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MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS FLORESTAIS


Ronald Zanetti1
Alexandre dos Santos2
Nívia da Silva Dias3
Alan Souza-Silva3
Geraldo Andrade Carvalho1

1. INTRODUÇÃO
A Entomologia Florestal é um ramo da ciência florestal que trata do
estudo dos insetos associados às árvores e seus produtos, buscando reduzir as
perdas na qualidade e quantidade do fim a que se destinam, sem prejudicar o
ambiente. Para isso, é necessário saber como detectar, identificar e quantificar as
populações de insetos-praga florestais, determinar a importância dos danos
causados por eles, analisar as causas dos surtos e planejar e aplicar os princípios
e técnicas para a proteção de florestas e seus produtos, dentro dos princípios do
Manejo Integrado de Pragas (MIP).
O MIP é uma filosofia de controle de pragas que procura preservar e
incrementar os fatores de mortalidade natural, através do uso integrado de todas
as técnicas de combate possíveis, selecionadas com base em parâmetros
econômicos, ecológicos e sociológicos, buscando manter a população dessas
pragas abaixo do nível de dano econômico.
Atualmente, essa filosofia é fundamental para o setor florestal, pois as
companhias florestais passaram a implantar programas de qualidade total,
buscando melhorar sua eficiência e competitividade, por imposição do mercado
internacional, que exige certificação florestal dos tipos Cerflor, ISO, SFC entre
outras, para atestar a qualidade técnica, ecológica e social das empresas, como
pré-requisito para a aquisição de seus produtos. Com isso, houve a necessidade
de se reestruturar, também, o controle de pragas florestais, que ainda utiliza
grande quantidade de inseticidas e de mão-de-obra, correndo riscos de
contaminação humana e ambiental.

1
Professor do Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras, Caixa
Postal 37, CEP 37200-000, Lavras, MG. E-mail: zanetti@ufla.br
2
Aluno de graduação em Engenharia Florestal da UFLA.
3
Alunos de Pós-graduação do Departamento de Entomologia da UFLA.
2

2. HISTÓRIA DA ENTOMOLOGIA FLORESTAL NO MUNDO


A Entomologia Florestal surgiu como ciência juntamente com os estudos
de Silvicultura, provavelmente, no século XVII, na Europa Central. Os primeiros
estudos e publicações sobre o assunto iniciaram-se na Alemanha, impulsionados
pelos constantes surtos de insetos que destruíam grandes áreas de florestas,
importante matéria-prima usada para a produção de energia, construção etc.
Os estudos iniciais eram fruto de esforços individuais e quase sempre
sem apoio institucional. Isso começou a mudar em 1830 com a criação da Escola
de Florestas de Eberswalde, na Alemanha (primeira escola de florestas do
mundo), tendo como titular da cadeira de entomologia o professor Julius Theodor
Christian Ratzeburg (pai da entomologia florestal). A partir daí, diversos
pesquisadores surgiram na Europa e em diversos países de outros continentes,
que contribuíram para enriquecer os conhecimentos sobre Entomologia Florestal
(Tabela 1).

TABELA 1. Acontecimentos marcantes na história da Entomologia Florestal no


mundo.

Data Acontecimento
Século XVII Criação da Silvicultura na Europa Central
Século XVIII Surgimento de grandes surtos de pragas florestais
1752 Publicação dos primeiros livros sobre pragas florestais. Shaffer
publica estudos sobre a ocorrência da lagarta Lymanthria dispar
(Lepidoptera: )
1772 Ocorrência de grandes surtos do escolitídeo Ipis typographus
(Coleoptera: Scolytidae) na Alemanha
1782 Criação dos primeiros laboratórios de entomologia florestal na
Alemanha
1830 Criação da Escola de Florestas de Eberswalde na Alemanha
1837 Ratzeburg publica estudos sobre insetos associados a florestas
1871 Morte de Ratzeburg (pai da entomologia florestal)
Séc. XIX Surgem os primeiros estudos sobre pragas florestais nos EUA.
Hopkins publica estudos sobre ataque de besouros da casca
Dendroctonus frontalis (Coleoptera: Scolytidae)
1939 Uso de DDT como inseticida
1947 Identificado o primeiro caso de resistência ao DDT
1962 Rachel Carson: publicação do livro “Primavera silenciosa”
1967 Surgem os primeiros conceitos de MIP
1970 a 1980 Proibição do DDT em vários países
Década 1980 Implantação de programas de MIP em diversos países
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3. HISTÓRIA DA ENTOMOLOGIA FLORESTAL NO BRASIL


A entomologia florestal brasileira surgiu com a criação da silvicultura
brasileira, que teve início no século XIX com a implantação da Floresta Nacional
da Tijuca, por ordem do império. A partir daí, diversos pesquisadores surgiram no
Brasil e contribuíram para enriquecer os conhecimentos sobre a Entomologia
Florestal Brasileira (Tabela 2). Os primeiros estudos foram dedicados ao registro
de insetos que atacavam essências florestais, principalmente as formigas
cortadeiras.
A implantação do eucalipto no Brasil em 1904 deu grande impulso aos
estudos sobre a entomologia florestal, pois essa essência, juntamente com o
Pinus, foi cultivada em larga escala, principalmente nas décadas de 60 e 70,
necessitando de investimentos em pesquisa para o controle de suas pragas.
Nesse contexto surgiram diversas escolas de floresta no país, que tinham na
cadeira de entomologia florestal a responsabilidade de conduzir tais pesquisas.
Com o fim dos incentivos fiscais ao reflorestamento, a partir de 1988, o
setor florestal foi influenciado pelos movimentos ecológicos e sociais, além de
mudanças econômicas profundas em nível internacional e nacional, levando à
reestruturação do setor, inclusive da entomologia florestal. As empresas reduziram
grandemente os investimentos em pesquisa e passaram a implantar programas de
qualidade total, na busca de certificação de seus produtos.
O caminho da pesquisa sobre entomologia florestal aponta para estudos
sobre levantamento e flutuação populacional e métodos de controle sem o uso de
produtos químicos, mostrando a tendência atual de se conhecerem os insetos
associados às florestas e sua interação com o ambiente. Essa tendência é fruto
das exigências do mercado internacional de produtos florestais, o qual obriga as
empresas a conhecer o ecossistema onde atuam, buscando reduzir impactos
ambientais decorrentes da atividade, inclusive com respeito ao controle químico de
pragas.
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TABELA 2. Acontecimentos marcantes na história da Entomologia Florestal no


Brasil.

Data Acontecimento
Século XIX Criação da Silvicultura Brasileira com a implantação da
Floresta Nacional da Tijuca
1893 Forel publica “A fauna de formigas do Brasil”
1896 Dafert publica estudos sobre controle de formigas cortadeiras
1904 Hempel publica “Novo método de combate à saúva (Atta
sexdens) e outras formigas nocivas às plantas”
1904 Introdução do eucalipto no Brasil por Navarro de Andrade
1909 Navarro de Andrade publica “Os insetos nocivos do
Eucalyptus“
Década 1920 Surgem diversos estudos sobre levantamento de insetos
associados a essências florestais: eucalipto (Navarro de
Andrade); seringueira (Da Mata); palmáceas (Bondar); entre
outros.
1941 Silva e Almeida publicam “Entomologia Florestal: contribuição
ao estudo das coleobrocas”
Década 1940 Descoberta dos inseticidas clorados e uso no controle de
pragas florestais
Década. 1950- São publicados diversos estudos com saúva: biologia (Autuori
60 entre 1950 a 1955 e Mariconi entre 1960 e 1961); taxonomia e
distribuição (Gonçalves entre 1951 e 1955); controle (Vanetti
entre 1957 e 1961 e Santana entre 1951 e 1952), entre outros.
1960 Criação da primeira escola de florestas do país (Escola
Nacional de Florestas)
1963 Vanetti publica “Pragas de essências florestais”
1964 Início dos incentivos fiscais ao reflorestamento no Brasil
Década 1970 Expansão das escolas de florestas e dos reflorestamentos
1988 Fim dos incentivos fiscais aos reflorestamentos
Década 1990 Início dos programas de MIP e de certificação florestal e
reestruturação das empresas

4. ATUALIDADES EM ENTOMOLOGIA FLORESTAL


A entomologia florestal está diretamente relacionada a todas as áreas da
Engenharia Florestal, pois os insetos são componentes fundamentais do
ecossistema e podem contribuir para o desenvolvimento das florestas e para a sua
destruição. Portanto, toda vez que se deseja manejar um sistema florestal, para a
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obtenção de algum produto deste, devem-se manejar, também, os insetos. Dai a


importância da entomologia florestal para o setor florestal em todos as suas áreas
de atuação, como:

 Ecologia Florestal - relacionado ao papel dos insetos na manutenção do


equilíbrio ecológico da floresta e suas interações com outros animais.
Atualmente, o conhecimento da relação entre as florestas e seus
organismos associados é fundamental para o setor florestal, pois o
mercado internacional de produtos florestais obriga as empresas
produtoras a conhecer o ecossistema onde atuam, na busca da redução
dos impactos ambientais decorrentes da atividade, inclusive com respeito
aos impactos do controle químico de pragas. O uso de insetos como
bioindicadores de qualidade ambiental em reflorestamentos é outra linha
de pesquisa recente.

 Inventário Florestal - os insetos podem alterar estimativas de produção


florestal. Uma preocupação atual da pesquisa entomológica florestal é
quanto aos impactos que os insetos causam às árvores e seus produtos.
Cada vez mais se busca determinar a quantidade de redução da produção
de madeira provocada por uma população de determinado inseto-praga,
para que se possa determinar o NDE dessa praga.

 Patologia Florestal - os insetos podem transmitir doenças às plantas. O


patologista florestal deve-se preocupar com os insetos que transmitem
doenças às plantas e procurar combatê-los em vez da própria doença. Os
broqueadores são conhecidos agentes disseminadores de doenças, pois
perfuram a planta, abrindo porta de entrada para microorganismos ou
mesmo introduzindo-os propositadamente, como fazem os cultivadores de
fungos (besouros ambrósia e vespa-da-madeira).

 Melhoramento Florestal - relacionado ao estudo de resistência de plantas


contra insetos. O grande objetivo de todo melhorista florestal é
desenvolver uma planta capaz de manter alta produção de madeira nos
mais variados tipos de condições e ser capaz de resistir a pragas e
doenças. Atualmente, a clonagem é regra na produção florestal. Esse
avanço tecnológico teve grande participação dos melhoristas florestais;
entretanto, existe uma grande preocupação do setor quanto à limitação de
variabilidade genética dos plantios existentes, que é considerada o ponto
frágil contra o aparecimento de alguma praga ou doença que venham a
dizimar tais plantios. Portanto, a inclusão de resistência contra insetos nas
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plantas melhoradas e a variação da carga genética dos clones têm sido


aprimoradas nos últimos anos.

 Economia Florestal - os insetos podem alterar metas administrativas ou


os custos de produção da floresta. Essa relação é muito clara, pois os
insetos demandam grandes somas de recursos para seu controle. O
aparecimento de surtos de pragas, embora previstos pelas avaliações
econômicas de cada empreendimento, compromete os custos de
produção florestal.

 Silvicultura – está relacionada às técnicas silviculturais usadas na


prevenção e controle de insetos. Esse setor é o que mais tem contato com
os insetos, pois é encarregado de combatê-los. Atualmente, procura-se
reduzir ao máximo as intervenções químicas de controle de pragas em
florestas com o uso de técnicas silviculturais, principalmente aquelas que
promovem um bom desenvolvimento das plantas, pois uma vez sadias
elas resistem bem ao ataque de pragas.

 Sementes Florestais - relacionadas a influência dos insetos na produção


e disseminação de sementes. Como existem insetos que auxiliam e outros
que prejudicam a produção de sementes florestais, deve-se procurar
manejá-los adequadamente para que a produção não seja comprometida.

 Tecnologia de Madeira - relacionada às técnicas de tratamento de


madeira contra insetos ou aos danos que podem causar na estrutura das
construções. Cada vez mais se busca utilizar madeiras de rápido
crescimento para usos mais nobres como movelaria, construções rurais,
telhados, etc. Para isso, busca-se aprimorar as técnicas de preservação
dessas madeiras para aumentar seu tempo de vida útil, atualmente
considerada baixa.

 Arborização e Paisagismo - relacionados a influência dos insetos sobre


plantas ornamentais. Um grande problema do setor de arborização e
paisagismo são os ataques de insetos às plantas em áreas urbanas, pois
não existe tecnologia apropriada de controle dessas pragas sem que o
público seja afetado por elas. Certamente, o desenvolvimento dessas
técnicas é um dos principais objetivos dos profissionais do setor.

 Manejo Florestal - relacionado a influência dos insetos na seleção de


espécies, épocas de corte, formas de condução da floresta etc. Como o
manejo florestal envolve todas as áreas citadas acima, a entomologia
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florestal, então, é uma das áreas que deve ser contemplada pelo
manejador de florestas.

5. CONCEITOS BÁSICOS DO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma filosofia de controle de


pragas que procura preservar e incrementar os fatores de mortalidade natural,
através do uso integrado de todas as técnicas de combate possíveis, selecionadas
com base nos parâmetros econômicos, ecológicos e sociológicos, visando a
manter a densidade populacional de um organismo abaixo do nível de dano
econômico.
A compreensão dos preceitos do MIP requer o conhecimento de alguns
conceitos básicos, que são comumente usados por pesquisadores, técnicos e
produtores que lidam com a entomologia. Para entendê-los devemos conhecer a
relação inseto-fitófago x planta (Figura 1).

Inseto Praga
Ataque Dano
Econômico
Significativo

Injúria $
Perda ou
Dano
Planta

FIGURA 1. Esquema ilustrando a relação inseto x planta, que caracteriza o


conceito de praga.

Os insetos fitófagos alimentam-se das plantas para sobreviverem e, como


conseqüência, as plantas deixam de produzir a mesma quantidade de produtos
que outras que não foram danificadas por eles. Do ponto de vista do manejo
integrado de pragas, esse inseto, ao se alimentar de uma planta cultivada provoca
nela uma Injúria, que é definida como qualquer alteração deletéria decorrente da
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sua ação. A planta injuriada perde produção, que pode ser quantificada
monetariamente, recebendo o nome de Dano Econômico, que é definido como
qualquer perda econômica decorrente de uma injúria. Quando esse dano se torna
significativo diz-se que esse inseto se tornou uma Praga. A dúvida é saber quando
o dano econômico se torna significativo, e, para isso, foi criado o conceito de Nível
de Dano Econômico (NDE), que é a densidade populacional de uma praga capaz
de causar um prejuízo (dano econômico) de igual valor ao seu custo de controle.
Para calcular o NDE é necessário saber que a produção da cultura é
reduzida à medida que a densidade populacional da praga ou a sua injúria
aumenta (Figura 2).
Produção

T olerância/
Compensação Linearidade Insensibilização Insensibilidade
Supercompensação
Densidade populacional/Injúria

FIGURA 2. Modelo do efeito da injúria provocada por insetos sobre a produção.

Conforme visto, a produção será máxima quando a população da praga


estiver próxima de zero. Para obter isso, devemos investir recursos para reduzir a
densidade populacional da praga. Quanto maior o valor investido no controle,
menor é a densidade populacional da praga e, conseqüentemente, maior será a
produção da cultura (Figura 3).
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$
Valor da
Produção

Custo
Controle

NDE DP=0

Redução Densidade Populacional de Pragas

FIGURA 3. Relação custo-benefício do controle de pragas, conceituando nível de


dano econômico.

O que se espera obter em qualquer investimento florestal é o máximo


lucro; então, a tomada de decisão (aplicação ou não de um ou outro método de
controle) envolve um custo, que deve ser minimizado, e uma receita, que deve ser
maximizada. A diferença entre a receita e o custo produz um lucro, que é descrito
matematicamente como:
L = pQ(x) - C(x),
em que: L = lucro; p = preço do produto; Q(x) = quantidade do produto que se
obteve em função da aplicação do método de controle (x); x = método de controle;
e C(x) = custo da aplicação do método de controle (x).
O lucro será máximo quando as curvas de receita da produção e custos de
controle de pragas se afastarem o máximo, ou seja, quando a derivada de L em
função de (x) for igual a zero: (dL/dx) = p[dQ(x)/d(x)] - [dC(x)/d(x)] = 0. Nesse
ponto, temos o NDE, ou seja, a densidade populacional da praga (eixo X) em que
devemos aplicar o controle.
Na Figura 4 temos a derivada do lucro (dL/dx). Verifica-se que a curva de
incremento dos custos aumenta quando a intensidade de controle aumenta. Isso
porque aumentam os custos para se obter: boa estimativa da densidade
populacional da praga; maior eficiência de controle; melhoria da metodologia de
aplicação; etc. Por outro lado, a curva de incremento das receitas decresce com o
aumento da intensidade de controle, devido aos maiores custos de sua
implementação. O lucro é representado pela área formada pelo triângulo “abc”,
que é derivado da diferença entre as duas curvas e é maximizado quando elas se
interceptam no ponto X0.
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O preço dos produtos e dos insumos afeta o nível ótimo de intensidade


de controle de pragas. Quando o preço do produto sobe, o retorno (ou benefício)
do controle de pragas também deve aumentar, pois o produtor deve investir mais
no controle de pragas, para reduzir mais os danos e obter maior produção e maior
lucro. Assim, a intensidade de controle deve aumentar se o preço do produto
aumentar, pois a curva de incremento dos custos intercepta a das receitas num
nível de intensidade maior X1.
Como foi visto acima, o produtor terá o maior lucro se utilizar uma
intensidade de controle igual a X0 ou X1, dependendo da variação no preço do
produto. A partir destes pontos, qualquer investimento para reduzir, ainda mais, a
população da praga (e conseqüentemente os seus danos) produzirá uma perda
econômica para o produtor, que é representada pela área formada pelo triângulo
“bdX2”. O ponto X2 representa a intensidade de controle necessária para se
eliminarem todos os indivíduos de uma espécie de inseto-praga de uma área (e,
conseqüentemente, todos os seus danos) e, também, representa a perda
econômica máxima que se pode obter no controle de pragas, devido ao aumento
no custo de controle.

Incremento das
$ Receitas de P2 Incremento
dos Custos
Incremento das
Receitas de P1 d
c

X0 X1 X2
Intensidade de Controle de Pragas

FIGURA 4. Derivada da relação custo-benefício do controle de pragas, onde P1 =


produtos com baixo preço e P2 = produtos com alto preço.

O nível de dano econômico é dinâmico e pode variar segundo: Preço do


produto (quanto maior o preço do produto, menor o nível de dano); Custo de
controle (quanto maior o custo de controle, maior o nível de dano); capacidade da
praga em danificar a cultura; suscetibilidade da cultura à praga.
Outro conceito muito usado no MIP é o do Nível de Ação ou de Controle
(NA ou NC), que é a densidade populacional de uma praga em que devem ser
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tomadas as medidas de controle, para que não causem danos econômicos. A


diferença entre os valores do ND e do NC é igual à velocidade de ação dos
métodos de controle. Isso ocorre porque se o método de controle for lento, a
densidade da praga pode crescer por um certo tempo após a aplicação do controle
e causar danos acima do tolerável.
Na prática, o produtor terá que acompanhar a flutuação populacional da
praga no tempo e somente aplicar o controle quando essa densidade atingir um
valor igual ou superior ao NC, para manter a densidade populacional do inseto no
Ponto de Equilíbrio (Figura 5).

Combate
NDE
Populacional
Densidade

NC

PE

Tempo

FIGURA 5. Esquema representando o comportamento da densidade populacional


de um organismo no tempo com relação ao nível de dano econômico.

Com a implantação dos conceitos de NC e NDE, o MIP avançou em


algumas culturas em relação aos métodos tradicionais, mas estava focalizado
apenas na avaliação da densidade populacional das pragas, sem considerar o
efeito do controle biológico natural na tomada de decisão. Isso foi mudado com a
determinação do Nível de Não-Ação (NNA), que é a densidade populacional dos
inimigos naturais capaz de controlar a população da praga sem a intervenção
humana.
Esses conceitos passaram a integrar o MIP e são utilizados rotineiramente
nas atividades regulares da cultura florestal.

6. PROCEDIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO E


GERENCIAMENTO DE PROGRAMAS DE MANEJO INTEGRADO
DE PRAGAS
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A implantação e o gerenciamento de programas de MIP é fundamental


para a correta condução da floresta sob o ponto de vista do controle de insetos-
praga. Isso pode ser implementado em cinco etapas:
o
1 – Definição da unidade de manejo

A unidade básica de manejo de pragas florestais é o talhão. Essa


unidade consiste numa área delimitada fisicamente por estradas, aceiros ou
trilhas (Figura 6). Cada unidade deve conter a cultura em condições homogêneas
de tratos culturais, idade, espécie ou cultivar, tipo de solo, micro-clima, entre
outros, de forma que o comportamento da praga seja semelhante em toda a área
da unidade. O seu tamanho é determinado pelo sistema de manejo da cultura,
mas deve ter uma área que permita a aplicação de um método de controle em
tempo suficiente para não haver alteração no status populacional da praga
durante as operações de monitoramento e combate.

Talhão 2

Talhão 1 Talhão 3

FIGURA 6. Esquema de unidades de manejo (talhão).

2º - Eleger as pragas-chave

As pragas-chave são as mais importantes da cultura que se está


manejando. É necessário um conhecimento geral sobre elas com relação à sua
biologia, ecologia, comportamento, principais inimigos naturais etc., para poder
manejá-las adequadamente. Existem basicamente quatro tipos de pragas em
agroecossistemas: as não-pragas, secundárias, as primárias e as severas, sendo
as duas últimas as mais importantes, conforme mostrado a seguir.

a) Organismo não-praga: são aqueles organismos cuja densidade


populacional nunca atinge o nível de controle (Figura 7). Ex. a maioria dos insetos
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presentes nos agroecossistemas que usa recursos que não comprometem a


produção.
Densidade Populacional

ND

NC

PE

Tempo

FIGURA 7. Esquema representativo da flutuação populacional de um organismo


não-praga. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND (Nível
de Dano).

b) Praga Secundária: são aquelas que raramente atingem o nível de


controle (Figura 8).
Densidade Populacional

Combate
ND

NC

PE

Tempo

FIGURA 8. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga


secundária. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND
(Nível de Dano).
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c) Praga freqüente ou praga-chave ou praga primária: são aquelas que


freqüentemente atingem o nível de controle (Figura 9).

Combate
Densidade Populacional

ND

NC

PE

Tempo

FIGURA 9. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga


freqüente ou chave ou primária. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de
Controle); ND (Nível de Dano).

d) Praga severa: são aquelas cujo ponto de equilíbrio é sempre maior que
o nível de controle ou de dano econômico (Figura 10).
Densidade Populacional

PE

ND
NC

Tempo

FIGURA 10. Esquema representativo da flutuação populacional de uma praga


severa. PE (Ponto de Equilíbrio); NC (Nível de Controle); ND (Nível
de Dano).
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3º - Aplicar os componentes do MIP

Os componentes do MIP são os passos que devem ser tomados


sempre que surgirem problemas de ataque de insetos à cultura e compõem as
ações rotineiras do programa. Eles são constituídos de três etapas:

a) Avaliação do ecossistema

É necessária uma avaliação local do problema, onde devem ser


analisados quatro componentes do ecossistema: a planta, a praga, os inimigos
naturais e o clima.
 Deve-se identificar e quantificar a população do inseto que está
causando o problema em questão;
 deve-se identificar e quantificar a população dos inimigos naturais
desse organismo;
 deve-se avaliar o estágio fisiológico da planta;
 devem-se avaliar as condições climáticas do local.

É importante considerar a necessidade de se utilizarem métodos de


levantamento populacional de insetos que possam ser diretamente
correlacionados com a injúria provocada e conseqüentemente com os danos.
Esse levantamento permitirá a determinação não só de nível populacional para a
adoção de medidas de controle, como também indicará a tendência das
populações em crescer ou decrescer possibilitando a tomada de decisão mais
coerente. Não existe um método universal de levantamento, sendo que,
freqüentemente, um método empregado para uma praga não se aplica a outra, e
às vezes, o mesmo método não serve para a mesma praga em condições
diferentes. Normalmente ela depende da espécie e da fase da praga, da idade do
plantio, da área afetada, dos recursos disponíveis, etc.
O MIP está fundamentado na amostragem das populações das pragas-
alvo e de seus inimigos naturais, bem como no conhecimento da cultura e das
condições climáticas do local. Todas as duas fases posteriores estão baseadas
nessa amostragem.

b) Tomada de decisão

A tomada de decisão é efetuada através da análise dos aspectos


econômicos da cultura e da relação custo/benefício do controle de pragas, que é
determinado pelo NDE. Com base na avaliação do ecossistema combate-se a
praga se:
 A densidade populacional da praga for igual ou maior que o nível de
controle;
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 a densidade populacional dos inimigos naturais estiver abaixo do


nível de não-ação;
 a planta estiver no estágio suscetível à praga;
 as condições climáticas estiverem favoráveis à praga.

c) Escolha dos métodos de controle

Uma vez tomada a decisão de adotar medidas de controle, será


necessário fazer a opção por um programa que poderá envolver um ou mais
métodos de redução populacional de insetos. Para isso deve-se ter um bom
conhecimento de todas as técnicas de controle e escolher as mais adequadas,
levando-se em consideração os fatores técnicos (eficiência, modo de aplicação,
etc.), econômicos (custo de combate), ecológicos (impactos ambientais) e
sociológicos (toxicidade e perigo durante a aplicação). Uma análise prévia do
histórico da área com relação a culturas, clima, ocorrência de pragas, resultados
de combate, entre outros, possibilitará uma previsão dos problemas que deverão
ser enfrentados.

4º - Planejamento das ações

Em função das informações sobre a praga, inimigos naturais, cultura e o


clima poderá ser feita uma programação para o emprego das medidas de
controle selecionadas, visando a reduzir o problema atual e dificultar a ocorrência
de novos surtos de pragas. Esse planejamento envolve a elaboração de um
cronograma físico-financeiro, incluindo a relação das unidades de manejo que
serão combatidas, os equipamentos de aplicação, materiais, produtos
fitossanitários, mão-de-obra, transporte, alimentação, EPIs, taxas administrativas
e impostos. Todas essas informações são relacionadas no tempo e no espaço,
propiciando um planejamento detalhado das ações de combate que se seguirão,
conforme exemplificado na Tabela 3.
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TABELA 3. Exemplo do planejamento físico-financeiro de ações de combate.

Planejamento de combate
Meses J F M A M J J A S O N D
Talhões a combater 1 2 5 7 8 9
Custo do combate $ $ $ $ $ $

5º - Acompanhamento dos resultados

Após o combate da área é necessário acompanhar a flutuação


populacional das pragas e dos seus inimigos naturais e verificar os efeitos dos
métodos de redução populacional empregados, sobre os insetos visados e sobre
os insetos não-alvo, a fim de avaliar a necessidade de novas intervenções. Para
isso, adotam-se, geralmente, os mesmos métodos de amostragem empregados
na avaliação do ecossistema ou outro método dependendo do caso. Essas
etapas, geralmente, fecham o ciclo do MIP e iniciam o processo novamente,
como a nova avaliação do ecossistema, conforme Tabela 4.

TABELA 4. Exemplo do planejamento das avaliações dos resultados do combate.

Planejamento das avaliações dos resultados do combate


Meses J F M A M J J A S O N D
Talhões a combater 1 2 5 7 8 9
Talhões a avaliar 1 2 5 7 8 9

8. AMOSTRAGEM DE INSETOS EM FLORESTAS


O MIP está fundamentado na amostragem das populações das pragas-
alvo e de seus inimigos naturais, bem como no conhecimento da cultura e das
condições climáticas do local. Todas as duas fases posteriores estão baseadas
nessa amostragem.

a) Métodos de amostragem

Para avaliação correta das populações de pragas e inimigos naturais é


necessário que, se realizem amostragens. Para tanto, é importante o
desenvolvimento de pesquisas que permitam obter metodologias de avaliação
populacional, plano de amostragem e tipo de caminhamento a ser adotado na
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amostragem. No MIP são empregados dois métodos de avaliação de populações


de pragas e de seus inimigos naturais:

Métodos relativos: representado pelo número de indivíduos presentes numa


amostra. Esta avaliação pode ser feita através de contagem direta das pragas
existentes numa amostra, como, por exemplo, conta-se o número de lagartas por
árvore ou o número de formigueiros por parcelas. É o método mais utilizado em
agroecossistemas por ser mais rápido, barato e eficiente que os demais. O
tamanho de uma estimativa relativa é afetado por mudanças no tamanho da
população e sofre influência da fase do ciclo biológico, da atividade do inseto, da
eficiência da armadilha ou do método de inspeção e das espécies e sexo.

Índices populacionais: é a medida dos produtos metabólicos ou efeitos dos


insetos presentes numa amostra. Ex: percentagem de desfolha, peso de
excrementos e outros, por unidade amostral. É, também, bastante utilizado em
agroecossistemas e é semelhante ao método relativo, exceto pelo fato de não
amostrar o inseto diretamente, mas seus produtos ou efeitos.

b) Distribuição espacial de insetos

Refere-se à forma de distribuição dos insetos no campo. A


determinação prévia da distribuição dos organismos é importante no
estabelecimento do plano de amostragem e essa distribuição pode ser ao acaso,
quando a distribuição dos organismos ocorre de maneira inteiramente
casualizada (seguem uma distribuição de Poisson); agregada, quando os
organismos tendem a se reunir em grupos (seguem uma distribuição binomial
negativa) e regular, quando os organismos estão uniformemente distribuídos em
uma população (seguem uma distribuição binomial) (Figura 11).

         
          
     
          
Regular Ao acaso Agregada
 <  =  >
2 2 2

FIGURA 11. Tipos de distribuição espacial dos insetos no campo.


19

c) Plano de amostragem

A amostragem pode ser:


 Comum: baseada no número fixo de amostras por unidade de área. Ex. 1
ramo/planta, 20 plantas/talhão, etc. Mais usada em agroecossistemas do que
a amostragem seqüencial.

 Seqüencial: envolve um número variável de amostras. As partes são


examinadas ao acaso, seqüencialmente, até que a densidade acumulada
atinja uma das classes de abundância previamente estipulada. Sua vantagem
em relação à amostragem comum é o de menor custo e tempo para amostrar
a população do inseto alvo. Não tem sido utilizada em florestas.

d) Tipo de caminhamento

Representa a maneira como se deve deslocar no campo para realizar a


amostragem (Figura 12). A forma de caminhamento depende do tipo de
amostragem, sendo espiral quando a amostragem é seqüencial e ziguezague,
cruz, U ou pontos, quando a amostragem é do tipo comum.

Ziguezague Serpenteado
Espiral

FIGURA 12. Tipos de caminhamento para realizar a amostragem.

e) Componentes da amostragem

 Pessoal: refere-se ao conhecimento da pessoa que faz a amostragem.


Devem-se utilizar pessoas com certo grau de instrução para realizar a
o
amostragem (pelo menos 1 grau completo).
 Mecânico: refere-se à precisão dos aparelhos ou equipamentos
utilizados na amostragem.
 Estatístico: refere-se à intensidade de amostragem a ser adotada (varia
de 2 a 10% da área, na maioria dos casos).

1
20

 Econômico: refere-se ao custo da amostragem. Deve-se calcular este


custo para saber se compensa ou não a realização da amostragem.
Esse custo não pode passar de 10% do valor do custo de combate.

f) Instrumentos de amostragem

São equipamentos utilizados para auxiliar a amostragem de insetos.


Existem diversos tipos, sendo que os mais utilizados são:

 rede entomológica: trata-se de um aro de metal preso a um cabo de


madeira, que sustenta um saco de filó com fundo arredondado. É utilizada
para selecionar alguns exemplares. É mais usada para estudos de
diversidade de insetos do que para quantificar suas populações. Assim,
dependendo da fauna de insetos que se pretende levantar, o uso de redes é
recomendável;

 rede de varredura: semelhante à rede entomológica, porém mais reforçada,


principalmente o pano, para suportar o atrito da rede com a vegetação;

 armadilhas de solo: é constituída por um recipiente de boca larga enterrado


no solo de maneira que a abertura fique ao nível da superfície. São
especialmente voltadas para insetos que caminham sobre o solo por
incapacidade de vôo ou por preferência de habitat. Essas armadilhas podem
ter sua eficiência aumentada pela presença de iscas, podendo assim
capturar uma variedade de insetos como besouros, formigas etc.;

 malaise: é uma armadilha que “intercepta” o vôo de insetos, contendo uma


barreira pouco visível para eles, feita de filó e com a qual os insetos colidem
e são capturados num recipiente situado no topo da armadilha. Utilizada para
amostrar himenópteros, principalmente parasitóides;

 frasco caça-mosca: recipiente plástico ou de vidro, contendo orifícios em


forma de cone. No interior contém substâncias atrativas aos insetos. Utilizada
para coleta de mosca-das-frutas, principalmente;

 armadilha luminosa: consiste de uma lâmpada fluorescente que emite luz


negra, atrativa a insetos de habito noturno que voam. Esses são capturados
num recipiente cônico situado logo abaixo da lâmpada. Utilizada para
amostrar lepidópteros principalmente.
21

g) Tipos de amostragem de insetos em florestas

Para se conhecer a densidade de insetos de uma área florestal podem ser


utilizados alguns métodos como o método da parcela ao acaso (amostragem
direta), o método do transecto em faixas, o método de sensoriamento remoto, da
pesagem de excrementos, do uso de inseticidas e de armadilhas.

Parcela ao acaso: é o método mais comum para se quantificar a população dos


insetos. Consiste na marcação de parcelas de tamanho fixo, distribuídas ao acaso
ou sistematicamente na área, e na contagem do número de insetos presentes
nelas, que permitirá estimar a densidade da praga na área. No caso de
amostragem de formigas cortadeiras, por exemplo, marcam-se parcelas nas áreas
dos talhões, contam-se os formigueiros presentes nelas e estima-se o número de
formigueiros de diferentes tamanhos por hectare. No caso de amostragem de
lagartas desfolhadoras, cada parcela pode ser representada por um galho de uma
árvore, possibilitando estimar o número de lagartas por metro quadrado de
folhagem. Este método poderá também ser realizado para contagens de insetos
em outras partes da árvore, no solo, no subbosque etc.

Transecto: o método do transecto consiste na marcação de uma linha imaginária


principal de comprimento predeterminado e na contagem da população de insetos
em uma largura predefinida ao longo do transecto. Pode ser utilizado para
amostrar formigas cortadeiras, cupins, besouros e lagartas desfolhadoras em
áreas de plantio, contando-se as mudas atacadas ao longo do transecto, que
geralmente corresponde à linha de plantio.

Sensoriamento remoto: o método do sensoriamento remoto consiste na


utilização de fotografias aéreas ou imagens de satélite para detectar a ocorrência
de focos de insetos-praga. Através destas técnicas é possível observar a
fenologia, regeneração, áreas danificadas, avanço de epidemias, fogo etc. No caso
de epizootias é fácil investigar se os ataques estão se estendendo, onde existem
áreas potencialmente em perigo e onde se deve efetuar o combate e concentrar as
medidas de controle. As imagens aéreas constituem o método mais rápido e
eficiente para amostragem de danos em grandes áreas de florestas, sejam elas
nativas ou cultivadas. Este método normalmente quantifica os danos, mas não a
população do inseto. Esta é estimada baseando-se no tipo de dano e extensão da
área afetada. A análise das imagens deve ser acompanhada por uma amostragem
de campo, na qual se identifica o inseto, ou grupo que está causando danos, bem
como outros fatores que poderiam afetar a interpretação das imagens. Este
método pode ser utilizado para amostrar formigas cortadeiras, lagartas
desfolhadoras, broqueadores, cupins; entretanto, esses levantamentos não são
comuns no Brasil e sim na Europa e América do Norte. Os principais sistemas de
22

imagem orbital disponível no Brasil e que poderiam ser utilizados para amostragem
de insetos em reflorestamentos são: Landsat (pixel de 20x20m) e o Spot (pixel de
5x5m).

Pesagem de excrementos: a pesagem de excrementos consiste na coleta dos


excrementos dos insetos com um coletor de pano estendido sob a planta e depois,
aplicando-se índices de digestibilidade, estima-se a população presente.
Conhecendo-se a digestibilidade aparente e o peso seco dos excrementos é
possível estimar o peso seco das folhas e a área foliar consumido, além do
tamanho da população de insetos. Estes dados podem ser facilmente obtidos em
laboratório, bastando-se criar os insetos e medir, para cada estádio: a área foliar
consumida; o tamanho e o peso seco das fezes e a relação área-peso das folhas.
Foi utilizado em poucos casos para amostrar lagartas desfolhadoras no Brasil.

Choque de inseticidas: consiste na aplicação de um produto potente sobre uma


área ou plantas que estão sendo atacadas. Os insetos mortos por sua ação são
coletados em panos ou plásticos de área conhecida, que devem ser previamente
estendidos sob as plantas. A seguir procede-se à contagem dos insetos que
caíram nos panos, e estima-se a população total da área infestada. Este método
pode ser, ainda, utilizado para testar produtos e dosagens de inseticidas: colocam-
se os panos distribuídos na área; pulveriza-se a área com o produto e/ou
dosagens a serem testadas; contam-se os insetos que caíram nos panos;
pulveriza-se novamente a área com uma “bomba” (um produto ou mistura
altamente potente); contam-se novamente os insetos e calcula-se a percentagem
de eficiência dos tratamentos.

Armadilhas luminosas: baseia-se na distribuição aleatória das armadilhas no


campo, as quais permanecem ligadas por um período pré-fixado. No final de cada
período, os insetos coletados são levados ao laboratório para contagem e
identificação. Em empresas florestais, a utilização de armadilhas luminosas tem
sido muito eficiente na amostragem de lepidópteros e coleópteros. Amostragens
regulares durante todas as estações do ano têm permitido estabelecer curvas de
flutuação populacional das espécies mais freqüentes. Este método é um dos mais
eficientes para a amostragem de insetos noturnos, podendo também, em algumas
situações, ser aplicado no controle de algumas pragas.

Armadilha com atrativos: utilizam-se armadilhas de diferentes formas contendo


atrativos como feromônios ou outras substâncias. Esse tipo de armadilha é usado
na amostragem de escolitídeos (broqueadores) e para serradores. Os atrativos
mais usados são o etanol e alguns feromônios como o Pheroprax e o Linoprax,
para o caso de escolitídeos, e melaço de cana para o caso de serradores. No caso
desses feromônios, as distâncias entre armadilhas devem ser de 100 e 30 m,
23

respectivamente, ambas instaladas a um metro do solo, numa densidade de 1 a


3/ha. O melaço de cana é colocado em frascos caça-mosca, que são distribuídos
na periferia do reflorestamento.

Árvores armadilha: empregadas para detectar e amostrar a vespa-da-madeira


(broqueador). Consiste em escolher 5 árvores agrupadas de diâmetro menor que
20 cm, numerá-las e matá-las para atrair as vespas. Após a vistoria deve-se
inocular o nematóide (Bedinghia siricidicola) com um martelo aplicador de 30 em
30 cm no tronco da árvore derrubada.

9. MÉTODOS DE CONTROLE USADOS NO MIP

9.1. MÉTODO LEGISLATIVO


É um método de controle que se baseia em leis, decretos e portarias,
quer federais ou estaduais, que obrigam o cumprimento de medidas de controle
como:

a) Serviço quarentenário: previne a entrada de pragas exóticas e impede a


disseminação das nativas. Este serviço é executado pelo Serviço de Defesa
Sanitária Vegetal, órgão do Ministério da Agricultura, cujos técnicos
inspecionam portos, aeroportos e fronteiras, procurando tratar, destruir ou
impedir a entrada de vegetais e animais atacados, através da quarentena. Este
serviço atua, também, em casos de exportação de produtos agrícolas e
florestais contendo pragas. Ex: Exigência de Laudo Fitossanitário para
exportação de toras de eucalipto para a Europa.

b) Medidas obrigatórias: são medidas legais que obrigam ao reflorestador o


controle de determinadas pragas consideradas limitantes para os povoamentos
o
florestais. Ex: No Rio Grande do Sul, existe a lei n 2869 de 25/06/56, que
obriga a coleta e queima de galhos de acácia negra para diminuir a infestação
do serrador Oncideres impluviata (Coleoptera: Cerambycidae).

o
c) Lei dos agrotóxicos: a lei n 7802/89, regulamentada pelo decreto nº 4074/02,
tem por finalidade controlar a fabricação, formulação, comércio e uso
adequado, em termos de toxicidade, segurança, eficiência e idoneidade dos
inseticidas, recolhimento de embalagens, entre outros, além de obrigar o uso
do Receituário Agronômico (RA) para qualquer atividade envolvendo o uso
destes produtos. O RA é um parecer técnico sobre a situação fitossanitária do
reflorestamento e que tem a finalidade de instituir o uso adequado dos
agrotóxicos. Tem por objetivo maximizar a eficiência no controle com o uso
24

mais racional de inseticidas. O RA é obrigatório para a aquisição e aplicação de


produtos fitossanitários e é de competência exclusiva de Engenheiros
Florestais e Agrônomos.

9.2. MÉTODO MECÂNICO


Consiste na utilização de medidas de controle que causem a destruição
direta dos insetos ou que impeçam seus danos, tais como:

a) Catação manual: baseia-se na coleta e na destruição direta dos insetos que


estão causando prejuízos. Pode ser utilizada em pequenas áreas e quando a
mão-de-obra é barata. Ex: coleta de besouros Costalimaita ferruginea vulgata
(Coleoptera: Chrysomelidae) em viveiros e jardim clonal. Catação manual de
lagarta-rosca em viveiros. Catação manual de Lampetis spp. (Coleoptera:
Buprestidae) em áreas de implantação de Eucalyptus spp. Escavação de
formigueiros iniciais, para matar a rainha. O rendimento desta operação gira em
torno de 1 ha/homem/dia;

b) barreiras: consistem no uso de qualquer prática que impeça ou dificulte o


acesso dos insetos à planta. Usada para proteger árvores isoladas, áreas
experimentais, viveiros etc. Ex: uso de casa-de-vegetação para a produção de
mudas, uso de sombrite em viveiros, uso de cones invertidos nos troncos das
árvores, uso de tintas ou vernizes, uso de embalagens etc..

9.3. MÉTODO FÍSICO


Este método consiste na aplicação de métodos de origem física para o
controle de insetos, tais como:

a) Fogo: utilizado na limpeza de áreas exploradas ou em implantação para facilitar


a localização e tratamento de sauveiros e quenquenzeiros. Também foi
utilizado com sucesso para o controle de Sarsina violascens (Lepidoptera:
Lymantriidae), uma vez que as lagartas das mesmas se aglomeram durante o
dia no tronco das árvores atacadas. O uso do fogo no controle de pragas está
cada vez menos freqüente;

b) Temperatura: consiste na manipulação da temperatura do ambiente, tornando-


a letal aos insetos. Ex. uso do calor em fábricas de processamento de produtos
florestais para eliminar insetos existentes nas madeiras, uso de câmaras
refrigeradas para proteger sementes etc;
25

c) Luminosidade: utilização de uma faixa de radiação luminosa (300 a 770 nm)


para atrair e capturar insetos adultos de hábito noturno. Ex.: armadilhas
luminosas para capturar insetos, uso de armadilhas coloridas, etc..

9.4. MÉTODO ETOLÓGICO OU COMPORTAMENTAL


É um método que se baseia no estudo fisiológico dos insetos visando ao
seu controle através do seu hábito ou comportamento. Existem dois tipos de
controle etológico:

a) Hormônios: são substâncias produzidas por glândulas internas e lançadas


diretamente na hemolinfa dos insetos para provocar reações específicas em
alguma parte de seu corpo. Têm-se os inibidores de síntese de quitina (Ex:
diflubenzuron, usado em iscas formicidas e no controle de lagartas); abamectinas
(iscas formicidas); precocenos e juvenóides;

b) Semioquímicos: são substâncias produzidas por glândulas internas ou


externas e lançadas para fora do corpo dos insetos para provocar reações
específicas em outro indivíduo. São usadas na comunicação entre indivíduos. Os
semioquímicos dividem-se em:

1) Feromônios: servem para a comunicação entre indivíduos da mesma espécie.


Podem ser usados no MIP para: detecção (verificação da presença de pragas em
determinados locais); monitoramento (estimar a densidade da população de
pragas e acompanhar sua flutuação ao longo do tempo), e controle (controlar a
praga). O controle pode ser feito através da:
- coleta massal: consiste em se colocar grande quantidade de
armadilhas para coletar grande número de indivíduos, reduzindo a
população da praga. É eficiente em baixas populações da praga;
- confundimento: consiste em saturar a área com feromônio, visando a
reduzir os acasalamentos, pela desorientação do receptor. Muito
usado em pomares;
- cultura armadilha: consiste em se aplicar o feromônio em faixas de
cultura ou em pontos específicos para atrair os insetos para aquele
local, onde se pode aplicar um produto químico para eliminá-los. O
feromônio de agregação é o mais usado neste processo.

Os feromônios têm sido usados em florestas para o monitoramento e


detecção de pragas. Seu uso no controle é dificultado pelo tamanho das áreas
florestais. Frontalin, Pheroprax e Linoprax são usados para monitorar escolitídeos
26

na Europa. No caso desses feromônios, as distâncias entre armadilhas devem ser


de 30 a 100 m, instaladas a um metro do solo, numa densidade de 1 a 3/ha. Ainda
não são usados no Brasil.

2) Aleloquímicos: servem para a comunicação entre indivíduos de espécies


diferentes. São divididos em:
- cairomônios: a comunicação beneficia o receptor da mensagem, isto
é, são atraentes. Ex. iscas formicidas;
- alomônios: a comunicação beneficia o emissor da mensagem, isto é,
são repelentes. Não tem uso prático em florestas.

9.5. MÉTODO DE RESISTÊNCIA DE PLANTAS A INSETOS


Consiste na seleção e utilização de essências florestais que, devido a
suas características genéticas, são menos danificadas que outras em igualdade de
condições. O uso de espécies, subespécies, variedades ou procedências de
árvores que possuem mecanismos naturais de resistência aos insetos é uma
alternativa muito promissora para o controle de pragas em florestas.

a) Graus de resistência
- imunidade: planta que não sofre danos;
- resistência: planta que, devido a suas características genéticas, sofre
um dano menor que outras em igualdade de condições; e
- suscetibilidade: planta que sofre um dano maior que outras em
igualdade de condições.

b) Tipos de Resistência
- antixenose ou não-preferência: as plantas são menos preferidas para
a alimentação, abrigo ou oviposição pelas pragas;
- antibiose: as plantas afetam a biologia da praga;
- tolerância: a planta suporta o ataque da praga sem afetar sua
produção, nem a biologia da praga;
- pseudo-resistência: resistência não transmitida hereditariamente.

9.6. MÉTODO CULTURAL


Consiste no emprego de certas práticas silviculturais, normalmente
utilizadas para o cultivo das plantas, visando ao controle de pragas.
27

a) Época de plantio: objetiva dessincronizar a fase suscetível da cultura com o


pico de ocorrência da praga. Ex: plantio no início da época chuvosa reduz os
danos de cupins e formigas.
b) Poda: embora a poda não seja uma prática muito comum em florestas, ela
pode ser utilizada para controlar pragas. Ex: poda de galhos baixos de
eucalipto e incorporação dos restos com grade ou rolo-faca para controlar
lagartas desfolhadoras; poda e queima de galhos atacados por serradores etc.
c) Preparo de solo: a aração e gradagem promovem um ressecamento da
camada superficial do solo, matando algumas pragas que passam algum
estádio no solo. Ex: gradagem para matar pupas de Psorocampa denticulata
em eucalipto.
d) Adubação: planta bem nutrida é mais resistente ao ataque de pragas. Ex.
adubação fosfatada reduz o corte de mudas por formigas.
e) Plantio direto: favorece os inimigos naturais das pragas; entretanto; favorece
algumas pragas de solo, como formigas cortadeiras.

9.7. MÉTODO BIOLÓGICO


Consiste na manipulação direta ou indireta dos inimigos naturais
(parasitóides, predadores, patógenos e competidores) das pragas, no sentido de
manter as populações destas pragas em níveis toleráveis. O controle biológico
pode ser de 2 tipos:

- Natural: consiste na ação dos parasitóides, predadores, patógenos e


competidores em ambientes não manipulados pelo homem.
- Aplicado: consiste na introdução e manipulação dos inimigos naturais
pelo homem. Em florestas implantadas, a ocorrência de inimigos
naturais é restrita, em conseqüência da pequena diversidade ecológica
e estabilidade biológica, típica desses locais.

a) Estratégias do controle biológico em florestas

- Manutenção das condições ambientais (CB por conservação): consiste em


manter ou manipular adequadamente as condições do ambiente, para
favorecer a reprodução, abrigo e alimentação dos inimigos naturais. Ex: uso de
faixas de vegetação nativa entre os talhões reflorestados; aumentar a
diversidade de espécies plantadas; manter o subbosque diversificado; restringir
o fogo, a caça, agrotóxico etc. O planejamento da distribuição das reservas de
vegetação natural e a manutenção do subbosque das florestas homogêneas
são fatores imprescindíveis no manejo ambiental. A retirada do subbosque ou a
impossibilidade de seu desenvolvimento acentuam mais ainda o problema da
28

simplificação do ambiente, o que pode promover o desaparecimento dos


inimigos naturais que necessitam do subbosque como local de abrigo,
alimentação ou reprodução. Tanto a distribuição racional das reservas de
vegetação natural como a manutenção de subbosques é fator de vital
importância no controle integrado de pragas em florestas implantadas.

- Multiplicação de agentes nativos (CB por incremento): consiste na criação


e liberação de inimigos naturais nativos da região, para o controle de insetos-
praga. Isso é feito quando a população de inimigos naturais não é suficiente
para controlar as pragas ou quando não é possível melhorar as condições
ambientais. Para tal, é necessário um bom programa de seleção dos IN,
estudos de biologia da praga e do seu IN, estudos da relação praga-IN,
desenvolvimento de técnicas de criação massal e acompanhamento de sua
ação após a liberação. Ex: uso de percevejo predador Podisus spp no controle
de lagartas desfolhadoras.

- Introdução de agentes exóticos (CB Clássico): consiste na introdução de


inimigos naturais nativos num local onde ele não ocorre naturalmente, para o
controle de insetos-pragas. Essa técnica tem sido bastante utilizada para
controlar pragas introduzidas. Devem-se tomar os mesmos cuidados tomados
na multiplicação de agentes nativos, além de verificar se o agente a ser
introduzido não causará problemas com o tempo. Ex: introdução de Bacillus
thuringiensis para controlar lagartas. Introdução do nematóide Bedinghia
siricidicola para controlar a vespa-da-madeira.

b) Agentes de controle biológico

- Predadores: são organismos (insetos, aves, mamíferos, aranhas etc.) que


necessitam alimentar-se de muitos indivíduos para sua sobrevivência e, assim,
matam e comem outros insetos (1 predador consome várias presas). Os
insetos predadores são considerados eficientes controladores de lepidópteros
desfolhadores em floresta, principalmente os hemípteros predadores das
famílias Pentatomidae e Reduviidae. É importante ressaltar que os pássaros
atuam como eficientes predadores de lagartas e adultos de muitas espécies de
lepidópteros desfolhadores. Na literatura encontram-se várias referências dos
mesmos predando principalmente a lagarta desfolhadora Thyrinteina arnobia.
Muitos ácaros são entomófagos e de grande importância na destruição de
insetos. As aranhas são predadoras inespecíficas, muito embora bastante
eficientes. São encontradas grandes populações em povoamentos de
Eucalyptus spp. e principalmente em Pinus spp.
29

- Parasitóides: insetos que durante o seu desenvolvimento necessitam apenas


de um único hospedeiro (1 parasito consome 1 hospedeiro). Os parasitóides
adultos têm vida livre e sua fonte de alimento é diferente da usada na sua fase
jovem. Normalmente, os adultos se alimentam de pólen, néctar e exudações
diversas. As diferentes fases do inseto-praga (ovo-larva-pupa-adulto) podem
ser parasitadas por diferentes espécies de parasitóides. Trichogramma soaresi
(Hymenoptera: Trichogrammatidae): parasitóide oófago. Foi feita uma criação
massal deste parasitóide em laboratório (UFMG) visando à liberação no campo
na tentativa de controlar um foco de Blera varana (Lepidoptera: Notodontidae),
em 16 ha de E. cloesiana.

- Patógenos: são organismos (fungos, bactérias, vírus, nematóides etc.) que


provocam doenças e a morte de insetos-praga. São classificados em:

Fungos: embora no Brasil os melhores resultados de controle biológico


com o uso de fungo tenham sido encontrados no controle de cigarrinhas
e cochonilhas, é bastante comum encontrar lagartas e pupas de
desfolhadores de eucaliptos controlados por fungos dos gêneros
Beauveria, Metarhizium, Paecilomyces e outros.

Bactérias: são empregadas em pulverizações dos esporos sobre a


praga, sendo altamente eficientes. Em reflorestamentos, a bactéria
Bacillus thuringiensis é considerada a mais importante. Seus esporos,
quando ingeridos pelas lagartas provocam a ruptura da parede intestinal,
levando-as à morte. Já existem no mercado muitas variedades desta
bactéria, e as marcas mais comuns no Brasil são: Dipel, Agree e
Thuricide. Estes produtos já são utilizados no Brasil há vários anos
contra lepidópteros desfolhadores de eucalipto e mostraram alta
eficiência. É importante lembrar que a ação deste produto é ineficaz para
as outras fases do inseto, sendo eficiente exclusivamente na fase de
lagarta.

Vírus: são freqüentemente responsáveis pelo controle de muitos surtos


de praga, aparecendo algum tempo depois do estabelecimento do inseto.
É característico em uma lagarta contaminada por vírus paralisar sua
alimentação e movimentação no final do período de 1 a 3 dias, ficando
amarronzadas e apodrecendo, permanecendo nos galhos dependuradas,
secas ou se liquefazendo. Em reflorestamentos no Brasil, tem-se o
exemplo de Sabulodes caberata, portadora de uma virose, que foi capaz
de acabar com um surto em menos de 2 meses em 300 ha de eucalipto
no Vale do Rio Doce, em MG.
30

Nematóides: diversas espécies de nematóides atuam como parasitos


obrigatórios de insetos, podendo atacar a cavidade geral do corpo do
hospedeiro, ocorrer no intestino ou ser parasitos de órgãos reprodutores.
Ex: Bedinghia siricidicola parasitando a vespa-da-madeira Sirex noctilio.

- Competidores: são organismos que competem por algum fator de


sobrevivência necessária aos insetos daninhos. Os insetos são os maiores
competidores das pragas. Ex: competição entre Atta spp. e Acromyrmex spp.

9.8. MÉTODO QUÍMICO


Consiste na utilização de compostos químicos, que aplicados direta ou
indiretamente sobre os insetos, em concentrações adequadas, provocam a sua
morte. Constitui o método mais utilizado no controle de pragas florestais devido a
rapidez na preparação do combate, eficiência imediata, compatibilidade com as
operações silviculturais e baixo custo inicial, porém, apresentam a desvantagem
de não serem específicos, alto custo a longo prazo, além de serem tóxicos ao
homem e a outros animais.
Os inseticidas do grupo dos fosforados e dos piretróides são os mais
empregados no controle de pragas florestais. Dentre eles destacam-se os
formicidas deltametrina e clorpirifós; os lagarticidas deltametrina e fenitrotion e o
cupinicida fention. Os inseticidas à base de sulfluramida são os mais utilizados no
Brasil para o controle de formigas cortadeiras em reflorestamentos. Os inseticidas
biológicos à base de Bacillus thuringiensis também têm sido bastante usados em
florestas como lagarticidas. Os inseticidas do grupo das fenil pirazonas são os
mais recentes lançamentos no controle de pragas florestais. O fipronil é o principio
ativo de isca formicida e de cupinicida.

a) Formulação dos inseticidas

É a arte de transformar um produto técnico numa forma apropriada de


uso chamada de produto comercial. Ele divide-se em:
- Produto técnico: substância que realmente mata o inseto. Contém uma
porcentagem definida de ingrediente ativo (i.a.).
- Inerte: talco, caulim etc.
- Adjuvante: estabilizante, agente molhante, dispersante, espalhante etc.

b) Tipos de formulação de inseticidas


31

- Pó Seco (P): inseticida adsorvido em argila + pó inerte (1 a 10% de i.a.).


Ex: K-Othrine 2P.
- Pó Molhável (PM): inseticida + inerte + agente molhante (20 a 80% de i.a.).
Ex: Dipel PM.
- Pó Solúvel (PS, TS): inseticida puro em pó (50 a 90% de i.a.).
- Granulados (G, GR): inseticida + solvente + inerte (1 a 10% de i.a.). Ex:
Mirex-S.
- Concentrados Emulsionáveis (CE): inseticida + solvente + emulsionante (5
a 100% de i.a.). Ex: Lebaycid 500 CE.
- Soluções Concentradas (ED, UBV): inseticida + solvente (ED =
eletrodinâmica, UBV = ultrabaixo volume). Ex: Sumithion UBV.
- Suspensão Concentrada (SC): inseticida líquido puro. Ex: Carbaril SC.
- Gasosos: inseticida líquido ou sólido que gaseifica em contato com o ar.
Ex: Bromex.
- Aerossóis: inseticida + gás propulsor + base oleosa + solvente auxiliar +
ativador + perfume.
- Pasta (PF): inseticida pastoso. Ex: Gastoxin.
- Suspensão líquida (GrDA ou WG): inseticida disperso em partículas
sólidas micronizadas em meio liquido. Ex: Tuit NA.

c) Classificação dos inseticidas

- quanto a finalidade: aficidas (pulgões); formicidas (formigas); cupinicidas,


etc;
- quanto a forma de ação: contato (cutícula); ingestão (oral); fumigação
(respiração);
- quanto a forma de translocação no hospedeiro: sistêmicos (circula na
seiva da planta); profundidade (ação translaminar);
- quanto a toxicidade: altamente tóxico (tarja vermelha); medianamente
tóxico (tarja amarela); pouco tóxico (tarja azul) e praticamente atóxico
(tarja verde).
- quanto a origem:
- inorgânicos: enxofre, arsênio, mercúrio etc;
- de origem vegetal: nicotina, piretro, rotenona, óleo de soja etc.
- sintéticos: clorados, clorofosforados, fosforados, carbamatos,
piretróides, reguladores de crescimento, microbianos e fumigantes
inorgânicos.

d) Características dos grupos dos inseticidas

- Clorados: todos proibidos para o uso em florestas; compõem-se de


átomos de Cl, C, H e eventualmente O; alta persistência no ambiente;
32

pouco voláteis; baixa solubilidade; lipossolúveis; bioacumulativos


(aumentam a concentração nos tecidos com o aumento de peso);
biomagnificativos (aumentam a concentração ao longo da cadeia trófica);
são carcinogênicos (provocam câncer); alto espectro de ação (não são
específicos); e outros. Ex. DDT, BHC, Aldrin, endossulfan, dodecacloro.
- Fosforados: compõem-se de derivados do ácido fosfórico; alta toxicidade
aguda a mamíferos; não são bioacumulativos; alta volatilidade; são
inibidores da acetilcolinesterase. Ex. clorpirifós, fention, fenitrotion,
sumition.
- Carbamatos: compõem-se de derivados do ácido carbâmico; alta
volatilidade; não são bioacumulativos; baixa persistência no ambiente;
inibidores da acetilcolinesterase. Ex. carbufuran, carbossulfan, carbaril.
- Piretróides: compõem-se de derivados dos ácidos crisantêmico e pirétrico;
fotoestáveis; baixa toxicidade a mamíferos; repelentes às pragas; induzem
resistência rapidamente; baixa estabilidade no solo; alta toxicidade a
peixes; alta potência; pouco voláteis; interferem no fluxo de íons através
das células nervosas. Ex. deltametrina, permetrina, cipermetrina.
- Inibidores de síntese de quitina: inibem a formação da cutícula do inseto;
baixa estabilidade à luz ultravioleta; seletivos. Ex. diflubenzuron,
ciromazina, buprofezina.
- Juvenóides e Precocenos: afetam o crescimento dos insetos; seletivos;
baixa toxicidade a mamíferos; baixa estabilidade à luz e temperatura. Ex.
metopreno, hidropreno, quinopreno.
- Microbianos: compõem-se de bactérias, vírus, fungos, ou seus produtos;
alta especificidade; não contaminam o ambiente; baixa estabilidade no
ambiente; baixa toxicidade a mamíferos. Ex. Bacillus thuringiensis,
Baculovirus sp., Metarhizium sp, Beauveria sp, Nomurae sp.

e) Mecanismo de ação dos inseticidas

A maioria dos inseticidas possui mecanismo de ação relacionado à


transmissão de impulsos nervosos. No axônio, o impulso é transmitido por meio de
cargas elétricas via variação do potencial elétrico resultante da movimentação de
+ +
íons K e Na através da membrana dos axônios.
+
Em repouso a membrana do axônio é permeável aos íons K e
+ +
impermeável aos íons Na . Assim, existe uma maior concentração de K no interior
+
do axônio e de Na no exterior, gerando uma diferença de potencial elétrico (DDP)
de -60 mV (potencial de repouso) entre o interior e o exterior do axônio.
Devido a um estímulo (ex. um toque no tegumento) a membrana do
+ +
axônio torna-se permeável aos íons Na (abertura do canal de Na ). Com a
+ +
entrada dos íons Na , ocorre uma saída de íons K por repelência de cargas,
+
ficando o interior do axônio com maior concentração de Na e o exterior com maior
33

+
concentração de K . Isso gera uma diferença de potencial elétrico de +40 mV
(potencial de ação) entre o interior e o exterior do axônio. A abertura dos canais de
+
Na dura cerca de 0,002 a 0,003 segundo e a membrana torna-se, novamente,
+ +
impermeável aos íons Na (fechamento do canal de Na ). Este processo é passivo,
ou seja, sem o gasto de energia (ATP).
Para restabelecer o repouso, a membrana do axônio torna-se permeável
+ + +
aos íons K (abertura do canal de K ) e força a entrada de K para o interior do
+ +
axônio através do consumo de ATP que é chamado de BOMBA NA -K . Este
processo é ativo, ou seja, ocorre gasto de energia (ATP). No interior do axônio a
+ +
enzima ATP-ase quebra a ligação ATP-K , liberando K e ATP.
Quando o impulso elétrico chega na porção final do axônio, a membrana
++ ++
próxima à sinápse torna-se permeável a íons Ca (abertura do canal de Ca ),
que ficam no exterior das fendas sinápticas. Estes íons ativam as vesículas
secretoras de substâncias neurotransmissoras (acetilcolina, principalmente),
liberando esta substância na fenda sináptica. A substância neurotransmissora
acopla-se ao receptor sináptico da membrana pós-sináptica do outro axônio,
++
transmitindo o impulso elétrico. A membrana se torna impermeável ao Ca
++
(fechamento do canal de Ca ), que volta para o exterior do axônio.
Após a transmissão do impulso elétrico, ocorre a liberação da enzima
neurotransmissora (acetilcolinesterase), que degrada a acetilcolina, ligada ao
receptor pós-sináptico, em colina e ácido acético, cessando a transmissão do
impulso e tornando a membrana pós-sináptica livre para receber um novo
estímulo.
Desta forma, o impulso segue até um músculo específico que irá reagir
(contrair, por exemplo) e isso é chamado de ação excitatória. Para que este
músculo volte à posição normal (relaxar) o cérebro deve enviar uma nova
mensagem, chamada de ação inibitória. Esta nova mensagem é transmitida pelos
axônios e pelas sinápses inibitórias, num processo semelhante ao que ocorre nas
sinápses excitatórias, porém, o neurotransmissor é o ácido -aminobutírico
-
(GABA) e o íon envolvido é o Cl .
O mecanismo de ação dos principais grupos de inseticidas é:
- Organofosforados e Carbamatos: ligam-se a acetilcolinesterase
inativando-a e impedindo que ocorra a quebra da acetilcolina. Com isso os
receptores pós-sinápticos ficam sobrecarregados e não receberão novos
estímulos. Isso faz com que não chegue estímulos aos músculos, o que
paralisará a respiração muscular, causando a morte do inseto.
- Clorados do Grupo do DDT e Piretróides: atrasam o fechamento dos
+
canais de Na , hiperexcitando o axônio e levando à exaustão muscular.
- Clorados do Grupo do BHC, Neonicotinóides e Ciclodienos: acoplam-
-
se ao receptor do GABA, impedindo a abertura dos canais de Cl ,
provocando hiperexcitação, convulsões, paralisia e morte do inseto.
34

- Lactonas ou Avermectinas: simulam a ação do GABA, favorecendo a


-
entrada de Cl com mais intensidade, provocando paralisia.
- Precocenos: transformam os insetos em adultóides (insetos adultos
pequenos e estéreis)
- Juvenóides: induzem a permanência do inseto na fase jovem, não se
transformando em adulto.
- Inibidores de síntese de quitina: impedem a deposição de quitina na
cutícula, que se torna mole e se rompe durante a muda, matando o inseto.
- Inseticidas bacterianos: os esporos ingeridos pelos insetos produzem
cristais tóxicos que dão origem a toxinas letais no intestino do inseto.
- Inseticidas virais: os corpos poliédricos de inclusão ingeridos pelos
insetos liberam vírions no intestino do inseto provocando infecção
generalizada.
- Inseticidas fúngicos: as hifas penetram pela cutícula e produzem
micotoxinas letais ao inseto.

f) Avaliação toxicológica dos Inseticidas

A toxicidade de inseticidas é expressa em Dose Letal 50 (DL50).


Toxicidade aguda: quantidade do inseticida que aplicada uma única vez em cada
indivíduo de uma população resulta em 50% de mortalidade. O inseticida pode ser
aplicado topicamente e via ingestão.

Toxicidade crônica: é a quantidade do inseticida que provoca a morte de 50%


dos indivíduos de uma população-teste, quando aplicada várias vezes em cada um
dos indivíduos dessa população. A dose é determinada após várias aplicações de
subdosagens e os efeitos esperados ocorrem em longo prazo.

Tolerância: concentração máxima dos resíduos de um agrotóxico que é permitida


em um alimento por ocasião da colheita ou consumo.

Carência: é o intervalo de tempo necessário desde a aplicação do produto até a


colheita.

g) Seletividade de inseticidas

De modo geral, os inseticidas disponíveis no mercado têm largo espectro


de ação e, desse modo, são ecologicamente perigosos. Uma das maiores
necessidades do manejo integrado de pragas é o desenvolvimento de inseticidas
seletivos ou mesmo específicos a cada grupo de insetos-praga, para poderem
atuar em sinergismo com outros métodos de controle, principalmente o biológico.
35

Tais substâncias devem ter um espectro de ação suficiente para atuarem somente
nos insetos-alvo, preservando os demais insetos. Como poucos inseticidas
disponíveis no mercado apresentam tal vantagem, podem-se reduzir os impactos
negativos dos outros inseticidas não seletivos, utilizando-os de forma criteriosa,
das seguintes maneiras:
- emprego deles quando necessário: somente quando a população do
inseto estiver acima do nível de dano econômico;
- estabelecimento de condições adequadas de aplicação: dosagens
adequadas e melhores formulações, época, métodos e locais de
aplicação. Exemplos: uso de iscas tóxicas (iscas granuladas) que atraem
somente o inseto-alvo, uso de plantas armadilhas ou cultura armadilha que
são iscadas com feromônio ou com atraentes alimentares ou são
precoces, onde se aplica o inseticida somente nelas, evitando atingir toda
a área; uso de inseticidas sistêmicos que afeta somente os insetos que se
alimentam da planta; aplicação em horários específicos onde somente a
praga está em atividade etc.;
- desenvolvimento de novos inseticidas e de métodos de aplicação mais
específicos e de menor impacto ambiental. Exemplos: uso de inseticidas
biológicos como o Dipel e o Agree à base da bactéria Bacillus
thuringiensis, que são seletivos para lagartas desfolhadoras de essências
florestais e não têm efeito tóxico para hemípteros predadores como o
Podisus spp., que é usado no CB dessas lagartas. Além disso, são
bastante seguros para outros animais e para o homem; uso de inseticidas
fisiológicos como o Dimilin (difluobenzuron) que é um inibidor da síntese
de quitina e tem efeito tóxico somente para insetos imaturos, sendo
seletivo para grande parte dos IN dos insetos.

h) Tecnologia de aplicação

Refere-se aos conhecimentos necessários para aplicar um inseticida no


alvo desejado (praga), na concentração adequada para matá-lo, sem contaminar
outras áreas. Os inseticidas podem ser aplicados:
- via sólida
- pós: aplicado através de polvilhadeiras. Ex. controle de formigas
cortadeiras;
- grânulos: aplicado pelas granulados. Ex. controle de cupins;
- via gasosa: expurgo ou fumigação. Ex. controle de formigas cortadeiras;
- via líquida
- pulverização: pulverizadores (energia hidráulica). Ex: controle de
pragas de viveiros;
36

- atomização: atomizadores (energia pneumática). Ex: controle de


lagartas;
- nebulização: termonebulizadores (neblina). Ex: controle de formigas;
- pulverização eletrodinâmica: electrodyn (carga elétrica).

Procedimentos para calibração do equipamento


Após o diagnóstico do problema é necessário periciar os equipamentos de
aplicação dos agrotóxicos, para prescrever o produto em função desse
equipamento. Para calibrar o equipamento deve-se utilizar a formula:
Q=(600.q)/V.f
em que: Q= volume de aplicação em l/ha; q= vazão do bico em l/minuto; V=
velocidade de deslocamento em km/h; f= faixa de aplicação em metros.
o
1 ) Determinação da faixa de aplicação (f)
- medir a largura da faixa tratada por bico a cada passada do equipamento.
o
2 ) Determinação da velocidade de deslocamento (V)
- marcar o tempo que o equipamento leva para deslocar uma distância conhecida
na velocidade de trabalho.
o
3 ) -Determinação da vazão do bico (q)
- calcular a vazão teórica com base no volume de aplicação (Q) recomendado pelo
fabricante e nos dados de f e V calculados anteriormente, calcular “q” pela fórmula:
q = (V.f.Q)/600.
- consultar as tabelas dos fabricantes de bicos e escolher aquele que tem a vazão
teórica igual à calculada.
- acoplar tais bicos ao equipamento e calcular a vazão real;
- medir o volume aplicado por minuto, com o equipamento parado, acelerado na
velocidade de trabalho.
A diferença entre a vazão real e a teórica não deve ultrapassar 10%,
caso ocorra, trocar os bicos por novos.
o
4 ) Determinação do volume realmente aplicado
- com base nos dados de f, V e “q real”, anteriormente calculados, calcular Q pela
formula: Q=(600.q)/V.f
o
5 ) Determinação da quantidade de inseticida a ser adicionada ao
equipamento
- após todos esses passos é possível calcular a quantidade de produto a ser
adicionada ao equipamento, usando as informações que constam na bula dos
produtos.
37

i) Cuidados na aplicação de defensivos

- ler atentamente as instruções no rótulo do produto;


- usar todos os Equipamentos de Proteção Individual (EPI's) recomendados;
- procurar informações técnicas;
- não abrir embalagens em ambientes fechados;
- usar água limpa para o preparo da calda;
- guardar os defensivos em local adequado;
- nunca fazer aplicações nos dias de ventos fortes;
- afastar crianças e gestantes do local;
- verificar a saúde do trabalhador;
- lavar o material utilizado em local apropriado;
- nunca reutilizar o vasilhame para outros fins;
- tomar banho após a pulverização;
- não fazer uso de bebida alcoólica e de alimentos durante a aplicação; e
- respeitar o período de carência etc.;
- em caso de intoxicação procurar um médico munido da embalagem do
produto, para que o especialista saiba que antídoto usar.
38

10. MANEJO INTEGRADO DE INSETOS-PRAGA FLORESTAIS

10.1. PRAGAS DE VIVEIROS FLORESTAIS


A fase de viveiro é a mais suscetível do desenvolvimento de uma floresta
implantada e, quando mal planejada, poderá comprometer todas as operações
seguintes, inviabilizando o projeto de reflorestamento. A tecnologia de produção de
mudas florestais teve grande avanço nos últimos anos, deixando a produção de
mudas por sementes em sacos plásticos depositados sobre o solo, para a
produção por estaquia em tubetes colocados em viveiros suspensos, chegando
até as casas de vegetação com a micro-propagação. Durante esse percurso a
produção de mudas florestais teve que enfrentar diversos fatores que contribuíam
para o insucesso do empreendimento, como as pragas e doenças. As principais
pragas que podem danificar as mudas florestais são as lagartas-rosca, lagarta-
elasmo, grilos, paquinhas, cupins, formigas cortadeiras, besouros desfolhadores e
moscas minadoras.
Geralmente, o que determina a ocorrência dessas pragas é o tipo de
sistema de produção de mudas (viveiros suspensos ou não) e o tipo de manejo
das mudas. Viveiros suspensos têm menor probabilidade de ocorrência de pragas,
pois a maioria delas está associada ao solo, como cupins, paquinhas, formigas e
grilos. O manejo das mudas está relacionado aos cuidados dispensados na sua
produção. Mudas mal nutridas ou viveiros mal cuidados favorecem a ocorrência de
pragas de viveiros.
Embora a suspensão dos viveiros e a produção de mudas em casa de
vegetação tenham reduzido em grande parte a ocorrência de pragas, existem,
ainda, diversas essências florestais nativas e exóticas, que são produzidas pelo
sistema antigo e que, por isso, sofrem o ataque de um grande número de pragas.

a) Principais espécies

As principais espécies de pragas que atacam viveiros florestais estão


distribuídas em diferentes ordens e famílias, conforme descrito na Tabela 5.

TABELA 5. Principais espécies de pragas em viveiros florestais.


39

Nome Comum Nome Científico Família


Lagarta-rosca Agrotis ipsilon Noctuidae
Lagarta-rosca Agrotis repleta Noctuidae
Lagarta-rosca Agrotis subterranea Noctuidae
Lagarta-rosca Spodoptera frugiperda Noctuidae
Lagarta-rosca Spodoptera latifascia Noctuidae
Lagarta-rosca Nomophila noctuella Pyralidae
Grilo Gryllus assimilis Gryllidae
Paquinha Noecurtilla hexadactila Gryllotalpidae
Paquinha Scapteriscus didactyllus Gryllotalpidae
Paquinha Tridactylus politus Tridactylidae
Formigas cortadeiras Acromyrmex spp. Formicidae
Formigas cortadeiras Atta spp. Formicidae
Cupim Armitermes spp. Termitidae
Cupim Cornitermes spp. Termitidae
Cupim Heterotermes spp. Rhinotermitidae
Cupim Procornitermes spp. Termitidae
Cupim Syntermes spp. Termitidae
Mosca minadora Bradisia spp. Liriomyzidae
Mosca minadora Liriomyza spp. Liriomyzidae
Broca-do-cedro Hypsipylla grandella Pyralidae
Lagarta elasmo Elasmopalpus lignosellus Pyralidae
Besouro-amarelo Costalimaita ferruginea Chrysomelidae

b) Reconhecimento das principais espécies

Lagartas-rosca
Espécies: Agrotis spp. e Spodoptera spp (Lepidoptera: Noctuidae)
Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: Agrotis spp. - mariposas com 35 mm, com asas anteriores marrons com
algumas manchas pretas triangulares no ápice, asas posteriores transparentes.
Spodoptera spp - mariposas com 35 mm, com asas anteriores pardo escuras,
asas posteriores branco acinzentadas.
Lagarta: Agrotis spp - 40 a 50 mm, marrom escuro, sem listras longitudinais.
Spodoptera spp - 35 a 40 mm, com três listras amarelas longitudinais na parte
dorsal do corpo.
Injúria: lagartas e adultos têm habito noturno; lagartas abrigam-se em túneis ou
galerias entre os recipientes ou entulhos, ficando enroladas. Elas secionam a
muda no coleto e carregam-na para o abrigo. O ataque é em reboleira. Ocorre a
40

presença de fezes e folhas entre os recipientes, denunciando a presença das


lagartas. Os danos são maiores nos primeiros dias após a germinação. Atacam
eucalipto, acácia-negra, seringueira, pinus, araucária, entre outras.

Grilos
Espécie: Gryllus assimilis Fabr.,1775 (Orthoptera: Gryllidae)
Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: 23 a 28 mm, castanho escuro. Fêmeas com ovipositor longo. Hábito
noturno, ficando escondidos em túneis entre os recipientes ou sob os entulhos
durante o dia.
Ninfas: semelhantes aos adultos.
Injúria: comem raízes, folhas e caules tenros. Cortam as mudas no coleto e
carregam-na para o abrigo. O ataque é aleatório e não em reboleira como nas
lagartas-rosca. Perfuram embalagens. Atacam eucalipto, acácia-negra,
seringueira, pinus, araucária, entre outras.

Paquinhas
Espécies: Noecurtilla hexadactila e Scapteriscus didactyllus (Orthoptera:
Gryllotalpidae), Tridactylus politus (Orthoptera: Gryllotalpidae).
Ocorrência: todo Brasil.
Adultos: 30 a 50 mm, corpo aveludado, cinza ou marrom no dorso, amarelado no
ventre, asa anterior cobre metade do corpo, primeiro par de pernas fossorial.
Vivem de 3 a 5 anos sob o solo onde abrem galerias.
Ninfas: semelhante aos adultos.
Injuria: comem as raízes das mudas, abrem galerias no solo provocando sua
elevação, reduzindo a germinação das sementes e destruindo os recipientes. Dano
é mais importante em sementeiras, principalmente de seringueira, mas atacam
eucalipto, acácia-negra, entre outras.

Formigas cortadeiras
Espécies: Atta spp. e Acromyrmex spp. (Hymenoptera: Formicidae)
Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: formiga marrom avermelhada, 3 a 15 mm, clípeo bem desenvolvido, sem
ocelos, abdome peciolado, apresenta 2 segmentos entre o gáster e o tórax
conhecidos como pecíolo e pós-pecíolo. Vivem em colônias sob o solo, com
milhões de indivíduos. Insetos sociais.
Injúria: cortam e transportam grandes quantidades de mudas em pouco tempo,
levando para o interior do formigueiro, principalmente durante a noite. Atacam
eucalipto, acácia-negra, seringueira, pinus, araucária, entre outras.

Cupins
41

Espécies: Armitermes spp., Cornitermes spp., Procornitermes spp., Syntermes


spp. (Isoptera: Termitidae), Heterotermes spp. (Isoptera: Rhinotermitidae).
Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: cupim amarelo claro a escuro, indivíduos com cabeça marrom escura, 3 a
5 mm, abdome séssil. Vivem em colônias sob o solo, com milhões de indivíduos.
Insetos sociais.
Injuria: corroem a casca das raízes das mudas abaixo do coleto, matando a planta
por dessecação. Perfuram os recipientes.

Moscas-minadoras
Espécies: Bradisia spp. e Liriomyza spp. (Diptera: Liriomyzidae)
Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: mosca de 1 mm de comprimento, cor preta.
Larvas: 1a 3 mm, brancas.
Injuria: larvas abrem galerias no mesófilo foliar e na casca das estacas na casa de
vegetação, reduzindo a brotação.

Besouro-amarelo
Espécie: Costalimaita ferruginea Fabr., 1801 (Coleoptera: Chrysomelidae)
Ocorrência: RN, PA, MA, BA, GO, SP, PR, MG.
Adulto: 5 a 6 mm, forma elíptica, cor amarelo-claro-brilhante. Caem ao serem
tocados.
Larva: no solo.
Injúria: Rendilham as folhas jovens, podendo destruir grande quantidade de
mudas quando o ataque é intenso.

Broca-do-cedro
Espécie: Hypsipyla grandella Zeller, 1848 (Lepidoptera: Pyralidae)
Ocorrência: todo Brasil
Adulto: asas anteriores cinza e posteriores branco-hialinas. A envergadura da
fêmea varia de 28 a 34 mm e no macho de 22 a 26 mm
Lagarta: rósea a azulada no último ínstar. Abre galerias nos ramos, que ficam
exudando seiva misturada à serragem.
Pupa: marrons, dentro de um casulo de teia, na galeria.
Injúria: destroem mudas em viveiro. No campo atacam frutos e ramos apicais
causando bifurcação do fuste, reduzindo seu valor comercial.

Lagarta-elasmo
Espécie: Elasmopalpus lignocelus Zeller, 1848 (Lepidoptera: Pieridae)
42

Adulto - A mariposa mede de 15 a 25 mm de envergadura, com as asas de


coloração cinza.
Lagarta - 15 mm, verde azulada, salta quando tocada; na base da planta encontra-
se um casulo de teia misturado com excrementos e terra.
Injúria - abre galerias nas brotações e mudas de araucária, na região do coleto da
planta, provocando o sintoma conhecido por “coração morto”.

c) Monitoramento de pragas de viveiros

As empresas florestais brasileiras têm programas de monitoramento de


pragas nos viveiros para determinar se essas mudas sofrerão tratamento químico.
Esse monitoramento é feito por viveiristas treinados para reconhecer as principais
pragas, onde os mesmos anotam em determinada ficha todas as informações que
observarem durante o monitoramento (Figura 13).
O nível de controle para as pragas de viveiros é de 2 a 5 % de mudas
atacadas. Deve-se fazer um levantamento constante dos danos as mudas
enviveiradas para a detecção imediata dos danos e para verificar a necessidade
do tratamento, em cada unidade de manejo que pode ser um canteiro ou uma
casa-de-vegetação:
1º – selecionar três pontos aleatórios em cada unidade de manejo;

2º - em cada ponto, contar o número total de mudas e o número de


2
mudas danificadas pelos insetos numa área de aproximadamente 1m ;
3º - calcular a % mudas danificadas;
4º - fazer o tratamento químico das mudas se atingir o nível de controle
de 2 a 5% de mudas atacadas.
43

Ficha de monitoramento de pragas de viveiros


Viveiro: Canteiro: Data:
Espécie: Idade: Monitor:
Praga:
Número de mudas
Amostra
Totais Danificadas

Total
% Mudas atacadas: Ação:
Observações:

Data: Ass. Monitor: Ass. Supervisor:

FIGURA 13. Ficha de monitoramento de pragas em viveiros florestais.


44

d) Estratégias e táticas do MIP-viveiros

O grau de incidência de pragas num viveiro florestal depende de alguns


pré-requisitos básicos adotados antes mesmo de sua instalação. A escolha do
local para instalar o viveiro é um requisito fundamental para a redução das pragas
que virão a aparecer. Portanto, deve-se selecionar um local que desfavoreça a
ocorrência de pragas de viveiros. Por exemplo, os terrenos arenosos favorecem a
ocorrência de paquinhas, principalmente em canteiros de seringueira, por isso
devem ser evitados. Outro pré-requisito importante é a eliminação das colônias de
formigas cortadeiras da área do viveiro e em 200 metros ao seu redor antes do
preparo do terreno. Nesse caso, utilizam-se todos os métodos de controle químico,
como isca granulada, pó seco e termonebulização. Após a instalação do viveiro,
somente os pós-secos e a termonebulização são recomendados, pois têm ação
rápida e são compatíveis com a irrigação.
Outra preocupação é quanto ao sistema de produção de mudas. Viveiros
suspensos têm menor probabilidade de ocorrência de pragas, pois a maioria delas
está associada ao solo, como cupins, paquinhas, formigas e grilos; portanto,
devem ser preferidos.

- Táticas de controle cultural

Procurar manter uma faixa limpa ao redor do viveiro para impedir o


acesso de lagartas-rosca que, geralmente desenvolvem-se em pastagens
adjacentes ao viveiro.
Retirar os entulhos da área do viveiro para evitar o aparecimento de
grilos, paquinhas e lagartas-rosca, que se alojam e reproduzem nesses locais.
Fazer covas bem distribuídas no viveiro e enchê-las com esterco para atrair
e capturar paquinhas e grilos, que são atraídos pelo esterco. Reservar uma área
específica para armazenar e manipular esterco, quando é utilizado como substrato
das mudas.
Eliminação das plantas atacadas no viveiro pela broca do cedro.

- Táticas de controle mecânico

Fazer coleta manual de besouros desfolhadores, grilos e lagartas-rosca


durante a movimentação rotineira das mudas. Esse método tem se mostrado tão
eficiente quanto o controle químico. No entanto, isso só é viável se o ataque for
pequeno.
45

O cultivo das mudas em casa-de-vegetação ou em casas teladas impede


o acesso de muitas pragas às mudas.

- Táticas de controle físico

Instalar permanentemente armadilhas luminosas para capturar insetos


(lagartas-rosca e broca-do-cedro, principalmente).

- Táticas de controle químico

A aplicação de inseticidas em viveiros de mudas florestais pode ser feita


através de pulverizadores costais ou através da água de irrigação, em viveiros
abertos, ou por nebulização, em casas-de-vegetação. As recomendações de
controle químico para as principais pragas de viveiros são descritas a seguir.

- Formigas cortadeiras: os formigueiros devem ser mortos assim que


encontrados, independente de avaliação da percentagem de mudas
danificadas, pois um único formigueiro é suficiente para provocar danos
maiores que a nível de perda aceitável num único dia. A utilização de pós-
secos e da termonebulização (Tabela 6), constituem os métodos de controle
químico indicados para o controle de formigas cortadeiras em viveiros, pois as
iscas granuladas não são compatíveis com a irrigação. Consiste na mistura do
ingrediente ativo num veículo (querosene ou óleo diesel) que são “queimados”
no aparelho e a fumaça resultante transporta o produto para o interior do
formigueiro, matando-o rapidamente. O produto é aplicado até que se sature o
formigueiro com fumaça, o que ocorre quando a fumaça estiver saindo por
todos os olheiros. A utilização dos pós-secos consiste na aplicação de um
inseticida na formulação pó, diretamente no formigueiro, usando-se uma
2
polvilhadeira. É recomendado para formigueiros pequenos (até 5 m ) e em
dias secos, pois quando o solo está molhado dificulta a penetração do produto.
Deve-se escolher um olheiro bem grande e mais ativo e introduzir a mangueira
da polvilhadeira e aplicar o produto, tomando o cuidado de não forçar a
mangueira dentro do canal, para não entupir a saída do pó.

TABELA 6. Principais produtos recomendados no combate a formigas cortadeiras


em viveiros.

Métodos Nome Técnico Nome Comercial Dosagem


Termonebulização Clorpirifós Lakree Fogging Saturação do
formigueiro
2
Pós-secos Deltametrina K-Othrine 2P N.A. 6 g/m de terra solta
46

- Cupins de mudas: o ataque de cupins só ocorre em viveiros convencionais


com produção de mudas em sacos plásticos sobre o solo. Viveiros modernos
com produção de mudas em tubetes não têm problemas com cupim, pois os
canteiros são suspensos, impedindo o ataque da praga. Caso ocorram, os
cupins podem ser combatidos de duas formas:

- Tratamento do cupinzeiro: no caso de cupim de montículo, deve-se localizar


o cupinzeiro, perfurá-lo com um vazador até atingir a câmara de celulose e
introduzir uma mangueira com um funil e tratá-lo com inseticida (Tabela 7).
Não há necessidade de fechar o orifício após o tratamento, pois os cupins
se encarregam disso.

TABELA 7. Principais produtos recomendados para tratamento de cupinzeiros em


viveiros florestais.

Nome Técnico Nome Comercial Dosagem


Fention Lebaycid 500 CE 300 mL/100 L água - 1 L
calda/ninho
Imidacloprid Confidor 700 GrDA 30 g/100L água - 1 L calda/ninho
Fipronil Regent 20 G 5 g/ninho

- Tratamento das mudas: Nesse caso, não há necessidade de localizar o


cupinzeiro. Deve-se fazer um levantamento dos danos às mudas
enviveiradas, para verificar a necessidade do tratamento; se atingir o nível
de controle (2 a 5% de mudas atacadas), fazer o tratamento químico das
mudas com o inseticida (Tabela 8).

TABELA 8. Principais produtos recomendados para o tratamento de mudas contra


cupins em viveiros.

Nome Técnico Nome Comercial Dosagem


500g/100L – pulverizar as mudas
Fipronil Tuit NA
no coleto.

- Outras pragas: Deve-se fazer um levantamento dos danos às mudas


enviveiradas, para verificar a necessidade do tratamento; se atingir o nível de
controle (2 a 5% de mudas atacadas), fazer o tratamento químico das mudas,
com inseticida (Tabela 9).
47

TABELA 9. Principais produtos recomendados para o tratamento de mudas


contra diferentes pragas em viveiros.

Praga Nome Técnico Nome Comercial Dosagem


Acephate Orthene 750 BR 100 g/100 l água -
pulverizar as mudas nos
canteiros
deltametrina Decis 25 CE 250 ml/100 l água -
Lagarta-rosca pulverizar as mudas nos
canteiros
Bacillus Dipel PM 400 g/100 l água -
turingiensis pulverizar as mudas nos
canteiros
Grilo e deltametrina Decis 25 CE 250 ml/100 l água -
Paquinha pulverizar as mudas nos
canteiros
Besouro- deltametrina Decis 25 CE 250 ml/100 l água -
amarelo-do- pulverizar as mudas nos
eucalipto canteiros
Mosca deltametrina Decis 25 CE 250 ml/100 l água -
minadora pulverizar as mudas nos
canteiros

10.2. MANEJO DE LAGARTAS DESFOLHADORAS


Atualmente, os insetos desfolhadores são um dos mais importantes
agentes daninhos às florestas no Brasil; levantamentos e depoimentos de vários
autores comprovam tal evidência. O desfolhamento afeta o crescimento das
árvores, fundamentalmente, pela redução da quantidade de tecido fotossintético, o
que implica na redução direta da quantidade de hidratos de carbono disponíveis
para o crescimento. Seu ataque à planta se dá de forma característica e distinta
dos outros agentes desfolhadores de florestas, como os coleópteros desfolhadores
e as formigas cortadeiras. Assim: os lepidópteros devoram completamente o limbo
foliar, atacando a árvore de baixo para cima; as formigas cortadeiras devoram
completamente o limbo foliar atacando a árvore de cima para baixo; e os
coleópteros perfuram as folhas em qualquer parte da planta.
No Brasil, os surtos de lepidópteros desfolhadores ocorrem desde longa
data. Sarcina violascens (Lepidoptera: Lymantriidae) foi registrada atacando
48

50.000 árvores de Eucalyptus terenticornis no Rio de Janeiro. A ocorrência de


Eupseudosoma involuta (Lepidoptera: Arctiidae) é citada em 46 ha de E. saligna,
E. alba e E. grandis em Mogi-Guaçu, SP, no ano de 1970 e outra de Euselasia
eucerus (Lepidoptera: Riodinidae) em cerca de 240 ha de E. grandis em Salto, SP,
em 1972.
Eacles imperialis magnifica (Lepidoptera: Saturniidae) é encontrada em
inúmeros hospedeiros, tanto silvestres como cultivados, e sua ocorrência
associada a plantios de eucalipto é relativamente recente. Em 1990, desfolhou
totalmente cerca de 100 ha de E. grandis, no município de Linhares (ES).
Em 1985, a espécie Oxydia vesulia (Lepidoptera: Geometridae) foi
detectada pela primeira vez, em caráter epidêmico, numa área de 250 ha de E.
cloesiana, no município de Alagoinhas (BA). As lagartas provocam o
desfolhamento das árvores de maneira descendente, diferindo-se da maioria dos
lepidópteros desfolhadores.
Thyrinteina arnobia (Lepidoptera: Geometridae), considerada o principal
lepidóptero desfolhador de eucalipto no Brasil, é citado desde 1948 por diversos
autores, em dezenas de surtos, em várias regiões do País. Já no primeiro surto de
T. arnobia ocorrido no Brasil em 1948, usou-se o DDT 50-P na base de 5 kg do
produto misturado a 100 kg de talco/ha. Ao longo do tempo, várias outras
situações foram registradas, visando ao controle de lagartas desfolhadoras. Em
1975 testou-se o malatol, fenatol e canfeno clorado para o controle de S.
violascens, E. involuta e E. apisaon, com uso de pulverizadores costais
motorizados, com resultados satisfatórios.
A partir de 1981, com a ocorrência e estabelecimento de T. arnobia na
região de João Pinheiro, MG, a comunidade florestal foi despertada de vez para
um dos problemas mais sérios sobre pragas desfolhadoras da eucaliptocultura
brasileira. A princípio, as atenções foram voltadas para todas as saídas
alternativas que não implicassem no uso de produtos químicos. Todavia, não
houve nenhum tipo de resposta do ambiente, quer seja de fatores climáticos,
parasitóides, predadores ou epizootias, que pudessem amenizar o problema. O
uso de B. thuringiensis sozinho não foi capaz de um resultado satisfatório, uma vez
que a praga se encontrava em superposição de populações. Assim, inicialmente, o
controle químico foi efetuado em áreas experimentais, e com a necessidade de
expansão para áreas maiores, procurou-se desenvolver alguns trabalhos para se
conhecerem melhor as dosagens apropriadas dos produtos, eficiência,
seletividade, poder residual e análise custo-benefício da operação.

a) Principais espécies

As principais espécies de lagartas desfolhadoras de florestas estão


distribuídas em diferentes famílias, conforme descrito na Tabela 10.
49

TABELA 10. Principais espécies de lagartas desfolhadoras florestais.

Pragas Primárias Família Nome Comum Hospedeiros


Apatelodes sericea Eupterotidae apatelodes eucalipto
Blera varana Notodontidae blera eucalipto
Eupseudosoma aberrans Arctiidae lagarta-cachorrinho eucalipto
Eupseudosoma involuta Arctiidae lagarta-cachorrinho eucalipto
Euselasia apisaon Riodinidae lagarta-euselasia eucalipto,
Pinus
Glena spp. Geometridae glena eucalipto,
Pinus
Psorocampa denticulata Notodontidae psorocampa eucalipto
Sabulodes caberata Geometridae lagarta-mede-palmo eucalipto,
crindiuva
Sarsina violascens Lymantriidae mariposa-violácea eucalipto
Thyrinteina arnobia Geometridae lagarta-parda-do- eucalipto
eucalipto
Thyrinteina leucocerae Geometridae lagarta-parda-do- Eucalipto
eucalipto
Adeloneivaia Saturniidae lagarta-da-acacia acácia
subangulata
Automeris sp. Saturniidae automeris eucalipto
Dirphia rosacordis Saturniidae lagarta-da-araucaria araucária
Dirphia araucariae Saturniidae lagarta-da-araucaria araucária
Dirphiopsis epiolina Saturniidae lagarta-da-bracatinga bracatinga
Eacles imagnifica Saturniidae mandarová-do-café eucalipto
Erinnyis ello Sphyngidae madarová-da- seringueira
seringueira
Fugurodes sartinaria Geometridae fugurodes eucalipto,
Pinus
Melanolophia apicalis Geometridae melanolofia Pinus
Oiketicus kirbyi Psychidae bicho-cesto eucalipto
Oxydia apidania Geometridae lagarta-oxidia eucalipto
Oxydia vesulia Geometridae lagarta-oxidia eucalipto
50

b. Reconhecimento das principais espécies

Apatelodes sericea Schaus, 1896 (Lepidoptera: Eupterodidae)


Ocorrência: MG, DF, SP, ES, MT.
Adulto: 35 a 45 mm, cor amarronzada, mancha triangular escura no ápice da asa
anterior, corpo e o abdome ficam curvados para cima, quando em repouso.
Lagarta: 60 mm, achatada, cor cinza com pontuações marrons, pêlos crescem
para frente recobrindo a cabeça.
Pupa: no solo junto ao tronco da árvore, numa profundidade de 3 a 10 cm, na
estação seca.
Encontra-se disseminada por várias regiões produtoras do Brasil e, em
algumas situações, somente com interferência de controle químico tradicional está
sendo possível debelar os surtos.

Blera varana (Lepidoptera: Notodontidae)


Ocorrência: BA, MG, ES, SP.
Adulto: 32 a 35 mm, com asas cinza brilhante, mancha transversal verde musgo
próxima da base da asa anterior.
Lagarta: marrom, com a parte lateral do tórax e porção final do abdome verde.
Pupa: castanha-escura, no solo, dentro de um casulo de restos de matéria seca.
É encontrada associada principalmente às espécies de E. urophylla, E.
alba e E. cloesiana.

Euselasia apisaon Dahman, 1823 (Lepidoptera: Riodinidae)


Ocorrência: MG, SP, RS, SC
Adulto: 25 mm, asas das fêmeas pardo-escuras uniformes, asas dos machos
pardo-escuras com uma mancha avermelhada no centro. Antenas clavadas.
Lagarta: 12 mm, verde-amarelada, com tufos de pêlos amarelos. Hábito gregário.
2
Uma lagarta consome 20 cm de área foliar durante sua vida.
Pupa: marrom-acinzentada, formada na face ventral das folhas das plantas do
subbosque.
Constitui uma das poucas borboletas que estão associadas e causam
dano ao eucalipto. Os surtos têm sido, em muitos casos, controlados por alta
incidência de parasitóides de ovos. À medida que o foco torna-se mais antigo,
aumenta o índice de parasitismo por esses insetos.

Eupseudosoma aberrans Schaus, 1905 (Lepidoptera: Arctiidae)


Ocorrência: MT, PR, RJ, ES, SP, BA, MG
Adulto: 35 a 42 mm, asas brancas, parte dorsal do abdome vermelha, coxas
brancas.
51

Lagarta: 25 mm, cilíndrica, pilosa, amarelada, com quatro tufos de pelos brancos
no tórax e uma pinta preta em cada extremidade do corpo. Derrubam a folha
2
cortando o pecíolo. Uma lagarta consome 195 cm de área foliar durante sua vida.
Pupa: na casca ou nas folhas, envolvida por um casulo amarelo.

Eupseudosoma involuta Sepp, 1852 (Lepidoptera: Arctiidae)


Ocorrência: MT, PR, RJ, ES, SP, BA, MG
Adulto: 32 a 35 mm, asas brancas, parte dorsal do abdome e coxas vermelhas.
Lagarta: 22 mm, cilíndrica, pilosa, amarelo-clara, com quatro tufos de pêlos
brancos no tórax e uma pinta preta extremidade anterior do corpo. Derruba a folha
cortando o pecíolo.
Pupa: idem E. aberrans.

Glena spp. (Lepidoptera: Geometridae)


Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: 21 a 23 mm, asas esbranquiçadas, manchas castanhas difusas, margem
das asas anteriores com pontos negros.
Lagarta: 42 mm, cabeça marrom, corpo liso, verde com manchas brancas. Uma
2
lagarta consome 37 cm de área foliar durante sua vida.
Pupa: no solo, numa profundidade de 5 a 10 cm.
As espécies do gênero Glena são desfolhadoras de eucalipto, mas
também utilizam Pinus patula, Pinus elliottii e Cupressus spp. como hospedeiros.

Psorocampa denticulata Schaus (Lepidoptera: Notodontidae)


Ocorrência: MG, ES, SP.
Adulto: 47 a 57 mm, asas cinza-esbranquiçadas, com duas faixas sinuosas
marrons transversais.
Lagarta: 50 mm, verde-cana, com manchas pretas ao redor dos espiráculos.
Cabeça com duas faixas verdes ladeadas por duas pretas. Libera um líquido
cáustico ao ser tocada.
Pupa: no solo ao redor da árvore, dentro de um casulo.
É considerada uma importante praga para a cultura do eucalipto,
apresentando um elevado potencial biótico e grande voracidade, fazendo com que
as empresas florestais utilizem, em algumas regiões, um controle sistemático em
surtos desses insetos.

Sabulodes caberata Guenée, 1857 (Lepidoptera: Geometridae)


Ocorrência: MG, SP.
Adulto: 42 a 47 mm, asas bege ou amarelo-palha, com pontuações pelo corpo.
52

Lagarta: 50 mm, mede-palmo, corpo verde-escuro, com listras longitudinais


2
amareladas, brancas e pretas. Uma lagarta consome 117 cm de área foliar
durante sua vida.
Pupa: branca, formada entre duas folhas unidas com seda.
As lagartas da espécie são vulgarmente conhecidas por "lagartas mede-
palmo" ou "lagartas de listras do eucalipto". Utiliza como hospedeiros: Eucalyptus
spp., Trema micrantha, Cecropia sp. (Embaúba) e Aegephila sp. (Papagaio).

Sarsina violascens Herrich - Schaeffer, 1856 (Lepidoptera: Lymantriidae)


Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: 42 a 53 mm, asas e corpo castanho-violáceo, com faixas transversais
escuras nas asas.
Lagarta: 40 mm, achatada, coberta com pêlos urticantes comprido marrom claro.
A segmentação do corpo é bem nítida. Fica na base do tronco durante o dia.
Pupa: vermelho-terra no dorso e verde musgo no ventre, formada entre folhas
secas e no tronco.
Os adultos são conhecidos por "mariposa violácea", devido à sua
coloração. Suas lagartas utilizam como hospedeiros: araçazeiro, eucalipto,
goiabeira, Mikania sp. e oliveira cheirosa.

Thyrinteina arnobia Stoll, 1782 (Lepidoptera: Geometridae), Thyrinteina


leucocerae Rindge, 1961 (Lepidoptera: Geometridae)
Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: 35 a 49 mm, asas brancas e pontuações negras bem esparsas. Asas
anteriores com duas listras escuras sinuosas transversais. Antenas pretas (T.
arnobia) ou antenas brancas (T. leucocerae).
2
Lagarta: 50 mm, marrom, semelhante a um galho. Uma lagarta consome 120 cm
de área foliar durante sua vida.
Pupa: pardacenta, formada entre duas folhas, unidas com seda.
Suas lagartas são conhecidas por "lagarta parda", utiliza como
hospedeiros exóticos as seguintes espécies de eucalipto: E. rostrata, E. resinifera,
E. urophylla, E. citriodora, E. grandis, E. terenticornis, E. saligna e E. cloesiana.
Como hospedeiros nativos ela utiliza espécies florestais localizadas ao redor ou no
subbosque dos eucaliptais, tais como pau-terra, tingui, goiabeira, cagaiteiras,
murici, assa-peixe e angico cangalha.

c. Monitoramento de lepidópteros desfolhadores

Monitoramento de adultos: a partir de 1987 teve início no Brasil o Programa


Cooperativo de Monitoramento de Pragas em Florestas (PC-MIP), coordenado
pela UFV, ESALQ/USP e UFPR. Esse programa integra diversas empresas
53

florestais do país que passaram a amostrar as populações de lepidópteros


desfolhadores em suas fazendas através de armadilhas luminosas a cada quinze
dias. Os exemplares são enviados a esses centros de pesquisa para identificação
e cadastramento e análise. As empresas recebiam, então, as coleções
entomológicas representativas das regiões e relatórios quadrimestrais sobre a
dinâmica populacional de cada espécie, os fatores (climáticos) que influenciavam
cada espécie coletada e uma análise do potencial daninho de cada uma naquele
momento, contribuindo para tomada de decisão sobre o controle das mesmas,
pois prevê surtos populacionais de lagartas desfolhadoras nas empresas
cooperadas, relacionando o fluxo populacional das principais pragas com as
condições climáticas de cada região. Assim:

Situação normal: média quinzenal de indivíduos/armadilha < 5


Situação de alerta: média quinzenal de indivíduos/armadilha = 5 a 100
Situação de vistoria: média quinzenal de indivíduos/armadilha = 100 a 3000
(vistoriar os talhões onde estão ocorrendo lagartas).
Situação de Surto: média quinzenal de indivíduos/armadilha > 3000 (controlar as
lagartas nos talhões onde estão ocorrendo).
No entanto, esse monitoramento não indica diretamente a necessidade
de combate às lagartas nos talhões, mas sim um indicativo da ocorrência de
lagartas na região que poderia danificar os talhões. A decisão de efetivo combate é
dada pela amostragem de lagartas diretamente nos talhões.

Monitoramento de lagartas: além da amostragem de adultos, que serve como


parâmetro para previsão de surto, a amostragem de lagartas, diretamente nas
áreas onde os surtos ocorrem, é imprescindível para tomada de decisão sobre a
necessidade e/ou sobre o método de controle mais adequado. Os tipos de
amostragem para lagartas são:

- Parcela ao acaso: consiste na marcação de parcelas de tamanho fixo,


distribuídas ao acaso ou sistematicamente na área, e na contagem do número de
insetos presentes nelas, que permitirá estimar a densidade da praga na área.
Existem dois tipos de amostragem de lagartas usando esse método:

- Número de lagartas/100 folhas: cada amostra corresponde a uma


árvore. São selecionadas ao acaso de 9 a 20 árvores/talhão, seguindo um
plano previamente determinado no escritório (Figura 14). Na árvore,
seleciona-se um galho do terço médio da copa (Figura 15), cujo diâmetro
foi padronizado antes da amostragem, e conta-se o número de lagartas e
o de folhas por galho e anota-se a informação na ficha de amostragem
(Figura 16). Depois se calcula o número de lagartas/100 folhas, usando-se
54

uma regra de três, e a média por talhão. Essa média é a DP, que deve ser
comparada ao NC = 8 lagartas/100 folhas.

Parcelas ao acaso

reserva

2 4
1
7 5
02 3 04

8 9 6 01

03

9 a 20 plantas por talhão

Contagem do
número de folhas e do
número de lagartas no
galho selecionado

FIGURA 14. Esquema da amostragem de parcelas ao acaso para o


monitoramento de lagartas desfolhadoras usando-se o método do
número de lagartas/100 folhas.

- Percentagem de desfolha: cada amostra corresponde a uma árvore. São


selecionadas ao acaso de 9 a 20 árvores/talhão, seguindo-se um plano
previamente determinado no escritório. Na árvore determina-se o grau de
desfolha que possui, usando uma tabela pictórica (Figura 15), que
classifica as árvores em classes de desfolha: 0, 30, 70 e 100%. Ao final,
anota-se a informação na ficha de amostragem (Figura16) e calcula-se a
média de desfolha por talhão. Essa média é a DP, que deve ser
comparada ao NC = 30% de desfolha.
55

0% 30% 70% 100%

FIGURA 15. Esquema da amostragem de parcelas ao acaso para o


monitoramento de lagartas desfolhadoras usando o método de
percentagem de desfolha.

- Pesagem de excrementos: baseia-se na coleta dos excrementos dos


insetos com um pano estendido sob a planta e depois, aplicando-se
índices de digestibilidade, estima-se a população presente. Para isso, é
necessário conhecer a digestibilidade aparente e o peso seco dos
excrementos para estimar o peso seco das folhas e a área foliar
consumida, além do tamanho da população de insetos. Esses dados
podem ser obtidos em laboratório, bastando-se criar os insetos e medir,
para cada estádio: a área foliar consumida; o tamanho e o peso seco das
fezes, e a relação área-peso das folhas. Trata-se de um método muito
pouco usado na área florestal para estimar a DP, pois demanda estudos
prévios de laboratório e, também, pelo fato da ocorrência simultânea de
diversas espécies de lagartas numa mesma área. Entretanto, pode ser
utilizado para verificar a efetividade da aplicação de lagarticidas, ao se
medir o aumento ou a redução da quantidade de fezes antes e após a
aplicação.

D. Estratégias e táticas do manejo de lepidópteros desfolhadores

- Táticas de controle biológico

Desenvolveu-se um programa de controle biológico de lepidópteros


desfolhadores de eucalipto, em Minas Gerais, através da criação massal e
posterior liberação do parasitóide oófago Trichogramma soaresi (Hymenoptera:
Trichogrammatidae). Os parasitóides foram criados em laboratório (UFMG) e
liberados no campo para controlar um foco de Blera varana (Lepidoptera:
Notodontidae), em 16 ha de E. cloesiana, o que foi altamente eficiente. Entretanto,
esse programa não teve seqüência devido à falta de recursos.
56

FICHA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO COMBATE A LAGARTAS


Região: Fazenda: Projeto:
Talhão: Rotação: Monitor:
Fase da Floresta: Data do Monitoramento:
Área(ha): Espécie: Idade (anos):
Número de
Amostra % Desfolha
Folhas Lagartas Lagartas/100folhas

Média:
Ação:
Desenho do talhão

Observação:

Ass. Monitor: Ass. Supervisor:


57

FIGURA16. Ficha de monitoramento e avaliação do combate a lagartas


desfolhadoras florestais.

Atualmente, o único programa de controle biológico de lepidópteros


desfolhadores de essências florestais no Brasil é o de produção de pentatomídeos
predadores, principalmente do gênero Podisus, desenvolvido pela UFV, a partir de
1983, visando a incrementar a tecnologia de produção desses percevejos. Tais
insetos têm sido produzidos em larga escala com a utilização de presas
alternativas como larvas de mosca doméstica, bicho-da-seda e tenébrio, e depois
liberadas nas áreas de surtos de lagartas. Atualmente, essa tecnologia está
difundida em várias empresas florestais que mantêm laboratórios de criação.
Com relação aos patógenos, muita ênfase é dada ao uso da bactéria
Bacillus thuringiensis, considerada a mais importante. Ela produz esporos que são
ingeridos pelas lagartas e provocam a ruptura da parede intestinal, levando-as à
morte. Existem alguns produtos à base dessa bactéria no mercado, sendo as
marcas mais comuns no Brasil o Dipel e o Agree. Em 1975 foram efetuados
diversos testes que comprovam a eficiência do B. thuringiensis e de alguns
produtos químicos para o controle de S. violascens, E. involuta e E. apisaon.
Concluiu-se que a bactéria apresentava eficiência comparada à dos produtos
químicos para o controle desses insetos. Mas foi em Minas Gerais, para o controle
de T. arnobia, que chegou a infestar mais de 300.000 ha de eucalipto de uma vez,
que o uso de B. thuringiensis, em florestas, tomou grande impulso. Durante o ano
de 1990, foram iniciados testes com a formulação de B. thuringiensis a base de
óleo, pois dá melhor proteção aos esporos, contra os raios ultravioleta. Hoje, o uso
de Bt é o método mais empregado no controle de lagartas desfolhadores em
essências florestais.
Quanto a outros IN que não insetos, encontra-se na literatura várias
referências da atuação de pássaros em surtos de lagartas. Em São Miguel
Arcanjo, SP, foi observada, em 1975, a predação por gaviões e outros pássaros de
lagartas de T. arnobia. Em Aracruz, ES, no ano de 1982, entre outros inimigos
naturais, foi constatada a ação de 26 espécies de pássaros sobre lagartas de T.
arnobia. Com base nisso, foi proposta a manutenção de faixas de vegetação nativa
entre os talhões reflorestados, para diversificar o ambiente e favorecer o controle
biológico por esses agentes, tornando-se uma estratégia promissora dentro do
controle biológico. Essas faixas devem ser planejadas e não apenas deixar áreas
não-mecanizáveis como faixas de preservação. Esse sistema tem sido adotado,
recentemente pela maioria das empresas reflorestadoras no Brasil.

- Táticas de controle etológico ou por comportamento

No setor florestal brasileiro quase nada foi feito em relação a esse tipo de
controle. Têm-se somente registros de algumas tentativas de uso de uma
58

substância juvenóide sintética, à base de diflubenzuron, cujo produto comercial é o


Dimilin. Em 1984, no município de João Pinheiro, MG, utilizou-se o produto Dimilin
ODC-45 nas dosagens de 100, 300 e 600g do produto/ha, com um volume de 3,0 l
da mistura com óleo diesel/ha, em plantio de Eucalyptus grandis com 2,5 anos de
idade, com alta infestação de lagarta de T. arnobia. Avaliações realizadas aos 11 e
15 dias após a aplicação dos tratamentos revelaram que para se obter uma
mortalidade de 80% das lagartas, necessitava-se de uma dosagem aproximada de
504 a 572 g do produto comercial/ha.

- Táticas de controle físico

O uso do fogo foi experimentado em 1969 em plantio de eucalipto,


infestado por T. arnobia e E. apisaon, no município de Coronel Fabriciano, MG. O
resultado não foi satisfatório, uma vez que o calor não foi suficiente para a
destruição dos insetos na parte superior das copas. No entanto, em Carangola,
MG, foi usado fogo controlado em um foco de S. violascens com ótimos
resultados. Neste caso, a eficiência se deve ao fato das lagartas aglomerarem-se
na base do tronco, e pupas e adultos ficarem no subbosque. O uso de armadilhas
luminosas é outra técnica que tem sido utilizada para coleta de adultos. Em Itu,
SP, em 1975, este método, usado na captura de adultos de T. arnobia, mostrou
eficiência quanto ao número de insetos coletados, em torno de 3.000 mariposas
numa só armadilha. Todavia o surto não foi controlado e a praga continuou se
expandindo.

- Táticas de controle mecânico

Na região de João Pinheiro, MG, a catação manual foi realizada em uma


área de 100 ha de E. grandis com 3,5 anos de idade, onde operários percorriam o
plantio e coletavam posturas e mariposas fêmeas de T. arnobia. O rendimento
para esta prática foi de 1ha/homem/dia. Talhões igualmente infestados que não
receberam este tratamento, tiveram alto índice de desfolhamento, mais elevado do
que aqueles tratados. Esse procedimento foi empregado por empresas daquela
região, como repasse em áreas pulverizadas com B. thuringiensis, para eliminação
de posturas e adultos que não são eliminados por esse produto.
Podar e incorporar galhos baixos com a presença de lagartas em
pequenas áreas é muito eficiente no controle de lagartas desfolhadoras. Para isso,
deve-se verificar a distribuição das lagartas na copa.
A aplicabilidade, viabilidade e eficácia desse método dependerão de
condições especiais, tais como: tamanho da área infestada, estágio e progressão
da infestação e disponibilidade de mão-de-obra.
59

- Táticas de controle por resistência de plantas

Tem-se observado com freqüência que os lepidópteros desfolhadores de


eucaliptos apresentam, em vários casos, preferência por certas espécies do
gênero, desfolhando talhões inteiros de determinadas espécies e ignorando outros
próximos. A espécie Eucalyptus camaldulensis se mostrou, em condições de
laboratório, altamente resistente à T. arnobia. Isso foi comprovado em campo
quando os plantios de Eucalyptus grandis no norte de Minas Gerais foram
substituídos por Eucalyptus camaldulensis, pois o primeiro se apresentava
altamente suscetível a T. arnobia, resultando em surtos dessa praga todos os anos
e, após a substituição, os surtos reduziram-se muito.
É necessário que estudos nessa área sejam intensificados, procurando
identificar as espécies resistentes às principais pragas, para que as mesmas
sejam plantadas em áreas de ocorrência desses lepidópteros.

- Táticas de controle químico

Atualmente, os inseticidas químicos, especialmente os piretróides, têm


sido testados para controle de insetos desfolhadores, em pulverização terrestre e,
também, por via aérea com aviões e helicópteros. Os produtos mais utilizados no
controle de lagartas desfolhadoras são o Dipel (Bt), o Agree (Bt), o Sumithion
(fenitrotion) e o Decis (deltametrina) aplicados em pulverizações (Tabela 11). É
necessário que as lagartas estejam entre o primeiro e terceiro estádios e que as
aplicações sejam feitas ao entardecer para haver efeito desejável com os dois
primeiros produtos.

TABELA 11. Produtos registrados para o controle de lagartas desfolhadoras de


essências florestais.

Nome Técnico Nome Dosagem


Comercial
Bacillus thuringiensis Dipel F 750 ml/6 a 20 l calda/ha - avião
Dipel PM 400 g/6 a 20 l calda/ha - avião
400g + 200 ml espalhante
adesivo/150 l água/ha - atomizador
Agree 750 ml/6 a 20 l calda/ha - avião
750 ml/100 l água/ha - atomizador
Deltametrina Decis 25CE 200 ml/100 l água/ha - atomizador
200 ml/6 a 20 l calda/ha - avião
Fenitrotion Sumithion 500 500 ml/6 a 20 l calda/ha - avião
UBV
60

10.3. MANEJO INTEGRADO DE BESOUROS DESFOLHADORES


Os besouros desfolhadores constituem o terceiro grupo de maior
importância florestal, como daninhos à folhagem, de importância cada vez maior
devido ao aparecimento de novas espécies e grandes surtos revelados
recentemente.
Os danos advêm do comportamento dos coleópteros de roerem as folhas,
deixando-as rendilhadas, e às vezes somente as nervuras são observadas;
consomem preferencialmente as folhas novas, os brotos, ponteiros e partes
apicais.
Os besouros desfolhadores de maior importância que atacam os
reflorestamentos no Brasil são pertencentes às famílias Chysomelidae,
Curculionidae, Escarabeidae e Buprestidae.

A. Principais espécies

As principais espécies de besouros desfolhadores de florestas estão


distribuídas em diferentes famílias, conforme descrito na Tabela 12.

TABELA 12. Principais espécies de besouros desfolhadores florestais.

Pragas Família Nome comum Hospedeiros


Costalimaita Chrysomelidae besouro-amarelo Eucalipto
ferruginea
Sternocolaspis Chrysomelidae besouro-de-limeira Eucalipto
quatuordecimcostata
Colaspis Chrysomelidae besouro-de- Eucalipto
quadrimaculata quatro-pintas
Gonipterus gibberus, Curculionidae gorgulho-do- Eucalipto
Gonipterus eucalipto
scuttelatus
Asynonych sp. Curculionidae carneirinhos Eucalipto
Bolax flavolineata Scarabaeidae besouro-pardo Eucalipto
Lampetis spp. Buprestidae besouro cai-cai Eucalipto

B. Reconhecimento das principais espécies


61

Gonipterus gibberus Boisduval, 1835 e Gonipterus scutellatus Gyllenhal, 1833


(Coleoptera: Curculionidae)
Ocorrência: RS, SC, PR.
Adulto: G. gibberus mede de 10 a 12 mm, de cor parda, revestido de escamas e
pontuações densas, rostro curto, reto e subcilíndrico, élitros abaulados com uma
faixa clara oblíquo-transversal mais larga perto da margem externa, estreitando-se
em direção ao dorso em torno do escutelo, diferindo da espécie G. scutellatus pelo
menor tamanho, coloração mais escura e sem faixas claras.
Larvas: G. gibberus mede 10 a 13 mm, vermiforme, de cor verde com pontos
escuros, tubérculos pretos ovais ou esféricos, coincidentes com a distribuição das
cerdas no tórax e abdome. Já as larvas de G. scutellatus apresentaram faixas
laterais e dorsais verde-escuras ao longo do corpo.
Pupa: penetra no solo, nos meses de julho a dezembro.
G. gibberus e G. scutellatus são conhecidos popularmente como “gorgulho-do-
eucalipto”; é uma praga introduzida da Austrália, e apresenta duas gerações
anuais; devoram parcialmente os brotos e as folhas, deixando-as com um aspecto
rendilhado, e em ataques intensos podem causar um pesado desfolhamento
comprometendo a produção de madeira e qualidade das árvores, principalmente
quando a árvore é nova.

Sternocolaspis quatuordecimcostata Lefréve, 1877 (Coleoptera:


Chrysomelidae).
Ocorrência: PA, RN, MA, BA, SP, SC, PR.
Adulto: Os machos medem cerca de 7,3 mm e as fêmeas 9,7 mm de coloração
verde-azulada brilhante, com antenas negro-azuladas, os élitros apresentam
carenas longitudinais com pontuações circulares entre elas. Conhecido
popularmente como besouro-de-limeira, os adultos atacam a parte aérea das
plantas, perfurando o limbo ou destruindo totalmente as folhas, ocorrem
principalmente de outubro a fevereiro.
Larvas: vivem no solo e provavelmente se alimentam de matéria orgânica.
Pupa: penetra no solo, a pouca profundidade.

Costalimaita ferruginea Fabricius, 1801 (Coleoptera: Chrysomelidae).


Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: Tem aproximadamente 5-6 mm, de coloração pardo-amarelada brilhante,
região ventral alaranjada, élitros com 15 a 18 linhas longitudinais com pequenos
pontos circulares em relação à extremidade da asa. Atacam plantas de qualquer
idade, sendo considerada uma das pragas de maior importância entre os besouros
desfolhadores para a cultura do eucalipto. Apresenta um elevado potencial biótico
62

e grande voracidade, ocorrem de setembro a maio, passam o dia escondido entre


as folhas aparecendo em bandos numerosos ao entardecer.
Larvas: vivem no solo e se alimentam de espécies botânicas diferentes daquelas
em que se alimenta o adulto.

Colaspis quadrimaculata Olivier, 1808 (Coleoptera: Chrysomelidae)


Ocorrência: MG, SC, SP.
Adulto: Mede cerca de 8 a 10 mm com grande variação entre macho e fêmea, de
cor amarelo-ferrugínea, élitros com quatro manchas verde-azulada em forma de
“X”, antenas longas e escuras, parte esternal amarela com marginações escuras.
É bastante arisco e voa com a aproximação de pessoas. C. quadrimaculata não
apresenta hábitos gregários, sendo sua biologia pouco conhecida, sendo comum
sua ocorrência em eucaliptais durante os meses de novembro a janeiro.

Bolax flavolineata Mannerheim, 1829 (Coleoptera: Scarabaeidae)


Ocorrência: MG, SP, AM, RJ, RS.
Adulto: Tem aproximadamente de 11 a 15 mm, de coloração marrom clara, élitros
com uma mancha clara na parte distal em forma de meia-lua. Possui hábitos
noturnos, escondendo-se durante o dia em diversos abrigos. Conhecido
popularmente como “besouro-pardo”
Larva: vive no solo e alimenta-se de raízes de onde emergem os adultos.

Lampetis spp. (Coleoptera: Buprestidae)


Ocorrência: MG, SP, ES, BA.
Adulto: Bastante vistoso, conhecido popularmente por “besouro manhoso ou Cai-
cai”, corpo alongado e estreito medindo cerca de 11 a 15 mm de comprimento,
ataca mudas recém-plantadas e plantas jovens de eucalipto alimentando-se de
folhas e ramos, causando danos consideráveis. O período de ataque coincide com
a época chuvosa, iniciando-se no final de junho e começo de julho. Pouco se sabe
a respeito da biologia desses insetos.
Larva: as larvas são lignívoras, desenvolvendo-se em cepas de eucaliptos mortos
e outros restos lenhosos remanescentes, constroem galerias em galhos e troncos
vivos e mortos; o ciclo biológico dura aproximadamente um ano.

Asynonicus sp. (Coleoptera: Curculionidae)


Ocorrência: MG, RJ, SC, SP, RS, DF.
Adultos: Os adultos do gênero Asynonicus alimentam-se das acículas de Pinus
o
danificando-as a partir do 2 ano de idade.Não voam e têm atividade à noite, tem
preferência de repousar durante o dia na base das acículas. Conhecidos
popularmente por “besouros-carneirinhos”.
63

C. Monitoramento de besouros desfolhadores

Método do transecto em linha: essa amostragem é feita durante as operações


de ronda pós-plantio, com o lançamento de transectos ao acaso, correspondentes
as linhas de plantio. Selecionam-se 3% das linhas de plantio, com no mínimo duas
linhas por talhão. Em cada linha, conta-se o número total de mudas e o número de
mudas atacadas (Figura17), anotando-se a informação na ficha de amostragem e
calcula-se a percentagem de mudas atacadas (Figura 18). O nível de controle é de
2 a 3% de mudas atacadas.

Amostragem em transectos Contar o número total de mudas e


o número de mudas danificadas

Talhão Linha de plantio selecionada

FIGURA 17. Esquema da amostragem com o lançamento de transectos em linhas


de plantio.

Ficha de monitoramento de besouros desfolhadores


Região: Fazenda: Projeto:
Talhão: Área: Data:
Espécie Planta: Idade: Monitor:
Espécie Inseto:
Número de mudas
Amostra
Totais Danificadas
64

Total
% Mudas atacadas: Ação:

FIGURA 18. Ficha de monitoramento de besouros desfolhadores florestais.

D. Estratégias e táticas do manejo de besouros desfolhadores

- Táticas de controle biológico

Visando ao controle de G. gibberus e G. scuttelatus tem-se empregado em


alguns países mais vitimados por essa praga o parasitóide de ovos Anaphes nitens
Gir. (Hymenoptera: Mymaridae), originário da Austrália; já no Brasil, pode-se
encontrar esse inimigo natural proveniente da Argentina, onde foi inicialmente
introduzido.

- Táticas de controle mecânico

Fazer catação manual dos insetos adultos de Lampetis spp. em plantios


jovens. Além disso, deve-se retirar a madeira da área para interromper o seu ciclo
biológico e fazer cobertura de tocos, para que as fêmeas não tenham lugar para
oviposição.

- Táticas de controle cultural

Podem-se deixar cepas com brotações na reforma do eucaliptal para o


forrageamento pelos insetos de C. ferruginea, devido à sua preferência pelas
brotações, em benefício das novas mudas plantadas.

- Táticas de controle por resistência de plantas

Utilizar eucaliptos resistentes no manejo integrado de besouros


desfolhadores em povoamentos comerciais é importante na prevenção desses
insetos desfolhadores e consiste em não plantar espécies, procedências ou clones
suscetíveis.
Não plantar espécies suscetíveis ao ataque de C. ferruginea como
Eucalyptus urophylla. No caso do besouro-de-limeira, não plantar a espécie E.
citriodora que é a preferida, mas, em E. Alba o inseto quase não toma contato com
65

a casca dos ramos; E. saligna sofre fracos ataques e E. maidenii nada sofre, não
sendo procurado pelo inseto.
Para o gorgulho-do-eucalipto, em ordem de preferência, são Eucalyptus
globulus, E. viminalis, E. rostrata, E. robusta, E. amygdalina, E. citriodora, E.
saligna e E. tereticonis.

- Táticas de controle químico

Os inseticidas (Tabela 13) devem ser aplicados apenas em situações


extremas como medida emergencial, porém não existem muitas alternativas de
produtos químicos para uso em florestas de eucaliptos, onde seria recomendável a
pulverização de plantios jovens. As pulverizações devem ser realizadas, a volume
normal ou baixo volume, evitando-se as horas mais quentes do dia. Nos plantios
de eucalipto é desejável usar produtos de maior poder residual em pulverizações,
adicionando-se sempre um espalhante adesivo adequado para evitar a lavagem do
produto pelas chuvas. O combate químico é realizado com base no monitoramento
sistemático da ocorrência dos besouros pós-plantio, conforme esquema da Figura
19.

TABELA 13. Produtos registrados para o controle de besouros desfolhadores de


essências florestais

Nome Técnico Nome Dosagem


Comercial
Deltametrina Decis 25 CE 200 ml/100 l água/ha - atomizador
200 ml/6 a 20 l calda/ha - avião

plantio

ronda ronda

J F M A M J J A S O N D

FIGURA 19. Esquema tático de planejamento para o manejo de besouros


desfolhadores.
66

10.4. MANEJO INTEGRADO DE BROQUEADORES


Os broqueadores são insetos que perfuram o tronco, galhos ou ponteiros
das plantas vivas ou mortas, abrindo galerias que matam ou danificam a planta ou
seus produtos. Dados indicam que 90% da mortalidade de árvores no mundo são
causadas por insetos, sendo 60% atribuídos aos broqueadores. Estima-se que as
perdas causados apenas por algumas espécies de escolitídeos chegam a 14
milhões de metros cúbicos de madeira por ano no EUA. No Canadá, essas perdas
chegaram a 19,6 bilhões de dólares.
No Brasil, os broqueadores não têm causado perdas tão significativas,
mas chegam a causar problemas para algumas regiões onde se cultiva Pinus,
principalmente, como nos estados do sul do país, que estão enfrentando
problemas com a vespa-da-madeira e com escolitídeos.
A vespa-da-madeira foi introduzida no Brasil em 1988 e atualmente está
disseminada pelos Estados do RS, SC e PR, numa área de 200.000 ha de
pinheirais. Árvores atacadas pela vespa-da-madeira deixam de produzir 60% do
volume de madeira que produziriam sem o ataque.

A. Tipos de broqueadores

- Fleófagos: comem tecidos do floema da parte interna da casca. São os


besouros da casca “bark beethes”. Principais pragas das florestas
temperadas. Ex. Ips spp., Dendroctonus spp., etc.
- Xilomicetófagos: comem fungos simbióticos que cultivam dentro das galerias
abertas na planta hospedeira. São os besouros ambrósia (ambrosia beethes).
São pragas de regiões tropicais. Ex. Xyleborus spp., Premnobius spp., Sirex
noctilio, Platypus sp. etc.
- Xilófagos: comem e vivem no xilema das plantas lenhosas. Ex:
Rhaphiorhynchus sp., Timocratica sp., Hedypates sp., Phoracantha sp.,
Cratosomus sp. etc.
- Mielófagos: comem a medula da planta. Ex. Hypsipyla.
- Herbífagos: comem plantas herbáceas. Não são importantes em florestas.
- Espermófagos: comem sementes. Existem diversas espécies de importância
florestal, porém são pouco estudadas.

B. Principais espécies

As principais espécies de broqueadores de florestas estão distribuídas


em diferentes ordens e famílias, conforme descrito na Tabela 14.

TABELA 14. Principais espécies de broqueadores florestais.


67

Pragas Ordem/Família Nome Comum Hospedeiros


Cratosomus stellio Coleoptera/ Coleobroca Eucalipto
Curculionidae
Hedypathes Coleoptera/ Broca-da-erva- Erva-mate
betulinus Cerambycidae mate
Hypsipyla Lepidoptera/ Broca-do-cedro Cedro, Mogno
grandella Pyralidae
Phoracantha Coleoptera/ Foracanta Eucalipto
semipunctata Cerambycidae
Platypus sulcatus Coleoptera/ Besouro ambrósia Eucalipto
Platypodidae
Premnobius Coleoptera/ Besouro ambrósia Pinus, Eucalipto
cavipennis Scolytidae
Rhaphiorhynchus Diptera/ Mosca-da-madeira Casuarina
pictus Pantophthalmidae
Sirex noctilio Hymenoptera/ Vespa-da-madeira Pinus
Siricidae
Timocratica Lepidoptera/ Broca-das- Eucalipto
palpalis Stenomidae mirtáceas
Xyleborus spp. Coleoptera/ Besouro ambrósia Pinus, Eucalipto
Scolytidae

C. Reconhecimento

Coleobroca
Cratosomus stellio Oliv., 1807 (Coleoptera: Curculionidae)
Adulto: tem coloração parda avermelhada ou parda acinzentada, medindo
aproximadamente 25 mm de comprimento. Élitros pontuados com tubérculos
pretos, dando um aspecto serreado aos mesmos. As larvas atacam o ápice da
planta, onde abrem galerias.
Injúria: A praga ataca os ramos do eucalipto que secam, quebram e caem,
causando posteriormente a morte da árvore.

Mosca da madeira
Rhaphiorhynchus pictus Wied., 1821 (Diptera: Pantophthalmidae)
Ocorrência: AM, ES, MG, PA, RJ, SP, PR, SC, RS.
Adulto: tem coloração escura e as asas foscas, de coloração amarelo-escura. As
fêmeas têm de 31 a 35 mm de comprimento por 70 a 80 mm de envergadura; os
machos são menores. As fêmeas apresentam o abdome desenvolvido, na
extremidade do qual se encontra o ovipositor.
68

Ovo: são de coloração creme, elípticos, sendo cobertos, externamente, por


pequenas células semelhantes às de favos de abelha, tendo na extremidade uma
incisão irregular por onde sairá a larva.
Larva: 50 mm de comprimento, com espinho na extremidade do abdome. Abre
galerias no lenho, que fica exudando seiva escura. Suas peças bucais são muito
desenvolvidas, principalmente as mandíbulas. O último segmento abdominal da
larva apresenta-se bastante quitinizado, com processos semelhantes a espinhos e
que, provavelmente, têm função de defesa. O período larval, bastante longo, é de
24 meses em média e o pupal varia de 30 a 45 dias.
Injúria: abertura de galerias pelas larvas depreciando a madeira. Os ovos são
colocados na casca de árvores isoladamente ou em grupos. Após a eclosão as
larvas procuram as fendas da casca onde iniciam o trabalho de perfuração e
penetração no lenho da árvore. As aberturas são diminutas, mas, com alguns dias
de trabalho, as larvas penetram na madeira da qual extravasa a seiva que escorre
pelo tronco deixando uma faixa negra visível à distância. Os canais feitos pelas
larvas são cilíndricos e sempre em posição horizontal, para o interior da madeira.
Podem ser simples ou ramificados, mas conservam sempre uma abertura para
saída de serragem e seiva. Nas ramificações encontram-se as larvas, sendo que
uma não interfere no trabalho da outra. As pupas formam-se no interior das
galerias. Trata-se, portanto, de uma praga muito importante pelos danos que
causa em diversas espécies de essências florestais e de plantas frutíferas. O
inseto é prejudicial apenas na fase de larva quando, abrindo galerias na região
lenhosa das plantas de casuarina, torna a planta totalmente improdutiva.

Broca do cedro
Hypsipyla grandella Zeller, 1848 Lepidoptera: Pyralidae
Ocorrência: todo Brasil
Adulto: Mariposa que apresenta coloração cinza nas asas anterior e branco-
hialina nas posteriores. A envergadura da fêmea varia de 28 a 34 mm e no macho
de 22 a 26 mm. O inseto é atraído pelo odor das brotações novas que surgem
após as primeiras chuvas. A fêmea faz a postura nos brotos, nos ramos ou nos
frutos, asas anteriores cinza e posteriores branco-hialina.
Ovo: de forma ovalada, achatado, apresentando uma estrutura alveolar, de
coloração branca-opaca recém-posta, tornando-se rosados após 24 horas.
Larva: de coloração rósea, mas nos últimos ínstares torna-se azulada. O
comprimento médio da lagarta madura é de 20 mm e esta fase dura, em média, 30
dias. Vivem no interior do ponteiro, em galerias longitudinais, ou no interior dos
frutos. O ataque pode ser notado pela exsudação de goma e serragem nos brotos.
A crisálida é formada no interior dos ramos ou dos frutos atacados. É de coloração
marrom-escura, medindo 20 mm de comprimento e protegida por um casulo de
seda. Esta fase dura 10 dias, em média.
69

Pupa: marron, dentro de um casulo de teia, na galeria.


Injúria: destroem mudas em viveiro. No campo atacam frutos e ramos apicais
causando bifurcação do fuste, reduzindo-se o valor comercial.
É a praga mais importante para a cultura do cedro, sendo fator limitante para o
cultivo, maciço puro, desta meliácea na América do Sul. Ataca as mudas em
viveiro, tornando-as imprestáveis para o plantio. No campo ataca ramos e frutos,
destruindo as sementes destes. O ataque nos ramos é sempre dirigido aos
ponteiros que exsudam goma e morrem. A planta reage brotando-se lateralmente,
mas essas brotações também podem ser atacadas, levando a planta a paralisar o
desenvolvimento.

Platypus sulcatus Chapuis, 1865 (Coleoptera: Platypodidae)


Ocorrência: SP, RS, PR.
Adulto: a fêmea é marrom-escura e o macho é pretos. O corpo é largo e tem
entre 7,5 e 8 mm de comprimento, com aspecto quadrangular quando visto
dorsalmente. A cabeça é tão larga quanto o pronoto e tem pêlos compridos na
parte superior. As antenas são curtas. Os élitros são estriados e possuem 4
carenas, sendo mais compridas nas laterais da sutura elitral, as quais terminam
num espinho que se sobressai. As fêmeas têm élitros menos estriados, carenas
menos salientes e os ápices arredondados.
Entre novembro e janeiro, os adultos abandonam as galerias em que se criaram e
procuram novos hospedeiros, onde as fêmeas realizarão a postura após a
abertura de galerias no lenho. A serragem é jogada para fora do orifício de entrada
e constitui um elemento que permite diagnosticar o início do ataque. Os machos
perfuram galerias à razão de 10 a 15 cm por mês e nelas se acasalam. As fêmeas
iniciam a postura a partir de março e prosseguem durante vários meses. Os ovos
são depositados nas galerias em número variado, que chega a uma centena. O
período evolutivo é de um ano. Com isso, há nas galerias mais antigas indivíduos
de diversas fases de desenvolvimento biológico, ovos, larvas, pupas, e adultos de
ambos os sexos.
Ovos: são brancos, lisos, brilhantes e de forma oblonga-oval, medindo 0,9 mm de
comprimento e 0,5 de largura.
Larva: a larva neonata é branca, romboidal, ápoda e mede de 1,5 a 4 mm de
comprimento. No último ínstar a larva atinge um comprimento que varia entre 9 e
11 mm; é de coloração branco-amarelada, ápoda, cilíndrica, com cabeça mais
amarelada do que o resto do corpo e mandíbula bem desenvolvida. O último ínstar
é atingido entre 5 e 6 meses, quando a larva começa a escavar. Ao terminar o
trabalho de abertura da câmera pupal, inverte sua posição para facilitar a
emergência, que se dá pela galeria maternal. O número de câmeras pupais é
aumentado a partir de julho.
70

Pupa: é nua e branca, medindo entre 7,5 e 9,2 mm de comprimento, com cabeça
visível e setas eretas de cor castanho-escura, dispostas entre 40 e 50 câmeras
pupais. As galerias maternais jamais são reocupadas, sempre se buscando um
novo hospedeiro. Vivem em simbiose com bactérias e fungos, os quais causam à
árvore doenças generalizadas. O fungo é do gênero Raffaela. O comportamento
pode variar segundo a região.
Injúria: Consiste na abertura de uma rede de galerias nos planos transversal e
longitudinal ao tronco dos eucaliptos, nas quais são cultivados os fungos. Estas
galerias, além de enfraquecer a sustentação da árvore, são portas de entrada das
bactérias e fungos patogênicos causadores de diversas doenças.

Phoracantha semipunctata Fabricius, 1775 (Coleoptera: Cerambycidae)


Adulto: tem coloração marrom-avermelhada, com manchas claras na região
mediana e no ápice dos élitros. O comprimento varia de 16 a 30 mm. As antenas
são mais longas do que o corpo, sendo que cada segmento apresenta um espinho
na face interna. As antenas dos machos ultrapassam o ápice dos élitros, enquanto
nas fêmeas não. No protórax há um par de espinhos medianos, semelhante a um
tubérculo. Os élitros são densamente pontuados na metade anterior e lisos na
metade posterior, com dois pares de espinhos no ápice.
Ovo: forma alongada, subcilíndrica, de cor amarelo-palha, com comprimento
variando de 2 a 6 mm. O número máximo de ovos obtido por fêmea é de 300.
Larva: robusta e levemente deprimida, medindo aproximadamente 32 mm. Após a
emergência, a larva constroe galerias regulares e, quando madura, perfura
obliquamente a madeira para o pupamento; o período larval varia de 4 a 6 meses.
Pupa: apresenta em média 25 mm de comprimento; o período pupal dura em
média 10 dias.
Adulto: a postura é feita em árvores mortas, doentes e em toras, sob a casca. O
período de incubação é de 10 a 14 dias. Os adultos são ativos durante a noite,
ficando escondidos na casca durante o dia. Essa fase tem duração variável de
acordo com a temperatura.
Injúria: As larvas constroem galerias na madeira de eucalipto.

Broca das mirtáceas


Timocratica palpalis Zeller, 1877 (Lepidoptera: Stenomidae)
Ocorrência: todo Brasil.
Adulto: apresenta coloração branca, com região central amarelada, medindo
aproximadamente 40 mm de comprimento.
Ovo: é colocado nos galhos e troncos.
Lagarta: de coloração violeta-amarelada e mede cerca de 30 mm no último ínstar.
Broqueiam os ramos e tronco. O orifício de entrada é coberto com teia e
excrementos.
71

Injúria: abertura de galerias nos ramos e no tronco pelas larvas depreciando a


madeira. As fêmeas ovipositam no exterior dos galhos, na base das folhas e dos
frutos, junto aos pecíolos. As lagartas, após a eclosão, começam a roer a casca
dos galhos, ou do fruto, até atingir o interior, onde fazem galerias. Recobrem a
parte comida com uma camada de teia, excrementos e pedaços de casca. O
pupamento ocorre dentro das galerias.

Besouros-ambrósia
Xyleborus spp. e Premnobus sp. (Coleoptera: Scolytidae)
Ocorrência: EUA até Argentina, África e Micronésia.
Adulto: mede 1,5 a 3,5 mm, marrom-claro a marrom-avermelhado. Abre galerias
no tronco, onde cultiva fungos simbiontes, que mancham a madeira, depreciando-
a. É hábito das fêmeas desta espécie estabelecer um sistema de galerias em
árvores caídas, derrubadas ou danificadas, chamado “ninho maternal”. Somente
fêmeas jovens podem emergir do ninho, saindo pelo orifício de entrada e voando
para atacar novos hospedeiros. Em regiões onde a média da temperatura é maior
do que 16ºC o ano todo, poderá haver várias gerações.
Ovo: O desenvolvimento do ovo adulto é de, no mínimo, 35 dias, dependendo da
temperatura.
Injúria: atacam quaisquer plantas (coníferas, folhosas e palmáceas), nas quais
perfuram galerias, para a cultura de fungo e procriação. Pertencem a uma das
espécies mais capturadas em armadilhas iscadas com etanol. O fungo cultivado
na madeira causa à mesma um forte manchamento e sua conseqüente
desvalorização. O dano é caracterizado pelo número de galerias abertas no interior
da madeira, bem como pela presença do fungo de coloração preta que mancha a
madeira. Quando se trata de plantas danificadas, essas galerias podem servir de
porta de entrada para outros agentes degradadores.

Vespa-da-madeira
Sirex noctilio Fabr., 1793 (Hymenoptera: Siricidae)
Ocorrência: Europa, África, América, Austrália e Nova Zelândia.
Adulto: 1 a 3,5 cm, coloração azul-metálica, uma faixa marrom-alaranjada no
abdome. A extremidade abdominal tem a forma de um espinho. As fêmeas
possuem ovipositor de 2 cm., serreado, pouco saliente. Apresentam o abdome
séssil, trocanter dítroco e asas com sistema de nervação complexo.
Ovo: depositado pela fêmea em furos de 12 mm de profundidade na madeira de
cima para baixo, junto com esporos do fungo simbionte Amylostereum areolatum.
O período de desenvolvimento embrionário é em média de 14 dias. No verão
podem ocorrer ciclos de três a quatro meses em árvores com ovo pequeno ou
ponteiros.
72

Larvas: eruciforme e fitófaga, cilíndrica, esbranquiçada, alimenta-se do fungo (não


comem madeira). Constroem um túnel, normalmente no sentido das fibras da
madeira, deixando para trás uma galeria cheia de serragem compactada. O
tamanho das galerias aumenta conforme o crescimento da larva.
Pupa: Durante a primavera ou na metade do verão a larva passa para a fase de
pupa. A pupa têm em média 4 a 5 semanas de vida. O ciclo dura em média um
ano.
Injúria: normalmente, as épocas de revoada concentram-se nos períodos de
outubro/novembro e fevereiro/março. Durante a oviposição a fêmea de Sirex
noctilio injeta na madeira, juntamente com os ovos, um muco fitotóxico incolor e o
fungo simbionte que produz nutrientes para alimentação das larvas. O muco e o
fungo enfraquecem a árvore e proporcionam as condições para a inoculação dos
ovos, crescimento e alimentação das larvas. As larvas e adultos perfuram a
madeira do Pinus sp., deterioriza-se a madeira devido à ação do fungo, ocorrem
nas partes debilitadas nos locais de oviposição por onde escorre a resina,
manchas na madeira devido ao fungo, inutilização da madeira para processo
mecânico. Uma floresta jovem de Pinus sp. (12 anos) atacada pela vespa-da-
madeira deixa de produzir cerca de 60% da madeira esperada; desta forma a
madeira retirada tem um alto custo de produção. Com relação à qualidade da
madeira, esta será de baixa qualidade.

D. Monitoramento de broqueadores

O monitoramento de broqueadores é feito através de amostragens de


detecção, uma vez que ainda não se tem nível de controle estabelecido para
nenhuma das espécies citadas. Dentre os broqueadores a vespa-da-madeira é a
única que tem sistemas de amostragem definida e aplicada no setor florestal.

- Amostragem com o uso de árvores armadilhas

Essa amostragem consiste na instalação de árvores armadilhas para


monitorar a presença da vespa, inocular o nematóide e liberar os parasitóides,
conforme esquema da figura 20.
A instalação é feita entre agosto a setembro. Devem-se escolher 5
árvores agrupadas de diâmetro menor que 20 cm; numerá-las; fazer um entalhe de
o
45 e aplicar um herbicida no entalhe (dicamba, 48%), 2 ml/10 cm de
circunferência, para provocar um estresse e morte da árvore, pois a vespa é
atraida por árvores senescentes ou decadentes, ovipositando preferencialmente
em árvore já infestadas por outras vespas.
73

O número e o local das armadilhas dependem da distância do plantio em


relação ao local onde foi detectada a presença da praga pela última vez (Tabela
15).

TABELA 15. Número e local de instalação de armadilhas para amostragem de


vespa-da-madeira, em relação ao local onde foi detectada a praga
pela última vez.

Distância de ocorrência Número de armadilhas a Local de instalação


instalar
> 50 km 1 a cada 10.000 m Borda da área
11 a 50 km 1 a cada 1.000 m Borda da área
1 a 10 km 1 a cada 500 m Borda da área
0 km 1 a cada 500 m Em todo plantio numa
malha de 500m

As armadilhas são instaladas no limite do plantio voltado para o local da


ultima ocorrência da praga. Caso a praga já esteja presente no plantio, instalar
uma armadilha a cada 25 ha em todo o plantio.
A vistoria é realizada entre fevereiro a agosto do ano seguinte, devendo-
se derrubar as árvores e procurar o sinal do inseto, que pode sem a presença de
manchas azuladas radiais ou perfurações de saída dos adultos. Após a vistoria e a
detecção das árvores infestadas, podem-se aplicar os métodos de controle
apropriados, principalmente o controle biológico e o cultural.

- Amostragem seqüencial para definição de níveis de dano: Método baseado


na técnica da amostragem seqüencial, desenvolvido pela EMPRAPA-Florestas, em
que o número de amostras não tem tamanho fixo, mas determinado à medida que
é feita a amostragem de acordo com a Tabela 19. Deve-se amostrar no mínimo 68
árvores e anotar o número delas atacadas pela vespa; se esse número for igual ou
superior a 34, considerar amostra suficiente para calcular a percentagem de
ataque; caso contrário, deve-se continuar o processo, amostrando mais 6 árvores,
totalizando 74 árvores amostradas e assim sucessivamente. Uma vez determinado
a suficencia amostral, deve-se calcular a percentagem de árvores atacadas
dividindo o número de árvores atacadas pelo número de árvores amostradas.

TABELA 19. Ficha para amostragem seqüencial da vespa-da-madeira.

Ficha de monitoramento seqüencial da vespa-da-madeira


Região: Fazenda: Projeto:
Talhão: Área: Data:
74

Espécie Planta: Idade: Monitor:


Número de árvores amostradas
Número de árvores
Atacadas da amostra Mínimo para interromper
amostradas
a amostragem
68 34
74 36
80 37
87 38
94 39
102 41
111 42
121 44
132 45
145 46
159 48
175 49
194 50
215 52
241 53
272 54
272 49
272 44
272 38
272 27
272 22
272 16
272 11
272 5
272 1
% Árvores atacadas: Ação:

E. Estratégias e táticas do MIP-broqueadores

- Táticas de controle cultural

Deve-se evitar estocar toras e troncos no interior da floresta e nos pátios


por mais de 30 dias, para evitar o ataque de broqueadores. Além disso, deve-se
75

desdobrar e secar a madeira mais rapidamente possível, para matar os insetos


presentes nela e reduzir os focos de disseminação.
Promover a higiene florestal (retirada de árvores doentes, decadentes,
danificadas, resíduos do desbaste e roliços acima de 5 cm de diâmetro), para
reduzir a incidência de broqueadores na área.
Devem-se reduzir podas drásticas, evitar desbastes e o fogo de outubro
a março para reduzir o ataque da vespa-da-madeira, pois é a época de revoada.
Evitar adensamento e plantios puros para reduzir o ataque da broca do
cedro. Plantas atacadas no viveiro pela broca do cedro devem ser eliminadas ou
ter a parte atacada podada.

- Táticas de controle mecânico

Podem-se vedar os orifícios abertos pela mosca-da-madeira, por meio


de tampões de madeira, para que os líquidos que extravasam inundem as
galerias, matando as larvas por afogamento. Fazer caiação da planta com enxofre
(3 kg cal + 3 kg de enxofre + 100 litros água), para impedir o ataque mosca-da-
madeira.

- Táticas de controle físico

Instalar armadilha luminosa nos viveiros de produção de mudas no início da


estação chuvosa, quando começam os ataques da broca do cedro, devido ao
aparecimento de brotações novas, cujo odor atrai as fêmeas.

- Táticas de controle químico

Praticamente, não se faz controle químico de broqueadores, devido sua


característica de se alojar dentro da madeira, o que dificulta a penetração do
inseticida. Uma possibilidade de controle químico dessas pragas seria a aplicação
de fosfina em pasta nos orifícios da madeira (0,5 cm/orifício); porém, só se justifica
tal ação em pequena escala e para árvores ou produtos de grande valor como
árvores porta-sementes ou ornamentais, por exemplo.

- Táticas de controle etológico ou comportamental

Podem-se instalar armadilhas etanólicas ou de feromônio na área para


detectar, monitorar e capturar besouros escolitídeos, porém essa estratégia serve
mais para pesquisa do que para controle.
Instalar árvores-armadilha em clareiras, para atrair e estimular a postura
de Phoracanta sp. e depois queimá-las.
76

- Táticas de controle legislativo

Promover quarentena de madeiras com suspeita de contaminação por


broqueadores tem sido uma importante estratégia para previnir a disseminação da
vespa-da-madeira para os estados do sudeste do Brasil.

- Táticas de controle por resistência de plantas


O uso de meliáceas resistentes à broca do cedro, como a Toona ciliata var.
australis, evita os danos dessas pragas.

- Táticas de controle biológico

O controle biológico da vespa-da-madeira pode ser realizado através de


um nematóide e três vespas parasitóides. As vespas parasitóides mais
importantes são Ibalia leucospoides (endoparasitóides de ovos e larvas), Rhyssa
persuasoria e Megarhyssa nortoni, (ectoparasitóides de larvas), podendo causar a
mortalidade de até 35% da praga.
O nematóide Bedinghia siricidiola é o principal agente de controle da
vespa, atualmente sendo criado e distribuído para inoculação nas árvores
atacadas e disseminação nos povoamentos. Esse nematóide foi descoberto na
Nova Zelândia em 1962, sendo trazido da Austrália para o Brasil pela EMBRAPA
em 1990, sendo o mais importante inimigo natural do S. noctilio.
A inoculação do nematóide no tronco da árvore infestada é feita com um
martelo aplicador, a cada 30 cm no tronco da árvore derrubada, perfurando o
tronco até um diâmetro de 5 cm e injetando a gelatina contendo o nematóide. A
o
temperatura durante a inoculação deve estar abaixo de 20 C, para não secar a
gelatina.
Após 2 meses da inoculação, pode-se fazer a avaliação do parasitismo,
coletando amostras do tronco e verificando a percentagem de larvas
contaminadas. Outras amostras devem ser colocadas em gaiolas teladas para
verificar o parasitismo nos adultos (Figura 20).

Instalação de
árvores-armadilha

aplicação do nematóide evitar podas e desbastes

J F M A M J J A S O N D
77

FIGURA 20. Esquema tático e planejamento de controle biológico para a vespa-


da-madeira.

10.5. MANEJO INTEGRADO DE FORMIGAS CORTADEIRAS


As formigas cortadeiras são insetos sociais que apresentam castas
reprodutoras e não reprodutoras, vivendo em colônias permanentes. São
mastigadores e se desenvolvem por holometabolia (ovo-larva-pupa-adulto).
Pertencem a Ordem Hymenoptera, Família Formicidae e Subfamília Myrmecinae.
Os gêneros de maior importância são Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns).
São as principais pragas dos reflorestamentos brasileiros, pois atacam
intensamente e constantemente as plantas em qualquer fase de seu
desenvolvimento, cortando suas folhas, flores, brotos e ramos finos, que são
carregados para o interior de seus ninhos sob o solo, o que torna difícil o seu
controle. Elas representam mais de 75% dos custos e do tempo gasto no controle
de pragas florestais.
Elas constroem ninhos subterrâneos com dezenas ou centenas de
câmaras (conhecidas, também, como panelas) ligadas entre si e com o exterior
por meio de galerias. No exterior notam-se os montes de terra solta formada pela
terra retirada das câmaras e galerias. Quando adulto, um sauveiro pode medir
2
mais de 200 m , com uma população que pode variar de 3 a 6 milhões de
formigas.
O combate a formigas cortadeiras é fundamental em reflorestamentos,
uma vez que as formigas constituem fator limitante ao seu desenvolvimento,
causando perdas diretas, como a morte de mudas e a redução do crescimento de
árvores e indiretas como a diminuição da resistência das árvores a outros insetos
e a agentes patogênicos às mesmas.
Experimentos demonstram que árvores de Eucalyptus saligna com 100%
de desfolhamento deixaram de produzir 40,4% da madeira que deveriam produzir
durante o ano seguinte à desfolha e que, ainda, árvores com uma redução de 50%
de folhas deixaram de produzir 13,2% da madeira em relação àquelas não
desfolhadas. Árvores de Pinus caribaea atacadas reduzem 12% no crescimento
em altura e 17,4% em diâmetro, além de apresentar mortalidade média de 11,7%.
Árvores de Eucalyptus grandis, desfolhadas aos seis meses de idade, têm 99,3%
de probabilidade de morrer, enquanto o crescimento em altura e diâmetro é
reduzido em 31,7% e 25,1%, respectivamente, provocando uma redução de 61,6%
na produção de madeira em relação às árvores não desfolhadas.
Os danos causados por formigas cortadeiras são maiores em árvores de
um a três anos de idade, sendo que um desfolhamento total retarda o crescimento
78

da árvore, enquanto que dois ou três consecutivos, normalmente acarretam a sua


morte.
Estudos mostram que a perda provocada por cinco formigueiros de Atta
sexdens em plantios de Pinus spp. é de 14% no volume de madeira. Densidades
maiores que 30 formigueiros/ha de Atta laevigata em plantios de Pinus caribaea
com menos de 10 anos de idade podem reduzir mais de 50% da produção de
madeira/ha. Estudos sobre eucalipto mostram que 0,87% é a perda anual no
2
volume de madeira para cada 2,76 m de sauveiro/ha.

A. Distribuição das formigas cortadeiras no Brasil

As formigas cortadeiras, do gênero Atta e Acromyrmex distribuem-se


desde o sul dos Estados Unidos até o centro da Argentina. Não se verificou, ainda,
sua presença no Chile, em algumas ilhas das Antilhas e no Canadá. Somente no
Brasil, ocorrem 20 espécies e nove subespécies taxonômicas aceitas como
Acromyrmex e 10 espécies e três subespécies de Atta.

B. Principais espécies

As principais espécies de formigas cortadeiras do Brasil estão descritas


na Tabela 17.

TABELA 17. Principais espécies de formigas cortadeiras do Brasil.

Espécie Nome Comum Ocorrência


Atta cephalotes saúva-da-mata AM, RO, RR, PA, AP, MA, PE, BA
Atta laevigata cabeça-de-vidro SP, AM, RR, PA, MA, CE, PE, AL,
BA, MG, RJ, MT, ES, GO, PR
Atta opaciceps saúva-do-sertão- PI, CE, RN, PB, PE, SE, BA
do-nordeste
Atta sexdens saúva-limão-sulina SP, PR, SC, RS
piriventris
Atta sexdens saúva-limão SP, MG, ES, RJ, MT, GO, PR
rubropilosa
Atta sexdens sexdens saúva-limão-do- AM, AC, RO, RR, PA, AP, MT,
norte GO, MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL,
SE, BA, MG
Acromyrmex aspersus quenquém-rajada SP, BA, ES, RJ, MT, PR, SC, RS
Acromyrmex quenquém-de- SP, PR, CE, BA, ES, MG, RJ, MT,
coronatus árvore GO, SC, MS
Acromyrmex laticeps quenquém- SP, AM, PA, MA, MG, MT, GO,
79

campeira RO, BA, SC


Acromyrmex niger quenquém SC, SP, CE, MG, RJ, ES, PR

Espécie Nome Comum Ocorrência


Acromyrmex quenquém-da- AM, PA, RO
octospinosus amazônia
Acromyrmex rugosus formiga-mulatinha MS, RS, SP, PA, MA, PI, CE, RN,
PB, PE, SE, BA, MG, MT, GO
Acromyrmex striatus formiga-de-rodeio SC, RS
Acromyrmex quenquém- CE, MG, ES, SP, BA, RJ
subterraneus capixaba
molestans
Acromyrmex quenquém-mineira SP, AM, CE, RN, MG, RJ, MT, PR,
subterraneus SC, RS
subterraneus

C. Reconhecimento das principais espécies

O reconhecimento das espécies pode ser feito baseado nas diferenças


existentes entre os gêneros (Tabela 18) e entre as espécies (Tabela 19).

TABELA 18. Diferenças existentes entre os gêneros Atta e Acromyrmex.

Atta (Saúvas) Acromyrmex (Quenquéns)


operárias com 3 pares de espinhos operárias com 4 ou 5 pares de
dorsais espinhos dorsais
tamanho maior (12 a 15 mm) tamanho menor (8 a 10 mm)
ninhos grandes (muitas panelas) ninhos pequenos (1 ou 2 panelas)
ninho com monte de terra solta ninho sem monte de terra solta não
aparente aparente

TABELA 19. Diferenças existentes entre as espécies de Atta, considerado o


gênero mais importante para os reflorestamentos brasileiros.

Atta laevigata Atta sexdens rubropilosa


(saúva cabeça-de-vidro) (saúva-limão)
cabeça e gaster muito brilhante corpo vermelho opaco, muito piloso
("envernizados")
soldados grandes e brilhantes apresenta um forte cheiro de limão
quando é esmagada
monte de terra solta alto monte de terra solta baixo
80

olheiros se abrem no nível do monte de olheiros se abrem acima do nível do


terra solta monte de terra solta, parecendo
vulcões

D. Estrutura do formigueiro

As formigas cortadeiras constroem ninhos subterrâneos com dezenas ou


centenas de câmaras ligadas entre si e com o exterior por meio de galerias. No
exterior notam-se os montes de terra solta formada pela terra retirada das
câmaras e galerias. Assim, um formigueiro é formado por:
- Panela de fungo: são câmaras que contêm a cultura do fungo ou jardins de
fungo.
- Panela de lixo: são câmaras destinadas ao depósito de resíduos de vegetal
esgotado, fungos exauridos e cadáveres de formigas.
- Panela vazia: são câmaras vazias à espera de lixo ou de fungo.
- Panela de terra: são câmaras que possuem terra solta em seu interior.
- Olheiro: são aberturas externas dos ninhos.
- Canais: são túneis que interligam as câmaras e estas com os olheiros.
- Carreiro ou trilha externa: são caminhos externos percorridos pelas
formigas, para buscar alimento.

E. Castas de formigas cortadeiras

São divisões morfofisiológicas dos indivíduos de uma colônia de acordo


com sua função na sociedade (Figura 21).

Castas

Temporárias Permanentes
(alados e sexuados) (ápteros sexuados e não sexuados)

Fêmeas Machos Rainha Operárias


(tanajuras ou içás) (bitus) (sexuada) (estéreis)

(põem os ovos e Jardineiras Cortadeiras Soldados


mantêm a (cultivo do (cuidam da prole, (defendem a
colônia fungo) cortam e transportam colônia e auxiliam
organizada) o alimento e as cortadeiras)
constroem o ninho)
81

FIGURA 21. Castas de formigas cortadeiras.

F. Formação da colônia de Atta spp.

A formação das colônias de Acromyrmex segue os mesmos passos das


de Atta spp. (Figura 22), mas a duração de cada passo é menor, estando o
quenquenzeiro adulto 1 a 2 anos após seu estabelecimento.

Sauveiro adulto Revoada Cópula em 30 a 60 Queda no


(38 meses) (out-dez) vôo minutos Solo

Fêmeas livram-se
das asas e iniciam a
escavação do
formigueiro
18 meses
Regurgitação do
fungo
o
Abertura do10
olheiro 2 dias

Oviposição

4 meses 5 dias

Abertura do Surgem as
o as
2 olheiro 1 larvas

14 meses 20 dias

Abertura do 30 dias Surgem os 10 dias Surgem as


o os as
1 olheiro 1 adultos 1 pupas

FIGURA 22. Ciclo de vida Atta spp.


82

G. Monitoramento de formigas cortadeiras

O monitoramento de formigas cortadeiras serve para aumentar a


eficiência e reduzir os custos de combate, bem como reduzir o impacto ambiental
decorrente de aplicações exageradas de inseticidas.
As avaliações no campo devem ser feitas a cada talhão a intervalos
semanais no primeiro mês após o plantio ou o aparecimento das brotações
quinzenais durante os dois meses seguintes, mensais por mais quatros meses, e
anualmente, para florestas com mais de 12 meses de idade. O monitor irá
determinar a quantidade de colônias e medir a área de cada uma delas em cada
parcela. Os dados coletados pelo monitor devem ser computados e processados
em softwares específicos que permitem determinar a necessidade e o momento
da realização de novas avaliações ou de combate no local avaliado, além das
técnicas de combate a utilizar. A amostragem de formigas cortadeiras pode ser
feita pelos métodos da parcela ao acaso ou do trasecto em faixas.

Amostragem por parcelas ao acaso: As parcelas têm variado entre 720 e 1080
2
m , com largura correspondente ao espaçamento de 2 a 3 entrelinhas de plantio
para facilitar a sua marcação no campo. São lançadas ao acaso no centro ou na
borda da unidade de manejo, numa intensidade de uma parcela para cada 3 a 5 ha
(Figura 21). Os valores exatos devem ser previamente calculados por um plano de
amostragem. A amostragem se inicia no escritório com o preenchimento do
cabeçalho da ficha de monitoramento (Figura 24), que contém informações sobre
a unidade de manejo a ser avaliada. Deve-se também fazer um desenho dessa
unidade, identificando a posição de cada amostra (Figura 23). Depois o monitor
deve ir até o local de cada amostra e localizar, medir e contar os formigueiros
presentes nela, anotando a informação na tabela de campo.

Parcelas ao acaso Parcelas ao acaso

reserva
reserva
2 4
2 4
02 04
1 01 3 02 01 04

1 3
03
03

FIGURA 23. Esquema da amostragem por parcelas ao acaso para o


monitoramento de formigas cortadeiras.
83

FICHA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO COMBATE A FORMIGAS


CORTADEIRAS COM PARCELAS AO ACASO
Região: Fazenda: Projeto:
Talhão: Rotação: Monitor:
Fase da Floresta: Data do Monitoramento:
Área (ha): Espécie: Idade (anos):
Densidade de Sauveiros/Amostra
Amostra <1 1 – 2,9 3 – 8,9 9 – 25 > 25 Total
V M V M V M V M V M V M

Média/Am
Média/ha
Area/ha
Desenho do Talhão

Observações:

Data: / /
ASS. MONITOR ASS. SUPERVISOR

FIGURA 24. Tabela de monitoramento e avaliação do combate a formigas cortadeiras


com parcelas ao acaso.
84

Amostragem por transectos em faixas: os transectos em faixas são parcelas de


comprimento variável, igual ao da linha de plantio e largura variando de duas a três
entrelinhas, os quais têm sido lançados a partir da terceira ou quinta linha de
plantio a cada intervalo entre 96 e 180 metros de distância (Figura 25). Os valores
exatos devem ser previamente calculados por um plano de amostragem. A
amostragem se inicia no escritório com o preenchimento do cabeçalho da ficha de
monitoramento (Figura 26), que contém informações sobre a unidade de manejo a
ser avaliada. Depois o monitor deve ir até o local e lançar o primeiro transecto no
sentido do alinhamento do plantio. À medida em que se desloca dentro da parcela,
ele deve localizar, medir e contar os formigueiros presentes nela, além de contar o
número de árvores da linha de plantio, para poder calcular o comprimento do
transecto, anotando a informação na tabela de campo. Terminada a amostra,
desloca-se até a outra percorrendo a distância predeterminada. No trajeto, pode-se
avaliar a presença de sauveiros ou dados na borda do talhão, que serve para
decidir sobre o combate de borda ou de defesa.

Transectos em faixas

reserva
2

02 01 04

1
03

FIGURA 25. Esquema da amostragem por transectos em faixas para o


monitoramento de formigas cortadeiras.

FICHA DE MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO COMBATE A FORMIGAS


CORTADEIRAS COM TRANSECTOS EM FAIXAS
Região: Espécie/Clone:
Projeto: Espaçamento:
85

Talhão: Monitor:
Área (ha): Limão: Cabeça Vidro:
Quenquém Tanajura/ 2
Amostra CompA Borda 2 Saúva/Quenquém > 1 m
<1m Olheiro

Média/Am
Média/ha
Área/ha
Desenho do Talhão

Observações:

Data: / /
ASS. MONITOR ASS. SUPERVISOR

FIGURA 26. Monitoramento e avaliação do combate a formigas cortadeiras com


transectos em faixas.

H. Tomada de decisão de controle

Os níveis de controle de formigas cortadeiras em florestas de eucalipto


em diferentes idades de colheita são apresentados na Tabela 20. O valor da área
86

de sauveiros obtido no monitoramento é comparado aos valores do nível de


controle, justificando a intervenção quando essa área for igual ou inferior ao NC.

TABELA 20. Níveis de controle de formigas cortadeiras para diferentes idades de


colheitas para florestas de Eucalyptus spp.

Espécie de Eucalyptus Idade da Colheita Nível de controle


2
(meses) (m de sauveiro/ha)
48 10,23
60 8,58
Eucalyptus spp.
72 7,63
84 7,02
48 14,96
60 12,65
Eucalyptus camaldulensis
72 11,32
84 10,46
1
nível de controle considerando: custo de combate = US$12,33/ha; valor da madeira de
3
eucalipto (lenha) = US$ 6,02/m .

I. Estratégias e táticas do MIP-formigas cortadeiras

- Táticas de controle por resistência de plantas

No campo, notam-se que as formigas cortadeiras preferem cortar


determinadas plantas e rejeitam outras, indicando que pode haver algumas
resistentes ao corte dessas formigas.
Diversos estudos foram conduzidos para verificar a ocorrência de
essências florestais resistentes às formigas cortadeiras pelas estratégias de
antibiose e, principalmente, antixenose (não-preferência). Foi verificado que E.
tereticornis é preferido ao E. grandis por Atta sexdens rubropilosa e, ainda, que
algumas procedências de E. grandis são preferidas a outras. Em um estudo
verificou-se que E. maculata e E. deanei foram altamente resistentes, enquanto
que E. dunii, E. pilularis e E. propinqua foram moderadamente resistentes. Outro
mostrou que E. cloeziana é altamente resistente à A. laevigata, porém, susceptível
à A. sexdens rubropilosa. Já E. mesophila foi altamente resistente às duas
espécies de formiga. Eucalyptus nova-anglica, Eucalyptus acmenioides, E.
maculata, E. grandis, E. deanei, E. andrewsii e E. propinqua apresentam efeitos
deletérios sobre o comportamento e sobrevivência de A. laevigata, enquanto que
as mesmas espécies florestais mais E. citriodora apresentaram efeitos
semelhantes sobre A. sexdens rubropilosa.
87

Estudos sobre essências florestais que afetam a biologia das formigas


cortadeiras tem sido conduzidos recentemente, principalmente com relação ao
óleo essencial de E. maculata, que possui uma substância chamada de β -
endesmol capaz de causar agressividade entre as operárias da mesma colônia,
quando plicados sobre elas.
Como visto, diversas essências de Eucalyptus apresentam algum grau
de resistência a formigas cortadeiras, possibilitando sua utilização em plantios
homogêneos como meio de reduzir os danos causados por elas. Entretanto, não
existem relatos de aplicação prática dessa estratégia pelas reflorestadoras.

- Táticas de controle mecânico

O controle mecânico consiste na aplicação de medidas que causem a


destruição direta da praga (catação manual) ou que evite o seu acesso à planta
(barreiras). Este método deve ser usado em pequenas áreas devido ao alto custo
de sua aplicação. No caso de formigas cortadeiras, se pode matar um formigueiro,
escavando-o com enxadão e esmagando a rainha, que é o único indivíduo
reprodutivo da colônia. Neste caso, recomenda-se a escavação somente entre o
terceiro e quarto mês após a revoada, pois a rainha se encontra acerca de 20 cm
de profundidade.
O uso de barreiras é um dos métodos mais antigos e um dos mais
utilizados em pequenos pomares para evitar o ataque das formigas às copas das
árvores. Em reflorestamentos extensos, isso se torna inviável, porém pode-se
utilizar tal método em pomares porta-sementes ou em áreas experimentais. Tiras
plásticas cobertas com graxa ou vaselina, cones de plásticos firme e liso; ou tiras
de papel- alumínio ou plástico metalizado fixado ao redor do tronco das árvores
são bastante eficientes contra as formigas cortadeiras; porém, devem-se fazer
vistorias e reparos constantes para prolongar a proteção às árvores, para evitar
danos à copa pela formigas cortadeiras.

- Táticas de controle cultural

Os métodos culturais consistem na utilização de certas práticas culturais,


normalmente utilizadas para o cultivo da planta, para o controle de pragas, tais
como aração e gradagem, rotação de cultura, época de plantio e colheita,
destruição de restos culturais, poda, adubação, plantio direto, consórcio etc.
Pelo fato das formigas cortadeiras utilizarem diversas plantas como
substrato do fungo e explorarem recursos distantes do ninho, o uso da rotação de
cultura, de diferentes épocas de plantio, da destruição de restos culturais, poda e
adubação, parece não interferir sobre suas populações.
Com relação ao plantio direto, existe uma controvérsia sobre seus efeitos
a respeito das pragas. De maneira geral, esta prática tem favorecido algumas
88

pragas, como as formigas cortadeiras, principalmente do gênero Acromyrmex, pois


são muito difíceis de serem localizadas fora das linhas de plantio, dificultando o
combate.
As técnicas de aração e gradagem parecem reduzir as populações de
formigas cortadeiras. Tais tratos podem ser importantes na eliminação de
formigueiros, quando realizados até quatro meses da revoada, pois a rainha está a
20 cm de profundidade, podendo ser morta pelas lâminas do equipamento.
Entretanto, estudos mostram que apenas o preparo do solo não é suficiente para
evitar danos significativos das cortadeiras às plantas. A prática do cultivo mínimo,
que está sendo adotada por muitas empresas florestais, não utiliza o preparo do
solo em toda a área cultivada, o que, provavelmente, poderá acarretar o aumento
de formigueiros na área.
O consócio de culturas, também, parece ser uma estratégia que reduz os
danos provocados pelas formigas cortadeiras. Plantas como o gergelim, capim
braquiarão, mamona, batata-doce, dentre outras, introduzidas junto com a cultura
principal, podem servir como alimento alternativo ou mesmo como cultura
armadilha, capaz de produzir efeito tóxico ou repelente para a praga.

- Táticas de controle físico

Os métodos físicos consistem na utilização de princípios físicos, como o


fogo, a temperatura, a luz, a umidade, o som, a radiação etc, para controlar as
pragas. Tais métodos têm sido pouco utilizados para o controle de formigas
cortadeiras.
O fogo era, até há pouco tempo, um dos métodos físicos bastante
empregados nas operações de combate a formigas cortadeiras em
reflorestamentos (alguns autores consideram o fogo como método cultural). As
empresas reflorestadoras o utilizavam para a limpeza das áreas após a derrubada
da vegetação nativa, para o plantio, ou mesmo após a exploração da floresta
cultivada, para a condução da rebrota. Uma das vantagens do fogo era a
destruição de formigueiros pequenos, principalmente de quenquém que,
geralmente, são construídos superficialmente na serrapilheira da floresta, e
escapavam do combate inicial com iscas. Além da destruição direta dos
formigueiros, o fogo elimina a vegetação do local matando muitos formigueiros por
inanição até 10 meses após. Atualmente, são raras as empresas e agricultores
que limpam a área de plantio com uso do fogo, o que pode ter levado ao aumento
da importância das quenquéns como praga.

- Táticas de controle biológico

Alguns fungos entomopatogênicos têm sido testados no combate a


formigas cortadeiras, tais como Metarhrizium anisophiae e Beauveria bassiana.
89

Estudos de laboratório verificaram eficiência de 20 a 70% no controle de


Acromyrmex spp. com iscas à base de B. bassiana e de M. anizopliae,
respectivamente. Resultados semelhantes foram obtidos num estudo com Atta
sexdens; entretanto, os mesmos resultados não são obtidos no campo,
principalmente devido a dificuldade de aplicação e pelo comportamento social
desses insetos, que reduz a eficiência desses entomopatógenos.
A utilização dos nematóides Aphelencoides composticola, Ditylenchus
myceliophagus, Rhabditis spp. e Steinernema carpocapsae foi testada no controle
de formigas cortadeiras, porém sem resultados animadores.
Alguns mamíferos, como o tatu, são predadores de formigas cortadeiras,
porém, raramente matam as colônias que atacam. Pássaros, sapos, rãs, lagartos,
lagartixas e aves domésticas são os maiores predadores de iças e bitus durante a
revoada, contribuindo significativamente para a redução da formação de novos
formigueiros.
O coleóptero Canthon virens captura e decapita as rainhas de Atta spp.
para ovipositar em seu gaster, porém sua eficiência no controle de formigueiros
infestantes é considerada pequena. O mesmo se conclui sobre os dípteros
parasitóides da família Phoridae. As fêmeas ovipositam na cabeça ou tórax dos
soldados e operárias adultos das formigas, que morrem após serem devoradas
pelas larvas do parasitóide.
Uma das estratégias do controle biológico é a manutenção das
condições ambientais, que consiste em manter ou manipular adequadamente as
condições do ambiente para favorecer a reprodução, abrigo e alimentação dos
inimigos naturais. Uma maneira de implementar tal estratégia é a manutenção do
subbosque diversificado.
A maioria dos reflorestamentos homogêneos no Brasil não apresenta
subbosque, ou o apresenta de forma reduzida, uma vez que as práticas culturais
aplicadas a tais plantios não permitem o desenvolvimento desses subbosques, por
considerá-los prejudiciais ao desenvolvimento das espécies plantadas. Com isso, a
diversidade biológica dessas florestas fica reduzida, propiciando o
desenvolvimento de pragas, tais como as formigas cortadeiras, que encontram
condições propícias ao seu desenvolvimento nesse ambiente.
Estudos mostram que a infestação de sauveiros em áreas sem
subbosque é 18 vezes maior do que em áreas com subbosque denso. Quando se
permitiu o desenvolvimento do subbosque numa área onde ele não existia
verificou-se uma redução de 11,5 vezes no número de instalações de novas
colônias. Numa área sem subbosque constatou-se um aumento de 8,2 vezes na
quantidade e 14,2 vezes no tamanho das colônias durante um período de nove
meses, enquanto que noutra área com subbosque o aumento foi de 1,7 vez na
quantidade e 2,8 vezes no tamanho das colônias, mostrando que o subbosque
reduz a instalação e o crescimento dos formigueiros e ainda contribui para a
redução das populações desse inseto em reflorestamento.
90

Além do sub-bosque, a instalação de faixas de vegetação nativa


contribui para a redução da população de sauveiros em reflorestamentos. Estudo
mostra que as faixas contribuem para uma redução de cerca de 11% na
densidade total de sauveiros nos talhões à sua margem quando comparado aos
talhões não margeados pelas faixas. Essa redução ocorre, principalmente, nos
formigueiros infestantes, pois as faixas servem de abrigo ou refúgio a inimigos
naturais das saúvas, por servir de barreira para as formas aladas ou por alterar
algum fator ambiental local, como microclima e solo, de forma desfavorável às
tanajuras.

- Táticas de controle químico

O controle químico é a tática do MIP mais empregada no manejo de


formigas cortadeiras em reflorestamentos. Podem ser utilizados três maneiras de
controle químico: isca formicida, a termonebulização e pó-seco.

Isca Granulada

A aplicação de isca granulada é a maneira mais prática e econômico de


controle de formigas cortadeiras, consistindo na mistura do ingrediente ativo com
um veículo (bagaço de laranja) atraente para as formigas, que é carregada por
elas para o interior do ninho. As iscas não devem ser usadas em dias chuvosos,
nem serem aplicadas sobre o solo molhado, pois se desagregam e as formigas
não conseguem carregá-las. Estudo mostra que se deve esperar pelo menos seis
dias após a última chuva para aplicar as iscas. Por isso, o combate com iscas é
feito no período seco do ano.
A quantidade de isca formicida a ser aplicada em um formigueiro é
calculada multiplicando-se a dosagem recomendada pelo fabricante do formicida
(geralmente entre 6 e 10g) pela área ocupada pela terra solta do formigueiro (em
metros quadrados), que geralmente é medida com passos aferidos, utilizando-se
dois métodos:

Método da área total de terra solta: é a área resultante da multiplicação do maior


comprimento (CD) pela maior largura (AB) da área ocupada pelos montículos de
terra solta (Figura 27).
A

C D

B
91

FIGURA 27. Esquema da mensuração de um formigueiro pelo método da área


total de terra solta.

Método da área estratificada: é a área resultante da soma das áreas individuais


de cada montículo de terra solta (Figura 28). Esse método reduz em três vezes a
quantidade de isca que seria aplicada caso fosse considerada a área total, sem
reduzir a eficiência do combate. Existem diversas variações desse método, mas o
mais usado é aquele que considera cada monte de terra solta como um
formigueiro independente.

() = olheiro de abastecimento

FIGURA 28. Esquema da mensuração de um formigueiro pelo método da área


estratificada.
A quantidade de isca obtida deve ser dividida pelo número de olheiros
mais ativos (olheiros de abastecimento) e aplicada a 20 cm desses ou ao lado dos
carreiros ativos, para aumentar a velocidade de transporte e a eficiência do
controle. Nunca aplicar dentro do olheiro ou sobre o carreiro, pois as formigas
podem devolver o produto para desobstruir o canal ou limpar a trilha.
Pode-se ainda combater um formigueiro com isca formicida sem a
necessidade de medir a sua área de terra solta, utilizando o método da dosagem
única, que consiste na aplicação de uma dosagem única por olheiro ativo do
formigueiro. Essa dosagem é baseada na relação entre área de terra solta e o
número de olheiros do formigueiro, que é determinada por estudos prévios. Uma
vez estabelecida a dosagem, o operador aplica uma dose de 6 a 10 gramas de
isca em cada olheiro do formigueiro (de abastecimento ou de ventilação), desde
que respeitada uma distância mínima de 30 a 50 cm entre eles. Com isso reduz-se
92

o tempo de combate, entretanto são necessários os estudos prévios da relação


entre a área de terra solta e o número de olheiros, para evitar erros.
O combate de formigueiros com iscas pode ser realizado de diferentes
maneiras: combate localizado ou combate sistemático. O combate localizado
consiste em distribuir os combatentes alinhados no campo, distanciados 3 a 5 m
entre eles e percorrer a área, à procura dos formigueiros. O combatente que
encontrar um formigueiro deve combatê-lo, conforme mencionado acima.
O combate sistemático consiste em distribuir o formicida na área de
plantio independente da localização dos formigueiros. Esse método consiste na
aplicação de isca formicida em dosagem única por metro quadrado de área de
plantio (geralmente entre 3 e 5 g de isca a cada seis metros quadrados de área de
plantio). A dosagem do produto por metro quadrado é calculada em função da
densidade de quenquenzeiros presentes na área, obtida numa amostragem prévia
ou estipulada uma dosagem fixa por hectare. No primeiro caso, considerando, por
exemplo, uma população de 300 quenquenzeiros/ha, deve-se multiplicar esse
2
valor por três e dividir por 10.000, obtendo-se, assim, o total de 0,3 g/m . Como
esse valor é muito pequeno para uma aplicação prática, recomenda-se aplicar um
2
volume de isca maior e de forma mais espaçada (por exemplo, 3 g por 10 m ).
A isca pode ser aplicada com dosadores manuais (tipo de recipiente de
plástico, bambu ou outro material em que caiba apenas a dose desejada) ou
dosadores/aplicadores costais ou mecânicos (equipamento costal ou mecânico
próprio para aplicar iscas formicidas).
Após a aplicação, o inseticida distribuído na forma de isca mata o
formigueiro lentamente (após 40 dias da aplicação); porém, paralisa as atividades
de corte rapidamente (3 a 6 dias após a aplicação), quando aplicada na dosagem
correta.

Termonebulização

A termonebulização é um dos métodos mais eficientes de combate a


sauveiros em reflorestamentos, porém é pouco utilizada por ser muito cara, devido
ao custo de aquisição e manutenção do equipamento, chamado termonebulizador.
Esse método consiste na mistura do ingrediente ativo num veículo (querosene ou
óleo diesel), que são nebulizados pelo aparelho; a fumaça resultante transporta o
produto para o interior do formigueiro.
Recomenda-se o seu uso para formigueiros grandes, principalmente nas
operações de combate inicial ou quando é necessário o combate em períodos
chuvosos, pois esse método não é limitado pelas chuvas, matando o formigueiro
rapidamente (poucos dias após a aplicação).
O produto é aplicado até a saturação do ninho com fumaça,
dispensando-se a medição do formigueiro. A ponta da lança do aparelho é
colocada na entrada de um olheiro grande e a fumaça é injetada até sair pelos
93

outros olheiros. Assim que a fumaça estiver saindo por um olheiro, este deve ser
fechado. Quando todos estiverem tampados, o formigueiro estará totalmente
tratado. Caso não saia a fumaça tóxica em determinado olheiro, deve-se transferir
a lança para o mesmo e aplicar o produto.
Deve-se tomar o máximo de cuidado durante a aplicação desse método,
pois a fumaça que sai do equipamento é muito tóxica e pode intoxicar os
operadores. Por isso, mesmo com o uso dos EPI’s recomendados, é necessário o
acompanhamento toxicológico dos operadores e um rodízio freqüente deles para
evitar uma exposição prolongada ao produto.

Pó seco

É um método barato e de fácil aplicação; porém, exige alta demanda de


mão-de-obra. Consiste na aplicação de um inseticida na formulação pó seco,
diretamente no formigueiro, usando-se uma polvilhadeira, sendo recomendado
2
para formigueiros pequenos (até 5 m ), principalmente nas operações de ronda, e
em dias secos, pois quando o solo está molhado, dificulta a penetração do produto
no interior do ninho.
Antes de utilizar uma polvilhadeira deve-se conhecer a quantidade de
produto que é aplicado a cada bombeada, bastando-se pesar algumas amostras e
calcular a média. A quantidade de produto a ser aplicado depende do tamanho do
formigueiro, que pode ser medido conforme descrito anteriormente, e convertida
2
em número de bombeadas. Por exemplo: supondo um formigueiro de 5 m , um
2
produto com dosagem de 5 g/m e uma polvilhadeira que aplica 2,5 gramas por
bombeada, devem-se aplicar 10 bombeadas para tratar o tal formigueiro.
Recomenda-se distribuir o formicida em, pelo menos, três olheiros ativos
do formigueiro, introduzindo a mangueira da polvilhadeira e cobrindo as laterais do
olheiro com terra, tomando-se cuidado de não forçá-la dentro do canal e entupir a
saída do pó. Fechar os olheiros onde estiver saindo o produto e também aqueles
que receberam o tratamento.

I.1) Etapas do controle químico

As operações de controle químico de formigas cortadeiras em


reflorestamentos são planejadas de acordo com as seguintes fases de
desenvolvimento da floresta: implantação/reforma, regeneração e manutenção.

Combate em áreas de implantação/reforma e regeneração: os combates são


divididos em três etapas (Figura 29):
94

Controle inicial: esse combate é realizado 45 a 60 dias antes da


limpeza da área para o plantio, em áreas de implantação/reforma, ou antes da
colheita (conhecido como combate pré-corte), em áreas de regeneração. Serve
para matar os formigueiros grandes e pequenos e reduzir ao máximo a sua
densidade. Nesse tipo de combate podem-se utilizar iscas formicidas granuladas
ou termonebulização, dependendo das condições climáticas locais. Geralmente,
esse combate é programado para o início do período seco do ano, para que se
possam usar as iscas.

Repasse: consiste na revisão do controle inicial, e serve para matar os


formigueiros que sobreviveram ao primeiro tratamento. Ele é realizado 45 a 60
dias antes do plantio ou do aparecimento das brotações, utilizando-se de iscas ou
termonebulização. Paralelamente, pode-se realizar o controle sistemático para
matar os quenquenzeiros e sauveiros iniciais, conforme discutido anteriormente.

Ronda: é a terceira etapa e consiste em vistorias semanais no primeiro


mês após o plantio ou o aparecimento das brotações, quinzenais durante os dois
meses seguintes e mensais por mais quatros meses, para verificar a presença de
sauveiros e quenquenzeiros. Todos os formigueiros encontrados devem ser
controlados imediatamente, pois podem causar danos severos às plantas. Nesse
tipo de operação, têm-se utilizado principalmente inseticidas na formulação pó
seco, pois as iscas não paralisam os formigueiros rapidamente.
colheita ou
limpeza
primeiro repasse +
combate sistemático plantio

ronda ronda

J F M A M J J A S O N D
FIGURA 29. Planejamento das operações de controle químico contra formigas
cortadeiras em áreas de implantação/reforma e regeneração de
reflorestamentos.

Combate em áreas de manutenção: a floresta entra na fase de manutenção


após um ou dois anos de desenvolvimento. Nessa fase, os combates são
realizados uma ou duas vezes ao ano, mediante amostragem prévia da infestação
(Figura 30). Na maioria dos casos, os combates são realizados nos meses secos
do ano, utilizando-se iscas formicidas.
95

monitoramento

J F M A M J J A S O N D
combate
eficiência eficiência

FIGURA 30. Planejamento das operações de controle químico contra formigas


cortadeiras em áreas de manutenção de reflorestamentos.

Os principais produtos atualmente recomendados no combate a formigas


cortadeiras estão descritos na Tabela 21.

TABELA 21. Produtos recomendados para o controle de formigas cortadeiras.

Grupo químico Nome técnico Marca comercial


Iscas Formicidas*
Fenil pyrazol Fipronil Blitz N.A.
Fosforado Clorpirifós Landrin Floresta N.A.
Sulfonas Sulfluramida Atta Mex-S Max N.A., Pikapau-S N.A.,
Fluoralifáticas Tamanduá Bandeira-S N.A., Dinagro-S,
Fluramin N.A.
Termonebulização
2
Fosforado Clorpirifós Lakree-fogging (4 ml/m )
Pó seco
Piretróide Deltametrina K-Othrine formicida 2P N.A.
2
* A dosagem recomendada varia de 6 a 10 g/m de formigueiro.

10.6. MANEJO INTEGRADO DE CUPINS


Os cupins ou térmitas são insetos da ordem Isoptera, que contêm cerca
de 2.750 espécies descritas no mundo. Mais conhecidos por sua importância
econômica como pragas; estes insetos também têm atraído a atenção de
cientistas devido ao seu singular sistema social. Além dos consideráveis danos
96

econômicos provocados em áreas urbanas e rurais, os cupins também são


importantes componentes da fauna do solo de regiões tropicais, exercendo papel
essencial nos processos de decomposição e de ciclagem de nutrientes.
Existem vários nomes atribuídos popularmente a esses insetos em
certas regiões do Brasil, tais como, cupins, termitas ou térmitas, formigas-brancas,
formigas de asas, aleluias, sarassará, siriri, siriluia e siri-siri. Vários nomes também
são atribuídos aos termiteiros, que são pequenas elevações de terra produzidas
pelos cupins, como, por exemplo, aterroada ou itapecuim (na Amazônia), munduru
(no Ceará), murundu, tacuri ou tacuru (no Rio Grande do Sul) e cupim, este último
mais conhecido por ser o nome do inseto que também é atribuído ao montículo de
terra por ele produzido.
O desenvolvimento deste inseto é por paurometabolia (ovo-ninfa-adulto).
As espécies dos cupins, sem exceção, são sociais, vivendo em sociedades ou
colônias mais ou menos populosas, nas quais há uma divisão de tarefas
(reprodução, segurança, cuidados com a rainha, com a limpeza e com os “jardins”
de fungos etc.), realizada por determinado grupo de indivíduos, denominados
castas, representadas por cupins ápteros ou alados, que vivem alojados em
ninhos chamados normalmente de cupinzeiros ou termiteiros.
Os cupins são insetos mastigadores, constituindo importante grupo de
insetos daninhos às florestas. Os indivíduos alados (reprodutores) possuem dois
pares de asas membranosas semelhantes, daí o nome da ordem (iso = igual; ptera
= asa). As asas possuem uma sutura basal característica, a qual favorece a sua
queda, após a revoada, sobrando, adjacente ao corpo do inseto, uma escama,
importante na taxonomia dos cupins.
Os operários e soldados dos cupins possuem uma depressão com poro
frontal na cabeça, denominada fontanela, que é ligada a uma glândula cefálica, e
expele um líquido viscoso e espesso, com função de defesa. Outra característica
importante de insetos dessa ordem é a associação mutualística existente entre o
inseto e protozoário (Filo Mastigophora, Classe Hypomastigina) ou bactérias, que
se localizam no intestino do mesmo, responsável pela digestão do material
celulósico ingerido pelo inseto.

A. Princiapis espécies

No Brasil ocorrem quatro famílias de cupins:

 Kalotermitidae: cupins considerados primitivos que não possuem


fontanela, atacam madeira seca e nunca constroem ninhos; não apresentam
operárias; alimentam-se exclusivamente de madeira; possuem simbiontes
(protozoários flagelados) no interior do intestino. Os principais gêneros são
Cryptotermes, Neotermes e Rugitermes, que são mais importantes como pragas
de madeira processada.
97

 Rhinotermitidae: cupins com fontanela; alados possuem asas com as


escamas alares anteriores longas, cobrindo ou pelo menos tocando a base das
escamas posteriores; as formas ápteras têm o pronoto plano, sem lobo ou
projeção anterior no tórax; soldados não apresentam dentes basais nas
mandíbulas; constroem ninhos subterrâneos, atacando plantas vivas e madeira
morta. Os principais gêneros são Coptotermes e Heterotermes, que são
conhecidos por cupins de cerne, pois atacam preferencialmente essa parte da
madeira.
 Termitidae: é a principal família dos cupins; presença de fontanela;
asas com as escamas alares anteriores curtas ou do mesmo tamanho das
posteriores; soldados com projeção ou lobo anterior no pronoto em forma de
“sela”; apresentam dentes mandibulares basais desenvolvidos; constroem
diferentes tipos de ninhos e possuem hábitos alimentares variados, como, por
exemplo, madeira, folhas, húmus etc. Existem espécies que são cultivadores de
fungos; no entanto, em condições brasileiras isto não ocorre. Os principais
gêneros são Cornitermes, Nasutitermes, Syntermes e Anoplotermes, que são as
principais pragas de mudas no campo.
 Serritermitidae: até recentemente continha uma única espécie,
Serritermes serrifer, que ocorre apenas no Brasil. Novas evidências indicam que
Glossotermes oculatus, espécie da Amazônia previamente incluída em
Rhinotermitidae, também pertence a Serritermitidae.

Estas famílias podem ser agrupadas em três grupos:


98

Xilófagos: são os cupins que vivem no interior do tronco das árvores ou de


madeiras tratadas (móveis, mourões de cercas etc.) e não entram em contato com
o solo. Todos os cupins deste grupo pertencem à família Kalotermitidae.

Arborícolas: esse grupo refere-se aos cupins que constroem ninhos nos troncos
das árvores ou em paus podres, mas se comunicam com o solo através de
galerias superficiais, de onde saem para buscar o alimento, voltando depois para o
ninho. Além da madeira, eles se alimentam de húmus, sendo que no intestino há
presença de microorganismos bacterianos. A família Rhynotermitidae é a família
mais comumente encontrada nesse grupo, seguida pela Serritermitidae.

Humívoros: são aqueles cupins que vivem em ninhos feitos no chão e nunca em
cima de árvores, os quais alimentam-se de húmus. No intestino também há a
presença de microorganismos do grupo das bactérias. A principal família é a
Termitidae, encontrada em todo o Brasil, construindo ninhos grandes e complexos.
Essa família é bastante diversificada e compreende cerca de 85% das espécies de
cupins conhecidas do Brasil.
Os cupins podem consumir vários tipos de alimento, como húmus,
madeira, vegetais vivos, couro, lã, matéria orgânica etc., graças à simbiose que
apresentam com bactérias e protozoários, que excretam enzimas capazes de
transformar esses produtos em substâncias que podem ser assimiladas pelos
cupins. Esses simbiontes vivem junto à membrana do intestino posterior
(proctódeo). Como essa membrana é eliminada durante o processo de ecdise ou
troca de tegumento, os cupins perdem parte de sua fauna intestinal. Para repor os
simbiontes, os cupins desenvolveram o comportamento de trofalaxia anal, que
corresponde à troca de alimento proctodéico entre indivíduos. Outra forma de troca
de alimento é através da boca, conhecida como alimento estomodéico, que é um
líquido claro, usado para alimentar as formas reprodutoras e os soldados.
Além disso, há um comportamento típico, conhecido como "grooming"
(limpeza), através do qual os indivíduos lambem-se uns aos outros. Isso parece
funcionar como forma de comunicação, mas, principalmente, age na eliminação de
partículas estranhas ou de patógenos que podem causar doenças em indivíduos
de uma colônia. A trofalaxia, o “grooming” e o acentuado canibalismo são muito
importantes quando se introduz algum agente de controle desses insetos, pois irão
potencializar a ação controladora entre os indivíduos da colônia.

As principais espécies de importância florestal são:

Cupins subterrâneos
Heterotermes tenuis (Hagen, 1858) e Heterotermes longiceps (Snyder, 1858)
(Rhinotermitidae).
99

Características: ninhos subterrâneos e difusos; operárias pequenas,


esbranquiçadas e de aspecto vermiforme;
Prejuízos: provocam dano às raízes, colo e caule, causando perda do poder
germinativo e prejudicando o desenvolvimento das plantas. Também atacam o
cerne da planta, provocando perda de material lenhoso.

Syntermes molestus (Burmeister, 1839), Syntermes obtusus Holmgren, 1911 e


Syntermes insidians Silvestri, 1945 (Termitidae).
Características: ninhos subterrâneos com pequenas câmaras semelhantes às
das formigas "lava-pés"; há comunicação entre as câmaras, e entre estas e o
exterior, por meio de canais estreitos e tortuosos, que se abrem na superfície do
solo como "olheiros", com diâmetro de 5 a 8 cm, principalmente à noite;
Prejuízos: exercem o forrageamento das folhas e roletamento do caule na altura
do coleto, prejudicando o seu crescimento.

Cupins de montículo
Cornitermes cumulans (Kollar, 1832) e Cornitermes bequaerti Emerson, 1952
(Termitidae).
Características: ninhos em montículos; formato variado; 50 a 100 cm de altura;
câmara externa de terra, de 6 a 10 cm de espessura, cimentada com saliva; parte
interna de celulose e terra, menos dura, com galerias horizontais superpostas e
separadas por paredes verticais, revestidas por camada escura;
Prejuízos: dificultam os tratos culturais e o manejo, dependendo do nível de
tecnologia adotado. Com relação ao consumo de plantas, é mais importante na
fase inicial da cultura, quando pode reduzir o estande. Quando a cultura já está
estabelecida, o cupim-de-montículo causa pouco dano às plantas.

Cupins do cerne
Coptoterme testaceus (Linnaeus)
Características: ninhos subterrâneos; geralmente com alguma conecção com a
madeira.
Prejuízos: atacam as árvores vivas, instalando suas colônias no interior do cerne
da planta cultivada. Provocam perda direta do material lenhoso. Além disso, as
plantas perdem sua resistência e se quebram quando ocorrem ventos fortes.

B. Formação da colônia de cupins

As formas aladas são produzidas em grandes quantidades e ficam no


cupinzeiro durante algum tempo, às vezes até três meses. Anualmente, no início
do período chuvoso ocorre nas colônias de cupins um fenômeno conhecido como
100

enxamagem ou enxameagem, caracterizado pelo surgimento desses reprodutores


alados (siriris ou aleluias) em grande número.
Os adultos alados voam do ninho preferencialmente no crepúsculo de
dias claros e tardes nubladas e com alta umidade do ar, sendo que durante o vôo
não há o acasalamento, diferente do que acontece com formigas e abelhas. Ao
caírem no solo livram-se de suas asas membranosas e só então estarão aptos
para realizarem a primeira cópula após a procura por um parceiro sexual. Após a
formação do casal real, eles encontram um local adequado e iniciam a escavação
do cupinzeiro, que se inicia com uma galeria e termina na “câmara nupcial”, onde o
casal copula e a fêmea inicia as posturas. Cerca de um mês após, aparecem as
primeiras formas jovens, que serão criadas pelo casal real. Após algum tempo
estas formas jovens começam a se locomover e, no último estágio ninfal, se
diferenciam e passam a desempenhar todas as funções da colônia, exceto a
procriação. O cupinzeiro cresce rapidamente, podendo ter milhões de indivíduos, e
inicia o processo de revoada, fechando o ciclo (Figura 31). A rainha pode viver 10
anos e as rainhas de substituição por 25 anos.
A rainha, quando completamente desenvolvida, possui o abdome muito
volumoso, chegando a ter duzentas vezes o volume do resto do corpo, sendo esse
processo conhecido por fisogastria ou fisiogastria. O número de ovos postos
depende da espécie, da idade e condições do meio em que vivem; em média as
rainhas ovipositam cerca de 50 mil ovos durante aproximadamente 6 a 10 anos de
vida.
101

Reprodutores alados ou imagos Reprodutores após perda das asas

Soldado

O R
p a
e Ninfa Rei i
r n
á h
r a
i
Ovos
o
Jovem
Jovem

Reprodutores de substituição

FIGURA 31. Ciclo de vida de cupim. Fonte: Berti Filho (1993).

A colônia pode ser formada também através da fragmentação de uma


colônia adulta, por quebra natural ou provocada por animais ou o homem. Isso
ocorre porque em uma colônia adulta existem os reis e rainhas de substituição que
servem para tomar o lugar do rei ou rainha quando estes morrem, por isso que não
se deve quebrar um cupinzeiro antes de matá-lo, pois isso irá multiplicá-los.

C. Castas de cupins

Assim como em todos os insetos sociais (formigas, abelhas etc.),


existem divisões morfo-fisiológicas de indivíduos dentro de uma colônia de cupins,
na qual existem grupos responsáveis por desempenharem determinadas tarefas,
como por exemplo, reprodução, segurança da colônia, cuidados com a prole, com
a limpeza, com o forrageamento etc., sendo esses grupos denominados castas
(Figura 32).
A origem das castas pode ser explicada por duas teorias ainda não
comprovadas. A primeira recorre a uma questão hereditária, ou seja, na fase
embrionária da blastogênese se daria a definição da casta a que pertenceria o
indivíduo. A segunda teoria baseia-se em questões nutricionais, ou seja, insetos
que, na fase de ninfa, recebem alimento proctodeal contendo saliva, têm uma
102

inibição na permanência de protozoários no intestino, o que daria espaço para o


desenvolvimento normal do aparelho reprodutor, originando as formas
reprodutoras (aleluias).

Castas

Temporárias
Permanentes
(alados e
(ápteros sexuados)
sexuados)

Fêmeas e
Machos Férteis Estéreis
(aleluias)

Reprodução Rainhas e
Rainha e
sexuada da reis de Soldados Operários
rei
colônia substituição

Cuidam da
Substituem prole,
Reprodução
Produção o casal real Defendem forrageiam
sexuada da
de ovos quando a colônia alimento e
colônia
morrem constroem o
ninho

FIGURA 32. Castas da colônia de acordo com a função na sociedade.

Nas colônias, além das formas jovens mencionadas anteriormente, nos


vários estágios de desenvolvimento, há sempre duas categorias de indivíduos
adultos formadas por castas bem distintas. A primeira compreende os indivíduos
reprodutores, sexuados alados, machos e fêmeas, que propagarão a espécie. A
segunda é constituída pelas formas ápteras de ambos os sexos, férteis ou
estéreis. Estes últimos constituem a categoria de indivíduos que apresentam os
seus órgãos reprodutores não completamente desenvolvidos. Nesta categoria há
indivíduos de duas castas, a dos obreiros ou operários e a dos soldados.
Estas duas formas são as mais conhecidas pelo nome de cupins, devido
à sua presença constante no termiteiro. São ninfas e adultos de ambos os sexos
que realizam a maior parte do trabalho de uma colônia. Desempenham todas as
funções na comunidade, menos a de procriação, uma vez que essas duas castas
são, em regra, completamente estéreis.
103

Os operários, também conhecidos por obreiros, geralmente são


esbranquiçados ou de cor amarelo-pálida, ápteros, possuem mandíbulas
pequenas e, normalmente, são desprovidos de olhos compostos e ocelos. Pelo
fato de não possuírem olhos compostos e de serem fototrópicos negativos,
desenvolvem as suas atividades sempre na obscuridade, sendo que ao
forragearem um material mais ou menos longe do ninho, estabelecem
comunicações mediante galerias ou túneis construídos de partículas de terra e
dejeções cimentadas pela saliva.
Geralmente, os operários são responsáveis por buscar o alimento,
alimentar as rainhas e os soldados jovens, construir ninhos, túneis e galerias.
Desta forma, são eles os responsáveis pelos danos às culturas. Além disso, eles
cooperam com os soldados na defesa da comunidade.
Os soldados são bem semelhantes aos operários por serem, na maioria
das espécies, ápteros e cegos, diferindo daqueles essencialmente por
apresentarem a cabeça muito mais volumosa e esclerotizada, de cor amarelo-
pálida; apresentam mandíbulas bastante desenvolvidas, porém incapazes de servir
na mastigação. Assim, exercem a função de defenderem a comunidade contra
qualquer intruso, além de proteger o trabalho dos operários, podendo agarrar-se
ao inimigo durante o ataque, quando possuem mandíbulas robustas.
Os operários e os soldados ocasionalmente podem apresentar órgãos
reprodutores funcionais, podendo excepcionalmente colocar ovos. Uma mesma
espécie pode ter somente soldados grandes ou pequenos, sendo que em outras
espécies pode haver grandes e pequenos soldados e um só tipo de operário, ou,
então, grandes e pequenos operários e um só tipo de soldado.
Quando em um cupinzeiro falta um dos representantes do casal real, a
proliferação da colônia é mantida à custa de indivíduos que, embora se
apresentem como formas jovens providas de tecas alares, são sexualmente bem
desenvolvidos, constituindo, assim, uma outra casta de reprodutores chamados
reis e rainhas de reserva, de substituição, de complemento ou complementares.
Em geral, são indivíduos que se originam de um tipo especial de jovens, diferentes
dos que dão origem às formas aladas.
Tais indivíduos distinguem-se das ninfas que originarão os reprodutores
alados por apresentarem o tegumento menos esclerotizado e pigmentado, além de
possuírem tecas alares mais curtas. Existem casos em que podem ser
encontrados indivíduos reprodutores de substituição oriundos de jovens de
operários e até mesmo de soldados.
A existência de indivíduos de substituição só ocorre após o
desaparecimento de um ou de ambos os representantes do par real. Mas em
algumas espécies, também pode ocorrer normalmente a substituição por
indivíduos sexuados complementares, sendo que Holmgren, em 1906, citado por
Costa Lima (1938), encontrou até 100 rainhas de substituição e um só rei
verdadeiro em ninho de Armitermes neotenicus.
104

Além da reprodução sexuada, novas colônias de cupins podem também


ser formadas assexuadamente, através da fragmentação de uma colônia adulta
por quebra natural ou provocada por animais ou pelo homem. Isso ocorre porque
os reis e rainhas de substituição tomam o lugar do casal real na parte
fragmentada, formando nova colônia. Por essa razão não se deve fragmentar um
cupinzeiro antes de controlá-lo, pois isso poderá multiplicá-lo.
Muitas vezes os cupins são denominados formigas-brancas ou formigas-
de-asas, embora seja um grupo bem diferente das formigas, as quais pertencem à
ordem Hymenoptera. Nenhum parentesco existe entre esses dois.

D. Estrutura da colônia

Um cupinzeiro típico é constituído das seguintes partes:

 Camada externa: camada de terra endurecida pela saliva dos cupins


e de consistência quase pétrea, que protege a colônia do meio externo e dá forma
ao cupinzeiro.
 Endoécia ou câmara nupcial: é a câmara onde vive o casal real e
onde são depositados os ovos.
 Periécia ou canais de comunicação: são as galerias periféricas que se
comunicam com o exterior e com as fontes de alimento.
 Paraécia ou bolsas de manutenção climática: é o espaço que existe
entre o cupinzeiro e o solo que o circunda, destinado à manutenção de umidade e
temperatura constantes no interior do ninho.
 Câmara de celulose: é o local onde é depositada matéria orgânica e
criadas as formas jovens, constituindo a maior parte do ninho.

Os cupins podem construir vários tipos de ninhos, como galerias e


câmaras simples (cupins de madeira seca), ninhos subterrâneos (cupim-de-terra-
solta), ninhos arborícolas (túneis cobertos) ou de montículos ("murunduns") (Figura
33).
105

Coptotermes
sp.
Nasutitermes

Heterotermes

Nasutitermes
Cornitermes

Anoplotermes
Amitermes

Syntermes

FIGURA 33. Tipos de ninhos de cupins. Fonte: Berti Filho (1993).

E. Monitoramento de cupins

Amostragem pré-plantio: a amostragem prévia pode ser realizada dividindo toda


2
a área de plantio em parcelas de 20x20 m (400 m ) e contando-se os ninhos de
cupim subterrâneo (montículos de terra solta) em cada parcela. As parcelas que
tiverem densidade maior que 10 ninhos devem receber nota 1 e as demais,
recebem nota 0. Com isso obtem-se um mapa de infestação de cupinzeiros do
talhão. As parcelas que receberam nota 1 devem receber mudas tratadas
previamente com calda inseticida. As demais recebem mudas não tratadas.
106

Amostragem pós-plantio: essa amostragem é feita durante as operações de


ronda pós-plantio, com o lançamento de transectos ao acaso, correspondentes às
linhas de plantio (Figura 34). Selecionam-se 3% das linhas de plantio, com no
mínimo duas linhas por talhão. Em cada linha, conta-se o número total de mudas e
o número de mudas atacadas, anotando-se a informação na ficha de amostragem
e calculando-se a percentagem de mudas atacadas (Figura 35). O nível de
controle é de 2 a 5% de mudas atacadas.

Contar o número total de mudas e


o número de mudas danificadas

Talhão Linha de plantio selecionada

FIGURA 34. Esquema de amostragem de cupins por transectos em linhas de


plantio.

F. Estratégias e táticas do manejo de cupins

- Táticas de controle cultural

Estudos mostram que adubação adequada das plantas propicia maior


resistência ao ataque de cupins. Alem disso, recomenda-se fazer o plantio em
época chuvosa para acelerar o desenvolvimento das plantas e escapar da fase de
danos por cupins, que geralmente ocorre após 6 meses após o plantio.
Recomenda-se, também, não fazer aração nem arrancar os cupinzeiros
antes de matá-los, pois irá multiplicar os ninhos, devido à possibilidade de haver
reprodução da colônia por fragmentação, quando são formados reis e rainhas nas
partes do ninho que ficaram sem eles.

Ficha de Monitoramento de Cupins e Avaliação de Mudas Atacadas


Região: Fazenda: Projeto:
107

Talhão: Área: Data:


Espécie Planta: Idade: Monitor:
Número de mudas
Amostra
Totais Danificadas

Total
% Mudas atacadas: Ação:

FIGURA 35. Ficha de monitoramento e avaliação de mudas atacadas por cupins .

- Táticas de controle biológico


108

A utilização de fungos entomopatogênicos no controle de cupins, tem-se


mostrado altamente promissora. A estratégia utilizada é aplicar grande quantidade
de fungos sobre os insetos, através de polvilhadeira, adaptada com uma câmara
na mangueira de descarga para melhorar a distribuição do fungo dentro do ninho
(Figura 36), ou através da impregnação em iscas de material celulósico.

FIGURA 36. Polvilhadeira manual utilizada na aplicação de fungos em


cupinzeiros. A - câmara adaptada à mangueira; B - orifício de
aplicação no cupinzeiro; C - câmara de celulose; D - camada
externa. Fonte: Moino Júnior (1998).

Essas iscas ou armadilhas atrativas são impregnadas com conídios de


entomopatógenos ou a associação destes com inseticidas para controlar os cupins
subterrâneos. Essa técnica consiste na ação lenta do material impregnado sobre a
população de cupim quando eles se alimentam das iscas. Além do controle,
podem-se usar essas iscas, sem os agentes impregnantes, para o monitoramento
das populações desses insetos.
Vários tipos de materiais de origem celulósica têm demonstrado
eficiência na atratividade dos cupins, como, por exemplo, blocos de madeira de
baixa densidade, papel toalha, papel-filtro, rolo de papel higiênico e papelão
ondulado. Outros estudos demonstraram que a atratividade intensifica-se quando
esses materiais celulósicos foram associados com outros produtos, como, por
exemplo, bagaço de cana-de-açúcar “in natura”, rolão de milho, fezes secas e
frescas de bovinos e folhas de celulose picadas.
É importante salientar que essa técnica de monitoramento e controle
encontra-se em fase experimental, não sendo ainda comercializada.

- Táticas de controle químico


109

Tratamento do cupinzeiro: no caso de cupins de montículo, que são facilmente


encontrados, pode-se fazer o combate diretamente nos ninhos, bastando perfurar
o montículo com uma lança de ferro até atingir a câmara de celulose e aplicar o
inseticida com auxílio de uma mangueira acoplada a um funil. Fazer o combate
dos cupins de montículo de 30 a 60 dias antes do preparo do solo, independente
de amostragem. Não é necessário tampar o orifício após a aplicação do produto
(Tabela 22).

TABELA 22. Produtos químicos recomendados para o tratamento de cupinzeiros.

Nome Técnico Nome Comercial Dosagem


fention Lebaycid 500 CE 300 ml/100 l água - 1 l
calda/ninho
imidacloprid Confidor 700 GrDA 30 g/100 l água - 1 l calda/ninho
fipronil Regent 20 G 5 g/ninho

Se forem encontrados cupinzeiros do gênero Syntermes (cupim


subterrâneo) pode-se combatê-los diretamente através da aplicação de inseticidas
em pó ou termonebulização, semelhante à aplicação de formicidas. Porém,
existem poucos produtos registrados e os ninhos são profundos e difíceis de
serem localizados, o que dificulta esse tipo de combate.

Tratamento das mudas: no caso de cupins subterrâneos, que são dificilmente


encontrados, pode-se fazer o combate através do tratamento das plantas antes ou
após o plantio (Figura 33).
Tratamento pré-plantio: o tratamento pré-plantio consiste na imersão das
mudas em calda inseticida (Tabela 23) imediatamente antes do plantio, conforme
Figura 32.

TABELA 23. Recomendação para tratamento de mudas pré-plantio contra cupins.

Nome Técnico Nome Comercial Dosagem


fipronil Tuit NA 500g/100 l água – imersão das
mudas até o coleto durante 20
segundos e deixar escorrer por 2
minutos.

Tratamento pós-plantio: é realizado quando a amostragem pós-plantio


indicar. Nesse caso, basta pulverizar as mudas na altura do coleto com calda
inseticida (Tabela 24), usando bico de jato cônico, conforme Figura 37.
110

TABELA 24. Recomendação para tratamento de mudas pós-plantio contra cupins.

Nome Técnico Nome Comercial Dosagem


fipronil Tuit NA 250 ml/100 l água - pulverizar as
mudas no coleto com 20 ml
calda/planta

Fipronil 0,5%

Tratamento pré-plantio Tratamento pós-plantio

FIGURA 37. Esquemas dos tipos de tratamentos de mudas contra cupins


realizados nas fases de pré-plantio e pós-plantio.

combate tratamento
cupim pré-plantio +
montículo plantio

ronda ronda

J F M A M J J A S O N D

monitoramento
pré-plantio
FIGURA 33. Planejamento das operações de controle químico contra cupins em
reflorestamentos.

Tratamento com iscas atrativas: podem-se usar iscas atrativas (papel cartonado
ou outro material celulósico) impregnadas com fungos entomopatogênicos e
inseticidas estressores (imidacloprid) em concentrações subletais. Esse tipo de
111

tratamento encontra-se em fase experimental, não sendo utlizado ainda


comercialmente.

10.7. MANEJO INTEGRADO DE BESOUROS SERRADORES

Os besouros serradores de madeira constituem outro grupo de insetos


praga de essências florestais, porém sem muita importância, pois a maioria não
possui estudos aprofundados quanto à bioecologia, aspectos daninhos e suas
conseqüências aos seus hospedeiros.
Os principais representantes deste grupo são todos pertencentes à
ordem Coleoptera, família Cerambycidae, gênero Oncideres. No Brasil, ocorrem
nos estados de Minas Gerais, Rio de janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul, além do Paraguai e Argentina. Na região sul do país estes
insetos possuem um importante destaque, em plantios de bracatinga (Mimosa
scabrella Benth) (Leguminosae) e acácia-negra (Acacia nearnsii) (Leguminosae)
em áreas nativas e em plantios comerciais, sendo Oncideres impluviata a espécie
mais importante nesses plantios.
Há também registro dessa praga danificando plantas de eucaliptos,
porém isso não tem merecido atenção especial; entretanto, para plantios de
algaroba, essa praga tem-se tornado o maior entrave ao desenvolvimento dessa
cultura no interior de Pernambuco, sendo a espécie Oncideres limpida a mais
incidente; em plantios de guapuruvu, onde também ocorre incidência dessa praga,
tem-se Oncideres dejeani como principal espécie.
Psyllotoxus griseocinctus foi registrado causando danos em plantios de
eucaliptos no Distrito Federal. O. impluviata sobre plantas de angico vermelho
(Parapiptadenia rígida) e em capororoca (Rapanea umbellata), em Santa Maria-
RS.
Os danos advêm do comportamento dos coleópteros de serrar galhos ou
troncos das espécies de plantas citadas, provocando a queda destes, que são
usadas para o desenvolvimento de sua fase jovem, que necessitam de madeira
recém morta. Apenas as fêmeas fazem o trabalho de corte, que pode durar até
duas semanas.
Causa sensível diminuição na produção de casca e lenho nas plantas de
acácia-negra, sendo a principal praga dessa espécie florestal, atacando as plantas
de todas as idades. Quando o ataque ocorre em plantas com menos de quatro
anos de idade, geralmente provoca sua morte. As plantas mais velhas recuperam-
se do ataque, mas quando se dá no ramo principal ou ponteiro, a acácia fica com a
forma típica de forquilha pela emissão de brotos laterais, denunciando a ação da
praga. Em plantas com menos de dois anos de idade, o serrador corta acima do
galho, obrigando muitas vezes o replantio.
112

Esses insetos têm a maior preferência pela parte do alburno e região


cambial. O cerne, ou parte mais lignificada, é raramente atacado. Após a
emergência o inseto procura os ponteiros dos galhos onde o tecido é tenro para
alimentar-se, passando a comer a casca do mesmo. A fase de alimentação dura
de 5-7 dias e é denominada “alimentação de maturação”. Essa é a “fase de
manutenção”. Depois vem a “fase de manutenção” onde o inseto realiza outras
atividades e faz pausas para alimentar-se.
Para efetuar a postura as fêmeas necessitam de madeira recém-cortada
rica em seiva. Dessa maneira, os adultos iniciam o corte dos ramos ou hastes,
alimentando-se dos mesmos; serram os ramos e fazem incisões de maneira
circular na casca, onde coloca os ovos de distância em distância, em baixo da
casca, às vezes várias dezenas em um mesmo ramo. Os galhos ou ramos
roletados, com os ovos, desprendem-se da planta, caindo no chão. A duração do
corte pode ser de horas, ou até duas semanas, dependendo do diâmetro da parte
atacada, e vários indivíduos podem participar desse trabalho, as fêmeas
continuam a oviposição, por alguns dias.
Logo após o corte as larvas escavam galerias no interior dos ramos, onde
passam toda a sua fase jovem, por períodos variáveis. As galerias vão
aumentando à medida que a larva cresce, e dependendo da espécie pode
completar seu ciclo evolutivo em torno de um ano. Após a eclosão as larvas
alimentam-se do lenho, que durante a chuva é favorecido devido ao umedecimento
dos galhos; assim, em locais úmidos a infestação é mais intensa do que em locais
secos.

A. Principais espécies

As principais espécies de besouros serradores do Brasil estão descritas


na Tabela 25.

TABELA 25. Principais espécies de besouros serradores do Brasil e seus


hospedeiros.

Espécies Hospedeiro
Eurymerus eburioides Eucalyptus spp.
113

(Servile, 1813)
Xymerus nigricornis
Eucalyptus spp.
(Dupont, 1838)
Trachyderes thoracicus
Eucalyptus spp.
(Oliver, 1790)
Paramalocera hirta
Eucalyptus spp.
(Kirby, 1818)
Psygomatocerus wagleri
Eucalyptus spp.
(Perty, 1828)
Psyllotoxus griseocinctus
Eucalyptus spp.
(Thonson, 1868)
Oncideres amputator
Eucaliptus spp., Mimosa sp., leguminosas silvestres
(Fabricius, 1792)
Oncideres vermiculata
Eucalyptus trabuti
(Thonson, 1868)
Eucalyptus sp., Mimosa spp., Acacia spp., Piptadenia
rigida, Rapanea umbellata, Cercis siliquastrum,
Bauhinia candicans, Gleditschia amorphoides, Annona
Oncideres impluviata
sp., Bauhinia candicans, Piptadenia acacia, Cassia
(Germar, 1824)
sp., viveiros de Eucalyptus spp., casuarinas, tucuman,
acácia-aroma, maricá, pata-de-vaca, tapororoca,
guaratiba
Acacia nearnsii, Eucalyptus spp., Acacia polyphylla,
Caesalpinea peltoforoides, Cinnamomum zeylanicum,
Mimosa bracatinga, Acacia nearnsii, Piptadenia,
Oncideres dejeani Chorisia speciosa, macrocarpa, Casuarina
(Thonson, 1868) equisetifolia, Schizolobium parayba, Cedrella
brasiliensis, Grevillea robusta, araribá, cedro, ipê
amarelo, figueira, angico, cabreúva, canudo-de-pito,
paineira, pereira

Espécies Hospedeiro
Acacia nearnsii, Acacia trinervia, Tamarindus indica,
Acacia sp., Mimosa scabrella, Mimosa bracatinga
Oncideres saga (Dalman,
Albizzia moluccana,Parkia pendula, Lonchocarpus sp.,
1823)
Nectandra sp., monjoleiro, unha-de-gato, cedro,
angico, jacaré, açoita cavalo, unha-de-boi, guapuruvu,
114

ingazeiro, acácia asiática, acácia mole, jacarandá,


ingazeiro
Oncideres germari Piptadenia macrocarpa, Piptadenia macrocarpa,
(Thonson, 1868) Prosopis sp., Acacia cavenia
Oncideres heterocera
Mimosa sp., Leguminosas silvestres
(Thonson, 1868)
Oncideres captiosa
Cinnamomum camphora
(Martins, 1891)
Oncideres aegrota Nectandra ocotea, Nectandra sp., Canphora
(Thonson, 1868) officinarum, flamboyant, canela, acácia, louro.
Oncideres bondari
Leguminosas arbóreas
(Melzer, 1923)
Oncideres cervina
Canela
(Thonson, 1868)
Oncideres chevrolati
Farinha seca
(Thonson, 1868)
Oncideres jatai (Bondar,
Jataí
1953)
Oncideres ocularis
Acacia nearnsii
(Thonson, 1868)
Oncideres ulcerosa
Ficus retusa nitida,Ilex sp., flamboyant, pau pombo
(Germar, 1824)
Oncideres aliceae Acácia-jurema
Hypsioma fasciata Acacia decurrens molissima, Enterolobium sp.,
(Thonson, 1860) monjoleiro
Trachysomus fragifer
Patagonula americana
(Kirby, 1818)
Merocentrum melzeri
Coccoloba ilhense
(Bondar, 1938)
Ischioloncha wollastoni
Genipapim
(Thonson, 1860)
Lochmaeocles fasciatus
Acacia nearnsii, cabiúna, tungue
(Lucas, 1857)

B. Reconhecimento das principais espécies

Oncideres impluviata Germar, 1824., Oncideres dejeanii Thomson, 1868,


Oncideres limpida Bates, 1868.
115

Adulto: o adulto tem o comprimento do corpo de 13-20mm por 4-6mm de maior


largura; apresenta coloração pardo-amarelada, com pubescência acinzentada. Os
élitros apresentam manchas amareladas em toda superfície e as pernas são
pretas, brilhantes e salientes nas proximidades do pronoto. O corpo do macho é
menor que o da fêmea e suas antenas são mais longas que o corpo, apresentando
assim forte dimorfismo sexual.
Larvas: as larvas são ápodas do tipo vermiforme, com coloração branco-leitosa,
apresentam uma placa branca calcária e resistente no dorso do primeiro segmento
torácico. Desenvolve-se no interior dos ramos cortados, passando por sete
estádios e o ciclo biológico completo dura, em média, 371 dias.
Pupa: as pupas são do tipo livre ou exarada, com tamanho variando de 17-27 mm
de comprimento por 3,5-7 mm de diâmetro. O período pupal dura, em média, 21
dias. Os ovos têm forma elipsóide de coloração branca, medindo,
aproximadamente, 2,8 mm de comprimento e 0,5 mm de diâmetro, apresentando
um período de incubação de 13 dias.

Psyllotoxus griseocinctus Thomson, 1868.


Adulto: O adulto tem coloração acinzentada, o que os confundem com a cor dos
galhos de eucalipto, tornando difícil a sua localização. Possui pigmentação cinza-
escuro, mas os élitros são extremamente marcados por uma faixa de coloração
diferenciada na parte mediana; o adulto, sob dieta alimentar em flores e solução de
água com açúcar, apresenta longevidade de 20 dias.
Pupa: Seu período de pupa dura, em média, 15 dias. Sua biologia é pouco
conhecida.

C. Monitoramento de besouros serradores

O monitoramento de besouros serradores é feito através de amostragens


de detecção, uma vez que ainda não se tem nível de controle estabelecido para
nenhuma das espécies citadas. A amostragem consiste na instalação de frascos
tipo caça-mosca com orifícios maiores (± 2 cm de diâmetro), para permitir a
entrada dos besouros, contendo, em seu interior, solução de melaço a 10% como
atraentes, para captura dos adultos. Os frascos devem ser colocados nas bordas
dos plantios no início da época chuvosa, distanciados 50 metros uns dos outros
(Figura 39). As avaliações são feitas semanalmente, quando se deve trocar o
melaço. Nos locais onde foi detectado algum inseto, devem-se colocar mais
frascos para coletar mais insetos.

D. Estratégias e táticas do manejo de besouros serradores


116

Das larvas que atacam os galhos, grande maioria não consegue atingir a
fase adulta, pois a competição por espaço e/ou por alimento é intensa durante a
fase jovem. Por esse motivo, para se ter um controle eficaz desse grupo de
insetos, o combate deverá ser aplicado na fase de larva já instalada no interior de
ramos e galhos cortados, embora esse grupo possa ser controlado também na
fase adulta. Para o combate das larvas, a tática de controle se restringirá,
somente, a métodos mecânicos e físicos; para os adultos, pode ocorrer a
aplicação de produtos químicos.
No sul do Brasil, para o controle de larvas, isto deverá acontecer a partir
da primeira quinzena de novembro, estendendo-se até o mês de outubro do ano
seguinte, em que se visará, também, às pupas e adultos imobilizados no interior
dos galhos. Para adultos, desde o fim de outubro até final de janeiro.

- Táticas de controle mecânico

O controle mecânico ao serrador pode ser realizado pela destruição das


larvas instaladas no interior dos galhos cortados, e adultos na época do seu
surgimento.
Colocação de frascos caça-mosca com orifícios maiores para permitir a
entrada dos besouros, contendo em seu interior, solução de melaço a 10% como
atraentes, para captura dos adultos. Os frascos devem ser colocados nas bordas
dos plantios no início da época chuvosa, distanciados 50 metros uns dos outros. O
melaço deve ser renovado semanalmente. Deve-se aumentar a densidade de
frascos nos locais de maior captura.
Eliminação dos ramos atacados no chão ou pendurados e destruição das
larvas pelo fogo. Esse método não elimina a ação da praga, pois há sempre a
chance de reinfestação de adultos localizados em reservatórios de hospedeiros
nativos ou de outros plantios próximos. Entretanto, quando bem realizado, reduz a
densidade populacional da praga a níveis suportáveis, pela cultura. Esse processo
previne a continuação e execução da postura, diminuindo a quantidade de larvas
que constituirão a geração de adultos na geração seguinte. Executado em plantios
novos, o seu efeito será mais eficaz e deverá ser empregado, sempre que
possível, como ação complementar de controle.
Não guardar os troncos ou galhos atacados para serem consumidos
futuramente como lenha porque as larvas completam o ciclo de vida no material
amontoado.

- Táticas de controle cultural

Deve-se inspecionar periodicamento o plantio para a detecção da praga.


Além da eliminação dos ramos cortados ou dependurados nas plantas, devem ser
117

eliminadas as plantas hospedeiras naturais da praga, tais como a planta de maricá


(Minosa bimucronata) (Leguminosae), para plantios de acácia-negra (Acacia
nearnsii) (Leguminosae). Para bracatinga recomenda-se apenas a coleta e a
queima dos galhos, uma vez que essa espécie apresenta alopatria em relação ao
maricá.

- Táticas de controle legislativo


o
No Rio Grande do Sul, a lei estadual n 1869, de 25/12/1956, obriga
todos os acacicultores a coletar e queimar galhos cortados por serradores; além
de eliminar ramos e galhos cortados e pendurados na planta; eliminar plantas de
maricá que é um hospedeiro alternativo da praga; usar frascos caça-mosca com
orifícios maiores contendo mel ou melaço a 10% para capturar os serradores e
fazer vistorias constantes na plantação. Esse método deve ser executado em toda
a área de incidência do inseto para se prevenir contra a reinfestação.

Instalação de
frascos caça-
mosca

Inspeção dos Inspeção dos frascos


frascos

J F M A M J J A S O N D
FIGURA 39. Planejamento das operações de monitoramento de besouros
serradores com frascos tipo caça-mosca adaptado com orifícios
maiores (± 2 cm de diâmetro).

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