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ANÁLISE EXERGÉTICA DE UM SISTEMA DE COGERAÇÃO BASEADA NA

POTÊNCIA A VAPOR EM CICLO RANKINE

CURITIBA

2018

1. INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios presentes na engenharia é atender com responsabilidade
às necessidades de energia a nível nacional e mundial. A inevitável escassez das fontes
de energia não renováveis e o impacto causado no ambiente tem despertado interesse pela
abertura de novos caminhos pelos quais se possa produzir eletricidade. Como exemplo de
tipos de usinas de energia que podem fornecer eletricidade a partir de fontes renováveis
de energia estão a as plantas de potência alimentadas a biomassa, geotérmicas e energia
solar. Todas essas usinas de energia citada operam segundo o ciclo termodinâmico de
Rankine, onde através deste é conseguido a conversão da energia oriunda de combustíveis
de baixo custo em eletricidade.

Levando em consideração a constante busca por sistemas mais eficientes e a


importância das plantas de potência que operam segundo o ciclo de Rankine para o
cenário energética mundial, o presente trabalho propõe uma análise exergética de um
sistema de cogeração de potência a vapor que opera segundo o ciclo de Rankine. Através
da análise exergética será possível quantificar quais componentes do ciclo possuem maior
taxa de destruição de exergia, ou seja, quais componentes tem maior impacto na eficiência
levando em consideração as irreversibilidades do sistema. Além disso, foi feita uma
análise paramétrica do sistema, onde foram variados alguns dos parâmetros de entrada
para analisar o impacto que estes causam na destruição de exergia dos componentes.

2. METODOLOGIA

Para a resolução da equações e obtenção das propriedades termodinâmicas de cada


estado do ciclo Rankine foi utilizado o software Interactive Thermodynamics. Para a
realização da análise exergética foi utilizado como base uma planta de geração de
potência a vapor de um problema proposto por Moran et al. (2015), a qual o ciclo é
mostrado na Figura 01. A análise foi realizada em cada componente separadamente, ou
seja, foi calculado a destruição de exergia na turbina, na caldeira, condensador e na
bomba.

O estudo será feito em um ciclo de potência onde vapor é utilizado como fluido
de trabalho em um ciclo Rankine. Vapor saturado entra na turbina a 80 bar e líquido
saturado sai do condensador a uma pressão de 0,08 bar. Além disso, a eficiência
isentrópica é de 85% na turbina e 70% na bomba. Foi considerada uma vazão mássica de
94 kg/s para o ar e 2335,56 kg/s para água de resfriamento no condensador.
As equações, para todos os componentes, foram desenvolvidas com base nos princípios
da continuidade, Primeira e Segunda Lei da Termodinâmica.

Figura 01 – Ciclo Rankine

Fonte: Adaptado do Moran et al. (2015)

2.1 CALDEIRA

A caldeira possui corrente de água entrando como líquido a 80 bar e saindo como
vapor saturado a 0,08 bar. Em corrente separada, os produtos gasosos da combustão
resfriam-se a uma pressão constante a 1 atm com temperaturas de entrada e saída de 1000
ºC a 550 °C, respectivamente. A corrente gasosa será modelada com ar na condição de
gás ideal. As condições de temperatura e pressão de referência ambiente são de,
respectivamente, T0 = 15 °C e p0 = 1 atm.

2.2 CONDENSADOR

Em uma das correntes do condensador uma mistura de duas fases, líquido-vapor,


entra a 0,008 bar e sai como líquido saturado. Na outra corrente, a água de resfriamento
entra a 15°C e sai a 35°C.
2.3 TURBINA

A pressão na entrada da turbina é de 80 bar com temperatura (T1) de 480ºC. A


eficiência isentrópica é de 85%.

2.4 BOMBA

A pressão na entrada da bomba é de 80 bar e foi considerada uma eficiência


isentrópica de 70%.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Implementando as equações e funções descritas na metodologia e aplicando os


dados iniciais do problema, com o software Interactive Thermodynamics foi possível
quantificar todas as entalpias e entropias de cada estado do ciclo. Através dos balanços
de massa, energia e exergia foram calculadas a exergia destruída em cada componente.
Os valores obtidos são descritos na Tabela 01.

Tabela 01 – Exergia destruída em cada componente do ciclo

Fonte: Autor (2018)

Analisando a Tabela 01, nota-se que o maior valor de exergia destruída foi na
caldeira. Isso acontece pois nesse componente existe a transferência de calor que gera a
vaporização do fluido de trabalho.

3.1 ANÁLISE PARAMÉTRICA


A medida que a temperatura dos produtos de combustão na caldeira aumenta, é
percebido que tanto a taxa líquida com a qual a exergia é conduzida para dentro da
corrente gasosa como a exergia destruída na caldeira também aumentam, conforme
mostra a Figura 02. Isso acontece devido o aumento na diferença entre as temperaturas
na entrada e saída de ar e da caldeira, fazendo com que aumente o desperdício de trabalho
útil no processo de transferência de calor.

Figura 02 – Comportamento da Exergia destruída na caldeira em função da variação da temperatura do ar


na entrada

Fonte: Autor (2018)

Para analisar a influência da temperatura na entrada da turbina na exergia


destruída em cada componente, variou-se o valor de T1 de 400ºC até 800 ºC, assim como
mostra a Figura 03. Observou-se que a exergia destruída no condensador a partir da
temperatura de aproximadamente 575ºC apresentou valores negativos. Ou seja, o sistema
não opera em condições reais, pois não existe sistema irreversível com destruição de
exergia negativa.

Figura 03 – Comportamento das exergias destruídas em cada componente em relação a variação de


temperatura na entrada da Turbina
Fonte: Autor (2018)

Variando-se a pressão na saída da turbina (p2) percebe-se que ocorre a diminuição


da exergia destruída na turbina à medida que a pressão aumenta, conforme a Figura 04.
Isso ocorre pois há uma diminuição na diferença entre a pressão de entrada e saída da
turbina, diminuindo as perdas de exergia nesse componente.

Figura 04 – Comportamento da Exergia destruída na turbina em função da variação da pressão no ponto 2

Fonte: Autor (2018)


Em relação a exergia destruída no condensador, notou-se através da Figura 05 que
aumentando a temperatura da água na saída haverá também o aumento da exergia
destruída. Além disso, existe um valor mínimo permitido para essa temperatura onde a
exergia ainda possui valores positivos. Para uma temperatura de aproximadamente 33,9
ºC o condensador já apresenta valores negativos de destruição de exergia, ou seja, não se
trata de um sistema real.

Figura 05 – Comportamento da Exergia destruída no condensador em função da variação da temperatura


da água de resfriamento na saída

Fonte: Autor (2018)

A destruição de exergia na turbina e na bomba sofrem influência da variação das


suas respectivas eficiências isentrópicas. Analisando a Figura 06, nota-se que quanto
maior o valor da eficiência isentrópica da bomba, menor será a destruição de exergia
nesse componente. O mesmo comportamento ocorre na turbina, onde o aumento da
eficiência isentrópica da turbina acarreta na diminuição da destruição de exergia. Porém,
a variação isentrópica na turbina também influencia na destruição de exergia do
condensador. Pela Figura 07 é percebido que valores abaixo de eficiência isentrópica na
turbina abaixo de 0,76, aproximadamente, acarretam valores negativos de destruição de
exergia no condensador, ou seja, esse é o valor mínimo para esse sistema operar em
condições reais.
Figura 06 – Comportamento da Exergia destruída na bomba em função da variação da eficiência
isentrópica.

Fonte: Autor (2018)

Figura 07 – Comportamento da Exergia destruída na bomba em função da variação da eficiência


isentrópica.

Fonte: Autor (2018)


4. CONCLUSÃO

A partir da análise exergética é possível direcionar esforços no sentido de reduzir


as fontes de ineficiências dos sistemas existentes. Através da análise exergética realizada
no presente trabalho, foi possível quantificar os componentes que possuem maior impacto
na eficiência de um sistema de cogeração de energia que opera segundo o ciclo de
Rankine, levando em consideração as irreversibilidades do sistema. Através dos dados
obtidos pôde-se concluir que a caldeira é o componente com maior taxa de destruição de
exergia, devido a transferência de calor que ocorre para gerar a vaporização do fluido de
trabalho. Além disso, através da análise paramétrica, foi possível observar o
comportamento das destruições de exergia em relação a variação de parâmetros de
entrada como pressão, temperatura e eficiências isentrópicas.
REFERÊNCIAS

IT: Interactive Thermodynamics 3.1, Intellipro, Inc. Michael J. Moran & Howard N.
Shapiro, 2015 New York.

MORAN, M. J. SHAPIRO, H. N. BOETTNER, D. D. BAILEY M. B. Princípios de


Termodinâmica para Engenharia. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. LTC, 2015.
ANEXO

Código utilizado no Interactive Thermodynamics para a realização da análise exergética


do sistema de refrigeração por compressão de vapor.

/* ANÁLISE EXERGÉTICA DE UM SISTEMA DE COGERAÇÃO DE ENERGIA


OPERANDO EM CICLO RANKINE

******************************************

Hipóteses:

1. Regime permanente

2. variações de energia cinética e potencial desprezíveis

3. Perdas de carga desprezíveis nas tubulações

Análise:

*/

T0 = 288 // Temperatura de referência ambiente em K

// ESTADO 01 - TURBINA

p1 = 80 // bar

T1 = 480 // ºC

h1 = h_PT("Water/Steam", p1, T1)

s1 = s_PT("Water/Steam", p1, T1)

// ESTADO 02

p2 = 0.08 // bar

s2s = s1

x2l = 0

x2v = 1

ssat2l = ssat_Px("Water/Steam", p2, x2l)

ssat2v = ssat_Px("Water/Steam", p2, x2v)

x2s = (s2s - ssat2l)/(ssat2v - ssat2l)


s2 = s_Ph("Water/Steam", p2, h2)

hsat2l = hsat_Px("Water/Steam", p2, x2l)

hsat2v = hsat_Px("Water/Steam", p2, x2v)

h2s = hsat2l +x2s*(hsat2v - hsat2l)

nt = 0.85

h2 = h1 - nt*(h1 - h2s)

// ESTADO 03 (CONDENSADOR)

p3 = p2

x3 = 0 // Líquido saturado

hsat3 = hsat_Px("Water/Steam", p3, x3)

vsat3 = vsat_Px("Water/Steam", p3, x3)

ssat3 = ssat_Px("Water/Steam", p3, x3)

s3 = ssat3

h3 = hsat3

// ESTADO 04 // BOMBA

np = 0.7

p4 = p1

h4s = h3 + vsat3*( p4 - p3)*(10^5/10^3)

h4 = h3 + (h4s - h3)/np

s4 = s_Ph("Water/Steam", p1, h4)

// VAZÕES MASSICAS

mdot1 = 94 // kg/s

mdotag = 2335.56 // kg/s

// ENTRADA DE EXERGIA

e1 = ((h1 - h4) - T0*(s1 - s4))*mdot1*(10^6/10^3) // (ef1 - ef4)

// SAÍDAS

// TRABALHO

wdotciclo = ((h1 - h2) - (h4 -h3))*mdot1*(10^6/10^3) // kJ/kg


// CONDENSADOR

Tag_in = 15 //ºC

Tag_out = 35 //ºC

pag_in = Psat_T("Water/Steam", Tag_in)

pag_out = Psat_T("Water/Steam", Tag_out)

hag_in = h_PT("Water/Steam", pag_in, Tag_in)

hag_out = h_PT("Water/Steam", pag_out, Tag_out)

sag_in = s_PT("Water/Steam", pag_in, Tag_in)

sag_out = s_PT("Water/Steam", pag_out, Tag_out)

e2_cond = ((hag_out - hag_in) - T0*(sag_out - sag_in))*mdotag*(10^6/10^3)

// DESTRUIÇÃO DE EXERGIA

//TURBINA

EDturb = T0*mdot1*(s2 - s1)*(10^6/10^3)

//BOMBA

EDbomba = T0*(s4 - s3)*mdot1*(10^6/10^3)

//CONDENSADOR

EDcond = (mdot1*(s3 - s2) + mdotag*(sag_out - sag_in))*T0*(10^6/10^3)

//CALDEIRA

Tar_in = 800 //Temperatura do ar na entrada em°C;

Tar_out = 300 // Temperatura do ar na saída em °C;

har_in = h_T("Air",Tar_in)

har_out = h_T("Air",Tar_out)

mdotar = (mdot1)*(h1 -h4)/(har_in - har_out)

sar_in = s_Tp("Air",Tar_in,p0)

sar_out = s_Tp("Air",Tar_out,p0)

p0 = 1.01325

Edotar = mdotar*((har_in - har_out) - T0*(sar_in - sar_out))*(10^6/10^3) //Taxa líquida


com a qual a exergia é conduzida para dentro da corrente gasosa

Edota = mdot1*((h1 - h4) - T0*(s1 - s4))*(10^6/10^3) //Taxa líquida com a qual a exergia
é conduzida para fora da corrente gasosa

EDcald = Edotar - Edota

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