lavada com uma pequena quantidade de LSS, diluído em AUP de modo a eliminar o
Após lavagem da peça com AUP, esta deve ser colocada num béquer de vidro com
deixar de molho em Aqua Regia (na estufa) por 15 minutos. Despejar a Aqua Regia de volta
no seu recipiente.
108
Após nova lavagem com AUP, deve-se lavar com AD e, imersa em AUP, submeter
novamente à LUS com aquecimento. Lavar novamente e por, pelo menos, três vezes com AD
e secar no forno a 105o C. Aquecer então a 540o C por 2 horas para remover contaminação
devem ser limpos separando-se a válvula do tubo. A válvulas devem ser limpas sem retirar a
rosca ou o o-ring. Devem ser colocadas num béquer de vidro com TCE e submetidas à LUS.
Deve-se descartar, então, o TCE e repetir a operação. Lava-se com LSS diluído em AUP e
LUS, imersas em LSS, com aquecimento. Descarta-se a solução e lava-se o béquer com as
válvulas, em AUP. Mais uma vez submetem-se à LUS, imersas em AUP com aquecimento.
Lava-se por pelo menos três vezes com AUP e seca-se a 105o C por pelo menos 48 horas.
as bolhas de ar. Deve-se colocá-los num recipiente limpo, imersos em TCE e submetê-los à
LUS a 50o C. Descarta-se o TCE, cuidadosamente eliminando-o totalmente dos tubos. Lavam-
se com AUP, enchendo os tubos até a metade e agitando. Descartar a água e repetir por 2
os tubos no recipiente com LSS. Submete-se à LUS com aquecimento. Lavam-se com AUP,
109
enchendo os tubos até a metade e agitando. Descartar a água e repetir por 2 vezes mais ou até
Enchem-se os tubos com AUP até a metade, eliminando as bolhas de ar. Colocam-se
os tubos no recipiente com AUP, submetendo-o à LUS com aquecimento. Lavam-se com
AUP, enchendo os tubos até a metade e agitando. Descartar a água e repetir por pelo menos 2
vezes. Secar no forno a 105o C e então aquecer a 540o C por 2 horas para remover
contaminação orgânica.
devem ser simplesmente descartados. Para uma limpeza simples deve-se lavar com AUP e
então submeter à LUS, em um béquer de vidro com LSS, com aquecimento. Pode-se despejar
a solução de LSS de volta em seu recipiente para ser reutilizada. Lava-se com AD e submete-
se novamente à LUS com AUP com aquecimento. Lava-se com AD por três vezes e então se
deixa secar naturalmente, envolvido por papel alumínio. Depois de seco, cobre-se com papel
alumínio.
imersas em TCE, e submetendo-o à LUS a 50o C. O TCE deve ser, então, descartado e a peça
110
lavada com uma pequena quantidade de LSS diluído em AUP de modo a eliminar o TCE,
descartando a solução.
Após lavagem da peça com AUP, esta deve ser colocada no mesmo recipiente de inox
com LSS, e submetida à LUS com aquecimento. Se as peças não tiverem sido
desengorduradas pode-se despejar a solução de LSS de volta em seu recipiente para ser
AUP e submetê-las à LUS com aquecimento. Lavar novamente e, por, pelo menos, três vezes,
com AUP e secar no forno a 105o C. Em uma bandeja de inox, cobrir as peças com papel de
alumínio e aquecê-las a 250o C por 3 horas para remover contaminação orgânica. Cobrir com
papel de alumínio.
corpo da válvula deve ser limpo de acordo com os procedimentos para peças de inox,
incluindo o desengorduramento.
papel e então os submetendo à LUS num recipiente com TCE por 15 minutos a 50o C. Deve-
se descartar o TCE e repetir o procedimento por 2 ou 3 vezes. Lava-se com uma pequena
111
Após lavagem da peça com AUP, esta deve ser colocada no mesmo recipiente de inox
com LSS, e submetida à LUS com aquecimento. Lavam-se peças e recipiente de inox em
AUP. Colocar as peças no recipiente com AUP e submetê-las à LUS com aquecimento.
Lavar novamente e por, pelo menos, três vezes com AUP e secar no forno a 105o C, até o dia
seguinte.
apenas ferramentas plásticas para não arranhar o plug de teflon. Lubrificar então o plug e os
o-rings. Reinstalar o plug de teflon no corpo da válvula limpa, rodando-o para não retirar o o-
ring do lugar. Segurar o o-ring do meio na cavidade para que ele não saia enquanto o plug
A.6 O-rings
com TCE. Submetê-los à LUS a 50o C. Descartar o TCE e repetir. Lavá-los com uma pequena
Após lavagem dos o-rings com AUP, eles devem ser colocados num béquer de vidro,
limpo, com LSS, e submetidos à LUS com aquecimento por 1 hora. A solução deve ser
descartada e os o-rings novamente lavados com AUP. Colocados no mesmo béquer com
AUP, devem ser submetidos à LUS com aquecimento, e então lavados mais três vezes com
AUP. Secar no forno a 105o C por pelo menos 48 horas. Lubrificá-los apenas na hora de
serem instalados.
112
A.7 Pinos usados para pressionar a grafite no catodo
cobre devem ser polidos em ambas as extremidades com lixa (400 silicon carbide).
los à LUS por 15 minutos com aquecimento imersos em LSS, descartando a solução. Lavar
com AUP por três vezes e encher o béquer com AUP, submetendo-os à LUS por mais 15
minutos com aquecimento. Descartar a água do béquer e levá-lo ao forno a 105o C, deixando
113
Apêndice B
Listagem de Equipamento
itens adquiridos pelo PRIME Lab para o laboratório de preparação de amostras naturais de
descartáveis, papel alumínio, reagentes e tubos de ensaio devem ser disponibilizados com
relacionado cada item para que estes possam ser adquiridos de forma racional. A coluna 8
indica aqueles já disponíveis, cuja aquisição teve como prioridade a montagem da linha de
grafitização.
114
Tabela B.1 Lista de equipamento para laboratório de preparação de amostras de carbono.
115
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
116
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
46 Cilindro 10 ml 1 pré-tratamento
graduado
47 Cilindro 25 ml 1 pré-tratamento
graduado
117
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
67 Espátula 1 grafitização
plástica
78 Funil pó 1 pré-tratamento
118
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
85 Geladeira 1 grafitização
plástica portátil
119
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
120
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
136 Peça p/ linha de Nupro Plug Valve, 1/2”, 4 Ind-Val SS-8P6T-4789 grafitização x
grafitização verde
137 Peça p/ linha de Nupro Plug Valve, 1/2”, 4 Ind-Val SS-8P6T-4789-BL grafitização x
grafitização azul
138 Peça p/ linha de Nupro Plug Valve, 1/2”, 6 Ind-Val SS-8P6T-4789-RD grafitização x
grafitização vermelha
139 Peça p/ linha de Nupro Plug Valve, 1/2”, 3 Ind-Val SS-8P6T-4789-BK grafitização x
grafitização preta
121
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
155 Peça p/ linha de bellows 1/2 tube ends X 5 Ind-Val 321-8-X-6 grafitização x
grafitização 6”
156 Peça p/ linha de bellows 3/8 tube ends X 1 Ind-Val 321-6-X-6 grafitização x
grafitização 6”
157 Peça p/ linha de bellows 1/4 tube ends X 1 Ind-Val 321-4-X-24 grafitização x
grafitização 24”
122
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
167 Peça p/ linha de Popper & Sons 1/4NPT 12 PGC Sci 6330 grafitização
grafitização – Luer Adapter
170 Pote térmico dewar, 0.5 litro, aço inox 2 ColePar P-03763-10 grafitização
171 Pote térmico dewar, 1 litro, aço inox 2 ColePar P-03763-20 grafitização
172 Pote térmico dewar, 6 litros, aço inox 1 ColePar P-03763-60 grafitização
123
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
190 Sacola plástica 2x3, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T47 pré-tratamento
191 Sacola plástica 3X5, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T58 pré-tratamento
192 Sacola plástica 4x6, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T59 pré-tratamento
193 Sacola plástica 5x8, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T61 pré-tratamento
194 Sacola plástica 6x9, 4 mil, pqt 100 1 McMastr 1959T62 pré-tratamento
124
Item especificação quantidade fabricante cód catálogo etapa comprado
125
Apêndice C
Preenchimento do Balão
de Reservatório de CO2
produzido a partir da reação de calcita com ácido. Esse reservatório deve ser usado,
regularmente, como fonte de amostras de fundo da linha. O processo requer o uso exclusivo
da linha por um ou dois dias e só precisa ser repetido quando o reservatório se esgotar.
clorídrico 0.1 M, medindo-se diretamente pela graduação do béquer. Cobre-se com filme ou
vidro limpo. Deve-se deixar no aquecedor de tubos até que a reação cesse, em geral até o
outro dia, pois a reação é lenta. Lava-se em água ultrapura por 3 vezes e deixa-se secar (pode
martelo, quebra-se a calcita em pedaços, sem que vire pó. A calcita tratada deve ser pesada
dando em torno de 2.5 g a 3.0 g. Com a ajuda de uma folha de papel para pesagem enrolada,
126
Antes de iniciar a reação é preciso remover da linha o adaptador da agulha e substituí-
lo por uma sanfona. Colocam-se 10 ml de ácido fosfórico a 85% num tubo de centrífuga de
onde se possa tirá-lo com pipeta e preencher a perna menor do tubo de reação até 1/3 do seu
volume. O tubo de reação deve ser então cuidadosamente colocado na linha, conectado à
sanfona e preso com grampos de forma que o braço contendo a calcita esteja quase horizontal.
Estando isolados os segmentos da linha que estejam fora do caminho da saída onde
está a sanfona, é aberta a válvula que liga este segmento à bomba de vácuo. O gás expelido no
ácido fosfórico deve ser todo evacuado, esquentando o tubo, de forma intermitente, com um
aquecedor manual, por cerca de uma hora, até que não se formem mais bolhas. A ligação com
a bomba deve ser mantida aberta até que a pressão seja menor que 1 militorr. A ligação com a
primeira armadilha deve ser então aberta e evacuada até menos de 1 militorr para a posterior
purificação do CO2.
O segmento que contém a sanfona e a primeira armadilha deve ser isolado. Segurando
cuidadosamente o tubo de reação, coloca-se o ácido na calcita, lavando a calcita das paredes
permitindo sua evacuação por mais 30 segundos. Isola-se novamente o segmento. Colocando
nitrogênio líquido na primeira armadilha o CO2 será removido, acelerando a reação. Quando a
reação começar a ficar lenta deve-se utilizar o aquecedor manual, de forma intermitente,
controlando para que a reação não se acelere demais. O processo leva de 2 a 3 horas, até que a
Evacuam-se cada segmento entre o balão e a armadilha, deixando que a pressão atinja
1 militorr. Isola-se esta parte da linha e, após 1 minuto, substitui-se a armadilha de nitrogênio
127
por álcool e gelo seco. O balão deve estar aberto. Após 30 minutos todo o gás ocupará o
segmento, inclusive o balão, que deve ser isolado neste momento. Os segmentos devem ser
evacuados e a sanfona removida e limpa. Toda a linha deve ser evacuada por duas horas
128
Apêndice D
Purdue em Indiana, USA. Entre elas amostras de ossos humanos e de animais, dentes,
ósseo tiveram uma pequena parte retirada para a verificação da composição do colágeno,
como descrito no Item 2.1.3. O resultado da análise revelou que, para a maioria delas, devido
ao seu estado de degradação, seria impossível a datação. Apenas uma amostra foi datada e em
presumidamente composto de plantas que teriam sido utilizadas na sua confecção. Sendo esta
fração muito reduzida, o CO2 resultante não foi suficiente para mandá-lo também para a
medida do δ13C.
identificador do PRIME Lab (plid); o projeto do qual as amostras faziam parte, já que foram
datadas gratuitamente depois dos projetos serem submetidos e aprovados pela direção do
laboratório; o identificador pessoal (userid) para controle das amostras; a razão R/S, que
129
indica o valor medido da razão isotópica da amostra, subtraído o fundo e dividido pelo valor
medido para a amostra padrão; o erro do valor R/S; o valor medido por espectrometria de
massa para o δ13C num laboratório externo; o valor da idade convencional calculado a partir
erro idade
R/S δ13C
plid projeto userid R/S convencional erro obs
%0
(10-15) (AP)
00 0669 I048 1 1010 50 -19 1430 400
Quantidade insuficiente
00 0670 I048 2 878 12 * 2500 * 110
para medir δ13C
00 0671 I048 3 710 7 -1.3 4400 80
00 0672 I048 4 768 8 -31.2 3520 80
Colágeno insuficiente para
00 0673 I048 5
datação
Colágeno insuficiente para
00 0674 I048 6
datação
Colágeno insuficiente para
00 0675 I048 7
datação
00 0676 I048 8 724 7 -2 4230 80
00 0677 I048 9 449 4 -27.5 7860 80
00 0678 I048 10 1000 10 -28.6 1420 80
00 0679 I048 11 1169 12 -25.9 190 80
00 0680 I048 12 990 10 -26.6 1520 80
00 0681 I048 13 772 8 0.4 3730 80
00 0682 I048 14 758 8 -1.2 3880 80
00 0683 I048 15 729 7 -2.1 4180 80
Colágeno insuficiente para
00 0684 I048 16
datação
Colágeno insuficiente para
00 0685 I048 17
datação
00 0686 I048 18 1122 23 -26.7 510 160
Colágeno insuficiente para
00 0687 I048 19
datação
00 0688 I048 20 865 18 -27 2600 160
00 0689 I048 21 752 15 -24.7 3740 160
00 0690 I048 22 980 10 -23.7 1620 80
00 0691 I016 1 894 9 0 2560 80
00 0692 I016 2 699 7 1.3 4540 80
00 0693 I016 3 645 6 1.1 5180 80
00 0694 I016 4 763 8 1.2 3840 80
00 0695 I016 5 498 5 0.6 7260 80
130
A amostra Pl00 0684, coletada no Sambaqui Duna Grande, em Niterói, RJ era de osso
qualquer material orgânico além dos ácidos removidos. Assim, não se pôde datar tal amostra.
associado: LMK – professora Lina Maria Kneip; MDG –professora Maria Dulce Gaspar;
TAL – professora Tânia Andrade Lima; os três grupos do Museu Nacional, vinculado à
aplicadas às idades das amostras (coluna 7), seja em função da diferença entre os hemisférios,
para amostras atmosféricas, ou da diferença regional para reservatório marinho, estimada para
a costa brasileira. As idades calibradas (coluna 8), de acordo com o tipo de material (a coluna
Oxford [Bronk Ramsey, 2000; 1995]. Com 2 σ de erro na distribuição dos pontos que
da idade real no intervalo. As idades são apresentadas em anos AP para facilitar a comparação
131
Tabela D.2 Tipos de amostras e calibrações das idades.
correção Idade calibrada
Grupo de material da informação tipo de
Plid sítio/local regional (2σ)
pesquisa amostra adicional calibração
(anos14C) (anos AP)
RJ-MP-13
Osso Toca dos
00 0669 IAB interior da Atmosférica -41 +/-14 2350 –550
(falange) Urubús
urna
00 0670 IAB cerâmica Malhada RJ-JC-15 Atmosférica -41 +/-14 2800 – 2300
reservatório
00 0671 IAB concha Malhada RJ-JC-15 0 +/- 40 4810 – 4330
marinho
00 0672 IAB carvão Corondó RJ-JC-64 Atmosférica -41 +/-14 3980 – 3480
osso
00 0673 IAB Malhada RJ-JC-15 Atmosférica -41 +/-14
(mandíbula)
osso
00 0674 IAB Malhada RJ-JC-15 Atmosférica -41 +/-14
(falange)
00 0675 LMK osso Camboinhas Atmosférica -41 +/-14
Reservatório
00 0676 LMK concha Camboinhas 20 cm 0 +/- 40 4560 – 4070
marinho
00 0677 TAL carvão Algodão 60 cm Atmosférica -41 +/-14 9000 – 8400
00 0678 TAL carvão Peri 1m Atmosférica -41 +/-14 1420 – 1060
00 0679 TAL carvão Major 40 cm Atmosférica -41 +/-14 320 – 0
00 0680 TAL carvão Caieira 40 cm Atmosférica -41 +/-14 1550 – 1260
reservatório
00 0681 LMK concha Manitiba I base 0 +/- 40 3880 – 3430
marinho
reservatório
00 0682 LMK concha Manitiba I camada VII 0 +/- 40 4090 – 3600
marinho
reservatório
00 0683 LMK concha Camboinhas superfície 0 +/- 40 4490 – 3990
marinho
osso
00 0684 LMK Duna Grande superfície Atmosférica -41 +/-14
carbonizado
00 0685 MDG osso Serrano Atmosférica -41 +/-14
MDG Morro interior da
00 0686 carvão Atmosférica -41 +/-14 750 – 0
Grande urna
00 0687 MDG dente Serrano Atmosférica -41 +/-14
Morro
00 0688 MDG carvão fogueira Atmosférica -41 +/-14 3100 – 2150
Grande
Ilha da Boa
00 0689 MDG vegetal 0 – 10 cm Atmosférica -41 +/-14 4550 – 3600
Vista
Ilha da Boa
00 0690 MDG vegetal 50 – 60 cm Atmosférica -41 +/-14 1690 – 1300
Vista
reservatório
00 0691 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 2-4 cm 0 +/- 40 2450 – 1980
marinho
reservatório
00 0692 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 10-12 cm 0 +/- 40 4960 – 4480
marinho
reservatório
00 0693 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 16-18 cm 0 +/- 40 5710 – 5310
marinho
reservatório
00 0694 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 20-22 cm 0 +/- 40 4050 – 3560
marinho
reservatório
00 0695 LAGEMAR foraminífero Estação 6760 30-32 cm 0 +/- 40 7910 – 7560
marinho
132
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