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Introdução
Negamos o qualitativo por trás das sensações, das ações, em prol de uma
sistematização que teria o poder profético e seguro sobre as condutas. Para a
psicologia comportamental e a psicofísica, por exemplo, nós seríamos capazes
de lidar, através do conhecimento causal, com as questões psíquicas de maneira
segura. Bastaria entendermos os estímulos, movimentos físicos, e suas
respectivas excitações, seus efeitos fisiológicos. Ao estabelecermos a mesma
lógica científica que tenta teorizar e prever fenômenos no mundo, acabaríamos
determinando o ser humano e suas ações, como se não houvesse liberdade,
como se tudo não passasse de uma relação fechada e invariável dos ditos
estímulos e excitações, transformando a consciência em mera passividade.
Tempo e espaço
O budismo
Aparentemente essa visão do tempo enquanto duração, continuidade
constante que apresenta a transitoriedade pode parecer desesperadora. Se
temos um impulso prático pela vida, consequentemente tendemos a negar essa
perspectiva do incerto sobre o transcorrer da existência. Reconhecer que não
temos controle sobre muitas coisas tende a ser difícil, a história da humanidade
mostra o quanto tentamos desenvolver nosso conhecimento para controlar a
natureza, transformá-la perante nossas necessidades. Quantas estórias sobre a
eternidade já foram desenvolvidas, o engajamento de uma vida inteira em busca
de burlar nossa natureza, de tentar romper com a morte, manter-se fixo e fugir
do fluxo. As próprias noções de eternidade pós-morte têm bases nessa tentativa
de promover, através das fábulas, um conforto. Interpreto que para o budismo,
assim como para Bergson, reconhecer o tempo real, e não seu desdobramento
espacial, intelectual, é reconhecer o que nos caracteriza enquanto humanos. É
apreender a dignidade por trás de nossa existência passageira. Nietzsche, em
seu texto “A verdade e a mentira no sentido extra-moral”, enxerga uma certa
arrogância sobre como tratamos a capacidade intelectiva do ser humano, e
reitera que essa presunção sobre o conhecimento não passa de uma ilusão
diante da perspectiva cosmológica.
O monge replicou:
Conclusão
Por fim, é importante salientar que o Darma se refere aos ensinamentos de Buda,
considerados como leis verdadeiras, onde uma dessas leis salienta um fluir ininterrupto
da vida que, embora possamos captar naturalmente, acaba sendo deturpado por ilusões
que nos faz desenvolver um apego que resulta em sofrimento. O apego por coisas que,
por natureza, são efêmeras produz a infelicidade, reconhecer isso e aceitar essa
condição é um dos passos para se tornar feliz. Por isso devemos nos esforçar para
compreender, utilizando essa suspenção do juízo intelectivo pela meditação, pela
percepção plena, a impermanência das coisas. Creio que pela meditação nós podemos
entrar em contato com processo que Bergson entende por Duração e criação, nos
afastamos do eu superficial e reconhecemos a impermanência em nós mesmos. Espero
que tenha ficado claro essa analogia sobre como algumas ideias de Bergson podem ser
interpretadas com esse olhar budista, e como a intuição pode ser regulada através da
meditação e da percepção plena, que tentam se desligar dos conceitos da linguagem,
para entenderem as coisas em seu processo criativo.
Referência