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Crescer sem autonomia

Nos primeiros anos de vida, o bebé depende de um adulto para se poder sobreviver,
desenvolver e viver, mas essa dependência vai diminuindo ao longo do tempo, sendo
que os primeiros sinais de emancipação são através da locomoção e da comunicação. A
partir do momento que o bebé começa a gatinhar ele ganha uma outra independência
e autonomia que antes era tudo muito concentrado no choro. Após o gatinhar, vem o
andar e a fala, competências que contribuem imenso para a sua autonomia. Ambrósio
(1999) defende que “ a autonomia na criança é compreendida como um processo e
uma conquista que se inicia na infância precoce e que se desenrola ao longo da sua
vida”. É assim necessário proporcionar o desenvolvimento da autonomia das crianças
através das pequenas tarefas do seu dia-a-dia, ajudando a estruturar e organizar o seu
pensamento.

John Marsden é um professor australiano, especialista em educação, escritor de vários


bestsellers sobre educação e diretor de uma escola com um método de ensino
alternativo pois o foco é a criança e o seu desenvolvimento e não os conteúdos a
lecionar. Marsden disse ao ao The Guardian que está cada vez mais preocupado com o
que considera ser um “problema generalizado”. Neste momento existem imensos pais
que tentam de forma obsessiva eliminar todos os obstáculos do caminho dos filhos,
privando-os de experiências de aprendizagem e desenvolvimento que seriam naturais
(e recomendáveis), desde logo quando cometem erros e precisam de aprender com
eles. Pais excessivamente protetores, pais que não percebem nem querem refletir
sobre os comportamentos errados dos filhos, acreditando em todas as situações que as
crianças (suas), são incapazes de agir incorretamente. Estes são os pais que constroem
uma base educativa errada, ensinando os seus filhos que o mundo é cheio de sucessos
e nunca insucessos e que para aprender não é preciso errar.

John Marsden diz: “Não estou a acusar que estes pais tenham intenção de,
propositadamente, agir de forma destrutiva em relação aos filhos. Mas o seu senso
comum e os seus instintos parecem estar a ser perturbados por outras considerações”,
afirma ainda que o foco importante é os “danos emocionais” que resultam de uma
“ansiedade (por parte dos pais, na educação dos filhos) que, muitas vezes, se parece a
um ataque de pânico. Uma das consequências é a realidade cada vez mais difícil gerir
uma escola, não só pela dificuldade em lidar com crianças com saúde emocional
questionável mas, também, com pais que assumem sempre uma posição de defesa
inabalável dos filhos.”

John Marsden lançou um novo livro, The Art of Growing Up, onde defende que muita
gente está a “falhar”, enquanto pai e mãe, porque num mundo onde ss perigos são
cada vez mais, paradoxalmente também são cada vez mais os pais que não preparam
as crianças para esse mundo, onde temos de encarrar e resolver conflitos e perigos.

Com que idade se começa a dar autonomia a uma criança?

Antes de definirmos timings e comportamentos, é importante perceber que a


autonomia faz parte do processo evolutivo da criança e é um incentivo ao seu
desenvolvimento, emocional, intelectual e físico. Acima de tudo os pais devem ter uma
atitude positiva e de estimulação com a criança.

Todo o processo de aprendizagem e autonomia deve ser gradual e adaptado a cada


criança dentro do seu contexto. Será obvio que quanto mais cedo esse processo
acontecer, mais capaz será a criança de desempenhar as suas funções. No entanto não
podemos esquecer que as crianças ainda precisão de imensa supervisão parental, mas
isso não deve ser o reflexo de “fazer por eles”.

Fases de Autonomia Para Crianças

É do entendimento de quem educa que todas as crianças têm o seu ritmo e que as
fases sejam elas quais forem, devem apenas de servir de uma base orientadora e de
alerta para o caso de a criança em determinada fase não estar a corresponder ao
pretendido. Ficam aqui algumas linhas orientadoras.

Até 3 Anos
Até aos três anos de idade a criança deve ser capaz de tarefas simples sozinha, guardar
os seus brinquedos e comerem com garfo sem a ajuda dos pais. Este trabalho deve ser
feito através de jogos e brincadeiras que proporcionem essas mesmas tarefas.

Até 5 Anos
As crianças de cinco anos já devem realizar várias tarefas que dizem respeito à sua
higiene pessoal e autocuidado. Tarefas como escovar os dentes sozinha, limpar-se
depois de ir ao WC. É importante que no inicio exista supervisão por parte dos pais.

Até 7 Anos
Nesta idade todas as outras tarefas já devem ser realizadas em plena perfeição e
dentro das suas rotinas. Para além dessa deve ser capaz de vestir e despir sem
qualquer tipo de ajuda, para além de saber ler e escrever o que lhe trará outra forma
de se exprimir.

Até 10 anos
Este é o momento em que a supervisão dos pais em diversas tarefas pode começar a
diminuir, observando apenas se o filho pode realizar sozinhas as tarefas. Também é
nesta idade que a criança começa a atravessar a rua sozinha e a se locomover com
certa liberdade.

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