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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG

ESCOLA DE ENGENHARIA
Conforto Térmico em edificações
Professor Cláudio Olinto

Conforto Humano
A busca pela sensação de conforto é, talvez, a primeira condição procurada pelo ser
humano. Contudo, descrever uma condição confortável, os limites ou as características
desta sensação não é tarefa fácil. Entretanto, ao rompimento deste estado, é possível
descrever que se trata de um ruído, um excesso ou falta de calor, um excesso ou ausência
de luz que que está causando a sensação de desconforto.
Depreende-se daí que conforto é uma sensação global, porém indefinível e associada a ela
várias fontes independentes (mas capazes de se somarem) de desconforto. Assim, o que
nos preocupa na realidade não é o conforto, mas sim, o desconforto. É este que devemos
conhecer bem, para melhor determinarmos suas causas e projetar mecanismos para evitar
ou minorar suas conseqüências.

As variáveis mais comuns associadas ao conforto são:

CONDIÇÕES DO AR AMBIENTE:
 TEMPERATURA
 UMIDADE
 VELOCIDADE (CONFORTO TÉRMICO ou HIGROTÉRMICO).
 PUREZA
 PRESSÃO
ODORES.
NÍVEL DE RUÍDO.
ESPAÇO, ILUMINAÇÃO, CORES, ETC.

O condicionamento de ar, quando voltado para o conforto humano, estabelece as condições


de conforto térmico e possibilita a eliminação ou controle de odores, nível de ruído e
sensação de confinamento (espaço).
Conforto Térmico (higrotérmico)
Segundo padrões da ASHRAE (American Society of Heating, Refrigerating and Air-
Conditioning Engineers, Inc) conforto térmico significa:
"ESTADO MENTAL QUE EXPRESSA SATISFAÇÃO COM O AMBIENTE TÉRMICO QUE
ENVOLVE A PESSOA".
Uma outra definição também corrente:
"SENSAÇÃO DE BEM-ESTAR REVELADA POR UMA PESSOA OU UM GRUPO DE
PESSOAS, COM RELAÇÃO ÀS CONDIÇÕES DO AMBIENTE TÉRMICO".
A não satisfação pode ser causada pela sensação de desconforto pelo calor ou pelo frio,
quando o balanço térmico não é estável, ou seja, quando há diferenças entre o calor
produzido pelo corpo e o calor perdido para o ambiente.
Como pode se observar, trata-se de um conceito estatístico, não sendo possível
estabelecer-se um valor padrão.
A norma internacional para averiguar o conforto térmico em ambientes é a ISO 7730 (1994).

Vantagens da existência de
conforto térmico
Entre outras podemos citar:
— Maior rendimento do trabalho.
— Menor índice de acidentes.
— Menor índice de doenças (fadiga, exaustão, desidratação).
— Melhor entrosamento funcional x social.
— Maiores lucros.
Fatores influentes no conforto
térmico
São os fatores que o ar condicionado objetiva controlar visando o conforto humano.
Podemos citar:
— Temperatura do ar.
— Umidade relativa do ar.
— Velocidade do ar.
— Temperatura radiante média.
— Produção interna de calor - metabolismo gerado pela atividade física
— Resistência térmica pela vestimenta.
Além disso, variáveis como sexo, idade, raça, hábitos alimentares, peso, altura etc podem
exercer influência nas condições de conforto de cada pessoa e devem ser consideradas.

O homem como máquina térmica


Pela termodinâmica sabe-se que um motor térmico para produzir trabalho segundo um ciclo,
necessita trocar calor entre duas fontes a temperaturas diferentes, TH e TC.
O homem comporta-se como um motor térmico no meio em que vive, recebendo um calor
QH, proveniente da queima dos alimentos em suas células e liberando continuamente um
calor QC para o meio, bem como trabalho e resíduos.

FONTE QUENTE - TH

QH

MÁQUINA TÉRMICA METABOLISMO


CORPO HUMANO TRABALHO EXTERNO

QC

FONTE FRIA - TC
ENERGIA E VIDA: Através da fotossíntese os vegetais transformam a energia proveniente
do sol em energia química latente, a qual passa a ser assimilada por todos os organismos
animais. Esta energia é liberada sob a forma mecânica, calorífica ou mesmo elétrica e
luminosa.

METABOLISMO HUMANO: Ao conjunto de transformações de matéria e energia


relacionadas com os processos vitais, dá-se o nome de metabolismo.

Metabolismo é o processo de produção de energia interna a partir de elementos


combustíveis orgânicos. Porém, de toda energia produzida pelo organismo humano, através
do metabolismo, apenas 20% é transformada em potencialidade de trabalho. Os 80%
restantes são transformados em calor, que deve ser dissipado para que a temperatura
interna do organismo seja mantida em equilíbrio. Isto acontece porque a temperatura interna
do organismo humano deve ser mantida praticamente constante em 37ºC (variando entre
36,1 e 37,2ºC). Os limites para sobrevivência estão entre 32 e 42ºC.
Como a temperatura interna do organismo deve ser mantida constante, quando o meio
apresenta condições térmicas inadequadas, o sistema termo-regulador do homem é ativado,
reduzindo ou aumentando as perdas de calor pelo organismo através de alguns
mecanismos de controle, como reação ao frio e ao calor.

Pode-se dizer então que o organismo humano experimenta sensação de conforto


térmico quando perde para o ambiente, sem recorrer a nenhum mecanismo de
termorregulação, o calor produzido pelo metabolismo compatível com sua atividade.

FATORES INFLUENTES NO METABOLISMO — São diversos:


IDADE: O metabolismo do homem até os 5 (cinco) anos é mais ou menos o dobro daquele
entre os 20 - 40 anos (que permanece mais ou menos constante nesta faixa).
DIGESTÃO: Torna-se mais elevado para proteínas e menos elevado para açúcar e gordura.
SUBNUTRIÇÃO: Diminui o metabolismo.
ESTADOS PATOLÓGICOS: Aumenta em geral.
AMBIENTE ADVERSO: Também aumenta.
ATIVIDADE: É significativa sua influência no processo metabólico.
METABOLISMO BÁSICO: Também chamado de basal ou mínimo, determina a dissipação
de energia térmica por um indivíduo, por metro quadrado de superfície de corpo, nas
seguintes condições:
— Após 12 horas de jejum.
— Deitado.
— Em repouso absoluto.
— Normalmente vestido.
— Em condições ambientais de conforto.

O valor do metabolismo basal é de ± 40 kcal/h.m2 (46 W/m2)

Abaixo citam-se suas proporções de aumento do metabolismo com relação a atividades:

REPOUSO ABSOLUTO......................... 100%


TRABALHO LEVE ................................. 130%
TRABALHO ESCRITÓRIO ................... 140%
TRABALHO BALCÃO ........................... 160%
DANÇANDO MODERADO.................... 260%
TRABALHO MODERADO..................... 300%
TRABALHO PESADO ........................... 450%

A Tabela 1 apresenta dados relativos ao calor dissipado pelo corpo em função da atividade
do indivíduo. O metabolismo pode ser expresso em W/m2 de pele ou em Met, unidade do
metabolismo cujo valor unitário corresponde a uma pessoa relaxada. Assim,
1 Met = 58,15W/m2 de área de superfície corporal.

Tabela 1. Taxa metabólica para diferentes atividades segundo ISO 7730 (1994).
Atividade Metabolismo(W/m2)
Reclinado 46
Sentado, relaxado 58
Atividade sedentária (escritório, escola etc.) 70
Fazer compras, atividades laboratoriais 93
Trabalhos domésticos 116
Caminhando em local plano a 2 km/h 110
Caminhando em local plano a 3 km/h 140
Caminhando em local plano a 4 km/h 165
Caminhando em local plano a 5 km/h 200
A Figura 1 apresenta algumas atividades expressas em Met.

Figura 1. Algumas atividades humanas medidas em Met.

Regulação térmica
Uma vez que não só as atividades dos organismos animais, como também as condições
climáticas, são altamente variáveis, necessitam estes organismos lançar mão de um
mecanismo de adaptação térmica para propiciar sua sobrevivência (e conforto) — este
mecanismo é a regulação térmica. A regulação térmica se verifica praticamente através de
trocas térmicas, em forma de calor sensível (Qs) e calor latente (QL).
Quanto à temperatura que mantêm em seus corpos, os animais podem ser classificados em:
POIKILOTERMOS: Aqueles que possuem temperatura do corpo variável em função do
meio, impropriamente chamados de "animais de sangue frio". Ex.: peixes.
HOMEOTERMOS: Impropriamente chamados de "animais de sangue quente", possuem
temperatura do corpo constante, como é o caso do homem, cuja temperatura oscila ao redor
de 37°C.

MECANISMOS DE TERMO-REGULAÇÃO

REAÇÃO AO CALOR
Em ambientes quentes as trocas de calor que o organismo necessita realizar para manter
sua temperatura interna constante são reduzidas, assim, o organismo reage por meio de
mecanismos automáticos, proporcionando condições de troca de calor mais intensa entre o
organismo e o ambiente e reduzindo as combustões internas.
O incremento das perdas de calor para o ambiente ocorre por meio da vasodilatação e da
transpiração.
A redução das combustões internas — termólise — se faz através do sistema glandular
endócrino.

REAÇÃO AO FRIO
Em ambientes frios as condições ambientais proporcionam perdas de calor do corpo além
das necessárias para a manutenção de sua temperatura interna constante. Nesse caso, o
organismo reage por meio de seus mecanismos automáticos buscando reduzir as perdas e
aumentar as combustões internas.
A redução de trocas térmicas entre o indivíduo e o ambiente se faz através do aumento da
resistência térmica da pele por meio da vasoconstrição, do arrepio, do tiritar (tremer e bater
os dentes).
O aumento das combustões internas — termogênese — se dá através do sistema glandular
endócrino.

A PELE
É através da pele que se realizam as trocas de calor, ou seja, a pele é o principal órgão
termo-regulador do organismo humano. A temperatura da pele é regulada pelo fluxo
sangüíneo que a percorre, ou seja, quanto mais intenso o fluxo, mais elevada sua
temperatura.
Ao sentir desconforto térmico, o primeiro mecanismo fisiológico a ser ativado é a regulagem
vasomotora do fluxo sangüíneo da camada periférica do corpo, a camada subcutânea,
através da vasodilatação ou vasoconstrição, reduzindo ou aumentando a resistência térmica
dessa camada subcutânea.
Outro mecanismo de termo-regulação da pele é a transpiração, que tem início quando as
perdas por convecção e radiação são inferiores às perdas necessárias à termo-regulação.

TROCAS TÉRMICAS ENTRE CORPO E AMBIENTE


A quantidade de calor liberado pelo organismo é função da atividade desenvolvida. Este
calor será dissipado através de mecanismos de trocas térmicas entre o corpo e o ambiente
envolvendo:
1) trocas secas: O calor perdido para o ambiente através das trocas secas é denominado
calor sensível (Qs) e é função das diferenças de temperatura entre o corpo e o ambiente.
Ocorre através de:
- condução;
- convecção;
- radiação;

2) trocas úmidas: O calor perdido através das trocas úmidas é denominado calor latente
(QL) e envolve mudanças de fase – o suor (líquido) passa para o estado gasoso através da
evaporação.

A VESTIMENTA
A vestimenta equivale a uma resistência térmica interposta entre o corpo e o meio, ou seja,
ela representa uma barreira para as trocas de calor por convecção. A vestimenta funciona
como isolante térmico, pois mantém junto ao corpo uma camada de ar mais aquecido ou
menos aquecido, conforme seja mais ou menos isolante, conforme seu ajuste ao corpo e a
porção do corpo que cobre.
Em climas secos (desertos), onde se atinge elevadas temperaturas, poder-se-ia pensar que
a ausência de roupas poderia garantir condições mais confortáveis para os habitantes
destas regiões. No entanto, em climas secos, vestimentas adequadas podem manter a
umidade advinda do organismo pela transpiração e evitar a desidratação. A vestimenta
reduz o ganho de calor relativo à radiação solar direta, as perdas em condições de baixo
teor de umidade e o efeito refrigerador do suor.
A vestimenta reduz também a sensibilidade do corpo às variações de temperatura e de
velocidade do ar. Sua resistência térmica depende do tipo de tecido, da fibra, do ajuste ao
corpo, e deve ser medida através das trocas secas relativas a quem usa. Sua unidade é o
clo, originada de clothes.
Assim:
1 clo = 0,155 m2.ºC/W  equivale a 1 terno completo.

A Tabela 2 apresenta o índice de resistência térmica (Icl) para as principais peças de roupa,
sendo que o índice de resistência térmica (I) para a vestimenta de uma pessoa será,
segundo a ISO 7730 (1994), o somatório de Icl (Figura 2), ou seja:

I = ΣIcl

Tabela 2. Índice de resistência térmica para vestimentas segundo ISO 7730 (1994).
Vestimenta Índice de resistência térmica – Icl (clo)
Meia calça 0,10
Meia fina 0,03
Meia grossa 0,05
Calcinha e sutiã 0,03
Cueca 0,03
Cuecão longo 0,10
Camiseta de baixo 0,09
Camisa de baixo mangas compridas 0,12
Camisa manga curta 0,15
Camisa fina mangas comprida 0,20
Camisa manga comprida 0,25
Camisa flanela manga comprida 0,30
Blusa com mangas compridas 0,15
Saia grossa 0,25
Vestido leve 0,15
Vestido grosso manga comprida 0,40
Jaqueta 0,35
Calça fina 0,20
Calça média 0,25
Calça flanela 0,28
Sapatos 0,04
Figura 2. Somatório de peças de roupa que produzem índice de resistência térmica final

Cálculo do Metabolismo
SUPERFÍCIE DO CORPO HUMANO

É possível de ser calculada através da fórmula de DUBOIS:

2 0,4266 0,7246
S(m ) = 0,203 kgf XH

EXEMPLO:

Para um homem de 1,8m de altura e 75kg de peso teríamos:

2
S = 1,98 m

Sendo o metabolismo basal de ± 40 kcal/h.m2 (46,52 w/m2)

MBasal = ± 79 kcal/h (92,22 W), isto é

± 1 kcal/h.Kgf (1,23 W/kg)


Equação do metabolismo
O homem, como Homeotermo, para manter sua temperatura constante, efetua trocas
térmicas com o ambiente. As trocas térmicas com o meio podem ser expressas através da
chamada Equação do metabolismo:

Q1 = (M) = ± Qo ± Qs ± Qr + QL (kcal/h)

Onde:
Qo – calor sensível para variar a temperatura do corpo
Qs – calor sensível trocado com o meio
Qr – calor radiante trocado com o meio
QL – calor latente liberado para o meio

Sendo:

Qo = m.Cp.Tc (kcal/h)
Expressa o calor necessário para variar de tc a temperatura tc do corpo e onde:
m = Massa do corpo
Cp = Calor específico do corpo
Tc = Variação em torno da temperatura tc do corpo
Para Tc = cte, Tc e Qo = O

Qs = A.S.(Tc - Ta) (kcal/h)


Expressa as trocas térmicas em forma de calor sensível, sendo:

TROCAS EXTERNAS: por convecção, radiação, condução.


TROCAS INTERNAS: através de alimentos, bebidas, inspiração.

A = U (1 + 0,13.V.(m/s)), para temperatura de 18 a 30°C e

sendo U = 2 a 3, para indivíduos de pele branca e normalmente vestidos.


S = Superfície do corpo.
Tc = temperatura do corpo.
Ta = Temperatura do ambiente.
Qr = S.Hr.(Ts-Tp) (kcal/h)
Parcela de calor radiante trocada com o meio ou com outro homem.
S = Superfície do corpo (m2)
Hr = Coeficiente de película

Fr x 0,2 x (Tsc/100)3 (kcal/h m2º C)

Tsc = Temperatura média das superfícies circundantes (K)


Fr = Coeficiente radiação
Ts = Temperatura média da pele
Tp = Temperatura média das paredes

QL = B.r.E.S (Ps - Pv) (kcal/h)


Parcela de calor latente liberado para o meio em forma de:

EXALAÇÃO: Vapor expirado pêlos pulmões.


EXSUDAÇÃO: Evaporação do suor, e onde:
B = 0 a 1, coeficiente de utilização da possibilidade de evaporação com relação ao meio.
PARA B = 1, temos a máxima possibilidade que o meio admite.
PARA B = 0,13, o homem se encontra confortável (zona de conforto).

r = 0,6 kcal/g (calor latente de vaporização da água)


E = Coeficiente Evaporação = 22,9+17,4 Vm/s.
S = Superfície do corpo (m2)
Ps = Pressão de saturação d'água na temperatura do corpo (p/37°C - 47mmHg).
Pv = Pressão parcial do vapor d'água no ar.

A norma ABNT NBR 16401 – Instalações de ar condicionado – Sistemas centrais e unitários


– Parte 1: Projetos das instalações’ indica valores de calores sensível e latente liberados em
função do local e temperaturas ambientais que podem ser utilizados para projeto.
Exemplo de possibilidades de
trocas térmicas
HOMEM x MEIO AMBIENTE
Atividade — Moderada
S = 1,8m2 — Sup. do corpo
B = O a 1 — Coeficiente de utilização da possibilidade de evaporação.
Calcular os calores trocados para as seguintes situações:

T 
70 10%
26,5 48
26 54
25,5 60
25 66
37 100%

Solução 1:

INDIVÍDUO: S =1,8m2 Ts=37°C Ps=47mmHg

MEIO: Ta=70°C  = 10% Pv=30mmHg

PARA: ar em repouso (V = Om/s)

A=U(1+0,13m/s) - Pessoa normalmente vestida.

Qs máx. = AS (Ts - Ta) kcal/h


3 X 1,8 (37-70) = (—) 178,2 kcal/h

QL máx. = BrES (Ps - Pv) kcal/h


1 x 0,6 x 22,9 x 1,8 (47 - 30) = 422 kcal/h

PORTANTO:
Calor a ser liberado em forma latente. 166 kcal/h —(—) 178,2 kcal/h = 344 kcal/h Calor latente
máximo onde o meio permite liberar:
422 kcal/h. O homem ainda sobrevive termicamente nestas condições.
T  Qs máx. QL máx. METABOLISMO ATIV. MODERADA
Qt B PV
70 10% —178 422 344 0,82 30
(166+178)
26,5 48 56,7 841 166 0,13 14
(56,7+109,3)
26 54 59,4 816 166 0,13 13
(59,4+106,6)
25,5 60 62,1 791 166 0,13 15
(62,1 +103,9)
25 66 64,8 766,7 166 0,13 16
(648+101,2)
37 100% 0 0 166 0 47
(0+0)

Nas condições de conforto (zona de conforto) o indivíduo libera a quantidade de calor


correspondente à atividade moderada (166 kcal/h), em forma de calor sensível e latente em
diferentes proporções, sendo que o valor do calor latente sempre complementa o sensível,
que é determinado por fatores independentes do mecanismo de regulação térmica.
(Temperatura ambiente, temperatura do corpo, etc.).
Desta forma, se por exemplo, o meio (nas condições 70°C e 10%) imputa calor sensível ao
homem, este, através de seu mecanismo de regulação térmica, deverá na forma de calor
latente, transmitir não só a parcela assimilada do meio, como a porção de calor
correspondente ao metabolismo em atividade moderada, ou seja, 166 Kcal/h. Enquanto este
valor resultante não ultrapassar a possibilidade máxima de evaporação (B = 1), QL máx., o
indivíduo tem possibilidade térmica de sobrevivência. Subtraindo-se do calor total que o
indivíduo necessita liberar para o meio num determinado grau da atividade (ex.: 166 kcal/h),
a quantidade de calor trocada de forma sensível (ex = 59,4 kcal/h), obtém-se o valor a ser
trocado de forma latente (ex = 106,6 kcal/h). Este valor comparado com a possibilidade
máxima de evaporação que o meio permite, nos fornece o valor B, coeficiente de utilização
da possibilidade de evaporação. (Ex = 166 - 59,4) kcal/h - 816 kcal/h =0,131= B.
Ainda pode se observar que num meio com t = 37°C e 0 = 100%, o indivíduo não possui
condições de trocas térmicas, sendo portanto, impróprio para sobrevivência.
Carta de conforto (ASHRAE)
Em 1923 surgiu a primeira carta ou tabela relacionada com determinação de zona de
conforto térmico, estabelecida de forma estatística, combinando de diversas formas umidade
e temperatura, e para uma movimentação de ar de 0,08 m/s a 0,13 m/s. As LINHAS DE
IGUAL SENSAÇÃO TÉRMICA, podem ser comparadas com as curvas de distribuição da
aceitação por grupos de pessoas em termos de maior ou menor conforto térmico, tanto no
inverno como no verão. A carta original da ASHRAE não sofreu alterações praticamente até
esta data. Em 1960, surgem (ASHRAE JOURNAL - ABRIL) quatro linhas, para inseridas na
carta, definirem de forma mais prática pontos de conforto, expressos em termos de:
LIGEIRAMENTE FRIO, CONFORTÁVEL , LIGEIRAMENTE QUENTE , QUENTE.
Diversas combinações de diferentes temperaturas, umidade relativa e movimentações do ar,
delimitam "ZONAS" de conforto térmico.
Índices de conforto térmico
Esses índices são parâmetros indicadores da sensação de bem-estar e podem ser
classificados em:
DIRETOS: temperatura de termômetro seco, úmido e de orvalho, umidade relativa e
velocidade do ar
DERIVADOS:
Temperatura Radiante Média: temperatura uniforme da superfície de um ambiente
imaginário no qual uma pessoa trocaria a mesma quantidade de calor por radiação que no
recinto real não uniforme.
Temperatra operativa: temperatura uniforme de um ambiente imaginário, no qual uma
pessoa trocaria a mesma quantidade de calor por radiação e convecção que no ambiente
não uniforme.
Temperatura Efetiva: temperatura de um recinto que comparada com um outro contendo ar
praticamente em repouso (velocidades compreendidas entre 0,1 e 0,15 m/s) e
completamente saturado de umidade (100% de umidade relativa), proporciona a mesma
sensação de frio ou calor.
Essa temperatura pode ser determinada através de pessoas colocadas no referido recinto,
onde a temperatura lida no termômetro seco será a temperatura efetiva de qualquer outro
ambiente que apresente a mesma sensação térmica que este.

É importante definir-se praticamente esse índice:


- Se a sensação de calor do ambiente A é igual à do ambiente B, diz-se que ambos
possuem a mesma temperatura efetiva.
- Temperatura efetiva é aquela que expressa uma constante sensação de conforto para
diferentes combinações de umidade, temperatura e velocidade do ar, num determinado
ambiente.
A Figura abaixo, determinado experimentalmente com auxílio de grande número de
pessoas, fornece as temperaturas efetivas correspondentes a diversas condições
ambientes, caracterizadas pela temperatura TBS e TBU e deslocamento de ar, para
pessoas normalmente vestidas e em repouso.
Figura . Gráfico para determinação de Temperatura Efetiva (ASHRAE)

O voto médio predito


Este método foi desenvolvido por Fanger (FANGER, 1972) e é considerado o mais completo
dos índices de conforto pois analisa a sensação de conforto em função das 6 variáveis
envolvidas (atividade física, vestimenta, temperatura média radiante, temperatura do ar,
velociadade do ar e umidade relativa do ar).
Fanger derivou uma equação geral de conforto para calcular a combinação das variáveis.
Através de trabalho experimental, avaliou pessoas de diferentes nacionalidades, idades e
sexos, obtendo o voto médio predito (PMV - predicted mean vote) para determinadas
condições ambientais. O voto médio predito consiste em um valor numérico que traduz a
sensibilidade humana ao frio e ao calor. O PMV para conforto térmico é zero, para o frio é
negativo e para o calor é positivo. A partir daí, foi implementado o conceito de porcentagem
de pessoas insatisfeitas (PPD – predicted percentage of dissatisfied).
A norma ISO 7730 de 1984 adotou as pesquisas de Fanger, recomendando que, para
espaços de ocupação humana termicamente serem considerados termicamente aceitáveis,
o PPD deve ser menor do que 10%, o que corresponde a uma faixa de PMV de -0,5 a +0.5.
Devido as diferenças individuais é difícil especificar um ambiente térmico que satisfaça a
todos, sempre haverá uma percentagem de insatisfeitos. A Figura mostra a curva a que
Fanger chegou ao relacionar o PMV e o PPD.
O método prevê o voto de um grande grupo de pessoas através da escala mostrada na
Tabela 3.

Tabela 3. Escala térmica de Fanger.


Escala Sensação
+3 muito quente
+2 quente
+1 levemente quente
0 neutro
-1 levemente frio
-2 frio
-3 muito frio
NBR 16401-2008
A ABNT NBR 16401-2008 estabelece parâmetros ambientais suscetíveis de produzir
sensção aceitável de conforto térmico em 80% ou mais das pessoas:

VERÃO (roupa típica 0,5 clo)


Temperatura operativa e umidade relativa dentro da zona delimitada por:
- 22,5ºC a 25,5ºC e umidade relativa de 65%
- 23,0ºC a 26,0ºC e umidade relativa de 35%

INVERNO (roupa típica 0,9 clo)


Temperatura operativa e umidade relativa dentro da zona delimitada por:
- 21,0ºC a 23,5ºC e umidade relativa de 60%
- 21,5ºC a 24,0ºC e umidade relativa de 30%

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