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ATIVIDADES AVALIATIVAS A1 E A2

DIREITO AMBIENTAL I, DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL E DIREITO PENAL –


LEGISLAÇÃO ESPECIAL – 8° SEMESTRAL

A1 – CASO PRÁTICO

Implantação de Centro de Logística

A empresa Soluções Logísticas LTDA, proprietária de um grande terreno em município


da Região Metropolitana de São Paulo, iniciou procedimento administrativo de
licenciamento ambiental, obtendo a licença prévia e de instalação do empreendimento.

O terreno continha vegetação atlântica sucessória, está localizado na zona


urbana/industrial do município, segundo legislação de uso e ocupação do solo e é vizinho de
uma vila histórica, protegida por tombamento pela União, pelo Estado e pelo próprio
Município.

A partir da obtenção da licença de instalação, a empresa deu início ao desmatamento


da vegetação do terreno, extrapolando muito a área que tivera autorização para
desmatamento (mediante apresentação de medidas compensatórias).

Além disso, em razão da utilização da técnica de queimada da vegetação durante


longo período, inúmeros moradores da vila passaram a apresentar sérios problemas
respiratórios que acarretaram internações hospitalares e a utilização de medicamentos não
fornecidos pelo SUS.

Desconfiando do ocorrido, a associação dos moradores da vila procurou o Ministério


Público Estadual para denunciar o ocorrido e buscar orientação sobre as providências jurídicas
cabíveis.

O Ministério Público então tomou as seguintes providências:


I. Instaurou inquérito civil para apurar o ocorrido.
II. Oficiou o órgão licenciador requerendo informações e providências quanto à
autorização de supressão de vegetação.
III. Oficiou o Ministério Público Federal.
IV. Oficiou os órgãos de preservação do patrimônio cultural para saber se o
licenciamento do empreendimento contara com a oitiva dos mesmos, por estar
no entorno de um bem tombado.

Após estas providências ocorreram os seguintes desdobramentos:


I. O Órgão licenciador ao fiscalizar o local constatou efetivamente um volume e área
de desmatamento muito superior ao autorizado na licença de instalação.
II. Restou comprovado o emprego de gasolina para queimada da vegetação.
III. Apenas o órgão de preservação do patrimônio municipal disse ter sido
consultado. Os demais afirmaram que não foram consultados. O órgão federal,
que deveria receber os estudos arqueológicos do terreno, não fora consultado.
IV. Os MP´s (Estadual e Federal) ingressaram com Ação Civil Pública, solicitando,
liminarmente, a suspensão da licença de instalação e, no mérito:
a) A reparação dos danos ambientais decorrentes do desmatamento indevido.
b) Que providencie o licenciamento arqueológico do empreendimento junto ao
órgão federal de proteção ao patrimônio cultural.
c) A reparação dos danos causados aos moradores da vila.

O Ministério Público Estadual apresentou denúncia de crime ambiental com


fundamento nos indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts. 38-A; 41 e
54 da Lei 9.605/1998 e no art. 250 do Código Penal.
QUESTÕES DE DIREITO AMBIENTAL I

1 - A partir da leitura do Caso Simulado e considerando o artigo 225,


da CF, as regras constitucionais de competência material de Direito
Ambiental e a Lei Complementar 140/2011, responda: Sendo o
licenciamento ambiental no caso capitaneado pelo órgão estadual
competente, poderia o órgão ambiental municipal exigir licenciamento
paralelo? Qual o fundamento para a resposta?
Sim. Mesmo que haja o predomínio de interesse de âmbito estadual, nada deveria impedir
que também o município afetado, paralelamente ao Estado, adote os seus próprios
procedimentos de licenciamento, exigindo por exemplo, cada qual um EIA/RIMA
(art.225,inciso IV, CF), conforme suas peculiaridades. O art.23 da Constituição Federal prevê a
competência comum paralela, cooperativa, entre os entes da federação quando se trata de
proteção do meio ambiente. Por tal razão, o art.13 da Lei 140/11, nada obsta de impedir o
bis in idem ao deixar expresso o direito de participação dos demais entes federativos no
procedimento de licenciamento. O Supremo Tribunal de Justiça já decidiu que é possível, sim,
haver duplicidade de licenciamentos porque o direito ambiental é ubíquo.

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESASSOREAMENTO DO RIO ITAJAÍ-


AÇU. LICENCIAMENTO. COMPETÊNCIA DO IBAMA. INTERESSE NACIONAL.
1. Existem atividades e obras que terão importância ao mesmo tempo para a Nação e para os
Estados e, nesse caso, pode até haver duplicidade de licenciamento.

2. O confronto entre o direito ao desenvolvimento e os princípios do direito ambiental deve


receber solução em prol do último, haja vista a finalidade que este tem de preservar a
qualidade da vida humana na face da terra. O seu objetivo central é proteger patrimônio
pertencente às presentes e futuras gerações.

3. Não merece relevo a discussão sobre ser o Rio Itajaí-Açu estadual ou federal. A conservação
do meio ambiente não se prende a situações geográficas ou referências históricas,
extrapolando os limites impostos pelo homem. A natureza desconhece fronteiras políticas. Os
bens ambientais são transnacionais. A preocupação que motiva a presente causa não é
unicamente o rio, mas, principalmente, o mar territorial afetado. O impacto será considerável
sobre o ecossistema marinho, o qual receberá milhões de toneladas de detritos.

STJ - REsp: 588022 SC 2003/0159754-5, Relator: Ministro JOSÉ DELGADO, Data de Julgamento:
17/02/2004, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 05/04/2004 p. 217LEXSTJ vol.
178 p. 174
2 - E quanto à supressão e manejo da vegetação para a implantação
do empreendimento, localizado em zona urbana conforme o
enunciado, a aprovação competiria ao Estado ou ao Município? E
diante do desmatamento indevido, quem pode fiscalizar e sancionar,
com que fundamento?
Competiria ao Munícipio por possuir competência administrativa originária em matéria
ambiental para atuar naqueles casos de interesse local predominante, tendo em vista os
princípios da predominância do interesse e da subsidiariedade, face o que dispõem os incisos
III, VI e VII do art. 23, o art. 182 e o caput do art. 225 da Constituição da República.
No art9° inciso XIV, da lei 140/11 compete ao município promover o licenciamento ambiental
das atividades ou empreendimentos:
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia
definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios
de porte, potencial poluidor e natureza da atividade; ou
b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de
Proteção Ambiental (APAs);

Para ter o licenciamento é necessário que haja aprovação por parte do Município, e mesmo
naqueles casos em que o Município não tenha instalado ainda o sistema de licenciamento
ambiental, ainda assim o papel do ente local é muito importante, visto que o §1º do artigo 10
da Resolução 237/97 do Conama dispõe:

No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar, obrigatoriamente, a certidão


da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade
estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o
caso, a autorização para supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas
pelos órgãos competentes.

Isso significa que passa de qualquer maneira pela prefeitura o início dos trâmites do processo
de licenciamento, uma vez que sem a concessão da certidão de uso e ocupação do solo (ou
qualquer documento equivalente) o processo sequer pode começar.

Segundo o Professor Bessa Antunes “Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou


autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração
ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação
ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada”
Ou seja, uma vez realizado o licenciamento ambiental pelo órgão responsável pelo
licenciamento, este é que será o competente para lavrar o eventual auto de infração
ambiental e instaurar processo administrativo para apuração de infrações à legislação
ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividades licenciada ou autorizada. Há um
vínculo lógico entre a infração ambiental cometida e a competência do órgão licenciador para
processar e julgar os processos administrativos das sanções impostas(art.17 da lei 140/11).
Cabe ao órgão responsável exercer o poder de polícia, e nos casos de degradação ambiental,
iminente ou atual, cabe a qualquer dos entes federativos tomar as medidas necessárias para
fazer cessá-la (§2º da lei 140/11).

3 - Considerando os aspectos processuais envolvidos no Caso Simulado


e o instituto da prescrição em matéria ambiental, responda:

A - Na hipótese de o ministério público demorar 15 anos para propor


a ação reparatória dos danos ambientais, a pretensão estaria
prescrita?
Não. A ação para reparação do dano ambiental é imprescritível, em face do princípio da ética
interacional, pelo fato de o direito ambiental ter como objeto de tutela a vida em todas as
usas formas, que se constitui em direito humano e fundamental e, ainda, em razão do bem
ambiental ser indisponível e de titularidade coletiva.

Nesse sentido Nelson Nery e Rosa Maria Andrade Nery, de maneira categórica asseveram que
“não se aplica à pretensão de indenização do dano ambiental o regime da prescrição” e o
fundamento, em regra, estabelece-se que o ambiente não pode ser patrimonalizado como o
são todos os demais direitos sujeitos ao regime prescricional por ser, aliás, de ordem pública
e, portanto, totalmente imprescritíveis.

Poder-se-ia, ainda, estabelecer a favor da imprescritibilidade que não se trata de um direito


civil e que, por isso, não sujeito às suas regras prescricionais previstas pelo diploma civil e
considerando, ainda que não há regramento específico para prescrição na legislação
ambiental.

Ou ainda que, por se tratar de um interesse difuso e coletivo, falta a titularidade do direito
perfeitamente identificada o que leva à conclusão de que não se tratam de direitos
prescritíveis em face de que esse instituto se caracteriza pela inércia do seu titular e, afastada
a titularidade, afasta-se por consequência também a prescrição.

“Trata-se de bem essencial, como denuncia o art. 225, caput, da Constituição Federal, de
modo a ser inconcebível a existência digna de um indivíduo (art. 1°, III, CF) se ele não tiver ao
seu alcance um meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado. Dessarte, dada a natureza
jurídica do meio ambiente, bem como o seu caráter de essencialidade, as ações coletivas
destinadas à sua tutela são imprescritíveis.” (Fiorillo)

A Ministra Eliana Calmon, ao relatar o REsp n. 1.120.117, após de forma brilhante discorrer
sobre a omissão da Lei da Ação Civil Pública para a prescrição, pontualmente sobre esse
instituto, bem como sobre a figura do dano ambiental e a responsabilidade dai decorrente,
estabeleceu seu entendimento no sentido da imprescritibilidade do dano ambiental quando
este for o objeto da Ação Civil Publica, verbis:

Por tais razões, o decurso de prazo em relação a lesões contra o patrimônio cultural brasileiro
- enquanto dimensão do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado - não pode
constituir razão para extinção do direito à busca da correspondente reparação, seja pelos
danos patrimoniais ou extrapatrimoniais, sob pena de ofensa ao princípio da solidariedade
intergeracional, de matiz constitucional em nosso país (artigos 3º, I com correspondência com
225, caput, da Constituição)

B - E eventual pretensão reparatória relativa a direitos individuais


homogêneos (ex. ressarcimento por medicamentos 15 anos após sua
aquisição)?
Uma parte da doutrina discorre que há a incidência da prescrição quando pode se determinar
quem foi diretamente prejudicado pelo dano ambiental, ou seja, quando um indivíduo (ou um
grupo definido de pessoas) em si sofre uma lesão decorrente do dano ambiental, devem ser
observados os prazos expostos no Código Civil, devendo este indivíduo figurar no polo ativo
da ação. Resumidamente, cumpre analisar se o dano ambiental realizado atinge o direito
coletivo ou individual. Para muitos, quando o bem atingido é individual, há sim a presença da
prescrição.
A2 - PARECER

Na condição de diretores jurídicos da empresa SOLUÇÕES LOGÍSTICAS LTDA, elaborem um


PARECER para o presidente da empresa, apresentando as possibilidades de responsabilização
da empresa e seus dirigentes, no âmbito do Direito Civil, Penal e Ambiental.

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