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Elementos de Máquina

Thierry Caique Lima Magalhães


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1 INTRODUÇÃO AOS COMPONENTES MECÂNICOS

Apresentação

Neste bloco vamos abordar alguns aspectos essenciais para a formação de um


engenheiro mecânico responsável, prático e criativo. O foco está em combinar a
análise técnica, visão crítica e ética com o desenvolvimento de novas estruturas,
equipamentos e utensílios, baseados em critérios de projeto, desenho mecânico,
dimensionamento, materiais e processos de fabricação.

A seleção e dimensionamento correto de materiais, máquinas e componentes


mecânicos é parte imprescindível do desenvolvimento de processos e projetos. Para
isso, além de aplicar à prevenção de falhas sob carregamento estático e dinâmico,
serão comentados ao longo do curso, como avaliar catálogos, normas técnicas e alguns
tópicos especiais da engenharia mecânica.

Os elementos de máquinas são os dispositivos fundamentais que compõem um


sistema mecânico. Existem diversos componentes mecânicos empregados nas mais
variadas aplicações. Dentre eles se destacam itens como molas, engrenagens, eixos,
acoplamentos, chavetas, estrias, parafusos, rebites, arruelas, rolamentos, freios,
embreagens, correias, correntes etc.

A seguir, serão apresentadas as características gerais de cada um destes componentes,


assim como os critérios para realização de projeto mecânico, envolvendo o
dimensionamento e a seleção dos materiais mais indicados para cada situação. Aqui,
abordaremos o projeto, sobretudo pelo critério de resistência, porém também nos
atentaremos à viabilidade econômica.

1.1 Introdução aos componentes mecânicos

Os eixos são componentes mecânicos, geralmente, de seção transversal circular


utilizados para transmissão de potência.

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Os eixos fixos são chamados apenas de eixos e são usados para suportar elementos
girantes. Eles não transmitem torque e/ou movimento.

Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 1.1 – Eixo fixo

Os eixos rotativos são denominados árvores. Eles transmitem potência e/ou


movimento de rotação. A transmissão de movimento ou torque é feita por meio do
uso de polias, engrenagens, rodas de atrito, acoplamentos etc.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 1.2 – Eixo árvore com engrenagem

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As chavetas são rasgos feitos em um eixo para acoplar outros elementos (polias,
engrenagens etc.), transmitindo torque ou potência. As chavetas são padronizadas
pelo tamanho e pela forma em vários estilos, os mais comuns são: paralelas, cônicas e
woodruff (meia-lua).

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 1.3 – Rasgos de chaveta em eixo

As estrias são um conjunto de chavetas utilizadas quando é preciso transmitir mais


torque do que o transmitido pelas chavetas. Podem ser de seção transversal quadrada
ou evoluta. A SAE (sociedade dos engenheiros automotivos) e a ANSI (instituto de
padrões nacionais americanos) padronizam os eixos estriados. Geralmente são
fabricados por fresamento (usinagem), sendo muito aplicados em caixas de marchas,
motores e equipamentos robóticos.

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Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 1.4 - Eixo Estriado

Os acoplamentos são elementos utilizados para a interligação de eixos, possuindo a


função de ligar eixos de mecanismos diferentes, permitir sua separação para
manutenção, ligar peças de eixos e atenuar choques e vibrações. Os acoplamentos
podem ser divididos em duas categorias gerais (Rígidos e Flexíveis).

Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 1.5 – Acoplamento flexível de borracha utilizado em um eixo kardan de um


motor de combustão interna

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Parafusos são elementos de fixação formados por um corpo cilíndrico (haste), cabeça
(alguns não possuem) e rosca (alguns possuem parte da haste, sem rosca). São
empregados para fixação não permanente de peças variadas, podendo ser facilmente
montados e desmontados. Existem quatro grandes grupos de parafusos: passantes,
não passantes, de pressão e prisioneiros.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 1.6 - Parafuso rosqueado

As molas são usadas nas máquinas para exercer força e fornecer flexibilidade para
armazenar ou absorver energia. As molas estão divididas em três grandes grupos
(Helicoidais; Tração e Compressão; e Torção). As molas são aplicadas nas mais diversas
situações, como amortecedores de vibrações e ruídos em suspensões de veículos,
balanças, relógios etc.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 1.7 - Molas do cabeçote de um motor

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Rolamentos são elementos de suporte em que o movimento relativo predominante


entre o eixo e a caixa do mancal é a rotação. A escolha do rolamento deve atender as
seguintes especificações: as dimensões dos elementos de máquinas adjacentes já
projetados, as cargas envolvidas no projeto e a vida útil elevada. Eles são classificados
quanto à carga (Axial e radial), quanto à geometria (esferas, autocompesadores,
cônicos, rolos etc.); e podem ser classificados quanto a sua forma construtiva (abertos,
blindados e vedados).

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 1.8 – Rolamento de agulhas de uma caixa de marcha

Correias são elementos flexíveis de transmissão de potência, geralmente utilizadas


para grandes distâncias entre centros. Em alguns casos, uma polia intermediária pode
ser utilizada para evitar ajustes de distância entre centros. Os tipos de correias mais
comuns encontradas, de acordo com a sua geometria são plana, redonda, V e
sincronizadora.

Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 1.9 - Correia de acionamento em automóveis

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Correntes são elementos flexíveis de transmissão em que o princípio de


funcionamento é o engrenamento entre a corrente e a roda dentada, sendo que estes
não apresentam escorregamento entre si, basicamente apresentam dois modos de
falha (desgaste e fadiga). O tamanho das correntes é padronizado pela ANSI. Tanto as
correntes, quanto as correias são muito aplicadas em automóveis, motocicletas,
bicicletas e em sistemas de potência e transporte sobre distâncias comparativamente
grandes.

Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 1.10 - Corrente de transmissão

1.2 Materiais

A seleção de um material para uma peça de máquina ou membro estrutural é uma das
tomadas de decisões mais importantes no projeto mecânico. A escolha do material
está intrinsicamente ligada as tensões e deflexões as quais os elementos de máquinas
estão submetidos. A geometria e as condições de uso das peças desenhadas estão
intimamente ligadas as propriedades do material (resistência, dureza, ductilidade,
tenacidade, fadiga etc.). Além disso, nos processos de fabricação mais utilizados na
indústria, os materiais podem ser submetidos à tratamentos térmicos (têmpera,
revenimento, recozimento etc.). De modo a alterar suas propriedades, buscando uma
característica específica para determinada aplicação.

A seleção de um material é baseada de acordo com a aplicação, tipos de


carregamento, ambiente, processos de fabricação, propriedades do material, aspectos
econômicos e vida útil da peça ou máquina que está sendo projetada. De acordo com
o material empregado para confecção, a peça poderá ou não suportar determinada
carga, corrosão, altas temperaturas, ciclos de trabalho etc.

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Os materiais mais empregados na engenharia mecânica atualmente são Ligas


metálicas e não metálicas; compósitos; metais; não-metais etc. Os aços, dos mais
diversos tipos (carbono, liga, tratados termicamente etc.) são os mais
predominantemente utilizados, devido as suas boas propriedades mecânicas e por
serem facilmente submetidos a tratamentos térmicos, podendo assim adquirir as
características desejadas aquele segmento. Existe um importante método gráfico para
selecionar materiais, denominado cartas de Ashby, estas mostram dados de várias
propriedades para as famílias de classes de materiais mais comuns, empregados na
engenharia: Metais e suas ligas, Cerâmicas, vidros, polímeros, elastômeros e híbridos
(Compósitos, espumas e materiais naturais).

1.3 Projeto

Projetar se trata de desenvolver um plano para atender a uma necessidade específica


ou resolver um problema. Se resultar em algo concreto, o produto poderá então ser
fabricado, comercializado e usado. Trata-se de um processo inovador, repetitivo,
interativo e também de tomadas importantes de decisões, até mesmo com poucas
informações, ocasionalmente com a quantidade exata e/ou algumas vezes com
excesso de informações relevantes ao problema. Os engenheiros mecânicos estão
associados a produção e ao processamento de energia e ao fornecimento dos meios
de produção, ferramentas de transporte e às técnicas de automação.

Normalmente, um bom número de características deve ser considerado e priorizado


nas condições para se efetuar um projeto mecânico. Dentre elas destacam-se:
Funcionalidade, resistência/tensão, distorção/deflexão/rigidez, corrosão, fadiga,
confiança, durabilidade, confiabilidade, custos, rugosidade, vibrações, ruídos,
propriedades mecânicas, tratamentos térmicos, processos de fabricação, segurança,
etc.

Todas essas características estão diretamente ligadas às dimensões, geometria,


material e processamento das peças ou conjuntos mecânicos e devem ser levantadas e
avaliadas pelo projetista. O engenheiro de projetos precisa ser competente, ético,
responsável e profissional para que possa atender as demandas e necessidades da
sociedade, com a maior eficiência possível.

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Além dos recursos e ferramentas computacionais, como os softwares de desenho CAD,


usados para o desenho e planificação das peças, máquinas e ferramentas, atualmente
os engenheiros projetistas contam com o auxílio de técnicas numéricas e
computacionais como o método dos elementos finitos (FEA), CFD (Dinâmica dos
Fluidos Computacionais) que permitem predizer o comportamento de materiais,
estruturas, peças etc.

Antes mesmo de fabricá-las e usá-las, aplicando-se os conhecimentos de vibrações,


resistência dos materiais, transferência de calor e massa e mecânica dos fluidos etc.,
pode-se ainda buscar informações técnicas nas mais variadas fontes como bibliotecas
virtuais; artigos e periódicos; catálogos de fabricantes; dados de ensaios e manuais de
associações (Estados Unidos). Afinal, estes são importantes meios de se obter
conhecimentos para se realizar um projeto mais elaborado, detalhado e preciso.

Conclusão

O projeto de elementos de máquinas se trata de um processo interativo, sistemático e


contínuo que compreende várias etapas. As análises críticas para tomadas de decisões
importantes, são imprescindíveis para que se possa atender à demanda pretendida.
Além do mais, a responsabilidade social, ética e sustentável deve ser um dos pontos
crucias na elaboração do projeto.

Juntamente com os conhecimentos adquiridos ao longo do curso de engenharia


mecânica, os profissionais devem atentar-se aos conjuntos de tecnologias, normas e a
maior gama possível de informações técnicas, tornando-se mais viável a execução do
problema. É indiscutível o quanto os softwares CAD, CFD e FEA contribuem para a
predição e análise de comportamento dos sistemas, sendo assim, ter conhecimento
sobre essas áreas é vital ao engenheiro e sua equipe, pois estes executam os processos
de implementação das atividades.

Os demais blocos desse conteúdo buscam demonstrar como aplicar todos esses
conceitos para dimensionar, selecionar e analisar os principais elementos de
máquinas.

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REFERÊNCIAS

NORTON, R. L. Projetos de Máquinas: Uma Abordagem Integrada. 4 ed. Porto Alegre:


Bookman, 2013.

SHIGLEY, J. E.; BUDYNAS, R. G. NISBETT, J. K. Elementos de máquinas de Shigley. 8 ed.


São Paulo: AMGH Editora Ltda, 2011.

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