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Dedico este trabalho a duas pessoas muito importantes
para mim, que me deram todo o apoio necessário para eu
conseguir completar esta fase da minha vida e que
sempre estarão ao meu lado ao longo de minha jornada.
Pessoas que me mostram o sentido de viver, dedicando
todo seu o amor e felicidade àqueles que os cercam.
Minha mãe e meu avô, Cristina e Jean Rodopoulos, que
sempre me acolheram, cada qual a sua maneira, quando
sentia que algo me faltava. Definitivamente, são pessoas
muito especiais na minha vida. Mama e Papu: Amo vocês
de todo o coração! Este e qualquer feito que realize só é
possível pois tenho vocês comigo.
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Agradecimentos
Ao Durval Faria que soube como me capacitar para ser uma psicóloga,
de maneira muito agradável e carinhosa, durante as supervisões. Obrigada por
me mostrar a verdadeira atuação do psicólogo e como esta requer muito amor
e atenção.
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antes, inimaginável pra mim. Não esquece que eu te amo muito, de verdade,
pra sempre.
À Júlia Chagas, minha pequena. Obrigada por fazer a minha vida tão
completa e feliz. Ainda não compartilhamos muitos momentos juntas, mas
estive ao seu lado no mais importante deles: o seu nascimento. Obrigada pelos
sorrisos que sempre me animam e que me motivam a seguir em frente. Amo
você, Julieta!
Ao Dexter, meu amigo fiel, pela companhia que me fez durante todo este
trabalho, estando ao meu lado, literalmente, na maior parte do tempo.
Obrigada, principalmente, pela alegria que você me traz mesmo sem dizer
nenhuma palavra.
A todos os meus amigos por estarem sempre ao meu lado. Obrigada por
tornarem minha vida mais feliz e amada. Sempre terei vocês em meu coração.
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She
May be the face I can't forget
A trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay
She may be the song that summer sings
May be the chill that autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day
She
May be the beauty or the beast
May be the famine or the feast
May turn each day into a heaven or a hell
She may be the mirror of my dreams
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell
She
May be the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I'll care for through the rough and ready years
Me I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is
(Elvis Prestis)
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Área de conhecimento: 7.07.00.00-1
O homem contemporâneo e a busca do Graal: a importância do divino em sua
vida sob o olhar da Psicologia Analítica
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Flávia Hime
Palavras-chave: homem contemporâneo, divino, Graal
RESUMO
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Sumário
2. O desenvolvimento da consciência....................................................................... 42
2.1 – O surgimento da consciência............................................................................ 42
2.2 – A consciência e o reinado do Deus-único ...................................................... 52
2.3 – A morte do Divino ............................................................................................... 62
3. Método ....................................................................................................................... 68
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Introdução:
Quando precisei escolher um tema para meu trabalho não foi necessário
pensar muito a respeito. Já tinha em mente que a minha pesquisa seria sobre
religião. A religião sempre foi um tema que me interessou, já que, apesar de
ser algo em que muitas pessoas acreditam e que seguem, por meio de
práticas, sempre tive minhas incertezas e críticas a seu respeito. Ao falar do
tema, apesar de não me considerar uma pessoa religiosa, sempre me sinto
tocada e me questiono a refletir a respeito.
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Ele acreditava que as mudanças do mundo moderno estariam distanciando o
homem de suas raízes religiosas.
Jung (2007) observou que a religião tem grande importância na vida dos
Homens, apontando a existência de uma função religiosa no inconsciente e do
simbolismo religioso em seus processos. Segundo ele, em “Psicologia e
religião” (2007), se o indivíduo renega sua dimensão superior e bloqueia seus
impulsos espirituais, instala-se nele um estado de ansiedade e nihilismo,
podendo ter como conseqüência a perda do significado da vida. De acordo com
Russo (2001) é a ansiedade que aparece no homem moderno que necessita
de algo para encontrar respostas para suas questões existenciais e é por esse
motivo que hoje a fé tornou-se muito procurada por todos, para minimizar a
solidão e diminuir o vazio existencial que o homem enfrenta. Aqueles que
possuem fé dão um sentido maior à vida e aqueles que não possuem levam a
vida em um sentido mais restrito e tudo deve ser provado. Neste último caso
fica mais difícil para o sujeito atribuir um significado a sua vida e, por este
motivo, a busca de sua felicidade depende muito mais do que lhe é externo do
que de si mesmo. Este é um aspecto fundamental para esta pesquisa, já que,
como veremos adiante, o grande problema da vida do homem moderno é a
falta de sentido das coisas, a falta do divino em suas vidas.
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da psicologia analítica o conceito de Deus é substituído pelo de Self, que tem
como qualidade integrar todas as coisas. A aceitação de que existe um Deus,
um Self, em cada indivíduo, traz diversas críticas ao pensamento junguiano.
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“Parsifal em busca do Santo Graal", Ferdinand Leeke
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TEORIA DA PSICOLOGIA ANALÍTICA
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1. Pressupostos teóricos da Psicologia Analítica
Apesar de Jung estar mais interessado em conhecer aquilo que não era
consciente, ele descreveu e explicou a consciência, atribuindo valor social ao
ego, descrevendo suas funções e apontando a importância da consciência para
a vida humana.
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Alguns conteúdos refletem no ego e tornam-se conscientes; por outro
lado, outros permanecem inconscientes temporária ou permanentemente.
Desta maneira, o inconsciente não é apenas o desconhecido, mas inclui
aqueles conteúdos que se encontram fora da consciência. Já a consciência é
ampla e abrange outros conteúdos além do ego. Ela é “muito simplesmente, o
estado de conhecimento e entendimento de eventos externos e internos”
(Stein, 2006, p. 24). Portanto, é atenta ao que acontece ao redor e dentro do
indivíduo.
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pela retenção de conteúdos na consciência deixando de os
refletir” (Stein, 2006, p. 25).
Por volta dos dois anos uma criança é capaz de dizer “eu”, ou seja, de
ter consciência de si mesma. Esse é um grande passo para a consciência, mas
não significa que seja o nascimento do ego, pois ele já existia antes mesmo
deste reconhecimento. Stein (2006) afirma que “o processo de aquisição da
consciência de si mesmo passa por muitas etapas desde a infância até a idade
adulta” (Stein, 2006, p.29). O reconhecimento de si mesmo, de um mundo
pessoal, e o desenvolvimento de um ego reflexivo é o que difere a consciência
humana da consciência animal. Essa função reflexiva permite ao individuo
saber quem ele é.
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no soma psíquico, isto é, numa imagem do corpo, e não no
corpo per se. Portanto, o ego é essencialmente um fator
psíquico” (Stein, 2006, p. 31).
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1.2 – Complexos
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pensamentos – gera uma perturbação na consciência. Os
indicadores de complexo são sinais de perturbação” (Stein,
2006, p. 43).
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energia e manifestam uma espécie de ‘rodopio’ eletrônico
próprio como os elétrons que rodeiam o núcleo do átomo.
Quando são estimulados por uma situação ou evento, soltam
uma rajada de energia e pulam sucessivos níveis até
chegarem à consciência. Essa energia penetra na concha da
consciência do ego e inunda-a, influenciando-a assim para
rodopiar na mesma direção e descarregar parte da energia
emocional que foi liberada por essa colisão. Quando isso
acontece, o ego perde por completo o controle da
consciência ou, quanto a isso, o do próprio corpo. A pessoa
fica sujeita a descargas de energia que não estão sob o
controle do ego o que o ego pode fazer, se for
suficientemente forte, é conter em si mesmo parte da
energia do complexo e minimizar assim os súbitos impulsos
emocionais e físicos” (Stein, 2006, p. 47).
Por este motivo, não somos totalmente responsáveis por tudo que
dizemos ou fazemos. A psique é muito complexa, possuindo diversos centros,
cada um com sua energia própria e, algumas vezes, intenções próprias. Com
freqüência, ego e complexo conflitam-se devido aos seus propósitos.
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induzidos pela família não desaparecem, sendo que o materno e o paterno
continuam dominando o inconsciente pessoal.
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individual. Ou seja, quando precisamos negar alguns de nossos sentimentos
para sobreviver.
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1.3 – Instintos, arquétipos e inconsciente coletivo
Ao falar sobre instintos, Stein (2006) questiona até que ponto estes
influenciam nossos comportamentos, já que possuímos um ego que controla as
nossas vontades. Com isso, ele diz que para Jung o aspecto instintivo
determina muito menos o comportamento humano comparado a outras
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espécies. Os homens são influenciados por questões fisiológicas, distintas da
psique.
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identificação com imagens e energias arquetípicas constitui
a definição de Jung de inflação e até, em última instância,
psicose” (Stein, 2006, p. 94).
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1.4 – Persona e sombra
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estratégia do ego impede que o indivíduo adquira o conhecimento de seus
aspectos sombrios para que, assim, os integre na consciência.
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dois papéis: o de marido e o de trabalhador, que requerem duas atitudes
distintas. Com isso, temos uma persona funcional que usamos no dia-a-dia e
não nos identificamos com ela.
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raízes, movimenta-se na direção oposta, no sentido do relacionamento e
adaptação ao mundo dos objetos” (Stein, 2006, p. 107). Este desejo do ego de
separação, de autonomia, é visto na sociedade como um aspecto da sombra.
Deste modo, a persona ganha seu espaço para influenciar e, assim,
predominar, passando a ser a apresentação do indivíduo no mundo. Porém,
este conflito gera ansiedade do ego.
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1.5 – Anima e Animus
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Por este motivo, há o risco de possessão de anima/us, que se
caracteriza por uma personalidade que não equivale nem ao ego e nem à
persona desejada. Neste caso, o mundo interior não é totalmente reprimido e
suas emoções e irracionalidade perturbam e distorcem as relações do indivíduo
com a vida em geral. “Não existe o menor domínio sobre pensamentos ou
afeto. Isto é também um problema de ego” (Stein, 2006, p. 121). Isto porque tal
ego não deve ser capaz de conter e preservar os conteúdos que, através de
reflexão, fluem para a consciência e tornam-se ações verbais ou físicas. Como
também pode ser o caso de uma anima/us inadequada para executar seu
trabalho. Isto acontece pois em nossa cultura não damos a devida atenção ao
nosso mundo interior. Só procuramos o desenvolvimento deste em situações
de urgência, como no caso da possessão da anima/us, que atrapalham a
nossa vida.
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articuladas, tornam-se mais diferenciadas. São traçadas
linhas divisórias, distinções são feitas, a clareza é, enfim,
obtida. O que começou como um confronto altamente
emocional converte-se num relacionamento consciente entre
duas personalidades muito diferentes. Talvez um acordo
seja alcançado, um contrato redigido e assinado” (Stein,
2006, p. 130).
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1.6 – Self
Outra característica do Self para Jung, segundo Stein (2006), é que ele
representa a imagem de Deus em cada um dos homens. O Self “governa” a
psique, sendo sua autoridade superior. Esta visão de unidade e totalidade
característica da função do Self não se distingue, para Jung, da imagem de
Deus. Este é o motivo de Jung ser criticado por alguns teólogos.
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O conceito de Self nos oferece uma melhor explicação para alguns
mistérios da psique. Podemos concluir a definição deste conceito com a
seguinte fala de Stein (2006):
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1.7 – O processo de individuação
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na conta de alguém que viveu uma vida social e coletivamente bem-sucedida,
embora superficial” (Stein, 2006, p. 157).
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1.8 – A função do mito
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“O que é um mito? A definição de dicionário seria:
História sobre deuses. Isso obriga a fazer a pergunta
seguinte: Que é um deus? Um deus é a personificação de
um poder motivador ou de um sistema de valores que
funciona para a vida humana e para o universo – os poderes
do seu próprio corpo e da natureza. Os mitos são metáforas
da potencialidade espiritual do ser humano, e os mesmos
poderes que animam nossa vida animam a vida do mundo.
Mas há também mitos e deuses que tem a ver com
sociedades especificas ou com deidades tutelares da
sociedade. Em outras palavras, há duas espécies totalmente
diferentes de mitologia. Há a mitologia que relaciona você
com sua própria natureza e com o mundo natural, de que
você é parte. E há a mitologia estritamente sociológica, que
liga você a uma sociedade em particular. Você não é apenas
um homem natural, é membro de um grupo particular”
(Campbell, 2007, p. 24).
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“A mitologia tem muito a ver com os estágios da
vida, as cerimônias de iniciação, quando você passa da
infância para as responsabilidades do adulto, da condição de
solteiro para a de casado. Todos esses rituais são ritos
mitológicos. Todos têm a ver com o novo papel que você
passa a desempenhar, com o processo de atirar fora o que é
velho para voltar com o novo, assumindo uma função
responsável” (Campbell, 2007, p. 12).
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Seus temas arquetípicos lhe conferem forma e significação.
Distanciar-se do significado, perder o contato com a
estruturação arquetípica, significa desintegração” (Whitmont,
1991, p. 48).
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O DIVINO E A EVOLUÇÃO DA CONSCIÊNCIA
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2. O desenvolvimento da consciência
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referentes ao arquétipo da Grande Deusa, já que o ego ainda estava muito
imerso no inconsciente. Segundo Neumann (2000), essa fase é chamada de
ciclo matriarcal quando consciência e inconsciente estão muito próximos,
predominando as atividades do inconsciente. Este período se estende desde a
Idade da Pedra até a Idade do Bronze. Segundo Whitmont (1991):
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mulheres sobre os homens; o que existia era a atuação do coletivo com a
valorização do feminino e das mulheres.
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regressão ao primitivo, ou seja, a um nível superado e, portanto, inferior. Deste
modo, o arquétipo da Deusa ressurgirá, sem que haja um retrocesso, mas sim
uma nova interação, para nos guiar a níveis mais elevados do desenvolvimento
humano.
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violação dos costumes, sendo que esta, diferente do nível mágico onde o
isolamento ameaçava sua própria vida, sente vergonha pelos seus atos,
perdendo sua dignidade.
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banidos com o surgimento da era mental. Deste modo, as realidades mágica e
mitológica ficam cada vez mais distantes, sendo estas recuperadas pela
capacidade do homem moderno de ter vivências simbólicas.
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medida; esta vontade tem um propósito egóico de permanência e conforto e,
ao mesmo tempo, de controlar seus impulsos, sendo contra a vontade da
natureza.
A alma perdeu seu sentido por não ser espacial e costuma ser vista
como superstição e sentimentalismo. O dualismo característico desta era não
vê ligação entre o mundo subjetivo dos pensamentos e o mundo externo
objetivo. O pensamento não tem efeito sobre uma ação física direta por ser um
produto da mente, do cérebro. Deus também passa a ser abstrato e o divino,
que antes estava presente no objeto, torna-se pensamento. Assim, Deus é
entendido como um meio de diminuir a ansiedade ou de exercer certo controle.
A energia toma o seu lugar, sendo a capacidade trabalhar e surtir efeito; com
ela o homem trará ordem a um mundo de causas sem sentido que poderia
acabar em caos. A fase anterior foi associada à desordem, já que neste
período as polaridades mantinham a ordem e a cultura ganhou espaço. O
indivíduo passa a se ver superior à natureza, se separando da divindade e do
caráter sagrado do mundo. O Deus da fase patriarcal é a Ciência. As
representações simbólicas desse período são referentes ao arquétipo do Pai.
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“Nossa visão de mundo científica, os padrões morais
defendidos pela consciência coletiva, nossas metas pessoais
baseadas nesses valores, nascem de racionalizações e de
codificações dos períodos precedentes. O mito, as aspirações
poéticas, fábulas e fantasias de ontem tornam-se elementos
racionalizados no fato histórico, espacial e visíveis de hoje”
(Whitmont, 1991, p. 92).
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de uma sobre a outra em uma composição nova, diferenciada do que vimos até
o presente.
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“A Última Ceia” – Leonardo Da Vinci, 1495-1497.
2.2 – A consciência e o reinado do Deus único
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O reinado egóico resultou num monoteísmo, acabando com a
pluralidade de forças, poderes e personalidades características das visões de
mundo mágica e mitológica. Deste modo, determinou-se a imposição do ego de
fazer suas vontades para defender e incentivar a ficção de ser o regente
supremo da totalidade psíquica. Como Whitmont (1991) afirma:
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A obediência individual em relação a padrões coletivos de valor e
conduta é definida pela auto-responsabilidade, já que as regras e tabus ainda
estão extrínsecos ao indivíduo e, em grande parte, são contra sentimentos e
impulsos pessoais. Os padrões de certo e errado são defendidos e postos em
prática por um sistema onde existem penas, humilhações e o uso de bodes
expiatórios.
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Os fundamentos que determinam a nova era mental, e pelos quais ela
se desenvolve, são a idéia da lei e o mito do legislador. Tudo deve ser baseado
em regras, sendo que a lei deve ser obedecida pelo homem que se a
desconsiderar será punido e terá sentimento de culpa. A relação causa-efeito
deve explicar todos os problemas. Deus, apesar de ser proclamado como
amor, é conhecido como o vingador das desobediências, pois é a fonte do “tu
deves”, e o amor é imposto pela vontade. Para que haja disciplina e obediência
às regras é necessário que necessidades, como agredir, e ânsias espontâneas,
como a ânsia sexual, sejam reprimidas e temidas. Esses são aspectos da
Deusa, que passam a ser poderes do Diabo, causando sentimento de culpa
naquele que possui tais desejos.
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ciúme e a compulsão para dominar e conquistar são as
marcas registradas do ego patriarcal” (Whitmont, 1991,
p.104).
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para outra fase enquanto esta não tiver sido satisfatoriamente atingida, ou seja,
enquanto autodisciplina, percepção e controle do ego não tiverem sido
alcançados pelo indivíduo. “Primeiro precisamos aprender a atuar e a viver
como membros obedientes de um Estado e de uma comunidade, para depois
podermos nos mover no sentido de admitirmos a diretriz que vem do Self
enquanto centro que dirige diretamente a psique individual” (Whitmont, 1991, p.
107).
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mal por uma força diferente postularia a existência de um
antideus de mesma estatura, o mal não pode existir. Assim,
só pode representar a diminuição do bem universal, pela
fragilidade e pela desobediência humanas” (Whitmont, 1991,
p. 109).
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atuando no inconsciente. Por este motivo, ou seja, já que não se pode odiar o
próximo, este sentimento agressivo é transferido para os inimigos e hereges
que podem ser combatidos e destruídos em nome da bondade. Whitmont
(1991) acredita que atualmente esta dinâmica é ameaçadora:
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meramente obedecidas, são deveres e autonegação, e a fé que antes atribuída
ao “Assim disse o Senhor” hoje foi transferida para a ciência.
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“José de Arimathea colhe o sangue de
Cristo no copo da comunhão, o Santo
Graal” – Franz Stassen
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2.3 – A morte do divino
Essa falta de sentido do homem se deve ao fato dele não ter acesso ao
sagrado, como acontecia no tempo mágico; o contexto religioso em que
vivemos explica isso. No decálogo percebemos uma divindade, moldada por
Deus, alheia ao homem, isto é, ele seria incapaz de esculpir uma imagem
semelhante. Esta divindade devia ser exclusivamente adorada e tudo aquilo
que fazia parte da natureza tornou-se maligno, além da imaginação simbólica
ter sido eliminada. O reino da Deusa era a projeção do mal e, por ser o reino do
Diabo, deveria ser dominado pela parte divina do homem. “Em nome de um
sentimento independente de personalidade, o homem precisou obedecer à
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ordem de uma única entidade patriarcal, que diz ‘eu sou o que sou’,
esquecendo a força da realidade unitária e todo-abrangente (...) A humanidade
teve que fazer a terra submeter-se e servir ao eu” (Whitmont, 1991, p. 118).
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útil; além de sempre estarmos poupando ou matando o tempo, dependendo de
nossa vontade.
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implacavelmente para nossas falhas, assim como para as
deficiências de nossos semelhantes” (Whitmont, 1991, p. 120)
O homem não tem poder sobre o Estado. O grupo torna-se uma ameaça
aos direitos individuais e não satisfaz as necessidades individuais. Esse
isolamento faz com que o ego lute para atingir metas e objetivos, ou seja, para
criar algo que lhe seja próprio e que tenha significado a ele. Com isso, o ego
estará deixando sua marca no mundo, cumprindo sua história ou sua missão,
adquirindo um aparente senso de liberdade que implica em responsabilidade e
culpa pelos próprios atos de missão e de delegação.
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O Deus masculino faz exigências aos homens e desconsidera a mulher,
o feminino. O indivíduo encara esse Deus, mas não consegue encontrá-lo.
Desta maneira, ele exerce sua vontade para tentar provar seu valor pessoal e
quer transformar o mundo em um lugar melhor para se viver, eliminando
aspectos aparentemente negativos, mas que fazem parte da condição humana
como, por exemplo, infelicidade, pobreza, doenças e até a morte. Essa
tendência aparece na ética do trabalho, que deu origem ao industrialismo, onde
o bem-estar do homem e seu objetivo de vida baseiam-se na conquista do
mundo dos objetos. Portanto, é a produção do indivíduo que dá valor a sua
vida. “O sucesso material é a recompensa e o sinal de superioridade moral.
Com o tempo, o produto nacional bruto passa a ser a garantia do bem-estar
social e humano, independentemente das necessidades e da devastação
ecológica” (Whitmont, 1991, p. 122).
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Ilustração da Tábula Redonda e do Santo
Graal, extraído de um manuscrito de “Lancelot-
Grail” escrito por Michel Gantelet, 1470
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3. Método
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dos dados, que deve estar envolvido, mas, ao mesmo
tempo, manter um certo distanciamento, fator que lhe
permite, posteriormente, refletir sobre o que ouviu. Nesse
sentido, o pesquisador é co-participante e tem
responsabilidade pelo material produzido” (Tognini, 2007,
p.132).
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4. O mito do Graal
O rei foi ferido durante sua adolescência, quando, certo dia, vagando
pelos bosques, encontrou um acampamento abandonado. Nele havia um
salmão sendo assado no espeto. Faminto, serviu-se de um pedaço do peixe,
sem perceber que este estava muito quente. Ao fazê-lo, queimou seriamente
os dedos, deixando o pedaço de peixe cair e levando os dedos à boca para
aliviar a dor. Com isso, pode sentir o gosto do peixe, um gosto de que jamais
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se esquecera. Passou então a ser conhecido como o Rei Pescador, por ter sido
ferido por um peixe. Outra versão da mesma história diz que o jovem Rei
Pescador saiu em busca de satisfazer sua paixão. Nessa procura, encontra
outro cavaleiro que, após ter uma visão da Cruz Verdadeira, saiu para
encontrar uma manifestação desta. Os dois, como bons cavaleiros,
prepararam-se para competir. O choque entre eles foi tão violento que o
cavaleiro foi morto e o Rei Pescador foi ferido na coxa, o que arruinou seu
reino.
O Rei Pescador é transportado numa liteira e, para onde quer que vá,
está sempre gemendo e gritando em seu desespero. Às vezes, porém,
consegue pescar e esses são os únicos momentos em que se sente feliz e
aliviado de sua dor.
Um menino, natural do país de Gales cujo lugar era impensável para ser
o berço de um herói, era tão insignificante que não tinha nem nome. Referir-
nos-emos a este ingênuo e tolo como Parsifal, já que mais tarde este se torna
seu nome.
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Parsifal vive com sua mãe viúva, que se chama Dor de Coração, sem
conhecer e sem nada saber a respeito de seu pai e seus irmãos. Cresceu em
circunstâncias primitivas, na mais completa ignorância, usando roupas
grosseiras tecidas em casa e não faz perguntas. É um jovem simples e
ingênuo.
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de adoração. Vendo a mesa posta e supondo tratar-se do alimento da Igreja de
Deus, pôs-se a comer, achando que a vida era muito agradável, já que tudo
que sua mãe havia lhe dito estava acontecendo naquele momento. A donzela,
que estava esperando com aquele belo banquete seu amado cavaleiro, dá-se
conta que está na presença de um ser extraordinário. Não se zanga com ele
por perceber que era realmente santo, simples e singelo, mas implora a
Parsifal que se vá, pois se o seu cavaleiro o encontrasse ali, certamente o
mataria. Parsifal sai da tenda, achando que tudo estava acontecendo na mais
perfeita ordem. Afinal, havia encontrado a Igreja de Deus, uma bela donzela,
cujo anel ele agora usa, e fora bem alimentado.
73
“Parsifal despede-se de sua mãe”,
parede pintada provavelmente por
Ferdinand Piloty ou A. Spiess,
Castelo Neuscwanstein, Bavária,
1883/84
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jovem por sua ingenuidade, suas roupas e pela espontaneidade da pergunta.
Diz-lhe que ser cavaleiro era uma honra conquistada depois de demonstrar
muito valor e nobres trabalhos. Porém, Parsifal insiste na pergunta até que é
levado à presença do Rei Arthur. O rei é um homem bom e não caçoa do
jovem, mas conta-lhe que ele precisa aprender muito e necessitaria exercitar
todas as artes da Cavalaria, ou seja, a batalha e a cortesania, antes de sua
sagração.
Naquela corte vivia uma donzela que, por algum problema, não ria havia
seis anos. Havia uma velha lenda que dizia que quando ali chegasse o melhor
cavaleiro do mundo, ela explodiria em risos e gargalhadas. Quando a jovem vê
Parsifal, desata a rir, fato que muito impressiona a corte, pois ele era apenas
um jovem ingênuo, mas que, segundo a lenda, aparentava ser o melhor
cavaleiro do mundo. Todos, após presenciarem as gargalhadas da donzela,
começam a levar Parsifal a sério e o Rei Arthur, então, sagra o jovem cavaleiro.
Um camareiro do rei revolta-se com tal fato e empurra o jovem contra uma
lareira; em seguida, esbofeteia a donzela que ri. Parsifal, furioso, jura vingança
pela jovem insultada e faz um pedido ao rei: gostaria de ter a armadura e o
cavalo do Cavaleiro Vermelho. O rei ri com tal pedido, mas cede a Parsifal,
permitindo que ele tenha tais itens desde que os consiga por si próprio.
75
“Parsifal luta com o Cavaleiro
Vermelho”, parede pintada
provavelmente por Ferdinand
Piloty ou A. Spiess, Castelo
Neuscwanstein, Bavária, 1883/84
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ajuda o jovem com as fivelas e fechos complicados para ele. Além disso, ele o
adverte que suas roupas não ficavam bem para um cavaleiro, mas Parsifal
ignora o conselho e mantém a roupa tecida pela mãe por baixo da armadura. O
jovem monta no cavalo e segue viagem. Uma observação: apesar de conseguir
fazer com que o cavalo andasse, ninguém havia ensinado-o a fazê-lo frear.
Parsifal e o cavalo andaram o dia inteiro, até que por exaustão o animal
resolvesse parar.
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Depois de deixar o castelo, Parsifal passa o dia todo viajando em sua
heróica busca. Ao cair da noite, pergunta para um viajante se por ali havia
algum alojamento ou taverna onde pudesse passar a noite e descobre que a
habitação mais próxima estava a cinqüenta quilômetros dali. Um pouco mais
adiante, encontra em um lago um homem em seu barco pescando e lhe faz a
mesma pergunta. O homem, que era o Rei Pescador, convida o jovem a passar
a noite em sua moradia: “Desce pela estrada, há um caminho, vira à esquerda
e cruza a ponte levadiça”. Parsifal segue as instruções e assim que atinge a
ponte ela começa a erguer-se, chegando a tocar as patas traseiras de seu
cavalo, antes de fechar-se rapidamente.
Uma sobrinha do rei traz uma espada que ele prende na cintura de
Parsifal e esta o acompanhará pelo resto de sua vida. O jovem fica sem
palavras perante o presente e pelo resto da noite se surpreende com cada
acontecimento que presencia. Esse jovem e inexperiente rapaz do campo está
maravilhado com as solenes cerimônias do castelo, especialmente com a
magia do Graal.
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“Parsifal encontra com o Rei
Pescador”, parede pintada
provavelmente por Ferdinand
Piloty ou A. Spiess, Castelo
Neuscwanstein, Bavária, 1883/84
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lembra-se da recomendação de Gournamond, como também se recordava da
instrução de sua mãe que não deveria fazer muitas perguntas. O conselho da
mãe prevalece e ele fica mudo diante do esplendor do Castelo do Graal.
Havia uma lenda que circulava pelo reino que dizia que no dia em que
por lá aparecesse um jovem tolo e ingênuo e fizesse uma pergunta ao Graal,
as feridas do Rei Pescador cicatrizariam. Todos no castelo, exceto Parsifal,
sabiam desta lenda e esperavam do jovem, que possuía os atributos
esperados, que formulasse a pergunta. Mas ele não o faz e, em pouco tempo,
o rei é conduzido a seu aposento, gemendo e lamentando-se, e o jovem é
escoltado por quatro pajens ao seu quarto.
80
Mais tarde, o jovem também encontra a donzela da tenda chorando, pois
estava sofrendo e sendo maltratada por seu cavaleiro, desde a visita de
Parsifal. Esta, como a donzela encontrada antes, reprime o jovem por sua
atitude no castelo. E adverte-o de que a espada que lhe foi dada no Castelo do
Graal quebrar-se-á na primeira vez em que for usada e que só poderá ser
soldada pelo armeiro que a fez. Depois disso, jamais tornará a partir-se.
81
“Parsifal com o eremita da
floresta”, parede pintada
provavelmente por Ferdinand
Piloty ou A. Spiess, Castelo
Neuscwanstein, Bavária, 1883/84
82
Parsifal passa por muitos outros episódios. Em algumas versões, viaja
por vinte anos. Neste transcurso, se torna amargo e desiludido. Distancia-se
cada vez mais de sua amada Branca Flor. Chega a esquecer o porquê está
usando a espada em sua jornada. Vence cavaleiros sem saber a razão,
sentindo cada vez menos alegria e menos compreensão.
Certo dia, depara-se com alguns peregrinos que lhe perguntam o motivo
de estar armado numa Sexta-feira Santa e pedem para que ele os acompanhe
até o eremita da floresta para se confessar na preparação do Domingo de
Páscoa. De repente, Parsifal dá-se conta de sua situação. Recorda-se do que
sua mãe havia lhe ensinado sobre a Igreja. Lembra-se de branca Flor, do
Castelo do Graal e é atingido pela nostalgia. Cheio de remorso, acompanha-os
até um eremita, para a confissão.
83
5. Análise e Discussão do mito
84
Ilustração acompanhando a história do Graal,
“L’Estoire du Graal”, início do século XIV
85
Podemos perceber neste mito a tendência à irracionalidade e o
simbolismo do “país do além”. Além disso, é evidente a presença do feminino.
Em conjunto, esses elementos expressam a reanimação do inconsciente em
épocas dominadas pela cultura da religião. O “país do além” é um traço do
mundo das idéias célticas. Além de ser morada dos mortos, também é um país
dos vivos. “É um país isento de doenças e de morte, no qual os homens vivem
ao lado de seres semelhantes a deuses, saboreiam deliciosos pratos e bebidas
e ouvem música maravilhosa. Como, no entanto a humanidade perdeu esse
país, é menor o número de eleitos que ainda podem encontrar o caminho que
leva a ele” (Franz, 1980, p. 17). Podemos assemelhar este país ao Jardim do
Éden. Da mesma maneira que fomos expulsos do paraíso e não temos acesso
a ele, não é fácil entrar no país do além. Este país, no mito, aparece como o
reino do Graal, governado pelo Rei do Graal.
86
donzelas choram. Todo o país e seu povo estão em
desolação e sofrimento devido ao ferimento do rei.
87
governante. Sociedades primitivas, segundo Johnson (1993), ainda hoje
executam seu rei se este for incapaz de gerar descendência. “A crença é de
que o reino não vai prosperar sob um rei fraco ou enfermiço” (Johnson, 1993,
p. 14). Há aqui a sugestão de uma consciência matriarcal operando, quando
não se dissocia parte e todo. Se a parte, o rei, está enferma, toda a
comunidade adoecerá.
88
Expõe também como a imagem de Deus – que centraliza e
domina a da consciência – necessita ser renovada, de
tempos em tempos, porque a dominante da consciência só
pode estar ‘certa’, quando corresponde às exigências do
consciente e do inconsciente. É que só desse modo ela pode
coordenar as suas tendências antagônicas numa unidade.
Quando, porém, a dominante é fraca ou incompleta demais,
‘a vida se consome num conflito infecundo’. Mas, quando a
velha atitude de consciência se renova pelo aprofundamento
no inconsciente, surge deste um novo símbolo de
integridade, que se comporta diante do velho rei, assumindo
a mesma posição de filho” (Franz, 1980, p. 142).
89
esta definição podemos sugerir que o rei se queimou ao ter seu primeiro
contato com o divino.
90
“Parece que o Rei do Graal tinha sido ‘atingido’ por
um impulso surgido do inconsciente e com o qual não soube
se defrontar... Este impulso vem da camada pagã da alma,
ou seja, de um adversário escuro por trás do qual o próprio
Deus parece estar. Enquanto esse impulso inconsciente não
se efetuar no consciente, o sofrimento do rei continua”
(Franz, 1980, p. 67).
91
“Potencialmente existem três estágios no
desenvolvimento psicológico do homem. O padrão
arquetípico é aquele em que um ser passa da perfeição
inconsciente da infância para a imperfeição consciente da
meia-idade para, depois, atingir a perfeição consciente da
velhice. Assim, o ser caminha partindo de uma plenitude
ingênua, na qual o mundo interior e exterior estão unidos,
para um estágio em que se dá a separação e a diferenciação
entre esses dois mundos, denotando, portanto, a dualidade
da vida, para finalmente, atingir o satori, a iluminação –
quando acontece uma reconciliação consciente do interior
com o exterior, em harmoniosa totalidade” (Johnson, 1993,
p. 18).
92
alienação dos tempos modernos comprova este fato. O homem sente-se
isolado, não percebe o sentido e o significado da vida, não entende sua
existência. Para começar a se relacionar bem, o indivíduo precisa sair desta
situação, precisa voltar a perceber o divino e a importância da vida coletiva do
encontro. “A ferida do Rei Pescador é o carimbo do homem moderno”
(Johnson, 1993, p. 19). Na tentativa de curar esta ferida e inverter sua situação,
o indivíduo satisfaz as vontades do seu ego com coisas supérfluas e, muitas
vezes, faz coisas sem sentido.
O nome “Rei Pescador” surge, já que a ferida do rei foi causada por um
peixe. Podemos perceber que ele é um rei sem nome até então. Era
identificado apenas com o seu papel, sua persona, “rei”. Com a ferida, ele
ganhou uma identidade. Se analisarmos a figura do peixe de outra perspectiva,
ele possui outro significado. “O peixe é ainda símbolo de vida e de
fecundidade, em função de sua prodigiosa faculdade de reprodução e do
número infinito de suas ovas. Símbolo que pode, bem entendido, transferir-se
para o plano espiritual” (Chevalier, 2008, p. 704). Com essa definição, o peixe
ganha um aspecto feminino, já que a mulher é quem representa a fertilidade.
Portanto, o contato do rei com o Divino foi através do feminino. Porém, ele, que
faz parte de uma dinâmica patriarcal, explícita em seu papel hierarquizado, não
estava preparado para admitir o contato e a presença do feminino em seu
consciente e em sua vida. Não podemos esquecer que o peixe vive no mar, na
água. A água possui, também, aspectos femininos (fertilidade) e inconscientes
(submerso/sombrio). “A água é o símbolo das energias inconscientes, das
93
virtudes informes da alma, das motivações secretas e desconhecidas. A água,
símbolo do espírito ainda inconsciente, encerra o conteúdo da alma, que o
pescador se esforça a trazes à superfície e que deverá alimentá-lo. O peixe é
um animal psíquico...” (Chevalier, 2008, p. 22). Pode também simbolizar o
batismo, que possui uma característica de volta às origens para se renovar.
Isto também descreve a alteridade, que exige que o homem tenha contato com
suas origens e, a partir deste, transformar-se em um novo homem. “Mergulhar
nas águas, para delas sair sem se dissolver totalmente, salvo por uma morte
simbólica, é retornar às origens, carregar-se de novo, num imenso reservatório
de energia e nele beber uma força nova” (Chevalier, 2008, p. 15). Portanto, a
simbologia do peixe e da água remete a aspectos femininos como a vida, o
nascimento e renascimento, a transformação, a fertilidade, pureza. “A água se
torna o símbolo da vida espiritual e do Espírito, oferecidos por Deus e muitas
vezes recusado pelos homens” (Chevalier, 2008, p. 17).
94
guardado o Graal, mas não pode tocá-lo nem pode ser
curado por ele.
95
O Graal em si possui alguns significados e, por ter uma importância
universal, pode ser considerado uma idéia arquetípica. “Simboliza a plenitude
interior que os homens sempre buscaram” (Chevalier, 2008, p. 476). Porém,
para se ter acesso ao Graal é necessário ter uma vida interior singular, ou seja,
uma vida espiritual. Esta condição impede o homem moderno de ter acesso a
ele, já que este se mostra mais preocupado com sua condição material que
com as condições espirituais. “As atividades exteriores impedem a
contemplação que seria necessária e desviam o desejo. Ele está perto e não é
visto. É o drama da cegueira diante das realidades espirituais, tanto mais
intensas quando mais se crê na sinceridade da busca” (Chevalier, 2008, p.
476). O desejo do Graal inacessível simboliza a aventura espiritual e a
exigência de interioridade, isto é, do contato com seu interior para se obter o
acesso ao Graal. “A perfeição humana se conquista não a golpes de lança
como um tesouro material, mas por uma transformação radical do espírito e do
coração” (Chevalier, 2008, p. 477). A perda do Graal simboliza a perda da
conexão interna. Desta maneira, para atingirmos a alteridade precisamos
encontrá-lo, já que isto implica na ligação consciente – inconsciente necessária
para a volta do feminino. O Graal é visto como fonte de felicidade e, por isso,
traz consigo a lembrança do estado paradisíaco. Portanto, com o seu encontro
o homem moderno encontrará a felicidade que tanto procura.
96
A palavra Graal determina diversos sentidos e, deste modo, o próprio
Graal se modificou com o tempo. Até mesmo os acontecimentos que o
envolvem variam. Pensando em um dos sentidos da palavra:
97
“Parsifal no Montsalvat, o Castelo
do Graal”, parede pintada
provavelmente por Ferdinand
Piloty ou A. Spiess
98
O bobo da corte profetizara, havia muito tempo,
que o Rei Pescador se curaria quando algum tolo,
absolutamente ingênuo, chegasse à corte. O povo, então,
passou a esperar diariamente pelo bobo ingênuo que um
dia chegaria e curaria seu rei.
Apesar de soar estranho para nós que um tolo curaria a dolorosa ferida
do Rei Pescador, é freqüente em mitos a presença de pessoas inimagináveis
para encontrar a salvação. Essas pessoas não parecem ter poder suficiente
para isso. Podemos identificar nesta “tolice” a parte mais inocente do homem.
Isto sugere que o rei deverá encontrar em seu interior a sua cura, ou seja,
permitir que a parte jovem-tolo que o constitui inconscientemente participe de
sua vida consciente para curá-lo. “Para realmente sarar ele precisará permitir a
entrada em seu consciente de algo completamente diferente dele mesmo, para
que esse algo venha a mudá-lo” (Johnson, 1993, p. 23). Portanto, o mito nos
diz que para que o homem moderno cure sua ferida e caminhe para a
alteridade, ele deve deixar alguns conteúdos inconscientes seus tornarem-se
conscientes, dentre eles os aspectos femininos.
99
que nossa redenção, segundo o mito, vem do lugar menos esperado.
Novamente isso nos faz lembrar que será uma experiência muito humilhante
descobrir qual o caminho para a redenção de nossa sofisticadíssima ferida-Rei-
Pescador” (Johnson, 1993, p. 25). Seria, então, humilhante para os indivíduos
perceberem a importância da mulher e do feminino e se abrirem para eles, pois
seu orgulho é muito grande, e esta nova postura ameaçaria o poder de muitas
pessoas.
100
real, distante de sua mãe. Apesar de ele estar vivendo em um mundo
maravilhoso, paradisíaco, repleto de proteção e felicidade, através da relação
simbiótica com a mãe, ele precisa deixá-lo para amadurecer. “Ter de deixar
este mundo maravilhoso desperta muitas vezes a mais veemente resistência,
porque aquilo que se obtém em troca é quase sempre menos atraente” (Franz,
1980, p. 30). Perceberemos a resistência de Parsifal ao longo do mito.
101
que passam por ele faz a mesma pergunta: “Onde estão
os cinco cavaleiros?”. Recebe diversas respostas, todas as
formas de conselho e vários comentários.
Nesta passagem, percebemos que Parsifal era muito ligado a sua mãe e
que, por só ter contato com ela, com a morte de seu pai, só a tem como
referência. A orfandade paterna do herói é comum em mitos e contos. “Talvez
desse modo, tudo o que predisponha um menino sem pai a tornar-se ‘herói’ se
fortaleça e aumente pelo fato de ele ter de procurar sozinho o seu caminho e
ser obrigado a desenvolver certa autonomia e senso de responsabilidade”
(Franz, 1980, p. 32). Isto nos mostra que Parsifal poderá desenvolver uma
autonomia precoce para tornar-se um herói, ou seja, ele poderia ter facilidade
de ingressar no mundo patriarcal das responsabilidades. Mas veremos que não
parece ser tão fácil para ele livrar-se da imagem, inconsciente, de mãe que ele
tem, isto é, seu complexo materno.
102
diferenciar o que é seu e o que é do outro, no caso, de sua mãe. Deste modo,
ele não precisa agir efetivamente, já que tem tudo que precisa através de sua
mãe. Assim, não tem suas responsabilidades e, por isso, é incapaz de se
relacionar e de se comprometer com as coisas. Para isto, de algum modo, ele
deve evoluir e se separar da mãe, como Parsifal faz ao sair à procura dos
cavaleiros.
103
afinidade com o grupo a que se pertence. “Tal identificação com o grupo de
iguais ajuda o adolescente a emancipar-se dos pais, um passo necessário para
se alcançar a maturidade” (Stein, 2006, 108). Assim, a persona permite que o
ego viva no mundo real. Parsifal se identifica com os cavaleiros e deseja torna-
se um deles. “Tem certeza absoluta de que quer ser cavaleiro. Esse saber e
querer é a primeira manifestação do despertar da consciência de si mesmo e já
se revela aqui – é verdade que, por ora, só na forma de um desejo infantil –
que se revelará como o seu objetivo final e verdadeira vocação” (Franz, 1980,
p. 36). Este despertar da consciência pode representar o início do caminho que
levará Parsifal ao encontro do Self, ou seja, é o processo de individuação, que
poderá levá-lo a atingir a evolução da consciência, isto é, a alteridade. Se o
herói estiver obstinado a atingir seu objetivo, outros fatores de sua vida ficarão
em segundo plano. No mito, Parsifal decide deixar sua mãe instantaneamente
para seguir seu caminho, desconsiderando suas preocupações por ele seguir
os passos de seu pai e de seus irmãos. São cavaleiros como estes que o
homem moderno precisa encontrar para ir atrás do divino, para perceber que
existe algo maior, que existe algo melhor, e que a vida não se trata apenas de
conquistar bens materiais.
104
acontecendo naquele momento. A donzela, que estava
esperando com aquele belo banquete seu amado
cavaleiro, dá-se conta que está na presença de um ser
extraordinário. Não se zanga com ele por perceber que
era realmente santo, simples e singelo, mas implora a
Parsifal que se vá, pois se o seu cavaleiro o encontrasse
ali, certamente o mataria. Parsifal sai da tenda, achando
que tudo estava acontecendo na mais perfeita ordem.
Afinal, havia encontrado a Igreja de Deus, uma bela
donzela, cujo anel ele agora usa, e fora bem alimentado.
Esta foi a primeira donzela que Parsifal encontrou em sua jornada. Esta,
e todas aquelas que ele encontrará, representarão sua anima. O anel tem
como simbologia o elo, a vinculação. Podemos pensar que este anel simboliza
a necessidade de união da anima com o ego para que haja o desenvolvimento
psicológico. A anima é transformadora, é a ponte para que o ego consiga
atingir o inconsciente mais profundo, o Self, e permitir, assim, a realização do
processo de individuação. A simbologia de poder do anel enfatiza esta
capacidade da anima.
105
estava paralisada, semelhante ao reino do Castelo do
Graal. Parsifal não pode restaurá-lo, mas jura voltar para
retirar o encantamento quando se sentir mais forte e
capaz. De fato, um dia ele volta e desfaz o encantamento
que pairava sobre o mosteiro.
106
Ao retornar a sua jornada, depara-se com o
Cavaleiro Vermelho, que acabava de retornar da corte do
Rei Arthur. Este cavaleiro era tão forte que todos da corte
sentiam-se impotentes perto dele. Ele sempre fazia o que
desejava e, no momento do encontro, trazia consigo uma
taça de prata roubada da corte. Parsifal fica maravilhado
com ele, que era uma figura magnífica, e, após o fazer
parar, pergunta-lhe: o que fazer para se tornar um
cavaleiro? O Cavaleiro Vermelho percebe a ingenuidade do
jovem e não lhe faz nenhuma mal; apenas recomenda-lhe
que vá à corte do Rei Arthur para que ele o sagre como
cavaleiro. Apesar de aconselhar o jovem, o cavaleiro
prossegue em seu caminho com uma sonora gargalhada.
107
a corte, pois ele era apenas um jovem ingênuo, mas que,
segundo a lenda, aparentava ser o melhor cavaleiro do
mundo. Todos, após presenciarem as gargalhadas da
donzela, começam a levar Parsifal a sério e o Rei Arthur,
então, sagra o jovem cavaleiro. Um camareiro do rei
revolta-se com tal fato e empurra o jovem contra uma
lareira; em seguida, esbofeteia a donzela que ri. Parsifal,
furioso, jura vingança pela jovem insultada e faz um
pedido ao rei: gostaria de ter a armadura e o cavalo do
Cavaleiro Vermelho. O rei ri com tal pedido, mas cede a
Parsifal, permitindo que ele tenha tais itens desde que os
consiga por si próprio.
O rei Arthur traz uma imagem de superioridade. É uma figura que todos
os cavaleiros desejam alcançar em suas jornadas. “O rei em si encarnava, de
certo modo, o Anthropos, o aspecto da integridade humana idealizada, de
modo amplamente consciente e tornado visível, nesse sentido simbolizando
Arthur também a idéia da totalidade” (Franz, 1980, p. 41). Com esta definição,
o rei pode representar então a evolução da psique humana. Esta evolução
também poderá ser atingida por aqueles que têm como objetivo assemelhar-se
à sua imagem e lutarão para isso. Digo “poderá”, pois esse novo nível de
consciência exige, além da determinação, uma busca espiritual interior, como
vimos ao falarmos do Rei Pescador e do Graal.
108
isso, esta ligação da consciência com a inocência interior faz com que a vida
de dentro do homem floresça.
109
lo frear. Parsifal e o cavalo andaram o dia inteiro, até que
por exaustão o animal resolvesse parar.
110
De qualquer forma, devemos perceber que a força masculina do
Cavaleiro Vermelho é o desejo e a necessidade de que todos os jovens em
desenvolvimento precisam. Assim, a morte física do cavaleiro eleva a confiança
do jovem, que se sente vitorioso por superar um obstáculo, que requeria
grande coragem. “A vitória parece mais doce na presença de outro que perdeu.
Talvez isso seja inerente à masculinidade, mas também pode ser uma fase de
evolução, que um dia será superada” (Johnson, 1993, p. 37). Mais uma vez, o
autor descreve uma característica do patriarcado, porém com a possibilidade
de evolução, isto é, de acesso à alteridade. Com a alteridade, talvez, não será
necessária a vitória, já que o fato de enfrentar o Cavaleiro Vermelho integraria
sua força ao ego do jovem.
111
A dimensão interior desta disputa remete à agressividade. Precisa haver
o domínio desta energia bruta para que o garoto torne-se homem. Desta forma,
ele precisa saber como ser agressivo, já que esta é uma energia necessária e
presente, mas deve ser controlada para estar à disposição do ego, da
consciência. “Deixar-se vencer pela ira e pela violência não é bom sinal, pois
mostra que sua masculinidade ainda não está formada” (Johnson, 1993, p. 38).
Hoje vemos que esta é uma característica presente na humanidade. A
agressividade é valorizada e prova a masculinidade entre os homens e dos
homens em relação às mulheres e crianças. Penso que na evolução do homem
seja necessário o domínio sobre a agressão não como prova de masculinidade,
mas sim, para que seja conscientemente controlada e, desta forma, usada
apenas quando necessário e de uma maneira construtiva e não destrutiva.
112
O fato de Parsifal vestir as armaduras do Cavaleiro Vermelho por cima
das roupas tecidas por sua mãe “significa, por um lado, que ele sente que elas
lhe pertencem essencialmente, mas, por outro lado, significa também que, no
fundo, ele ainda não é o cavaleiro que gostaria de ser e do qual mostra, por
enquanto, apenas a aparência exterior” (Franz, 1980, p. 44). Isto representa a
persona de Parsifal, ou seja, uma característica que não pertence a ele, porém
é aquele que ele deseja mostrar ao mundo externo. Este fato pode ser
justificado pela consciência inicial de Parsifal: ela não percebe sua separação
do ambiente como indivíduo e, com isso, apenas aceita o papel que lhe foi
dado. A persona não pode ser pensada apenas como uma máscara, mas sim,
como algo fundamental à adaptação do homem. “A persona só se torna mera
máscara quando não cumpre mais a sua finalidade, mas passa a encobrir o
vazio ou algo pior ainda e, desse modo, falsifica o ser verdadeiro do homem
em questão” (Franz, 1980, p. 44). Pensando sobre este fato em relação ao
homem moderno, que cada vez mais desenvolve dezenas de papéis, podemos
considerar que a persona pode não estar mais desempenhando seu papel e,
sim, revelando a necessidade do homem esconder quem realmente é, isto é,
talvez o homem perceba suas emoções e sentimentos, mas não deve
demonstrá-los, já que não há espaço para isso no mundo de hoje. Os papéis
do homem não permitem que ele expresse seus aspectos femininos, pois deve
manter essas características em sua sombra e deixar o ego mostrar sua força
masculina.
113
jamais seduzir uma donzela ou deixar-se seduzir por ela,
e deveria sair em busca do Castelo do Graal com todas as
suas forças. Chegando lá, Parsifal deveria fazer a seguinte
pergunta: “A quem serve o Graal?”.
Gournamond parece fazer o papel de pai para Parsifal. Quando ele entra
em sua vida, o jovem consegue tirar a carga do complexo materno,
representado pelas roupas tecidas pela mãe, para tornar-se um adulto. Este é
um importante momento do processo de individuação. Além disso, como já
vimos, o menino tem uma relação muito forte com sua mãe, que parece ser
simbiótica. Este fato também é expresso quando Parsifal sente que sua mãe
está em apuros, já que na relação de simbiose não há discriminação entre as
individualidades.
114
Ao iniciar sua viagem de volta, Parsifal encontra o
castelo de Branca Flor. Ela estava desesperada, pois seu
castelo estava sitiado, e pediu ao jovem que resgatasse
seu reino, prometendo-lhe céus e terras. Parsifal desafia o
segundo homem em comando do exército inimigo em
duelo, vence-o, mas poupa-lhe a vida no último momento,
ordenando-lhe que preste lealdade à corte de Arthur.
Repete o mesmo feito com o primeiro no comando. Após
retirar o cerco do castelo, Parsifal volta e passa a noite
com Branca Flor. Os dois dormiram no mais íntimo dos
abraços; porém, este abraço foi casto, devido aos votos
do cavaleiro de que não seduziria uma donzela.
Branca Flor representa, mais uma vez, a anima de Parsifal. Por esta
personagem ser de grande importância para o herói, refletiremos um pouco
sobre o papel da anima. Esta tem importante papel na jornada do herói, pois o
motiva a seguir em frente, dando-lhe um sentido maior à vida. A anima, como o
próprio nome diz, anima, é a fonte de vida em seu coração. “Vista como sua
feminilidade interior, lá no fundo do coração do homem, ela é o âmago da
inspiração e a que dá sentido às coisas” (Johnson, 1993, p. 44). Não se trata,
portanto, de uma mulher de carne e osso, mas sim, de uma mulher interior. “Na
literatura do Graal, encontram-se muitas figuras femininas que têm o caráter da
anima e devem ser consideradas menos como mulheres reais do que como
figuras da anima que possuem caráter sobre-humano e traços arquetípicos”
(Franz, 1980, p. 50).
115
“Muito de nossa herança espiritual é um mapa ou
conjunto de ensinamentos do mais profundo significado de
nossa vida interior, e não um conjunto de leis dirigidas às
condutas externas. As leis que lidam com essa parte íntima
devem tornar a vida interior significativa. Poucas são as
pessoas que se dão conta dessa diferenciação. E mais:
entender nossos ensinamentos religiosos somente na
dimensão literal é perder sua significação espiritual”
(Johnson, 1993, p. 49).
Com isto, não podemos confundir as leis internas com as externas, caso
contrário, teremos problemas. Na Idade Média, quando o homem começou a
sentir sua anima agindo e a perceber como ela poderia ser perigosa, iniciou-se
a caça as bruxas. Este é um exemplo onde o homem, ao invés de entender e
dominar seu interior, exteriorizou tal fato. As “bruxas”, na verdade, eram
mulheres independentes, mas sábias, sexualmente libertas e donas do saber
relativo à cura pelas plantas, ou viúvas com posses, que atraíam a cobiça dos
homens. Esta caça acontece até hoje com as mulheres modernas, que de
alguma maneira desafiam o poder instituído. Porém, devemos lembrar que a
solução não é queimar a anima, já que esta pode voltar-se contra o homem e
queimá-lo também. “A mulher exterior merece grande respeito e toda a ternura,
mas será profundamente infeliz, e seu relacionamento com o homem não dará
certo, se ele a confundir com a anima” (Johnson, 1993, p. 50). Desta maneira,
se um homem usar exteriormente sua anima, esta não terá eficácia. A anima
torna-se uma roupagem que ele usará para se relacionar com o mundo. Se isto
acontecer o indivíduo é dominado pela anima e por humores que ela acarreta.
É necessário conhecer sua anima, aprender a se relacionar com ela, tê-la
como companhia interior para que, assim, ela lhe traga benefícios. O que o
mito do Graal nos diz é exatamente isto. Parsifal, em seu processo de
individuação, precisa lidar com Branca Flor, ou seja, sua anima, usando-a a
seu favor, não permitindo que esta o seduza, isto é, o use, já que assim ela o
aprisionaria com sua manifestação. “Ou seja, nos termos do mito, seduzir ou
ser seduzido por uma donzela – a anima – faz desaparecer as chances de um
homem chegar ao Graal” (Johnson, 1993, p. 55).
116
O homem moderno muitas vezes se mostra dominado pela sua anima.
Suas características incluem a depressão e a inflação do ego. Pela busca do
sentido da vida, o indivíduo, como já falamos anteriormente, compra
excessivamente, possui tudo que lhe convém. Sente ser necessária a compra
de inúmeros bens para que se sinta feliz. Essa é uma atitude negativa de sua
anima. “Exigir que a felicidade venha do meio em que se vive é o sombrio ato
de seduzir a donzela interior. Isso anuvia o caminho do Graal e tem o mesmo
peso de deixar-se seduzir pela formosa donzela, apesar de ser menos óbvio.
Portanto, mais difícil de ser detectado” (Johnson, 1993, p. 58). Essa euforia da
busca da felicidade que resulta na inflação do ego terá sua compensação, isto
é, a depressão da realidade. A verdadeira felicidade só poderá ser encontrada
se o homem conseguir se posicionar entre, ou seja, no caminho do meio entre
a inflação do ego e a depressão. É ai que se encontra a realidade e o sentido
das coisas. Johnson (1993) descreve a “arte da felicidade: satisfação com
aquilo que é. Sua felicidade é com aquilo que ‘acontece’”. (Johnson, 1993, p.
60). Com isto, percebemos que a felicidade, o sentido da vida, aparecem
quando nos conhecemos e deixamos a vida acontecer. Não podemos deixar
que a anima domine nossa vida, mas caso isso aconteça, devemos saber o
que está ocorrendo, nos conscientizando e, com isso, não deixar que isto tenha
poder sobre nós. A relação entre Parsifal e Branca Flor exemplifica um tipo de
relação perfeita entre o homem e sua anima: eles estão próximos, cada um
alimentando o outro e, assim, trazendo um significado maior à vida.
117
a cor privilegiada desses ritos, através dos quais se operam as mutações do
ser, segundo o esquema clássico de toda iniciação: morte e renascimento”
(Chevalier, 2008, p. 141). Assim, esta cor remete ao estado anterior ao
nascimento, a mudança. A flor pode simbolizar, em algumas culturas, o alcance
do estado espiritual. Além disso, “muitas vezes a flor apresenta-se como figura-
arquétipo da alma, como centro espiritual” (Chevalier, 2008, p. 439). Desta
maneira, a análise simbólica do nome da donzela enfatiza a importância desta
personagem e, assim, da anima, para a vida de Parsifal e de todos os homens.
118
que está dentro de todos nós, mas não estamos preparados para integrá-los a
consciência.
119
no flanco direito de Cristo; outra traz a patena usada na
Última Ceia e uma terceira carrega o Santo Graal. Um
grande banquete é servido e á todos é dado aquilo que
desejam, vindo do Graal. Todos, em exceção o Rei
Pescador, que por causa de sua ferida não poder beber do
Graal.
120
objetivo é a diferenciação do indivíduo da psique coletiva e o desenvolvimento
deste no sentido de uma personalidade individual” (Franz, 1980, p. 63). A
verdadeira personalidade individual aparecerá, posteriormente com a
adaptação, quando houver a união do coletivo com o individual, pois o
indivíduo não é apenas um ser solitário, mas necessita também do
relacionamento com os outros. Este conflito entre o individual e o coletivo na
psique do homem exige uma conscientização. “Por isso, o processo de
individuação é também um processo de conscientização, que anda, por um
lado, de mãos dadas com a discussão entre o indivíduo e o mundo e, por outro,
entre o indivíduo e o seu mundo objetivo interior (o inconsciente)” (Franz, 1980,
p. 63). Com isso, este processo se inicia no início da vida, quando há a
separação do bebê com a mãe, sendo que a conscientização aumenta com o
contato deste com o mundo. Mas é só na segunda metade da vida que ela
passa a ser uma conscientização da individuação. Parsifal ainda não se
encontra neste segundo momento.
121
alcançadas” (Franz, 1980, p. 61). Além disso, para os britânicos ela
representava o símbolo da pátria a ser reconquistada.
Com esta espada, Parsifal ganha sua masculinidade e poder para seguir
sua jornada. “A espada é o símbolo do estado militar e de sua virtude, a
bravura, bem como de sua função, o poderio” (Chevalier, 2008, p. 392). Outro
significado para a espada é a razão, que permite ao homem julgar após
pensar, algo que até então não acontecia com Parsifal. Com isto, podemos
pensar que ela representa outro aspecto adquirido por Parsifal em seu novo
nível de consciência, o patriarcal, diferenciado de sua mãe (que ainda não está
bem estabelecido, como veremos adiante). Além disso, a espada está
associada a luminosidade, que também é símbolo da consciência. Portanto,
este presente é muito importante para qualquer herói seguir em frente.
122
Durante o treinamento de Gournamond, o jovem
aprendera que quando encontrasse o Graal deveria fazer
a seguinte pergunta: “A quem serve o Graal?”. Com esta
pergunta, o reino usufruiria da dádiva do Graal. Parsifal
lembra-se da recomendação de Gournamond, como
também se recordava da instrução de sua mãe de que
não deveria fazer muitas perguntas. O conselho da mãe
prevalece e ele fica mudo diante do esplendor do Castelo
do Graal.
123
Com a pergunta “A quem serve o Graal?” Parsifal é “posto diante do
problema de ter de descobrir de que forma a verdadeira vida da alma da figura
de Cristo continuaria a existir e o que significa” (Franz, 1980, p. 82). A
explicação deste fato é que Cristo seria uma imagem do Self. Deste modo,
Parsifal deve descobrir como fazer com que o Self se manifeste e, com isso,
mantenha vivo o divino, no caso, representado por Cristo. Estas manifestações
interiores causadas pelo contato com o eu interior, levará a uma elevação do
nível da consciência, como veremos adiante. “Se Parsifal tem de solucionar o
enigma do Graal, isso significa então que, na verdade, ele deve se
conscientizar da própria tarefa da sua alma e do seu interior mais amplo”
(Franz, 1980, p. 83). Portanto, assim como o homem moderno, Parsifal deve se
conscientizar da importância de elementos inconscientes.
Este vazio, este nada que aparece no final desta passagem pode
representar o momento em que Parsifal percebeu que lhe faltava algo e, por
isso, decide tentar retornar ao castelo para encontrar o Graal. “O nada, o vazio,
seria, portanto, a condição prévia do nascimento do Self. É que este não está
de antemão já presente de modo perceptível, mas só se manifesta com a
queda violenta da vida vivida” (Franz, 1980, p. 100). Parsifal teve esta queda
violenta: em uma noite estava rodeado de tesouros e belezas e, em seguida,
isto tudo desaparece. Este fato mostra que ele não conseguiu fazer o contato
com o Self, representado pelo Graal (e sabemos que isto não aconteceu, pois
Parsifal não estava preparado para tal, como veremos adiante). O Self não está
pronto dentro de nós. Ele existe como possibilidade e só pode se revelar pela
evolução do processo de individuação. O Self é a integridade psíquica
transcendente da consciência humana. O processo de individuação torna o
Self, pouco a pouco, consciente. Com isso, a integridade da alma, constituída
de partes conscientes e inconscientes da personalidade, entra no campo da
consciência, o que resulta na amplificação e transformação constate deste
campo. Isto acontece pelas experiências cotidianas do homem, desde que se
aplique à consciência de modo correto, ou seja, a manifestação do Self
depende da atitude interior que o indivíduo assume diante das experiências de
sua vida.
124
“Mas, além disso, ocorre também, com muita
freqüência, a vivência numinosa dessa inteireza d’alma, na
qual o eu presencia isso, quase sempre com profunda
emoção, como uma epifania do divino. Por isso, a vivência
do Self não pode ser praticamente distinta de uma vivência
de Deus; significa que as auto-ilustrações do Self,
originárias do inconsciente, coincidem com a imagem de
Deus da maioria das religiões” (Franz, 1980, p. 72).
O mito nos mostra que, de alguma maneira, Parsifal ainda está ligado a
sua mãe. Esta ligação não permite que o herói tenha acesso ao Graal, isto é,
125
ao Self. Ele está dominado pelo complexo materno. Este domínio tem uma
característica regressiva que deseja voltar a dependência da mãe, voltar a
relação simbiótica. “É o desejo de fracassar que está dentro dele mesmo, sua
característica de derrota, sua fascinação subterrânea pela morte ou pela
fatalidade, sua necessidade de ser cuidado. É puro veneno na psicologia do
homem” (Johnson, 1993, p. 78). Portanto, o complexo materno impede que o
homem siga com seu processo de individuação, isto é, a transformação e,
assim, não atinge o Graal.
O fato de ele descobrir quem ele é, seu nome, sua identidade, mostra
uma grande evolução em seu desenvolvimento em relação à consciência. A
identidade só pode ser formada quando não há mais simbiose entre mãe e
filho. Desta maneira, é possível agora que o indivíduo encare suas
responsabilidades, angústias e sofrimentos, já que estas são necessárias para
126
que ele cresça como homem. Esta é a característica principal da era mental da
consciência (Whitmont, 1990).
127
Cristo ou de redentor. Mas, pela sua morte no reino do
Graal, ou seja, no mundo das imagens prefiguradas do
futuro, Parsifal acaba de nascer como homem consciente, no
mundo do aquém, do qual partiu saindo do círculo dos
cavaleiros do rei Arthur; e, mesmo expulso do reino do
Graal, por ser culpado, recebeu algo: a idéia da anima como
figura interna que conduz ao processo de individuação”
(Franz, 1980, p. 133).
128
O herói segue sua jornada e neste caminho encontra alguns desafios e
elementos que o ajudarão a ser mais maduro. Todos os aspectos presentes na
jornada de Parsifal poderiam ser analisados. Porém, não acho que isto seja
necessário em relação ao objetivo deste trabalho. Desta maneira, veremos
estas passagens como representações do processo de individuação do
homem.
129
silenciado diante de toda a corte que, instantes antes, o
colocava nos céus.
130
O que está no mundo do três não é capaz de apreciar os
elementos associados ao número quatro” (Johnson, 1993, p.
90).
131
importância. A evolução da consciência permitirá que nossa personalidade
inclua esses elementos vistos como sombrios até então.
132
A donzela tenebrosa aparece na vida de todo homem bem sucedido,
trazendo-lhe dúvidas e desespero. Parece que quanto maior o poder e a fama
do homem no mundo exterior, menor o sentimento de sucesso e significado da
vida. O indivíduo sente-se fracassado, em dúvida e desespero. No mito,
Parsifal fica desiludido, chegando a não saber mais qual era o objetivo de sua
espada e não compreendendo o sentido das coisas. É esta a característica da
humanidade nos tempos atuais. Apesar de ele dominar a natureza, ter diversos
bens materiais e mostrar riquezas, o homem não encontra sentido em sua vida,
sentindo-se cada vez mais deprimido. Penso que este sentimento causa um
círculo vicioso, pois quanto mais negativo estão os pensamentos do indivíduo,
mais ele sente a necessidade de produzir e de consumir. Se, ao invés de dar
valor aos bens materiais neste momento, ele parasse para refletir, ou seja, para
fazer uma busca interior, as chances de elevar-se a um nível superior de
consciência e, assim, de sentido da vida, seriam muito maiores.
133
sobre a Igreja. Lembra-se de Branca Flor, do Castelo do
Graal e é atingido pela nostalgia. Cheio de remorso,
acompanha-os até um eremita, para a confissão.
Como dizem alguns relatos, citados por Franz (1980), Parsifal passou
muitos anos sem entrar em uma igreja e, portanto, perdera a lembrança de
Deus. Por isso, ele segue os peregrinos até o eremita para se confessar, pois
sente muita culpa e arrependimento. Este realmente lista os erros de Parsifal,
mas enfatiza que ele fez tais coisas inconscientemente, principalmente por
causa de sua mãe. O eremita absolve Parsifal, mas lhe recomenda a
penitência de ir à igreja todos os dias para que se torne honrado e consiga
chegar ao paraíso.
134
A figura do eremita “personifica a tendência à interiorização e ao
desligamento do mundo como primeiro exercício preparatório para a solução
do problema do Graal” (Franz, 1980, p. 163). Com isso, Parsifal deu um passo
importante para o caminho de seu desenvolvimento pessoal. Esta visita ao
eremita representa a transição do cavaleiro egocêntrico para uma
espiritualidade maior que aproxima-o ao Castelo do Graal. O homem moderno
ainda não visitou o eremita, não chegou nesta fase de transição. Está
estagnado no egoísmo. Podemos pensar em Parsifal como o símbolo do
caminho da individuação do homem moderno. Se pensarmos que os mitos nos
dão respostas para nossa era, então, assim como Parsifal, o indivíduo passará
por essa transição e será capaz de encontrar o Graal.
135
salvar o Rei Pescador e seu reino. Esta pergunta implica em descobrir o
significado da vida humana. Sua resposta traduzida, significa que a vida serve
a Deus ou, em geral, a vida serve a algo maior que nós humanos. Para Jung,
segundo Johnson (1993), a vida serve o Self e o processo de vida implica na
recolocação deste no centro de gravidade, já que hoje é o ego quem controla.
Este é um processo para toda a vida. “Quando Parsifal aprende que ele não é
o centro do Universo – nem de seu pequenino reino – fica livre da alienação e,
por fim, o Graal deixa de ser vedado a ele. Agora ele pode entrar e sair do
castelo pelo resto da vida, quando quiser” (Johnson, 1993, p. 104). Isto
acontece, pois Parsifal atingiu outro nível de consciência e, agora, tem o Graal
a sua disposição. Para atingir este nível, como percebemos, ele precisou deixar
ser tão egoísta e reconhecer que ele não é dono do mundo, que ele não
domina tudo como pensava. Este é o mesmo passo que o homem moderno
deve tomar. Como já falamos anteriormente, o indivíduo, para perceber o
sentido das coisas, o sentido da vida, deve fazer uma reflexão internar e não
permitir que seu ego, suas vontades, dominem sua vida com bens materiais.
Com isso, o homem irá perceber a importância do feminino, do divino, ou seja,
do seu encontro com o Self no processo de individuação. “É, pois, como se
Parsifal se personificasse o homem natural posto diante do problema do mal,
da relação com o feminino e, desse modo, diante da tarefa da própria
ampliação da consciência, e realizando assim, após muitas voltas a libertação
do reino do Graal, de que, finalmente, se torna o rei” (Franz, 1980, p. 83).
O mito nos diz que “O objetivo da vida não é a felicidade, mas servir a
Deus ou ao Graal. Todas as buscas do Graal são para servir a Deus” (Johnson,
1993, p. 105). Esta felicidade citada pelo autor é aquela que, como falamos
anteriormente, é encontrada nos bens e produtos adquiridos pelo homem.
Penso que não devemos falar que a felicidade só será encontrada se servimos
a Deus. Isto poderia ser mal interpretado. Não estou defendendo o fanatismo
por Deus apresentado por algumas religiões (este, por sinal, poderia ser o tema
de outro trabalho). Por este motivo, prefiro pensar que devemos servir ao
Divino, independente deste ser encontrado em Deus, na Grande-Deusa, em
religiões ocidentais ou orientais. O homem precisa perceber que a força de seu
ego em dominar o mundo não está o satisfazendo interiormente como ele
136
pensa. Além disso, como vimos em nossa teoria, o homem sente-se
abandonado. Ele precisa encontrar a sua alma perdida com a morte de Deus e,
para isso, deverá resgatar o feminino, simbolizado pela figura do Graal no mito.
Talvez, com isso, ele perceba que não é dono do mundo.
137
inconscientes para a consciência. Com isso, podemos dizer que a verdadeira
causa do adoecimento do rei é a falta de transmissão desses conteúdos já
amadurecidos para a conscientização. Além disso, a culpa sentida por Parsifal
tem outro caráter com a tomada da consciência desses elementos.
138
“Perceval” - M. Wieghan
139
6. Considerações finais
Este trabalho é apenas uma visão deste contexto. Com a leitura das
mesmas bibliografias feita por outra pessoa, outros aspectos interessantes
podem surgir. O mito do Graal, por exemplo, apresenta inúmeros símbolos o
que o torna impossível de se analisar em um trabalho. Além disso, dependendo
da visão do autor, esta leitura se modifica. Portanto, o entendimento do divino
na vida do homem não está acabado. É fato que ele é importante e que o
feminino deve ser reintegrado, porém, pesquisas futuras poderão contribuir
com as minhas conclusões. Penso que uma boa contribuição para entender
melhor o sentimento que o homem tem em relação a Deus é realizar uma
pesquisa sobre a imagem de Deus.
140
relacionamos com os outros, como vemos a vida, como reagimos ao mundo
externo.
O homem moderno está sem religião e, como vimos, Deus está morto.
Ele não saber lidar com ela e a evita pensando que não quer ser religioso, já
que isto implicaria em privar-se de muitos desejos e instintos seus. Não aceita
a religião do Deus que define o que é certo e errado, o que é bom e o que é
pecado. Com isso, o indivíduo prefere sentir-se desamparado e sozinho a ter
esse Deus vigiando-o e controlando sua vida.
141
Sem a presença do Divino na vida do homem patriarcal, o ego ganha
espaço para agir como bem entender. Hoje parece que podemos fazer tudo o
que quisermos, pois, apesar de sermos julgados por nossas atitudes pela
sociedade, parece que tudo é aceito e justificável. Encontramos nas notícias
diárias ações absurdas que o ser humano pratica pelo simples fato de cansar-
se de algo ou não concordar com alguma coisa. Violências contra crianças
impotentes e atentados terroristas podem exemplificar esse fato.
142
O egoísmo moderno leva à deposição de conteúdos negativos em bodes
expiatórios. Isso acontece pelo fato do homem não viver mais coletivamente.
Apesar de a teoria nos dizer que o indivíduo precisa da sociedade para
sobreviver, parece-me que não se sabe viver em uma. O homem se vê perfeito,
sem defeitos. A culpa deve ser evitada, já que ela afeta o ego forte e onipotente
do indivíduo. Com isso, a culpa, inevitável nos dias de hoje, precisa ser
projetada no outro. Não podemos nos esquecer que a perfeição do ego não
aceita defeitos; aquelas características que não estão na sombra, e sim no ego,
ou, que apesar de serem aparentes e características, são consideradas
negativas, sempre são projetadas no outro.
O homem precisa voltar a sentir o Divino para não sentir-se tão só, tão
desamparado e, com isso, realizar ações sem sentido para tentar entender ou
justificar o significado da vida.
143
moderna. O que justifica essa febre mundial? A procura do homem moderno
pelo significado das coisas. Este fato nos mostra a necessidade do Retorno da
Deusa, como vimos na teoria do Whitmont (1990).
Apesar desta força negativa que o ego pode exercer, existe também a
procura dele pelo sentido da vida. Essas antigas seitas e religiões
proporcionam ao homem algo novo, uma visão diferente do mundo. Com isto,
ele pode sentir o Divino nele mesmo, mesmo sem denominá-lo como tal. A
procura do processo terapêutico também é resultado desse desamparo
espiritual. Parece-me que fazer terapia hoje está na moda. As pessoas
perceberam que não têm tempo de pensarem em si mesmas, não têm tempo
para conhecerem seus mundos interiores. Cinqüenta minutos por semana com
seus analistas satisfazem muitas delas. Apesar deste o tempo não representar
quase nada na vida corrida do homem moderno, ele é precioso e muito
significativo, pois neste momento seu egoísmo ganha um aspecto positivo, já
que ele pára para pensar e refletir sobre ele mesmo de uma maneira que
capacita a integração de conteúdos inconscientes à consciência. Penso que
pode haver uma contrapartida daqueles que fogem da terapia. Estes parecem
temer o que irão descobrir. Não estou me referindo a características negativas
da personalidade, mas sim, ao fato deles poderem perceber que suas vidas
não tem o sentido que achavam que tinha, que, na realidade, o desamparo em
relação a Deus é a causa de todo o seu comportamento.
144
“O milagre do Graal” – Wilhelm Hauschild
145
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147