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Geofísica na prospecção mineral: guia para aplicação.

Book · January 2013

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José Gouvêa Luiz


Federal University of Pará
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GEOFÍSICA NA PROSPECÇÃO MINERAL:

GUIA PARA APLICAÇÃO

JOSÉ GOUVÊA LUIZ

Rio de Janeiro | 2013


PREFÁCIO

A geofísica de prospecção investiga os cinco primeiros quilômetros da crosta


terrestre. Essa investigação é feita por meio da observação dos efeitos causados nos
campos físicos e na propagação de ondas por variações nas propriedades físicas dos
materiais da crosta. As variações nas propriedades físicas estão relacionadas à
concentração de minerais que são economicamente importantes (minerais-minério) ou
às estruturas onde esses minerais se encontram. Como a concentração dos minerais-
minério é controlada por fenômenos geológicos, é possível, a partir do conhecimento
desses fenômenos, estabelecer uma estratégia de prospecção com os métodos geofísicos
mais indicados para a sua detecção.
Este livro visa estabelecer a relação entre os fenômenos geológicos geradores
dos depósitos de minerais-minério e os métodos geofísicos que podem ser usados para a
detecção dos depósitos. No texto são apresentadas informações que servem de guia para
a escolha dos métodos mais apropriados para a prospecção de depósitos de sulfetos
maciços, sulfetos disseminados, ferro, diamantes, bauxita, cassiterita, ouro e pláceres.
Espero que ele sirva aos profissionais da prospecção mineral.
O livro foi inspirado em Mining Geophysics, V. 1, editado pela Society of
Exploration Geophysicists (SEG). O seu texto foi construído a partir de material
apresentado em disciplinas por mim lecionadas nos cursos de Geologia e Geofísica da
Universidade Federal do Pará e reflete minha experiência na prospecção mineral,
iniciada sob a orientação do Prof. Carlos Alberto Dias.
Foi em 1971 que tive os primeiros contatos com a geofísica aplicada ao
participar de uma disciplina de campo do curso de mestrado em Geofísica da
Universidade Federal da Bahia. Eu e os meus colegas Ives Antônio de Almeida Garrido,
Raymundo Antônio Alves Dias Gomes, Raymundo Wilson Santos Silva, Rildo Peixoto
Canha e Telésforo Martinez Marques, viajávamos todos os finais de semana para a
Fazenda Bela Vista, localizada no distrito de Santa Rosa, município de Jaguarari, Bahia,
a fim de auxiliar o mestrando Adalberto da Costa Dias e receber treinamento na
operação de equipamentos geofísicos. De uma dessas viagens participou também o
geofísico W. M. Telford.
O trabalho seguinte envolveu levantamento geofísico no município de Uauá,
Bahia, desenvolvido dentro do Projeto Exploração Geofísica de Cobre no Estado da
Bahia, que constituiu a pesquisa de minha dissertação de mestrado.
A seguir, vieram trabalhos em: Capanema, Pará (prospecção de calcário); Salobo
3 Alpha e Serra Verde, na Província Mineral de Carajás, no Pará (prospecção de cobre);
região de Pitinga, distrito de Presidente Figueiredo, no Amazonas (prospecção de
cassiterita); Socotó, município de Campo Formoso, Bahia (prospecção de esmeraldas);
Cachoeira de Baixo, município de Viseu, Pará, regiões de Cuca e Rio Negro, no
município de Tucumã, Pará e região de Itaituba, Pará (prospecção de ouro); região de
Trombetas, município de Oriximiná, Pará e região de Paragominas, Pará (prospecção de
bauxita).
Gostaria de agradecer ao geofísico Renato Lopes Silveira, pelo incentivo e
intermediação para que o livro fosse publicado, bem como aos demais membros da
diretoria da Sociedade Brasileira de Geofísica e do seu corpo editorial por aprovarem a
publicação.

O autor
1. INTRODUÇÃO

A localização de depósitos de minerais-minério com metodologia geofísica


depende basicamente da existência de contraste entre alguma propriedade física dos
depósitos e o ambiente que o cerca. A propriedade física de um depósito, por sua vez,
está diretamente relacionada à propriedade física dos minerais presentes e ao seu
volume.
Na aplicação dos métodos geofísicos à localização de depósitos, dois tipos de
situações podem ocorrer: (a) o depósito apresenta minerais com contraste de
propriedade física em relação ao meio envolvente suficientemente elevado e que
constituem um volume apreciável no depósito; neste caso, a aplicação da geofísica é
considerada direta, pois a resposta provém do bem mineral que está sendo procurado; e
(b) o depósito apresenta minerais com contraste de propriedade física suficientemente
elevado, porém eles estão presentes em volume insignificante; quando isso ocorre, o
depósito somente pode ser detectado com a geofísica se o bem mineral procurado
estiver associado a algum mineral de propriedade física contrastante e volume
apreciável, ou, ainda a alguma estrutura geológica. Esse tipo de aplicação é dito ser
indireto.
Um exemplo da aplicação direta é a prospecção de depósitos de sulfetos
maciços, em que os sulfetos apresentam elevada condutividade elétrica e densidade e
perfazem no mínimo 50 % do volume do depósito. Um exemplo clássico da aplicação
indireta é a prospecção de ouro, que, apesar de possuir elevada condutividade e
densidade (bem maiores que os sulfetos), ocorre muito disseminado no ambiente
geológico, constituindo geralmente menos de 0,005 % do volume do depósito.
A concentração dos minerais-minério em um depósito resulta de diversos
processos geológicos: resfriamento do magma, metamorfismo, intemperismo,
deposição, tectonismo, entre outros. Os processos controlam também as associações
mineralógicas que se formam. O conhecimento da história geológica de uma área é,
portanto, muito importante para que se defina a metodologia geofísica a ser aplicada na
prospecção. Por exemplo, depósitos de sulfetos maciços desenvolvem-se em um tipo de
ambiente onde predominam processos vulcanogênicos marinhos, que contribuem para
que eles sejam caracteristicamente bons condutores de eletricidade, possuam elevada
densidade e sejam frequentemente magnéticos. Essas características sugerem que se
empreguem na sua prospecção os métodos eletromagnético, gravimétrico e magnético.
Essas condições não são, entretanto, absolutas, pois muitas vezes existem todas as
condições necessárias para o desenvolvimento de determinado tipo de mineralização,
mas ele não está presente porque outros fenômenos geológicos intervieram e o
destruíram.
Os mais comuns controles de mineralizações podem ser classificados em: (a)
litológicos e estratigráficos, que são associados a tipos litológicos ou horizontes
estratigráficos, como, por exemplo, depósitos de cobre-chumbo-zinco em folhelhos
negros; (b) paleogeográficos, que são relacionados a feições antigas do tipo paleovales
ou altos do embasamento onde se pode encontrar, por exemplo, bauxita; (c) estruturais,
onde a mineralização é controlada por falhas, fraturas e dobras; (d) fisiográficos, em que
a mineralização ocorre em aluviões e zonas de redução de velocidade; e (e)
mineralógicos (por exemplo, as associações cassiterita-urânio e diamante-granada).
A exploração geofísica não é uma técnica aplicada isoladamente. Ela constitui
parte de uma sequência de exploração que envolve a aplicação de métodos geológicos e
geoquímicos. Na exploração mineral, essa sequência normalmente inclui:
1. Estudos preliminares. Nessa etapa é feita: (a) pesquisa bibliográfica para coletar
informações sobre a área e para saber sobre as metodologias aplicadas em áreas
semelhantes; (b) fotointerpretação ou avaliação de imagens de radar; (c)
determinação das características físicas do ambiente; e (d) composição de todas
as informações sobre a área a investigar.
2. Reconhecimento geológico. Aqui a fotointerpretação é verificada com visita ao
campo, o que leva à melhoria do conhecimento geológico sobre a área.
3. Reconhecimento geoquímico. É realizado por meio de coleta e análise de
sedimentos de corrente.
4. Reconhecimento geofísico. A etapa envolve medidas aeromagnéticas,
aeroespectrométricas (medidas de radiação gama) e aeroeletromagnéticas.
5. Correlação entre geologia, geoquímica e geofísica. Ocasião em que todos os
dados obtidos no reconhecimento são interpretados e correlacionados. A partir
dessa correlação são definidas regiões da área onde serão executados estudos de
detalhe.
6. Estudos de detalhe. Nessa fase é realizado levantamento geofísico terrestre,
geoquímica de solo e geologia de detalhe. A correlação das informações obtidas
nos estudos de detalhe leva à indicação de locais para perfuração de furos de
sondagem.
7. Furos de sondagem. São executados nos locais indicados pelos estudos de
detalhe.
8. Estudos dos testemunhos de sondagem. Esses estudos incluem a determinação
de teores dos elementos e a medição de propriedades físicas, que podem ser
usadas para reinterpretação dos dados geofísicos.
9. Avaliação econômica. Os resultados dessa etapa vão definir se a área será
explotada ou abandonada.
Informações adicionais sobre os trabalhos desenvolvidos num programa de
exploração mineral podem ser encontradas em Coope & Davidson (1979) e Luiz &
Silva (1995).
Os capítulos seguintes abordam a aplicação da geofísica na prospecção dos
seguintes tipos de depósitos minerais: Sulfetos maciços, sulfetos disseminados, ferro,
diamantes, bauxita, cassiterita, ouro e pláceres. Os depósitos serão descritos de acordo
com as suas características geológicas (relacionadas com a sua gênese) e físicas (que
justificam a aplicação dos métodos geofísicos).

Referências
COOPE, J.A.; DAVIDSON, M.J. 1979. Some aspects of integrated exploration. In:
HOOD, P.J. (Ed.). Geophysics and geochemistry in the search for metallic ores.
Geological Survey of Canada, Economic Geology Report, v. 31, p. 575-592.
LUIZ, J.G.; SILVA, L.M.C. 1995. Geofísica de prospecção v. 1. Belém: UFPA/CEJUP,
311 p.

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