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RESUMO
O presente artigo tem como tema a paisagem arquitetônica da cidade de Teresina, e seu objeto de
estudo se volta a preservação da memória urbana local. Para o embasamento das ideias aqui
defendidas tomou-se em referência o Eixo temático (1) deste seminário “A preservação documental: o
desafio dos arquivos de arquitetura.” O objetivo geral desse trabalho, nesse sentido, se concentra em
apresentar as atividades desenvolvidas pelo Grupo de Extensão “Inventário dos Bens Culturais de
Teresina”, vinculado ao Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Estado do Piauí- UFPI,
determinando todas as suas frentes de trabalho, suas etapas e sua metodologia. Os objetivos
específicos são incentivar grupos sociais a participar de ações que busquem a preservação e
conservação da memória e identidade arquitetônica da capital piauiense; assim como, descrever
parte da história das ações em prol do patrimônio local. A justificativa para a apresentação deste
produto é compartilhar junto à comunidade acadêmica bem como a sociedade como um todo, a
experiência da realização desse tipo de trabalho de cunho inventarial a partir de uma iniciativa
particular para uma finalidade social. Em relação à problemática apresentada cabe-se destacar que
ao longo do tempo se sucederam várias tentativas de construção de um inventário para a cidade de
Teresina (1º IPAC-1988 / 2º IPAC-2008), entretanto nunca foram concluídos, frente a questões
burocráticas de cunho governamental e a dificuldades de execução dos órgãos de salvaguarda do
patrimônio. De forma geral, o que se percebeu dentre os produtos efetivos de inventário dessas
tentativas, foi que os bens descritos apresentam análise pouco profunda e se voltam basicamente aos
estilos neoclássico e eclético, deixando marginalizados e desprotegidos os bens modernos,
singulares e industriais de importância análoga a aqueles. Foi na tentativa de auxiliar esses
problemas e garantir proteção aos bens arquitetônicos de forma mais ampla, técnica e detalhada, que
o grupo de extensão, passou a promover seminários de discussão, minicursos de aprendizagem em
análise arquitetônica e fotografia e a realizar um novo trabalho de inventário, com cronograma de
etapas e de construção de produtos, como a produção de fichas de descrição, análise fotográfica
completa dos edifícios, desenho de plantas, reprodução dos edifícios em mídias 3d e inserção de
dados em plataforma de acesso público. Realizar tal projeto vem possibilitando articular a
organização do inventário do patrimônio cultural e natural teresinense, integrando áreas de ensino,
pesquisa e extensão, com as políticas públicas urbanas municipais, beneficiando os cidadãos através
de ações de educação patrimonial e preservação da memória coletiva. O grupo de extensão
“Inventário do Patrimônio Cultural Teresinense” corresponde a uma reminiscência do finalizado
Projeto de Pesquisa Amigos do Patrimônio CNPq/UFPI, que ao longo de mais de dez anos produziu
inúmeras atividades entre elas: seminários, minicursos, oficinas e publicações como artigos científicos
e livros sobre o patrimônio piauiense.
01. Introdução.
A capital do Piauí tem passado por intensas modificações na sua paisagem urbana, o que é
considerado natural para qualquer capital brasileira em desenvolvimento, porém o centro da
cidade, especificadamente, tem instigado a atenção da população por modificações
substanciais realizadas tanto pelo poder público e principalmente pelo setor privado. Neste
espaço é caracterizado por estarem localizados diversos e importantes edifícios
institucionais, comerciais e de serviços, além de possuir um intenso fluxo no período diurno,
sendo interessante notar que este é ao mesmo tempo um centro histórico. Sendo
característica dos centros históricos urbanos os significados coletivos, relativos a origens e
formações culturais, onde os edifícios possuem especial valor, por serem a representação
literal da passagem do tempo, caracterizandos em sua materialidade as linhas de uma
expressão. Deste modo as transformações ocorridas, principalmente as relativas às
modificações arquitetônicas têm causado discussões enfáticas sobre o patrimônio,
preservação e mobilização social.
Figura 1- Mapa esquemático do centro de Teresina. Setor 1 inicio de urbanização entre anos de
1850 a 1900. Setor 2 maior ocupação ocorreu nos anos de 1901 a1940.No setor 3 delimitado pela
linha escura expansão entre os anos de 1941 a 1950, e no setor 4 após o rio Poty, representado em
cinza escuro a ocupação ocorreu apartir dos anos de 1950. Fonte: redesenho da autora, 2008.
Conceitualmente, Carlos Lemos afirma que preservar é manter ativos os usos e costumes
da população - mesmo que sofram alterações -, e ainda documentação e levantamentos de
qualquer natureza – cidades, conjuntos, edificações – sobretudo se é de conhecimento
público sua condenação ao desaparecimento, vitimizada pela especulação imobiliária
(LEMOS, 1985). Cabe ressaltar que ao conceituar preservação dificilmente se abrangerá
todos os significados que lhe cabem.
Françoise Choay afirma que “arquiteturas e espaços não devem ser fixados por uma ideia
de conservação intransigente, mas manter sua dinâmica” (CHOAY, 2008). Sendo a cidade
um espaço múltiplo de transformações constantes, cria-se uma incoerência no trato
Segundo Argan, não se deve haver na cidade uma distinção entre área “histórica” e área
“moderna”, para ele uma sociedade que não dá valor a sua história e tem as obras de arte
como peças do passado, fora de um momento contemporâneo, fazem com que se conceba
como obras de arte o que está nos museus, e assim se perca a noção de fatos urbanos
como fatos artísticos. Argan e Rossi coadunam quando afirmam que a cidade é obra
humana, testemunho de memórias, e, portanto, fato artístico. A distinção entre área
“histórica” e área “moderna” gera sentimento anti-histórico à zona nova da cidade e um
caráter somente histórico à zona antiga, assim, a cidade moderna cresce e a cidade
histórica se estagna, refletindo na falta de uso e de preservação discutida por Rossi.
Diva Figueiredo afirma que durante a década de 1970 esses critérios passam por
reavaliação e, com a criação do Centro Nacional de Referência Cultural, há uma ampliação
do conceito de patrimônio cultural. Os novos estilos começaram a ser considerados como
passíveis de preservação a partir desse período. É dessa época também que se fortalece a
descentralização das atividades patrimoniais, com a criação das esferas federal, estadual e
municipal de preservação do patrimônio. No âmbito estadual, somente em 1981 é instituída
pelo Estado a primeira legislação de proteção ao patrimônio cultural. Dentro deste âmbito
sofre-se processo parecido com o nacional citado anteriormente, levando um tempo para
considerar a proteção dos bens de arquitetura moderna e de paisagens e conjuntos.
Outro documento mais recente são os Princípios de Sevilha que implementam as diretrizes
da Carta de Londres no campo da Arqueologia Virtual, determinando oito princípios:
Interdisciplinaridade, finalidade, complementaridade, autenticidade, rigor histórico, eficiência,
transparência científica e formação e avaliação. Traz definições conceituais, como a
Restauração Virtual: “o uso de um modelo virtual para reordenar os materiais
remanescentes disponíveis a fim de recriar visualmente algo que existiu no passado”
(Princípios de Sevilha, 2012).
Para Bruno Zevi (1996), todos que refletiram sobre esse tema têm ciência que o caráter
essencial da arquitetura, o que a distingue das outras atividades artísticas, está no fato de
agir com um vocabulário tridimensional que inclui o homem.
As atividades deste grupo foram iniciadas pela Professora Doutora Alcilia Afonso
Albuquerque fundadora do grupo intitulado ‘Amigos do Patrimônio’ através do cadastro do
projeto de pesquisa “Patrimônio Cultural Piauiense” vinculada ao curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Piauí em 2007, onde seu trabalho tem como base o
ensino, a pesquisa e a extensão.
O grupo realiza prosseguimento das atividades, estando atualmente cadastrado com projeto
de extensão intitulado “Inventário dos Bens Culturais de Teresina” e possui como objetivo
focalizado a articulação e a organização do inventário do patrimônio cultural e natural
teresinense, beneficiando os cidadãos através de ações de educação patrimonial e
preservação da memória coletiva. De modo especifico tende apoiar e qualificar recursos
humanos através de curso de capacitação na área patrimonial, estruturar e difundir o acervo
através de website, guias, cartões postais e exposições; assim estimulando e difundindo a
cultura.
Sendo importante salientar que o reconhecimento, a memória coletiva por uma determinada
comunidade com um lugar, edifícios e a própria cidade, é necessidade determinante de
valor pra que um bem seja tombado, sendo o inventário parte deste processo. Os bens
patrimoniais podem ser tangíveis ou intangíveis. Os tangíveis podem ser móveis ou imóveis.
E dentro dessa classificação estão incluídos os bens naturais e construídos. Como explica
AFONSO (2015). “O valor pode ser sentimental, histórico, cultural, arquitetônico, urbanístico,
No decorrer das pesquisas tomou-se um foco dos estudos na cidade de Teresina, a qual é
importante resaltar é uma cidade nova, planejada, e data de 1852, possuindo apenas cento
e sessenta e três anos, e por isso, sua produção arquitetônica é constituída pelos estilos
neoclássico, eclético, art dèco, moderno e contemporâneo (AFONSO, 2002). Portanto, o
trabalho de inventário dos bens imóveis abarca este recorte estilístico.
O Processo de pesquisa teve sua metodologia dividida em duas categorias uma primeira, de
cunho teórico, na qual os alunos envolvidos com o projeto realizaram pesquisas
bibliográficas a respeito de conceitos a serem trabalhados Patrimônio, Memória, Educação
Patrimonial, Identidade e Cultura; e uma segunda, de cunho analítico e de levantamento de
dados e definição de produtos.
Para tanto, esta sendo utilizada uma metodologia de projeto racionalista, modulado,
sistemático, que viabilize os custos para a construção de estrutura, cobertura, paredes,
divisórias e revestimentos que vem sendo aplicada no grupo de pesquisa sobre “a forma
moderna” do departamento de projetos arquitetônicos da Escola Técnica Superior de
Arquitetura de Barcelona, ETSAB/ UPC, do qual a idealizadora da pesquisa, a prof. Dra.
Alcilia Afonso, participa.
O grupo de pesquisa esta sendo coordenado pela professora Ana Rosa Negreiros; com
colaboração atual da professora Dra. Alcilia Afonso atual Professora da Universidade
Federal de Campina Grande e do Arquiteto Víctor Veríssimo Guimarães vinculado a
Prefeitura Municipal de Teresina. Tendo 03 alunos bolsistas responsáveis pelo
desenvolvimento do projeto, contando também com a colaboração voluntária de 11 bolsistas
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação
Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
e demais alunos do curso de arquitetura e urbanismo do departamento de construção civil e
arquitetura do centro de tecnologia da UFPI. Onde são realizadas reuniões frequentes com
toda a equipe envolvida com o projeto, bem como, reuniões semanais entre a coordenadora
e os alunos bolsistas responsáveis.
Como parte da primeira etapa da pesquisa é relativa ao projeto arquitetônico, esta sendo
utilizado, como citado anteriormente, o método do grupo FORM-PI, ‘Modernidade
Arquitetônica’ instituído pela prof. Dra. Alcília Afonso. O qual é baseado no trabalho de
GASTÓN; ROVIRA (2007), esta que desenvolveu uma guia de investigação para o projeto
arquitetônico moderno, onde a estudo possui ênfase visual gráfico, por meio de fotografias,
levantamento de projeto, com redesenhos de plantas e elevações, para melhor
entendimento do objeto.
Dessa forma esta pesquisa foi iniciada com a leitura bibliográfica sobre referencial teórico e
contextualização dos objetos de estudos. Estão sendo realizadas visitas de campo às obras,
para coleta de dados (levantamentos arquitetônicos e fotográficos). Coleta de dados em
arquivos públicos e privados sobre os projetos e a obras. Logo após ocorre a organização e
seleção dos dados coletados e análises e discussão das intervenções.
Figura 4 – Imagens de livros publicados pela Professora Alcilia Afonso juntamente com diversos
participantes do Grupo Amigos do Patrimônio. Fonte: Organização das imagens por Ana Negreiros
Feitosa.
Figura 5- Banner da exposição sobre o Arquiteto Antonio Luís Dutra, arquitetura moderna no Estado
do Piauí. Fonte: arquivo de Alcília Afonso.
Figura 6- Imagens dos painéis da exposição sobre o Arquiteto Antonio Luís Dutra, material gráfico das
obras, arquitetura moderna no Estado do Piauí. Fonte: arquivo de Alcília Afonso.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo, Companhia das Letras, 1991
AFONSO, Alcilia. Antonio Luiz. Arquiteto. Teresina: EDUFPI, Gráfica Halley, 2012
NORA, Pierre. Entre história e memória. A problemática dos lugares. Projeto História, São
Paulo: PUC, vol.10, n. 10, p. 7-28, dez/1993.
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. 2ª edição, São Paulo, WMF Martins Fontes, 2001.
ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. Tradução: Maria Isabel Gaspar e Gaëtan Martins de
Oliveira. 5ª edição. São Paulo, Martins Fontes, 1996.