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Nós, Paiter Suruí,

NOSSA TERRA E AS MUDANÇAS DO CLIMA

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T.I. Sete De Setembro, 2018
AUTORIA: Luis Weymilawa Suruí,
Mopidaor Suruí, Bruno Suruí,
Diori Suruí e Maria Barcellos

ORGANIZAÇÃO: Maria Barcellos

TEXTOS:

REVISÃO DE TEXTOS: Diana Pelegrini, Matilde Mendes

DIAGRAMAÇÃO, ARTES GRÁFICAS E ILUSTRAÇÕES DE ABERTURA DOS CAPÍTULOS:


Lica Donaire

ILUSTRAÇÕES: Luis Weymilawa Suruí, Robson Suruí, Indira Suruí, Rubens Iamãy Suruí,
Samora oy ethi Surui, Ezequiel Surui, Iari Gabgir Surui.

COLABORADORES ESPECIAIS: Gasereg Suruí, Gakamam Suruí, Mopiri, Suruí,


Agamenon Suruí, Mo-geron Suruí, Elisângela D’Armelina Suruí, Meyoa Suruí,
Gapop Suruí, Perpera Suruí, Sérgio Pamaãn Suruí, Raissah Suruí, Gasodá Suruí,

INTRODUÇÃO
Gamalonô Suruí, Iari Gabgir, Arildo Suruí

Fotos: Jesco Von Puttkamer, Betty Mindlin e Maria Barcellos

TRADUÇÕES: Gamalonô Suruí Desenvolvida a partir dos materiais produzidos nas ofici-
nas para formação de “Medi-adores Culturais no Corredor
APOIO INSTITUCIONAL:
Etnoambiental Tupi Mondé sobre o tema das Mudanças
Climáticas e Gestão territorial”, esta cartilha foi criada
para apoiar o trabalho dos professores nas escolas indí-
genas do povo Paiter Suruí e ajudar as crianças a enten-
de-rem as dinâmicas que envolvem a questão das mudan-
ças climáticas globais, a impor-tância da manutenção da
floresta e dos serviços ambientais, os direitos dos povos
in-dígenas em um viés que valoriza os conhecimentos e
“Esta publicação pode ser reproduzida no todo ou em
parte e em qualquer forma para fins educacionais ou
percepções tradicionais do povo Paiter Suruí ao mesmo
A Iniciativa Comunidades da tempo em que apresenta os conhecimentos da ciência em
sem fins lucrativos, sem necessidade de permissão
Forest Trends apoia os povos
indígenas e as comunidades
especial do titular dos direitos autorais, desde que tor-no desses temas. Visa sobretudo prepará-los como fu-
seja citada a fonte. A Forest Trends e O Povo Suruí,
tradicionais na garantia de seus
porém, gostariam de ser informados e receber uma
turos gestores, para uma utiliza-ção responsável e susten-
direitos, na conservação de suas tável de seus territórios.
cópia de qualquer publicação ou menção que venha
florestas, culturas e costumes, e
utilizar esta publicação como fonte.
na promoção do seu bem viver.
É vetado qualquer uso comercial da publicação.”
“Este livro foi possível graças ao generoso apoio do povo americano através da Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Os conteúdos são de responsabilidade da Forest Trends e
não necessariamente refletem os pontos de vista da USAID ou do Governo dos Estados Unidos.”

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PARTE I

PAMA PAITER
TOYEN PAITER SURUI, TOY PIN E:
NÃN TOY INÃ, KAH PABI PAMAOR INÃ

NOSSO POVO
Nós, Paiter Suruí, Nossa Origem:
Quem Somos e de Onde Viemos
O COMEÇO DO MUNDO
PAMIN E XAGÛT

Os primeiros seres nasceram de si mesmos. Do nada. Brotaram. Ou


brotaram do inhame gopodjoga, ou brotaram como o inhame brota da
terra. É verdade que não existia nada, mas surgiu um pedaço de terra,
para os primeiros seres brotarem. Ninguém fez esse pedaço de terra.
Apare-ceu.
Nasceram primeiro, de si mesmos, Lakapoy, Tamoati, Palop, Moradati,
Gerepti, Gerpati. São es-ses Garbaiwai, donos do dia, senhores com
força para fazerem acontecimentos no mundo. Gar-baiwai, ainda hoje,
são os que dominam ou controlam processos, dotados de poder.
Os primeiros seres fizeram tudo. Já havia um pedaço de terra. Palop,
Nosso Pai, fez muito mais, fez a terra toda. Foi perguntando a cada um
dos outros o que iriam fazer.

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Uns ajudavam aos outros, foram fazendo. Lakapoy fez as rochas, Gerpati, antes de ser expulso por Palop, ensinou as mulheres índias a
as montanhas, o mato; Palop fez seu irmão, Palop Leregud. Tamoati fez fazerem. Gerpati, a aranha grande, ficou lá morando com os não índios.
Momboti, a cachoeira grande; Tamoati é o dono das cachoeiras. Fez a Palop deu aos índios tudo o que têm: os arcos, as flechas, os
cera de fazer flechas, borkaah, fez urucum. estojos penianos. A mulher de Palop dava para as índias os colares,
Tamoati mandou Moradati fazer os rios. Criaram primeiro todos braçadeiras de algodão, cestos, o tembetá betiga.Palop fez o espírito
os tipos de pássaros e de tatus, estes para cavarem o leito dos rios, as Kadoroti, que é quem dá, a pedido de Palop, tudo que é adorno aos
aves para fazerem pipi, formando as águas. homens e às mulheres. As pessoas faziam fila para lhe pedir pulseiras,
Reuniram-se todos os tatus do mundo, todos os pássaros. Os primei- colares, balaios, arcos pequenos pa-ra os meninos. Por isso, até hoje, o
ros foram cavando, criando o desenho dos rios. Eram todos os tipos avô dá arco pequeno para o neto que nasce.
de tatus, Chegaram então os pássaros, Win-win era seu chefe. Palop Palop, aos índios, mandou furar o lábio, fazer as tatuagens do
ia mandando todos fazerem pipi e as águas cresciam, até formar rios rosto, usar estojo peniano, enfeites nas pernas, cortar o cabelo segun-
grandes e pe-quenos. Estes mesmos pássaros depois, juntamente com do as regras corretas, pintar o corpo com jenipapo, usar o pelo de caiti-
Palop Leregud, na festa de Tamoati, quebraram panelas e cochos ikabi tu para enfeitar as flechas; mas mandou Palop Leregud não fazer nada
cheios de bebida da casa de Tamoati, que então prendeu os irmãos disso, para ficar com os brancos. Palop deixou os adornos mais belos
numa panela grande. para os índios.
Prontos os rios, Moradati e Palop pegaram cipós e levaram para Palop fez várias línguas, uma para os Paiter, outras para cada
os céus, para transportar água para lá e ter chuva mais tarde. Por isso é povo de índios, e outras para os brancos. Foi separando cada povo do
que até hoje há muito cipó na beira dos rios. outro, mandando para lugares diferentes na terra. Palop Leregud esta-
Assim os Garbaiwai foram fazendo o mundo todo, a terra, as monta- va gostando dos enfeites dos índios e queria ficar com a gente, conos-
nhas, as pedras, os rios, a flo-resta. co; mas Palop mandou-o para os brancos.
Palop fez os homens, mas a onça Meko, comeu-os todos. Então, Palop Palop disse aos homens, aos índios, que contassem para os fi-
mandou o veado ir à casa da onça para roubar os ossos dos homens, lhos a estória do começo do mundo e dos homens; para esses filhos
para poder, a partir dos ossos, refazer a humanidade. Também man- contarem aos próprios filhos e assim por diante.
dou, mais tarde, o pássaro Orowab roubar o fogo da onça, pois queria Palop fez sua mulher e engravidou-a sem namorar, só pelo espírito. Ela
dar para os homens. ainda não tinha vagina, manim, era lisinha mesmo, como um pedaço
Palop fez os iaraey, os brancos. Estes dormiam no chão, não ti- do peito. Já estava grávida quando ele cortou um ma-nim para ela, com
nham rede e ainda não tinham rou-pas. a mão mesmo, para o nenê sair. Por isso as mulheres até hoje têm ma-
Um dia, Palop expulsou Gerpati, a aranha grande, que era gen- nim. Palop fez em sua mulher tudo que é preciso para namorar e ter
te, para a terra dos Iaraey, também chamados Mambetorei ou Mate- filhos: a vagina, os grandes lábios, o úte-ro, os ovários, as trompas. Só
torei. Gerpati ficava bêbado demais nas festas, quebrava panelas, fazia depois que a mulher de Palop ficou grávida é que começou a nascer
grandes confusões. Palop, que havia feito algodão, fuso, tear e roupas gente, pois antes não nascia ninguém.
para Gerpati, mandou-o ir embora para os Matetorei. Recomendou-lhe Palop fez os órgãos sexuais do homem e da mulher. Usou o fru-
que lá se comportasse bem e não repetisse os estragos que fazia entre tinho Barikab para fazer sêmen, lob. Para fazer os líquidos femininos
os índios. Ameaçou-o: se fizesse seu escarcéu habitual, Hodi, um peixe usou o leite do coquinho pahakab ikor . Foi Palop também quem inven-
grande que engole gente, o agarraria no Matetorei. tou a morte.
Lá se foi Gerpati entoando sua cantiga, em que conta como Pa- (EXTRAÍDO DO LIVRO VOZES DA ORIGEM- BETTY MINDLIN E NARRADORES
lop criou o mundo. Viu os Iaraey adormecidos no chão e lhes fez rou- SURUÍ- DIKBOBA, PERPERA E GAKAMAM)
pas. Por isso, até hoje, os Iaraey têm roupas, enquanto os ín-dios têm
as redes, os colares, as tipóias, os cintos e braçadeiras de algodão que

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NOSSA ORIGEM
TOY PIN E

Contam os antigos que o nosso povo Paiter Suruí surgiu da seguinte


forma: Palop, Nosso Pai, re-solveu criar os seres humanos. Ele pegou o O veado-roxo foi até a aldeia das onças, tocando sua flauta: pum pum,
barro e com a fumaça do cigarro mahxo soprou nele e criou as pessoas puim pum, pum pum, puim pum….
de cada povo do mundo inteiro: índios, negros e brancos. Todos povos. Quando ele chegou à aldeia, as onças correram para cima dele
Viu de-pois que a criação não era boa e Palop pediu para as onças co- e queriam atacá-lo. Perguntaram ao veado se o poderiam comer e ele
merem todas as pessoas e pendu-rarem seus ossos em uma maloca respondeu que não, pois era amargo. As onças perguntaram se podiam
grande, muito grande. comer pelo menos seus olhos e cérebro, e ele respondeu que não, pois
As onças possuíam então os ossos de todas as pessoas, todas as estava todo amargo. Então as onças o lamberam e viram que realmente
nações existentes hoje. Nesse tempo, contam, o espírito de Palop ficou ele era amargo.
arrependido e quis as pessoas novamente. Chamou o veado-vermelho, Então as onças ofereceram uma rede para ele deitar, no interior
mateiro. O veado chegou tocando a flauta: pum pum, puim pum, pum da casa, e ficaram na porta, impedindo a saída do veado. No caminho
pum, puim pum. Palop perguntou: -quem vem chegando? O veado res- da aldeia para o rio e dentro da maloca, havia vários ossos pendurados.
pondeu: -eu mesmo. Palop falou:– Meu amigo, estou pensando em pe- Antes de ele ir até a aldeia das onças, Palop tinha falado que uma abe-
gar os ossos dos meus filhos, que estão com as onças. Para essa missão, lha warwarah iria avisá-lo para que, quando acordasse, estivesse pre-
terei que fazer um teste com você. Primeiro passou remédios amargos parado para o momento certo de pegar os ossos. O veado tentou levan-
no corpo dele. tar várias vezes, antes do warwarah avisar que era o momento certo.
E o teste que Palop fez com ele foi o seguinte. Levou o veado no Mas, sempre que ele levantava, as onças levantavam junto com ele.
alto de um morro e disse: No momento em que a abelha warwarah voou sobre ele, ele co-
– Você vai descer correndo e eu vou jogar uma pedra atrás de você. meçou a recolher os ossos. Os primeiros ossos que ele recolheu foram
Você terá que chegar primeiro que a pedra lá embaixo. os dos Gãbgirey, Gamebey, Kabaney, Makorey, brancos, mãp, agoiey,
Mas o veado não aguentou chegar primeiro que a pedra, berrou no watãrey e os outros. O veado foi recolhendo os ossos do interior da
meio da corrida. Palop falou para ele: casa e do caminho do rio. Enquanto isso, as onças corriam atrás dele,
– Você não consegue cumprir a missão. tentando pegá-lo, mas ele era muito rápido.
Então veio outro veado, o veado-roxo (Patxãub), cambuto, que chegou Dessa forma o veado conseguiu chegar até ao Palop. Palop agra-
tocando a flauta como o outro: pum pum, puim pum, pum pum, puim deceu a ele por ter conseguido pegar os ossos dos seus filhos.E o Palop
pum…Palop perguntou: -quem vem chegando? O veado respondeu: - soprou nos ossos, de grupo por grupo e assim foram surgindo as pesso-
eu mesmo. Aí Palop falou que queria resgatar os ossos dos seus filhos. as. Assim contam os antigos que surgiu a humanidade.
Falou para ele:
– Você vai descer correndo e vou jogar uma pedra atrás de você. Você (NARRADO POR GAKAMAM SURUÍ COM CONTRIBUIÇÕES DE MOPIRI SURUÍ,
terá que chegar primeiro que a pedra lá embaixo. AGAMENON SURUÍ, PERPERA SURUÍ E GAPOP SURUÍ- 2018)
O veado conseguiu chegar primeiro que a pedra embaixo.
Então só depois de aprovado no teste que Palop passou todos os tipos
de remédios amargos no corpo do veado, inclusive nos órgãos dele.

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Atividades - SOMAGA WE EY
NÓS, PAITER SURUÍ - NOSSA HISTÓRIA
1 Leia o texto que conta a estória da origem do povo Paiter e verifique se TOYEN PAITER SURUÍ- TOY A HISTÓRIA
existem palavras que você não entendeu. Escreva essas palavras no seu
caderno e tire as dúvidas com os colegas e o professor. 1.TEMPO DA VIDA LIVRE NA FLORESTA -
TOYE ITXA WE SAME PEREDE SONÃ GARAH KOY E:
2 Em conjunto com seus colegas de sala, identifique uma pessoa que co-
nheça bem as es-tórias do seu povo e convide-a para ir à escola contar Nesse tempo nossos antigos viviam plena-
a estória da origem em todos seus detalhes. Aproveite para convidar mente sua liberdade. Não precisavam de
também os alunos de outras salas para assistirem a nar-ração. Após nada do mundo não indígena . Ao longo de
conhecerem bem a estória da origem, organizem-se, preparem-se e milhares de anos haviam desenvolvido tec-
façam uma apresentação teatral na escola convidando a comunidade nologias próprias para atender as necessida-
para assistir. des do dia a dia. Nesse tempo, a convivência
3 Desenhe a estória da origem dos Paiter em seis quadrinhos, escolhen- com a natureza era a me-lhor possível pois os
do você mesmo as partes que quer desenhar. espíritos da floresta ensinavam por meio dos
sábios pajés como tratar doenças. Os antigos
4 Procure saber como nasceu Palop e conte isso em um pequeno texto eram divididos em linhagens clânicas: Gabgir
no seu caderno. (povo do marimbondo pre-to), Gameb (povo
5 Qual é a sua linhagem clânica? Juntamente com outros colegas do seu do marimbondo amarelo), Makór (povo da
mesmo clã pro-cure uma pessoa que saiba contar sobre a estória e his- taquara) e Kaban (povo da fruti-nha kaban). Ainda hoje é assim. Existi-
tória da sua linhagem. Pode ser seu pai, avô ou tio mais velho. Escreva ram também outras linhagens além dessas quatro. Os conhecimentos
em seu caderno o que você aprendeu sobre sua linha-gem clânica. sobre a floresta e a sabedoria dos ancestrais os orientavam sobre como
utili-zar os recursos da natureza e também as regras do bem viver. Di-
6 No passado, existiam outras linhagens clânicas além das quatro conhe- ziam alguns antigos que viemos dos lados de Cuiabá, fugindo dos bran-
cidas atualmen-te? Procure saber com as pessoas mais velhas e escreva cos, mas isso muito antigamente. Essa é uma lembrança muito, muito
sobre isso. Procure também saber como essas linhagens clânicas eram antiga.
criadas.
7 Procure encontrar o livro “Vozes da origem”da Betty Mindlin e narrado-
res Suruí e leia na segunda parte as narrações de Dikboba, Gakamam,
Atividades - Somaga we ey
Dikmuia, Marimop e Ikon sobre os “Guerreiros famosos” dos Paiter Su-
1 Imagine como seria a vida dos Paiter Suruí antes do contato com os
ruí. não índios, as relações sociais, as moradias etc. Faça um desenho bem
8 Procure também saber quem foram os narradores dessas estórias e a colorido demonstrando o que imaginou, se possível, faça tudo com de-
importância des-ses grandes homens na vida dos Paiter dicação para ficar bem bonito.

2 A vida antes do contato era tranquila? Converse com os mais velhos de


sua comunidade e busque informações sobre isso. Depois em uma roda
de conversas discuta na sala de aula com seus colegas e faça um texto
sobre o que você aprendeu.

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2. TEMPO DO CONTATO NÃO OFICIAL tosos. Devagar foram se tornando mais confiantes, mas mantiveram a
NYORI TOYJE YARA KA TOYEITXA EWE: grande aldeia, onde todos viviam, protegidos e distantes. (Imagens de
Jes-co Von Putkamer)
Nossos antigos con-tavam que conheciam os não índios há bastante
tempo. Falavam sobre o herói
Waiói, que mui-to antigamente
contava que conhecera os não
índios e convivera com eles, e
que esses pos-suíam panelas,
facas, facões, machados e armas
de fogo. Viam os seringueiros
que chega-vam para explorar
borracha. Nesse tempo conhece-
ram os machados, facas e facões de aço, que acharam mais eficientes
que os machados de pedra e faziam tudo para consegui-los. Nesses
4. TEMPO DO SARAMPO
MANÃ WE AHNE WE:
momentos, muitas vezes aconteciam conflitos. Cuidadosos na floresta,
eles sabiam quem ia chegando e quem passava. Dessa forma, devem
Três anos após o contato oficial realizado pela
ter visto a abertura das picadas quando Rondon passou por aqui, cons-
FUNAI, nossos antigos tiveram que se aproximar
truindo a linha telegráfica e a abertura da BR 364. Mas nos anos 60,
definitivamente dos não índios porque uma vio-
após a conclusão dessa rodovia em 1968, o governo dos militares resol-
lenta epidemia de sarampo (imagem de Jesco
veu fazer um programa de ocupação do território federal de Rondônia,
Von Putkamer) atingiu as aldeias e fez a po-pu-
sem contar que a área já era ocu-pada por muitos povos indígenas. Isso
lação diminuir muito. Menos de 300 pessoas
trouxe muita gente do sul do Brasil para Rondônia e a pressão sobre o
sobreviveram nesse tempo. Para ficar perto da
nosso território aumentou. O governo dizia que as terras precisavam
FUNAI onde recebiam atendimento e vacinas,
ser ocupadas e dizia que era preciso “integrar para não entregar”. Nes-
nossos mais antigos foram viver no Nambekó
se tempo o SPI (Serviço de Proteção aos Indios), criado pelo marechal
abada ki bá (o lugar onde foram pendurados os
Rondon dizia que os índios precisavam ser inte-grados à sociedade na-
facões). Nesse lugar, que ficava na linha 12, a
cional.
expedição da FUNAI havia se instalado. Foram
(Imagem de Jesco Von Putkamer)
quase todos para lá em busca de socorro.

3. TEMPO DO CONTATO OFICIAL Atividade - Somaga we


YARA KA TOYJE TOYALANE EWE:
Na sua opinião, quais foram os pontos positivos e negativos do contato
O contato oficial com os Paiter aconteceu por meio da expedição da FU- do povo Paiter com os não índios? Escreva o que você acha e discuta
NAI, chefiada pelo sertanista Francisco Meirelles, jun-tamente com seu com seus colegas em uma roda de conversas na sala de aula.
filho Apoena, no dia 7 de setembro de 1969, após uma longa e paciente
troca de presentes. Inicialmente o povo Paiter se aproximou com certo
receio, sem expor mulheres, velhos e crianças aos desconhecidos amis-

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5. TEMPO DAS INVASÕES E LUTAS: 2 Procurem também saber onde existem vídeos antigos sobre o tempo
Após a epidemia de sarampo uma parte do grupo, composta por uma do contato. Assis-tam aos vídeos e organizem com apoio do professor
grande família Gabgir, unida por casamentos a homens e mulheres uma roda de conversas sobre os ví-deos e colecione esses vídeos na
Kaban, foi atraída pa-ra as proximidades da vila de Espigão D’ Oeste, escola para que os futuros alunos também possam as-sisti-los.
por um grupo de irmãos não índigenas, que lo-teavam terras na região
e que possivelmente tinham interesses nas terras indígenas. Nesse lo- 3 Juntamente com os colegas e o professor façam uma lista de todos os
cal, essa família indígena, ficou vivendo até o final dos anos 70 (1978) livros que já fo-ram escritos sobre o povo Paiter Suruí e solicitem apoio
quando foram transfe-ridos pela FUNAI para a T. I. Sete de Setembro e para que esses materiais façam parte da biblioteca da escola.
se dividiram em 2 aldeias: a Gabgir e a aldeia da Placa. Após a saída das
últimas famílias de colonos, estimulados pela FUNAI, grupos famili-ares
dos Paiter se dividiram e se mudaram para diferentes localidades nos
limites da Terra In-dígena e foram cuidar dos cafezais deixados pelos 7. TEMPOS ATUAIS
colonos. Assim os Paiter começaram a cul-tivar o café como fonte de GÛHNÃ TOY EWE ITXAWE:
renda.
Em 49 anos de contato (1969-2018) com a socie-dade brasileira não

Atividade - SOMAGA WE
indígena, a vida de nosso povo sofreu um violento impacto em todos
os aspectos: territorial, cultural, econômico, social e ambiental. Primei-
ramente, perdemos grande parte de nosso território original estendido
A luta pelo território no tempo das invasões foi grande. Você sabe dizer muito além dos 248.146,92 hectares que hoje com-põem os limites de
os nomes das principais lideranças que lutaram para que a Terra Indíge- nossa terra. Junto com essa perda perdemos também as reservas na-
na Sete de Setembro fosse demar-cada e homologada? Procure se in- turais de matérias-primas utilizadas para a confecção de artefatos de
formar e escreva sobre o que você conseguiu encontrar como resposta. nossa cultura material. Pelo fa-to de estar muito perto dos colonos e de
cidades e influencia do trabalho de religiosos de fora, a cultura tradi-
6. TEMPO DA DEMARCAÇÃO DA TERRA cional foi perdendo sua força e hoje em dia, os pajés, que antigamente
GARAH KATAH WE:
eram mui-to fortes não exercem mais seus trabalhos de cura e nunca
mais fizeram seu protetor “Naraí”. Atualmente, podemos dizer que ape-
A demarcação da terra dos Paiter aconteceu no ano de 1976, e a posse
nas os mais velhos sabem fabricar tudo que os antigos fa-bricavam para
permanente foi declarada pela portaria 1561 de 29 de setembro de
usar no dia a dia. A construção das casas tradicionais, grandes, bonitas
1983 pelo presidente da Funai Octavio Ferreira Lima. Foi aí que a terra
e ade-quadas para o calor e abrigo das grandes famílias, foram deixadas
recebeu o nome de “Área Indígena Sete de Setembro”. Em 17 de outu-
de lado. A língua materna ainda é forte e utilizada pela população, mas
bro de 1983, a terra foi homologada através do decreto nº 88867.
corre o risco de enfraquecimento por causa dos casamentos com não

Atividades - SOMAGA WE EY
indígenas e também por ser pouco valorizada na escola pelos profes-
so-res não indígenas. O jeito tradicional de viver mudou muito nesses
anos e atualmente o povo Paiter se encontra muito dividido. Existem 27
1 Organize-se juntamente com colegas de sala e busquem fotografias an- aldeias na Terra Indígena Sete de Setembro. Nossas formas tradicionais
tigas do tempo do contato e façam um álbum de fotografias para ficar de economia mudaram muito. Hoje temos ainda nossos cultivos tradi-
na escola. Procure identificar as pesso-as nas fotos e saber mais sobre cionais, mas buscamos outras formas de economia para dar conta das
elas. necessidades que a vida moderna impõe sobre nossas comunidades.
Muitas vezes nossa terra tem sido explo-rada de forma errada e ilegal.

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Exploração de madeira, garimpo e arrendamento de terras têm ocor- 9. ASSOCIAÇÕES E PROJETOS
rido e isso não tem sido bom para o território. Estamos lutando para
enfrentar esses desa-fios. Muitas pessoas Paiter já viajaram para longe
NA T.I. SETE DE SETEMBRO
GARAH SETE DE SETEMBRO KA ASSO-CIAÇÃO EY, PROJETO EY JE EWE
do Brasil em busca de apoio para projetos e hoje já somos conhecidos
em muitas partes do mundo.
Antes existia apenas uma associação que representava to-dos clãs. Essa
era a associação Metareilá. Depois passaram a existir quatro associa-
8. A ESCOLA - SODIGAH: ções que representavam as quatro linhagens clânicas e um Fórum que
representava todas. Atualmente, o povo se encontra muito dividido e
Antigamente a roça servia muito como escola. Além de aprender o que por isso criaram muitas associações diferentes. O desen-volvimento de
era necessário saber para produzir, as crianças ouviam de um sábio ou projetos na T.I. Sete de Setembro começou por volta de 1990 e eles fo-
pajé as histórias so-bre o passado, as lutas com os não índios e o sen- ram feitos para apoiar o povo Paiter Suruí nos desafios que iam apare-
tido das festas. As crianças aprendiam tudo vendo, fazendo e ouvin- cendo no território. Foram desen-volvidos muitos projetos dessa época
do. Alguns anos depois do contato muitas crianças Paiter começaram até os nossos dias. O primeiro projeto foi apoiado pelo MMA (MInis-
a frequentar as escolas próximas de suas aldeias para aprenderem a tério do Meio Ambiente) para inventariar a Terra Indígena Sete de Se-
ler e escrever porque seus pais estavam preocupados com a vida tão tembro e desenvolver projetos econômicos sustentáveis (Metareilá). O
diferente que teriam que enfrentar no futuro. Hoje existem escolas nas projeto de Saúde Suruí com apoio da NORAD (Norwegian Agency for
aldeias e muitos professores indígenas dão aulas para as séries do en- Development) foi desenvolvido para diminuir a mortalidade das crian-
sino fundamental. Existem também professores não indígenas que dão ças e a responsabilidade foi do CERNIC. Um Projeto de Formação de
aulas para o Ensino Médio que também já existe nas aldeias. As escolas agentes indígenas de saúde e Projeto de escolarização de agentes in-
indígenas antigamente eram organizadas pela FUNAI, mas hoje elas são dígenas de saúde com apoio da FAFO e NORAD foi desenvolvido pela
responsabilidade do estado de Rondônia, que também oferece o curso PACA. A formação dos professores indígenas começou com um projeto
AÇAí para formar em magistério. Os professores indígenas estão sendo desenvolvido pelo IAMÁ. O Fórum das organizações Paiter junta-men-
formados pe-la UNIR (Universidade Federal de Rondônia) no Intercul- te com as quatro associações clânicas desenvolveram vários projetos
tural. Muitos já se formaram e se es-pecializaram em áreas diferentes e menores. A Asso-ciação dos Makór (Pamaur) com apoio do SINNAN e
alguns já fizeram mestrado e outros já fazem doutorado. Isso quer dizer da PACA criou o Centro de Cultura Pawentiga que gerava renda através
que as formas tradicionais de educação também mudaram muito. das visitas anuais de grupos de estrangeiros. A Associa-ção Metareilá
desenvolveu o Programa Paiterey, construiu com apoio de todos um

Atividades - SOMAGA WE EY
diagnóstico participativo e um mapa etno cultural e o Plano de Ges-
tão da Terra Indígena Sete de Setembro. Com apoio de vários parceiros
(ECAM (Equipe de Conservação da Amazonia), Idesam (Insti-tuto de
1 Quantas escolas existem na Terra Indígena Sete de Setembro, quantos Desenvolvimento Sustentável da Amazonia), Forest Trends, Kanindé e
professores e quantos alunos? Quantos alunos frequentam o ensino Funbio ( Fundo Nacional para a Biodiversidade) conseguiram aprovar o
fundamental e quantos frequentam o ensino médio? Pesquise sobre Projeto de Carbono Florestal Suruí e por isso ficamos muito conhecidos
isso com os professores e coordenação de ensino e faça uma tabela em várias partes do mundo. Alguns projetos não deram certo e outros
indicando as respostas. tiveram bons resultados. Atualmente cada associação e grupos comu-
nitários desenvolvem seus próprios projetos de forma independente e
2 Existem alunos que moram na Terra Indígena Sete de Setembro e estu- com apoio de diferentes parcei-ros.
dam o ensino fundamental ou médio na escola rural ou na cidade? Se
há, você sabe o porquê disso acontecer?
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Atividade - SOMAGA WE
2 Em conjunto com seus colegas de sala, Identifique duas pessoas mais
velhas de sua al-deia, de preferência um homem e uma mulher, para
contar como foi a caminhada do povo PAITER SURUÍ desde o contato
Pesquise sobre as associações do povo Paiter Suruí e faça um texto que com os não índios até os dias atuais.
contenha: a)quantas associações existem; b) quando e para que foram
criadas; c) o que realizaram desde sua criação até os dias atuais; d) 3 Juntamente com seus colegas e apoio dos professores, façam uma linha
quais projetos tiveram bons resultados e quais projetos não apresen- do tempo da história dos Paiter com desenhos e textos sobre os fatos
taram bons resultados. Reflita com o professor e os colegas porque al- que ocorreram desde o contato até os dias atuais com base na ativida-
guns projetos foram bem sucedidos e outros não. de anterior.

4 Com relação aos títulos e subtítulos na língua Paiter, existem diferentes


10. ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES - formas de tra-dução pois a língua ainda não está normatizada. Junta-
WALEL EY EWE ITXA WE SAME: mente com os colegas faça uma roda de conversas sobre isso, com o
apoio do professor.
As mulheres Paiter começa-ram a se organizar no ano de 2010 quan-
do foi realizada a primeira assembléia de mulheres que chamaram de
Waleley Emasoemapine Same (Mulheres conquistando espaço). Antes
disso elas participavam muito pouco das reuniões e atividades onde
decidiam o futuro do povo. Os homens sempre estavam na frente de
tudo. Na terceira Assem-bléia no ano de 2013 fizeram um levantamen-
to do que elas queriam aprender no espaço de três anos e programa-
ram oficinas de: Negócios e comercialização de ar-tesanato, Direitos In-
dígenas, Plano de gestão, Mudanças climáticas, lixo e saúde ambiental
e medicina tradicional, além de atividades de intercâmbio com outras
mu-lheres de outros povos para troca de experiências. Esse trabalho foi
apoiado pela Forest Trends e no período de três anos foram realizadas
seis oficinas. Uma dessas oficinas criou a Loja de Arte Paiter que atual-
mente comercializa as peças artesanais das mulheres.

Atividades - SOMAGA WE EY
Atividade extra:
OBSERVEM BEM ATENTAMENTE A ILUSTRAÇÃO DE
1 Qual a importância da organização das mulheres Paiter para a vida dos
ABERTURA DA PARTE I E FAÇA UMA RELAÇÃO POR ESCRITO
Paiter? Procure refletir sobre isso e escreva um pequeno texto com as
DOS ELEMENTOS DO DESENHO COM OS ELEMENTOS DA
suas próprias palavras.
CULTURA TRADICIONAL DOS PAITER SURUÍ.

20 21
PARTE II

SOE SAME PIN E

O SURGIMENTO DAS COISAS


Todos os povos do mundo têm um jeito próprio de explicar e contar
o surgimento das coisas. Desde muito antigamente, os nossos velhos
repassam o que eles aprenderam de outros velhos, que aprenderam de
outros velhos, que aprenderam de outros mais velhos ainda e assim até
chegar ao tempo em que vivemos. As estórias dos Paiter Suruí, como a
de outros povos, são muito grandes e uma estória puxa a outra. Nessa
parte da cartilha são contadas estórias do surgimento do Sol e do ven-
to, o surgimento da Lua, o surgimento do fogo e dos alimentos, como
se fossem separadas, mas na narração dos mais velhos elas são muito
mais cheias de detalhes e não acabam por aí.

22 23
SURGIMENTO DO SOL E DO VENTO
Mas mesmo assim os dois não tiveram sucesso com essa ideia de fazer
ventar e assim serem arrastados para a beira. A ideia foi um fracasso.
E Palop Leregud pediu a Palop: -Gorah, você poderia tentar fazer o que
GAT, WAHGO PIN E SAME eu fiz? E Palop aceitou o desafio.
Ao fazer o procedimento de chamar o vento, ele conseguiu, fazendo
o vento sair bem do fundo, quebrando as árvores ali ao seu redor. Foi
Não sabemos ao certo como surgiu o Sol. Antigamente, não existia Sol: assim que eles conseguiram sair do fundo da grande água e é por isso
apenas havia o dia, ou o clarão. que hoje vemos a onda do mar muito forte e alta.
Nesse tempo, Palop e Palop Leregud que sempre andavam juntos e se Mas, mesmo saindo do fundo do mar, eles não conseguiram sair de
chamavam entre si de Gorah (espírito dos céus), disseram: -Vamos lá dentro da panela. E se pergunta-
na casa do Tamõh txĩ! E lá chegaram, cumprimentando o Tamõh. -Olá, ram: -E agora? O que vamos fazer?
como vai? E o Tamõh txĩ respondeu: -Olá, estou bem! E disseram: -Que tal criarmos um
Como o Tamõh txĩ tinha chicha, ele ofereceu aos dois, até eles ficarem Sol? E juntos disseram: -Que boa
bêbados. No meio da festa, muito bêbado, um dos dois quebrou a cuia ideia, vamos fazer isso. E assim cria-
do dono da chicha, assim desperdiçando a bebida. ram o Sol, colocando-o no canto no
Nesse momento o Tamõh txĩ ficou bravo. E disse: -por que você fez sentido de onde o Sol nasce no céu
isso? -Por que quebrou minha cuia? Foi aí que o Tamõh txĩ disse: -Ah, hoje.
é? -É isso que vocês querem, é? Buscou mais uma panela, iyathir, mas Mas esse Sol estava muito fraco e
essa era muito maior do a que tinha sido quebrada. não fazia calor nenhum.
Foi aí que o Tamõh txĩ colocou a panela no chão pegou Palop e Palop Até que Palop Leregud disse a Palop: -Você poderia fazer com que o sol
Leregud e os colocou dentro da panela grande. Depois de colocá-los na esquente mais um pouco forte? Foi justamente quando o Sol estava
panela, pegou uma resina chamada de “lakay ap ah”, e tampou a boca no meio do dia, hora em que o Sol esquenta mais, hoje, na atualidade.
da cuia com as pessoas dentro. Essa tampa ficou muito bem lacrada. Só assim que Palop e Palop Leregud conseguiram sair da cuia grande.
Após lacrar a panela com as pessoas dentro, o Tamõh txĩ disse: -Vou Saíram porque o Sol esquentou e amoleceu o lacre da panela. Assim
jogar vocês no “be lohp sih”, referindo-se ao grande lago. Foi assim que conta-se a história de surgimento do Sol e do vento.
essa cuia com os dois dentro, foi parar no fundo do mar. Aí o Tamõh txĩ
disse: -Agora brinca comigo!
Depois de muito tempo, Palop disse ao
seu discípulo: Gorah! Você não poderia
fazer alguma coisa por nós?
E o seu discípulo perguntou: Gorah! -O
que você quer que eu faça?
Palop respondeu: -Você poderia criar o
vento e fazer com que ele vente muito
forte, fazendo ondas na água.
Assim fez Palop Leregud. E começou a chamar o vento, fazendo estron-
dos muito fortes com a boca, toh... toh... toh..., ote! ote assoviando
para chegar um vento! Logo nesse momento, o vento começou a ven-
tar, trazendo ondas muito altas que vinham quebrando tudo.

24
Atividades - Somaga we ey
longe, na clareira no mato, preparando flechas e outros presentes que
essa metade tinha que dar para a da comida, na festa.
Uma noite, um homem veio à maloquinha da menina, deitou-se na sua
1. Juntamente com os colegas da sua sala convide uma pessoa mais rede e namoraram. Bem baixinho, para ninguém ouvir, ela perguntou:
velha que é boa contadora de estórias, para narrar a estória do sur- - É você, meu tio, que está fazendo isso comigo?
gimento do Sol e do vento. Convidem também os alunos das outras - Sou eu, sim, seu tio materno...
salas para participarem da atividade. Depois escreva a estória com suas Muitas e muitas noites ele voltou. Quando escurecia, ele vinha sempre,
próprias palavras. e costumava deitar-se com ela. A menina perguntava:
2. Faça desenhos, da maneira que você achar melhor, que representem - É você, tio?
a estória do surgimento do Sol e do vento. - Sou, sim...mas não conte para ninguém, só quando você puder sair da
3. Escreva um texto com as suas palavras sobre a estória do surgimento maloquinha para casar.
do Sol e do vento. A menina ficou desconfiada, depois de um tempo - seria mesmo o seu
4. Pense como se você fosse homenagear o Sol e o Vento, imagine as tio, o visitante noturno? Resolveu que ia passar jenipapo no rosto dele.
coisas boas que o vento faz para as florestas, por exemplo, pode seme- À noite, como de costume, deixou encostada a portinhola de palha, o
ar as sementes e o Sol faz com que elas germinem, nasçam, virem árvo- labedog, na parte de trás da maloca, para ele entrar com facilidade. Já
res que dão a sombra, os frutos, abriga e alimenta os animais. Imagine tarde, ele veio, e se deitou com ela na rede.
como se o Vento e o Sol fossem grandes amigos e escreva um poema - Oi, tio, é você?
para homenageá-los. Para escrever um poema, deixe falar a voz do co- - Sou eu, sim!
ração. Depois declame (ler em voz alta com emoção) o seu poema para Ela pegou o jenipapo, e passou-lhe no rosto. Ele estranhou, mas ela
os demais colegas da turma. Faça uma ilustração e coloque no mural da disse que era água, para diminuir o calor.
escola, depois recolha e guarde para fazer o seu (ou da turma) livro de No dia seguinte, ela contou para a mãe o que vinha acontecendo.
poemas. - Mãe, será meu tio, mesmo, que me namora toda noite? Não pode ser,
não, minha filha, tio não faz isso com a sobrinha, só quando acaba a
reclusão. Se fosse outro, aí poderia ser...
- Você já perguntou mesmo se ele é seu tio?
- Perguntei! E ele disse para eu não contar a ninguém!
- Por que há de querer segredo? Se ele é seu tio, você é mulher dele,

O SURGIMENTO DA LUA
não dos outros, pode esperar você sair do resguardo!
- Gatikat min e same - Hoje eu passei jenipapo no rosto dele, mamãe! Você pode ir ver, lá
no metareilá, no mato, se é ele mesmo! A mãe achava que não era o
Foi assim como vai ser contado, que a lua surgiu. tio pois este não entraria às escondidas na maloquinha. Se fosse outro
Havia uma família, da metade ritual dos íwai, os da comida, que se ocu- pretendente, por exemplo um primo, então sim, tentaria namorar a
pava em preparar a bebida para a festa, indo colher cará na roça para mocinha à revelia do marido mais legítimo, o tio. Foi à clareira onde
cozinhar. Nessa família havia dois irmãos e duas irmãs. Uma das me- ficava a metade do mato, durante a seca, e voltou assustadíssima:
ninas, muito bonita, estava akapeab, em reclusão por estar na primei- - Minha filha, o rosto do seu tio não tem nenhum jenipapo, nenhu-
ra menstruação. Devia se casar, como deve ser, com seu tio materno, ma pintura. É o rosto do seu irmão, aqui na nossa metade, que está
quando acabasse o período de resguardo. pintado! A menina pôs-se a chorar, no maior desespero: -Então é meu
O tio materno, sendo da outra metade da aldeia, a do metareilá, ou do próprio irmão que vem me namorar, todas as noites! A mãe também
mato - pois por ser da outra metade é que podia casar com ela - estava chorava, e disse que eles tinham que ir embora para o céu.

27
O irmão, adivinhando ter sido descoberto, veio chegando, já com todas
as suas coisas, seus cestos, seus pertences. A irmã saiu da maloquinha,
pondo fim à reclusão, mas sem se pintar de jenipapo, nem se enfei-
tar como uma noiva, como seria se fosse casar com o tio. -Mãe! Enfie
a ponta da flecha no meu corpo para eu morrer! -Pedia para a mãe.
Queria morrer mesmo. -Não, vocês não vão morrer, não! - respondeu a
mãe. -Vocês vão para o céu. E os dois irmãos subiram para o céu por um
cipó. Desde então apareceu a lua, que antes não existia. O lado escuro
da lua é o rosto do irmão, pintado de jenipapo.
(Livro: Vozes da Origem: Betty Mindlin e narradores Suruí. A narração
dessa estória foi feita pelo pajé e líder Dikboba Suruí em 1990).

28 29
Atividades - Somaga we ey O SURGIMENTO DO FOGO
1 Faça desenhos, da maneira que você achar melhor, que representem a Mokãy pin e same
estória do surgimento da Lua.
Após criar a humanidade, Palop pensou e disse: -Agora teria que ter
2 Escreva um texto com as suas palavras sobre a estória do surgimento fogo para meus filhos. E, naquela época, só as onças eram os donos
da Lua. das coisas, como a ossada da humanidade e o fogo. Depois de criar as
pessoas, Palop disse: -Agora vou ter que fazer fogo para os meus filhos
3 Juntamente com os colegas e apoio do professor faça um teatro sobre a se aquecerem.
estória do surgimento da Lua e apresentem depois para as outras salas Nesse momento, apareceu o pássaro “orowap”. Palop disse ao
e para a comunidade. “orowap”: -Meu amigo, quero que você me faça um favor, vai até as
onças e pega o fogo deles. Para isso, vou ter que passar os remédios
4 A estória do surgimento da Lua tem alguma relação com as regras de amargos no seu corpo.
viver do povo Paiter Suruí? Procure saber sobre isso e escreva um texto Quando o pássaro chegou à aldeia, as onças assobiaram, perguntando
com as suas palavras. Depois discuta com seus colegas, em uma roda se poderiam comê-lo. Ele respondeu que não, pois ele era todo amar-
de conversas esse assunto. go. Elas provaram e viram que ele era realmente todo amargo. Deus
pediu ao orowap que fingisse, dizendo que estava triste com a falta das
5 Quando a Lua estiver bem cheia olhe com bastante atenção para ela pessoas, que com isso estava febril e passando mal. Esse foi o momento
e faça o desenho de acordo com a estória do seu surgimento contada em que se criou febre para a humanidade. Ele pediu às onças se pode-
pelo seu povo. ria se esquentar no fogo deles. E, no meio da casa, as onças estavam se
esquentando na fogueira, que era feita de lenha de mãdekãy, a árvore
6 Você sabe por que apenas os homens podem falar a palavra GATIKAT de jatobá.
que quer dizer Lua? Procure saber porque e escreva com suas palavras O orawap (tipo do anu, mas marrom, pouca coisa maior- rabo mais
o que entendeu sobre isso? comprido) ficava disfarçando e colocando a ponta do seu rabo no fogo,
mas as onças falavam: -Compadre, seu rabo está pegando fogo! E o
pássaro tinha que retirar o seu rabo do fogo. Ficou tentando, até conse-
guir pegar fogo no rabo, e voou sem as onças perceberem.
Então as onças gritaram: -Então era essa a sua intenção! -Agora vamos
pegar você! Mas elas não conseguiram pegar o orowap.
O orawap pousou em três árvores: noh ah (urucum), aber (breu) e tob
barak. Depois desse trabalho feito, o orowap veio até Palop e disse: -Eu
terminei a missão. Após isso, essas três árvores se tornaram as melho-
res lenhas.
Assim conta o povo Paiter sobre o surgimento do fogo. E, como pla-
nejado, alguém fez fogo de uma árvore chamada de noh ah, fazendo
ferramenta de fazer fogo como se tem hoje. Depois dessa invenção de
material de fazer fogo, todas as pessoas fizeram o seu, assim todo mun-
do pode fazer quando e onde quiser.

30 31
32 33
Atividades - somaga we ey
com as pernas pro alto, e do meio das pernas dela saiu um raio que
alcançava até o topo da árvore, assim derrubando as frutas. Foi aí que
descobriram por que ela vinha com muita fruta.
1 Juntamente com os colegas da sua sala convide uma pessoa mais velha Todo mundo já sabia de tudo, principalmente os pais dela. Certo dia, lá
que é boa contadora de estórias, para narrar a estória do surgimento
foi o grupo pegar fruta outra vez. E, vendo aglomeração, o pai dela se
do fogo Convidem também os alunos das outras salas para participa-
prepara para ir atrás deles, e assim ele planejou cortar o pé de árvore
rem da atividade.
frutífera, para acabar com o ato estranho de sua filha.
2 Faça desenhos, da maneira que você achar melhor, que representem a Nesse momento, lá do alto, dizia alguém: -Mãe, estou com medo!
estória do surgimento do fogo. E a mãe respondia: -Não tem perigo nenhum, filho. Mas o filho, que
estava em cima da árvore derrubando as frutas, sentia que ali alguém
3 Escreva um texto com as suas palavras sobre a estória do surgimento chegava. Mas sua mãe lhe dizia: -Continua, que não há ninguém aqui
do fogo.
por perto.
4 Pesquise com os mais velhos informações sobre as madeiras usadas Nesse momento, o pai dela se aproximou correndo, dizendo, com ma-
para fazer fogo do modo que os antigos faziam e produza um jogo igual chado na mão: -É isso que você faz para pegar fruta, né?! E já foi cor-
ao usado pelos antigos. Depois em uma sessão com seus colegas, pro- tando com o machado o raio ou relâmpago que saía do meio das per-
duza o fogo com os materiais que você montou. nas de sua filha. Logo, o raio se dividiu: uma parte foi para cima e outra
para baixo. É por isso que hoje tem relâmpago no céu e outra parte
voltou na barriga da menina. Por esse motivo, hoje a mulher, quando

O SURGIMENTO DO RAIO E DOS ALIMENTOS


está grávida, fica de barrigão.
Depois algum tempo ela ganhou esse bebê, e ficou na maloquinha de
Goan, pamalot min e same isolamento, como era costume, um pouco distante das outras pessoas.
Esse bebê cresceu muito rapidamente. A metade que foi para o céu
Contam que, em uma determinada época, uma turma de meninas foi se chamava goãt moh, e a metade que virou o bebê e cresceu rapida-
catar caranguejos. mente começou a trabalhar, e muito. Fez uma roça muito grande. Tão
Carregavam balaio nas costas. E, nessa pescaria, ouviu-se assobio de ih grande que ali caberia todo alimento encontrado no mundo.
mã xihup xihup, pássaro que fica cantando na beira do rio. E as meninas
pegaram os ovos desse pássaro e colocaram dentro do balaio. E es-

Atividades - Somaga we ey
ses ovos se quebraram dentro do balaio, e escorreram das costas até o
bumbum das meninas. Esse corrimento de ovo de pássaro engravidou
uma dessas meninas. E o restante delas ficou se perguntando: -O que
será que aconteceu com ela? 1 Você conhece o livro “Vozes da Origem” da Betty Mindlin e narradores
Em outro dia, a mesma turma ia comer lõg lõg ah, uma fruta nativa. E Suruí? Procure encontrar o livro e leia a versão dessa estória na página
essa menina que engravidou ia todos os dias com as outras pegar essa 21. Discuta com seus colegas as diferenças encontradas nessa versão e
fruta. Essa menina grávida, sempre ficava por último. Todos os dias, ela tire as dúvidas com o professor e com os mais velhos que conhecem a
conseguia pegar muita fruta. Muito mais do que o restante da turma. estória.
Cansadas de querer saber o porquê dela pegar tanto lõg lõg ah todos os 2 Juntamente com os colegas da sua sala convide uma pessoa mais velha
dias, as demais meninas falaram: -Vamos descobrir o que ela faz para que é boa contadora de estórias, para narrar a estória do surgimento
pegar muita fruta. E uma das meninas da turma se escondeu, e ficou do raio e dos alimentos. Convidem também os alunos das outras salas
esperando por ela. Até que ela veio e se deitou de barriga para cima para participarem da atividade.

34 35
3 Faça desenhos, da maneira que você achar melhor, que representem a No mundo dos não indígenas, além das explicações de diferentes po-
estória do surgimento do raio e dos alimentos. vos, existem pessoas estudiosas, chamadas de cientistas, que também
4 Escreva um texto com as suas palavras sobre a estória do surgimento contam de um jeito muito diferente como surgiram as coisas naturais.
do raio e dos alimentos. Isso porque os métodos que eles usam são diferentes e muito com-
plicados. Uma coisa que eles fazem é experimentar muitas vezes para
5 Como já foi dito, diferentes povos contam diferentes estórias para ex- afirmar se uma descoberta é verdadeira ou não. Isso é chamado de
plicar a origem do Sol, da Lua, da Terra e das pessoas! Um jeito bom método ou conhecimento científico.
para conhecer mais e entender como cada povo tem sua cultura é pes-
quisar na internet estórias de outros povos sobre o surgimento das coi- Eles explicam o surgimento das coisas assim:
sas do mundo natural. Pesquise cinco diferentes estórias da Lua e faça
uma comparação entre elas, pontuando as semelhanças e diferenças. Tudo o que existe no Universo começou com um fenômeno que eles
chamam de BIG BANG, há mais ou menos 13,7 bilhões de anos. Dizem

Conhecimento tradicional e conhecimento científico


que as primeiras estrelas começaram a se formar mais ou menos 100
milhões de anos depois do BIG BANG. Essas estrelas nem existem mais,
Pama soe same, Pama soe õhb e same já morreram há muitos milhões de anos. E foi através da morte dessas
estrelas antigas que as outras coisas todas foram se formando, inclusive
“ O conhecimento de cada povo é um dom dado pelo Palob desde a o SOL, que é a nossa estrela. Quando essas estrelas morreram, elas es-
sua criação. Assim nós, povo indígena Paiter, temos o nosso próprio co- palharam elementos químicos pesados para o espaço. Esses elementos
nhecimento. Esse conhecimento é muito importante para nossa vida, existem até hoje e são eles que formaram e formam tudo o que existe,
pois nos direciona o caminho por onde podemos seguir para alcançar inclusive nós, os seres humanos. Dizem que somos filhos das estrelas,
o nosso objetivo. E hoje fazemos parte de um mundo globalizado onde porque os elementos que existem em nossos corpos vieram dessas
precisamos entender as leis do conhecimento da ciência sem deixar grandes estrelas.
de lado o conhecimento tradicional do nosso povo. Entendemos que Os cientistas dizem que o SOL é muito velho. Tem mais ou me-
e necessário a junção de dois conhecimentos para o fortalecimento da nos 4,5 bilhões de anos e, para viver, ele usa como combustível um
busca da autonomia indígena.” “(Gasodá Suruí) elemento químico chamado hidrogênio, que, por meio de reações quí-
“Após o contato oficial do povo Suruí, nós começamos a conviver com micas, se transforma em outro elemento químico chamado hélio. Essa
duas culturas: a nossa e a sociedade não indígena. E vivemos essas duas transformação de hidrogênio em hélio é que gera a forte luz do SOL
culturas na cidade e na aldeia. E hoje é fundamental, é muito impor- que vemos aqui da TERRA. Dizem que o SOL já está bem velho, mas que
tante manter a nossa cultura viva e forte porque é a nossa raiz, a nos- ainda tem hidrogênio suficiente para viver mais uns 5 bilhões de anos.
sa identidade. E por outro lado a gente precisa e tem necessidade de
aprender a parte cientifica acadêmica, através das escolas e universida- Sol
des. Não só dominar o português, mas também entender a burocracia
do mundo não indígena. E também isso possibilitaria de nós sabermos
viver e contribuir com essa sociedade que não é nossa. A partir de que
nossos filhos dominem a nossa cultura eles vão saber transferir ou mos-
trar a importância de nossa cultura para a sociedade não indígena. E
também Isso possibilita que a sociedade não indígena entenda a nossa
cultura e a respeite e ajudar a nós indígenas a manter a nossa cultura e
nosso território vivos”. (Arildo Suruí)

36 37
Atividades - Somaga we ey
Através de seus estudos, os cientistas descobriram também que
o Sol é a nossa estrela e que é o corpo principal de uma família chama-
da de Sistema Solar. A Terra, que é a nossa casa, o nosso planeta nessa
família, é bem pequena. Quando a comparamos com o SOL e com ou- 1 Reúna-se com seus colegas de sala e convide uma pessoa da comunida-
de que conheça as figuras que os antigos Paiter Suruí viam no céu. Em
tros de seus planetas irmãos, vemos que ela é bem pequenina.
seguida, peça para ela contar o que significa cada uma dessas figuras e
o que elas indicam e escreva o que aprendeu no seu caderno de ativi-
dades.
Sistema Solar
2 Na visão da ciência, o que é o SOL?

( ) um planeta
MERCÚRIO

( ) uma estrela
TERRA

SATURNO

NETUNO
URANO
JÚPTER
MARTE
VÊNUS

( ) um asteróide
( ) um cometa

3 O que os cientistas dizem que o SOL envia para a TERRA?


( ) calor
( ) luz
( ) radiação
( ) vento
SOL ( ) todas respostas são corretas
( ) as respostas 1, 2, e 3 estão corretas e a 4 está incorreta.

4 Qual é a idade do SOL na visão da ciência? E, para que ele continue


existindo, o que acontece em seu interior?
Muitos povos antigos adoravam o SOL por acreditar que ele era
um Deus. Os cientistas nos contam que ele é a fonte principal de vida 5 A radiação que o Sol envia para a TERRA é boa ou ruim? Explique.
para a Terra. Sem a energia do SOL não haveria vida na Terra. Ele envia
calor e luz para a Terra e isso faz bem para as plantas e para todo tipo
6 A existência do SOL é importante para a existência da vida na TERRA?
de animal que vive na TERRA. Tudo que o SOL envia para a TERRA é
Por quê?
chamado de RADIAÇÃO SOLAR. Na quantidade certa, essa radiação é
boa mas, em excesso, ela faz mal e pode fazer muito mal.
7 Como se chama a família do SOL? O planeta em que vivemos faz parte
dessa família?

8 Qual a posição que a Terra ocupa com relação à proximidade do SOL?

9 Compare os tamanhos dos planetas que fazem parte do Sistema Solar


e escreva o que você aprendeu sobre o tamanho da TERRA comparada
aos outros planetas.
38 39
A TERRA, NOSSA CASA NO UNIVERSO répteis chamados dinossauros. Esses animais foram extintos há muitos
Mawe, toy ibi mawe amitor ka milhões de anos. Depois apareceram as plantas com flores e também
Antigamente as pessoas acreditavam que a os animais mamíferos.
Terra tinha outra forma. Hoje sabemos que 7º: Há mais ou menos 65 milhões de anos os animais mamíferos e as
ela é arredondada e a imagem abaixo é uma aves se desenvolviam por toda a TERRA e a atmosfera já era como a de
fotografia da Terra com a Lua ao fundo. hoje.
Contam os cientistas que a Terra não foi sem-
pre assim. Ela também já é bastante velha, 8º: Somente há mais ou menos 4 milhões de anos apareceram os ani-
como o SOL. Para ser como é hoje foram ne- mais que dariam origem a nós, os seres humanos.
cessários mais ou menos 4,7 bilhões de anos.
Durante esse tempo, a TERRA passou por muitas transformações. Os Vários povos no mundo pensam na TERRA como MÃE. Muitos povos in-
cientistas explicam assim os principais acontecimentos que marcaram dígenas da América do Sul chamam a Terra de PACHAMAMA, que quer
a formação da TERRA e de tudo que existe e vive nela: dizer MÃE TERRA.

A história da Terra
PROCURAR IMAGEM REPRESENTANDO PACHAMAMA

1º: A formação da Terra aconteceu há aproximadamente 4,7 bilhões de


anos. Nesse tempo a TERRA era como uma bola de fogo, sem nenhuma
vida.
2º: Depois de passar milhões de anos a TERRA começou a esfriar deva-
gar. Isso fez com que uma fina camada de rocha começasse a aparecer.
3º: Com a TERRA esfriando, do seu interior saíram gases e vapor de
água. Isso fez com que começasse a formar uma camada chamada de
atmosfera. O vapor de água fez com que surgissem as primeiras chu- Atividades:
vas, que começaram a formar os antigos oceanos, que eram bem rasos
nesse tempo. 1 Como os cientistas concluíram que a TERRA é arredondada? Pesquise
na internet e escreva sobre isso.
4º: Nos antigos oceanos surgiram as primeiras formas de vida. Primeiro
só animais de água. Isso aconteceu mais ou menos há 3 bilhões e 500 2 De acordo com as etapas do desenvolvimento da TERRA, desenhe 8
milhões de anos. Essas primeiras formas de vida foram importantes quadrinhos, cada um representando uma etapa.
para o surgimento de outras formas de vida.
5º: Algum tempo depois algumas plantas começaram a se adaptar fora 3 Pesquise na internet sobre a palavra PACHAMAMA e discuta em sala de
aula sobre o que os povos indígenas andinos falam sobre isso.
da água e deram origem às primeiras plantas terrestres.
6º: Os animais que apareceram na água, do mesmo jeito que as plantas, 4 Faça um desenho bem bonito representando a PACHAMAMA.
começaram a se adaptar fora da água e deram origem aos anfíbios (ani-
mais que vivem tanto na água quanto na terra). Depois esses animais 5 Pense numa canção que você gostaria de cantar para a Terra. Escreva
deram origem aos répteis (animais que têm vértebras e corpo cober- a letra da canção e com os colegas improvise instrumentos e a cantem
to de escamas). Por certo tempo a TERRA ficou povoada por grandes após ensaiarem bem, apresentem suas canções à comunidade.
40 41
Nós, os seres humanos -
Paen Paiter alair

AUSTRALOPITHECUS HOMO HABILIS HOMO ERECTUS HOMO SAPIENS HOMO SAPIENS SAPIENS
“Macaco do sul” “Homem hábil” “Homem que se “Homem sábio” “Homem de Cro Mag-
endireita” “Homem de Ne- non”
andertal”
• 3,5 MILHÕES DE ANOS • 2,8 MILHÕES DE ANOS • 1,5 MILHÕES DE ANOS • 100 MIL ANOS • 35 MIL ANOS
• DE 1 A 1,50M • DE 1,20 A 1,55M • DE 1,50 A 1,80M • DE 1,55 A 1,70M • DE 1,65 A 1,85M
• DE 30 A 70KG • 40 KG • 70 KG • 70 KG • 70 KG
É SEM DÚVIDA O ANTE- É O PRIMEIRO VERDA- DESCOBRE O FOGO. FABRICA E UTILIZA É ARTISTA,
PASSADO DOS PRIMEI- DEIRO HOMEM. VIVE INSTRUMENTOS PINTA ANIMAIS NAS
ROS HOMENS. EM GRUPO, MAS NÃO DE PEDRA E DE PAREDES DAS CAVERNAS.
SABE FALAR. COMEÇA A OSSO. SOMOS NÓS!
FABRICAR
INSTRUMENTOS.

Para chegar a essas conclusões, os cientistas tiveram que pesquisar


muito. Fizeram isso por meio de uma ciência chamada Arqueologia,
que trabalha com os restos de ossos humanos encontrados em vários
lugares da Terra. Para saber a idade desses restos humanos, desenvol-
veram uma técnica especial que analisa os elementos químicos radiati-
vos encontrados nesses ossos.

ELEMENTOS QUÍMICOS RADIOATIVOS


SÃO ELEMENTOS CAPAZES DE EMITIR RADIAÇÃO

Para os cientistas, todo tipo de vida que existe na TERRA evoluiu Atividade - Somaga we
no decorrer do tempo e todas têm uma ligação muito antiga entre si.
Isso quer dizer que, nós, os seres humanos, também viemos Como os cientistas contam o surgimento dos seres humanos? Além das
evoluindo no decorrer do tempo. Significa que não aparecemos do jei- informações que você já sabe, procure pesquisar mais sobre o assunto
to que somos atualmente, mas que viemos nos desenvolvendo deva- na internet.
gar, como nos quadrinhos abaixo. Para cada etapa dessa evolução, os
cientistas deram um nome diferente. Atividade extra:
OBSERVEM BEM ATENTAMENTE A ILUSTRAÇÃO DE
ABERTURA DA PARTE II E FAÇA UMA RELAÇÃO POR ESCRITO
DOS ELEMENTOS DO DESENHO COM OS ELEMENTOS DA
CULTURA TRADICIONAL DOS PAITER SURUÍ.

42 43
PARTE III

Toy karah

NOSSA TERRA
Nosso território é nosso lugar. É nossa vida. Ali viveram nossos avós,
nossos bisavós e os muito mais antigos. Ali construímos nossa nossa
história e nossa cultura. A natureza do nosso lugar nos dá tudo o que
precisamos para sobreviver e viver com alegria e saúde. Garantir e pro-
teger nosso território para as presentes e futuras gerações é nossa
responsabilidade e dever.
Essa foto mostra o local onde a FUNAI montou sua base no tempo do
contato. A área comprida desmatada era para o campo de pouso. Não
existiam estradas para chegar até ao local chamado de Nambekó abada
ki ba. (FUNAI- 1969)

44 45
MAPA da
TI. SETE de SETEMBRO Onde estamos localizados
Toye itxa yele wah
“Os povos indígenas viviam em liberdade na natureza, não havia essa
limitação de território como vemos nos dias de hoje. O nosso território
é sagrado, é nossa vida, pois nos oferece nossa força e alimentos para
nossa sobrevivência e por isso deve ser valorizado e respeitado. Hoje
moramos num território que foi conquistado com muita garra, coragem
e disposição de todos.” (Gasodá Suruí)

A Terra Indígena Sete de Setembro


Laht garah sete de setembro
Vivemos na Terra Indígena Sete de Setembro em uma área de 247.869
ha localizada parte em Rondônia e parte em Mato Grosso. Essa área foi
demarcada no ano de 1976 e homologada em 17 de outubro de 1983
através do Decreto nº 88867.
Nossa Terra faz divisa com a T.I. Zoró a nordeste e leste; com áreas de
fazenda a sudeste, na região do município de Espigão D’Oeste e Pacara-
na. A oeste em direção ao norte com os municípios de Cacoal, Ministro
Andreazza e Rondolândia. Ao norte com Rondolândia e T.I. Zoró.
A partir dos anos 70, o nosso território tradicional, que era muito maior
que os limites da Terra Indígena Sete de Setembro, foi invadido por co-
lonos e fazendeiros vindos do sul do Brasil.

46 47
Atividades - Somaga we ey Nossa economia
1 Juntamente com seus colegas e com ajuda das pessoas mais velhas da Toye itxa yele same
aldeia faça o mapa (etnomapa) da Terra Indígena Sete de Setembro
apontando as principais riquezas naturais que lá existem e os locais Nossa economia tradicional era baseada na agricultura de corte-e-quei-
onde se localizam. (aldeias, barreiro, locais bons de pesca, local da ta- ma, na caça, pesca e coleta de produtos da floresta. Os principais pro-
boca, cachoeiras, aldeias antigas, lugares bonitos, castanhais, óleo de dutos das roças eram e ainda são o milho, batata-doce, mandioca, cará
copaíba, roças e locais sagrados). e amendoim. Conhecemos diferentes tipos de cará e batata doce. Os
animais de caça mais procurados eram e ainda são os porcos-do-mato,
2 O território dos Paiter era maior do que é atualmente? Converse com algumas espécies de macacos, tatus e aves, como o mutum, jacamim e
o professor e os mais velhos da aldeia e busque saber como era o ter- inhambus. Outras fontes de alimentos eram os muitos tipos de mel de
ritório tradicional. abelhas da floresta, palmitos, frutos, castanhas e larvas. Pelo fato dos
rios da região serem de porte pequeno e médio, a pesca não era tão
3 Procure saber em qual estado (Mato Grosso ou Rondônia) atualmente
se concentra a maior parte da Terra Indígena Sete de Setembro. Ao importante na nossa economia.
mesmo tempo faça uma pesquisa e procure saber onde está vivendo a Os medicamentos tradicionais eram muito utilizados pelas famílias Pai-
maior parte da população Paiter. Escreva um texto sobre isso. ter. Todos sabiam identificar os remédios da floresta. Atualmente eles
são utilizados mas muito menos que antigamente.
4 Faça uma pesquisa com os professores de Geografia da sua escola so-
bre as razões que fizeram com que o território tradicional dos Paiter
fosse invadido por colonos e fazendeiros à partir da década de 70.
5 Converse com seu professor e seus colegas sobre as ameaças que a Ter-
ra Indígena Sete de Setembro vem sofrendo nos últimos anos.

6 Responda com suas palavras: É importante preservar o território onde


vc vive? Por que? E o que é necessário fazer para preservá-lo com todas
as suas riquezas?

7 Observe como e para onde é destinado o lixo produzido pelas famílias


da aldeia. O lugar é adequado? Você tem outras sugestões para a desti-
nação do lixo? Forme uma equipe com alunos de sua escola e pensem
estratégias para reaproveitar o que se destina para o lixo, conscientizar
as pessoas sobre os males que podem causar o lixo à saúde, principal-
mente em contato com fontes de água. Monte um projeto e coloque
em prática as suas ideias. Atualmente muita coisa mudou e as bases de nossa economia também.
A influência do mundo não indígena criou em nosso povo novas neces-
sidades e para isso precisamos de dinheiro. Dessa forma temos que
comercializar nossos produtos.

48 49
Nossa floresta e suas riquezas pagah (para feridas difíceis de curar), Napohkabeh (também para feri-
Toy karah, toy pere we pit e das de difícil cura), Paixamehkorah ou waxamehkorah (dores no corpo,
febres, estados gripais), sobageyxaborgap (remédio para homens fazer
filhos homens), matãowahp (vômitos), uralabô pemah(micoses), mel
de goberey (abelha urucu, para vários usos), orsayah, entre outros.

Atividades - Somaga we ey
1 Relacione os principais tipos de plantas existentes na terra em que você
vive e descreva a importância delas na vida do seu povo.
2 Pesquise com os mais velhos da sua terra as diversas espécies de plan-
tas existentes na floresta. Selecione 10 delas. Escreva o nome das 10
em português e solicite aos outros colegas que apontem os nomes na
língua indígena.

A nossa floresta é composta por diferentes tipos de vegetação que ain- 3 Relacione mais 10 plantas medicinais (além das que já estão relaciona-
das no texto) tradicionais com seus nomes, para que servem, como são
da cobre grande parte de nosso território. Esses tipos diferentes de ve-
preparadas e utilizadas. Pesquise isso com seus pais e mães ou avós.
getação se alternam são a floresta ombrófila fechada e aberta e floresta
estacional. Encontramos aí árvores que nos dão frutos que coletamos 4 Cite em português e na língua Paiter os nomes dos animais mais co-
em diferentes meses da época chuvosa (meses de outubro a abril): me- muns que você conhece e que vivem no seu território. Se não con-
betiah (pariri), abiah apiberah (grande) abixitãgah (média), lokobeah, seguir sozinho, faça uma pesquisa e escreva aqui os resultados dessa
lõg lõg ah (o fruto do amor), borkaah (bacuri pari), borkakubah (borka- pesquisa.
ah pequenina), mãbnilimah, maxogah (cajá mirim), orixiah (caju), sari-
kap, pekokabah, mamesongaba, mixãhma (pequi), weyxoah (jenipapo- 5 Quantas espécies de macacos existem no seu território? Relacione to-
dos com o nome em português e na língua indígena.
final do mês de agosto), mãdeãh (jatoba), mãdekubah (jatobazinho)
moriliah (ingá), yobara (pupunha), nurinuriah, yoikap (patuá- final de 6 Quais animais faziam parte da alimentação tradicional e quais animais
agosto) e entre outros também mãbgab, a castanha do Brasil. não podiam ser caçados. Por que? Se não souber peça auxílio dos mais
Em nossa rica floresta encontramos também os medicamentos co- antigos para responder. Faça a pesquisa e um texto sobre isso.
nhecidos por nosso povo: pãgira (para febre e quando a pessoa se en-
contra com inapetência), Gabeypagah (para dor de barriga e diarreia), 7 Quais são os diferentes tipos de cará e batata doce que os Paiter cul-
tivavam nas roças? Relacione todos eles. Em seguida procure saber se
Sãy (anestésico utilizado para dores de dentes), Aberah (para coceira),
esses diferentes tipos de cará e batata doce ainda são cultivados.
Goyo (resina para problemas de garganta e gripes fortes), Goyopib
(mesma utilização que gonho), peyxoey amibeb ah (Dores no corpo,
8 Convide seus colegas para aprenderem a fazerem as comidas tradicio-
pancadas, reumatismo), Gapixag napôah (para cortes com muito san- nais. Para isso será necessário convidar as mães ou avós para ensinar.
gramento), Ikapkot ( contra picada de cobra), Moreiah (fortificante), Depois façam um banquete tradicional convidando os outros colegas
apersayah (febre, malária), Mamugah (para engravidar), pãgoragey ou de outras salas para participar.
pãgaley (estimulante, fortificante), Pãrah (para facilitar o parto), Ne-
garap (gripe), watig nãhr (relaxante), arinyãg (diarréias), Gerôxakubey
50 51
9 Quais animais faziam parte da alimentação tradicional e quais animais
não podiam ser caçados. Por quê? Se não souber peça auxílio dos mais
antigos para responder. Faça a pesquisa e um texto sobre isso. O texto
pode ser por meio de uma narrativa. Você irá criar personagens, uma
dessas personagens se encontra doente, nomeie o que ela sente, fale
sobre ela, depois quais remédios que aparecem “Nossa floresta e suas
riquezas” poderiam curar a personagem que você inventou? Dê um
final ao seu texto. Depois leia para a turma.
Nossa organização social e política
Toye itxa yele same pit, labiway
As águas de nossa terra Nos organizamos em grupos clânicos que são: Gamep, Gabgir, Makor
Toy karah ma ihtxer e Kaban. Tradicionalmente a regra principal para nossos casamentos
era o homem se casar com a filha de sua irmã. Os filhos desse homem
Nossa terra é banhada pela bacia do rio Branco que é afluente do rio
também podiam casar com as filhas de suas irmãs. Por outro lado, os
Roosevelt e que se forma a partir da união dos rios Sete de Setembro
irmãos do pai eram considerados pais dos filhos e filhas de seus irmãos.
e Fortuninha.
Assim os primos eram considerados irmãos e não podiam se casar.
Os principais afluentes do rio Branco que cortam a nossa terra são o
A nossa organização política tradicional era baseada nos chefes das
Ribeirão Grande, rio Fortuninha e o Fortuna, na margem direita. Na
grandes famílias clânicas. Sendo assim existiam chefes diferentes. Os
margem esquerda, os rios Igapó, rio São Gabriel e outros.
que tinham mais poder eram os donos das maiores roças e os que pro-
Com nomes indígenas temos o rio Quente (aldeia Payamah)- Arimeh
duziam as melhores flechas. Existiam e ainda existem os chefes das ce-
koxitaied esih, que tem esse nome porque os antigos viram algo estra-
rimonias. Tradicionalmente os clãs tinham um chefe e essa chefia era
nho, que não conseguiram identificar mas parecido com gente, com um
passada de pai para filho ou para um irmão se o chefe não tivesse fi-
macaquinho nas costas. O rio dos Mosquitos (perto do centro cultural
lhos. Atualmente existem diferentes chefes de um mesmo clã. Quando
Wagoh Pakôb) - Nig eixih que tem esse nome por causa da quantidade
viviam na casa grande (Labmoy) era comum o homem chefiar o grupo
de mosquitos que antigamente existia ali.
dos irmãos e esse ser o chefe dos genros se eles também viviam na
Nesses rios sempre pescamos e alimentamos as nossas famílias.
mesma casa. Atualmente não existem mais as casas grandes e por isso
a nossa organização política está bem diferente da tradicional.

Atividades - Somaga we ey
Nas cerimonias, festas e rituais nos dividimos em 2 metades: a
do mato (metare) e da roça (iwai). Essas divisões orientam a troca de
mulheres, as trocas da festa Mapimaí (de comida por objetos e traba-
1 Procure saber os nomes dos outros rios da Terra Indígena Sete de Se- lho) e a cooperação no trabalho. Também são importantes nas festas
tembro que eram e são importantes para seu povo. sagradas.
Atualmente as diferentes associações normalmente represen-
2 Com auxílio do professor e das pessoas mais antigas se informe sobre
tam grupos clânicos e em alguns casos apenas famílias. Como já exis-
os tipos de peixes que faziam e fazem parte da dieta tradicional. Escre-
tem 9 associações em muitas casos existe falta de concordância entre
va os nomes na língua e desenhe cada um deles.
essas associações e isso faz com que existam conflitos que prejudicam
3 Quais peixes não fazem parte da alimentação tradicional e qual a ra- o desenvolvimento da governança do território e posições representa-
zão? Procure informações sobre isso e escreva. tivas de todo povo.

52 53
Atividades - Somaga we ey
1 Pesquise com os mais velhos e escreva um texto pequeno sobre a orga-
Atividades - Somaga we ey
nização social antiga e a atual apontando o que eles consideram bom
1 Como eram divididos os clãs por ocasião dos rituais e comemorações?
e o que consideram ruim na forma de organização social antiga e na
Explique. Se não souber explicar bem peça apoio para os mais antigos
atual. Depois converse com os colegas sobre isso em uma roda de con-
que possam ajudá-lo.
versas refletindo sobre o modo de vida antigo e atual pontuando as
coisas boas e as coisas ruins de cada tempo.
2 Descreva o que é o Mapimaí e procure saber porque essa festa não tem
2 O que você sabe sobre a organização social antiga? Se não souber con- acontecido nos últimos anos.
tar busque informações com os mais antigos e escreva um texto sobre
isso com as suas próprias palavras. 3 Descreva o Hoeyateim. Se não souber explicar procure informações
com os mais antigos e descreva com suas palavras.
3 Procure saber com os mais antigos, os detalhes sobre a divisão das me-
tades metare e iwai e escreva um texto sobre o que você aprendeu.
4 Juntamente com seus colegas de sala convide um sabedor da aldeia
4 Escreva uma receita de como se prepara o peixe dentro da tradição. para contar sobre todos os ritos, festas e comemorações tradicionais
Desde da escolha do peixe, para quem seria esse alimento. Por exem- que não são realizadas nos tempos atuais e procure saber porque isso
plo, se mulher que teve criança poderia comê-lo. ocorre. Depois faça um texto sobre isso.

Nossas comemorações e rituais


Toy arixã me
Muitas comemorações e festas faziam parte do mundo Paiter: O Ma-
pimaí (de criação do mundo), Ngamangaré (de roça nova), Weyxomaré
(de pintura), Hoeyateim (festa para o xamã controlar os espíritos da
aldeia), Lawaãwewa (de construção de casa nova), Ytxaga (da pesca
com timbó). Esses ritos e comemorações tradicionais sofreram muitas
mudanças. A maioria não tem sido mais realizada.
Muitas datas comemoradas pelos não indígenas foram incorporadas ao
nosso mundo. Dessa forma comemoramos atualmente o natal, aniver-
sários, casamentos e várias datas civis.
54 55
Artigos que fabricamos - Somãga toy xade ani ewe

Antigamente fabricávamos muitos artigos para uso. Eram adornos, uti-


litários, armas etc. Atualmente continuamos produzindo vários artigos
mas não como antes. Por exemplo o larpih (cinto masculino feito com

Nossa tradição e nossa lingua


casca de tucumã), os grossos colares também feitos com tucumã, que
muitas vezes contavam até 30 voltas; o adohiter, cesto de palha de três
pés e as grandes panelas itxirah e lobeah são muito pouco fabricadas.
Toy a soe, toy koe As armas como arcos e flechas, trabalhados com algodão, espinhos de
porco espinho e até as fibras oratapoa são produzidos muito pouco e
Nos denominamos Paiter, que significa “gente de verdade, nós mes- apenas pelas pessoas mais velhas.
mos”. Falamos uma língua do grupo Tupi e da família linguística Mondé. Atualmente a maior produção é a de adornos comuns, como colares,
Apesar das pressões que sofremos por parte dos não índios, que con- pulseiras, brincos e anéis que são vendidos em Cacoal, quando rece-
tribuem muito para as diversas mudanças em nossa vida, ainda mante- bem visitantes nas aldeias, ou em eventos dos quais participam. Essas
mos nossa língua. vendas contribuem com a renda familiar.

Atividades - Somaga we ey
Antigamente não precisávamos de escrever nossa língua. Todos fa-
lavam e todo conhecimento era transmitido na prática e oralmente.
Atualmente precisamos escrever nossa língua mas ela ainda não está
padronizada. Dessa forma os materiais para nossas escolas ficam pre-
judicados. 1 Se você for menina se reúna com suas colegas de sala e organize com
A presença das religiões nas aldeias tem contribuído para uma profun- elas uma roda de conversa com as mulheres da aldeia sobre a produção
da transformação na cultura, um exemplo disto é o desaparecimento da cerâmica tradicional. Peça a elas para contar a estória do barro e or-
dos pajés. Todos os pajés deixaram de atuar por influência da religião. ganizarem uma expedição para coleta de barro e produção de cerâmica
tradicional do jeito que era feito antigamente.
2 Faça uma pesquisa em sua aldeia e relacione os nomes de todos artefa-

Atividade - Somaga we
tos que eram produzidos antes do contato. Todos mesmo. Depois faça
uma lista dos que não são mais fabricados e explique porque.

1 A Procure saber porque a língua materna ainda não está padronizada 3 Relacione todos os tipos de produtos que eram fabricados tradicional-
se ela é tão importante para utilização nas escolas? Discuta com seus mente pelos homens e mulheres e os separe em: adornos, utilitários e
colegas, professores e comunidade sobre isso e em seguida produza armas. Descreva os materiais utilizados para a confecção de cada um
um texto sobre esse assunto. deles e também a sua forma de uso.
4 Discuta com os colegas de sala e com o professor sobre a possibilidade
2 O que você acha sobre o fato dos pajés não exercerem mais a sua fun- de convidarem artesãs e artesãos (seus pais, mães ou avós) para en-
ção de curadores? Discuta com seus colegas na sala de aula juntamente sinarem a confeccionar artefatos tradicionais (arcos, flechas, balaios,
com o professor. Seria bom convidar uma pessoa mais velha para aju- redes, tipóias, ceramica etc). Depois podem fazer uma bela exposição e
dar na discussão. Produza também um texto sobre isso. convidar a comunidade.

56 57
Nossas construções tradicionais
“Eu sou indio Paiter. Tenho “huh rih” marcado no ros-
Toy perewe nã toyxade somãga ani ewe same to, algo que me caracteriza, pois nasci antes do contato
Antigamente as nossas famílias viviam nas grandes lab moy. Casas me- oficial. Vivi mais de metade da minha vida na floresta
nores chamadas Lab gūp eram para as mocinhas em reclusão ou para fechada. Já o Paiter que nasceu depois do contato ofi-
as mulheres que tinham filhos novinhos e também ficavam reclusas. cial com o branco, nasceu para viver a cultura do não
Meya era um tipo de tapiri aberto que tem muitas utilidades e serve
índio. Não que isso torna o índio não índio mas que
principalmente para reuniões. Gerekã é uma construção feita rapida-
mente e bem rústica que serve de abrigo nos dias de grandes caçadas faz com que essa pessoa não viva a vida tradicional
ou pescarias. Paiter. Mas entendo que nesse caso, não parte das pes-
soas e sim do tempo. Por exemplo, você nasceu nesse

Atividades - Somaga we ey
lugar, nesse tempo e isso faz com que você fale outra
língua além da língua Paiter, no caso, a língua portu-
1 Pesquise na aldeia com as pessoas mais velhas e desenhe os tipos de guesa. Domina a cultura não indígena mais do que a
construções tradicionais do povo Paiter. Depois de desenhar, com au- cultura Paiter. Assim são as pessoas que vão nascendo
xílio do professor e em grupos trabalhe na construção de maquetes
nesse tempo de hoje. Por isso, para mim a vida do
das construções tradicionais descrevendo como cada uma era utilizada
tradicionalmente. não indígena não tem sentido nenhum mas para a
geração de hoje tem o sentido da vida, porque querendo
2 Procure saber como eram as relações sociais, como as pessoas viviam, ou não, esse é o mundo deles. Por mais que exista a
dentro das lab moy, e se essas relações, aproximações, ficaram prejudi-
característica indígena nas pessoas de hoje, não haverá
cadas ou não com a construção de casas individuais para cada família.
a vida e o Paiter que existiu antes do contato.”
3 Convide seus colegas, professor e pessoas mais velhas para olhar o céu
nos meses em que ele está muito limpo e peça para descreverem ao Gakamam Suruí
máximo tudo o que os antigos contam que viam no céu e o seu signifi-
cado.

4 Escreva com o máximo de detalhes que você puder um texto sobre as

Atividade extra:
riquezas e a beleza da Terra Indígena Sete de Setembro.

5 Para ler, pensar e refletir com seus colegas, professor e em sua própria
casa, as palavras de Gakamam Suruí: OBSERVEM BEM ATENTAMENTE A ILUSTRAÇÃO DE
ABERTURA DA PARTE III E FAÇA UMA RELAÇÃO POR ESCRI-
TO DOS ELEMENTOS DO DESENHO COM OS ELEMENTOS
DA CULTURA TRADICIONAL DOS PAITER SURUÍ.

58 59
PARTE IV

AS MUDANÇAS NO CLIMA
SINAIS DA NATUREZA - Mawe sade soe matoh ani e
A natureza nos envia sinais de várias formas. Os nossos antigos sempre
prestaram atenção nesses sinais porque através deles eram indicadas
mudanças de tempo, acontecimentos na vida e o momento certo para
os plantios e colheitas.

Antes do contato a gente fazia a roça no tempo certo. Existiam os sinais


da natureza para tempo de plantação, de colheita e de tudo. E a gente
seguia esses sinais. Os produtos eram feitos cada um no seu tempo: fa-
zer o iatir, fazer o mamê…e assim seguindo as regras. Isso tem mudado
muito. Não seguimos mais as regras do jeito de antigamente. Até os
cultivos estão mudando””. (Mopiri Suruí)

60 61
JANEIRO À MARÇO:
MAIO:
ABRIL À

Calendário Suruí

RO:
E M B
S ET
O À
H
JUN

M BRO:
D E Z E
OUTUB
RO à
NOVE
MBRO leta
: * co stanha
a
de c

62 63
SINAIS da NATUREZA
PÁSSAROS - Inyût ey

O pássaro wakoya cantava na madrugada até a seca chegar.


Quando a coruja canta de tardezinha até a noite dá sinal que vamos
SOL - Gat receber visita bem cedinho.
Quando macabé (pássaro de pescoço comprido) canta, dá sinal que al-
Um circulo avermelhado em torno do Sol sinaliza o ataque de inimigos. guém vai chegar (bom ou ruim);
Nossa aldeia será cercada pelos inimigos. Quando mocoba (coruja) canta, avisa que vai chegar inimigo.
Não pode apontar para o Sol porque anoitecerá rápido. Quando o pica pau (serewepipiob) canta, avisa que passou o tempo de
Sol bem vermelho significa que haverá morte brevemente. fazer a roça.
Quando a pessoa olha para o Sol se protege de ataque de cobra. O pássaro meko matxukuru (pequenino) canta, avisa que tem onça
pertinho.

LUA - Gatikat INSETOS


A Lua nova com a estrela Dalva bem pertinho sinaliza que alguém vai O vagalume chamado “yeór” começa a cantar: yeór..yeór…yeór quan-
matar o marido de alguma mulher. E essa mulher vai gostar de outra do a chuva vai chegar. Nessa hora a chuva não escapa.
pessoa. Quando a cigarra gargará começa a cantar ela está chamando para
A Lua nascente dá sinal de menstruação. plantar a roça.
Não pode apontar a Lua que o dedo vai ser cortado

ANIMAIS - Sobak ey
ESTRELAS - Txoykahb
O mana á (macaco pequenino) canta quando a seca está chegando.
A estrela cadente indica que a aldeia deverá ser atacada por algum ini-
migo.

FLORES - Solirahb ey
TROVÃO - Goan Quando a flor da sumaúma sai é sinal que a friagem vai chegar.

Quando dá trovão forte deve puxar a criança pela cabeça e braços para
ela crescer rápido e ficar comprido.

64 65
Atividades:
• temperatura muito quente
• atraso no tempo da chuva
• atraso no tempo das plantações
1 Pesquise com os mais velhos da sua comunidade outros sinais da na- • secagem dos rios e riachos e com isso diminuição dos peixes
tureza que os antigos percebiam e o que significavam para os antigos e • frutas se acabando
escreva sobre eles. Aproveite o momento para procurar saber se hoje • plantios não aguentam as secas
esses sinais acontecem da mesma forma que antigamente. Assim que Dessa forma estamos todos sendo afetados e é necessário buscar for-
tiver toda a pesquisa pronta compartilhe com os colegas o que apren- mas de mudar essa situação para que possamos continuar a viver e
deu sobre isso em uma roda de conversas. cuidar de nosso território.

2 Escreva sobre os sinais da natureza que você mesmo percebe.

3 Em uma folha de cartolina, juntamente com seus colegas, faça bem fei-

Atividades:
tinho e colorido o calendário anual do povo Paiter conforme é hoje
em dia. Para que fique bem certinho será preciso consultar os mais ve-
lhos na aldeia.
1 Quais atividades seu povo desenvolvia de acordo com o calendário:
4 Faça o calendário das festas e comemorações antigas do povo Suruí, • a. no periodo seco?
consultando os mais velhos e relacione as que não são mais realizadas • b. no começo da chuva?
atualmente perguntando os motivos pelos quais essas comemorações • c. no tempo chuvoso?
não se realizam mais. • d. na época dos grandes ventos e friagem?
Antigamente não era como hoje. A comunidade plantava na época cer-
2 Convide as pessoas mais velhas de sua comunidade, entre homens e
ta e colhia na época certa também. O calendário acima mostra como mulheres, para ir a escola falar sobre as atividades de subsistência que
funcionava a vida nas aldeias. A natureza sempre mostrava, de um jeito desenvolviam antigamente e quais são os problemas que enfrentam
ou de outro, o que era para fazer. Assim não precisava de marcar dias, hoje para desenvolvê-las.
meses e anos. Existia um ciclo natural. Nosso povo estava acostumado
a olhar para as coisas da natureza e ela dava os seus sinais. Não existia 3 Você já conseguiu perceber mudanças no clima? Descreva o que você
marcação do tempo como faziam os não-índios. Os Paiter Suruí antigos mesmo percebe.
viviam assim e nos ensinaram a observar esses sinais, mas hoje o tem- 4 Pense numa mensagem que você gostaria de deixar para as futuras ge-
po está mudando muito. Não conseguimos mais planejar o que fazer, rações sobre melhorar a qualidade de vida nas aldeias, no mundo. Se
como os antigos. Os sinais da natureza estão enfraquecendo e nós va- você utiliza algum tipo de rede social, divulgue a sua mensagem ou por
mos perdendo a capacidade de entender o que a natureza quer dizer. meio de cartaz. Se for possível, escreva-a, também, na Língua Paiter
O tempo está ficando desequilibrado e isso nos afeta diretamente. Os Suruí, conforme entendimento da sua comunidade.
principais efeitos dessas mudanças nos fazem perceber: Alguma coisa está mudando no clima da Terra e na nossa vida!

Precisamos entender o que está mudando;


por que está mudando; e o que podemos e devemos fazer para
diminuir os problemas que vêm ocorrendo e, assim,
proteger a nossa terra e a vida e a cultura de nosso povo.

66 67
Mudança climática: o que É ?
Mas, para entender bem, precisamos refletir sobre algumas coisas:
Como já sabemos, a Terra é um planeta pequenino que gira ao redor do
Mudança climática. Nan e matenã? Sol. Sabemos que o Sol é uma grande estrela que envia radiação para a
Terra (luz, calor e energia). A Terra recebe essa radiação. Sem essa radia-
Os nossos mais velhos e sábios explicam que tudo isso é causado pela ção, não existiria vida na Terra e ela seria um mundo gelado e escuro.
fumaça que fica no ar e faz esquentar muito, e tudo fica diferente atra- Mas existe uma parte dessa radiação que pode ser nociva para a vida.
palhando a vida de todos. Explicam que tudo isso vem acontecendo por Envolvendo a Terra, existe uma camada composta por diferentes gases
causa do jeito de viver do povo não-indígena, que desmata e queima e chamada de atmosfera (olhem a história da Terra na página … item 3).
florestas para criar gado e plantar roça muito grande, como a de soja e É na atmosfera que acontecem os fenômenos do clima. Em condições
cana-de-açúcar. normais, a atmosfera com seus gases protege a Terra da parte perigosa
Os cientistas dizem uma coisa semelhante, só que de forma dife- da radiação solar, ao mesmo tempo em que mantém aquecida a superfí-
rente: mudanças climáticas são os grandes desequilíbrios que vêm ocor- cie da Terra: a atmosfera funciona como se fosse uma estufa.
rendo no clima da Terra. Os fenômenos do clima sempre existiram: as As estufas são estruturas feitas para acumular calor em seu
chuvas, as secas, as inundações, as nuvens etc. O problema é que agora interior. Geralmente, nos lugares frios se utilizam estufas na
esses fenômenos acontecem de forma desequilibrada: em lugares onde agricultura quando as plantações precisam de um pouco de calor.
chovia pouco, hoje chove muito mais e acontecem as inundações. Onde
Isso é normal e foi esse calorzinho que possibilitou que a vida desabro-
a temperatura era amena, hoje encontramos temperaturas muito altas
chasse na Terra. Funciona assim:
ou muito frias, provocando secas e inundações. Esse desequilíbrio pro-
Quando a radiação solar chega na Terra, uma parte dela volta
voca efeitos muito negativos na vida dos animais, das plantas e dos ho-
para o espaço, porque as nuvens, as massas de gelo e neve dos polos e a
mens.
própria superfície terrestre refletem essa radiação. Olhe para a figura:
Os nossos sábios dizem que antigamente não existia isso porque
aqui era terra onde viviam muitos povos indígenas e cada um cuidava da
natureza no seu território. Não que viviam completamente em paz entre
si, mas viviam em paz com a natureza. E durante séculos protegeram as
florestas e as riquezas naturais dos locais onde viviam.

“Antes do contato os velhos diziam que os brancos iam


fazer o jeito do tempo mudar. Diziam que eles iriam
derrubar toda a floresta.” (Mopiri Suruí)
efeito estufa natural natural efeito artificial

Atividades Veja a radiação solar chegando na Terra (flechas amarelas). 30% dessa ra-
diação bate na atmosfera e já volta direto para o espaço (o círculo azula-
1 Como os sábios de nosso povo e como os cientistas explicam o que é a do na figura). Em seguida, da radiação que atravessou a atmosfera (70%),
mudança climática? Escreva um parágrafo para cada um. uma parte fica na atmosfera e outra parte é reemitida.
2 Procure no you tube vídeos sobre as mudanças climáticas e escreva so- A parte que ficou presa na atmosfera sofreu a ação dos gases de efeito
bre o que você entendeu sobre isso. Na sala de aula participe de uma estufa, ou seja, os gases que permitem aquecer a superfície da Terra e
roda de conversas sobre o assunto. que por isso permitem o desenvolvimento da vida na Terra. Isso nós cha-
mamos de efeito estufa natural.
68 69
Caminhadas diferentes: povos indígenas e não-indígenas
São vários os gases que existem na atmosfera, mas os
principais e que nos interessam para entender esse Os seres humanos vieram evoluindo no decorrer do tempo, como vi-
fenômeno são o gás carbônico e o metano. mos na parte 2 de nosso livro. Passaram por várias etapas de desen-
volvimento tecnológico. Isso vem acontecendo desde que o homem
Mas o que pode acontecer se uma quantidade exagerada de surgiu na Terra, e essa evolução não parou nunca. E todos os povos do
gases de efeito estufa estiver presente na atmosfera?
mundo desenvolveram e desenvolvem tecnologias para facilitar a vida
Uma quantidade de gases de efeito estufa muito maior do que a nor- e proporcionar mais conforto.
mal vai reter muito mais radiação solar na atmosfera e esquentar muito Na história da humanidade, até um certo tempo atrás não exis-
mais a superfície da Terra. Aí vai ocorrer o que chamamos de aqueci- tiam máquinas e tudo era feito através das mãos, ou seja, artesanal-
mento global. Isso pode ser muito prejudicial para os seres humanos mente. Entretanto, há mais ou menos 200 anos, tudo mudou no mun-
e todo tipo de vida existente no planeta. Tanto a vida animal quanto do dos não-índios. Foi descoberto o carvão como fonte de energia para
a vegetal. A vida pode até desaparecer da superfície da Terra. A isso, movimentar máquinas que substituíam grande parte do trabalho hu-
chamamos de efeito estufa artificial. mano.
Isso é o que está acontecendo atualmente. E os nossos sábios
tiveram razão quando disseram que é o jeito de viver da sociedade não
-indígena que está fazendo tudo isso acontecer. Os cientistas concor-
dam plenamente com isso. A causa da mudança climática é a grande
quantidade de gases de efeito estufa existentes na atmosfera, emitidos
principalmente pelas atividades humanas desde a Revolução Industrial.

O SOL ENVIA RADIAÇÃO PARA A TERRA.


A TERRA RECEBE A RADIAÇÃO.
OS SERES HUMANOS INTERFEREM NO PROCESSO NATURAL.

Atividades
1 Faça um desenho explicativo para o resumo acima.
2 O que é a atmosfera da Terra?
3 Quais são os principais gases que nos interessam para entender o que
é efeito estufa?
4 O que é efeito estufa?
5 O que é efeito estufa natural?
6 O que é efeito estufa artificial?

70 71
Inventando máquinas, começaram a aparecer as fábricas e a produção 3 Por que as sociedades indígenas se desenvolveram de forma diferente
de coisas aumentou muito. Produtos novos iam sendo criados em nú- das sociedades não-indígenas? Convide uma pessoa mais velha de sua
mero cada vez maior. Esse tempo da história é chamado de Revolução comunidade para participar de uma roda de conversas com a partici-
Industrial. pação do professor e seus colegas. Depois juntamente com os colegas
À medida em que o tempo ia passando, o número e tamanho construa um texto considerando as opiniões de todos.
das fábricas ia aumentando. Inventaram os automóveis. As cidades fo-
ram crescendo e a população, aumentando muito. Foi descoberto o 4 O que o tipo de desenvolvimento praticado pelos povos indígenas trou-
petróleo como fonte de energia e então os veículos e fábricas aumen- xe de bom para eles mesmos? Tema para reflexão e discussão em roda
taram ainda mais. de conversas.
O sistema econômico chamado capitalismo comandava e con-
tinua comandando a vida das sociedades não-indígenas. Esse sistema 5 O que o tipo de desenvolvimento praticado pelas sociedades não-indí-
se baseia no liberalismo e nas regras do comércio, da indústria e da genas trouxe de ruim para o planeta e para a humanidade? Tema para
propriedade particular, e tem como objetivo principal a produção e o reflexão e discussão em roda de conversas.
lucro. É a acumulação de riquezas, de dinheiro.
O desenvolvimento do mundo nesse sistema é medido pela
produção, consumo e lucro. Quem produz e vende mais é mais rico e
considerado mais desenvolvido. Principais atividades humanas que aumentam a emissão
Por outro lado, os povos indígenas desenvolveram suas tecnolo- de gases de efeito estufa para a atmosfera
gias evitando o esgotamento da natureza. Desenvolveram tecnologias
próprias e eficientes para extração, utilização e manutenção dos recur-
sos naturais. Suas práticas de agricultura, caça e pesca para sobrevivên-
cia se desenvolveram evitando as agressões desnecessárias ao meio
em que viviam. As sociedades se desenvolveram organizadas de acordo O grande volume de veícu-
com o ambiente em que viviam e, assim, o desenvolvimento da vida e los nas cidades emite um
das tecnologias indígenas garantiu que seus territórios se mantivessem volume grande de gases de
com a natureza preservada. efeito estufa.

Atividades: As grandes criações de


1 Pesquise na internet e descreva com suas palavras a história do desen- gado emitem muitos
volvimento tecnológico do povo não-indígena. gases de efeito estufa
2 Converse com seus colegas e o professor sobre o que leva a sociedade para a atmosfera e pre-
capitalista a produzir muito e faça um texto sobre essa questão de acor- cisam de muita área
do com o que você entendeu. desmatada.

72 73
As derrubadas e queimadas
da floresta também emi- Depois, no ano de 2005, iniciaram mecanismos para compensar
tem grande quantidade de quem cuidava da floresta – pois, até esse momento, ninguém havia fa-
gases de efeito estufa e, no lado sobre isso.
Brasil, se derruba e queima Em 2007, esse grupo criou a ideia de compensação para quem
muita floresta. realiza ações de REDD, que significa Redução de Emissões por Desma-
tamento e Degradação.

Atividades
1 Quais são as atividades no mundo que mais emitem gases de efeito
As atividades das fábricas estufa para a atmosfera?
liberam grande quantidade 2 E na região em que você vive, quais são as atividades que mais emitem
de gases de efeito estufa. gases de efeito estufa para a atmosfera?

3 Existe alguma coisa na sua aldeia que colabora com as emissões de ga-
ses de efeito estufa para a atmosfera?
O que tem sido feito para enfrentar a situação
4 Se a sua resposta for positiva, o que é preciso fazer para que isso não
aconteça mais?
O mundo todo está preocupado com a mudança climática. Os cientistas
e os governos dos diferentes países se reúnem todos os anos para dis- 5 Pesquise na internet sobre as reuniões chamadas COPs e procure saber
cutir acordos e metas para a redução das emissões de gases de efeito mais a respeito delas.
estufa.
Esses encontros são chamados de COPs (Conferência das Partes). 6 Se possível, com o uso da internet, localize a Terra Indígena Sete de
Setembro e observe a area ao entorno. Como está essa area. Qual a
aparece mais verde a da TI ou a do entorno? Pense. A destruição das
As “Partes” são os países que assinam os tratados.
florestas, além de influenciar diretamente no clima, também poderá
influenciar nos rios?

Todas as reuniões são importantes, mas foi a partir de 1992, na ECO 92,
ocorrida no Rio de Janeiro, Brasil, que os países começaram a se reunir
anualmente para discutir sobre o grande problema. POR QUE AS FLORESTAS SÃO TÃO IMPORTANTES NO
No ano de 1997, em Quioto, no Japão, os países discutiram um tratado ENFRENTAMENTO DOS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS?
internacional para definir limites para as emissões de gases de efeito
estufa. Esse acordo ficou sendo chamado de Protocolo de Quioto. As florestas ajudam a manter o equilíbrio do clima porque elas fazem o
A discussão sobre o papel indispensável das florestas na redu- serviço de retirada do gás carbônico da atmosfera. Com vapor de água,
ção dos efeitos das mudanças climáticas aconteceu somente no ano de luz do Sol e gás carbônico, os vegetais realizam o processo da fotos-
2001. Nesse ano, começou-se a planejar maneiras de compensar quem síntese, que lhes fornece seu alimento, constituído praticamente por
reflorestava áreas desmatadas ou implantava florestas onde elas nunca glicose. E, enquanto a planta produz a glicose, ela joga para fora o oxi-
haviam existido. gênio, que é fundamental para nossa vida.
74 75
Além disso, o gás carbônico que ela absorve se transforma em carbono
e fica armazenado em seu interior enquanto a árvore tiver vida.

É assim que as árvores fazem dois serviços importantes no enfrenta-


mento das mudanças climáticas:

1. Retiram gás carbônico da atmosfera para se alimentarem.

2. Transformam esse gás carbônico em carbono e o armazenam dentro


de si mesmas (no tronco, nos galhos, nas raízes).

“Somos os donos da floresta. Vivemos sempre dentro da floresta mas o


uso antigo da floresta era diferente de hoje. Como mudávamos sempre
de lugar nossas roças também mudavam de lugar e a floresta ia sem-
pre se recuperando. Antes do contato não tínhamos lugar certo para • PRECISAMOS PARAR DE FAZER QUEIMADAS E DESMATAR.
morar. A gente ficava em um lugar uns 3 ou 4 anos. Desse jeito a gente • PRECISAMOS REFLORESTAR AS ÁREAS QUE JÁ FORAM DESMATADAS.
vivia dependendo da floresta. Assim a gente vivia. Do mesmo jeito que • PRECISAMOS REALIZAR PALESTRAS INFORMATIVAS E FAZER REUNIÕES
fazíamos as roças nós caçávamos, pescávamos e coletávamos frutas na COM A COMUNIDADE PARA ENCONTRARMOS NOSSAS SOLUÇÕES LOCAIS
floresta e todos tipos de remédios tradicionais. Ainda hoje pegamos E FAZERMOS NOSSA PARTE NESSA LUTA CONTRA O AQUECIMENTO GLO-
remédios na floresta. Por isso a floresta é muito sagrada para nós. Tira- BAL!
mos tudo dela. Mas hoje isso mudou porque nós estamos vivendo de • QUEM MANTÉM A FLORESTA VIVA E EM PÉ PRESTA GRANDES SERVIÇOS
um jeito muito parecido com o jeito de viver dos brancos. Hoje planta- PARA A HUMANIDADE!
mos banana, café. Derrubamos floresta para fazer pasto. Hoje vivemos
em áreas abertas e isso pode trazer problemas para nosso povo, nossa
saúde e nossa sobrevivencia.” (Agamenon Suruí)
1
Atividades:
Procure na internet um video sobre o ciclo do carbono e escreva um
texto sobre o que você entendeu.
Assim fica claro por que as florestas são importantes e por que as reu- 2
niões anuais (COPs) planejam formas de compensar quem cuida das Procure na internet diferentes vídeos sobre os “Rios voadores” e escre-
florestas: porque estas são importantíssimas não somente para os seus va um texto sobre isso, após uma roda de conversa na sala de aula, com
habitantes e seus povos, mas também para o restante da humanidade. seus colegas e professor.

Atividade extra:
OBSERVEM BEM ATENTAMENTE A ILUSTRAÇÃO DE
ABERTURA DA PARTE IV E FAÇA UMA RELAÇÃO POR ESCRI-
TO DOS ELEMENTOS DO DESENHO COM OS ELEMENTOS
DA CULTURA TRADICIONAL DOS PAITER SURUÍ.

76 77
PARTE V

OS SERVIÇOS AMBIENTAIS
e O Futuro de Nosso Povo e de Nosso Território
Os serviços ambientais
Pamã paiter emãgarba wab e sadeor e, maxiteh pagarah it

“A vida dos povos indígenas é a vida de todos povos existentes na atua-


lidade. Por isso digo que o dia em que o território indígena for tomado,
o mundo se acabará, será o fim da humanidade”
GAKAMAM SURUÍ

78 79
OS SERVIÇOS AMBIENTAIS 4. MANUTENÇÃO DO CICLO HIDROLÓGICO: Ciclo hidrológico é a movi-
mentação continua realizada pela água na atmosfera, no solo, no sub-

E O FUTURO DE NOSSO POVO E DE NOSSO TERRITÓRIO solo e nas plantas. As florestas regulam o ciclo da água.Sem as árvores
haveria muita seca ou muitas inundações. As árvores controlam a água
Nos conteúdos anteriores vimos o quanto as florestas são importan- para que ela tenha seu ciclo regular e permita a existência da vida.
tes para a manutenção do equilíbrio do clima e do equilíbrio da nossa 5. MANUTENÇÃO DAS BELEZAS CÊNICAS: Com a derrubada da flores-
própria vida. Vamos entender agora o que são serviços ambientais e ta a natureza perde sua beleza e impossibilita o aproveitamento dessa
serviços ecossistêmicos. beleza para nossa alegria e até para o desenvolvimento de atividades
economicamente viáveis, como o turismo ecológico.
SERVIÇOS AMBIENTAIS
“Nossa vida depende da floresta e por isso temos que preserva-la. Te-
Sabemos que as florestas prestam serviços para todos nós. Esses servi- mos que saber como podemos usar a floresta. Não usar de qualquer
ços são chamados de ecossistêmicos. E se nós cuidamos das florestas maneira sem ter planejamento. Desde o surgimento dos Paiter fomos
realizamos um SERVIÇO AMBIENTAL. escolhidos para sermos os donos da floresta. Por isso temos nossa cul-
tura tradicional que praticamos desde o início. Antigamente vivíamos
• SERVIÇO ECOSSISTÊMICO É O SERVIÇO QUE A NATUREZA PRESTA PARA NÓS seguindo as regras de nossa cultura. Depois do contato isso está mu-
SERES HUMANOS. dando. Estamos vivendo muito pela cultura dos brancos e isso tem tra-
• SERVIÇO AMBIENTAL É O SERVIÇO QUE PRESTAMOS CUIDANDO DAS FLORES- zido muitos problemas para nós Paiter. (Mopiri Suruí)
TAS.
• NÓS POVOS INDÍGENAS PRESTAMOS UM GRANDE SERVIÇO AMBIENTAL PARA
A HUMANIDADE PORQUE SEMPRE CUIDAMOS DAS FLORESTAS. NÓS QUE CUIDAMOS DE NOSSO TERRITÓRIO E DE NOSSA FLORESTA PRESTA-
• SE CUIDARMOS DAS FLORESTAS TAMBÉM SEREMOS CUIDADOS POR ELAS. MOS TODOS ESSES SERVIÇOS PARA NÓS MESMOS E PARA A HUMANIDADE.
ALÉM DA IMPORTÂNCIA DAS FLORESTAS PARA A MANUTENÇÃO DO EQUILÍ-
BRIO CLIMÁTICO NOSSA FLORESTA SIGNIFICA MUITO PARA NOSSAS VIDAS.
TIPOS DE SERVIÇOS AMBIENTAIS: ISSO É DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA PARA A MANUTENÇÃO DE NOSSA
FORMA DE VIVER E DA NOSSA CULTURA.
1. CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: Se a floresta for derrubada
muitas espécies de árvores frutíferas, de medicamentos e de matérias

Atividades:
primas desaparecerão. Os animais que vivem nessa floresta também
desaparecerão. Proteger a floresta e mantê-la em pé é um importante
serviço ambiental.
2. SEQUESTRO E ESTOQUE DE CARBONO: A floresta retira gás carbô- 1 Explique com as suas palavras o que são serviços ecossistêmicos.
nico da atmosfera (sequestro) para se alimentar. O gás carbônico se 2 Explique com as suas palavras o que são serviços ambientais.
transforma em carbono e fica estocado nos troncos, galhos e raízes das 3 Por que a proteção das florestas é importante para a humanidade?
árvores. Se não destruímos a floresta ela ajudará na diminuição dos 4 Por que a proteção das florestas é importante para nosso povo?
gases de efeito estufa na atmosfera. Esse tipo de serviço ambiental é 5 Leia a frase dita por Gakamam Suruí no início desse capítulo e discuta
importantíssimo para o equilíbrio do clima. em uma roda de conversas com os colegas e com o professor, o que ele
3. PROTEÇÃO DA QUALIDADE DO SOLO: A floresta em pé ajuda na ma- quer dizer. Faça um texto sobre isso, com suas próprias palavras.
nutenção da qualidade do solo possibilitando a reciclagem de nutrien- 6 Leia com atenção as palavras de Mopiri Suruí acima e reflita sobre
tes. Isso faz com que os gases de efeito estufa existentes no solo não elas. Em seguida produza um pequeno texto que explica o que você
escapem para a atmosfera. entendeu.

80 81
COMPENSAÇÃO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS
MITIGAÇÃO: São todas as formas de diminuir a emissão de gases de efeito
estufa. Por exemplo: quando protegemos as florestas ou fazemos reflores-
tamento estamos diminuindo os efeitos das mudanças climáticas porque a
Vimos nos conteúdos da PARTE 4 que em 2007 apareceu a sigla REDD floresta diminui a emissão de gases de efeito estufa para a atmosfera por
na reunião anual dos países que fazem parte das COPs. Mas o que sig- duas razões.
nifica REDD? R (Redução) E (Emissões) D (Desmatamento) D (Degrada-
ção) ou seja Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação. 1º Porque quando as árvores estão crescendo elas puxam o gás carbônico para
Então REDD é uma forma de compensação para quem presta SERVIÇOS sua alimentação.
AMBIENTAIS protegendo a floresta, seja um país, um estado ou uma
2º Porque quando são conservadas a floresta guarda o carbono dentro de si.
comunidade. E nós, como povos indígenas, fazemos parte dos prin- Nas suas raízes, folhas, galhos e tronco e ele não vai se transformar em gás
cipais grupos que têm a possibilidade de serem compensados porque carbônico.
sempre protegemos e continuamos protegendo as florestas das terras
onde vivemos . Quando utilizamos de forma responsável e sustentável os recursos
Mas precisamos observar 4 passos importantes: da natureza estamos também ajudando a diminuir a emissão de gases de
efeito estufa. Quando consumimos menos. Quando cuidamos do lixo etc.
1. O serviço ambiental precisa ser bem definido. É necessário saber que
tipo de serviço ambiental vai ser compensado. Como sabemos são 5 ADAPTAÇÃO: é um jeito de viver com os efeitos das mudanças climáticas
tipos. Existem empresas, governos e até pessoas que têm interesse em que não torne a vida impossível. É saber ou imaginar o que precisamos
compensar serviços ambientais. saber fazer para viver bem, mesmo que o clima mude muito. É saber como
2. Deve ter um pagador. Essa é a pessoa, ou governo ou empresa ou até devemos ou podemos reagir frente aos problemas ocasionados pelas mu-
uma comunidade que vai compensar pelo serviço ambiental; danças climáticas.
3. Deve ter alguém que vai ser compensado. Pode ser uma pessoa, uma
empresa, mesmo o governo e até uma comunidade. Esse é quem vai se Diferenças entre REDD+ e RIA (REDD INDíGENA AMAZÔNICO)
responsabilizar por prestar o serviço ambiental escolhido;
4. A negociação tem que ser voluntária, ou seja, quem recebe ou quem REDD+ RIA
compensa precisa fazer por vontade própria e não porque são obriga-
dos. Mecanismo de mitigação da mu- Iniciativa de mitigação e adapta-
dança climática criada internacio- ção e resistência frente aos efei-

Atividades:
namente. tos das mudanças climáticas
criada por povos indígenas da Ama-
zonia. Própria para povos indígenas.
1 Converse com o professor e com seus colegas e representem como em
teatro uma negociação de compensação por serviços ambientais. Reduzir emissões de gases de efei- O objetivo é reduzir emissões de gases
to estufa, causados pelo desma- de efeito estufa de acordo com o jei-
tamento e degradação florestal. to de viver dos povos indígenas para
2 Qual a importância da negociação de um serviço ambiental? Discuta
a mitigação, adaptação e resistência
com os colegas e professor sobre isso. Pesquise na internet sobre o
frente a mudança climática.
assunto e produza um texto sobre o assunto.
São levadas em consideração São levadas em consideração todos
Além do REDD+, existe o RIA (Redd Indígena Amazônico). os hectares onde o proprietário hectares dos territórios indígenas, ca-
Antes precisamos entender duas palavrinhas: Mitigação e adaptação. demonstrará o desmatamento racterizados por zonas de conserva-
evitado. ção, uso moderado e zonas de cultivo
82 83
“ Uma pessoa que conhece a ciência moderna e
conhece e valoriza a sua própria cultura, será um
sábio e poderá tomar decisões mais acertadas so- REDD+ OU RIA deve ser uma escolha consciente da comunidade ou
bre o destino do seu povo mas temos que pensar seja, depois que todos tenham entendido do que tratam.
também que mesmo tendo esses conhecimen-
tos, sozinha, essa pessoa não poderá fazer nada.“
Arildo Suruí

O que nós, povos indígenas,


precisamos saber para participarmos de um processo de Atividades:
compensação por serviços ambientais.
Perguntas geradoras de reflexão, discussão em roda de
O mais importante antes de começar qualquer discussão sobre isso, é conversas com produção coletiva de textos:
fazer com que as pessoas da nossa comunidade saibam do que trata
esse tipo de negociação. Não são apenas as lideranças e os homens. 1 O que pode acontecer com um projeto de compensação por serviços
Os velhos, as mulheres, jovens e crianças precisam também conhecer ambientais se a comunidade não entender do que trata esse projeto?
todo o processo, inclusive sobre as mudanças climáticas. Somente de-
pois disso poderemos ir negociar ou com o governo ou com empresas 2 Qual é o papel da comunidade no desenvolvimento de um programa
e outros. Para simplificar: ou projeto de compensação por serviços ambientais?
• 1. A comunidade deve entender o assunto para poder decidir e
apresentar sugestões; 3 Quais são as atividades Quais as diferenças entre RIA e REDD+? Não
• 2. A comunidade precisa participar das conversas desde os primei- fique limitado ao livro. Procure saber mais, pesquisando na internet.
ros momentos dando suas opiniões e sugestões;
• 3. A comunidade deve participar ativamente de todas as ações que 4 O que você entendeu por mitigação? Escreva um texto com as suas
forem desenvolvidas; próprias palavras.
• 4. A comunidade precisa acompanhar e monitorar as atividades
para saber se está dando certo; 5 O que devemos fazer em nosso território para mitigar os efeitos das
• 5. A comunidade deve ter maneiras de agir para consertar o que mudanças climáticas ?
está dando errado.
6 Reflita com seus colegas, em uma roda de conversas, o será necessário
fazer para como adaptação caso o calor aumente muito em nossa ter-
ra?

7 Faça pesquisas e converse com as lideranças sobre a experiência de


RIA na Terra Indígena Igarapé Lourdes. Veja de que modo você poderia
contribuir para a implementação do RIA na sua Terra.

84 85
OS DIREITOS
DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DIREITOS
Pamã direito ey DOS POVOS INDÍGENAS

CONSENTIMENTO LIVRE, PRÉVIO E INFORMADO Essa declaração foi adotada no ano de 2007 e é muito importante que
todos conheçam. Essa é a famosa declaração 169 da OIT (Organização
Para garantir que sejamos consultados antes de qualquer negociação Internacional do Trabalho). Não reconhecer esses direitos dos povos
relacionada a serviços ambientais ou desenvolvimento de qualquer ati- indígenas nos programas por serviços ambientais ou REDD+ é violar os
vidade que possa afetar a vida da comunidade existe o CONSENTIMEN- direitos desses povos.
TO LIVRE, PRËVIO E INFORMADO. Esse documento é reconhecido em
todo mundo. Alguns pontos da declaração:
Reconhecer os direitos dos índios sobre seus territórios de acordo com
Ele quer dizer o seguinte:
os usos tradicionais e as leis de seus costumes e em particular sobre
seus recursos naturais;
CONSENTIMENTO: Quer dizer que a pessoa ou comunidade concorda
com a atividade;
Respeitar o direito de autonomia e autodeterminação, o que significa
que as populações indígenas e outras comunidades locais têm autono-
LIVRE: A pessoa ou comunidade concorda porque acha que deve con-
mia para administrar seus territórios e capacidade legal de negociar e
cordar;
de decidir sobre a participação em projetos e iniciativas que os afetem
direta ou indiretamente;
PRÉVIO: Qualquer atividade só pode ser desenvolvida depois que a
pessoa ou comunidade concordar e não antes.;
Aplicar o direito do Consentimento livre, prévio e informado, pelo qual
as comunidades envolvidas devem ter acesso a toda informação rela-
INFORMADO: A pessoa ou comunidade precisa saber do que trata a
cionada ao projeto e, principalmente, ser consultadas antes do inicio
atividade. Então concorda porque tem conhecimento do assunto.
de qualquer atividade;

Assegurar participação plena e efetiva dos povos indígenas em todas as


No CLPI, as pessoas só devem concordar
etapas do projeto.
se conhecerem bem o assunto.

Em um projeto de REDD+ é importante saber que podemos ter muitos


benefícios mas que também podem existir riscos. Por isso todos pre-
cisamos saber do que se trata. Todas as pessoas da comunidade pre-
cisam saber de seus compromissos e cumpri-los. Somente assim um
projeto pode alcançar sucesso.

86 87
SALVAGUARDAS SOCIOAMBIENTAIS PADRÕES SOCIAIS E AMBIENTAIS PARA REDD+
salvaguarda socioambiental é uma maneira de Ainda para proteger os povos indígenas e comunidades tradicionais de
proteger os povos indígenas e populações tradicionais riscos e respeitar nossos direitos nos programas de REDD+, ao mesmo
dos problemas que podem vir a acontecer nos tempo em que gera benefícios sociais e de biodiversidade, foram cria-
programas de REDD+ desenvolvidos pelos governos. dos os padrões sociais e ambientais para REDD+ que deverão ser utili-
zados por governos, ongs, agencias financiadoras e outros que forem
Essas salvaguardas são construídas por princípios e critérios. Para o desenvolver projetos de REDD+ com as comunidades.
Brasil os princípios são:
COMO PODEMOS VER, OS POVOS INDÍGENAS TÊM MUITOS DIREITOS
QUE OS PROTEGEM NO DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS OU PRO-
JETOS DE COMPENSAÇÃO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS OU REDD+. ISSO
Ter atenção e respeitar os acordos internacionais estabelecidos nas É MUITO IMPORTANTE SABER E CONHECER QUAIS SÃO ESSES DIREITOS.
ações a serem desenvolvidas com os povos indígenas e populações tra-

Atividades:
dicionais;

Reconhecer e respeitar os direitos de propriedade e uso da terra, terri-


1 Escreva com as suas palavras o que você entendeu sobre Consentimen-
tórios e recursos naturais; to livre, prévio e informado.
Fazer uma distribuição justa , transparente (que todo mundo fique sa- 2 Juntamente com seus colegas criem uma situação em que é necessário
bendo) e igualitária dos benefícios de REDD+; usar o CLPI e apresentem na sala de aula.
3 O que você entendeu sobre as Salvaguardas sociais e ambientais para
Contribuir para a diversificação econômica e sustentável desses povos, REDD+? Será que elas funcionam? Explique sobre o que você acha so-
melhorar sua qualidade de vida e diminuir a pobreza; bre isso.
Contribuir para a conservação e recuperação dos ecossistemas natu- 4 Quais os principais pontos da declaração 169 da OIT? Leia o texto, pes-
rais, da biodiversidade e dos serviços ambientais; quise na internet sobre o assunto e produza seu próprio texto.
5 Pesquise mais sobre os direitos dos povos indígenas com relação a
Possibilitar a participação de todos na elaboração e implementação dos compensação por serviços ambientais e REDD+. Faça um resumo do
programas de REDD+ nos processos de tomadas de decisão; que vc aprendeu.
Disponibilizar plenamente as informações sobre os programas de 6 A Terra Indígena Sete de Setembro tem um projeto de REDD+ chama-
REDD+; do Projeto de “Carbono Florestal Suruí”. O que você sabe sobre esse
projeto? Pesquise na internet e convide o coordenador da associação
Promover maior governança, articulação e alinhamento com as políti- a que sua família pertence e peça para ele explicar o projeto. Procure
cas nacionais, regionais e locais. conhecer o documento desse projeto e faça em seguida um texto so-
bre o Projeto de Carbono Florestal Suruí.

88 89
O FUTURO “Desejamos que essa terra seja de nós mesmos pois aqui vivemos des-
de sempre. Nascemos na floresta . Sinto que essa natureza é minha e
hoje ela está se acabando. Eu não vivo sem minha terra. Ela é minha
Já sabemos que durante os últimos anos, existe uma grande própria vida. Se alguém chegar para tirar isso de mim eu não irei acei-
discussão entre os cientistas, as organizações internacionais, organiza- tar. Desejo que a terra seja nossa sempre porque ela sempre nos per-
ções não governamentais, universidades, empresas, povos indígenas tenceu. Hoje em dia, principalmente os jovens querem viver a vida do
e governos com respeito a ameaça da mudança climática para toda a branco. Gostaria que os jovens nunca esquecessem a sua tradição. Que
humanidade e que a proteção das florestas é uma das coisas mais im- não esquecessem a cultura”.
portantes para o enfrentamento dessas ameaças. Gasereg Suruí- ancião Suruí
Sabemos também que o modo de vida dos povos indígenas
tem garantido que as reservas de floresta continuem existindo em seus
territórios. Assim, as florestas de todos os territórios indígenas são de
grande importância para o mundo todo. “Hoje nosso futuro está cada vez mais ameaçado. Infelizmente vejo que
O território tradicional dos Paiter Suruí era muito maior do que os indígenas têm encontrado dificuldades para desenvolver seu traba-
o que foi demarcado mas atualmente vivemos aqui. Aqui é nossa terra. lho pois hoje vivemos entre duas culturas. A nossa e a não indígena e
Somos nós os responsáveis por ela. Nela temos tudo o que precisamos por isso a necessidade que temos vai além da nossa necessidade como
para nossa vida. E somente nós mesmos poderemos definir o futuro de indígenas e isso tem nos obrigado a fazer trabalhos que não fazíamos
nosso terra e do nosso povo. Para isso, precisamos ter conhecimento antes. Hoje estamos vendo que uma das atividades que colocam em
dos conteúdos que trabalhamos aqui e refletir sobre eles. Precisamos risco a vida do povo, dessa geração do futuro com impacto profundo e
conhecer nossos direitos e as leis que nos protegem. Saber também negativo em nosso território é a retirada ilegal de madeiras e a explo-
quais os caminhos que poderão nos conduzir a fazer uma boa gestão de ração de minérios”.
nosso território, com responsabilidade e sabedoria, pensando no bem Arildo Suruí- liderança
coletivo e na proteção da natureza.

Atividade
“Hoje em dia somos bem diferentes. Outras pessoas diferentes do que
Explique aqui com suas palavras a razão dos territórios indígenas serem
éramos antigamente. Hoje em dia a gente não vive com as regras da
importantes para todo o mundo.
nossa cultura. Vivemos como os brancos. Junto com a mudança da

O QUE NÓS QUEREMOS PARA O FUTURO


cultura até o clima mudou. Como a cultura dos brancos não é a nos-
sa tradição isso pode trazer grandes problemas para a nossa vida pois
estamos vivendo fora da nossa tradição. Isso mudou as nossas vidas.
Kanã paje maetera yele kane pagãni
Antigamente a gente era mais saudável. Hoje a vida é mais complicada
“No futuro eu gostaria que a cultura voltasse a existir. Temos que car- do que era antes. O mais certo para nós é seguir a nossa cultura. Hoje
regar a cultura dentro de nós mesmos. Hoje vivo na escola no meio dos sofremos muito por não seguir a nossa cultura. O dinheiro é grande
brancos mas eu queria que a cultura viesse a ser praticada por todos. problema para nós. Antigamente a nossa sobrevivência era a floresta.
Podemos conhecer a cultura dos não índios mas podemos viver a nos- Hoje em dia dependemos de dinheiro para sobreviver. Como a gente
sa cultura se quisermos. As futuras gerações deveriam viver no futuro segue uma cultura que não é a nossa nosso corpo sofre muito. Antiga-
com base na nossa própria cultura.“ mente nosso ritmo de trabalho era diferente. “
Márcia Suruí- jovem Suruí Gapob Suruí- ancião Suruí

90 91
“Não queria nunca que a terra fosse mais destruida do que já está. Gos- 1.DIAGNÓSTICO SÓCIO ECONOMICO CULTURAL PARTICIPATIVO
taria de ter vivido no tempo em que era como fala o meu pai, com au- Garah same ikin e
tonomia e não precisando de pedir nada para ninguém” Esse diagnóstico é feito para levantar as informações e conhecimentos
da realidade
David Suruí- jovem Suruí
integral da comunidade, a partir do entendimento dela mesma. Por

Atividade:
isso se diz participativo. A comunidade reflete sobre a situação atual de
sua vida e pode refletir em como será o futuro. Esse diagnóstico produz
informações coletivamente e cria possibilidades para decisões coletivas
sobre a vida futura da comunidade.
1 Escreva aqui como você pensa que o seu povo poderá alcançar tudo o
que deseja para o futuro. 2.MAPEAMENTO DO TERRITÓRIO (Etnomapeamento)
Garah katah
2 Você acha que alguma coisa poderá atrapalhar o seu povo a alcançar o
O mapeamento do território é uma ferramenta importante de gestão
que deseja para o futuro? Se a resposta for sim, explique o que e pro-
ambiental e deve ser feito pela comunidade. Se precisar, pode contar
ponha soluções.
com uma assessoria técnica para organizar as informaçoes. Esse mape-
3 Convide, juntamente com seus colegas a liderança de sua comunidade amento vai mostrar elementos ambientais, sociais, culturais e econô-
para que ele fale sobre o que deseja para o futuro do povo Paiter Suruí. micos do território. Tudo isso com base nos conhecimentos e saberes
indígenas.
4 Leia com atenção as palavras das pessoas Suruí escritas acima e em
uma roda de conversas, reflita e discuta com os colegas sobre o que 3.ETNOZONEAMENTO SÓCIO ECONOMICO CULTURAL
dizem. É outra ferramenta muito importante para a gestão dos territórios. Ele
5 Faça um desenho bem bonito do território desejado para o futuro. ajuda a planejar a utilização do território e é desenvolvido com base no
etnomapeamento.”
4.PLANO DE VIDA -

O QUE PODEMOS E DEVEMOS FAZER


Aweitxa we same
Somente a partir do Plano de Vida, construído de forma participativa e
PARA ALCANÇAR O QUE QUEREMOS NO FUTURO
de acordo com os sonhos da comunidade é que vamos definir tudo o
que queremos, como queremos e para que queremos.
Para construir um Plano de Vida responsável precisamos olhar para as
Existem ferramentas importantes que podem nos ajudar a desenvolver ferramentas que construimos e sobre as quais falamos anteriormente.
uma boa gestão de nossa terra, respeitando a nossa cultura, protegen- Aí estaremos finalmente construindo nosso futuro de uma forma res-
do o nosso território das ameaças externas e promovendo meios de ponsável que utiliza o território e seus recursos de forma sustentável
vida sustentáveis para nossas famílias e alcançando o queremos para garantindo a continuidade de nosso povo e de nossa cultura.
o futuro.
Nós temos essas ferramentas e precisamos usa-las para alcançar o que
pretendemos. Precisamos conhece-las e lutar para o bem viver de nos- No caso do povo Paiter Suruí todas essas ferramentas já existem e to-
so povo. O mais importante para isso, além dessas ferramentas é a nos- dos precisam conhece-las a fundo e saber falar sobre elas. Mais do que
sa união. falar precisam colocar em prática o que elas apresentam para procede-
rem uma boa governança do território.

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“O que eu penso particularmente é que é muito importante que o povo volvimento Econômico e Social). Também é possível utilizar recursos de
Paiter Suruí implemente o Plano de gestão de 50 anos. Ele já está escri- projetos de cooperação internacional. É importante saber que a PNGATI
to. Por quê? Porque o plano já dita os eixos temáticos principais que são requer muitas parcerias para sua execução e, por isso, não bastam ape-
12. Se o povo olhar e der atenção a esse plano que foi uma ideia daque- nas os recursos financeiros. É fundamental que haja uma rede de imple-
le momento em que os 4 clãs pensaram coletivamente. Se conseguirem mentadores e parceiros dos povos indígenas para o sucesso das ações.
implementa-lo, isso traria um futuro melhor em vários aspectos: social,
ambiental, cultural, econômico, político e educacional. Indiretamente Mas também é importante saber que antes de qualquer coisa, a condi-
isso também beneficiaria, sem dúvida, outros povos indígenas e a ci- ção mais importante para alcançar sucesso na implementação de nosso
dade onde estamos localizados, o estado onde vivemos e também o Plano de Vida e alcançar o que queremos para o futuro é o nosso com-
Brasil. É a implementação de uma política que vai não só beneficiar o promisso com nosso povo, com nossa cultura e com nosso território.
povo, o nosso território. O impacto desse trabalho trará um resultado Devemos estar atentos aos nossos direitos. Atentos ao que acontece
positivo para todos os povos, em todos os lugares”. em nosso país e diz respeito aos povos indígenas. Devemos buscar
Arildo Suruí conhecimentos, valorizando nossos saberes tradicionais, ao mesmo
tempo que procuramos entender as conquistas da Ciência, para que
possamos fazer escolhas responsáveis e assim construir o futuro que
PNGATI - Para apoiar a gestão dos territórios indígenas
queremos.
O PNGATI, cuja sigla quer dizer “Política Nacional de Gestão Ambiental

Atividades
das Terras Indígenas” veio para apoiar a gestão sustentável dos territó-
rios indígenas e isso tem a ver com os Planos de Vida. Essa política foi
instituída em 2012. Ela existe para promover a proteção, recuperação,
conservação e uso sustentável dos recursos naturais das TIs. Seus obje-
1 Quais são as ferramentas importantes para construção de um Plano de
tivos específicos estão organizados em eixos:
Vida que considera a gestão responsável, sustentável e participativa do
território?
•Eixo 1 – Proteção territorial e dos recursos naturais;
•Eixo 2 – Governança e participação indígena; 2 Quantos e quais são os eixos dos objetivos do PNGATI?O que eles sig-
•Eixo 3 – Áreas protegidas, unidades de conservação e terras indígenas; nificam?
•Eixo 4 – Prevenção e recuperação de danos ambientais; 3 Procure saber mais a respeito do PNGATI. Peça ao professor para convi-
•Eixo 5 – Uso sustentável de recursos naturais e iniciativas produtivas dar o responsável pela FUNAI da sua área para ir até a escola ou aldeia
indígenas; e explicar mais a respeito do PNGATI.
•Eixo 6 – Propriedade intelectual e patrimônio genético; e
•Eixo 7 – Capacitação, formação, intercâmbio e educação ambiental 4 Por que todas as ferramentas apresentadas acima para uma boa gestão
devem contar com a participação de todos da comunidade?
5 Quais são os principais responsáveis para que a gestão territorial alcan-
Para implementar a PNGATI e claro, os Planos de Vida, dependemos ce os resultados que desejamos para o futuro?Explique.
da articulação e acertos com o governo, movimento indígena, organi- 6 Como dissemos, os Paiter Suruí já possuem as principais ferramentas
zações da sociedade civil e cooperação internacional. Existem recursos para uma boa gestão do território. Você conhece essas ferramentas?
públicos para isso mas também é possível mobilizar recursos vindos Procure, juntamente com seus colegas e apoio do professor, conhecer
de fundos públicos como o Fundo Clima do MMA (Ministério do Meio e entender esses documentos. Discuta sobre esses documentos na sala
Ambiente) e o Fundo Amazônia do BNDES (Banco Nacional de Desen- de aula e faça um pequeno texto sobre cada um deles.

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7 Convide o coordenador da associação para a sala de aula para que ele
faça uma apresentação sobre as ações que a associação vem desen-
volvendo para gestão sustentável da Terra Indígena Sete de Setembro.

Atividade extra:
OBSERVEM BEM ATENTAMENTE A ILUSTRAÇÃO DE
ABERTURA DA PARTE V E FAÇA UMA RELAÇÃO POR ESCRITO
DOS ELEMENTOS DO DESENHO COM OS ELEMENTOS DA CULTU-
RA TRADICIONAL DOS PAITER SURUÍ.

BIBLIOGRAFIA

BARCELLOS, Maria do Carmo, Plano de Ação participativo para o desenvolvimento de uma economia
racional e de manejo sustentável dos recursos naturais da Terra Indígena Sete de Setembro, METAREILÁ,
Cacoal, fevereiro, 2010.
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de programas e projetos na Amazonia brasileira: IMAFLORA, 2010
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MINDLIN, BETTY, Nós Paiter, os Suruí de Rondônia Vozes da origem: (São Paulo): Editora Vozes, Petro-
pólis, 1985
MENDONÇA F, DANNI OLIVEIRA I.M., Climatologia: noções básicas de climas do Brasil, (São Paulo): Ofi-
cina de textos, 2007.
MINDLIN, BETTY, Vozes da origem: Betty Mindlin e narradores Suruí, (São Paulo): Editora Record, 2007
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