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ROTEIRO 1: PRECISÃO DE MEDIDAS

1 OBJETIVOS

 Operar com algarismos significativos;


 Calcular desvio padrão do valor médio de medidas;
 Operar com grandezas afetadas de desvios.

2 INTRODUÇÃO

Não existe uma única medida em toda a Física que esteja isenta de algum erro. Por mais sofisticada
que seja a aparelhagem utilizada os erros são uma presença constante e o bom experimentador deve
aprender a conviver com eles e minimizar os seus efeitos. Os erros são classificados em três grandes grupos:
grosseiros, sistemáticos e aleatórios.

a) Erros grosseiros:
São aqueles que ocorrem por inabilidade do experimentador e são provenientes de:
 Enganos, por exemplo, na leitura de medidores ou na contagem de número de oscilações de um
pêndulo.
 Erros na computação devidos a falta de precisão como, por exemplo, no uso de uma calculadora
para processar dados com algarismos duvidosos.
 Devidos a uma técnica deficiente.
Esses erros são de fácil eliminação e devem apenas de atenção na hora de realizar o experimento.

b) Erros sistemáticos:
São causados por fontes identificáveis, e, em princípio, pode ser eliminados ou compensados. Eles
fazem como que as medidas feitas estejam consistentemente acima ou abaixo do valor real, prejudicando a
exatidão da medida.
Ocorrem sempre do mesmo jeito e são provenientes de:
 Erros de calibração de instrumentos;
 Ao instrumento que foi utilizado, por exemplo, erros causados em medidas de intervalos de tempo
feitas com um relógio que atrasa;
 Ao método de observação utilizada, como por exemplo, medir o instante de ocorrência de um
relâmpago pelo ruído do trovão associado;
 Erros devidos à natureza da grandeza a ser medida como, por exemplo, variações verificadas no
comprimento de um objeto devido à falta de paralelismo e/ou polimento das faces.
 Erros do observador como, por exemplo, o erro devido a paralaxe (leituras que dependem da posição
do observador);
 Erros devido à influência de certos fatores que são desprezados, por exemplo, um instrumento usado
a uma temperatura diferente daquela que foi feita a calibração, causaria um erro sistemático nas
medidas se não fosse feita a correção apropriada.
Os erros sistemáticos podem ser eliminados ou compensados, novamente aqui é a habilidade do
experimentador que conta.
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c) Erros aleatórios ou acidentais:
Quando em uma série de medidas ora obtemos um valor, ora outro de forma imprevisível. Este tipo
de erro com o qual é mais difícil lidar e com ele podemos apenas obter uma minimização de seus efeitos.
Ele nunca é totalmente eliminado. Geralmente são provenientes de:
 Erros de julgamento como, por exemplo, na estimativa da fração da menor divisão de uma escala;
 Erros devidos a condições que flutuam como, por exemplo, variações na rede de energia elétrica;
 Erros devidos à natureza da grandeza a ser medida como, por exemplo, variações verificadas no
comprimento de um objeto devido à falta de paralelismo e/ou polimento das faces.
De agora em diante nos ocuparemos especificamente deste tipo de erro.

Ao fazermos a medida de uma grandeza física, o valor encontrado não coincide com o valor real da
mesma. Quando este resultado vai ser aplicado, é necessário saber com que certeza a grandeza física é
representada pelo número obtido. Deve-se, então, poder expressar a incerteza de uma medida em termos
que sejam compreensíveis a outras pessoas e para isto utiliza-se uma linguagem padronizada e métodos
adequados para combinar as incertezas dos diversos fatores que influenciam no resultado. Uma forma de
minimizar os erros aleatórios é o uso da estatística inferencial. Assim, define-se os seguintes parâmetros:

Valor verdadeiro de uma grandeza (𝑽𝑽 ) - é o valor obtido utilizando-se técnicas, amostras e instrumentos
perfeitos. Embora esse valor não possa ser conhecido na prática, com aperfeiçoamento podemos chegar
muito perto dele, portanto, admitimos que ele exista.

Erro de uma medida - é a diferença entre o valor obtido, 𝑉𝑖 , nessa medida e o valor "verdadeiro", 𝑉𝑉 , da
grandeza a ser medida.

𝐸 = (𝑉𝑖 − 𝑉𝑉 ) (1)

Valor médio (𝑽𝒎 ) - é a média aritmética de uma série de medidas, ou seja, é a soma de todos os números
divididos pelo número de termos. Quando as incertezas são devidas a erros acidentais, isto é, ao acaso,
quanto maior for o número de medidas, mais preciso será o valor médio, isto é, mais próximo do valor
verdadeiro.

𝑉1 +𝑉2 +𝑉3 +⋯+𝑉𝑛


𝑉𝑚 = 𝑉̅ =< 𝑉 >= (2)
𝑛

Desvio de uma medida (𝒅) - é a diferença, em valor absoluto, do valor médio, 𝑉𝑚 , de diversas medidas e
o valor 𝑉𝑖 de cada medida.

𝑑𝑖 = |𝑉𝑚 − 𝑉𝑖 | (3)

Desvio médio (𝒅𝒎 ) - é a média aritmética dos desvios encontrados.

∑𝑛
𝑖=1 𝑑𝑖
𝑑𝑚 = (4)
𝑛

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Desvio padrão de uma medida ou desvio padrão (𝒅𝒑 ) - numa série de medidas é a raiz quadrada da razão
entre a soma dos quadrados dos desvios e o número de medidas na série e é dado pela equação

∑ 𝑑2
𝑑𝑝 = ±√ 𝑛−1𝑖 (5)

Este método de minimizar os erros pressupõe que os erros sistemáticos e grosseiros foram
eliminados, pois ele minimiza apenas os erros aleatórios. Quando o desvio padrão resulta em um valor
menor que a incerteza do instrumento utilizado nas medidas, adota-se a incerteza do instrumento
como o desvio do valor médio.

Observações:

a) Às vezes usa-se como erro o desvio médio, desvio padrão ou até o desvio padrão médio, 𝑑𝑝𝑚
(𝑑𝑝𝑚 = ± 𝑑𝑝 ⁄√𝑛), dependendo do bom senso do experimentador, ou seja, do grau de incerteza que
o pesquisador quer expressar os seus resultados.
b) O primeiro algarismo do desvio padrão ou desvio padrão médio utilizado é que vai dizer onde deve
parar e fazer os arredondamentos.

Exemplo: Deseja-se conhecer o comprimento de uma haste,


efetuando-se para isto, dez medidas obtendo-se os valores
listados na Tabela 1.

Tabela 1: Valores de comprimento de uma haste.

𝑖 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝑉𝑖 (𝑐𝑚) 15,01 15,08 15,06 15,09 15,00 15,07 15,02 14,98 15,00 15,00

Para os valores acima tem-se o seguinte valor médio

∑𝑛𝑖=1 𝑉𝑖 150,31
𝑉𝑚 = = = 15,031 𝑐𝑚
𝑛 10

E para cada medida os desvios encontrados são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2: Valores de comprimento de uma haste.

𝑖 𝑑𝑖 = |𝑉𝑚 − 𝑉𝑖 | (𝑐𝑚) 𝑖 𝑑𝑖 = |𝑉𝑚 − 𝑉𝑖 | (𝑐𝑚)


1 0,021 6 0,039
2 0,049 7 0,011
3 0,029 8 0,051
4 0,059 9 0,031
5 0,031 10 0,031

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Realizando o cálculo do desvio padrão tem-se

∑ 𝑑𝑖2 142,9 × 10−4


𝑑𝑝 = ±√ = ±√
𝑛−1 10 − 1

142,9 × 10−4
𝑑𝑝 = ±√ = ±√1,588 × 10−3
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𝑑𝑝 = ±0,0398 … = ±0,04 𝑐𝑚

E o resultado final pode ser expresso da seguinte forma

𝐿 = 𝑉𝑚 ± 𝑑𝑝 = (15,03 ± 0,04) 𝑐𝑚

Isto significa que o valor mais provável do comprimento da haste é 15,03 cm, com uma grande
possibilidade de estar no intervalo de (15,03 − 0,04) 𝑐𝑚 à (15,03 + 0,04) 𝑐𝑚, ou seja, de 14,99 𝑐𝑚 à
15,07 𝑐𝑚.

Obs.: O valor médio é 15,031 𝑐𝑚 e o primeiro algarismo do desvio padrão médio e na segunda casa
decimal, portanto é o que deve interromper as anotações dos resultados, ou seja, o primeiro algarismo
diferente de zero do desvio padrão deve coincidir com o último do valor médio.

3 ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS

Quando se realiza uma medida ou se faz operações aritméticas com grandezas físicas, é importante
representar os valores apenas com os algarismos significativos. Para compreender a maneira de determinar
quais são os algarismos significativos de um medida, considera-se a seguinte situação:

Seja o segmento AB e a régua "centimetrada":

Como a menor divisão da escala é 𝜇 = 1 𝑐𝑚 (𝜇 → 𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒).

𝐴𝐵 = 6 𝜇 + 𝑓𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝜇

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Se 3 experimentadores fossem anotar o comprimento de 𝐴𝐵:

1º) todos os três anotariam 6 unidades completas;


2º) mas poderiam avaliar a "fração de μ" de três modos diferentes:

𝐹𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝜇 = 0,6 𝜇
𝐹𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝜇 = 0,7 𝜇
𝐹𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝜇 = 0,8 𝜇

E NENHUM DOS TRÊS ESTARIAM ERRADOS!

Portanto, o comprimento de AB poderia ser anotado como sendo:

̅̅̅̅ = 6,6 𝑐𝑚
𝐴𝐵
̅̅̅̅
𝐴𝐵 = 6,7 𝑐𝑚
̅̅̅̅
𝐴𝐵 = 6,8 𝑐𝑚

Entretanto, se um quarto experimentador avaliasse a fração como sendo 0,65 𝑐𝑚, que sentido poder-
se-ia atribuir a esse resultado? Medindo-se com régua "centimetrada" tem sentido avaliar décimos (isto é,
milímetros), mas é discutível, mesmo inaceitável, avaliar centésimo ou frações menores.
Em medições, é costume fazer estimativas com aproximadamente até décimos da menor divisão da
escala do instrumento.
A medida ̅̅̅̅
𝐴𝐵 = 6,7 𝑐𝑚 apresenta 2 dígitos ou algarismos, dos quais o dígito 7 resultou da fração
avaliada da menor divisão da escala do instrumento. E é por este motivo que nela reside a dúvida ou
incerteza da medida.
Já o dígito 6 é isento de dúvidas, pois como mostrado, a divergência entre os três experimentos está
na avaliação da fração da menor divisão da escala.

OS ALGARISMOS CORRETOS (não duvidosos) E TAMBÉM O ALGARISMO


DUVIDOSO (um só) CONSTITUEM OS ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS DE UMA MEDIDA.

Então,
na medida 6,6 𝑐𝑚 tem-se 2 algarismos significativos
" " 135 𝑘𝑚/ℎ " 3 " "
" " 21,2 × 10−9 " 3 " "

A quantidade de algarismos significativos de uma medida não se altera mediante uma transformação
de unidades. Por exemplo:

̅̅̅̅
𝐴𝐵 = 6,7 𝑐𝑚 = 6,7 × 10−2 𝑚 = 0,067 𝑚
̅̅̅̅
𝐴𝐵 = 6,7 𝑐𝑚 = 6,7 × 10 𝑚𝑚 = 67 𝑚𝑚

apresentam dois dígitos significativos, dos quais o dígito 7 é o duvidoso.

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OS DÍGITOS DE UM NÚMERO, CONTAM-SE DA ESQUERDA PARA DIREITA, A
PARTIR DO PRIMEIRO NÃO NULO, E SÃO SIGNIFICATIVOS TODOS CORRETOS MAIS O
PRIMEIRO DUVIDOSO, E MAIS NENHUM.

Em Matemática trabalhamos com números exatos, assim, tanto faz escrevermos 5,4 ou 5,40. Já em
Física, trabalhamos com números que geralmente decorrem de medidas de grandezas físicas, assim, 5,4 𝑐𝑚
e 5,40 𝑐𝑚 tem significados completamente diferentes no que diz respeito à precisão com que foram
realizadas cada uma dessas medidas. No primeiro caso temos certeza apenas do valor do primeiro algarismo
(5) estimamos o segundo (4) e desconhecemos completamente o valor do terceiro, portanto, não o
escrevemos. No segundo caso, temos certeza quanto aos dois primeiros algarismos (5 e 4) e estimamos o
terceiro como sendo zero.

Assim, devemos ter cuidado ao efetuarmos mudanças de unidades.


Por exemplo: 3,5 𝑚 = 350 𝑐𝑚?
Escrever 3,5 𝑚 é diferente de escrever 350 𝑐𝑚 (nestes casos o procedimento correto é o de lançar mão da
notação em potência de dez e escrever: 3,5 𝑚 = 3,5 × 102 𝑐𝑚.

Nota: Algumas poucas grandezas são conhecidas exatamente. Nestes casos podemos expressar seus valores
com um número qualquer de algarismos significativos. Por exemplo, a soma dos ângulos internos de um
triângulo é 180,00000°.

4 PROPAGAÇÃO DE ERROS NAS OPERAÇÕES MATEMÁTICAS

Já estamos conscientes que o resultado de uma medida direta possui uma incerteza. Todavia, em
nossos trabalhos, inúmeras vezes não podemos medir diretamente a grandeza de interesse. Somos então
forçados a obter esse valor através de outros, ou seja, necessitamos realizar uma medida indireta. Por
exemplo, ao determinar a velocidade média de um móvel, necessitamos medir o tempo e o espaço
percorrido. Assim, na prática, muitas vezes, uma grandeza física é determinada a partir de medidas
indiretas, ou seja, operações matemáticas com valores obtidos na medida direta das grandezas que figuram
na "lei" representativa do fenômeno considerado. Vejamos dois exemplos:

∆𝑆
a) Velocidade uniforme: 𝑣= ∆𝑡

onde ∆𝑆 e ∆𝑡 são medidas diretas e 𝑣 é uma medida indireta que vem das duas medidas diretas.

b) Movimento uniformemente variado: 𝑣 = 𝑣0 + 𝑎𝑡  ∆𝑣 = 𝑎𝑡

2 ∆𝑆−𝑣𝑜 𝑡
𝑎  medida indireta, 𝑎 = 𝑡2
∆𝑡  medida direta

Podemos ver facilmente que a medida de ∆𝑣 no caso (a) é afetado pelos erros cometidos nas medidas
diretas de ∆𝑆 e ∆𝑡 e no caso (b) é afetado pelos erros cometidos nos erros de ∆𝑆 e ∆𝑡. Os erros cometidos
nas medidas estão inclusos nas operações matemáticas.

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Aqui, coloca-se então o problema de como expressar o resultado desta medida indireta, pois as
medidas diretas feitas apresentam sempre alguma incerteza.
Uma maneira de determinar os algarismos significativos obtidos por operações aritméticas é utilizar
algumas regras elementares de operação com algarismos significativos. Na apresentação dessas regras, para
fins didáticos, o primeiro algarismo duvidoso será assinalado com um traço sob ele.

1) Regra de arredondamento - Em qualquer cálculo, ao desprezar os algarismos que não são


significativos, o último algarismo retido deverá ser acrescido de uma unidade se o primeiro algarismo
desprezado for maior ou igual a 5, caso contrário mantém-se a unidade do último algarismo retido. Vejamos
alguns exemplos:
23,4 = 23 23,5 = 24 23,6 = 24

2) Regras de operações com algarismos significativos - Em qualquer operação com algarismos


significativos, opere primeiro e depois arredonde. Vejamos alguns exemplos:

a) Adição: 81,572
710
+ 24,3
______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ___

815,872 e o resultado da adição é 816.

b) Subtração: 3,14
‒ 1,6
______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ___

1,54 e o resultado da subtração é 1,5.

c) Multiplicação: 5,74
× 8,7
______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ___

4018
4592+
______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ___

49,938 e o resultado da multiplicação é 50.

d) Divisão: 4,9 ÷ 3,14 = ?

4,9 0 |3,14 .

‒ 3,14 1,56 e o resultado da divisão é 1,6.


______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ___

1760
‒ 1570
______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ___

1900
‒ 1884
______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ______ ___

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...

Observe que nesta operação, mesmo que o primeiro dígito do dividendo (9) varie temos certeza que
o valor do divisor cabe uma vez, logo o primeiro dígito do quociente é exato, o mesmo não ocorre com os
próximos dígitos do quociente.

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3) Determinação do erro de uma medida indireta - A medida de uma grandeza é dita indireta quando
sua magnitude e seu erro são calculados a partir de uma operação matemática envolvendo outras grandezas
medidas diretamente.
Para a determinação dos desvios que afetam estas grandezas vamos representar as operações
matemáticas pela letra 𝑍 e que 𝑍 seja em função de parâmetros 𝑥, 𝑦, etc. onde estes sejam grandezas físicas
independentes entre si, cujos valores provêm todos ou em parte de observações diretas.
Suponhamos que a grandeza 𝑍 = 𝑍 ± Δ𝑍 a ser determinada esteja relacionada com outras duas ou
mais, através da relação 𝑍 = 𝑓(𝑥 ± Δ𝑥, 𝑦 ± Δ𝑦, … ) onde 𝑓 é uma relação conhecida de 𝑥 ± Δ𝑥, 𝑦 ± Δ𝑦, ….
Um método usualmente aplicado e que nos dá o valor de Δ𝑍 imediatamente em termos de Δ𝑥, Δ𝑦, ..., é
baseado na aplicação de resultados do cálculo diferencial. O diferencial total de 𝑍 nos dará

𝜕𝑓 𝜕𝑓
𝑑𝑍 = 𝜕𝑥 𝑑𝑥 + 𝜕𝑦 𝑑𝑦 + ⋯ (6)

Os diferenciais na equação acima poderão ser substituídas pelos erros Δ𝑍, Δ𝑥, Δ𝑦, ..., sempre que
esses erros forem suficientemente pequenos, reescrevendo a relação como

𝜕𝑓 𝜕𝑓
Δ𝑍 = 𝜕𝑥 Δ𝑥 + 𝜕𝑦 Δ𝑦 + ⋯ (7)

A partir da regra geral acima, o aluno poderá obter as relações de propagação de erros para qualquer
medida indireta:

Adição: 𝑍 ± Δ𝑍 = (𝑥 ± Δ𝑥 ) + (𝑦 ± Δ𝑦) = (𝑥 + 𝑦) ± (Δ𝑥 + Δ𝑦)

Subtração: 𝑍 ± Δ𝑍 = (𝑥 ± Δ𝑥 ) − (𝑦 ± Δ𝑦) = (𝑥 − 𝑦) ± (Δ𝑥 + Δ𝑦)

Multiplicação: 𝑍 ± Δ𝑍 = (𝑥 ± Δ𝑥 ) × (𝑦 ± Δ𝑦) = (𝑥 × 𝑦) ± (𝑥Δ𝑦 + 𝑦Δ𝑥)

Multiplicação por constante: 𝑍 ± Δ𝑍 = 𝑐 × (𝑥 ± Δ𝑥 ) = (𝑐 × 𝑥) ± (𝑐 × Δ𝑥)


(𝑥 ± Δ𝑥 ) 𝑥 1
Divisão: 𝑍 ± Δ𝑍 = = ± (𝑥Δ𝑦 + 𝑦Δ𝑥)
(𝑦 ± Δ𝑦) 𝑦 𝑦 2
Δ𝑥
Raiz quadrada: 𝑍 ± Δ𝑍 = √(𝑥 ± Δ𝑥 ) = √𝑥 ±
2 √𝑥
Potenciação: 𝑍 ± Δ𝑍 = (𝑥 ± Δ𝑥 )𝑛 = 𝑥 𝑛 ± 𝑛 𝑥 𝑛−1 Δ𝑥

Exponencial: 𝑍 ± Δ𝑍 = 𝑐 (𝑥±Δ𝑥) = 𝑐 𝑥 ± 𝑐 𝑥 𝑙𝑛𝑐 Δ𝑥


𝑙𝑜𝑔𝑐 (𝑒)
Logaritmo: 𝑍 ± Δ𝑍 = 𝑙𝑜𝑔𝑐 (𝑥 ± Δ𝑥 ) = 𝑙𝑜𝑔𝑐 (𝑥) ± Δ𝑥
𝑥
Seno: 𝑍 ± Δ𝑍 = 𝑠𝑒𝑛(𝑥 ± Δ𝑥 ) = 𝑠𝑒𝑛(𝑥 ) ± 𝑐𝑜𝑠(𝑥) Δ𝑥

Cosseno: 𝑍 ± Δ𝑍 = 𝑐𝑜𝑠(𝑥 ± Δ𝑥 ) = 𝑐𝑜𝑠(𝑥 ) ± 𝑠𝑒𝑛(𝑥) Δ𝑥

onde 𝑐 e 𝑛 são constantes quaisquer e ‘𝑒’ é o número neperiano (𝑒 = 2,718281829 … ).


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Qualquer outra regra de propagação de erro poderá ser obtida pelo mesmo método, bastando
conhecer as derivadas parciais das funções que surgirem durante o curso de laboratório. O estudante não
deve ficar impressionado com todas estas expressões, uma vez que, inevitavelmente, as entenderá melhor
na sala de aula ou discutindo com seu professor.

5 INCERTEZA

Incerteza é a fração avaliada da menor divisão da escala do instrumento, isto é, no dígito duvidoso
é que reside a incerteza da medida.

̅̅̅̅ = 6,8 𝑐𝑚
𝐴𝐵

Neste dígito tem-se uma incerteza.

De maneira geral, a amplitude da incerteza é fixada pelo experimentador. Se o experimentador


adotar como incerteza

Δ(̅̅̅̅
𝐴𝐵) = ±0,1 𝑐𝑚

ele deve expressar a medida ̅̅̅̅


𝐴𝐵 da seguinte forma: ̅̅̅̅
𝐴𝐵 = (6,8 ± 0,1) 𝑐𝑚; e com isto ele pode dizer que
̅̅̅̅ é confiável dentro dos limites 6,7 𝑐𝑚 a 6,9 𝑐𝑚, mas que o valor mais provável da medida, na sua
𝐴𝐵
̅̅̅̅ = 6,8 𝑐𝑚.
opinião, é 𝐴𝐵
A incerteza que é fixada pelo experimentador, depende de sua perícia, de sua segurança, da
facilidade de leitura da escala e do próprio aparelho ou instrumento utilizado na medição.
Apesar de não ser norma, costuma-se adotar como incerteza de uma medida, o valor da metade da
menor divisão da escala do instrumento, ao qual denominamos de incerteza absoluta. Por exemplo: se a
medida está sendo efetuada com um cronômetro, cuja menor divisão é 𝜇 = 1 𝑠, então a incerteza absoluta
é 𝛥𝑡 = ± 0,5 𝑠. Para instrumentos com display eletrônico, o mais comum é adotar o valor da “menor
divisão” como incerteza absoluta.
A incerteza relativa é igual ao quociente entre a incerteza absoluta e a medida da grandeza,
frequentemente expressa em percentual, por exemplo: ̅̅̅̅ = (6,8 ± 0,1) 𝑐𝑚
𝐴𝐵

𝑖𝑛𝑐𝑒𝑟𝑡𝑒𝑧𝑎 𝑎𝑏𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑎 = ± 0,1 𝑐𝑚


𝑖𝑛𝑐𝑒𝑟𝑡𝑒𝑧𝑎 𝑟𝑒𝑙𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 = ± 0,1/6,8 = ± 0,015 ou 1,5 %

De forma geral pode-se dizer que quanto menor a incerteza relativa maior a qualidade da medida.
Quando o valor de uma grandeza é obtido a partir de uma medida única, costuma-se exprimi-lo com a
respectiva incerteza absoluta ou relativa.

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ROTEIRO 2: CONSTRUÇÃO DE TABELAS, GRÁFICOS

1 OBJETIVOS

 Construção de tabelas;
 Construção de gráficos em papel milimetrado.

2 INTRODUÇÃO

Um mesmo fato ou fenômeno físico pode ser descrito através de diferentes linguagens e, quase
sempre, essas linguagens são usadas simultaneamente. Na Física, como quase em todas as ciências, são
usadas quatro linguagens que se vão alternando conforme as necessidades, pois cada uma delas possui
algumas vantagens próprias.
Para que você perceba melhor, vamos dar um exemplo em que um mesmo fato científico é
transmitido nas quatro linguagens. O exemplo refere-se a um fato simples, que é a expressão do espaço
percorrido por um móvel que se desloca com velocidade constante.

1a) Expressão verbal (oral ou escrita): 2a) Forma sintética de uma igualdade ou equação:

“Para um móvel que se desloca com velocidade ∆𝑆 = 𝑣∆𝑡


constante, o espaço percorrido é igual ao produto
da velocidade pelo tempo gasto no percurso.”

3a) Através de uma tabela: 4a) Através de um gráfico:

Tabela 3: Valores de deslocamento e velocidade Figura 1: Gráfico do espaço percorrido por um


de um móvel em função do tempo. móvel em função do tempo.

𝒕 (𝒔) ∆𝑺 (𝒎) 𝒗 (𝒎/𝒔)


0 0 2
1 2 2
2 4 2
3 6 2

Cada uma das quatro linguagens tem suas vantagens e também suas desvantagens e dificilmente
qualquer uma delas é usada de forma individual e exclusiva. Assim, as expressões verbais (ou linguagem
corrente) são sempre necessárias, pois há detalhes que dificilmente poderiam ser expostos sem o uso das
palavras. Uma equação é a forma mais sintética e concisa de tratar os assuntos, pelo menos na Física. Além
disso, a equação pode ser manipulada com regras de Álgebra, permitindo que cheguemos a conclusões que
dificilmente seriam obtidas com o uso somente das palavras. Uma tabela tem a vantagem de poder
apresentar todos os dados mesmo que sejam diferentes em seus valores. E, finalmente, um gráfico tem a
grande vantagem de tornar mais visível não só os dados, mas também o comportamento das grandezas
envolvidas no fato ou fenômeno a ser tratado.

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Neste roteiro trabalharemos apenas com gráficos em papel milimetrado. Geralmente a construção
de um gráfico exige previamente a construção de uma tabela com os dados.

3 CONSTRUÇÃO DE TABELAS

Uma tabela pode ser construída na forma horizontal ou vertical, dependendo do número de dados
ou grandezas a serem representados. Os números preferencialmente devem estar na forma inteira, para tanto
se devem usar a notação de potência de 10.
No topo da tabela devem-se representar as grandezas por meio de símbolos, e entre parênteses a sua
unidade multiplicada pela potência de 10 envolvida. Deve constar no espaço superior da tabela um título
que descreva de forma sucinta o que ela representa. Se os valores representados na tabela estão afetados
por desvios (ou erros) e, estes são iguais para todos os valores, eles devem ser representados no topo da
tabela (ver exemplo da Tabela 4). Caso os desvios sejam diferentes para cada valor, eles devem ser
representados juntamente com os valores nas colunas (ver exemplo da Tabela 5).

Tabela 4: Posição de um móvel (𝑥) em função do tempo (𝑡).

(𝑥 ± 2)(10−2 𝑚) (𝑡 ± 1)(10−1 𝑠)
21 30
40 50
59 70
80 90

Assim, os valores da primeira linha são: 𝑥 = (21 ± 2) × 10−2 𝑚 e 𝑡 = (30 ± 1) × 10−1 𝑠.

Tabela 5: Posição de um móvel (𝑥) em função do tempo (𝑡).

𝑥 (10−2 𝑚) 𝑡 (10−1 𝑠)
21 ± 1 30,0 ± 0,5
40 ± 2 50 ± 1
59 ± 1 70 ± 2
80 ± 3 90 ± 2

4 CONSTRUÇÃO DE GRÁFICOS

4.1 Escolha dos eixos

Nesta etapa deve-se identificar qual é a variável (grandeza) independente e qual é a variável
(grandeza) dependente. Vamos supor que foi medida a posição de um móvel como função do tempo, então
temos:
𝑆 = 𝑓(𝑡)

Assim, 𝑡 é a variável independente e 𝑆 é a variável dependente.


De modo geral pode-se escrever a equação 𝑦 = 𝑓(𝑥), onde 𝑥 é a variável independente e 𝑦 é a
variável dependente. Desta forma definimos então 𝑆 no eixo 𝑦 e 𝑡 no eixo 𝑥.

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4.2 Posição dos eixos no papel

O papel milimetrado no formato A4 tem as dimensões 18 cm por 28 cm. A tabela é quem diz qual
o eixo deve ser utilizado no lado maior da folha milimetrada. Quando o zero não pertence à tabela e não é
importante, usa-se no lado maior aquela variável que tiver uma variação maior. A variação é definida como
sendo a diferença entre o maior e o menor valor da variável. Quando o zero pertence à tabela ou é importante
para a análise do comportamento das grandezas, usa-se no eixo maior a variável de maior valor final, não
considerando a potência multiplicativa que é colocada junto com as unidades na tabela e no gráfico (veja
exemplo das Tabela 4 e 5).

4.3 Como fazer a escala

A primeira regra a ser utilizada na determinação das escalas é o bom senso, mas aqui coloca-se uma
estratégia simples para este fim. Na escolha da escala que vai ser usada em cada eixo, deve-se tomar o
maior valor da tabela, ou a maior variação correspondente ao maior valor do eixo escolhido, e por uma
regra de três determinar o valor de uma unidade do eixo em termos da grandeza a ser lançada.
Exemplo: Considerando a Tabela 4, suponhamos que temos interesse em determinar qual a posição
do móvel em 𝑡 = 0, através de um gráfico. Então na construção do gráfico, ao fazermos a escala
tomaremos o valor maior de cada grandeza (𝑥 e 𝑡). Tem-se que a medida 𝑥𝑚𝑎𝑥 = 80 𝑚, assim:

80 𝑚 → 28 𝑐𝑚
x 𝑚 → 1 𝑐𝑚

80
então, 𝑥 = 28 = 2,857 …
Quando o valor é fracionário deve-se tomar o primeiro inteiro imediatamente superior. Então 3 𝑚
corresponderia a 1 𝑐𝑚, isto é, 3 metros equivale a um centímetro no gráfico. O mesmo procedimento deve
ser realizado para o outro eixo e a escala não necessariamente precisa ser a mesma. Assim, tem-se:

90 𝑠 → 18 𝑐𝑚
t 𝑠 → 1 𝑐𝑚

90
então, 𝑡 = 18 = 5

logo, 5 segundos equivale a um centímetro no gráfico.


A escala deve ser representada nos eixos do gráfico, e os valores dos pontos plotados não devem ser
marcados no eixo, a não ser os pontos de interesse para análise. Neste caso eles devem ser salientados.
Como os dados geralmente são obtidos de medidas, consequentemente possuem imprecisões, e estas devem
ser representadas por uma cruz cujo tamanho dos traços, horizontal e vertical, devem corresponder aos
respectivos desvios dos valores dos dados. Quando os desvios são pequenos, de forma que a escala não
permita traçar a cruz, faz-se um círculo em torno dos pontos plotados usando os valores médios das
grandezas, indicando que estão afetados de desvios.

A curva a ser traçada não deve unir ponto a ponto, mas deve ser traçada de forma a passar pelo
máximo de pontos e, os demais, devem se localizar em quantidades aproximadamente iguais dos dois
lados da curva. A melhor reta não é necessariamente a ligação do primeiro ponto ao último ponto.
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4.4 Interpretação e análise do gráfico

A forma mais comum para um gráfico é a linear, nos casos em que não é linear deve-se usar algum
artifício matemático para linearizar a curva. Quando isso não é possível recomenda-se o uso de papel
mono-log ou di-log para a construção do gráfico, procedimento que será abordado no terceiro roteiro de
aula desta disciplina.
Na forma linear uma curva é representada por uma equação do tipo

𝑦 = 𝑎𝑥 + 𝑏

Δ𝑦
onde 𝑎 = Δ𝑥 é o coeficiente angular da reta, obtido numericamente pela reta tangente do ângulo formado
entre o eixo da variável independente e a reta; e 𝑏 é o coeficiente linear, que é determinado pelo ponto em
que a reta corta o eixo da variável dependente quando a variável independente for zero (Figura 2). Observe
que na equação 𝑦 = (𝑎𝑥 + 𝑏) o valor do coeficiente linear 𝑏, é o valor da variável dependente 𝑦 quando o
valor da variável independente 𝑥 for zero.

Figura 2: Gráfico de uma função linear com indicações dos coeficientes angular e linear.

O coeficiente angular não deve ser confundido com a tangente trigonométrica do ângulo formado
pela reta com o eixo horizontal. A tangente trigonométrica é um número puro, por ser a relação entre duas
grandezas da mesma espécie. No gráfico do Figura 2, Δ𝑦 e Δ𝑥 são variações de grandezas diferentes. Assim,
a variação Δ𝑦 dividida pela variação Δ𝑥 resulta geralmente em outra grandeza, então o coeficiente angular
não é um número puro. Note que, se as escalas forem modificadas, o ângulo de inclinação mudará,
entretanto o coeficiente angular permanecerá inalterado.
Para a determinação do coeficiente angular 𝑎, devem ser tomados dois pontos sobre a reta para obter
os valores das coordenadas (𝑥1 , 𝑦1 ) e (𝑥2 , 𝑦2 ), observando que os pontos para calcular o coeficiente angular
devem pertencer a sua melhor reta. Além das vantagens e simplicidade, um gráfico dado por uma reta
também nos permite prever resultados fora dos limites estudados, com o simples prolongamento da reta,
procedimento este que chamamos de extrapolação.

13
5 AJUSTES DE CURVAS – MÉTODO DIRETO

Suponhamos que, em um estudo de um fenômeno físico, foi obtida uma série de medidas de duas
grandezas (𝑥 e 𝑦) resultando 𝑁 pares de medidas e, deseja-se descrever o comportamento dessas grandezas
através de uma função. Um dos mecanismos de se fazer isto é através da determinação gráfica da função já
apresentada na seção anterior. Outro mecanismo é através de processos analíticos e, neste caso, podemos
tentar determinar a função pelo Método Direto ou pelo Método dos Mínimos Quadrados, desenvolvido a
partir da teoria do desvio padrão. A esses métodos damos o nome de ajuste de curva ou regressão. Nesta
disciplina iremos tratar o caso do Método Direto que, apesar de ser mais limitado, aplicando-se apenas a
correlações lineares, é mais simples, principalmente na avaliação dos desvios dos parâmetros a serem
determinados (a saber, coeficientes angular e linear).

Método Direto

Se tivermos 𝑁 pontos (𝑥𝑖 ; 𝑦𝑖 ) que descrevem um sistema, e suspeitarmos que estes obedeçam a uma
lei linear simples, então a função que o descreve é dada pela equação

𝑦 = 𝑎𝑥 + 𝑏 (8)

No caso, o problema consiste em determinar os parâmetros 𝑎 e 𝑏 que melhor se ajustam aos pontos
em questão. Com este objetivo, vamos substituir dois pontos quaisquer, 𝑖 e 𝑗 , na função anterior

𝑦𝑖 = 𝑎𝑖𝑗 𝑥𝑖 + 𝑏𝑖𝑗
𝑦𝑗 = 𝑎𝑖𝑗 𝑥𝑗 + 𝑏𝑖𝑗

Assim, resolvendo o sistema de equações, determinamos

𝑎𝑖𝑗 = (𝑦𝑗 − 𝑦𝑖 )⁄(𝑥𝑗 − 𝑥𝑖 ) e 𝑏𝑖𝑗 = (𝑥𝑗 𝑦𝑖 − 𝑥𝑖 𝑦𝑗 )⁄(𝑥𝑗 − 𝑥𝑖 )

Dessa forma, para os 𝑁 pontos, teremos uma quantidade de coeficientes 𝑎 e 𝑏 dada pela combinação
de 𝑁 dois a dois: 𝑁(𝑁 − 1)/2. Com essa quantidade de valores de 𝑎 e 𝑏, podemos determinar o valor
médio de 𝑎, que é dado da seguinte forma

2
𝑎𝑚 = 𝑎̅ = 𝑁(𝑁−1) ∑𝑁−1 𝑁
𝑖=1 ∑𝑗=𝑖+1(𝑎𝑖𝑗 ) (9)

Analogamente, o valor médio de 𝑏 é dado por

2
𝑏𝑚 = 𝑏̅ = 𝑁(𝑁−1) ∑𝑁−1 𝑁
𝑖=1 ∑𝑗=𝑖+1(𝑏𝑖𝑗 ) (10)

Com isso, podemos calcular os desvios de 𝑎 e 𝑏 e ter uma ideia do grau de precisão do ajuste dos
pontos através de uma reta.
Apenas para ilustrar o Método Direto, vejamos um exemplo, com somente quatro pontos. Dados os
pontos (1,00; 5,00), (1,50; 6,05), (3,50; 9,95) e (5,00; 13,10), determine a reta que melhor se ajusta a
eles.
14
Note que para os pontos acima, teremos 6 conjuntos de parâmetros 𝑎 e 𝑏. Comecemos pela
determinação de 𝑎12 e 𝑏12 :

5,00 = 𝑎12 1,00 + 𝑏12


6,05 = 𝑎12 1,50 + 𝑏12

Resolvendo o sistema, determinamos

𝑎12 = 2,10 e 𝑏12 = 2,90

Procedendo de forma análoga, ou simplesmente substituindo os pontos nas expressões deduzidas


para 𝑎𝑖𝑗 e 𝑏𝑖𝑗 :

𝑎13 = 1,98 e 𝑏13 = 3,02


𝑎14 = 2,02 e 𝑏12 = 2,98
𝑎23 = 1,95 e 𝑏23 = 3,12
𝑎24 = 2,01 e 𝑏24 = 3,03
𝑎34 = 2,10 e 𝑏34 = 2,60

Logo, 𝑎̅ = 2,02666 … e 𝑏̅ = 2,94166 ….

Calculando-se o desvio padrão de 𝑎 e 𝑏 (usando a definição dada no Roteiro 1), teremos:

𝑑𝑝𝑎 = ±0,06186 … e 𝑑𝑝𝑏 = ±0,18203 …

Consequentemente, os desvios percentuais para 𝑎 e 𝑏 são de aproximadamente 3,1% e 6,2%,


respectivamente. Assim, a melhor reta que se ajusta aos pontos é dada por

𝑦 = (2,03 ± 0,06)𝑥 + (2,9 ± 0,2)

Observe que a precisão dos parâmetros da função obedece aos valores obtidos para 𝑑𝑝𝑎 e 𝑑𝑝𝑏 .

Apesar de simples, este método apresenta um inconveniente: o número excessivamente grande de


parâmetros a serem determinados, dado por 𝑁(𝑁 − 1)/2, para um número 𝑁 relativamente pequeno de
pontos. Por exemplo, para apenas 10 pontos, teremos 45 valores a serem determinados para 𝑎 e 45 valores
para 𝑏, o que só é viável se fizermos a implementação computacional das equações e, sendo assim, talvez
seja mais pertinente implementar as equações do Método dos Mínimos Quadrados.

15
ROTEIRO 3: LINEARIZAÇÃO DE CURVAS

1 OBJETIVOS

 Construir gráficos em papel mono-logarítmico e di-logarítmico;


 Linearizar curvas do tipo exponencial e quadrática.
 Obter através do gráfico logarítmico e di-logarítmico os valores das constantes da função
exponencial que rege um fenômeno físico.

2 INTRODUÇÃO

Um dos fundamentos mais profundas da Física é que a natureza apresenta regularidades e estas, por
sua vez, podem ser descritas através da linguagem matemática. A origem deste tipo de pensamento remonta
à Renascença, especificamente a Galileu Galilei. Segundo Galileu, o livro da natureza é escrito na
linguagem matemática. Esta fundamentação foi cada vez mais reforçada nos séculos XVII, XVIII e XIX
em decorrência dos trabalhos de eminentes físicos matemáticos, como Laplace, Poisson, Euler, Lagrange,
Hamilton etc., sem falar em Newton. O programa de trabalho da Física seria a busca de regularidades na
natureza e sua representação através da linguagem matemática.
Ao observar determinado fenômeno o que se obtém é uma coleção de dados que, aparentemente,
não diz coisa alguma. Uma saída para descobrir certa regularidade nos dados é esboçar um gráfico,
relacionando a variável dependente com a variável independente. Mas, a não ser que este gráfico seja uma
simples reta (o que denota uma relação de simples proporcionalidade), na maior parte das vezes é difícil
determinar com precisão que função matemática melhor descreve a relação de dependência entre a variável
dependente e a variável independente. Vale salientar que existem métodos bastante sofisticados para
resolver este tipo problema os quais são estudados mais profundamente na disciplina de Cálculo Numérico.

3 OPERANDO GRAFICAMENTE COM UMA EQUAÇÃO EXPONENCIAL

A solução do problema descrito acima é particularmente simples quando desconfiamos de uma


dependência do tipo exponencial entre a variável dependente e a variável independente. Assim, se a
dependência é do tipo exponencial, então poderemos dizer que a lei que governa o fenômeno tem a forma

𝑦 = 𝑚𝑒 𝑛𝑥 (11)

onde, 𝑦 é a variável dependente e 𝑥 é a variável independente, 𝑚 e 𝑛 são constantes a serem determinadas.


Na Figuras 3 são apresentados dois exemplos de relação exponencial com diferentes valores de 𝑚
e 𝑛, construídos com escalas lineares (caso de um papel milimetrado).
Para se determinar as constantes 𝑚 e 𝑛 presentes na Equação (11) basta aplicarmos o logaritmo
natural ou neperiano (log 𝑒 𝑥 = ln 𝑥) em ambos lados da mesma, de forma a obter

ln(𝑦) = ln(𝑚𝑒 𝑛𝑥 ) (12)

16
Figura 3: Gráfico tipo exponencial com (a) 𝑚 = 2 e 𝑛 = −1; e (b) 𝑚 = −2 e 𝑛 = 1.

(a) (b)

Assim, usando a propriedade dos logaritmos, ln(𝐴𝐵) = ln(𝐴) + ln(𝐵), pode-se rescrever a
Equação (12) da seguinte forma

ln(𝑦) = ln(𝑚) + ln(𝑒 𝑛𝑥 ) (13)

Mas, as funções exponencial e logarítmica são inversas, logo a segunda parcela do lado direito da
Equação (13) pode ser escrita como

ln(𝑒 𝑛𝑥 ) = 𝑛𝑥 (14)

Obtendo-se, assim

ln(𝑦) = ln(𝑚) + 𝑛𝑥 (15)

Chamemos agora

ln(𝑦) ≡ 𝑌 e ln(𝑚) ≡ 𝐵 e 𝑛≡𝐴

Com esta mudança de variável a Equação (15) pode ser escrita da seguinte maneira

𝑌 = 𝐴𝑥 + 𝐵 (16)

sendo 𝐴 e 𝐵 constantes.
Note que a Equação (16) é justamente a equação da reta [Equação (8)], com coeficiente angular 𝐴
e coeficiente linear 𝐵. Deste modo, se a relação funcional entre duas grandezas 𝑥 e 𝑦 é do tipo exponencial,
então, ao traçarmos o gráfico ln(𝑦) versus 𝑥 obteremos uma reta. A partir daí poderemos obter os
coeficientes 𝑚 e 𝑛 da Equação (11) por

𝑚 = 𝑒𝐵 e 𝑛=𝐴

onde

∆𝑌 𝑌 −𝑌 (𝑙𝑛𝑦2 )2 −(𝑙𝑛𝑦1 )1
𝑛 = ∆𝑥 = 𝑥2 −𝑥1 = (17)
2 1 𝑥2 −𝑥1

17
Uma forma mais precisa de encontrar os valores das constantes 𝑚 e 𝑛 sem determinar o logarítmo
dos valores da grandeza 𝑌, não incorrendo assim, na propagação de erros, é traçar o gráfico de 𝑌 versus 𝑥
em papel mono-logarítmico.
O papel mono-logarítmico (ver Figura 4) possui duas escalas, sendo que uma delas (escala
horizontal) é comum, isto é, milimetrada e a outra escala (vertical), no entanto, é uma escala logarítmica.
Nesta última as marcações são feitas com base em potências de 10. Para fazer um gráfico neste tipo de
papel é muito simples. Marque no eixo horizontal (escala comum) a escala a ser utilizada pela variável
independente e, depois, marque diretamente os valores da variável dependente na escala logarítmica (a
escala vertical). Por fim encontra-se os pontos correspondentes aos pares ordenados e faz-se o traçado do
gráfico (espera-se geralmente um comportamento retilíneo).

Agora, tente reproduzir este exemplo em seu Caderno de Laboratório:

Usando papel mono-logarítmico, trace o gráfico da variável 𝑦 em função da variável 𝑥, de acordo


com os pontos dados pela Tabela 6.

Tabela 6: Valores de 𝑦 em função do tempo 𝑥.


𝑥 (𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑟𝑏𝑖𝑡𝑟á𝑟𝑖𝑎) 𝑦 (𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑟𝑏𝑖𝑡𝑟á𝑟𝑖𝑎)
1,00 2,72
2,00 7,39
3,00 20,09
4,00 54,60
5,00 148,41
6,00 403,43

a) Escolha a escala adequada para a variável 𝑥 e marque os seus valores na escala horizontal;
b) Marque os valores de 𝑦 na escala vertical (logarítmica);
c) Marque os pontos relativos aos pares ordenados;
d) Trace a curva passando pela maioria possível dos pontos (Figura 4);

Figura 4: Gráfico mono-logarítmico referente aos pontos da Tabela 6.

18
Observações:

Você pode observar que a curva é uma reta do tipo 𝑌 = 𝐴𝑥 + 𝐵 [Equação (16)]. Logo, a dependência entre
as variáveis é do tipo 𝑦 = 𝑚𝑒 𝑛𝑥 . Pelo gráfico, observa-se claramente que, para 𝑥 = 0 temos diretamente a
estimativa de que 𝑚 = 1 (veja detalhe na Figura 4) e, naturalmente, 𝐵 = 0. E pelo uso da Equação (17)
para dois de pares ordenados quaisquer, temos uma estimativa de 𝑛 = 1. Portanto, a equação que governa
os dados da Tabela 6 é
𝑦 = 𝑒𝑥

4 OPERANDO GRAFICAMENTE COM UMA EQUAÇÃO GERAL DE POTÊNCIA

Um outro caso bastante simples de dependência entre grandezas físicas pode ser expresso em termos
da função de potência

𝑦 = 𝑚𝑥 𝑛 (18)

onde, 𝑦 é a variável dependente e 𝑥 é a variável independente, 𝑚 e 𝑛 são constantes a serem determinadas.


Neste ponto, é importante observar que, apesar de termos usado o Método Direto para o ajuste de
uma função linear, o mesmo pode ser adaptado para funções não lineares, mas linearizáveis nos parâmetros,
através da mudança de variáveis, como por exemplo a Equação (17).
Nesse caso, o ajuste consiste na determinação de 𝑚 e 𝑛. Aplicando logaritmo nos dois lados da
Equação (17) teremos

log(𝑦) = log(𝑚) + 𝑛 log(𝑥) (19)

Definindo log(𝑦) ≡ 𝑌, log(𝑥) ≡ 𝑋, 𝑛 ≡ 𝐴 e log(𝑚) ≡ 𝐵, nós obtemos, a partir dos pontos


originais, 𝑁 novos pontos (𝑋;𝑌) que obedecem à função linear nos parâmetros dados assim

𝑌 = 𝐴𝑋 + 𝐵 (20)

Logo, para cada 𝐵𝑖𝑗 determinado conforme já vimos, pode-se calcular 𝑚𝑖𝑗 e, então, calcular 𝑚
̅

2
̅ = 𝑁(𝑁−1) ∑𝑁−1
𝑚 𝑁
𝑖=1 ∑𝑗=𝑖+1(𝑚𝑖𝑗 ) (21)

Por outro lado, conforme já tínhamos descrito,

2
𝑛̅ = 𝑁(𝑁−1) ∑𝑁−1 𝑁
𝑖=1 ∑𝑗=𝑖+1[(𝑌𝑗 − 𝑌𝑖 )⁄(𝑋𝑗 − 𝑋𝑖 )] (22)

Ou seja, temos os coeficientes 𝑚 e 𝑛 obtidos pelo Método Direto adaptado, usando um papel
di-logarítmico (como o exemplo da Figura 5).

19
Figura 4: Exemplo de papel mono-logarítmico.

20
Figura 5: Exemplo de papel di-logarítmico.

21

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