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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PSS
Nº 70021557954
2007/CÍVEL

RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL.


PUBLICAÇÃO DE FOTOGRAFIA COM LEGENDA
OFENSIVA À HONRA DO AUTOR.
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DOS
PRESTADORES DE SERVIÇO DE HOSPEDAGEM.
Os elementos de convicção trazidos ao caderno
processual dão conta de que o co-demandado
Eduardo Marques veiculou em seu fotolog fotografia
do autor, inserindo legenda deveras ofensiva aos
direitos da personalidade. Não há falar em mero
dissabor nesse caso, considerando-se o meio utilizado
para levar a efeito a “brincadeira” confeccionada pelo
réu, que sequer conhecia pessoalmente o autor. O
próprio co-réu confirmou que realizou a conduta para
retalhar o autor, que, ao que havia sido lhe informado,
também estava denegrindo sua imagem. Prova que
até mesmo o réu revela inexistir.
Assim, forte nos arts. 186 e 927 do CC, incumbe ao
co-demandado reparar os danos suportados pelo
demandante.
De igual forma, em face do que preceitua o art. 932, I,
do CC, os pais do co-réu Eduardo Marques, que era
menor à época, respondem pelos prejuízos gerados.
Concernente às co-demandadas Terra Networks Brasil
S.A. e Studio Sol Comunicação Digital Ltda., não há
falar em responsabilidade objetiva. Isso porque as rés
limitaram-se a prestar serviços de hospedagem,
relação em que não há controle ou interferência no
conteúdo veiculado pelos usuários. Assim, apenas há
responsabilidade civil quando comprovado que não
atenderam a eventual denúncia, ou quando, tomando
ciência de eventual ato ilícito, permanecem inertes, o
que não restou comprovado nos autos.
O dano moral encontra-se ínsito na ofensa pública
perpetrado pelo co-demandado Eduardo Marques,
bem como vem corroborada pela prova testemunhal.
Na mensuração do dano, não havendo no sistema
brasileiro critérios fixos e objetivos para tanto, mister
que o juiz considere aspectos subjetivos dos
envolvidos. Assim, características como a condição
social, a cultural, a condição financeira, bem como o
abalo psíquico suportado, hão de ser ponderadas para
a adequada e justa quantificação da cifra reparatório-
pedagógica. Critérios esses observados pela juíza
singular e devidamente sopesados, fixando valor
adequado para o caso em comento.
APELO PROVIDO EM PARTE.

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APELAÇÃO CÍVEL QUINTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70021557954 COMARCA DE CAXIAS DO SUL

BRUNO BETTIATO APELANTE

EDUARDO MARQUES E OUTROS APELADO

STUDIO SOL COMUNICACAO APELADO


DIGITAL LTDA

TERRA NETWORKS BRASIL S/A APELADO

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial
provimento ao apelo.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes
Senhores DES. LEO LIMA (PRESIDENTE E REVISOR) E DES. JORGE
LUIZ LOPES DO CANTO.
Porto Alegre, 14 de novembro de 2007.

DES. PAULO SERGIO SCARPARO,


Relator.

R E L AT Ó R I O
DES. PAULO SERGIO SCARPARO (RELATOR)

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No intuito de evitar tautologia, adoto o relatório da sentença de


primeiro grau:

Bruno Bettiato, já qualificado nos autos, ingressou com


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR USO INDEVIDO DE
IMAGEM CUMULADA COM DANOS MORAIS com
pedido de tutela antecipada para que os réus se
abstenham de utilizar sua fotografia contra Eduardo
Marques e seus progenitores Milton S. Marques e
Lucimara Marques, Terra Networks Brasil S.A. e Studio
Sol Comunicação Digital Ltda, por uso indevido de sua
imagem, que foi veiculada de forma vexatória pelo
primeiro requerido, em 19/10/2004, no site Flog Brasil,
página de Internet mantida pela ré Studio Sol
Comunicação Digital Ltda, sob o domínio da requerida
Terra Networks Brasil S.A. Afirma que o objetivo do réu
Eduardo que sequer conhece, ao divulgar seu retrato
adulterado, foi somente de ridicularizá-lo.Os réus não
tinham qualquer autorização para fazer uso de sua
imagem, mormente da forma como ocorreu. Postula
100 salários mínimos a título de indenização pelos
danos morais. Acostou documentos.
Foi deferida a tutela antecipada.
A ré Terra Networks Brasil S.A. interpôs agravo de
instrumento da decisão, sendo negado provimento ao
recurso.
Citados os demandados apresentaram contestação e
documentos.
Terra Networks Brasil S.A., argüiu, preliminarmente,
carência de ação por ilegitimidade passiva, porque o
site onde foi veiculada a fotografia do autor é de
responsabilidade exclusiva da co-ré Studio Sol
Comunicação Digital Ltda, e falta de documentos
essenciais à propositura da ação. No mérito, sustenta
que não possui nenhuma ingerência no conteúdo
veiculado no site da co-ré, sendo que apenas hospeda
em seu servidor aludido site, mediante contratação
específica para este fim. Afirma que não pode ser
responsabilizada pelos danos morais pleiteados, que
sequer foram comprovados, ante a inexistência de
conduta culposa. Impugnam o valor pretendido pelo
autor a título de indenização.
Eduardo Marques e seus progenitores Milton
S.Marques e Lucimara Marques, aduziram que a

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fotografia do autor já estava publicada na Internet,


junto ao site Flog Brasil, o que torna pública e de
domínio público a sua imagem, não tendo, portanto,
havido uso indevido de imagem. Sustentam que se
trata de site de entretenimento e que a alteração da
foto não constitui ilícito. Argumentam que a brincadeira
foi de mau gosto, própria de um adolescente, contudo
não tem o condão de afetar a moral, a reputação e a
honra do autor em suas relações sociais, mormente
considerando-se que a foto alterada permaneceu na
rede menos de 24 horas.
Studio Sol Comunicação Digital Ltda sustentou que
possui um recurso denominado “denunciar abuso” e
que através deste link o autor poderia ter lhe
comunicado para que fosse providenciada a retirada
do material. Afirma que não tinha ciência prévia de que
o réu Eduardo Marques infringiu as regras do contrato,
uma vez que é impossível manter uma censura prévia
do conteúdo que é submetido à publicação nas
páginas do Flog Brasil. Portanto, não tendo agido com
culpa e inexistente o nexo causal, não poderá ser
responsabilizado.
Houve réplica.
O Ministério Público manifestou-se.
Na audiência preliminar a conciliação resultou
inexitosa, sendo relegado o exame da preliminar de
ilegitimidade passiva da ré Terra Networks Brasil S.A.
para sentença.
Durante a instrução foi colhido o depoimento das
partes e inquiridas as testemunhas.
Os debates orais foram substituídos pela
apresentação de memoriais.
O Ministério Público manifestou-se, informando que o
réu Eduardo Marques atingiu a maioridade, motivo
pelo qual deixava de intervir no feito.

Acrescento que, nas fls. 437-440, sobreveio sentença, vazada


nos seguintes termos:

ISSO POSTO, declaro o autor carecedor de ação


contra a Terra Networks Brasil S.A., por ser esta parte
passiva ilegítima, extinguindo o feito sem resolução do
mérito, forte no art. 267, inc. VI, do CPC, condenando
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o mesmo ao pagamento das custas processuais e


honorários advocatícios que fixo em R$ 600,00, cuja
exigência é suspensa, por gozar da gratuidade
judiciária, e julgo improcedente a ação, condenando
autor ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios aos procuradores dos
réus,que fixo em R$ 800,00, para cada um, cuja
exigência é suspensa, por gozar da gratuidade
judiciária.

O autor apelou nas fls. 443-454, advogando a legitimidade


passiva da co-ré Terra Networks Brasil S.A. e, no mérito, reforçando os
argumentos expendidos durante a tramitação do feito, postulou a
condenação dos demandados nos termos deduzidos na exordial.

O Studio Sol Comunicação Digital Ltda. apresentou contra-


razões nas fls. 458-467; Eduardo Marques, Lucimara Marques e Milton S.
Marques nas fls. 470-478; a co-ré Terra Networks Brasil S.A. nas fls. 480-
490.

Registro que foi observado o disposto nos artigos 549, 551 e


552, do Código de Processo Civil, tendo em vista a adoção do sistema
informatizado.

É o relatório.

VOTOS
DES. PAULO SERGIO SCARPARO (RELATOR)

Insignes Colegas, não verifico possível apreciar a preliminar de


ilegitimidade passiva da co-ré Terra Netwoks Brasil S.A de forma dissociada
do mérito, razão pela qual com ele será analisada.
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Da responsabilidade civil dos co-réus Eduardo Marques, Milton S.


Marques e Lucimara Marques.

É fato incontroverso que o então menor Eduardo Marques,


valendo-se de uma fotografia do autor, a colocou em seu fotolog, alterando-a
(com a colocação de uma barba na imagem do demandante, em referência
ao político Enéas), bem como apôs comentário inegavelmente ofensivo aos
direitos de personalidade do autor, quando o qualificou como boca de xoxota
(fl. 16).

Frente a isso, não há maiores digressões a serem realizadas.

A internet é uma ferramenta extremamente útil e indispensável


nos tempos atuais. Todavia, considerando-se todo seu poder e extensão, há
de se ter todas as cautelas em seu uso. Isso porque, um singelo comentário
em seu âmbito pode vir a tomar dimensões faraônicas e acarretar um
incontável número de problemas. Com exemplos dessa faceta perigosa da
internet nos deparamos todos os dias, como a divulgação de vídeos
gravados às escondidas de celebridades (que acabam impulsionando ou
acabando com suas carreiras), fotografias comprometedoras que ceifam
casamentos e relacionamentos, etc.

Com efeito, se o demandado Eduardo Marques tivesse feito o


mesmo comentário degradante a seu círculo de amigos, talvez o autor
sequer dele viesse a tomar conhecimento ― uma vez que as partes nem ao
menos compartilhavam o mesmo circulo de amigos. Porém, ao divulgar tal
comentário em seu fotolog, oportunizou que não apenas o autor, mas todas

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as pessoas do mundo tivessem conhecimento da ofensa, daí o incontestável


dano sofrido pelo demandante.

Aduza-se que tamanho foi o mau gosto da “brincadeira” que os


próprios amigos do demandado deixaram recados em seu fotolog o
reprimindo (fls. 16-17).

Assim, não há prevalecer a tese de defesa de que se trataria


de brincadeira própria de qualquer estudante adolescente. Brincadeira
própria de qualquer estudante adolescente é jogar futebol, namorar, ir a
festas, jogar videogame, e não denegrir pública e mundialmente a imagem
de outros adolescentes.

A propósito, é de se destacar que o próprio co-réu Eduardo


Marques descartou a hipótese de se tratar de uma “brincadeira”, na medida
que a publicação tinha caráter de retalhação. É que, segundo relatou em
juízo, uma amiga teria lhe dito que o ora autor estaria fazendo comentários
desrespeitosos com relação à sua pessoa em blogs, o que o levou a praticar
o ato (fl. 380). Mas, como o próprio réu admitiu na seqüência do depoimento,
prova disso não havia, assim como não há (fl. 380).

Afora isso, o próprio réu se arrependeu de sua conduta


(evidenciando a gravidade da situação), quando, em seu fotolog, deixou um
recado se retratando e pedindo escusas pelo seu comportamento à
namorada do ora autor, a quem conhecia (fl. 42).

Assim porque inarredável a responsabilidade civil do co-réu


Eduardo Marques no sentido de reparar os prejuízos sentidos pelo autor,
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não pelo uso da imagem sem autorização ― porque entendo que o só ato
de veicular a imagem não é fato gerador de lesão à direito da personalidade
―, mas por fazê-lo no desiderato único e reprovável de denegri-lo perante
terceiros, tudo em consonância ao art. 186 e 927 do Código Civil.

De igual forma, devem os pais do demandado Eduardo


Marques, ora co-réus, responderem pelo ilícito e sua reparação. Isso porque,
consoante preceitua o art. 932, I, do Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação


civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua
autoridade e em sua companhia;

Da responsabilidade dos co-réus Terra Networks e Studio Sol


Comunicação Digital.

A responsabilidade civil dos provedores da internet está


intimamente vinculada à espécie de serviço prestado e desenvolvido.

Em regra, são três os grupos de provedores: de acesso, de


conteúdo e de hospedagem. Há casos em que eles se fundem, prestando o
mesmo provedor mais de um serviço ou, inclusive, todos eles.

Em cada uma das espécies a responsabilidade civil dos


provedores possui facetas próprias que hão de ser ponderadas para o
exame do caso concreto. Dessa forma, ao fim e ao cabo, o que definirá os

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contornos do exame dessa responsabilidade é a própria causa de pedir


deduzida em juízo por aquele que persegue seu direito.

No caso, o autor ingressou com ação de indenização por dano


moral em virtude de o co-réu ter difamado sua pessoa em fotolog criado pela
co-ré Studio Sol Comunicação Digital Ltda., em espaço contratado da co-ré
Terra Netwoks Brasil S.A. Todavia, a responsabilidade civil das co-
demandadas no presente feito deve ser vislumbrada sob a óptica subjetiva,
em virtude do que segue.

Consoante se depreende do contrato das fls. 104-122 a Studio


Sol Comunicação Digital Ltda. contratou da Terra Netwoks Brasil S.A espaço
em seus servidores para a criação de um sítio, ou seja, evidente a relação
de hospedagem.

A Studio Sol Comunicação Digital Ltda., por sua vez, dentro do


espaço locado, desenvolveu uma página de fotolog. Tal serviço oportuniza
que as pessoas interessadas veiculem fotografias e imagens, diariamente,
tecendo, por vezes, algum comentário, como um verdadeiro diário virtual. Ou
seja, por mais que a co-ré Studio Sol Comunicação Digital Ltda. não seja
uma provedora, presta, efetivamente, um serviço de hospedagem para seus
usuários.

Ocorre que, em contratos de hospedagem, o provedor


hospedeiro fornece espaço em seus servidores viabilizando que um terceiro
armazene seus arquivos, quando então a provedor de hospedagem passa a
distribuir as informações, possibilitando o acesso aos interessados.

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Nesses casos, em regra, não há qualquer atividade de edição


ou monitoramento das informações inseridas pelo contratante pelo provedor
hospedeiro. Aduza-se que, em virtude do próprio volume de páginas e de
conteúdo, seria impensável exigir de tais provedores um juízo de censura e
fiscalização prévia à veiculação das informações inseridas. Tal exigência
tornaria por inviabilizar a própria utilização dos serviços de hospedagem,
seja pelo elevado custo a ser cobrado, seja por descaracterizar uma das
principais peculiaridades do serviço, qual seja, a pronta publicação da foto
ou do comentário lançado.

Por tudo isso, não há como exigir um monitoramento


preventivo dos usuários, donde surge inviável atribuir responsabilidade
objetiva às co-rés no caso em concreto. Nesse sentido as lições de Gustavo
Testa Corrêa, Sônia Aguiar do Amaral Vieira e Érica Brandini Barbagallo,
consoante se depreende das respectivas passagens que seguem:

...a responsabilidade pelo material armazenado e


distribuído através da Rede é exclusiva do autor. Não
há relação alguma entre o provedor contratado para a
‘hospedagem’ de uma página e o seu conteúdo, pois o
provedor presta apenas o serviço de hospedagem,
não sendo o titular da página hospedada.1

...a responsabilidade do material armazenado e


divulgado na Internet é exclusiva o autor. Não há
relação alguma entre o provedor contratado para a
hospedagem de uma página e o seu conteúdo, uma
vez que este último é o titular da página ou site. A
responsabilidade somente poderá ser invocada, caso
o ISP e o hosting service providers, avisados sobre o
conteúdo ilícito da página, insistirem em mantê-la.2

1
Aspectos Jurídicos da Internet. São Paulo: Saraiva, 2000. Pág. 102.
2
Inviolabilidade da vida privada e da intimidade pelos meios eletrônicos. São Paulo:
Juarez de Oliveira, 2002. Pág. 145.
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...o provedor de hospedagem não é responsável pelo


conteúdo dos sites que hospeda, uma vez que não
tem ingerência sobre o conteúdo destes, não lhe
cabendo o controle editorial das páginas eletrônicas.
Também não se pode esperar do provedor de
hospedagem atividades de fiscalização: na maioria
das vezes o armazenador não tem acesso ao
conteúdo do site, apenas autorizado ao seu
proprietário, que pode alterar o conteúdo de suas
páginas com a freqüência que lhe aprouver. Ademais,
várias são as páginas e sites hospedados em cada
servidor, restando impossível para o provedor de
hospedagem a fiscalização de conteúdo.3

Outrossim, está Egrégia Corte já decidiu:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.


PUBLICAÇÃO DE PÁGINA DA INTERNET COM
CONTEÚDO OFENSIVO À HONRA DO AUTOR. No
caso concreto, não há prova de que a página
efetivamente esteve hospedada no site do réu, que é
provedor de serviço na Internet. Além disso, em
contrato de hospedagem de página na Internet o
provedor não interfere no seu conteúdo, salvo
flagrante ilegalidade, sendo subjetiva a sua
responsabilidade. Caberia ser notificado pelo lesado
para retirar a página, sendo responsabilizado na
hipótese de sua inércia. No caso concreto, tal hipótese
não se configurou. Sentença reformada para julgar
improcedente o pedido. Apelo do réu provido. Apelo do
autor prejudicado. (Apelação Cível Nº 70011258027,
Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Ney Wiedemann Neto, Julgado em
20/04/2006).

No caso, o autor não imputou a quaisquer das requerias


omissão na retirada da foto apontada como desabonatória. Na verdade,
como restou comprovado do lastro probatório coligido ao processo, a
fotografia ofensiva permaneceu na Internet por menos de 24 horas, quando
3
Aspectos da responsabilidade civil dos provedores de serviços na Internet, in
Conflitos sobre nomes de domínio e outras questões jurídicas da Internet, coordenado por
Ronaldo Lemos e Ivo Waisberg. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. Pág. 358.
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o próprio demandado tratou de retirá-la. Também, não há provas de que as


rés tiveram conhecimento da ofensa antes do ingresso do processo, o que
afasta suas responsabilidades frente ao evento.

Assim, é de ser julgada improcedente o feito com relação às


co-rés Studio Sol Comunicação Digital Ltda. e Terra Netwoks Brasil S.A.

Do dano e de sua quantificação.

Concernente à existência de dano moral, esse se verifica na


modalidade in re ipsa, quanto mais em se considerando tratar-se de ofensa
à imagem do autor veiculada em internet. Ou seja, os danos encontram-se
ínsitos ao ato e sua publicização, sendo despicienda a comprovação dos
prejuízos.

Aduza-se que, no caso, não há falar em mero dissabor. A


testemunha Andie Boldrin confirmou que, após a publicação, o autor ficou
abalado com a situação, uma vez que passou a ser alvo de chacotas de
seus colegas. Segundo se infere do caderno processual:

Depois dessa fotografia como é que ficou a


imagem do seu Bruno para a turma, para os
amigos?
Olha, pra quem viu ficou bem chato, todo mundo ficou
fazendo aquelas conversinhas de fundo e fazendo
gozação e coisa e tal, não ficou muito legal não.
(...)
E o seu Bruno qual era o...., ele chegou a
conversar com a senhora depois dessa fotografia,
dessa situação toda, o que ele transparecia, estava
triste, estava abalado, ou estava normal?

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Ficou bem abalado mesmo porque quem conhecia ele


e não tinha muita amizade com ele passou a fazer
gozação e chacotas, coisas assim, não ficou muito
legal, ele ficou bem abalado (fl. 384).

No que concerne à quantificação do dano moral, não obstante


a dificuldade de fazê-lo, ante a ausência de critério legal, mister fixar alguns
pontos.

Adianto que não se trata de tarifar de forma pecuniária o


sentimento íntimo da pessoa. Tal seria impensável e até mesmo amoral.
Todavia, a prestação pecuniária se presta a amenizar a dor experimentada
em decorrência do ato praticado e reprovável. Embora a vantagem
pecuniária a ser aferida não fará com que se retorne ao status quo ante ―
situação essa ideal, porém impossível ― proporcionará uma compensação,
parcial e indireta, pelos males sofridos.

Por esse enfoque, deve-se ter em mente que a indenização


deve ser em valor tal que garanta à parte credora uma reparação (se
possível) pela lesão experimentada, bem como implique, àquele que efetuou
a conduta reprovável, impacto suficiente para dissuadi-lo na repetição de
procedimento símile.

Nesta linha, entendo que a condição econômica das partes, a


repercussão do fato, assim como a conduta do agente devem ser
perquiridos para a justa dosimetria do valor indenizatório, no intuito de evitar
o enriquecimento injustificado da autora e aplicação de pena exarcebada à
demandada. Noutro sentido não me parecem as ponderações exaradas por
Sergio Cavalieri Filho, ao tratar do arbitramento do dano moral:

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Creio que na fixação do quantum debeatur da indenização,


mormente tratando-se de lucro cessante e dano moral, deve o juiz
ter em mente o princípio de que o dano não pode ser fonte de
lucro. A indenização, não há dúvida, deve ser suficiente para
reparar o dano, o mais completamente possível, e nada mais.
Qualquer quantia a maior importará enriquecimento sem causa,
ensejador de novo dano.
Creio, também, que este é outro ponto onde o princípio da lógica
do razoável deve ser a bússola norteadora do julgador. Razoável
é aquilo que é sensato, comedido, moderado; que guarda uma
certa proporcionalidade. Importa dizer que o juiz, ao valorar o
dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com o seu
prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da
conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento
experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador
do dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias
mais que se fizerem presentes.”4

No caso, o co-réu Eduardo Marques labora como desenhista,


recebendo R$ 3,00 por hora de trabalho (fl. 374). A mãe do co-demandado,
pro sua vez, se trata de comerciária, ganhando em torno de R$ 781,00 (fl.
153). Por fim, o pai do réu, e também responsável pela reparação do dano, é
comerciário, auferindo, em média, R$ 1.800,00 (fls. 155-158).

O autor, por seu turno, também é estudante, não tendo os


transtornos decorrentes do evento ocasionado maiores prejuízos ao autor,
senão a própria dor íntima.

Tecidas essas ponderações, fixo a indenização pelo abalo


moral sofrido em R$ 3.800,00, importância essa que atende às suas
finalidades. Porque, por um lado, não se mostra baixo, assegurando o
caráter repressivo-pedagógico próprio da indenização por danos morais; por
outro, não se apresenta elevado a ponto de caracterizar um enriquecimento
sem causa da parte autora.

4
Programa de Responsabilidade Civil. 2ª ed. 4ª Tiragem. rev., aum. e atual. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda, 2001. Págs. 81-82.
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O valor deverá ser corrigido pelo IGP-M, a contar desta sessão


de julgamento, bem como deverá ser acrescida de juros de mora de 1% ao
mês a contar da publicação da fotografia do autor, forte no art. 398 do
Código Civil.

Em face do desfecho, o autor deverá arcar com 50% das


custas do feito, bem como com os honorários dos patronos das co-rés
Studio Sol Comunicação Digital Ltda. e Terra Netwoks Brasil S.A., fixados
em R$ 1.000,00 para cada. Suspensa a exigibilidade por litigar o
demandante sob o pálio da gratuidade, sem prejuízo do disposto no art. 12
da Lei n. 1.060/50.

Os co-demandados Eduardo Marques, Milton S. Marques e


Lucimara Marques suportarão com o restante das custas do feito, assim
como com os honorários do advogado do demandante, arbitrados em R$
1.000,00.

Dessarte, dou parcial provimento ao apelo do demandante.

DES. LEO LIMA (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo.


DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO - De acordo.

DES. LEO LIMA - Presidente - Apelação Cível nº 70021557954, Comarca de


Caxias do Sul: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: CLAUDIA ROSA BRUGGER

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