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ARTIGOS

O uso da informação na
formulação de ações
estratégicas pelas
empresas
Roberto Campos da Rocha INTRODUÇÃO 2. identificar os tipos de informação
Miranda estratégica que apresentam maior fre-
Tornaram-se lugar-comum as menções qüência na formulação de ações es-
“informação é fundamental para o de- tratégicas implementadas na ECT;
senvolvimento das empresas” ou “infor-
mação é básica em qualquer empre- 3. analisar o comportamento dos tipos
endimento” e muitas outras, sem que de informação estratégica em função
fossem apresentados estudos de sua do tipo de ação estratégica implemen-
validade efetiva nas ações adotadas tada na ECT;
pelas organizações. O advento da In-
teligência Competitiva lançou novas 4. analisar as características da infor-
luzes sobre essa questão, e pesqui- mação estratégica quanto à sua forma
sas estão sendo desenvolvidas no sen- de tratamento em função dos tipos de
tido de caracterizar as informações, informação estratégica;
avaliando-se suas qualidades e perti-
nência em aplicações específicas. É 5. analisar o comportamento dos tipos
nesse sentido que foi desenvolvida pes- de ação estratégica e dos tipos de in-
quisa1 na qual foram abordados os formação estratégica em função dos
aspectos relacionados com o uso de ciclos evolutivos da ECT;
informações, em função de categori-
as definidas para as ações estratégi- 6. sugerir modelo de Sistema de Infor-
cas implantadas pela Empresa Brasi- mação Estratégica para a ECT em fun-
leira de Correios e Telégrafos, substra- ção dos resultados da pesquisa e da
to de aplicação da pesquisa empírica. revisão da literatura sobre o tema.
Neste artigo, pretendemos apresentar
os principais resultados do estudo, o O REFERENCIAL TEÓRICO
arcabouço teórico, a metodologia em-
pregada, as principais conclusões e a Por meio de uma revisão da literatura,
proposta de sistema. buscou-se estabelecer um arcabouço
teórico que permitisse reduzir a am-
Resumo pla gama de entendimentos sobre ter-
O PROBLEMA DA PESQUISA E
SEUS OBJETIVOS mos utilizados na pesquisa a um de-
Apresenta os principais pontos sobre
estudo realizado na Empresa Brasileira de nominador comum, que possibilitasse
Correios e Telégrafos, buscando identificar O problema da pesquisa residiu na sustentar o estudo. Assim, com base
os tipos de informação estratégica que necessidade de identificação de quais em autores como Takeuchi2 , Miller3 ,
influenciam na formulação de ações Vieira4 , Rassmussem5 , Oliveira6 , Mar-
estratégicas pela empresa. A análise variáveis, traduzidas como tipos de in-
contemplou a avaliação das informações formação estratégica, deveriam ser chand7 , Porter8 , Tarapanoff 9 , Furni-
estratégicas em função de suas monitoradas para que fossem úteis ao val10 , Cunha11 , Furlan12 e outros, foram
características e tipos, objetivando processo de formulação de ações es- estabelecidos os seguintes conceitos,
estabelecer as bases para referenciais da pesquisa:
desenvolvimento de um Sistema de tratégicas pela ECT. Nesse sentido,
Informações Estratégicas (SIS). foram estabelecidos os seguintes ob-
jetivos para o estudo: 1. dado é o conjunto de registros qua-
Palavras-chave litativos ou quantitativos conhecido que
1. identificar os tipos de ação estraté- organizado, agrupado, categorizado e
Informações e ações estratégicas; gica implementados na ECT, avalian- padronizado adequadamente transfor-
Gerenciamento do conhecimento; Sistemas
do seu comportamento e definindo os ma-se em informação;
de informação estratégica; Sistemas
especialistas; Inteligência competitiva; tipos mais freqüentes;
Correios.

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O uso da informação na formulação de ações estratégicas pelas empresas

2. informação são dados organiza- de um processo, no oferecimento de ná-los e tratá-los de forma a que se
dos de modo significativo, sendo sub- um produto ou serviço ou na explora- constituam em forma primária, passí-
sídio útil à tomada de decisão; ção de um segmento de mercado; vel de ser utilizado: informação. Para-
lelamente, o ambiente interno à orga-
3. monitoramento externo ou estra- 12. sistema de informação estratégi- nização também é constantemente
tégico é a sistemática observação e ca é o conjunto de ferramentas in- monitorado, na busca de indicadores
coleta de dados do ambiente externo formatizadas que permitem o trata- que permitam avaliar a performance da
à organização; mento dos dados coletados pelo mo- empresa e compará-la com o mutante
nitoramento estratégico, transforman- mundo exterior. Ao conjunto de infor-
4. monitoramento interno ou acom- do-os em informações e agregando- mações estratégicas e de acompanha-
panhamento é a sistemática obser- lhes conhecimento, a fim de que se mento – junção que se constitui em
vação e coleta de dados do ambiente constitua insumo para a inteligência conhecimento explícito –, agrega-se o
interno à organização; estratégica; conhecimento tácito dos especialistas
(crenças, opiniões, sentimentos, valo-
5. conhecimento explícito é o con- 13. sistema especialista é a ferramen- res, experiências etc.), que atuam
junto de informações já elicitadas em ta informatizada que agrega o conhe- como “filtro técnico”, formando, então,
algum suporte (livros, documento etc.) cimento de especialistas ao processa- o conhecimento estratégico. A partir
e que caracteriza o saber disponível mento de informações que suportam a do conhecimento estratégico, são iden-
sobre tema específico; tomada de decisões; tificadas as alternativas mais viáveis
dos modelos de evolução do ambien-
6. conhecimento tácito é o acúmulo 14. sistema não especialista é a fer- te, as quais sofrem a avaliação dos ge-
de saber prático sobre um determina- ramenta informatizada que processa rentes, estabelecendo-se o conjunto de
do assunto, que agrega convicções, informações usadas na tomada de de- estratégias passíveis de serem implan-
crenças, sentimentos, emoções e ou- cisões sem agregar o conhecimento de tadas (ou a redefinição das já existen-
tros fatores ligados à experiência e à especialistas no processamento. tes), a fim de tornar a empresa compe-
personalidade de quem o detém; titiva. Esta é a fase da inteligência es-
A fim de melhor visualizar os termos tratégica, na qual é também dissemi-
7. conhecimento estratégico é a com- sobre os quais se assenta a estrutura nado o conhecimento internamente à
binação de conhecimento explícito e teórica da pesquisa, elaborou-se o organização. As estratégias viáveis
tácito formado a partir das informações mapa conceitual indicado na figura 1, passam pela filtragem política ou do
estratégicas e de informações de a seguir, e, de forma complementar, es- poder conferido à alta administração,
acompanhamento, agregando-se o co- tabeleceu-se a taxonomia da formula- que opta pela estratégia conveniente e
nhecimento de especialistas; ção de ações estratégicas. Por esse decide sobre as ações pragmáticas
conceito, a formulação de ações es- (ações estratégicas) a serem adotadas
8. inteligência estratégica é o uso do tratégicas parte, inicialmente, da iden- (ver figura 2, a seguir).
conhecimento estratégico no proces- tificação dos fatores externos mais ade-
so de tomada de decisão quanto à for- quados. Tais variáveis constituem a AS VARIÁVEIS DO ESTUDO
mulação ou redefinição de estratégias base que fundamenta estudos posteri-
adotadas por uma organização; ores. No caso, podem ser usadas téc- As variáveis do estudo estão represen-
nicas de avaliação do passado (levan-
9. informação estratégica é a infor- tamento histórico) e de prospecção do
mação obtida do monitoramento es- futuro de forma a se verificarem os pon-
tratégico, que subsidia a formulação tos realmente relevantes. Consideran-
de estratégias pelos tomadores de de- do, ainda, que os recursos (financei-
cisão nos níveis gerenciais da organi- ros, humanos, tecnológicos, materiais
zação; etc.) são escassos para a obtenção
dos dados, é imperativo priorizar as
10. informação não estratégica ou de variáveis que têm maior influência na
acompanhamento é a informação formulação das ações estratégicas,
obtida do monitoramento interno, que, bem como conhecer suas característi-
aliada à informação estratégica, cons- cas (qualitativa, quantitativa ou mista).
titui-se em conhecimento estratégico
explícito; Findo esse crivo, é necessário estru-
turar-se sistema (preferencialmente
11. estratégia é a ação, gerada a par- computadorizado) que possa armaze-
tir de informações que levam à criati-
vidade, à originalidade e à inovação,
que permite à organização diferenci-
ar-se dos concorrentes, assumindo
vantagem competitiva no mercado, por
apresentar exclusividade na realização

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FIGURA 1
Mapa conceitual “informação estratégica” e “estratégia”

Dados do ambiente Dados do ambiente


externo à interno à
organização organização
Fontes

Monitoramento Monitoramento
externo ou interno Classificação
estratégico
Tipos

Informação não Conhecimento


tácito Conceitos Características
Processamento estratégica

INFORMAÇÃO
Características Conhecimento Conhecimento Inteligência
ESTRATÉGICA explícito
ESTRATÉGIA
estratégico estratégica

Conceitos Necessidades de
Classificação informação conceitos
Ação
processo de
Sistemas
Finalidade Sistema de especialistas
formulação estratégica
informação Tipos
estratégica aplicações

Sistemas não Ano de


Classificação especialistas Tipos
implementação

Conceitos Funções Características

FIGURA 2
Modelo esquemático de representação da taxonomia da formulação de ações estratégicas

Ação
Estratégia
estratégica

Inteligência
estratégica

Conhecimento estratégico
=
Tácito + Explícito

Informações não Informações


estratégicas estratégicas

Dados do ambiente Dados do ambiente


interno à externo à
organização organização

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tadas na tabela 1. TABELA 1


Tabela de Variáveis e Indicadores
Considerando que alguns indicadores
poderiam suscitar dúvidas quanto à VARIÁVEL INDICADOR TIPO DE VARIÁVEL
variável a ser mensurada, estabelece-
ram-se conceitos operacionais que Ação estratégica Descritiva
permitissem clara identificação dos in-
dicadores a serem medidos, tais como: Tipo de ação estratégica Liderança em custos Nominal
Diferenciação
1. ação estratégica é a atitude prag- Foco
Outro
mática da empresa, que torna a estra-
tégia algo tangível e mensurável. Pode Ano de implementação da Descritiva
ser traduzida como a criação, a imple- ação estratégica
mentação, o aprimoramento ou a am-
pliação de um serviço, um produto, um Informação Descritiva
processo ou um sistema, que permi-
tem à empresa diferenciar-se dos con- Classificação da informação Estratégica
correntes. Não estratégica

1.1. Tipos de Ações Estratégicas Tipo de informação estratégica Cliente Nominal


Concorrente
Cultural
Liderança em custos: ação estratégi- Demográfica
ca que visa a reduzir custos de servi- Ecológica
ços ou produtos da empresa, tornando Econômica/financeira
seus preços competitivos no mercado; Fornecedor
Governamental/política
Diferenciação: ação estratégica que Legal
visa à colocação no mercado de um Sindical
produto ou serviço diferente dos apre- Social
sentados pela concorrência; Tecnológica
Outro
Foco: ação estratégica que visa à ex- Característica da informação Qualitativa Nominal
ploração de segmento específico do estratégica Quantitativa
mercado. Mista

1.2. Ano de implementação da ação Ciclo evolutivo da ECT 1º Ciclo Descritiva


estratégica: indica o ano em que a 2º Ciclo
ação estratégica foi implementada, va- 3º Ciclo
riando entre 1969 e 1997. 4º Ciclo

Modelo de sistema de Sistema especialista Nominal


2. Informação
informação estratégica Sistema não especialista
2.1. Tipo de informação estratégica
a faturamento, à lucratividade, ao or- periódicos, Internet) e sua influência,
Cliente: informações sobre tendênci- çamento de publicidade, aos salários a hábitos culturais (teatro, cinema, ex-
as quanto aos comportamentos de e comissões pagas, à força de venda, posições – pintura, escultura etc.);
consumo (atitudes de compra/acesso ao endividamento a curto, médio e lon-
a serviços, hábitos, freqüência), às de- go prazos, à estrutura gerencial, ao Demográfica: informações sobre tendên-
mandas não atendidas, ao nível de qua- perfil dos executivos, à história empre- cias quanto à densidade e à mobilidade
lidade requerido, ao perfil, ao potencial sarial, à política de investimentos, à populacional, à distribuição da popula-
de crescimento, à resistência a inova- qualidade dos produtos/serviços ofer- ção (idade, sexo, raça, cor, área geográ-
ções, a nichos mercadológicos etc.; tados etc.; fica, nível de renda, crença religiosa), a
índices de natalidade e de mortalidade
Concorrente: informações sobre ten- Cultural: informações sobre tendências (geral e infantil), à expectativa de vida da
dências quanto ao perfil dos concor- quanto ao acesso da população à edu- população, às taxas de crescimento
rentes, à imagem no mercado, a pre- cação (grau de alfabetização, níveis de demográfico-vegetativo etc.;
ços praticados e prazos concedidos, escolaridade), ao acesso da população
a número e participação no mercado, a meios de comunicação (TV, rádio, Ecológica: informações sobre tendên-
cias de conservação ambiental (áreas
verdes, matas, recursos hídricos etc.),
ações de ecologistas, índices (e ten-
dências de evolução) de poluição (so-

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nora, atmosférica, hídrica e nuclear) mentar, tendências ideológicas etc.; 4º Ciclo: refere-se ao período de 1995
etc.; a 1997, no qual a ECT buscou tornar
Social: informações sobre tendências sua infra-estrutura operacional supor-
Econômica/financeira: informações quanto à distribuição dos segmentos tada por novas tecnologias e implan-
sobre tendências quanto à conjuntura socioeconômicos, às diferenças entre tou programas de qualidade.
econômica nacional e mundial, à atua- as classes (sistema de valores, nível
ção de blocos econômicos e segmen- cultural, poder aquisitivo, estrutura po- A METODOLOGIA EMPREGADA
tos de mercado (por exemplo, Merco- lítica e ideológica, influência na socie-
sul) , à balança comercial e de paga- dade), à atuação de organizações não A pesquisa realizada caracterizou-se
mentos, a taxas de juros, à oscilação governamentais (ONGs), associações como empírica descritiva, na qual foi
de ativos de risco (dólar, ouro, ações), de bairro e entidades religiosas etc.; definida categorização das informa-
a tarifas de prestação de serviços, aos ções estratégicas com base na litera-
planos econômicos, à evolução do PIB Tecnológica: informações sobre pes- tura existente sobre o assunto e vali-
e PNB, à distribuição da renda nacio- quisas realizadas e em andamento, dação em duas situações: na primei-
nal e da renda per capita, aos incenti- tendências quanto à política de pes- ra, em levantamento histórico das
vos fiscais, creditícios e tributários, às quisa e desenvolvimento nacional e in- ações estratégicas implementadas na
fontes de investimento internas e ex- ternacional (investimentos, entidades ECT de 1969 a 1997, avaliando-se o
ternas, ao comportamento da econo- patrocinadoras etc.), a impactos de comportamento das variáveis definidas
mia de países com os quais são man- mudanças tecnológicas, às possibili- para estudo e suas relações; na se-
tidos vínculos comerciais, tecnológicos dades de transferência de tecnologia, gunda, em consulta a especialistas da
e financeiros etc.; a acesso a fontes produtoras ou forne- ECT no trato com informações e ações
cedoras de tecnologia (universidades, estratégicas, buscando avaliar suas
Fornecedor: informações sobre o per- centros de pesquisa, redes de inova- opiniões quanto à validade das cate-
fil, atitudes, localização, opções de ção tecnológica e outras) etc. gorias em função de suas experiênci-
fontes de fornecimento, condições de as e expectativas quanto a tendências
transporte, preços, prazos de paga- 2.2. Característica da Informação Es- de futuro cenário para o setor postal
mento, descontos, entrega, tendênci- tratégica brasileiro.
as quanto à formação de parcerias etc.;
Qualitativa: refere-se a informações Ressalta-se que o levantamento histó-
Governamental/política: informações consolidadas a partir de dados que em rico teve grande valor na busca de mai-
sobre tendências quanto a diretrizes do sua maioria são não-numéricos. or conhecimento do comportamento
Poder Executivo no que se refere à in- ambiental, pois se procura um padrão
tervenção do sistema postal, a regula- Quantitativa: refere-se a informações entre os eventos passados e os possí-
mentações e desregulamentações, a consolidadas a partir de dados que em veis eventos futuros, conforme indica-
campanhas e programas de integração sua maioria são numéricos. do por Jones e Twiss, citados por Men-
nacional e de ação social, a políticas des13 . Os autores ainda indicam a ne-
fiscal, de exportação e importação, Mista: refere-se a informações conso- cessidade de se efetuarem registros
habitacional, salarial e de privatiza- lidadas a partir de dados numéricos e permanentes dos acontecimentos mais
ções, às relações internacionais, a pla- não-numéricos, sendo que não é pos- significativos do ambiente externo, fil-
nos de governo, bem como à atuação sível estabelecer-se a predominância trados segundo as necessidades da
de partidos políticos, à conjuntura po- de um sobre o outro em sua formação. organização, de forma a se obter a
lítica (boatos, forças políticas individu- memória do processo, um resumo de
ais e coletivas) etc.; 3. Ciclos Evolutivos da ECT dados que possibilite sua avaliação.

Legal: informações sobre tendências 1º Ciclo: refere-se ao período de 1969 OS PRINCIPAIS RESULTADOS
quanto a ações dos Poderes Legislati- a 1984, no qual a ECT solidificou a
vo e Judiciário no que se refere à legis- confiança da população em seus ser- Considerando-se que o estudo foi vol-
lação tributária, fiscal, trabalhista, sin- viços; tado para a ECT, destacam-se os se-
dical, de uso de recursos (hídricos, guintes resultados obtidos por meio da
minerais, vegetais etc.), comercial 2º Ciclo: refere-se ao período de 1985 pesquisa:
(compras, contratações, alienações, a 1989, no qual houve certa estabiliza-
permissões, concessões, outorgas ção no desenvolvimento da ECT; 1. Verificou-se que é possível categori-
etc.), de propriedade autoral e tecno- zar e hierarquizar as informações es-
lógica (marcas e patentes) etc.; 3º Ciclo: refere-se ao período de 1990 tratégicas por tipos que permitam aos
a 1994, no qual a ECT abriu seu leque analistas de informação das empresas
Sindical: informações sobre capacida- de produtos e serviços, assumindo
de de mobilização, poder de arregimen- característica de “banco de serviços”;
tação, atuação em acordos trabalhis-
tas, integração com outros sindicatos
ou outras entidades (por exemplo, par-
tidos políticos), representação parla-

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O uso da informação na formulação de ações estratégicas pelas empresas

melhor desempenhar suas atividades, memória técnica nas empresas é fun- A terceira característica seria a capa-
focando sua atenção no ambiente ex- damental para que se possa elicitar cidade de retroalimentação dinâmica,
terno da organização em níveis diferen- conhecimento útil a ser aplicado em ou seja, os resultados do sistema de-
tes, ciente de que alguns tipos de in- situações atuais e futuras por que pas- vem ser utilizados como entrada nova-
formação tendem a ter mais relevância sa a organização. O descaso de mui- mente, alterando-lhe a composição in-
na formulação de ações estratégicas. tos dirigentes quanto à importância do terna, em um ciclo contínuo e de mu-
Outra leitura dessas informações per- acervo técnico pode levar ao desastre tação constante.
mitiria ao analista avaliar aquelas que de não haver elementos e meios que
tentem a influenciar menos as ações a permitam à organização aprender com A quarta característica está relaciona-
serem adotadas e buscar novos nichos seu passado. da à combinação de diferentes tipos
de atuação empresarial. de sistemas especialistas e não espe-
CONCLUSÃO – A PROPOSTA DE cialistas para compreender todas as
2. Verificou-se que houve relação entre UM MODELO DE SISTEMA DE fases do sistema proposto: para a co-
os tipos de informação e de ação es- INFORMAÇÕES ESTRATÉGICAS leta é imprescindível a formulação de
tratégica, constatando-se que as infor- PARA A ECT um módulo de monitoramento ambien-
mações do tipo “tecnológica” tendem tal (ESS) que permita a sondagem do
a influenciar as ações do tipo diferen- Ao se propor um modelo de sistema ambiente externo à organização, focan-
ciação, bem como as informações do de informações estratégicas adequa- do os principais tipos de informação
tipo “concorrente”; já as informações do às necessidades da ECT, preten- estratégica indicados pela pesquisa;
dos tipos “cliente”, “social” e “governa- deu-se assinalar características rele- para o processamento, um sistema
mental/política” tendem exercer maior vantes e fundamentais, para que sua especialista que permita simular alter-
influência nas ações do tipo “foco”; eficácia seja alcançada, à luz da lite- nativas de ações a serem adotadas,
ratura estudada e dos resultados obti- associando a experiência dos técnicos
3. Observou-se relação entre o tipo e a dos a partir da pesquisa. da empresa com ferramentas de de-
característica da informação estratégi- senvolvimento de sistemas de suporte
ca, constatando-se que as informações Assim, a primeira característica a ser à decisão (DSS); para a disseminação,
dos tipos “tecnológica”, “legal”, “gover- observada é o fato de que o sistema módulo contemplando um sistema de
namental/política”, “fornecedor”, “cultu- deveria privilegiar o tratamento de in- informações executiva (EIS), objetivan-
ral” e “ecológica” apresentam caracte- formações estratégicas qualitativas, do atender às demandas da alta admi-
rística eminentemente qualitativa; as conclusão advinda dos estudos efetu- nistração, bem como um módulo para
informações dos tipos “demográfica” e ados. Isso implica aumento na sua disseminação de informações estraté-
“econômica/financeira”, quantitativa; os complexidade, uma vez que deverá pro- gicas a todos os níveis organizacionais
tipos “social” e “concorrente” apresen- cessar informações heterogêneas em da ECT; finalmente, um módulo de ar-
tam características de ambas (quali- termos de fontes (formais e informais), mazenamento das informações e
tativas e quantitativas) e a variável “cli- formas (texto, imagens etc.) e tipos ações estratégicas, constituindo-se um
ente”, características qualitativas, quan- (cliente, concorrente, tecnológica etc.) banco de dados retroalimentador do
titativas e mistas. Ressalta-se que a sistema.
informação estratégica do tipo “cliente” A segunda característica refere-se à
foi a que apresentou maior número de agregação de conhecimento de espe- Ressaltamos que a complexidade do
ocorrências no levantamento histórico, cialistas, aliado a conhecimento explí- sistema também recai sobre o ferra-
sendo considerada pelos especialistas cito sobre a formulação de ações es- mental técnico a ser utilizado, combi-
a que mais influencia na formulação de tratégicas. A combinação de ambos nando diferentes softwares, aplicativos,
ações estratégicas pela ECT. possibilitará a simulação de alternati- métodos de elicitação de conhecimen-
vas possíveis, permitindo a escolha das to, linguagens de programação aplica-
4. Constatou-se que a maioria das in- mais viáveis ou convenientes para o das à inteligência artificial e estrutura-
formações estratégicas coletadas na decisor. Ressalta-se que o desafio re- ção de sistemas. Além disso, o siste-
pesquisa histórica (55%) apresentou cai sobre a simulação de resultados a ma de informações estratégicas pro-
característica qualitativa, indicando partir de informações qualitativas, já posto deve ser compatível e interativo
que os dados geradores das informa- que essas apresentam nuances diver- com o sistema de informações de
ções são de natureza não-numérica, o sas, derivando múltiplas alternativas. acompanhamento (não estratégicas) da
que exige tratamento diferenciado e Empresa, uma vez que seus resulta-
especializado e aponta para a adoção dos são complementares no suporte à
de um sistema de informações que leve
em consideração as nuances qualita-
tivas das informações.

5. Constatou-se que a manutenção da

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O uso da informação na formulação de ações estratégicas pelas empresas

tomada de decisões. FIGURA 3


Proposta de Sistema de Informações Estratégicas para a ECT
Assim, esquematicamente poderíamos
representar o sistema de informações
estratégicas proposto para a ECT da Módulo
seguinte forma, como mostrado na fi- de
gura 3. Informações
Executivas
Módulo Módulo
de Especialista
Monitoramento e de Suporte à Decisão
Ambiental
Módulo
de Disseminação de
Informações
Estratégicas
Módulo
Banco de Informações
e Ações Estratégicas

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