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Lara Camargo

Na natureza selvagem: uma aventura de autoconhecimento

Confesso que quando me propus a ler “Na natureza selvagem”, livro lançado
em 1998 pelo jornalista John Krakauer, escolhi a obra pelo seu tamanho. A falta de
tempo para me dedicar a uma leitura foi o elemento decisivo para que eu optasse
em fazer a resenha deste livro, que era o mais fino dentre as opções dadas pela
professora para a realização da atividade.

Conhecia pouco sobre o livro, e nada me chamava à atenção na história de


um jovem aventureiro que acaba morrendo no Alasca, exceto por se tratar de uma
obra jornalística. “Mais um livro” – pensei. Percebi que estava errada logo na
primeira página. A falta de tempo para ler desapareceu no primeiro capítulo. Levava
o livro comigo para todos os lugares: faculdade, ônibus, trabalho. Enquanto meus
olhos estavam desocupados eu estava com ele nas mãos. Terminei de ler em três
dias, e após o último ponto final eu queria mais. Assisti ao filme baseado no livro. E
queria mais.

O que posso dizer? Simplesmente, que Krakauer escreveu um dos melhores


livros que já li. É claro que o personagem principal, Cris McCandless, que tinha uma
personalidade extraordinária, colabora para a que a obra seja interessantíssima.
Mas a trama que Krakauer constrói em volta da aventura de Cris torna ainda mais
fascinante, dramática e encorajadora essa odisseia. O tato e o cuidado de Krakauer
são singulares. Resultado de um artigo para a revista Outside, o livro, em primeiro
lugar, é uma aula de jornalismo. O autor refaz a saga Cris, experimentando as
mesmas dificuldades e refletindo sobre as situações extremas vividas por Cris sua
última e grande aventura.

A narrativa do livro não é linear, logo no começo, o autor conta sobre a


descoberta do corpo de Cris, já em estado de decomposição, dentro de um ônibus
abandonado. A partir de então, Krakauer analisa o diário mantido por Cris durante a
viagem, entrevista diversas pessoas que conviveram com ele durante sua jornada
até o Alasca e vai até o local onde o corpo foi encontrado para tentar entender o
porquê um jovem formado, de família rica e inteligente resolveu abandonar tudo e
se aventurar em meio à natureza selvagem.

As conclusões de Krakauer são absolutamente reveladoras, e não dizem


respeito somente a Cris, mas nos fazem refletir sobre nosso estilo de vida, sobre as
pessoas ao nosso redor e sobre a importância de cada decisão que tomamos. De
forma extraordinária, o autor reflete sobre vários aspectos psicológicos de Cris e
sobre seus conceitos acerca da sociedade, dinheiro, amor, sexo, família e trabalho.
O livro por si só é uma aventura à parte; tanto pelas paisagens do Alasca, que são
descritas detalhadamente; quanto pela reflexão interior provocada em cada leitor.

O livro transcreve uma das cartas que Cris envia para um senhor que lhe
ajudou durante sua empreitada. Nela, podemos entender claramente o que ele
buscava em meio à natureza e o que pretendia passar para as pessoas que
encontrava pelo caminho: “[…] acho que você deveria realmente promover uma
mudança radical em seu estilo de vida e começar a fazer corajosamente coisas em
que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar. Tanta
gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar a
situação porque está condicionado a uma vida de segurança, conformismo e
conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é
mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. [...] A
alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências...”. (pg. 67). Nesta
parte do livro, o leitor tem que se segurar na cadeira para não ir comprar
equipamentos de alpinismo e partir para o Alasca também.

Entretanto, é necessário interpretar as palavras de Cris com sutileza. Não é


necessário que ninguém vá ao Alasca para viver novas experiências, mas manter
acesa em nosso interior a vontade de aventura é essencial para uma vida mais
excitante. No meu caso, a grande aventura da minha vida foi vir para Londrina,
sozinha, estudar jornalismo. O problema é que Cris precisava de algo mais intenso.
Ele queria contrariar toda a sociedade, provar que poderia viver sem suas
tecnologias, suas hipocrisias e seus comodismos. Infelizmente, ele descobriu que
mais selvagem do que a sociedade capitalista, só a natureza.
Assim que o artigo na revista Outside foi publicado, muitas pessoas
criticaram Cris por ter se aventurado sem as providências necessárias. Com isso,
Krakauer derruba a noção de imparcialidade no jornalismo e, ao escrever o livro,
abraça a ideia de que Cris não estava despreparado, apenas queria sobreviver com o
mínimo possível. A morte por inanição, segundo ele, não deu-se pela falta de
habilidade de Cris, mas sim, por uma fatal jogada da natureza. Krakauer descobre
que Cris pretendia voltar para a sociedade, que o tempo em isolamento o fez capaz
de perdoar os erros da sua família – outrora desprezada por ele – e que sentia falta
dela. Mas, infelizmente, não consegue. Nesta parte, o autor transcreve novamente
mais uma das várias anotações de Cris encontradas no “ônibus mágico”: A
felicidade só é verdadeira quando compartilhada. Talvez a grande lição livro.

Em 2007, "Na Natureza Selvagem" ganhou uma adaptação cinematográfica


dirigida por Sean Penn, que é igualmente emocionante. Destacando-se a trilha
sonora maravilhosa, composta quase inteiramente pelo Eddie Vedder, vocalista do
Pearl Jam, e a atuação de Emile Hirsch, que interpretou brilhantemente Cris
McCandless.

Na natureza Selvagem
Autor: John Krakauer
Ano: 1998
Editora: Companhia das letras
Número de páginas: 213
Média de preço: 35,00

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