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RECOMENDAÇÕES ESTILÍSTICAS PARA OS LIVROS DE FICÇÃO

(FC, FANTASIA E HORROR) E DE NÃO-FICÇÃO DA DEVIR

GERAIS

Eu provavelmente estou chovendo no molhado, mas não gostaria que certos recursos
fossem “overdone” (de uso exagerado), especialmente marcações de diálogos do tipo
“disse ele/ela”. Seria bom alternar com “ele disse”, “ela disse”— “ele/ela disse”
principalmente no começo de um diálogo, deixando “disse ele/ela” para respostas ou
para evitar a repetição exagerada de “disse” ao final da sentença, o que cria uma
cadência desagradável se aparecer mais do que umas duas vezes. Você pode jogar
também com essas inversões para evitar rimas involuntárias em “ou”, “eu”, “iu”, etc.,
quando for outro verbo relativo à fala do personagem, como “riu”, “respondeu”,
“perguntou”, “explicou”, etc.

Se o personagem que está falando cita outros, a fala do citado aparece entre aspas, e
nunca com travessão.

Evite comentar uma linha de diálogo com verbo, sujeito e advérbio. Isso é cacoete
infanto-juvenil, paternalista e indicativo, ao leitor mais experiente, de que o escritor não
tem um controle preciso da cena. Não há razão, por outro lado, para não fazer essas
marcações com sujeito e verbo — a forma verbo e sujeito é convencionalismo
exagerado. Além do mais, na maioria dos casos o advérbio ou locução adverbial tem
que ser separado por vírgula, o que torna a construção ainda mais estranha.

Cuidado com repetições de palavras e com rimas finais involuntárias. Cuidado


também com construções tautológicas do tipo “vestiam-se com vestimentas”.

Evite rimas involuntárias, particularmente as em “ão”, “ões”, “ava” e “mente”.


Sempre dá, por exemplo, para desmembrar um advérbio em “mente” —
“insistentemente”: “de modo insistente”, por exemplo.

Também é bom evitar o excesso de pronomes pessoais, elipsando-os quando


possível, e possessivos, substituindo-os por artigos quando possível.

Por exemplo:

Conforme Amasa prosseguia, ele viu o palmeirim inclinar-se para continuar a esfregar as mãos de um
bebê. Amasa tentou se guiar pelos padrões das estrelas, mas não importasse em que direção corresse,
todas as estradas se dobravam na direção de uma única estrada, e essa estrada levava a um único portão. E
no portão a criança esperava por ele. Só que ela já não era mais uma criança. Seu corpo de um cinza de
ardósia tinha agora um busto pesado, e ela sorriu para Amasa e tomou-o em seus braços, recusando-se a
ser recusada.
— Sou Dalmanutha — murmurou —, e você segue a minha estrada. Sou Acrasia, e vou lhe ensinar a
felicidade.

O leitor já sabe que é a mulher quem murmura, não é preciso dizer “ela
murmurou” ou “murmurou ela”.

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Atenção quanto a excessos de espaços entre palavras ou sentenças. Sempre um
único espaço.

Em parte são recomendações estilísticas genéricas, em parte convenções que eu


quero padronizar dentro da coleção.

PONTUAÇÃO

Evitar pontuação dupla, do tipo !? ?!. Deixe só o ! ou o ? mesmo. Passar sempre as


ocorrências de ...? e ...! para ?... e !... Evitar o excesso de reticências [...] e de pontos de
exclamação ou interrogação muito próximos. Em geral, a conjunção “enquanto” é
precedida de vírgula. Em muitos casos, acontece o mesmo com o gerúndio.

Pensamentos dos personagens, quando claramente identificáveis dentro do texto,


devem vir delimitados por aspas. Ex.:

“Não é à toa que o Flick mal se sustenta”, Ricardo refletiu, enquanto rumava para a rodoviária.

Cabe vírgula antes de “e” numa enumeração, quando muda a categoria dos seres
enumerados:

Quando muda a situação implícita do verbo: “Eram rebeldes e astutos, e se


agarravam ao seu pernicioso modo de vida a despeito de sofrerem taxas, multas,
açoites, decapitações e empalamentos.” Neste caso, também se percebe que muda a
relação sintática: “rebeldes e astutos” são adjetivos, e o que vem depois é um verbo.

Ou quando a ausência da vírgula provoca confusão sobre a semelhança entre os


seres:

DIÁLOGOS

Usar sempre o travessão longo [—]. Mesmo quando esse travessão não indica
diálogo, mas uma ressalva dentro de um momento expositivo ou narrativo, dentro do
texto. Ex.: “Suas lembranças com freqüência corriam para os dias de serviço militar,
com uma nostalgia aguda nascida de uma encruzilhada de sensações — aventuras de
menino, mas sérias o bastante para gravarem-se na memória como dores nos ossos.” No
meu teclado: control + alt + “-” do teclado numérico.

Evitar diálogos inseridos dentro de parágrafos. Buscar sempre iniciar um diálogo


numa nova linha.

Sempre:
Os servos murmuraram:
— Veja, a borboleta fala ao novato, o que veio nu.

Nunca:
Os servos murmuraram: — Veja, a borboleta fala ao novato, o que veio nu.

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Por outro lado, se o personagem que está falando cita outros, a fala do citado
aparece entre aspas, e nunca com travessão.

Numa linha de diálogo, em minúscula depois do travessão só se for verbo discente ou


expressão que está no lugar de verbo discente. Do contrário, é com inicial maiúscula.
Exemplo:

— Então como poder saber se não é um eterno prisioneiro da Biblioteca? — Faz um


gesto amplo e solene com seus braços longos. — Contaste-me que existem pessoas que
ficam para sempre lá...

Expressões como “sorri”, “estranha”, etc. NÃO são verbos dissentes e não devem ser
usados para rubricar diálogos.

Sempre (sobre o posicionamento de vírgula ou ponto e vírgula em diálogo dividido por


intervenção do narrador):
— Porque você era o mais santo — disse —, eu o trouxe até aqui.

Nunca:
— Porque você era o mais santo, — disse — eu o trouxe até aqui.
Ou
— Porque você era o mais santo — disse, — eu o trouxe até aqui.

Atentar, quando possível, ao registro sociolingüístico dos personagens, nos diálogos.

Ainda sobre diálogos:

Sempre:
— Não pretendo ir — disse ela. Como poderia? Não sabia como chegar ao salão
onde aconteceria o ritual. — Escolho me ausentar desta vez. Haverá outro, daqui a sete
anos.

Nunca:
— Não pretendo ir. — Disse ela. Como poderia? Não sabia como chegar ao salão
onde aconteceria o ritual — Escolho me ausentar desta vez. Haverá outro, daqui a sete
anos.

Um modo de entender isso melhor é lembrar como eram feitas as marcações antigas:

— Não pretendo ir, disse ela. Como poderia? Não sabia como chegar ao salão onde
aconteceria o ritual. Escolho me ausentar desta vez. Haverá outro, daqui a sete anos.

O travessão marca sempre a alternância de quem fala. Desse modo, quando a fala de
um mesmo personagem é paragrafada, é preciso representar com aspas os parágrafos
seguintes àquele primeiro marcado com travessão:

— Às vezes, quando estou quieto em mim, como agora, vêm-me visões de cousas que não entendo, e
que habitam indistintas os dois lados da vida e da morte. Cousas que falam do passado e do amanhã, e
outras que falam da ordem das cousas no mundo, e que não estão relatadas nos livros sagrados de muitos
povos, mas que tenho por verdadeiras.

3
“Quando aqui entrastes, vi que fundo em teu coração és livre, e que em breve teu corpo também o
será. Também vi que não és serva do rei, mas de um homem de alma escura. Agora digo-te o que farás,
não como ordem recebida de um homem livre, mas como um pedido apenas. Contarás ao teu senhor tudo
o que te contei aqui, sobre mim próprio. É para isto que vieste, e é o que te peço que faças por mim.”

Sendo que apenas o último parágrafo da fala do personagem tem o “fecha aspas”.

Cuidado com o gerundismos do tipo “estava fazendo” “estava acontecendo”, etc.


Quando possível, aglutinar como “fazia”, “acontecia”, etc.

Atente para o fato de “este”, “esse” e “aquele” (ou “esta”/”isto”, “essa”/”isso” e


“aquela”/”aquilo”) obedecem a uma gradação de proximidade, no tempo e no espaço.
Evite o “aquelismo”, que é o mais distante, em posições mais próximas. “Este”/”isto”
também têm a característica de anunciar alguma coisa que aparece logo a seguir.

Deixar termos como “aquele”, “naquele”, “daquele” para referências a


objetos/fatos distantes no tempo ou no espaço. Dar preferência a “esse”, “nesse”,
“desse” para objetos/fatos presentes no momento da narrativa.

Evite, igualmente, expressões do tipo “de qualquer forma” ou “desta forma”, dando
preferência a “de qualquer modo” ou “de qualquer maneira”, ou “deste modo” ou “desta
maneira”, etc.

FORMATAÇÃO:

Evite espaços extra entre palavras, pontuação ou entre um ponto final e o início de
uma nova sentença. Essas coisas acabam entrando no texto impresso e são sinais de
amadorismo e descuido editorial.

Nomes de navios e naves são em itálico (control + i).

Evite colocar números e outros símbolos dentro de diálogos, tipo “nenhuma alma
nunca conseguiu ficar 100 anos seguidos sem enlouquecer”, mas “nenhuma alma nunca
conseguiu ficar cem anos seguidos sem enlouquecer”. Assim se preserva mais a ilusão
de que se trata de uma vocalização.

SIGLAS, ETC.

Siglas devem sempre vir em versalete: OTAN, e não OTAN. Subtítulos também: A
MÚSICA DAS ESFERAS e não A MÚSICA DAS ESFERAS.

CITAÇÕES
Capítulo de livros, história ou poema em antologia ou coletânea, sempre entre aspas.
Título de livro, álbum de música, filme, sempre em itálico.

Trechos de outro autor ou autores: no corpo do texto, sempre usar apenas aspas. Se
houver ocorrência de aspas dentro do texto citado, usar aspas simples dentro do entre
aspas normal. Se o trecho for mais longo do que três linhas, destacá-lo do corpo do
texto pulando uma linha e apresentando um recuo diferente de parágrafo, e talvez uma
fonte um ponto ou meio ponto menor. Neste caso, não é preciso utilizar aspas.

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As iniciais das palavras principais (substantivos, adjetivos, advérbios de modo) dos
títulos devem vir em maiúscula:

Nunca:
O jogo do exterminador
Tempo fechado
Anjos, mutantes e dragões

Sempre:
O Jogo do Exterminador
Tempo Fechado
Anjos, Mutantes e Dragões

Atenção: nestes casos, artigos, preposições, conectivos, numerais, devem vir com inicial
minúscula (a menos que eles ocorram no início do título).

Nunca: Angela Entre Dois Mundos


Orador Dos Mortos

Sempre: Angela entre dois Mundos


Orador dos Mortos

Os textos precisam estar de acordo com o Novo Acordo Ortográfico.

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