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1702-Texto Do Artigo-4809-2-10-20160722 PDF
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INTRODUÇÃO
A doença trofoblástica gestacional (DTG) é um capaz de interagir com moléculas e células da
termo aplicado no espectro de doenças do interface materno-fetal evadindo a resposta
trofoblasto viloso placentário. Este é um tecido imune e promovendo tolerância local. A partir
de origem materna e paterna que exibe disto, há a formação de um grupo de patologias
características únicas, pois apesar de se tratar distintas entre si do ponto de vista clínico-
de um aloenxerto no organismo materno, ele é patológico, agrupadas em formas benignas e
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dor intermitente na região pélvica de forte núcleo ativo, o que significa que os genes serão
intensidade do tipo cólica, concomitante a um de origem paterna, causando a perda precoce
sangramento vaginal, de intensidade variável, do embrião e a proliferação trofoblástica
cor viva, sem odor fétido. Foi necessária então, excessiva. Ao contrário da primeira, nos casos
a realização do quinto procedimento de de mola hidatiforme parcial ocorre a
curetagem uterina tendo em vista o valor do B- fecundação de um óvulo por dois
HCG ainda bastante aumentado (B-HCG: espermatozoides ou um espermatozoide
52.475,46 mUI/mL). As dosagens subseqüentes diploide, originando uma triploidia ou
deste hormônio foram realizadas após o início tetraploidia, com o conjunto de cromossomos
da quimioterapia, procedimento este extra-haplóides de origem paterna que
fundamental para redução de seus valores. A inicialmente se desenvolve, mas que não
dosagem do hormônio B-HCG manteve-se progride durante muito tempo4.
decrescente, até então, alcançando os
seguintes valores dosados semanalmente: Os primeiros sintomas da morbidade cursam
64.658 mUI/mL; 5.283,84 mUI/mL; 550 mUI/mL. com sintomatologia de uma gestação normal,
Hoje, após duas sessões de quimioterapia, os dentre eles atraso menstrual, náuseas e
valores de B-HCG encontra-se no valor de 253 vômitos, bem como aumento uterino mais
mUI/mL. São utilizados Metotrexato 1 mg/kg D1, rápido que o usual7. Procede-se outros aspectos
D3, D5 e D2, Leucovorin 0,05 mg/kg D2, D4, D6 e clínicos, como é o caso do sangramento de
D8 a cada 2 semanas e mais 3 ciclos após coloração escura por volta 10ª a 16ª semanas
normalização do B-HCG. Contudo, a paciente gestacionais, cistose ovariana devido a
hiperreação luteínica causada pelos elevados
passa bem e tem tido boa aceitação da doença.
níveis de hCG no sangue, pré-eclâmpsia antes
da 24ª semana de gestação, hipertireoidismo
DISCUSSÃO causado pela semelhança estrutural da
A mola hidatiforme é um distúrbio da gravidez subunidade alfa do hCG e o hormônio
em que a placenta e o feto não se desenvolvem estimulante da tireoide, causando grande
adequadamente. Desse modo, segundo estimulação do TSH e problemas pulmonares
características genéticas e histopatológicas pela sobrecarga congestiva do coração
pode-se dividir a doença em mola total ou mola esquerdo¹. As manifestações clínicas da
parcial. Na primeira, há ausência de embrião, paciente englobaram grande parte
proliferação mais pronunciada do trofoblasto e características da doença e de maneira bastante
maior frequência de atipias. Já na segunda há intensa, tendo em vista as constantes recidivas.
desenvolvimento inicial do embrião, sendo Contudo, destaca-se que devido o diagnóstico
considerada menos comum do que a forma precoce a paciente não apresentou algumas das
completa. No caso em questão, a paciente repercussões clínicas mais graves como as
apresenta características de mola completa, alterações pulmonares, tireotóxicas e os cistos
evidenciada pelo perfil uterino com presença ovarianos. Destaca-se, portanto, a importância
intracavitária de conteúdo amorfo sem o óvulo do diagnóstico correto e precoce, bem como a
fecundado6. dosagem cuidadosa dos níveis hormonais para
controle e tratamento adequados.
Assim, a doença trofoblástica gestacional
ocorreu a partir de uma falha na fertilização, A análise histopatológica do material colhido na
que deram origem há dois tipos celulares: os curetagem ou aspiração é fundamental para
formadores da placenta e os formadores do intervenções preventivas. Dentre elas
embrião. No caso da mola hidatiforme destacam-se as quimioterapias, que evitam,
completa, existe a fecundação de um óvulo sem principalmente, a evolução de neoplasias
malignas³.
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esquemas secundários que resultam em taxas Trofoblástica gestacional."Rev. Para. Med 26.3
de sobrevida de cinco anos próxima dos 80%9. (2012).
Mesmo assim não se devem abandonar as 8-Seckl, M. J., et al. "Gestational trophoblastic
disease: ESMO Clinical Practice Guidelines for
medições periódicas do hCG devido ao fato de
diagnosis, treatment and follow-up." Annals of
ainda existir um risco de relapso de 3% no oncology 24.suppl 6 (2013): vi39-vi50.
primeiro ano após a terapêutica, sendo inclusive
idealmente prorrogados até além desse 9-Agarwal, R., et al. "Uterine artery pulsatility
período, por 6 semanas em nível sérico e na index: a predictor of methotrexate resistance in
gestational trophoblastic neoplasia." British
urina até 6 meses de duas em duas semanas, e
journal of cancer106.6 (2012): 1089-1094.
após isso apenas avaliações dos níveis na urina
a cada seis meses. Qualquer método
contraceptivo pode ser usado desde que não
haja outras contraindicações de seu uso8.
REFERÊNCIAS
1. Rabelo DF. Comprometimento Cofnitivo Leve
1-Pereira de Moraes, Valéria, et al. Complicações
clínicas da gravidez molar. Femina 42.5.
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