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4.13. Ora, não queremos, irmãos, que sejam ignorantes no tocante aos que dormem.

A
ignorância no tocante às realidades espirituais é sempre algo ruim para o crente. Ela o priva do
conforto. A morte dos crentes é, com freqüência, comparada ao dormir (Dt 31.16; 2 Sm 7.12;
1Re1,21). (Mt 27.52; Jo 11.11-13“descansam de seus labores”, Ap. 14.13). Era a seu respeito
que amigos e parentes estavam profundamente abalados. De fato, eles estavam tão alarmados
que Paulo acrescenta: a fim de não se entristecerem como os demais que não têm esperança.
A razão de tal perturbação não é expressa com clareza, mas é possível, especialmente à luz do
trecho imediatamente seguinte, que eles tivessem perdido toda a esperança na futura glória
dos corpos daqueles que haviam falecido Que esses inimigos e parentes realmente criam que
os entes queridos que haviam partido “estavam perdidos”

14. Pois (isto é, tal ignorância e desesperança é inescusável, pois ) se cremos que Jesus
morreu e ressuscitou, assim também os que adormeceram, por meio de Jesus, Deus os trará
com ele. Em contraste com a desesperança pagã, Paulo procede agora a estabelecer um
fundamento sólido para a esperança cristã com referência aos crentes que já se despediram
desta vida. O raciocínio caracteristicamente paulino parece ser este: “O mesmo Deus que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, também ressuscitará dentre os mortos os que
pertencem a Jesus”. Ele os compelirá a virem com Jesus, do céu, ou seja: ele trará do céu suas
almas, de modo que possam reunir-se rapidamente (num piscar de olhos) com seus corpos, e
assim partem para encontrar o Senhor nos ares, afim de permanecerem com ele para sempre.
O trazer com ele, então, inclui tudo quanto acontece a esses que adormeceram desde o
momento de sua saída do céu até que, nos seus corpos ressurretos e glorificados, encontrem o
Senhor nos ares, para nunca mais se separarem dele, de modo nenhum.

Porque isto lhes dizemos pela Palavra do Senhor, que nós, os que permanecermos vivos, que
ficarmos até a Vinda do Senhor, não teremos nenhuma vantagem sobre aqueles que
adormeceram.

Essa passagem, mais que qualquer outra, chega perto de sugerir a natureza da dificuldade
existente em Tessalônica com referência à doutrina da Segunda Vinda. Ainda assim, porém,
nos apresenta o problema apenas de forma geral. No mínimo, fica claro o seguinte: os leitores
se encontravam perplexos com relação se, em algum sentido, durante a Parousia, os crentes
que já partiram desta vida teriam alguma desvantagem em comparação àqueles que ainda
viviam na terra. Criam eles, porventura, que não haveria nenhum tipo de arrebatamento para
aqueles que já haviam sido trasladados para o céu? Supunham eles (ao menos corriam o risco
de supor) que, embora aí almas dos que já partiram estivessem na glória, contudo seus corpos
permaneceriam sepultados? Seria essa a razão porque Paulo, no verso 13, compara a atitude
deles (ou o temor deles) com a dos pagãos (que também não alimentavam qualquer esperança
com referência ao corpo)? Seria o caso de eles suporem que todos os crentes, em corpo e
alma (os que já haviam partido e os sobreviventes), participariam da glória do retomo de
Cristo, mas no tocante ao arrebatamento, os santos que já haviam partido receberiam um grau
inferior de glória , ou teriam que seguir os outros para o encontro do Senhor nos ares? Ou
imaginavam alguma outra desvantagem para aqueles que adormeceram? As Escrituras não
nos revelam a resposta.
16,17. Porque, com uma ordem bradada, com voz de um arcanjo e com trombeta de Deus, o
Senhor mesmo descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; então nós, os
vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, em nuvens, para
encontrar o Senhor nos ares. O apóstolo afirma: “E os mortos em Cristo ressuscitarão
primeiro; então nós, os vivos, que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, em
nuvens...”. Ambos os grupos sobem para encontrar o Senhor. Ambos consistem de ninguém
mais, senão de crentes. Os vários elementos dessa vívida descrição da descida de Cristo e o
arrebatamento dos santos são os seguintes: a. Com uma ordem bradada. Essa é a primeira de
três frases que revelam as duas circunstâncias que acompanharão o glorioso retomo do
Senhor. Ele retoma como vencedor. A ordem bradada em todo o Novo Testamento ocorre
somente aqui, A idéia do Cristo vencedor é como um filamento que percorre todo o livro do
Apocalipse. Cristo já venceu, está vencendo, voltará como vencedor.

Nesse contexto, refere-se claramente à ordem do Senhor (ao deixar os céus) aos mortos para
que ressuscitem. Note o contexto: os que adormeceram não terão qualquer desvantagem
(v.15), porque com um brado... o Senhor mesmo descerá do céu, e os mortos em Cristo
ressuscitarão... (v. 16). Assim como, mesmo aqui e agora, a voz do Filho de Deus é geradora de
vida, vivificando aqueles que se encontram mortos espiritualmente (veja CNT, Jo 5.25), assim
também, quando ele voltar “todos os que se encontram nos túmulos ouvirão sua voz e sairão”
(Veja CNT, Jo 5.28). Portanto, essa ordem é explicitamente a sua própria ordem, procedente
de seus lábios. Não é uma ordem pronunciada a ele, e, sim, uma ordem expedida por ele.
Saindo do céu, e com sua natureza humana, ele faz soar sua voz, e prontamente as almas dos
redimidos também saem, e velozmente se unem ao seus corpos, que, assim restaurados para a
vida, ressuscitam gloriosamente. b. Com voz de um arcanjo e com trombeta de Deus. Essas
duas frases, unidas pela conjunção e, provavelmente, se relacionam estreitamente, de modo
que o arcanjo seja aquele mesmo que toca a trombeta de Deus. O termo arcanjo ou anjo
principal ocorre somente aqui e em Judas 9. Nesta passagem, o arcanjo é Miguel. (Com
referência a Miguel, veja Ap. 12.7; em seguida, vejaDn 10.13,21; 12.1.) Ele é representado
como líder dos anjos santos e defensor do povo de Deus).90 Quanto à pergunta se Miguel é o
único arcanjo, o Dr. A. Kuyper expressou-se da seguinte forma: “Esta questão não pode ser
resolvida, porquanto a Escritura nada diz sobre ela. E possível que Miguel seja o arcanjo, isto é,
o único arcanjo, mas é possível também que ele seja um dos arcanjos (um dos sete anjos que
estão de pé diante do trono de Deus), já que em Daniel 10.13 ele é denominado como um dos
principais príncipes, de sorte que Gabriel, tanto quanto Miguel, pode ser também um
arcanjo”.91 Estamos plenamente de acordo com essa opinião. O fato de o artigo definido (o)
não ser usado aqui - de modo que traduzimos “wra arcanjo” - não decide definitivamente a
questão. Poderia indicar que ele é um dos vários, mas é também possível que o termo -
arcanjo - tivesse um caráter definido (um nome próprio, por assim dizer) mesmo sem o arti90.
Mais que Vencedores, pág. 179. 91. A. Kuyper, De Engelen Gods, Kampen, 1923, pág. 189.

138 1 TESSALONICENSES 4.16,17 go definido que o preceda. Seja como for, pelo menos um
fato é quase certo: “um brado de ordem” e “voz de um arcanjo” são duas coisas distintas. O
primeiro procede de Cristo; o segundo, de seu arcanjo. Não obstante, os dois têm em comum
o fato de que são sinais para que os mortos ressuscitem (1 Co 15.52). (Note que também em Js
6.5 e Jz 7.21,22 o brado e o sonido de trombeta vêm juntos.) Ao som da trombeta, os crentes
sobreviventes são transformados, num momento, no piscar de um olho (outra vez ICo 15.52).
O sonido da trombeta, nesse contexto, é muito apropriado. Na antiga dispensação, quando
Deus “descia”, por assim dizer, para encontrar- se com seu povo, esse encontro era anunciado
por meio do sonido de uma trombeta (por exemplo, Êx 19.16,17: “e mui forte clangor de trom-
beta(...) E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus...”; cf. Êx 19.19). Por isso,
quando as bodas do Cordeiro com sua noiva atingir seu clímax (cf. Ap 19.7), este clangor de
trombeta será muitíssimo apropriado. Da mesma forma, a trombeta foi usada como sinal da
Vinda do Senhor para resgatar seu povo da opressão hostil (Sf 1.16; Zc 9.14). Foi o sinal de seu
livramento. Assim também esse último sonido de trombeta será o sinal para os mortos
ressurgirem, para os vivos se transformarem e para que todos os eleitos de Deus sejam
reunidos dos quatro ventos (Mt 24.31) para o encontro do Senhor. E pode ser igualmente
interpretado como sendo o cumprimento da ordenança das trombetas que se encontram em
Levítico 25, e, por conseguinte, com a proclamação de liberdade por todo o universo, para
todos os filhos de Deus, seu jubileu eterno. De tudo isso se faz muitíssimo evidente que a vinda
do Senhor será aberta, pública, não apenas visível, mas também audível. Indubitavelmente, há
intérpretes que, em razão de a Bíblia usualmente empregar linguagem figurativa, assumem a
posição de que nada podemos saber sobre esses eventos escatológicos. Para eles, esses
preciosos parágrafos, por meio dos quais o Espírito Santo nos revela o futuro, não lhes
transmitem significado nenhum. Tal atitude, contudo, é absurda. As Escrituras foram
compostas para serem entendidas, e quando elas nos afirmam que o Senhor descerá do céu
com um brado, com voz de um arcanjo e trombeta de Deus, certamente elas, no mínimo, nos
querem dizer isto: que além do brado de ordem de nosso Senhor (que pode comparar- se com
Jo 11.43; veja a exposição desta passagem no CNT), um clangor reverberante realmente
invadirá todo o universo.92 Quais forças da 92. Cf. J.J.Knap, The Resurrection and Life Eternal,
Grand Rapids, MI, 1928, pág. 48. Também meu livreto Lectures on the Last Things, Grand
Rapids, MI, 1951, pág. 34.

1 TESSALONICENSES 4.16,17 139 natureza serão empregadas para produzir esse sonido não
nos foi revelado. Um fato se toma evidente: para os crentes, esse sonido trará plenitude de
alegria. Essa é a trombeta de Deus. Ela é o seu sinal, porque o arcanjo é o seu anjo. Ela soará
para proclamar sua libertação para o seu povo (cf. Ap 15.2, “harpas de Deus"). Ela anuncia a
vinda de seu Filho (como “Senhor dos senhores e Rei dos reis”, Ap 19.16) para o livramento de
seu povo. c. O Senhor mesmo [ou ele, o Senhor] descerá do céu. Esta descida é visível (Ap 1.7),
audível (como já ficou demonstrado), majestosa (veja a exposição de 2Ts 1.7), para juízo e
livramento (Mt 25.31-46). Se as palavras: “Assim virá da mesma maneira como o viram entrar
no céu” podem ser interpretadas com certa amplitude; presume-se que a descida
propriamente dita (conforme é distinguida agora da qualidade súbita e inesperada e do
aparecimento de Cristo, e do aspecto repentino e definitivo que caracteriza o retomo como
um todo) será caracterizada por um tipo de majestosa tranqüilidade. Note a descrição da
ascensão em Atos 1.9,10. Em qualquer um dos casos, não será uma mudança instantânea de
posição do céu para a terra. Haverá tempo (Ap 10.6, corretamente interpretado, não está em
conflito com isso)93 para que as almas daqueles que já dormiram deixem suas habitações
celestiais e se reúnam a seus corpos, e assim, nesses corpos gloriosamente ressurretos, subam
para o encontro do Senhor nos ares. d. E os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Veja o
que já foi dito sobre isso. O significado aqui é muitíssimo claro, ou seja, que aqueles que já
partiram desta vida, em Cristo, e que são aqui considerados como tendo permanecido nele,
não sofrerão desvantagem alguma. Ressuscitarão antes que os crentes sobreviventes subam
para o encontro do Senhor. Os sobreviventes é que terão que esperar um momento, por assim
dizer. e. Então nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, em
nuvens, para encontrar o Senhor nos ares. Além do que já ficou dito, note o seguinte: O fato
de que Paulo diz nós não significa, necessariamente, que ele esperava estar entre aqueles que
ainda estariam vivos quando Cristo voltasse. Diz nós porque naquele exato momento ele, Silas,
Timóteo e os leitores se encontram entre os crentes que ainda vivem na terra. Ele,
imediatamente, modifica isso ao interpretá-lo neste sentido: “os que ficarmos [quando o
Senhor vier]”, a fim de indicar que somente Deus sabe quem serão eles. Paulo sabe que 93.
Veja Mais que vencedores, págs. 151-153.

140 1 TESSALONICENSES 4.16,17 a Segunda Vinda não terá lugar imediatamente (veja a
exposição de 2Ts 2.2); e enquanto permaneceu em Tessalônica, essa parte de seu ensino sobre
as últimas coisas jamais foi negligenciado (2Ts 2.5). Além disso, a afirmação de Jesus,
registrada em Mateus 24.36, certamente não era desconhecida de Paulo (veja a exposição de
lTs 5.1). Naturalmente, Paulo também nunca ensinou que o Senhor, certamente, não viria
durante a vida terrena do apóstolo. Provavelmente, esperava que pudesse viver até ver tal
evento. Ele queria que cada um se conduzisse de tal maneira como se estivesse sempre
pronto. Ele, porém, não fixa qualquer data. Note: nós, juntamente com eles. Há total
imparcialidade: os sobreviventes não terão qualquer vantagem. O predicado é seremos
arrebatados (quanto ao verbo examinando, cf. também At 8.39 - Filipe, o evangelista, foi
arrebatado pelo Espírito do Senhor; 2Co 12.2-4 - um homem em Cristo foi arrebatado ao
terceiro céu; e Ap 12.5 - Cristo, o menino, é arrebatado, raptado, do poder do dragão). O
súbito, a velocidade e o caráter divino do poder que se põe em operação nesse ato de ser
arrebatado recebem aqui a sua merecida ênfase. Os sobreviventes foram transformados “num
momento, num piscar de olhos” (ICo 15.52). O céu e a terra, em sua forma atual, se põem em
fuga (Ap 20.11; cf. 6.14). Ora, embora a linguagem figurada abunde nessa vívida descrição, um
fato permanece: a ênfase da série dramática de eventos repentinos e velozes. Desde o
momento em que o Senhor surge das nuvens do céu e se põe a descer, não mais haverá
oportunidade para conversão. Sua vinda é absolutamente decisiva. Ele não vem para
converter, e, sim, para julgar. (Veja também a exposição de 2Ts 2.8; cf. Mt 25.31-46; 2Co 6.2;
2Pe 3.9.) Agora é o tempo aceitável; agora é o dia da salvação. Os que forem ressuscitados e os
que forem transformados serão juntamente arrebatados às nuvens, ao encontro do Senhor
nos ares. Ainda que essas nuvens possam ser tomadas em sentido literal, elas, contudo,
possuem também um significado simbólico. Estão associadas à Vinda do Senhor em
majestade, para a punição dos inimigos de seus santos, portanto, para a salvação de seu povo
(cf. Dn 7.13; a seguir Mt 26.64; finalmente, Êx 19.16,20; SI 97.2; Na 1.3). De acordo com M. M.
(pág.53), o verbo encontrar (eíç àsicanvfsiv) era usado no contexto das boas-vindas oficiais
concedidas a um dignitário, recém-chegado. Indubitavelmente, a idéia de boas-vindas está
também embutida na expressão como usada aqui em 1 Tessalonicenses 4.17. Que todos os
crentes, os ressurretos e (juntamente com) os transforma

1 TESSALONICENSES 4.18 141 dos, subirão para o encontro do Senhor nos ares é claramente
ensinado aqui. Se as passagens como Jó 19.25 eAtos 1.11 realmente ensinam que o juízo
acontecerá na terra é algo discutível. Seja como for, na presente passagem nada nos é
ensinado a respeito. Contudo, a principal intenção de 1 Tessalonicenses 4.17 não é só que
encontraremos o Senhor nos ares, mas que todos os crentes, juntos, encontrarão o Senhor;
para jamais se separarem dele:

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