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Histórico, efeitos e mecanismo de ação do


êxtase (3-4 metilenodioximetanfetamina):
revisão da literatura
Stella Pereira de Almeida1 e Maria Teresa Araujo Silva1

RESUMO A presente revisão enfoca a 3-4 metilenodioximetanfetamina, droga ilegal conhecida como “êx-
tase”. O êxtase foi introduzido no Brasil em 1994. Embora faltem dados sobre a epidemiologia
e sobre os padrões de uso do êxtase no Brasil, há indicações de que o consumo seja, até o mo-
mento, restrito a jovens da classe alta ou média-alta e desconhecido para a maioria da popu-
lação, inclusive para profissionais da saúde. Contudo, é possível que ocorra uma popularização
dessa droga no Brasil, seguindo a tendência norte-americana e européia. A facilidade de con-
sumo do êxtase — em forma de pílulas — pode ser um fator importante para sua populariza-
ção. O êxtase tem reputação de não apresentar perigo físico; contudo, há inúmeros relatos de
reações adversas e mortes relacionadas à sua ingestão. Além disso, sabe-se que nem todos os
comprimidos consumidos como êxtase necessariamente contém metilenodioximetanfetamina.
Diante da ausência de controle farmacêutico, nenhum consumidor sabe exatamente o que está
ingerindo. Assim, embora os efeitos do êxtase sejam percebidos como predominantemente po-
sitivos pelos usuários, a droga é potencialmente perigosa. Por essa razão, são necessárias inter-
venções de caráter primário e secundário para prevenir o uso de êxtase e a ocorrência de reações
adversas. Para serem efetivas, tais ações devem levar em conta as características da população
consumidora e seu padrão de consumo. Também é fundamental a capacitação de profissionais
de saúde para intervenções médicas de emergência em casos de intoxicação e complicações re-
sultantes do uso da droga.

O uso de drogas psicotrópicas é uni- são uma grande preocupação social. O êxtase é comercializado na forma
versal. É, ao mesmo tempo, primitivo e Entretanto, as ações que visam conter de comprimidos ou cápsulas que cus-
moderno; prejudicial, inócuo ou bené- seu consumo por vezes exageram e tavam entre 25 e 45 reais (50 a 90 dóla-
fico; singular, mas comum às mais di- por vezes negligenciam seu perigo fí- res) em julho de 2000 na Cidade de São
ferentes culturas humanas em todos os sico e social. Paulo. Sua via de administração mais
tempos. Na cultura ocidental, as dro- A 3-4 metilenodioximetanfetamina comum é a oral, mas a droga também
gas de abuso, em particular as ilegais, (MDMA), conhecida como “êxtase”, é pode ser usada por via anal, ou pode
uma droga psicotrópica ilegal produ- ser macerada e aspirada. Vale ressaltar
zida em laboratórios clandestinos. No que a facilidade na forma de consumo
Brasil, o êxtase também é conhecido do êxtase pode ser um fator impor-
1 Universidade de São Paulo, Instituto de Psicolo- como “E”. Seu uso é bastante difun- tante para sua popularização. En-
gia, São Paulo, Brasil. Correspondência e pedidos dido nos Estados Unidos e na Europa, quanto as outras drogas ilegais tradi-
de separatas devem ser enviados a Stella Pereira
de Almeida no seguinte endereço: IPUSP, Depar- onde é conhecido como ecstasy, Adam cionais (com exceção do LSD) exigem
tamento de Psicologia Experimental, Avenida (em referência a Adão, à inocência no um lugar reservado e, por vezes, um
Professor Mello Moraes 1721,CEP 15508-900, São
Paulo, SP, Brasil. Telefone: +55-11-3818-4444 (ramal
paraíso antes do aparecimento da kit para confecção e consumo, o êxtase
208); e-mail: teresar@usp.br culpa e da vergonha), XTC ou E. pode ser consumido com muita dis-

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crição em qualquer lugar e não exige tico (5). Tais experiências não pude- em 1986, na Universidade de Stan-
nenhuma preparação. Além disso, em ram prosseguir depois que essa droga ford, Estados Unidos, 39% dos estu-
quantidade de uso individual, ou seja, passou a ser considerada ilegal. dantes declararam ter consumido êx-
até quatro comprimidos, o risco de ser Quando um novo tipo de trata- tase pelo menos uma vez na vida (10).
identificado e apreendido pela polícia mento medicamentoso é introduzido, Nessa época, a MDMA já era denomi-
é mínimo. é comum haver grande entusiasmo e nada êxtase, valendo ressaltar o forte
O presente artigo apresenta uma re- alarde de sucessos, seguidos de desi- apelo mercadológico do nome, e era
visão da literatura existente sobre o lusão advinda dos insucessos; a ex- vendida livremente em bares que acei-
êxtase, subdividida nos seguintes tó- periência de Freud com a cocaína (6) tavam cartões de crédito (8). Esse uso
picos: histórico, uso no Brasil, classi- é um exemplo clássico. Entretanto, o público, livre e crescente chamou a
ficação e composição química, efeitos ápice e o declínio das psicoterapias atenção da imprensa que, em 1985,
psicológicos e somáticos, toxicidade e com uso de drogas alucinógenas têm publicou matérias de capa em várias
complicações do uso e mecanismo de algo de pouco comum, na medida que revistas, como Newsweek, Time e Life
ação no sistema nervoso central. parecem ter sido banidas antes que (11–13). A visibilidade na mídia atraiu
insucessos ou prejuízos tivessem sido mais adeptos e disseminou o uso
comprovados pela comunidade cientí- antes restrito a determinadas cidades
HISTÓRICO fica. O LSD cumpriu esse percurso, e a norte-americanas (14). Além disso,
MDMA o sucedeu. também em 1985, divulgou-se que o
Há divergências quanto à data de No início dos anos 70, a MDMA co- uso de uma outra droga sintética, cha-
síntese da MDMA: para alguns, a meçou a ser utilizada em contexto te- mada China white, sintetizada com o
droga foi sintetizada em 1912 (1, 2); rapêutico, como facilitador do trata- intuito de substituir a heroína, causara
para outros, em 1914 (3, 4). De qual- mento. Apresentava vantagens sobre graves danos cerebrais em usuários.
quer forma, foi patenteada em 1914 seu antecessor, o LSD, pois não pro- Comentando o fato, os meios de co-
pelo laboratório Merck, na Alemanha. vocava mudanças perceptivas nem municação sugeriram que o êxtase
A MDMA foi testada inicialmente emocionais tão intensas, seus efeitos seria uma droga similar à China white,
como moderador do apetite mas, de- tinham duração mais curta e não ha- o que o transformou em neurotóxico
vido a seus efeitos colaterais, foi pouco viam sido relatados flashbacks, “más via- potencial e, portanto, em problema de
utilizada e nunca comercializada, fi- gens” nem reações psicóticas em doses saúde pública. Por fim, foi publicado
cando esquecida e sem uso por déca- terapêuticas e em contextos controla- um relatório no qual eram apresen-
das. Em 1965, o bioquímico norte- dos. Era utilizada como favorecedora tadas evidências de danos cerebrais
americano Alexander Shulgin relatou da aliança terapêutica com o profissio- causados pela MDA (metilenodioxian-
ter produzido e consumido MDMA nal na medida que aumentava a empa- fetamina), droga análoga à MDMA, em
em seu laboratório, tendo descrito o tia, a confiança no terapeuta e a auto- ratos (8).
efeito como prazeroso. Contudo, o confiança, convidando à auto-análise e Assim, a popularização do uso de
bioquímico só voltou a se interessar favorecendo o insight (7). MDMA, a publicidade nos meios de
pela droga no começo dos anos 70, Os primeiros psicoterapeutas a utili- comunicação, o incidente China white e
quando tomou conhecimento de rela- zar a MDMA perceberam sua poten- a publicação do artigo sobre o poten-
tos de outros pesquisadores muito en- cialidade recreativa e conseqüente cial neurotóxico de seu análogo MDA
tusiasmados com o uso terapêutico da possibilidade de abuso e ilegalidade. encerraram a fase de uso legal de êx-
MDMA (4). A comunidade científica Fizeram, então, um acordo, de desen- tase. Em maio de 1985, a agência de
só veio a ser formalmente informada volver pesquisas informais sem cha- controle de drogas (Drug Enforcement
sobre a MDMA em 1978, através de mar a atenção do público para a droga. Administration, DEA) dos Estados Uni-
uma publicação de Shulgin e Nichols, Conseguiram fazê-lo durante um certo dos convocou uma comissão de emer-
a qual sugere que a droga poderia tempo, e o período entre 1977 e 1984 é gência para enquadrar a MDMA na
ser utilizada como auxiliar psicote- considerado a “época de ouro” da pes- categoria 1 de substâncias contro-
rapêutico (3). quisa terapêutica com a MDMA (8). ladas, que inclui drogas a) com alto
Atualmente, o uso de drogas psico- Em 1984, final da “época de ouro”, a potencial de abuso; b) sem benefício
trópicas alucinógenas como auxiliar MDMA não só era utilizada como au- terapêutico/médico; e c) cujo uso é
psicoterapêutico é um episódio quase xiliar terapêutico, mas também estava inseguro mesmo sob supervisão mé-
esquecido na história da psiquiatria sendo amplamente utilizada pelos jo- dica (15). Em junho de 1986, audiên-
e da psicologia. Hoje as drogas são uti- vens norte-americanos como droga cias decidiram manter o caráter de
lizadas exclusivamente como trata- recreativa. Uma pesquisa realizada em ilegalidade da droga e seu enquadra-
mento químico, para aliviar ou curar 1986 na Universidade de Tulane, Esta- mento na categoria 1, ainda que psicó-
sintomas. Entretanto, nas décadas de dos Unidos, constatou que 15% dos logos e psiquiatras tivessem testemu-
50 e 60, foram descritas inúmeras ex- estudantes haviam experimentado êx- nhado a favor do uso da MDMA como
periências bem sucedidas tendo o LSD tase pelo menos uma vez na vida (9). auxiliar do processo psicoterapêutico
como catalisador do processo terapêu- Em outra pesquisa, realizada também (7).

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Na Europa, a MDMA sempre foi ile- defendem a legalização da MDMA. codélica, mais geométrica e tecnoló-
gal. Seu consumo foi introduzido com Recentemente foi aprovado o primeiro gica. Tatuagens e piercings também
fins espirituais por discípulos de Bhag- estudo sobre seu uso terapêutico, em fazem parte da cultura clubber. Ambos
wan Rajneesh, em meados da década pesquisa que será desenvolvida na os grupos pertencem, na sua maioria,
de 80. Contudo, foi a partir de um Espanha (18). à classe alta e média alta e têm bom
evento musical acontecido em Ibiza, nível educacional, até porque esse es-
Espanha, entre 1987 e 1988, no qual tilo de vida não é barato.
muitos participantes experimentaram Uso no Brasil Na mídia brasileira, a visibilidade
a MDMA, que surgiram as festas co- do êxtase vem aumentando. Até 1999,
nhecidas como raves. Com elas, o uso As primeiras remessas significativas era citado poucas vezes, grafado em
do êxtase se popularizou na Europa. de êxtase chegaram a São Paulo em inglês (ecstasy), quase sempre nos ca-
Quando o evento musical terminou, os 1994, vindas principalmente de Ams- dernos de cultura, em matérias ligadas
jovens voltaram para seus países com terdã, Holanda. Naquele momento à moda ou comportamento, como
o desejo de perpetuar a experiência. ainda não havia tráfico de êxtase; algu- signo de grupos ou tendências de van-
Alguns empresários ingleses percebe- mas pessoas traziam os comprimidos e guarda, sem informações sobre a
ram que recriar a atmosfera de Ibiza os revendiam seletivamente a amigos droga. Vale citar que, em junho de
seria muito bem aceito. Começaram em clubes noturnos (19). Se na Europa 1999, a revista Veja-São Paulo (encarte
a organizar festas em armazéns por- o consumo de êxtase começou nas de publicação semanal distribuído ex-
tuários londrinos, onde centenas de raves e depois foi para os clubes, em clusivamente na cidade da São Paulo
pessoas pagavam um ingresso e dan- São Paulo seu percurso foi inverso. As com tiragem de 370 000 exemplares)
çavam a noite inteira com música raves, organizadas por DJs brasileiros publicou uma matéria de capa sobre
eletrônica ininterrupta, usando êxtase vindos de Londres, apareceram em raves, na qual, curiosamente, o êxtase
ou, na sua falta, LSD. Essas festas ga- 1995 depois da introdução da droga não é citado (20). Atualmente, o êxtase
nharam cada vez mais adeptos e co- em clubes noturnos. Nessa época, as é cada vez mais citado nas páginas
meçaram a acontecer em locais maio- festas eram realizadas cada 2 ou 3 policiais, com notícias de um crescente
res, fora do perímetro urbano, mas meses com um público menor e menos número de prisões e apreensões. Em
perto de Londres. Logicamente, as fes- heterogêneo do que hoje. Atualmente, setembro de 2000 foi noticiada a des-
tas que reuniam centenas ou milhares em São Paulo, há festas-rave todos os coberta do primeiro laboratório de êx-
de jovens dançando a noite inteira e finais de semana em lugares amplos e tase em São Paulo (21).
usando drogas atraíram a atenção da ao ar livre, tais como praias, sítios ou
polícia e, em 1990, foi aprovada, no parques aquáticos. Reúnem de 3 a 5
Reino Unido, uma lei que previa pena mil pessoas e duram de 14 a 18 horas. CLASSIFICAÇÃO E
de até 6 meses de detenção e confisco A música eletrônica é ininterrupta; o COMPOSIÇÃO QUÍMICA
de todo o lucro para organizadores de ambiente é decorado com panos fluo-
festas rave. Com isso, os empresários rescentes, com motivos tântricos ou De acordo com o efeito provocado
desistiram de organizar as festas e os alienígenas, e a iluminação é feita com no sistema nervoso central, as drogas
ravers se deslocaram para os clubes no- luzes negras, coloridas, estroboscópi- psicotrópicas podem ser classificadas
turnos. A partir daí, o êxtase passou a cas, laser e globos de espelhos. As vá- como estimulantes, depressoras ou
fazer parte da cultura dance-clubber (8). rias pistas de dança são comandadas perturbadoras de seu funcionamento.
Nos Estados Unidos, as raves surgiram por DJs que ocupam o lugar de maior As drogas perturbadoras são também
no início dos anos 90 e, assim como na status nas festas, já que a motivação chamadas alucinógenas. Com relação
Europa, o uso de êxtase faz parte da comum é dançar. Os participantes ou ao seu efeito, a MDMA é uma das pou-
festa (4). Ao longo desses 10 anos, as ravers se vestem em geral com roupas cas drogas com dupla classificação:
raves vêm se espalhando pelos Estados coloridas, usam adereços fluorescen- situa-se entre os estimulantes e os alu-
Unidos. tes, valorizam moda e bodyart, que in- cinógenos, sendo por vezes classi-
A ilegalidade da MDMA não parece clui tatuagens e aplicação de adereços ficada como uma anfetamina alucinó-
ter diminuído o número de usuários no corpo (piercing). É inegável a pre- gena (3).
recreativos que, ao contrário, só tem sença de êxtase nas raves e grande A MDMA é freqüentemente classifi-
aumentado, como demonstram vários parte de seus usuários estão ali con- cada como droga de desenho, termo
levantamentos realizados tanto na Eu- centrados. Outra parte dos usuários com dois significados: primeiro, o
ropa como nos Estados Unidos (9, 16). (por vezes sobreposta aos ravers) são termo se refere a qualquer substância
Além disso, embora a ilegalidade os clubbers, indivíduos que freqüentam fabricada para produzir efeitos espe-
tenha encerrado o uso terapêutico da casas noturnas onde também se dança cíficos, definição pouco elucidativa e
MDMA, ainda se afirma que seriam a noite inteira com música eletrônica muito geral, na qual poderiam enqua-
necessárias mais pesquisas para des- ininterrupta comandada por DJs. A drar-se inúmeras substâncias; se-
cartar seu uso na medicina psiquiá- moda é também extremamente valori- gundo, o termo se refere a drogas aná-
trica (17). Até hoje há grupos que zada, mas aqui menos colorida e psi- logas a substâncias ilegais e com

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efeitos psicológicos semelhantes, pro- tase consumido no Brasil vem da Eu- FIGURA 1. Estrutura quı́mica do êxtase (3,
duzidas através de processo de enge- ropa e, em julho de 1999, os tipos mais 4 metilenodioximetanfetamina)
nharia química, com o objetivo de comuns em São Paulo eram o “JB ama-
esquivar-se do controle legal (14). Por relo”, o “mitsubishi” e o “verde RN”. NHCH3
ser análoga à anfetamina e à metanfe- Em 1995, foram realizadas análises
H 2C
tamina, a MDMA é, às vezes, conside- nos comprimidos de êxtase mais con- CH3
rada droga de desenho; entretanto ela sumidos no Reino Unido. Os resulta-
foi patenteada em 1914, muito antes, dos mostraram que a maioria contém
portanto, de tornar-se ilegal nos Esta- uma mistura de MDMA com uma ou
dos Unidos, em 1970. Assim, embora mais drogas em proporções variadas,
alguns autores definam a MDMA e que alguns nem sequer contêm
como uma droga de desenho, essa MDMA. As outras drogas mais fre- 24 horas após a ingestão são descritos
classificação não está bem aplicada qüentemente associadas à MDMA nos como mais negativos, tanto física
(14, 22, 23). comprimidos de êxtase foram: metile- quanto psicologicamente. Os efeitos
Dada a dificuldade de enquadrar a nodioxietanfetamina (MDEA, análogo de curto e longo prazo descritos pelos
MDMA na classificação habitual das sintético da MDMA), metanfetamina, vários pesquisadores estão reunidos
drogas psicotrópicas, foi proposto um anfetamina, paracetamol, cafeína ou na tabela 1.
termo bastante específico que descre- ketamina (25). Entretanto, outras pes-
veria os efeitos da MDMA e de seus quisas averiguaram que o êxtase é
análogos: entactogen. O termo é usado pouco adulterado na Austrália e na TOXICIDADE E COMPLICAÇÕES
para drogas cujos efeitos são o au- Europa, sendo que quando não é puro, DO USO DE MDMA
mento de contato do usuário consigo contém uma mistura de MDMA com
mesmo e da introspeção, aumento da seu análogo MDA (26). Embora esses Embora a MDMA tenha reputação
empatia e da comunicação com outras dados justifiquem a consonância dos de droga segura, ou seja, que não apre-
pessoas, indução a estado positivo de efeitos relatados por usuários de êx- senta perigo físico (4), há inúmeros re-
humor, sentimentos de intimidade e tase de diversos países, é importante latos de reações adversas e mortes re-
tranqüilidade (4). Esse termo não vin- salientar que essas pesquisas foram lacionadas à sua ingestão (30, 31). Para
gou, mesmo porque estava ligado às ex- realizadas ainda na década de 80 e alguns autores, ainda não há provas
periências terapêuticas com a MDMA, que, portanto, esse quadro pode ter de que a MDMA deixe seqüelas se-
encerradas com sua proibição. mudado; nesse caso, a pesquisa reali- veras em seres humanos e, a despeito
A MDMA é produzida sintetica- zada por Wolff et al., em 1995 (25), tal- dos relatos de efeitos adversos agudos,
mente em laboratório a partir de me- vez traduza melhor o quadro da com- o números de casos é surpreendente-
tanfetamina. Porém, há precursores posição dos comprimidos hoje em dia. mente pequeno em relação ao número
químicos naturais contidos em óleos De qualquer forma, o fato é que só de usuários (32, 33).
de plantas, como noz moscada, endro, uma análise em amostras comerciali- Há dois problemas principais relati-
cálamo, açafrão, canela e semente de zadas atualmente nos diria se o que é vos à segurança ou perigo da MDMA.
salsa (24). Sua estrutura química é usado como êxtase é, de fato, MDMA. Um deles é a incerteza da composição
apresentada na figura 1. Enquanto isso, o conteúdo dos com- dos comprimidos. O outro é a mistura
Dada sua ilegalidade, sabe-se que primidos consumidos no Brasil é duvi- que freqüentemente os usuários fazem
nem todos os comprimidos vendidos e doso e desconhecido. com outras drogas, como outros esti-
consumidos como êxtase necessaria- mulantes, opiáceos e álcool. Não há
mente contém MDMA. O êxtase é uma dúvida de que essas duas questões
droga sem nenhum controle farmacêu- EFEITOS PSICOLÓGICOS estão diretamente relacionadas ao au-
tico. Ninguém sabe exatamente o que E SOMÁTICOS mento do potencial de perigo, toxici-
está ingerindo; o controle “farmacoló- dade e risco de efeitos adversos agu-
gico” é feito por usuários que já usa- Os efeitos da MDMA se fazem sentir dos relacionados à MDMA. Também é
ram um determinado tipo de êxtase e aproximadamente 20 minutos após a importante salientar que a toxicidade
aprovaram ou não seus efeitos. Os ingestão do comprimido e permane- de qualquer droga é dependente da
tipos de êxtase ganham apelidos con- cem por 4 a 8 horas (22). Os vários es- dose, da freqüência de uso, da vulne-
forme a cor e o desenho impresso nos tudos sobre os efeitos provocados pelo rabilidade individual e das condições
comprimidos e sua popularidade e êxtase apresentam resultados muito externas ambientais (34).
preço variam de acordo com os efeitos semelhantes (26–29). Os efeitos agudos Vale ainda salientar que os padrões
produzidos. No Brasil, os tipos dispo- são descritos na maioria das vezes de uso de êxtase mudaram muito
níveis mudam conforme a chegada de como prazerosos, embora também desde o início de sua utilização com
importações. Segundo relatos infor- sejam apontados efeitos desagradá- fins terapêuticos e mesmo recreativos
mais de usuários, grande parte do êx- veis, quase sempre físicos. Já os efeitos nos Estados Unidos. Da utilização em

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TABELA 1. Efeitos imediatos e tardios do êxtase de acordo com diversos estudosa peraturas corporais de 42oC. A razão
pela qual a MDMA afeta a termorre-
Efeitos gulação corporal não é clara, mas pa-
Psicológicos Somáticos rece estar relacionada com o aumento
Imediatos Loquacidade Depressão de liberação de serotonina. As con-
(4–8 Abertura mental Despersonalização dições externas habitualmente associa-
horas) Proximidade de outras pessoas Flashbacks das ao uso de êxtase, ou seja, exercício
Felicidade Preocupação físico intenso em ambiente quente e
Bom humor Insônia
falta de hidratação, aumentam consi-
Sensualidade Dificuldade de concentração
Euforia deravelmente o risco de hipertermia.
Aumento da autoconfiança A hipertermia pode causar desidra-
Despreocupação tação, queda de proteínas musculares,
Aumento de energia rabdomiólise, coagulação intravascu-
Excitabilidade sexual
lar disseminada (DIC), convulsões e
Leve sensação de desrealização
Tardios Inapetência Inapetência morte. Até 1994, haviam sido relatados
(24 horas) Boca seca Sede 26 casos de hipertermia na Inglaterra,
Agitação Falta de energia dos quais nove foram letais (30). Para
Aceleração do batimento cardíaco Fadiga combater o risco amplamente divul-
Bruxismo/trismo Tontura
Insônia Dores musculares
gado de desidratação, os usuários cos-
Fluxos de frio e calor tumam beber grandes quantidades de
Sudorese água (está descrito um caso de morte
Dificuldade de concentração após ingestão de 13 litros), cujos efei-
Vontade de urinar tos podem ser hipotermia (37) e edema
Midríase
Náusea cerebral (38).
Ataxia (descoordenação motora) Também estão documentados vá-
a
rios casos de problemas hepáticos re-
Baseado em Cook (22), Solowij et al. (26), Cohen (27), Ferigolo et al. (28) e Vollenweider et al. (29).
lacionados ao uso de MDMA, desde
icterícia até insuficiencia renal aguda
com necessidade de transplante (30). O
mecanismo pelo qual a MDMA oca-
siona problemas hepáticos ainda não
isolamento ou em pequenos grupos de e temperaturas mais altas. Além disso, está claramente definido, mas parece
amigos, em festas ou reuniões para também se observou que, para ani- ser uma reação idiossincrática, pois in-
poucas pessoas, passou a ser usado em mais colocados em caixas individuais, depende da dose e da freqüência de
clubes ou raves. Como já foi observado, a toxicidade é diretamente proporcio- uso e pode ocorrer tanto após o pri-
esses locais são espaços para se dançar nal à temperatura ambiente e ao ruído meiro quanto após vários episódios
muitas horas seguidas, com música externo, e inversamente proporcional de uso de MDMA (39). Foi registrado
eletrônica muito alta e ininterrupta, à hidratação. Essas constatações po- um caso de retenção urinária após
lugares com centenas e por vezes mi- dem ser relevantes para o estudo da ingestão de grande quantidade de
lhares de pessoas, com temperatura toxicidade da MDMA, já que seu uso MDMA (15 comprimidos em 36 horas),
elevada e ventilação nem sempre em raves e clubes apresenta as caracte- efeito provavelmente devido à ação
adequada. Pode-se bem supor que rísticas de propensão a maior toxici- agonista alfa adrenérgica da MDMA
essa mudança no ambiente de uso de dade, ao menos por analogia à anfeta- (40).
êxtase esteja associada ao aumento no mina (35). Em relação a problemas psiquiátri-
número de casos de mortes e intoxi- De qualquer forma, já foram descri- cos, ainda é pouco conhecida a mor-
cações. De fato, o fenômeno da toxici- tos diversos problemas relacionados bidade psiquiátrica associada ao uso
dade anfetamínica de agrupamento foi à administração de MDMA. Os sinto- de êxtase. Entretanto, há vários casos
demonstrado em ratos. Isso significa mas de intoxicação aguda, as manifes- documentados, mais freqüentemente
que tanto os efeitos comportamentais tações psicológicas e/ou comporta- psicoses e psicoses paranóicas (31, 32).
quanto os efeitos tóxicos da anfeta- mentais e as complicações orgânicas já Foram também descritos três casos de
mina aumentam quando os animais relacionados ao uso de MDMA são ataque de pânico. Esses quadros se ini-
são agrupados em relação a quando apresentados na tabela 2 (36). ciaram 30 minutos após a ingestão e ti-
estão isolados. Mesmo quando a área Dentre as complicações clínicas, a veram uma duração limitada. Em dois
total por animal é a mesma, observou- hipertermia é a ocorrência mais fre- dos casos relatados houve remissão
se um aumento da toxicidade anfeta- qüente associada à MDMA, quadro no sem uso de medicamentos. Um deles
mínica em condições de agrupamento qual os usuários podem chegar a tem- recorreu a um pronto socorro, onde

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TABELA 2. Sintomas de intoxicação aguda, manifestações psicológicas e comportamentais de sono de usuários (mais de 25 episó-
e complicações orgânicas associados ao consumo do êxtasea dios de uso) e de indivíduos que
nunca haviam usado êxtase. Os sujei-
Manifestações
Intoxicação psicológicas e Complicações
tos de ambos os grupos não usavam
aguda comportamentais orgânicas drogas psicotrópicas há 2 semanas.
Constatou-se que os usuários tinham
Dilatação da pupila Ansiedade Insuficiência renal aguda menos tempo total de sono do que os
Cefaléia Ataques de pânico Hemorragia
não usuários, e que essa diferença se
Nistagmo Desorientação Convulsão/crise epiléptica
Dispnéia Psicose Hepatite devia a um menor tempo de sono não-
Náusea/vômitos Paranóia Rabdomiólise REM entre os usuários. Embora não
Taquicardia Depressão Hipertermia se saiba se essa alteração se deve à to-
Visão turva Alucinações Hipertensão xicidade serotonérgica da MDMA, os
Problemas renais Idéias suicidas Hemorragia cerebral
Bruxismo/trismo Flutuação de humor Incontinência
dados sugerem que a MDMA pode
Tensão muscular Estupor catatônico Coma causar mudanças persistentes em es-
Transpiração Despersonalização Coagulação intravascular truturas cerebrais ligadas ao sono (49).
disseminada Também são relatados outros efeitos
Falta de salivação Desrealização Aplasia medular sobre o sono de usuários de êxtase:
a Baseado em Bailly (49). insônia, inversão do ritmo vigília/
sono, pesadelos, alucinações hipnagó-
gicas e bruxismo (36).
Foi demonstrado que usuários de
foi medicado. O quadro não voltou a alucinações (26). Por isso, é comum os êxtase apresentam desgaste dos den-
ocorrer mesmo nos indivíduos que usuários fazerem pausas de abstinên- tes significativamente maior do que
usaram êxtase novamente após o inci- cia, retomando o uso após algumas não usuários. Esse desgaste é atri-
dente (41). Há casos em que o uso de semanas, a fim de recuperar os efei- buído ao bruxismo provocado pela
êxtase está associado à ideação suicida tos positivos anteriores ao estabeleci- droga. O desgaste dentário é ainda
e ao suicídio. Embora esteja compro- mento de tolerância. exacerbado quando o êxtase é asso-
vado que há uma correlação entre os Em relação às funções cognitivas, ciado à ingestão de bebidas gasosas, o
baixos níveis de ácido 5-hidroxi-indo- um dos estudos realizados com usuá- que ocorre freqüentemente (50). São
lacético (5-HIAA) cérebro-espinhal e o rios crônicos de êxtase não encontrou ainda relatados problemas dermatoló-
suicídio, e que a MDMA causa esgota- outros prejuízos cognitivos a não ser gicos e emagrecimento em usuários
mento cerebral de serotonina (5-HT) e prejuízos de memória e atenção (45). habituais de êxtase.
de seu metabólito 5-HIAA, não se pode Em ratos, embora a MDMA tenha cau- O uso de êxtase por gestantes
concluir que a MDMA seja a única res- sado redução dos níveis de 5-HT cere- está associado a um aumento de má-
ponsável pelo desencadeamento da bral, a memória não é afetada (46). formações congênitas, predominante-
ideação suicida ou do suicídio (42). Mas, segundo o Instituto Nacional de mente anomalias cardiovasculares e
Embora a MDMA seja geralmente Abuso de Drogas (National Institute on musculoesqueléticas (51). Por último,
descrita como uma droga que não Drug Abuse, NIDA), nos Estados Uni- parece que a MDMA deprime o sis-
causa dependência, foram descritos dos, um estudo comparativo entre não tema imunitário, em especial quando
casos clínicos que preenchem os crité- usuários e usuários habituais indicou associada ao álcool. Entretanto, essa
rios de síndrome de dependência (43). prejuízos significativos de memória observação foi feita em pesquisa rea-
Um experimento realizado com babuí- verbal e visual entre usuários habi- lizada com um pequeno número de
nos mostrou que a MDMA age como tuais. Os prejuízos foram diretamente sujeitos, o que significa que amostras
reforçador, resultado que sugere po- proporcionais à dose e continuaram no maiores seriam necessárias para com-
tencial de abuso (44). mínimo 2 semanas após a interrupção provar tal ação (52).
O desenvolvimento da tolerância do uso. Isso parece estar relacionado a
decorrente do uso freqüente de danos causados aos neurônios seroto-
MDMA não se dá de forma homogê- nérgicos (47). Ainda com relação à me- MECANISMO DE AÇÃO NO
nea para todos os sintomas. Com o uso mória, foi descrito um caso de sín- SISTEMA NERVOSO CENTRAL
habitual, a intensidade dos efeitos co- drome amnésica em decorrência da
laterais indesejáveis, tais como ina- ingestão de êxtase. Após 9 meses, a pa- A administração de MDMA em ani-
petência, trismo, náusea, dores mus- ciente ainda apresentava pequeno pre- mais desencadeia uma resposta bifá-
culares, ataxia, sudorese, taquicardia, juízo de memória (48). sica que pode ser dividida em efeitos
fadiga e insônia aumentam, enquanto Também foi observado que o uso de curto prazo (primeiras 24 horas) e
diminuem os efeitos subjetivos pra- de êxtase afeta o sono dos usuários. de longo prazo (que permanecem após
zerosos, como melhora do humor e Foram comparados os tempos totais 24 horas, podendo durar até mais de

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12 meses). Os efeitos psicológicos e sinápticas da liberação de 5-HT, au- nos neurônios serotonérgicos. O trans-
comportamentais de curto prazo pare- mentando efetivamente sua concentra- porte da DA citoplasmática livre para
cem estar mais diretamente ligados ção na fenda sináptica (54). A MDMA a fenda sináptica é mediado por trans-
à estimulação serotonérgica, enquanto também provoca decréscimo na ativi- portadores dopaminérgicos da mem-
os efeitos de longo prazo estão mais dade da enzima triptofano-hidroxilase brana. Ainda segundo esses autores, a
relacionados ao desenvolvimento de (TPH), responsável pela síntese de 5- ativação dos receptores 5HT2A, através
neurotoxicidade serotonérgica (53). HT (53). O mecanismo preciso através da liberação de 5-HT, parece facilitar a
do qual a MDMA interfere na ativi- liberação de DA induzida pela anfeta-
dade da TPH é desconhecido. Uma mina, enquanto a administração de an-
Efeitos de curto prazo hipótese é que, direta ou indireta- tagonistas de 5-HT2A atenua os efeitos
mente, a MDMA tenha um efeito oxi- de análogos anfetamínicos (como por
O primeiro efeito de curto prazo é a dativo nos terminais nervosos, o que exemplo, a MDMA) sobre a liberação
ação sobre a 5-HT e seu metabólito 5- pode desativar a TPH (54). A liberação de DA. É bem possível que a MDMA
HIAA. A MDMA promove a liberação maciça de 5-HT, somada ao bloqueio ocasione a liberação de NA em termi-
de 5-HT, sendo um agonista serotonér- de sua recaptação e à desativação da nais noradrenégicos através de um
gico indireto. A MDMA atravessa ra- TPH, resulta no esgotamento intraneu- mecanismo similar ao da liberação
pidamente a membrana pré-sináptica; ronal de 5-HT. Após uma única dose de DA, mas esse efeito ainda não foi
ainda não se sabe se isso se dá passi- de MDMA o esgotamento de 5-HT é investigado.
vamente ou através de um transporta- rápido, ocorrendo entre 1 e 3 horas A interação com o receptor alfa-2
dor. Após atravessar a membrana, a após sua administração. Em ratos, as adrenérgico deve ser relevante para os
MDMA causa efluxo de 5-HT da vesí- reduções na concentração de 5-HT e efeitos cardiovasculares, ou seja, au-
cula para o citoplasma do neurônio. de seu metabólito chegam a 80% em 3 mento do batimento cardíaco, hiper-
Do citoplasma da célula nervosa, a 5- horas (53). tensão e arritmias. Além da afinidade
HT é rapidamente liberada para o es- Cabe notar ainda que a MDMA tem da MDMA pelo transportador de 5-HT
paço extracelular através de transpor- grande afinidade pelo sub-receptor se- e pelo receptor alfa-2 adrenérgico, a
tadores serotonérgicos. A liberação de rotonérgico 5-HT2, considerado res- MDMA também tem afinidade pelo
5-HT induzida pela MDMA pode ser ponsável pelos efeitos alucinógenos receptor colinérgico muscarínico M1 e
bloqueada por inibidores da recap- causados pelo LSD. Isso sugere que a pelo receptor histamínico H1 (54). Um
tação de serotonina, por exemplo, a ligação da MDMA a esse receptor mo- estudo mais recente demonstrou, em
fluoxetina (34, 54). dula os efeitos alucinógenos atribuí- fatias de cérebro de rato, que a MDMA
Essa observação sugere duas hipó- dos a ela. promove a liberação de acetilcolina no
teses: a primeira é que a MDMA é Outro efeito de curto prazo é a ação estriado e que essa liberação é abolida
transportada passivamente para den- da MDMA sobre a dopamina (DA), por antagonistas H1. Ainda segundo o
tro da célula nervosa, desencadeando noradrenalina (NA) e receptores de mesmo estudo, a ativação direta do
a liberação de 5-HT vesicular para o outros neurotransmissores. Em con- receptor H1 poderia representar um
citoplasma; nesse caso, a fluoxetina traste com a acentuada redução intra- mecanismo plausível para a liberação
bloquearia os transportadores, impe- celular de 5-HT, conseqüente à admi- de acetilcolina induzida pela MDMA
dindo a liberação de 5-HT citoplasmá- nistração de MDMA, não foram (55). A intoxicação aguda de MDMA
tica na fenda. Uma segunda hipótese observadas mudanças similares nos ainda espera caracterização farmacoló-
seria que a passagem da MDMA atra- níveis de DA ou NA (53). In vitro, de- gica mais detalhada (55).
vés da membrana necessita de um monstrou-se que a MDMA bloqueia a
transportador e nesse caso a fluoxe- recaptação de DA e NA, embora tenha
tina, bloqueando o transportador, im- baixa afinidade pelo transportador Efeitos de longo prazo
pediria que a MDMA atravessasse a dopaminérgico.
membrana e promovesse a liberação In vivo, há poucas evidências suge- O primeiro efeito de longo prazo
de 5-HT da vesícula para o citoplasma rindo que a MDMA cause, direta- envolve os níveis cerebrais de 5-HT e
(54). mente, liberação de DA na maioria das de seu metabólito 5-HIAA. Vários pes-
Além de promover a liberação de 5- regiões cerebrais (54). Uma pesquisa quisadores descreveram que a MDMA
HT, estudos in vitro mostraram que a mais recente descreve que a MDMA é responsável por reduções duradou-
MDMA tem capacidade de inibir sua estimula a liberação de DA em sinap- ras nos níveis cerebrais de 5-HT e 5-
recaptação pelos terminais nervosos. ses dopaminérgicas (34); segundo os HIAA, em alguns casos persistindo
In vivo, parece que a MDMA também autores, parece que a MDMA ultra- por mais de 12 meses (35, 53, 54). Tam-
tem ação inibitória sobre os transpor- passa a membrana pré-sináptica atra- bém a diminuição da atividade da
tadores responsáveis pela recaptação vés de um processo passivo, causando TPH em conseqüência da adminis-
de 5-HT. O bloqueio de recaptação de a liberação de DA vesicular através de tração de MDMA é duradoura. Esse
5-HT prolongaria as ações pré e pós- um mecanismo similar ao que ocorre dado indica a potencialidade neurotó-

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xica da MDMA. A atividade cortical culação de reportagens sobre o as- • quando em atividade física, na
da TPH permanece significativamente sunto, é de se supor que também sejam pista de dança, por exemplo, ausen-
reduzida 1 semana após sua adminis- realizadas maiores apreensões. tar-se do local algumas vezes du-
tração, o que indica a irreversibilidade É fundamental a capacitação de pro- rante a noite para relaxar. A maio-
da desativação da TPH pela MDMA, fissionais de saúde para intervenções ria dos clubes têm, atualmente, um
de forma que seu restabelecimento de- médicas de emergência em casos de lugar para relaxamento, onde a mú-
pende da síntese de nova enzima (35). intoxicação e complicações do uso. A sica é mais baixa e há ventilação e
Estudos in vitro e in vivo constata- intervenção preventiva primária obje- lugares confortáveis para sentar e
ram que a administração crônica de tiva impedir que dado indivíduo expe- descansar;
MDMA causa diminuição na densi- rimente a droga. Em geral, os progra- • contar a um acompanhante exata-
dade de receptores 5-HT em ratos. Em mas desse tipo têm eficiência limitada mente que drogas foram usadas,
seres humanos também foi observada e encerram-se no momento que o su- pois se houver necessidade de auxí-
diminuição na densidade de recepto- jeito experimenta a droga em questão. lio médico em pronto-socorro, essas
res 5-HT em usuários crônicos de A intervenção secundária é direcio- informações serão muito importan-
MDMA (56). Entretanto, há várias crí- nada a indivíduos que já utilizaram a tes para uma intervenção clínica
ticas a essa pesquisa humana no que droga e tem como objetivo impedir adequada;
diz respeito ao método, tanto em re- que o indivíduo continue a usá-la, ini- • se possível, indagar sobre os efeitos
lação à amostra quanto à técnica em- bindo o abuso e a dependência. No do comprimido que será utilizado a
pregada (57–59). caso do êxtase, essa estratégia também quem já o utilizou, já que a compo-
seria útil, porém tem suas limitações, sição do comprimido é sempre in-
ainda mais quando se trata de uma certa e pode ter efeitos imprevisíveis;
CONCLUSÕES droga com efeitos descritos como tão • evitar ao máximo a mistura de êx-
prazerosos. Outro tipo de intervenção, tase com outras drogas psicotrópi-
Há uma absoluta falta de dados epi- que não exclui as outras, seria a re- cas, em especial álcool, solventes
demiológicos brasileiros sobre o con- dução de dano, em que, uma vez que o voláteis, anfetamina, cocaína e crack;
sumo de êxtase, e não há publicações indivíduo já utiliza determinada droga, • não utilizar êxtase como medicação
sobre seu padrão de uso em nenhuma são fornecidas informações para que, para a depressão usualmente poste-
cidade do Brasil até o presente mo- se ele não puder, não quiser ou não rior ao uso de êxtase;
mento. Nos quatro levantamentos na- conseguir deixar de consumi-la, que o • fazer intervalos entre episódios de
cionais sobre consumo de drogas, rea- faça com menores riscos. consumo, pois quanto maiores os
lizados em 1987, 1989, 1995 e 1997, não Qualquer que seja a opção preven- intervalos, menor a possibilidade de
consta nenhuma questão sobre o êxtase tiva, é preciso ter claro que sempre problemas advindos do uso.
como uma das drogas já utilizadas na haverá indivíduos que irão optar por
vida (60–63). O consumo de êxtase no experimentar êxtase, dos quais alguns Por um lado, os consumidores de
Brasil é, por enquanto, restrito a deter- passarão a usá-lo com alguma freqüê- êxtase são favorecidos pelo risco legal
minado grupo e desconhecido para a ncia. A proibição, a punição e a discri- mínimo do consumo e pela falta de
maior parte da população. Entretanto, minação nunca foram efetivas para o conhecimento da população sobre essa
esse consumo vem provavelmente au- desencorajamento daqueles que escol- nova droga. Por outro lado, o desco-
mentando, podendo acabar por seguir hem usar determinada droga, o que nhecimento da MDMA no Brasil pode
a tendência norte-americana e européia. pode ser evidenciado através de exem- trazer problemas para usuários que
Segundo o Departamento de Inte- plos históricos como a Lei Seca nos Es- tenham que recorrer a intervenções
ligência e Apoio à Polícia (DIAP), di- tados Unidos. Assim, de acordo com a médicas em função de complicações
visão do Departamento de Narcóticos estratégia da redução de dano, é im- clínicas agudas decorrentes do uso. É
(DENARC) do Estado de São Paulo, portante a divulgação de informações importante salientar que ainda há la-
foram apreendidos em São Paulo 1 140 de segurança para aqueles que utili- cunas sobre o mecanismo de ação da
comprimidos de êxtase em 1998, nove zam ou venham a utilizar êxtase: MDMA, sobre a interação da MDMA
comprimidos em 1999 e 613 até junho com outras substâncias, sobre os moti-
de 2000. As apreensões de êxtase • beber líquido com freqüência, mas vos das diferenças nas reações indivi-
podem não estar diretamente relacio- sem exagero; duais à droga e sobre as conseqüências
nadas ao consumo. É possível que a es- • beber não apenas água, mas também do uso a longo prazo. Também é im-
tratificação social do uso de êxtase e sucos de frutas ou bebidas que pos- portante destacar que a ilegalidade é
seu desconhecimento pela maioria da sam repor as perdas eletrolíticas, be- um fator que torna incerta e não fisca-
população determine pouco interesse, bidas com açúcar ou sais minerais; lizada a composição do comprimido
seja da sociedade, seja do governo, por • fazer um intervalo de pelo menos 6 (diga-se de passagem que há páginas
uma repressão mais efetiva. Assim, à horas entre o consumo de compri- na Internet que divulgam como sinte-
medida que cresce o interesse e a vei- midos de MDMA; tizar MDMA). Sínteses caseiras, sem a

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tecnologia adequada, podem levar a usar êxtase comporta sempre, até o primário e secundário que, para serem
substâncias de conseqüências neuro- momento, um certo risco, e nesse sen- efetivas, devem levar em conta as ca-
lógicas perigosas e por vezes irrever- tido seriam adequadas e necessárias racterísticas da população consumi-
síveis. Assim, a opção individual de intervenções preventivas de caráter dora e seu padrão de uso.

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acetylcholine release in brain slices of the Barbosa MTS. O uso de drogas psicotrópicas em versão revisada em 10 de outubro de 2000.

ABSTRACT This review focuses on 3,4-methylenedioxymethamphetamine, an illegal drug known


as “ecstasy.” Ecstasy was introduced in Brazil in 1994. Data are lacking on the epi-
demiology and usage pattern of the drug in Brazil. However, there is evidence that
History, effects, and until now the use of ecstasy has been limited to middle-class or upper-middle-class
mechanisms of action youth, so that most people, including health care professionals, are unfamiliar with
of ecstasy (3,4- the drug. However, ecstasy may be becoming more popular in Brazil, following a pat-
tern seen in North America and Europe. Possibly contributing to the drug’s popular-
methylenedioxymethampheta- ity is the fact that ecstasy is sold as a pill and is thus extremely easy to use. Ecstasy
mine): a literature review has a reputation for not being physically dangerous; however, there are many reports
of adverse reactions associated with the drug. In addition, it is known that not all pills
sold as ecstasy actually contain methylenedioxymethamphetamine. Since there is no
quality control for the pills’ contents, users never know exactly what they are taking.
Thus, although users may perceive the effects of the drug as mostly positive, ecstasy
is potentially dangerous. Primary and secondary interventions are needed to prevent
the use of ecstasy and the occurrence of adverse reactions. To be effective, these mea-
sures must take into consideration the characteristics of the user population and the
usage patterns. It is also essential to prepare health professionals for emergency med-
ical interventions in cases of intoxication and complications resulting from the use of
ecstasy.

402 Almeida e Silva • Histórico, efeitos e mecanismo de ação do êxtase

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