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EXCELENTÍSSIMO(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA_____VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE CAMPOS – RJ

PROCESSO Nº

LAURO, já qualificado nos autos da ação em


epígrafe, que é movida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DE SÃO PAULO, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo
403, § 3º, do Código de Processo Penal, apresentar alegações finais em forma
de memoriais, nos seguintes termos.

DOS FATOS

Excelência, o MINISTÉRIO PÚBLICO imputou ao réu a prática do


crime previsto no artigo 213, § 1º c/c artigo 214, inciso II, c/c artigo 61, inciso II,
alínea f, todos do Código Penal.

Devidamente recebida a denúncia, foi o réu citado e foi apresentada


resposta à acusação (fls. xx).

Nesse sentido, fora realizada a audiência de instrução e julgamento,


ocasião em que foram ouvidas vítima, testemunhas. Entretanto, nesse primeiro
ato processual não houve o interrogatório do réu cuja realização aconteceu em
uma segunda audiência, momento em que se desconheciam as alegações da
vítima e das testemunhas.

Encerrada a instrução, abriu-se prazo para a apresentação de


alegações finais em forma de memoriais. O MINISTÉRIO PÚBLICO apresentou
seus memoriais e requereu a condenação do réu nos termos da inicial.

É o breve Relatório.

A ação merece ser julgada IMPROCEDENTE Excelência.


DO DIREITO

I - DA NULIDADE OCORRIDA NA AUDIÊNCIA.

O réu não fora intimado para participar da


audiência de instrução e julgamento em cuja situação foram ouvidas a vítima e
testemunhas, como também naquela ocasião não foi interrogado, sendo-o em
um segundo momento ocorrendo, pois, um fracionamento, fato que aduz
nulidade absoluta, visto que contraria o disposto no artigo 400, caput e §1º do
Código de Processo Penal, as provas serão produzidas em uma única
audiência. Dessa forma, em respeito ao principio do contraditório e da ampla
defesa (CF/88, artigo 5º, inciso LV), é direito de o réu ser intimado para estar
presente na audiência em que as provas serão produzidas, sob pena de
nulidade.

II- DA ATIPICIDADE DA CONDUTA.

Pelo apurado está evidente que o réu não


praticou o crime. Para que alguém seja responsabilizado, por infração penal, é
imprescindível, ao menos, a tentativa (Código Penal, artigo 14, inciso I). O réu
não iniciou a execução do delito de estupro qualificado, conforme disposto no
artigo 213, § 1º do Código Penal, que consiste em constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso, contra vítima maior de 14
anos e menor de 18 anos. Não houve qualquer lesão ou risco de lesão, ao bem
jurídico tutelado, sendo a conduta atípica, com base no principio da lesividade.
Foram praticados apenas atos preparatórios não puníveis. Por esse motivo, é
imperiosa a absolvição do acusado, com fundamento no inciso III do artigo 386
do Código de Processo Penal.

III - DA PENA A SER FIXADA.

Em caso de condenação, deverá ser observado


o fato de que a vítima não comprovou ter a idade de dezessete anos,
circunstância elementar da qualificadora do crime de estupro, previsto no artigo
213, § 1º do Código Penal. De acordo com o artigo 155, parágrafo único do
Código de Processo Penal, a prova em relação ao estado das pessoas deve
observar as restrições estabelecidas na lei civil. Ademais, a Súmula 74 do STJ,
para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade da vítima requer prova
por documento hábil. Por esse motivo, em caso de condenação, deve ocorrer a
desclassificação do estupro qualificado, do artigo 213, § 1º do Código Penal,
para o artigo 213, caput, do Código Penal, visto que a idade da vítima não foi
comprovada. Por derradeiro, deve ser fixada a pena mínima legal, por
inexistirem circunstâncias judiciais negativas, como se extrai do artigo 59 do
Código Penal.
Em relação à agravante do artigo 61, inciso II, "f", deve ser afastada,
pois não há relação doméstica entre o acusado e a vítima, como melhor
descreve a Lei 11.340/06 "Lei Maria da Penha". Ademais deve ser reconhecida
a atenuante da confissão espontânea, com fundamento no artigo 65, Inciso III,
"d" do Código Penal, pois o acusado confessou espontaneamente, perante a
autoridade, a autoria do crime.

O artigo 14, II, parágrafo único, do Código Penal, determina que, no


caso de tentativa, a pena deve ser diminuída de 1/3 a 2/3. No caso em análise,
a consumação não poderia ter ficado mais distante, razão pela qual a tentativa
deve ser diminuída ao máximo, 2/3.

Por fim, o regime a ser fixado deve ser o aberto, considerando a


pena mínima do crime de estupro prevista no artigo 213, caput, do Código
Penal que é de seis anos, diminuída ao máximo de 2/3, em virtude da tentativa,
a pena final ficaria abaixo de quatro anos, razão pela qual deve ser fixado o
regime inicial aberto, com fulcro no artigo 35, § 2º, "c" do Código Penal, que
determina que o condenado não reincidente, cuja a pena seja igual ou inferior a
quatro anos, poderá, desde o inicio, cumpri-la em regime aberto.

PEDIDO

Diante do exposto, REQUER:

a) A nulidade do processo desde a primeira audiência, por violação a


ampla defesa, visto que o réu não foi intimado para a realização do ato;

b) A absolvição do réu, nos termos do artigo 386, III, do Código


Penal, pois a conduta narrada não constitui crime;

c) Em caso de condenação, REQUER, subsidiariamente:

- O afastamento da qualificadora do § 1º do artigo 213 do Código


Penal, por falta de comprovação da idade da vítima;

- O afastamento da circunstância agravante do artigo 61, inciso II,


"f", do Código Penal, pois não há relação doméstica entre o acusado e a
vítima;

- O reconhecimento da circunstância atenuante da confissão


espontânea do artigo 65, Inciso III, "d" do Código Penal;

- Diminuição da pena em 2/3 conforme disposto no artigo 14, II do


Código Penal;
- O regime a ser fixado deve ser o aberto, considerando a pena
mínima do crime de estupro prevista no artigo 213, caput, do Código Penal.

Pede deferimento

LOCAL E DATA

(assinatura do advogado)

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