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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR

PRESIDENTE DAS TURMAS RECURSAIS DO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL;

Proces 0721281-58.2017.8.07.0016
so

SORAYA BARBOSA RODRIGUES, já devidamente


qualificada nos autos do processo em epígrafe onde contende com
o DISTRITO FEDERAL, também qualificado, vem,
respeitosamente, ante a presença de Vossa Excelência, por seu

advogado signatário, apresentar suas CONTRARRAZÕES AO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO interpostos ao Excelso


Supremo Tribunal Federal, aduzindo para tanto as razões
processuais e de direito anexas.

Requer, dessa forma, seja a presente peça processual


regularmente processada e julgada.

Termos em que,
Pede deferimento.
Brasília/DF, 22 de junho de 2018.
Assinado Eletronicamente
GABRIEL CUNHA RODRIGUES
OAB/DF nº 35.297
EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

COLENDA TURMA,

EXMO. MINISTRO RELATOR,

Processo: 0721281-58.2017.8.07.0016

Recorrente: DISTRITO FEDERAL

Recorrida: SORAYA BARBOSA RODRIGUES

CONTRARRAZÕES AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Senhores Ministros, o acórdão exarado pelo Egrégio


Tribunal de Justiça do Distrito Federal não carece de qualquer
reparo, pois está em completa consonância com a legislação de
regência, bem como encontra amparo na jurisprudência mansa e
pacífica sobre o tema.
Com efeito, sem receio de entibiar a verdade, o
venerável acórdão recorrido aplicou corretamente a legislação ao
caso concreto, sendo certo, outrossim, que o recorrente não se
desincumbiu do ônus processual de: (i) impugnar os fundamentos
da decisão recorrida, conforme vaticina a Súmula 284 do STF e
(ii) demonstrar a repercussão geral da matéria aqui em debate.

Não bastassem tais inconsistências processuais, o


recurso extraordinário esbarra no óbice da Súmula 279 do STF,
eis que há revolvimento de matéria fática; bem como eventual
violação ao texto constitucional, quando muito, seria reflexas (o
que inapelavelmente não é o caso), consoante restará
comprovado a seguir.

1. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS DE


ADMISSIBILIDADE DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO.

1.1 MANIFESTA AUSÊNCIA DE


FUNDAMENTAÇÃO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO - SÚMULAS 284-STF.

Malgrado o recurso extraordinário atenda ao requisito


processual da tempestividade e regularidade de representação,
não merece sequer conhecimento.
Isso porque, do cotejamento entre os termos do acórdão
recorrido e as razões articuladas no recurso, se subsume que o
recorrente não se desincumbiu do ônus de impugnar os
fundamentos da decisão recorrida.

Dito de forma pragmática, o apelo extraordinário


sequer tangenciou os fundamentos do acórdão, ou seja,
passou completamente ao largo da decisão recorrida.

Nesse viés, Excelências, conclui-se facilmente que o


recurso ora impugnado está eivado do insanável vício de
desfundamentação - adequação, nos da Súmula nº 284 do STF,
pelo que o recurso não merece conhecimento.

Além da ausência de fundamentação recursal, o


presente apelo não desafia conhecimento, em razão da manifesta
ausência de repercussão geral.
1.2 AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.

Nobres julgadores, melhor sorte não socorre ao


recorrente no que tange à necessidade material de demonstrar a
existência de repercussão geral.

É que, conquanto tenha trazido ao recurso sucinta e


desfundamentada preliminar de repercussão geral (obrigação
processual), o conteúdo ali traçado não espelha, nem de longe, a
imposição legal inscrita na norma processual (obrigação
material).
A bem da verdade, deveria o recorrente se desvencilhar
do ônus de demonstrar a relevância da demanda sob a ótica
econômica, política, social ou jurídica que transpusesse os limites
dos interesses particulares das partes.

Contudo, os recorrentes se adstringiram a abordar


o mérito recursal propriamente dito, sem sequer pontuar
qual seria a suposta repercussão geral do caso, em
completa afronta aos ditames processuais.

Tem-se, por outras linhas, apenas um ‘modelo’ de


preliminar de repercussão geral aplicável indistintamente a
qualquer processo, data maxima venia.

Assim, conclui-se, forçosamente, que o único aspecto


tratado no recurso extraordinário carece de repercussão geral,
pelo que esse Tribunal, à luz do imperativo legal, deve negar
seguimento ao apelo extraordinário.

2. PRELIMINAR - IMPOSSIBILIDADE DA
SUSPENSÃO DO FEITO.

O Distrito Federal sustenta, prefacialmente, a suspensão


do feito em relação à decisão prolatada no RE 905.357, sem
qualquer razão.
Para uma compreensão exata da pretensão autoral, é
pertinente fazer um cotejo entre os temas jurídicos tratados na
presente demanda e no RE nº 905.357/RR, com o desiderato de se
compreender que as demandas são completamente distintas.

Os presentes autos versam sobre pedido de pagamento


das diferenças remuneratórias advindas da Lei 5.008/2012
que rege a relação jurídica da requerente, tendo em vista o
reajuste firmado pelo Distrito Federal.

POR OUTRO LADO, a decisão prolatada no RE nº


905.357/RR foi assim estabelecida, verbis:

Ementa: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL.


RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ESTADO DE
RORAIMA. SERVIDORES PÚBLICOS. REVISÃO
GERAL ANUAL. ÍNDICE DE 5%. PREVISÃO NA
LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LEI
ESTADUAL 339/02). AUSÊNCIA DA DOTAÇÃO
ORÇAMENTÁRIA CORRESPONDENTE NA LEI
ORÇAMENTÁRIA DO RESPECTIVO ANO.
EXISTÊNCIA OU NÃO DE DIREITO SUBJETIVO.
REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA.
1. Possui repercussão geral a controvérsia relativa
à existência ou não de direito subjetivo a

revisão geral da remuneração dos


servidores públicos por índice
previsto apenas na Lei de Diretrizes
Orçamentárias, sem correspondente dotação
orçamentária na Lei Orçamentária do respectivo
ano. 2. Repercussão geral reconhecida. (RE
905357 RG, Relator(a): Min. EDSON FACHIN,
Relator(a) p/ Acórdão: Min. TEORI ZAVASCKI,
julgado em 29/10/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe 27-11-2015 ). No julgamento de Questão de
Ordem suscitada no âmbito do RE 576.155, o
ilustre Relator, Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
aduziu que “o julgamento do feito paradigma por
esta Suprema Corte, antes dos demais, constitui,
inclusive, uma exigência de natureza lógica, eis
que a apreciação destes depende da solução dada
àquele”. O Plenário, então, acolheu a proposição
de S. Exa. no sentido de ser legítima a suspensão
dos demais casos que envolvam matéria idêntica.
Assim, definiu-se que pode o Tribunal, por meio de
seu Relator, sobrestar todas as demais causas com
questão idêntica, com base no art. 328 do
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
(Protocolado ou distribuído recurso cuja questão
for suscetível de reproduzir-se em múltiplos feitos,
a Presidência do Tribunal ou o(a) Relator(a), de
ofício ou a requerimento da parte interessada,
comunicará o fato aos tribunais ou turmas de
juizado especial, a fim de que observem o disposto
no art. 543-B do Código de Processo Civil,
podendo pedir-lhes informações, que deverão ser
prestadas em 5 (cinco) dias, e sobrestar todas as
demais causas com questão idêntica). (grifou-se)
Pela simples leitura da ementa é facilmente constatável
que o tema tratado no RE nº 905.357/RR refere-se a revisão de
anual de remuneração dos servidores do Estado de Roraima.

A presente ação versa sobre pagamento das diferenças


remuneratórias advindas da Lei 5.008/2012. Ora, é de clareza
solar que não há qualquer similitude fática entre a presente
demanda e a discussão jurídica tratada no RE nº 905.357/RR.

Em termos mais claros, as legislações em exame são


distintas, as gratificações envolvidas nas demandas são
completamente diferentes, a classe de servidor público que figura
como autor também não tem qualquer semelhança, de modo que
não há qualquer relação entre a demanda em tela e que motivou o
RE nº 905.357/RR.

Ademais, o pedido da requerente nos presentes autos


não é de instituição da gratificação ou direito no seu
recebimento, mesmo porque ela já vem sido paga normalmente
(ainda que de forma defasada) pelo Distrito Federal.

Excelência, com todo respeito, a presente demanda não


tem qualquer relação jurídica com o RE nº 905.357/RR, haja vista
que não há discussão sobre o direito ao reajuste. O valor já é
reconhecidamente pago (de modo reduzido) a requerente em seus
contracheques.

O fator preponderante para a suspensão de qualquer


ação em face da existência de repercussão geral é a similitude
fática entre as demandas, pois àquela demanda matriz servirá
como norte para a solução dos demais processos que versem
sobre a mesma discussão.

Certamente não é o caso dos autos, na exata medida em


que a conclusão extraída do julgamento do RE nº 905.357/RR não
trará qualquer consequência lógica-elucidativa ao presente caso,
pois tratam de situações jurídicas completamente distintas.

Daí a razão pela qual a exigência legal no sentido de


que as demandas sejam idênticas, o que não se afigura na
hipótese, pelo que resta afastado o pedido do sobrestamento do
Distrito Federal.

3. REEXAME DE PROVA - IMPOSSIBILIDADE -


SÚMULA 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

Senhores Ministros, conforme se verificam das razões


recursais, a questão discutida nos autos perpassa
necessariamente pelo reexame de provas, eis que a aferição
sobre o pagamento da gratificação em montante inferior ao
pleiteado pela recorrida carece de análise das fichas
financeiras e portarias de nomeação na função exercida
pela servidora.

Portanto, a despeito de serem irrelevantes para o


deslinde da causa, os argumentos dos recursos dependem
necessariamente de reexame de provas, razão pela qual se aplica
o óbice da Súmula 279 do STF.

4. VIOLAÇÃO REFLEXA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL –


INADMISSIBILIDADE RECURSAL - SÚMULA 636
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

No que concerne ao mérito do recurso, a decisão


recorrida aplicou corretamente o entendimento legal e
jurisprudencial ao caso em comento.

Nesse contexto, evidencia-se que tema central


tratado no recurso está adstrito EXCLUSIVAMENTE à
legislação infraconstitucional (Lei Distrital 5.249/2013 e
Portarias da Secretaria de Saúde do Distrito Federal).

Outrossim, eventual ofensa ao texto constitucional seria


quando muito reflexa, pois necessita previamente passar pelo
cotejo de legislação ordinária.

Como é sabido e consabido, o Supremo Tribunal Federal


já adotou posicionamento no sentido de que é inviável a discussão
de legislações do Distrito Federal no âmbito dessa Corte.

No mais, convém ressaltar a aplicação do disposto na


Súmula 636-STF, cujo teor consagra que “não cabe extraordinário
por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade,
quando sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a
normas infraconstitucionais pela decisão recorrida”, à espécie.

Dessa forma, qualquer violação constitucional, caso


houvesse, se daria de forma indireta, fato que não enseja a
abertura da presente via extraordinária.

5. RAZÕES DE IMPROVIMENTO DO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO.

Na remota hipótese de serem ultrapassadas as questões


levantadas em linhas pretéritas, circunstância apontada apenas
em atenção aos princípios da eventualidade e concentração da
defesa, passa a recorrida a demonstrar a tibieza dos argumentos
desenvolvidos nos recursos extraordinários.

O cerne da argumentação do Distrito Federal afigura-se


no sentido de que a Carta Magna é expressa ao exigir para a
concessão de reajuste salarial a servidores públicos prévia
dotação orçamentária.

Imperioso registrar, no particular, que esse Egrégio


Supremo Tribunal Federal, bem assim o Superior Tribunal de
Justiça já consolidaram entendimento no sentido de que as
eventuais restrições orçamentárias não podem servir para elidir
direitos de funcionários públicos de perceberem vantagens
legitimamente asseguradas por Lei, como na hipótese do caso em
comento.
O Distrito Federal não pode ignorar uma Lei que
determina o pagamento de gratificação com base em argumentos
que não se sustentam, eis que a legislação de regência deve ser
cumprida em toda sua extensão.

Vale mencionar que o pleito da requerente apenas visa o


pagamento das diferenças da gratificação, e não a instituição em

si da gratificação, mesmo porque ela já vem sido


paga normalmente (de forma defasada) pelo
Distrito Federal.

Ora, se o próprio Distrito Federal regulamentou as


funções de Tutoria e Preceptoria, estabelecendo a correlata
gratificação, por meio de ato normativo legal e infralegal, negar o
seu pagamento implicaria, na espécie, enriquecimento sem causa
da Administração Pública e configuraria comportamento
contraditório e incoerente, o que é vedado pelo ordenamento
jurídico (nemo potest venire contra factum proprium).

Repita-se, o próprio Distrito Federal


reconhece o direito da requerente ao
recebimento da gratificação, sendo controverso
apenas o valor da referida gratificação.

Nessa senda, não há qualquer sentido lógico na


argumentação do Distrito Federal no sentido de que não há
recursos para efetuar o pagamento das gratificações no montante
correto, quando já paga espontaneamente de forma defasada os
valores estabelecidos na legislação.

Além disso, médicos e dentistas têm recebido


corretamente os adicionais correspondentes à referida Lei
Distrital, em detrimento da área dos profissionais de Nutrição e
Fisioterapia, dentre outros, o que fere frontalmente, como já
mencionado, o Princípio da Igualdade, tão bem detalhado no
artigo 5º da Constituição Federal ao nos afirmar que todos são
iguais perante a lei.

Ora, como os médicos e dentistas estão recebendo


normalmente? Para esses profissionais não há restrições
orçamentárias? Qual o critério diferenciador entre esses
profissionais?

Francamente, com todo o respeito, nada poderia ser


mais absurdo.

Portanto, as considerações fáticas e jurídicas, supra


expostas, tornam claro e evidente a ilegalidade continuada do
Distrito Federal, ao remunerar abaixo do que é devido a
requerente, razão pela qual é evidente a improcedência do pleito
recursal.

6. CONCLUSÃO.
Isso posto, somado ao brilhantismo que permeia as
decisões deste Pretório Excelso, a recorrida requer não seja
admitido o recurso extraordinário aqui contrarrazoado, em face
da: (i) impossibilidade do sobrestamento do feito em relação a
decisão do RE 905357 ED/RR (ii) inconteste carência de
fundamentação do apelo – Súmula 284-STF; (iii) inexistência de
repercussão geral; (iv) impossibilidade de reexame de provas que
o julgamento prescinde - Súmulas 279-STF e; (v) ausência de
violação direta ao texto constitucional, sendo certo que eventual
afronta ocorreria quando muito de forma reflexa - Súmula 636-
STF e, na improvável hipótese de se admitir o recurso, requer
seja mantida incólume à decisão do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal, albergada pela jurisprudência mansa e pacífica sobre o
tema em voga.

Termos em que,
Pede deferimento.
Brasília/DF, 22 de junho de 2018.

Assinado Eletronicamente
GABRIEL CUNHA RODRIGUES
OAB/DF nº 35.297

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