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INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO TERESINENSE:

CONTRIBUIÇÕES PARA PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM

NEGREIROS, ANA (1); AFONSO, ALCILIA (2)


1. Universidade Federal do Piauí. Professora Mestre do Curso de Arquitetura e Urbanismo.
Coordenadora do Grupo de Extensão ‘Inventário dos Bens Culturais de Teresina’.
Campus Universitário Ministro Petrônio Portella, s/n - Ininga, Teresina - PI, 64049-550.
ananegreiros@gmail.com

2. UFCG. CTRN. UAEC. Professora Doutora do Curso de Arquitetura e Urbanismo.


Coordenadora do Grupo de pesquisa Arquitetura e Lugar.
Rua Antonio de Sousa Lopes. 100. Apto 1302 A. Catolé. Campina Grande. Paraíba
E-mail: kakiafonso@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como tema a paisagem arquitetônica da cidade de Teresina, e seu objeto de
estudo se volta a preservação da memória urbana local. Para o embasamento das ideias aqui
defendidas tomou-se em referência o Eixo temático (1) deste seminário “A preservação documental: o
desafio dos arquivos de arquitetura.” O objetivo geral desse trabalho, nesse sentido, se concentra em
apresentar as atividades desenvolvidas pelo Grupo de Extensão “Inventário dos Bens Culturais de
Teresina”, vinculado ao Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Estado do Piauí- UFPI,
determinando todas as suas frentes de trabalho, suas etapas e sua metodologia. Os objetivos
específicos são incentivar grupos sociais a participar de ações que busquem a preservação e
conservação da memória e identidade arquitetônica da capital piauiense; assim como, descrever
parte da história das ações em prol do patrimônio local. A justificativa para a apresentação deste
produto é compartilhar junto à comunidade acadêmica bem como a sociedade como um todo, a
experiência da realização desse tipo de trabalho de cunho inventarial a partir de uma iniciativa
particular para uma finalidade social. Em relação à problemática apresentada cabe-se destacar que
ao longo do tempo se sucederam várias tentativas de construção de um inventário para a cidade de
Teresina (1º IPAC-1988 / 2º IPAC-2008), entretanto nunca foram concluídos, frente a questões
burocráticas de cunho governamental e a dificuldades de execução dos órgãos de salvaguarda do
patrimônio. De forma geral, o que se percebeu dentre os produtos efetivos de inventário dessas
tentativas, foi que os bens descritos apresentam análise pouco profunda e se voltam basicamente aos
estilos neoclássico e eclético, deixando marginalizados e desprotegidos os bens modernos,
singulares e industriais de importância análoga a aqueles. Foi na tentativa de auxiliar esses
problemas e garantir proteção aos bens arquitetônicos de forma mais ampla, técnica e detalhada, que
o grupo de extensão, passou a promover seminários de discussão, minicursos de aprendizagem em
análise arquitetônica e fotografia e a realizar um novo trabalho de inventário, com cronograma de
etapas e de construção de produtos, como a produção de fichas de descrição, análise fotográfica
completa dos edifícios, desenho de plantas, reprodução dos edifícios em mídias 3d e inserção de
dados em plataforma de acesso público. Realizar tal projeto vem possibilitando articular a
organização do inventário do patrimônio cultural e natural teresinense, integrando áreas de ensino,
pesquisa e extensão, com as políticas públicas urbanas municipais, beneficiando os cidadãos através
de ações de educação patrimonial e preservação da memória coletiva. O grupo de extensão
“Inventário do Patrimônio Cultural Teresinense” corresponde a uma reminiscência do finalizado
Projeto de Pesquisa Amigos do Patrimônio CNPq/UFPI, que ao longo de mais de dez anos produziu
inúmeras atividades entre elas: seminários, minicursos, oficinas e publicações como artigos científicos
e livros sobre o patrimônio piauiense.

Palavras-chave: Arquitetura; Inventário; Patrimônio.

01. Introdução.

A capital do Piauí tem passado por intensas modificações na sua paisagem urbana, o que é
considerado natural para qualquer capital brasileira em desenvolvimento, porém o centro da
cidade, especificadamente, tem instigado a atenção da população por modificações
substanciais realizadas tanto pelo poder público e principalmente pelo setor privado. Neste
espaço é caracterizado por estarem localizados diversos e importantes edifícios
institucionais, comerciais e de serviços, além de possuir um intenso fluxo no período diurno,
sendo interessante notar que este é ao mesmo tempo um centro histórico. Sendo
característica dos centros históricos urbanos os significados coletivos, relativos a origens e
formações culturais, onde os edifícios possuem especial valor, por serem a representação
literal da passagem do tempo, caracterizandos em sua materialidade as linhas de uma
expressão. Deste modo as transformações ocorridas, principalmente as relativas às
modificações arquitetônicas têm causado discussões enfáticas sobre o patrimônio,
preservação e mobilização social.

O centro histórico de Teresina é um pequeno conjunto urbanístico composto de ruas


relativamente estreitas, quadras de aproximadamente 100 metros, 14 praças, composta por
paisagismo com a flora local, além dos edifícios com variados estilos arquitetônicos, todos
esses elementos organizados em um ‘tabuleiro de xadrez’, projetado no final do século XIX,
sendo a primeira capital do país a ser planejada. Esta união esta delimitada pelas Avenidas
Maranhão que beira o Rio Parnaíba, Avenida Joaquim Ribeiro demarcando o limite a sul e
Avenida Miguel Rosa que circunda as demais quadras. Como podemos observar na figura 1
o desenho da malha regular e o sentido da ocupação do espaço urbano.

Em documentário realizado por Leide Sousa (2015), intitulado “Ex-Memória – Therezina


Sem Memória” a diretora e roteirista, apresenta a situação preocupante, como exemplo a
informação sobre as 250 casas e prédios antigos já demolidos, evidenciando que as
tipologias residenciais foram as que sofreram as maiores percas, eventualmente por não
terem maior significado na memória coletiva, como porventura tenham os edifícios
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institucionais, e por serem mais de mais fácil modificações, vendas etc. Estes exemplares
como características estilísticas como eclética, neoclássica, art deco ou modernas foram
derrubadas e deram lugar principalmente a estacionamentos, desta forma diversos edifícios
foram substituídos por simplórias estruturas em madeira com coberturas metálicas para
sombrear carros.

Figura 1- Mapa esquemático do centro de Teresina. Setor 1 inicio de urbanização entre anos de
1850 a 1900. Setor 2 maior ocupação ocorreu nos anos de 1901 a1940.No setor 3 delimitado pela
linha escura expansão entre os anos de 1941 a 1950, e no setor 4 após o rio Poty, representado em
cinza escuro a ocupação ocorreu apartir dos anos de 1950. Fonte: redesenho da autora, 2008.

Em um esforço de defesa pela memória da cidade o Grupo Amigos do Patrimônio, criado


em 2007, busca a preservação urbana local, por meio de diversas discussões e ações sobre
o tema. O presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir as atividades
desenvolvidas, entre elas o projeto de extensão do “Inventário dos Bens Culturais de
Teresina”, cadastrado na Universidade Federal do Piauí (figura 2).

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Figura 2: Logomarca do Grupo Amigos do Patrimônio, desenhos de cartões postais sobre edifícios
emblemáticos da cidade de Teresina. Fonte: arquivo pessoal da autora.

As atividades estendem-se a observações de diversos âmbitos da memória, tanto o


patrimônio material como imaterial, visando não apenas no centro histórico como
mencionado anteriormente, como também aos demais elementos imprescindíveis, uma vez
que fazem parte do contexto da cultura local, porém dispersos na cidade.

02. Base conceitual

Dentre a multiplicidade de abordagens que se mostram pertinentes aos temas de


Patrimônio, Preservação e Educação Patrimonial, eixos teóricos desse projeto, algumas
oferecem maior contribuição para a realização desta pesquisa, destacando-se os autores e
Carlos Lemos, Pierre Nora, Françoise Choay, Aldo Rossi, Giulio Carlo Argan, Maria Cecília
Fonseca, Diva Figueiredo, Naylor Vilas Boas e Bruno Zevi.

Conceitualmente, Carlos Lemos afirma que preservar é manter ativos os usos e costumes
da população - mesmo que sofram alterações -, e ainda documentação e levantamentos de
qualquer natureza – cidades, conjuntos, edificações – sobretudo se é de conhecimento
público sua condenação ao desaparecimento, vitimizada pela especulação imobiliária
(LEMOS, 1985). Cabe ressaltar que ao conceituar preservação dificilmente se abrangerá
todos os significados que lhe cabem.

Françoise Choay afirma que “arquiteturas e espaços não devem ser fixados por uma ideia
de conservação intransigente, mas manter sua dinâmica” (CHOAY, 2008). Sendo a cidade
um espaço múltiplo de transformações constantes, cria-se uma incoerência no trato

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patrimonial, levantando diversos questionamentos a respeito de como preservar. A tese de
Aldo Rossi sobre a manutenção tipológica com revisão do seu uso, atendendo as
necessidades da contemporaneidade dá uma recomendação de ações práticas que podem
surtir efeito no trato patrimonial (ROSSI, 2001). É necessário compreender o patrimônio
dentro do seu tempo, considerando que tais edificações foram concebidas em outro período
histórico, e por isso há dificuldade em adequar-se ou de ser aceito na cidade
contemporânea. O patrimônio deve ser entendido dentro da sua condição atual e as
particularidades precisam ser inseridas neste contexto.

Segundo Argan, não se deve haver na cidade uma distinção entre área “histórica” e área
“moderna”, para ele uma sociedade que não dá valor a sua história e tem as obras de arte
como peças do passado, fora de um momento contemporâneo, fazem com que se conceba
como obras de arte o que está nos museus, e assim se perca a noção de fatos urbanos
como fatos artísticos. Argan e Rossi coadunam quando afirmam que a cidade é obra
humana, testemunho de memórias, e, portanto, fato artístico. A distinção entre área
“histórica” e área “moderna” gera sentimento anti-histórico à zona nova da cidade e um
caráter somente histórico à zona antiga, assim, a cidade moderna cresce e a cidade
histórica se estagna, refletindo na falta de uso e de preservação discutida por Rossi.

Pierre Nora categoricamente explica que:

a memória é vida, sempre carregada por grupos vivos e, ela está em


permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento,
inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e
manipulações, suscetível de longas latências e de repentinas revitalizações.
(NORA, 1993)

Para o autor, enquanto a história é a reconstrução sempre problemática e incompleta


daquilo que já é passado, a memória permite a atualização do já vivido. A história é uma
versão ou uma representação do passado, uma operação científica que demanda análise e
discurso crítico, já a memória instala a lembrança no sagrado, atrelada a sentimentos e
pode confundir-se com ficcional.

Do ponto de vista estatutário e normativo no trato patrimonial, são múltiplas as formas de


atuação, tais como identificação, registro, proteção, tombamento, divulgação e promoção do
patrimônio cultural. De acordo com Maria Cecília Fonseca, em seu livro ‘O patrimônio em
processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil’, no cenário nacional, é em
1937 que se inaugura a proteção jurídica ao patrimônio cultural, com a criação do instituto
do tombamento. De 1937 a 1960 é denominada fase heroica do SPHAN, com atenção
quase que exclusiva às edificações do período colonial, com intuito de manutenção do
cenário colonial e da memória dos agentes da colonização.
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Os intelectuais modernistas integram a tradição e o moderno, refletindo o diálogo
preservação e modernização, e o discurso do nacionalismo. A partir dos anos 1960 o critério
de seleção de bens detentores de valor cultural era baseado na dimensão estética e formal,
abrindo espaço para os outros estilos além do colonial, porém, em vias práticas, até o final
da década de 1960 a política de preservação enfatizava a proteção, preservação e
restauração de monumentos arquitetônicos de natureza histórica e religiosa (FONSECA,
2009).

Diva Figueiredo afirma que durante a década de 1970 esses critérios passam por
reavaliação e, com a criação do Centro Nacional de Referência Cultural, há uma ampliação
do conceito de patrimônio cultural. Os novos estilos começaram a ser considerados como
passíveis de preservação a partir desse período. É dessa época também que se fortalece a
descentralização das atividades patrimoniais, com a criação das esferas federal, estadual e
municipal de preservação do patrimônio. No âmbito estadual, somente em 1981 é instituída
pelo Estado a primeira legislação de proteção ao patrimônio cultural. Dentro deste âmbito
sofre-se processo parecido com o nacional citado anteriormente, levando um tempo para
considerar a proteção dos bens de arquitetura moderna e de paisagens e conjuntos.

Desde o primeiro documento voltado para a discussão do patrimônio cultural, a Carta de


Atenas, de 1931, alerta-se que o principal mecanismo de proteção ao patrimônio cultural é a
educação:

A conferência, profundamente convencida de que a melhor garantia de conservação de


monumentos e obras de arte vem do respeito e do interesse dos próprios povos,
considerando que esses sentimentos podem ser grandemente favorecidos por uma ação
apropriada dos poderes públicos, emite o voto de que os educadores habituem a infância e
a juventude a se absterem de danificar os monumentos, quaisquer que eles sejam, e lhes
façam aumentar o interesse, de uma maneira geral, pela proteção dos testemunhos de toda
a civilização. (CARTA DE ATENAS, 1931)

Uma ferramenta bastante atualizada na análise e registro patrimonial é a “Restauração


virtual” ou “Patrimônio virtual”, expressão que diz respeito ao “uso de tecnologias digitais
para registrar, modelar e visualizar o patrimônio cultural e natural” (ADDISON, 2006 apud
PARAIZO, 2009). Apesar de ser um campo novo e com pouca produção teórica (mais
prática), nos últimos anos a computação gráfica a serviço da divulgação de pesquisa do
patrimônio vem se consolidando como método científico autorizado, usado sobretudo em
projetos e políticas de educação patrimonial.

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As principais fontes teóricas são a Carta de Londres (2009) e os Princípios de Sevilha
(2012). A Carta da Londres instituiu o termo “Visualização digital do Patrimônio cultural‟ que
engloba os domínios da atividade humana ligados à comunicação da cultura material e
intelectual, tais domínios incluem museus, galerias de arte, centros culturais, institutos de
pesquisa em patrimônio cultural, setores turísticos e educativos em geral, entre outros. A
Carta tem por objetivo estabelecer diretrizes que concedam a ferramenta 3D a consistência
e o rigor intelectual próprios de qualquer método científico de investigação. Determina ainda
importantes princípios relacionados à integridade intelectual, credibilidade, documentação,
sustentabilidade, acesso da visualização 3D e à informação sobre processo humano de
compreensão e interpretação dos dados. Sobre este último, a Carta traz a sugestão:

a documentação da avaliação, análise, dedução, interpretação e decisões


criativas realizadas no decorrer do processo de visualização digital deve ser
disponibilizada de tal forma que a relação entre a investigação, fontes,
conhecimento implícito, linha de raciocínio e os resultados da visualização
sejam plenamente compreendidos. (2009)

Outro documento mais recente são os Princípios de Sevilha que implementam as diretrizes
da Carta de Londres no campo da Arqueologia Virtual, determinando oito princípios:
Interdisciplinaridade, finalidade, complementaridade, autenticidade, rigor histórico, eficiência,
transparência científica e formação e avaliação. Traz definições conceituais, como a
Restauração Virtual: “o uso de um modelo virtual para reordenar os materiais
remanescentes disponíveis a fim de recriar visualmente algo que existiu no passado”
(Princípios de Sevilha, 2012).

A ferramenta 3D permite a inserção de um usuário como observador de um espaço que não


existe mais, provocando-lhe sensações que a imagem 2D não dá conta. Ela é capaz de dar
fluidez ao visitante, com o movimento, a experiência espacial que ultrapassa o paradigma da
imagem estática:

A partir da modelagem tridimensional, as fontes iconográficas originais ganham uma


dimensão a mais, fazendo com que seja possível uma compreensão espacializada daquilo
que está sendo construído digitalmente, e que não se faz imediata a partir das informações
bidimensionais das fontes primárias. (VILAS BOAS, 2007)

Para Bruno Zevi (1996), todos que refletiram sobre esse tema têm ciência que o caráter
essencial da arquitetura, o que a distingue das outras atividades artísticas, está no fato de
agir com um vocabulário tridimensional que inclui o homem.

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03. Projeto do Inventário do patrimônio arquitetônico de Teresina

As atividades deste grupo foram iniciadas pela Professora Doutora Alcilia Afonso
Albuquerque fundadora do grupo intitulado ‘Amigos do Patrimônio’ através do cadastro do
projeto de pesquisa “Patrimônio Cultural Piauiense” vinculada ao curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Piauí em 2007, onde seu trabalho tem como base o
ensino, a pesquisa e a extensão.

O grupo realiza prosseguimento das atividades, estando atualmente cadastrado com projeto
de extensão intitulado “Inventário dos Bens Culturais de Teresina” e possui como objetivo
focalizado a articulação e a organização do inventário do patrimônio cultural e natural
teresinense, beneficiando os cidadãos através de ações de educação patrimonial e
preservação da memória coletiva. De modo especifico tende apoiar e qualificar recursos
humanos através de curso de capacitação na área patrimonial, estruturar e difundir o acervo
através de website, guias, cartões postais e exposições; assim estimulando e difundindo a
cultura.

O projeto justifica-se por conta de determinados condicionantes, como exemplo o fato do


inventário da cidade não estar concluído; a existência de uma demanda social urbana pela
conclusão do inventário – bens sendo demolidos e descaracterizados; pelo fortalecimento
da Política Pública Urbana de Preservação Cultural Municipal – departamento sem estrutura
humana e material; a necessidade de interação entre as instituições de ensino, a cidade e a
sociedade; além da carência de ações de educação patrimonial para a sociedade; sendo
assim um trabalho contínuo e constante, que necessita de atualizações consecutivas.

Pretende-se realizar um diálogo com a cidade através da interação da população com os


órgãos responsáveis pelas atividades, como exemplo a prefeitura e a universidade, por meio
de discussões, debates e ações sobre patrimônio cultural. Estimulando os grupos sociais a
tomar parte das ações que procuram a preservação e conservação da memória e identidade
arquitetônica da capital piauiense.

Sendo importante salientar que o reconhecimento, a memória coletiva por uma determinada
comunidade com um lugar, edifícios e a própria cidade, é necessidade determinante de
valor pra que um bem seja tombado, sendo o inventário parte deste processo. Os bens
patrimoniais podem ser tangíveis ou intangíveis. Os tangíveis podem ser móveis ou imóveis.
E dentro dessa classificação estão incluídos os bens naturais e construídos. Como explica
AFONSO (2015). “O valor pode ser sentimental, histórico, cultural, arquitetônico, urbanístico,

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entre outros, e dependendo dessa valoração, o grau de preservação varia.” E como elucida
Queiroz (2009):

Valorizar o patrimônio vai, portanto, muito além do respeito aos


monumentos, obras de arte, museus. O que chamamos de patrimônio
cultural vincula-se às pessoas e à sua ação, às histórias, hábitos e
expressões, realidades que pertencem ao passado da população e cujos
vestígios ainda fazem parte do cotidiano. Preservar é, então, uma
atualização constante da memória e dos valores que definiram aquele
objeto ou expressão cultural como representativos e, portanto, patrimônio
da coletividade [...] (QUEIROZ, 2009).

No decorrer das pesquisas tomou-se um foco dos estudos na cidade de Teresina, a qual é
importante resaltar é uma cidade nova, planejada, e data de 1852, possuindo apenas cento
e sessenta e três anos, e por isso, sua produção arquitetônica é constituída pelos estilos
neoclássico, eclético, art dèco, moderno e contemporâneo (AFONSO, 2002). Portanto, o
trabalho de inventário dos bens imóveis abarca este recorte estilístico.

Assim a proposta visa à elaboração do Inventário de bens materiais (móveis e imóveis),


imateriais e naturais da cidade dando prosseguimento a um trabalho iniciado no fim da
década de 1980. E a mesma foi fracionada em etapas cronológicas e estilísticas. No
primeiro ano foram direcionados os trabalhos apenas para o inventário arquitetônico, onde a
preservação documental é em si um desafio.

O Processo de pesquisa teve sua metodologia dividida em duas categorias uma primeira, de
cunho teórico, na qual os alunos envolvidos com o projeto realizaram pesquisas
bibliográficas a respeito de conceitos a serem trabalhados Patrimônio, Memória, Educação
Patrimonial, Identidade e Cultura; e uma segunda, de cunho analítico e de levantamento de
dados e definição de produtos.

Para tanto, esta sendo utilizada uma metodologia de projeto racionalista, modulado,
sistemático, que viabilize os custos para a construção de estrutura, cobertura, paredes,
divisórias e revestimentos que vem sendo aplicada no grupo de pesquisa sobre “a forma
moderna” do departamento de projetos arquitetônicos da Escola Técnica Superior de
Arquitetura de Barcelona, ETSAB/ UPC, do qual a idealizadora da pesquisa, a prof. Dra.
Alcilia Afonso, participa.

O grupo de pesquisa esta sendo coordenado pela professora Ana Rosa Negreiros; com
colaboração atual da professora Dra. Alcilia Afonso atual Professora da Universidade
Federal de Campina Grande e do Arquiteto Víctor Veríssimo Guimarães vinculado a
Prefeitura Municipal de Teresina. Tendo 03 alunos bolsistas responsáveis pelo
desenvolvimento do projeto, contando também com a colaboração voluntária de 11 bolsistas
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e demais alunos do curso de arquitetura e urbanismo do departamento de construção civil e
arquitetura do centro de tecnologia da UFPI. Onde são realizadas reuniões frequentes com
toda a equipe envolvida com o projeto, bem como, reuniões semanais entre a coordenadora
e os alunos bolsistas responsáveis.

No processo investigativo foi realizado um levantamento de todos os edifícios a serem


inventariados tomando como base os edifícios listados pela Fundação Monsenhor Chaves,
foi realizada a criação de uma nova ficha de catalográfica dos edifícios, mais completa que a
atual utilizada pela prefeitura de Teresina, incluindo assim pontos que são vistos como
essenciais de acordo com o referencial teórico adotado nesse projeto.

Como parte da primeira etapa da pesquisa é relativa ao projeto arquitetônico, esta sendo
utilizado, como citado anteriormente, o método do grupo FORM-PI, ‘Modernidade
Arquitetônica’ instituído pela prof. Dra. Alcília Afonso. O qual é baseado no trabalho de
GASTÓN; ROVIRA (2007), esta que desenvolveu uma guia de investigação para o projeto
arquitetônico moderno, onde a estudo possui ênfase visual gráfico, por meio de fotografias,
levantamento de projeto, com redesenhos de plantas e elevações, para melhor
entendimento do objeto.

Dessa forma esta pesquisa foi iniciada com a leitura bibliográfica sobre referencial teórico e
contextualização dos objetos de estudos. Estão sendo realizadas visitas de campo às obras,
para coleta de dados (levantamentos arquitetônicos e fotográficos). Coleta de dados em
arquivos públicos e privados sobre os projetos e a obras. Logo após ocorre a organização e
seleção dos dados coletados e análises e discussão das intervenções.

Juntamente com a elaboração da pesquisa, quando possível, foram confeccionadas


maquetes virtuais dos edifícios. Enfim com a pesquisa também pretende aprofundar o
domínio de técnicas melhor representar, compreender e analisar projetos da arquitetura
teresinense, com o intuído de contribuir para a formação dos discentes de arquitetura e
urbanismo.

Os primeiros edifícios a serem inventariados foram os edifícios modernos da cidade de


Teresina, a escolha foi finaliza uma pesquisa já iniciada pelo Grupo Amigos do Patrimônio e
permitiu a produção do guia “Arquitetura Moderna em Teresina, Guia” de autoria da
professora Doutora Alcilia Afonso e o arquiteto Victor Veríssimo. Sendo um dos primeiros
produtos desse projeto de extensão. (figura 3).

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Figura 3- Contracapa e fotografia do guia de ‘Arquitetura Moderna de Teresina’. Fonte: Arquiteto
Victor Veríssimo 2015.

Como explica a própria autora esta:

(...) publicação, tratada aqui como objeto de estudo, consolida sua


importância principalmente pelo ideal investigativo sobre a história do
movimento arquitetônico moderno em Teresina, constituindo-se como
referencial inventarial sobre um conjunto arquitetônico que vem sendo
ameaçado, e vem sendo sofrendo destruição sistemática.Tomou-se como
base para as análises desenvolvidas ao longo do livro: os aspectos de
composição e construtivos, a base projetual de cada exemplar, o contexto
histórico que foram desenvolvidos, e a caracterização de seus arquitetos.(
AFONSO, 2015)

É interessante ressaltar as demais publicações de livros (figura 4), já realizadas como


exemplo "Arquitetura piauiense" (Afonso e Moraes, 2009), "Documentos da Arquitetura
Moderna" (Afonso e Negreiros, 2010), "Teresina 160 anos: Arquitetura e documentação"
(Afonso, 2013), "Teresina em Aquarelas" (Afonso e Marques, 2014)., dentre os quais estão
alguns produtos como: "Arquitetura piauiense" (Afonso e Moraes, 2009), "Documentos da
Arquitetura Moderna" (Afonso e Negreiros, 2010), "Teresina 160 anos: Arquitetura e
documentação" (Afonso, 2013) e "Teresina em Aquarelas" (Afonso e Marques, 2014)

Figura 4 – Imagens de livros publicados pela Professora Alcilia Afonso juntamente com diversos
participantes do Grupo Amigos do Patrimônio. Fonte: Organização das imagens por Ana Negreiros
Feitosa.

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Das diversas realizações do grupo, entre elas estão à produção de seminários, cursos,
artigos científicos, produção de material gráfico educacional, exposições, tendo como
objetivo principal a valorização do patrimônio local (figura 05 e 06). A concepção de
ferramentas de difusão educativa para valorização e preservação do Patrimônio
arquitetônico e urbanístico teresinense teve como objetivo maior, instigar o interesse e
despertar a consciência para tal discussão.

Figura 5- Banner da exposição sobre o Arquiteto Antonio Luís Dutra, arquitetura moderna no Estado
do Piauí. Fonte: arquivo de Alcília Afonso.

Figura 6- Imagens dos painéis da exposição sobre o Arquiteto Antonio Luís Dutra, material gráfico das
obras, arquitetura moderna no Estado do Piauí. Fonte: arquivo de Alcília Afonso.

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04. Conclusão

A reflexão sobre o planejamento urbano é um tema recorrente na administração pública,


sendo necessário pra um desenvolvimento organizado e otimizado, e nestes debates sobre
a cidade, a arquitetura em muitos dos casos não é considerado como elemento prioritário a
ser conservado e protegido mesmo representando a identidade local. Choay (2006) observa
que o espaço urbano é animado, vivo e não devem sofrer uma conservação intransigente,
porém onde se estaria o limite das transformações na paisagem urbana da capital do Piauí?
Não seria possível a conciliação de novas atividades em antigos espaços? Quais as
políticas e incentivos para essas realizações? Segundo Lemos (1981 p. 19):

Preservar não é só guardar uma coisa, um objeto, uma construção, um


miolo histórico de uma cidade velha [...]. Preservar é manter vivos, mesmo
que alterados, usos e costumes populares [...]. Devemos então, de qualquer
maneira, garantir a compreensão de nossa memória social, preservando o
que for significativo dentro do nosso vasto repertório de elementos
componentes do Patrimônio Cultural.

E dentro deste processo de compreensão da memória esta as atividades do grupo ‘Amigos


do Patrimônio’, e entre elas o auxílio do inventário. A realização da construção do inventário
é um processo desenvolvido por diversos grupos da comunidade teresinense, instituições
como a Universidade Federal do Piauí através de projetos de pesquisa no curso de
Arquitetura e Urbanismo, programas de pós-graduação em História, além das atividades
estudantis. Como também instituições educacionais em faculdades particulares de
arquitetura, como exemplo no Instituto Camilo Filho e o Centro Universitário Uninovafapi,
além do apoio da Prefeitura Municipal de Teresina, sempre através de conversações e
parcerias, e que tente a ser estendido.

A pretensão de catalogar e de instruir a sociedade necessita de um trabalho persistente de


pessoas comprometidas com a causa da preservação. Sendo necessário a continua
compreensão da história da nossa cidade, do esclarecimento do maior número possível de
cidadãos sobre as realizações culturais e seus significados. Oportunamente neste trabalho
tem-se a participação de estudantes das instituições de ensino, que muito estão
contribuindo, de forma fundamental com a execução das atividades de resgate e proteção
da memória local.

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Referências Bibliográficas

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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação


Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
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