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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE ARTES – IARTE


CURSO DE MÚSICA

Paula Roberta B. C. Fernandes


Esse trabalho está vinculado a disciplina de filosofia da música, do Curso de
graduação em música. Durante a disciplina vários temas foram abordados juntamente
com o pensamento de filósofos que definiam a história da música do seu tempo.
Realizando a leitura do livro Música e filosofia, estética musical de Lia Tomás, já
no I capítulo intitulado: Antiguidade, na fala do filósofo Aristóteles em seu livro Política,
surgiu o tema para a realização do trabalho.
O objetivo do trabalho é pensar e trazer para a realidade a fala do filósofo
Aristóteles. Há uma vasta realidade musical que depende do local em que se está, da
cultura, do incentivo, entre outros fatores, mas aqui o questionamento estará limitado para
a realidade de uma escola estadual de música. Durante o trabalho relato questionamentos
que tive no curso de licenciatura e de quando comecei meu trabalho no conservatório de
música.
É possível, por meio do I capítulo, perceber que a música não se tratava de algo
desvinculado das outras artes ou até mesmo dos outros conhecimentos, tudo estava ligado
entre sim e sendo trabalhado simultaneamente. Percebe-se esse fato através da fala da
autora
O que se pode dizer em linhas gerais é que a música era compreendida de um
modo complexo, pois ela possuía vínculos diretos com a medicina, a
psicologia, a ética, a religião, a filosofia e a vida social (Lia Tomás, 2005,
p.13).

E mais à frente a autora complementa

O termo grego para música, musiké (pronuncia-se mussikê), compreendia um


conjunto de atividades bastante diferentes, as quais se integravam em uma
única manifestação: estudar música na Grécia consistia também em estudar a
poesia, a dança e a ginástica (Lia Tomás, 2005, p. 13).

Percebe-se a grandiosidade da música no tempo da antiguidade e


consequentemente a importância do seu estudo para o ser na civilização grega.
No decorrer do capítulo a autora cita em um dos “boxes” uma fala do filósofo
Aristóteles que chamou minha atenção. Aristóteles cita quatro disciplinas importantes
para a educação em seu tempo: gramática, ginástica, música e desenho e o seu argumento
gira em torno da música. Ele afirma e parece chegar à conclusão que as pessoas incluem
o estudo de música em suas vidas para distração, divertimento, para ele, nada há de
especial no estudo de música que ajude em outras áreas do conhecimento.
Por várias vezes escutei de educadores e não educadores que a música é muito
importante para ajudar em outras áreas do conhecimento, é até comum dizer que ela ajuda
a desenvolver-se na matemática, mas, será? Dessas afirmações ouvidas por algum tempo
e depois de ler a fala de Aristóteles algumas dúvidas surgiram sobre o aprendizado
musical. Será que a música ajuda a criança, adolescente ou adulto que estuda desenvolver-
se em outras áreas? Para que a música é importante?
Talvez seja um pouco crítico porque sou professora de música há alguns anos e
trabalho o ensino de música com diferentes faixas etárias, mas de certa forma trouxe
questionamentos que poderão ser, se não respondidos, compreendidos. E o ato de pensar
sobre esse assunto faz entender alguns processos que se passa com alunos no ensino de
música.
Compreendi que para Aristóteles, segundo relatos do texto, estudar um
instrumento era para servos e o aprendizado de música que entendo como a escuta
musical, estudo da teoria, ficava para os jovens livres. Essa é a parte que usa mais o
intelecto, uma realidade diferente do que temos atualmente nas instituições. O
aprendizado baseia-se em um pouco de tudo, geralmente temos o ensino do instrumento,
teoria, harmonia, entre outras matérias.
Ao longo do período como professora de música percebi diferentes realidades do
meio em que estava ministrando aulas. Com alunos particulares o interesse é variado,
muitos estudam música por hobbie, outros para tocarem nas igrejas, alguns se interessam
para o futuro profissional e outros para se distraírem. Trabalhando no conservatório de
música é possível perceber, não só com meus alunos, mas com alunos de outros
professores também, que a música serve para diferentes realidades. Alguns, assim como
no particular, fazem música por hobbie, alguns se dedicam a música para participar de
grupos musicais na igreja, outros pretendem ter em seu currículo o curso técnico em
música, que possibilita fazer o curso superior e trabalhar na área. Tive a experiência com
idosos que fazem música por lazer, distração, e muitos dizem não abandonar a música
pois ela ajuda a forçar a memória, atenção, além do prazer emocional que ela proporciona.
As crianças são o maior número de alunos no conservatório e vejo em vários pais e nos
pequenos o interesse em aprender música. Acredito que para cada pai pode existir um
interesse individual, mas creio também que há um fator em comum entre eles para
levarem seus filhos até a escola.
As vezes dentro do ensino de música encontramos diversas realidades, e é preciso
entender cada uma, pois, existem culturas diferentes, interesses diferentes. Música por
lazer, entretenimento, louvor, terapia, música como educação.
Há algum tempo já havia me questionado sobre isso, para que a música é
importante? Mas essa pergunta é tão ampla quanto a resposta porque para cada pessoa ela
se manifesta de uma forma diferente. Cada pessoa a sente de uma forma e a realiza de sua
forma. Sendo impossível generalizar a importância que a música exerce sobre cada pessoa
relato um pouco sobre minha experiencia no ensino e da importância que ela exerce sobre
as pessoas, no meio em que trabalho.
A fim de responder sobre o questionamento: será que a música ajuda a criança,
adolescente, adulto que estuda desenvolver-se em outras áreas? Segundo um artigo
voltado mais para a educação no processo de aprendizagem da criança o autor afirma

A criança pode, com a música e gestos e dança, trabalhar a coordenação motora


e a atenção; ao cantar ou imitar sons ela estará descobrindo suas capacidades e
estabelecendo relações com o ambiente em que vive. Atividades como cantar
fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés, são experiências importantes para a
criança, pois elas permitem que se desenvolva o senso rítmico, a coordenação
motora, sendo fatores importantes também para o processo de aquisição da
leitura e da escrita (Rodrigues, p.5).

Dessa afirmação é possível concluir que por meio da música algumas habilidades
são desenvolvidas como a coordenação motora, a atenção, criatividade, memorização
assim como afirma Rosa (1990) apud Rodrigues

a música contribui para o desenvolvimento da coordenação visomotora, da


imitação de sons e gestos, da atenção e percepção, da memorização, do
raciocínio, da inteligência, da linguagem e da expressão corporal. Essas
funções psiconeurológicas envolvem aspectos psicológicos e cognitivos, que
constituem as diversas maneiras de adquirir conhecimento, ou seja, são a
operações mentais que usamos para aprender, para raciocinar. A simples
atividade de cantar uma música proporciona à criança o treinamento de uma
série de aptidões importantes

Podemos levar em consideração que essas afirmações ajudam não só o


desenvolvimento infantil, mas do adolescente e até mesmo do adulto. Não é porque se
estuda música que será bom em matemática ou em qualquer outra área, o estudo de
música pode ajudar no desenvolvimento de habilidades como atenção e concentração para
que outras situações sejam resolvidas. É importante levar em consideração também que
nem toda criança é exposta a um aprendizado de música e nem por isso ela não irá adquirir
de outras formas essas habilidades.
A filosofia proporciona o questionamento “tomar distância do senso comum e de
si mesmo” essa é a atitude filosófica. Nesse trabalho propus questionar algo que vi muito
durante a licenciatura. A educação musical é sim importante, mas chego à conclusão que
para cada pessoa ela se dá de uma forma diferente. Não dá para impor um ensino musical
único ou dizer que a música é a mais importante arte que desenvolve habilidades para o
ser humano.
Referências

TOMÁS, Lia. Música e filosofia: estética musical. São Paulo: Irmãos Vitale, 2005.

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