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Os sons de passos descompassados eram abafados nas ruas pela chuva que caia, enquanto

lentamente um suave passo parecia segui-los.

-Droga, você não falou que era seguro?! -Exclamava a moça com o cabelo molhado caído sobre
o rosto.

-E era... Eu não tinha como saber que o Capitão Takana estaria aqui... A movimentação não
indicava isso... -Dizia o jovem rapaz tentando se justificar com sua companheira. - Vamos! Por
aqui... -Disse o jovem puxando o braço da mulher que o acompanhava em direção do beco.

Enquanto corriam com todas suas forças uma figura singular acompanhava distante seus atos
com os olhos, avançando lentamente atrás deles.

“Ratos... Quando eu acabar com esses dois os problemas estarão acabados...”

A dupla se encaminhou rapidamente pelo caminho indicado pelo mais jovem, os passos
revelavam seu desespero até que os mesmos cessassem.

-Que merda é essa? Não tem como pular esse muro! -Exclamava a mulher encarando o jovem
com fúria.

-Esse muro não era para estar aqui... -Dizia o jovem confuso, reparando no cenário. -A não ser
que eu tenha confundido as ruas...

-Como assim confundido? Como você pode confundir algo dessa maneira! -Dizia a mulher com
sua voz começando a se alterar. Seu nervosismo levava a passar a mão por seu cabelo
molhado, alisando-o até o pescoço onde o mesmo acabava. -Não é possível que tenhamos o
mesmo fim que os outros...

Enquanto a mulher começava a demonstrar sinais visíveis de desespero o rapaz parecia


encarar o cenário tentando ainda se situar.

-Se não estou enganado estamos próximo ao Royal Hospital...

-E no que isso vai nos ajudar?!

-Nisso!!!

O jovem avançou contra uma das portas chutando-a com força, a mesma cedeu,
escancarando-se para a passagem dos mesmos.

-Venha... Não temos muito tempo...

Sem sequer responder a mulher entrou sendo seguida por seu parceiro. O hospital era
relativamente grande, o que facilitaria em muito suas ações, embora ambos soubessem em
seu coração que nada seria capaz de salvá-los daquela situação.

O Royal Hospital já havia sido um grande hospital há alguns anos atrás, mas na atualidade não
era uma das instituições mais aclamadas. Sua estrutura havia ficado rudimentar ao longo dos
anos, e poucos pacientes se encontravam internados em seus leitos. O movimento dele era
relativamente reduzido, ainda mais durante as noites, o que fazia com que seu quadro de
funcionários fosse reduzido apenas ao estritamente necessário.

-O que estão pensando em fazer? -Disse o homem austero ao se deparar com a porta
arrombada. -Espero que saibam que terão que pagar por estarem causando tantos problemas
em minha área... -Disse ele aspirando profundamente, fechando os olhos e aguçando ao
máximo sua audição. -Não acredito que todos nossos problemas se reduziam a meros
amadores... Poderia ter resolvido esse problema desde o início, essa caçada sequer vale como
diversão... -O homem avançou pela porta lentamente, mas com os passos mais pesados dessa
vez, a sola de seu sapato produzia um sonoro ruído ao colidir com o frio chão do hospital, sua
figura nesse momento aparentava mais aterrorizante do que costumeiramente. Apesar de
andar em meio à chuva se encontrava completamente seco, seus olhos de um tom claríssimo
de azul, seu cabelo ralo, mantido rigorosamente em um corte social, e um longo e alvo
sobretudo branco, com algumas manchas de sangue, escondia seu corpo delgado.

-Estamos perdidos... -Dizia a mulher tentando buscar alguma saída em seus pensamentos.

-Realmente entramos numa fria... -Dizia o jovem em um tom de voz conformado. -Mas só
saberemos depois que tivermos o enfrentado!

-Do que está falando Kaguya?!

-Não temos nenhuma esperança de escapar se continuarmos fugindo, por mais que
conseguíssemos escapar daqui, estaríamos sendo procurados por infindáveis membros o resto
da noite. -Dizia o rapaz como se juntasse as últimas forças que lhe restavam e as transformasse
em coragem.

-Você é mesmo louco... Não temos a menor chance!

-Então finalmente descobri porque você gosta tanto de mim! -Disse o jovem em um tom de
deboche. -E o que temos a perder se o enfrentarmos? Caso um milagre aconteça ainda
conseguiremos ficar mais fortes e...

-Então cansaram de se esconder? -Soou a voz fria do lado oposto do corredor.

-Corra Tomoyo! -Antes que Kaguya pudesse voltar suas atenções para o oponente sentiu uma
forte corrente de ar e o mesmo estando a sua frente, e com um simples gesto de sua mão
lançar longe sua protegida. -Ora seu! Como se atreve!

Em um rápido movimento o jovem apanhou um cilindro de oxigênio próximo a ele e avançou


contra seu inimigo na tentativa de golpeá-lo pelas costas. Mas antes mesmo que ele se
aproximasse ao bastante de seu oponente sentiu um corte em seu abdômen, ao mesmo
tempo em que uma forte corrente de ar o lançava longe junto ao cilindro que segurava.

-Por um segundo achei que você teria alguma arma contra mim... -Dizia o homem se virando e
caminhando lentamente em direção do seu atacante. -Mas acho que não passa de um simples
verme, como todos os outros... O que parece lhe sobrar em coragem e fibra parece lhe faltar
em inteligência, ou será que o medo tomou conta de seu espírito de tal forma a perder o
senso? -Disse com um sorriso sarcástico no rosto. -Queria poupar esse local, mas não me
exercitei ao bastante ainda, e como não me proporcionaram uma caçada divertida acho que a
minha diversão começará agora.

Uma forte corrente de ar invadiu os corredores próximos do qual se encontravam, próxima ao


imponente homem a corrente se tornava uma ventania de tal maneira a atrapalhar seu cabelo
e fazer seu sobretudo esvoaçar com extrema facilidade. Em um rápido movimento ele avançou
contra seu oponente, numa fração de segundos Kaguya se deparou com o Capitão já a sua
frente, preparando para atacá-lo. Em um movimento de reflexo e sorte o jovem escapou
rolando pelo lado do capitão, fazendo com que o mesmo atingisse com toda força o cilindro de
oxigênio, no mesmo momento o jovem se jogou para frente, enquanto uma pequena explosão
se formou atrás do mesmo, atingindo-lhe as costas lançando-o alguns metros à frente.

-Kaguya! -A mulher desesperada se aproximou correndo do jovem que se encontrava estirado


no chão, mas ainda consciente.

-Não foi nada... -Disse ele com um sorriso maroto no rosto. -Parece que nossa sorte começou a
melhorar não? -Disse sorrindo.

-É mesmo... Nenhum ser humano poderia sair ileso dessa explosão, mas creio que teremos
alguns problemas, afinal ainda temos esse fogo para lhe dar.

-Acho que vocês têm alguma coisa a mais com o que se preocupar... -Disse uma voz fria vinda
de trás deles. -Ah! E a propósito, obrigado pelo reconhecimento minha jovem, realmente não
sou humano, sou praticamente um deus!

Com essas palavras com um simples movimento de braço o homem convocou uma forte
rajada de vento que lançou ambos com violência ao longe. O jovem resistente colidiu
lateralmente com a parede direita do corredor, tendo um o ombro deslocado com um sonoro
estalido que satisfez o ofensor. A mulher por sua vez foi lançada muito mais longe, tendo seu
corpo lançado até o fim do corredor, onde o mesmo colidiu fortemente com uma porta,
fazendo a mesma se espatifar, caindo semi-acordada no chão, enquanto via o fogo se alastras
lentamente, sem poder se mexer e observando Capitão Takana se aproximar lentamente com
um sorriso sádico no rosto.

-Não resista se for para me decepcionar... Se não tem mais nenhum truque na manga morra
como uma boa presa que foi encurralada por seu predador... -Disse se aproximando do jovem
caído. -Não acredito que tantos não conseguiram pegar vocês... Será que com essa eu consigo
virar um General... Afinal todos sabem que Daisuke não é digno do posto... -Uma fúria especial
podia ser vista nos olhos do Capitão ao mencionar tal nome, enquanto erguia o jovem pelo
pescoço.

-Como... Como é possível? -Disse o jovem se esforçando para sussurrar algo.

-O que? Eu estar intacto?


-É... Aquela explosão... Te pegou em cheio, não?

-Não seja tão ingênuo... Não percebeu o que eu falei? Sou quase um deus, coisas simples assim
não são capazes de me atingir... Por mais que fosse uma explosão vinte vezes maior, eu não
teria sofrido um arranhão sequer...

O jovem riu ironicamente da explicação dada a ele, o homem parecia ter recobrado o ar frio,
mas parecia que sua perversidade não tinha parado ainda. Enquanto suas atenções se
voltavam para o jovem o fogo se alastrava agora de maneira mais rápida pelo andar.

-Vamos acabar logo com isso... Quero logo acabar com os problemas da Mahou Tenkai. -Disse
o homem com um ágil movimento, prensando com grande força o corpo do rapaz contra a
parede, fazendo-a começar a rachar lentamente até ceder por completo, estourando e
atravessando com seu oponente para dentro da sala.

Do chão Tomoyo observava a cena com muita dificuldade, sua visão já estava embaçada, e a
consciência parecia cada vez lhe abandonar mais. Sem mais esperanças, a mulher começava a
se entregar, clamando inconscientemente por socorro.

-Por favor... Alguém... Porque ninguém faz nada? Onde estão... Onde está? Por favor...
Socorro... -Sussurrava lentamente com suas últimas forças.

“-Socorro... Socorro! Não... Não”

“O que está acontecendo? Onde estou?”

“-Por favor... Alguém... Porque ninguém faz nada? Onde estão... Onde está? Por favor...
Socorro...”

“Que voz é essa? O que estou pensando? Ela precisa de ajuda! Não posso deixar!”

A vista de Tomoyo já havia quase deixando de captar imagens, quando pode perceber que da
cama alguém estava levantando, seja quem fosse aparentava ser alto, esguio, os cabelos
grandes e desarrumados, e não podia reparar diretamente em sua face, e parece que o
estranho também não fez o mesmo.

O homem que se levantou encarou as chamas que começavam a adentrar o quarto com certo
desdém, e lentamente se aproximou das chamas tocando-as sutilmente. Nesse exato
momento as chamas mais próximas começaram a desaparecer, como se o homem as sugasse
para dentro de seu corpo.

“E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis
que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.”

A mulher caída viu quando o homem extinguiu sem muita dificuldade as chamas mais
próximas a ele. Ela não sabia de onde ele havia vindo, nem quem ele era e nem mesmo se era
um amigo, mas ele era sua última esperança agora.

-Por favor... Salve o Kaguya... -Sussurrou ainda sem forças.


O estranho sequer encarou-a, avançou lentamente e meio desengonçado pelo corredor, e por
onde passava as chamas seguiam-no, fosse pelo chão ou rodopiando e pairando pelo ar, até
tocar-lhe o corpo e a ele integrar-se. Lentamente o homem avançava, sem parecer muito
preocupado, o corpo do jovem resistente foi lançado para o corredor de novo, atravessando a
porta onde estava antes. O homem encarou-o no chão por alguns instantes, Kaguya pareceu se
apavorar com a presença do mesmo, mas foi completamente ignorado para sua sorte, ele
estava visivelmente ferido, com vários cortes superficiais e profundos pelo corpo todo,
enquanto o rasgo feito no início do ataque em seu abdômen sangrava cada vez mais.

-Quem é você?! -Disse o Capitão saindo de trás de uma das prateleiras cheia de pastas e se
deparando com o homem, com o rosto coberto por uma espessa barba, os olhos meio
mórbidos, suas pernas pareciam sustentar seu corpo com dificuldade.

O Capitão Takana não obteve respostas, mas antes que pudesse tomar qualquer medida o
homem a sua frente ergueu um dos braços de forma desengonçada e numa explosão de
energia as chamas invadiram a sala em direção ao Capitão. O homem se mantinha com o braço
erguido enquanto as chamas continuavam a aumentar e consumir não só o Capitão como toda
a sala, os vidros da janela estouraram e em uma grande rajada o homem caiu de joelhos ao
chão, enquanto o fogaréu consumiu instantaneamente o cômodo por completo, não deixando
tempo para que nem mesmo um urro de dor fosse emitido.

-O que acha dele? -Perguntava Kaguya sério sentado numa cama enquanto encarava o homem
deitado na cama.

-Bom ele nos salvou... E pelo que você me contou ele foi forte ao bastante para enfrentar o
Capitão Takana...

-Enfrentar? -Exclamou o rapaz. -Você teria ficado aterrorizada se tivesse visto a cena. Aquele
monstro nem sequer teve tempo de reagir, e de acordo com os bombeiros nada foi
encontrado na sala além de cinzas. -Disse ele sentindo um calafrio percorrer a espinha.

-De qualquer maneira ele nos ajudou... Temos no mínimo a obrigação de ajudá-lo por
enquanto...

-Isso se ele acordar, né? Estive sondando também o quarto dele, não consegui o prontuário
dele, pois foi queimado, e boa parte do arquivo do hospital também, mas ele estava em coma
a 50 anos, ninguém soube me informar o motivo...

-E não sabemos por que ele acordou também... -Disse a mulher em um tom melancólico
encarando o homem que parecia descansar aliviado agora na cama.

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