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CONSTRUÇÃO COM SOLO CIMENTO

O solo-cimento é um material obtido através da mistura homogênea de solo,


cimento e água, em proporções adequadas e que, após compactação e cura
úmida, resulta num produto com características de durabilidade e resistências
mecânicas definidas.

Este material de construção vem suprir boa parte das necessidades de


instalações econômicas na maioria das regiões rurais e suburbanas no Brasil.
O uso do solo-cimento no Brasil vem, desde 1948, ajudando na satisfação de
tais necessidades, encontrando-se hoje já bastante difundido.

A presente comunicação relata aspectos técnico-econômico-sociais de alguns


anos de trabalho com esta modalidade de construção na CEPLAC/EMARC-UR.
Nesses quase 25 anos de experiência na região cacaueira, destacam-se obras
no meio rural e urbano, em particular a construção de uma creche com 1.240
m2 em Juçari-Ba, sendo a segunda maior obra de solo-cimento no Brasil.

A tecnologia do solo-cimento é aplicada às construções das populações de baixa


renda e foi introduzida na comunidade da região cacaueira porque tem como
benefícios: a economia de tempo e material, bem como facilidade de execução
atendendo a segmentos da população na faixa de pobreza, como é o caso dos
“sem-terra”, permitindo o uso de mutirões.

CAMPO DE APLICAÇÃO

A principal aplicação do solo-cimento em habitações populares no meio urbano é


a construção de paredes monolíticas.

Por afinidade, seu emprego pode ser estendido para construções de casas,
depósitos, galpões, aviários, armazéns, etc.

O solo-cimento pode ainda ser empregado na construção de fundações, pisos,


passeios, muros de contenções, barragens e blocos prensados.

VANTAGENS

O solo-cimento vem se consagrando como tecnologia alternativa por oferecer o


principal componente da mistura - o solo – em abundância na natureza e
geralmente disponível no local da obra ou próxima a ela.

O processo construtivo do solo-cimento é muito simples, podendo ser


rapidamente assimilado por mão-de-obra não qualificada.

Apresenta boas condições de conforto, comparáveis às construções de


alvenarias de tijolos cerâmicos, não oferecendo condições para instalações e
proliferações de insetos nocivos à saúde pública, atendendo às condições
mínimas de habitabilidade.

É um material de boa resistência e perfeita impermeabilidade, resistindo ao


desgaste do tempo e à umidade, facilitando a sua conservação.

A aplicação do chapisco, emboço e reboco são dispensáveis, devido ao


acabamento liso das paredes monolíticas, em virtude da perfeição das faces
(paredes) prensadas e a impermeabilidade do material, necessitando aplicar
uma simples pintura com tinta à base de cimento, aumentando mais a sua
impermeabilidade, assim como o aspecto visual, conforto e higiene.

SOLO-CIMENTO – MATERIAIS CONSTITUINTES

SOLO

Os solos adequados são os chamados solos arenosos, ou seja, aqueles que


apresentam uma quantidade de areia na faixa de 60% a 80% da massa total da
amostra considerada, conforme figura.

Solos adequados para a produção de solo-cimento.

Quando este tipo de solo não for encontrado, pode-se fazer uma correção
granulométrica no solo encontrado (70% de areia e 30% de silte e argila),
misturando uniformemente e peneirados, obtendo-se o mesmo resultado.
Nas misturas usuais, as quantidades variam na faixa de 12 a15 partes de
cimento para 100 partes de solo seco, em massa, o que corresponde, em
média, à proporção cimento:solo. Desta maneira, é facilmente notada a
importância que a escolha de um solo adequado representa para a produção de
um solo-cimento com qualidade.

Na obtenção do solo, para grande volume de obras, a dosagem do cimento deve


ser determinada em laboratório, atendendo não só a qualidade final, mas
também à economia, pois um traço exageradamente rico em cimento poderia
comprometer a construção.

Escolhido o material e determinada a dosagem (traço), o construtor prepara a


mistura de forma semelhante a que se faz para outras argamassas.
Quando o volume de obras é pequeno, existem testes para a avaliação das
características granulométricas de um solo. Alguns deles são feitos, como o
Teste da garrafa e o da Retração do solo.

PREPARO DA MISTURA

Deverá ser feito o peneiramento do solo numa malha ABNT de 4,8mm. Esta
operação tem por função promover a pulverização do material, sendo o resíduo
destorroado e, então, repeneirado. Deverão ser descartados apenas aqueles
pedregulhos maiores que a abertura da malha.

O solo é espalhado em uma superfície lisa (bandeja de madeira ou chão batido),


devidamente peneirado. Adiciona-se o cimento e faz-se a mistura até obter uma
coloração uniforme ao longo de toda a massa. Logo após, coloca-se água em
pequena quantidade, de preferência com o uso de regador com pequeno
chuveiro adaptado, evitando a sua concentração em determinados pontos.

Na prática, a umidade da mistura é verificada através de procedimentos


simplificados, baseados na coesão apresentada pela massa fresca. Quando a
amostra está seca, não existe a formação de um bolo compacto, com marca
nítida dos dedos em relevo, ao apertarmos na mão a massa de forma enérgica.
Outro método complementar muito utilizado consiste em deixar cair o bolo
formado, de uma altura aproximadamente um metro, sobre a superfície rígida.
No impacto o bolo deverá se desmanchar, não formando uma massa única e
compacta. Se houver excesso de água, a massa manterá úmida e rígida após o
impacto, fato não desejável.

FERRAMENTAS NECESSÁRIAS
BÁSICAS: cavador, enxada, enxadete, pá, picareta, cordão de nylon, martelo,
escala numérica, serrote, colher de pedreiro, balde, nível de bolha, mangueira
de nível, esquadro, carro de mão, prumo, peneira, etc.

ESPECIAIS: forma para estaca de concreto, forma para compactação de


parede com parafusos específicos.

COMENTÁRIOS FINAIS

As possibilidades de aplicação do solo-cimento na área rural e urbana estão


longe de serem esgotadas.

Por ser um processo de fácil assimilação por qualquer pessoa, utilizando


somente materiais locais, não necessitando de energia de qualquer natureza
para sua produção, nem mesmo animal, a tecnologia do solo-cimento
certamente se constitui no processo que permitirá uma verdadei-ra revolução
nas construções rurais e urbanas brasileiras, pois associa um baixo custo a uma
elevada qualidade.

A EMARC-URUÇUCA dispõe de informações específicas sobre as diferentes


aplicações do solo-cimento, disponibilizando-se para fornecer maiores detalhes
das técnicas construtivas.

*Eng°. Agrimensor, Técnico em Assuntos Educacionais (Escola Média de


Agropecuária Regional da CEPLAC/EMARC – URUÇUCA – BAHIA).

Efren de Moura Ferreira Filho

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