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E Tengan Primos PDF
E Tengan Primos PDF
Uma questão que sempre preocupou os tios e tias na escola é a questão do crescimento dos primos. Em
resposta à esta importante questão sócio-familiar, dois matemáticos, Hadamard e de la Vallée Poussin,
independentemente provaram o famoso
Teorema 1.1 (Teorema dos Números Primos)
pn
lim =1
n→∞ n log n
Em outras palavras, para n 0 (i.e., n muito grande, tipo n = 2), temos que pn é aproximadamente
n log n. Aqui, log denota o logaritmo em sua base predileta que, eu sei, é e = 2, 718281 . . ..
A estreia do Teorema dos Números Primos em 1896 foi um sucesso instantâneo. Desde então, este
teorema tem figurado no topo das paradas de sucesso, com diversas versões relançadas ao longo do tempo.
Uma das mais populares utiliza a função
π(x)
lim =1
x→∞ x/ log x
Existe ainda uma terceira versão muito popular do Teorema dos Números Primos, que utiliza a
chamada função de von Mangoldt:
onde atribuı́mos “peso” an = 1 se n é primo e “peso” an = 0 caso contrário. Com uma atribuição de
pesos um pouco diferente, a la “von Mangoldt”,
def
X
ψ(x) = Λ(n),
n≤x
ψ(x)
lim =1
x→∞ x
É esta a forma do teorema que iremos provar. As equivalências entre as três formas será mostrada
mais tarde. Por enquanto, acredite em mim, pois é verdarde!
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que converge absolutamente para <s > 1,” diria Euler (se ele soubesse falar Português). Só relembrando:
se s = σ + it, com σ, t ∈ R, definimos
def
ns = nσ · (elog n )it = nσ · cos(t log n) + i sin(t log n)
Y −1
1
ζ(s) = 1− para <s > 1
ps
p primo
A função ζ(s) pode ser estendida a uma função meromorfa em todo o semi-plano <s > 0, com um
único polo simples em s = 1 e resı́duo 1. A ideia básica é aproximá-la por uma integral que converge
nesta região. Temos
X 1 Z ∞ Z n+1
dx X 1 dx 1 X
= + − ⇐⇒ ζ(s) − = φn (s)
ns 1 xs ns n xs s−1
n≥1 n≥1 n≥1
onde cada função Z n+1
def 1 1
φn (s) = − s
dx
n ns x
1
é analı́tica, e |φn (s)| ≤ supx∈[n,n+1] ns − x1s ≤ |s|/n<s+1 e portanto a soma dos φn (s) converge para
uma função analı́tica em <s > 0. Note ainda que no semi-plano <s > 1 a função zeta não possui zeros
pois se s = σ + it, com σ, t ∈ R e σ > 1,
Y −1 Y −1 Y −1
1 1 1 1 1 1
|ζ(s)| = 1 − s
≥ 1 + σ
≥ 1 + σ
+ 2σ
+ 3σ
+ · · · = >0
p p p p p ζ(σ)
p primo p primo p primo
Mas qual a relação entre a função zeta e o Teorema dos Números Primos? Para ver isto, na fatoração
de Euler basta tomar o logaritmo ou, mais precisamente, a derivada logarı́tmica de zeta:
d def ζ 0 (s)
− log ζ(s) = −
ds ζ(s)
Para <s > 1 temos
−1
Y ζ 0 (s)
1 X d 1 X log p
ζ(s) = 1− s ⇒− = log 1 − s =
p ζ(s) ds p s 1 − p1s
p primo p primo p primo p
ζ 0 (s)
X 1 1 1
⇐⇒ − = log p + + + · · ·
ζ(s) ps p2s p3s
p primo
e assim
ζ 0 (s) X Λ(n)
− =
ζ(s) ns
n≥1
Em outras palavras, o Teorema dos Números Primos consiste em estimar a soma dos coeficientes
da série de Dirichlet de −ζ 0 (s)/ζ(s). Isto é feito em dois atos: o primeiro consiste em expressar a soma
destes coeficientes em sua versão integral, utilizando o
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Embora a manobra suspeita não se justifique, a versão mais precisa “com erro” do truncamento
ainda permite escrever ψ(x) utilizando a integral de ζ 0 (s)/ζ(s). O segundo ato contém a passagem mais
delicada de todo o argumento, pois utiliza a continuação analı́tica de ζ(s) na região 0 < <s ≤ 1 e a
seguinte versão fraca da hipótese de Riemann. A hipótese de Riemann originalmente afirma que, nesta
região, ζ(s) = 0 ⇒ =s = 1/2; mas isto deixo como exercı́cio para o leitor!
Teorema 2.2 (Poor man’s Riemann Hypothesis) Existe uma constante c > 0 tal que
1.
c
<s ≥ 1 − ⇒ ζ(s) 6= 0
log(|=s| + 2)
2. 0
ζ (s) 2
ζ(s) = O(log T )
para
c
<s ≥ 1 − , 2 ≤ |=s| ≤ T
2 log(T + 2)
Utilizando as estimativas acima, uma integração de contorno padrão (que invade a região 0 < <s ≤ 1)
completa a demonstração do teorema:
Teorema 2.3 (Flipping) Seja x = N + 0.5 ≥ 100 para algum N ∈ N e seja c como no teorema
anterior. Sejam ainda
c
T 0, a=1− , 1<b<2
2 log(T + 2)
Então
1.
b+iT
ζ 0 (s) xs xb 2b log(2x)
Z
1
ψ(x) = − · ds + O +O · x log x
2πi b−iT ζ(s) s T (b − 1) T
2.
b+iT
ζ 0 (s) xs xb log2 T
Z
1
− · ds = x + O(xa log3 T ) + O ·
2πi b−iT ζ(s) s log x T
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3 Provas honestas
ψ(x) π(x)
lim = 1 ⇐⇒ lim =1
x→∞ x x→∞ x/ log x
de modo que
ψ(x) π(x)
≤
x x/ log x
Por outro lado, se 1 < y < x,
X X log p ψ(x)
π(x) = π(y) + 1 ≤ π(y) + ≤y+
log y log y
y<p≤x y<p≤x
x
Tomando y = log2 x
, temos
3.2 Truncamento
Suponha inicialmente que y > 1. Basta fazer uma integração em torno de um retângulo de vértices a±iT
e b ± iT com a < 0. Como y s /s possui um único polo em s = 0 e resı́duo 1 no interior deste retângulo,
temos Z b+iT s Z a+iT s Z a−iT s Z b−iT s
1 y 1 y 1 y 1 y
ds + ds + ds + ds = 1
2πi b−iT s 2πi b+iT s 2πi a+iT s 2πi a−iT s
e estimativas Z
a−iT y s Z a+iT y s Z a y σ yb
ds = ds ≤ dσ ≤
b−iT s b+iT s b T T log y
e Z
a−iT y s ya
ds ≤ 2T · → 0 quando a → −∞
a+iT s |a|
3.3 Flipping
Vejamos inicialmente como escrever ψ(x) em sua versão integral. Note que, para <s ≥ b > 1, temos
X
Λ(n)
≤
X log n
s
→ 0 quando N → ∞
n nb
n≥N n≥N
Vamos estimar o termo de erro. Dividimos a soma em dois pedaços: o primeiro contendo os termos para
os quais | log(x/n)| ≥ log 2 ⇐⇒ n ≤ x/2 ou n ≥ 2x:
X (x/n)b Λ(n) xb X log n xb Z ∞ log x xb
≤ · = O dx = O
T | log(x/n)| T log 2 nb T 1 xb T (b − 1)
n≤x/2 n≥1
ou n≥2x
O segundo termo é
Z N −1 Z 2x !
X (x/n)b Λ(n) 2b log(2x) du 1 du
≤ + +
T | log(x/n)| T x/2 log(N + 0.5)/u log(N + 0.5)/N N +1 log u/(N + 0.5)
x/2≤n≤2x
b
2 log(2x)
=O · x log x
T
1
R b+iT ζ 0 (s) xs
Vejamos agora como mostrar que 2πi b−iT
− ζ(s) · s ds é assintoticamente igual a x. Para isto,
1
considere a integral em torno do retângulo de vértices b ± iT e a ± iT . Lembrando que ζ(s) = s−1 +···
0
xs
possui um polo simples com resı́duo 1 em s = 1 e que ζ(s) 6= 0, o único polo simples de − ζζ(s)
(s)
· s no
interior deste retângulo é s = 1, com resı́duo
ζ 0 (s) xs −ζ 0 (s)(s − 1)2 xs
lim − · · (s − 1) = lim · =x
s→1 ζ(s) s s→1 ζ(s)(s − 1) s
Portanto
Z b+iT Z a+iT Z a−iT Z b−iT
1 ζ 0 (s) xs 1 ζ 0 (s) xs 1 ζ 0 (s) xs 1 ζ 0 (s) xs
− · ds+ − · ds+ − · ds+ − · ds = x
2πi b−iT ζ(s) s 2πi b+iT ζ(s) s 2πi a+iT ζ(s) s 2πi a−iT ζ(s) s
Agora fazemos algumas estimativas. Temos
Z
a−iT ζ 0 (s) xs Z a+iT ζ 0 (s) xs Z b ζ 0 (σ + iT ) xσ log2 T
b
x
− · ds = − · ds ≤ · dσ = O ·
ζ(s) s b+iT ζ(s) s ζ(σ + iT ) T log x T
b−iT a
Finalmente
Z !
a−iT ζ 0 (s) xs Z T 0
ζ (a + it) xa
xa
Z 2 Z T
dt
2
− · ds ≤ ζ(a + it) · |a + it| dt = O
a
dt + x log T = O(xa log3 T )
ζ(s) s a t
a+iT −T 0 2
que implica
ζ 0 (σ) ζ 0 (σ + it) ζ 0 (σ + 2it)
−3< − 4< −< ≥0 (∗)
ζ(σ) ζ(σ + it) ζ(σ + 2it)
para t e σ > 1 reais utilizando a expansão
ζ 0 (σ + it) X X
−< = Λ(n)<(n−σ−it ) = Λ(n)n−σ cos(t log n)
ζ(σ + it)
n≥1 n≥1
Para relacionar a desigualdade acima com os zeros de ζ(s), vamos obter algumas estimativas para
os três termos em (∗). A ideia básica é utilizar a seguinte decomposição em “frações parciais”
ζ 0 (s)
X 1
1 X 1 1 1
− = +B− − − +
ζ(s) s−1 s + 2n 2n ρ
s−ρ ρ
n≥1
onde B é uma constante e ρ percorre todos os zeros não trivias de ζ(s) (i.e., com 0 ≤ <ρ ≤ 1). Esta
fórmula é discutida mais tarde, por hora vejamos como ela encerra a prova do teorema. Mencionamos
que existem maneiras mais elementares de deduzir estimativas um pouco piores, mas já suficientes para
demonstrar o Teorema dos Números Primos, porém um tanto trabalhosas (ver por exemplo o livro do
Landau citado na bibliografia). Então, por preguiça, vou apresentar esta prova mais simples.
Seja σ e t reais com 0 ≤ σ ≤ 2 e |t| ≥ 2. Para s = σ + it temos
X X 1 X
1 1 1 |s|
− ≤ + + 2
= O(log |t|)
s + 2n 2n 2n 2n 4n
n≥1
1≤n≤|t| n>|t|
de modo que
ζ 0 (s)
X 1 1
− =− + + O(log |t|) (†)
ζ(s) ρ
s−ρ ρ
1
Agora suponha σ > 1. Como 0 ≤ <ρ ≤ 1, temos < ρ1 ≥ 0 e < s−ρ ≥ 0, para um zero não trivial
ρ = a + bi com a, b ∈ R, obtemos
ζ 0 (σ) 1
−< ≤ + O(1)
ζ(σ) σ−1
ζ 0 (σ + it) 1 1
−< ≤ −< + O(log |t|) = − + O(log |t|)
ζ(σ + it) σ + it − ρ σ−a
ζ 0 (σ + 2it)
−< ≤ O(log |t|)
ζ(σ + 2it)
Vamos agora obter uma estimativa para |ζ 0 (s)/ζ(s)|. Inicialmente, tome s = 2 + it em (†):
ζ 0 (2 + it) X
1 1
= + + O(log |t|)
ζ(2 + it) ρ
2 + it − ρ ρ
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Esta expressão permite obter algumas estimativas sobre a distribuição dos zeros não triviais de ζ(s). Por
1
exemplo, como < ρ1 ≥ 0 e < 2+it−ρ ≥ 1/5 se |t − =ρ| ≤ 1, temos que
#{ρ | ρ é zero não trivial e |t − =ρ| ≤ 1} = O(log |t|)
1 1/5
Da mesma forma, se |t − =ρ| ≥ 1, como < 2+it−ρ ≥ (t−=ρ)2 , temos
X 1
= O(log |t|)
(t − =ρ)2
|t−=ρ|≥1
Vamos retornar à estimativa para |ζ 0 (s)/ζ(s)|. Subtraindo (‡) de (†) ficamos com
ζ 0 (s) X
1 1
= − + O(log |t|)
ζ(s) ρ
s − ρ 2 + it − ρ
X 1 1
X 1 1
= − + − + O(log |t|)
s − ρ 2 + it − ρ s − ρ 2 + it − ρ
|t−=ρ|≤1 |t−=ρ|≥1
s(s − 1) −s/2
Ξ(s) = π Γ(s/2)ζ(s)
2
Ξ(s) = Ξ(1 − s)
Como Γ(s) possui polos simples em s = 0, −1, −2, −3, . . ., temos da equação acima que ζ(−2n) = 0
para n = 1, 2, 3, . . ., os chamados zeros triviais. Como vimos, qualquer outro zero de ζ(s) pertence à
região 0 < <s < 1 e são simétricos em relação à reta <s = 1/2 pela equação funcional. A hipótese de
Riemann conjectura que na verdade todos estes zeros pertencem à reta <s = 1/2.
Agora um resultado geral de funções inteiras (ver Conway, XI, p. 279) implica que
Teorema 4.2 Temos a fatoração
Y s
A+Bs
Ξ(s) = e 1− es/ρ
ρ
ρ
5 Referências
1. J. H. Conway, Functions of One Complex Variable, Springer-Verlag.
2. A. A. Karatsuba, Basic Analytic Number Theory, Springer-Verlag.
3. E. Landau, Handbuch der Lehre von der Verteilung der Primzahlen, Chelsea.
4. J. Neukirch, Algebraic Number Theory, Springer-Verlag.