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Cálculo

Numérico
1. Introdução 4
O que é o Cálculo Numérico? 4
A Importância do Curso de Cálculo Numérico 5

2. Representação Numérica 8
Ponto Fixo e Ponto Flutuante 9
Aplicação à Linguagem de Programação C 10
Erros Numéricos 11
Propagação e Condicionamento de Erros Numéricos 13
Erros na Aritmética de Ponto Flutuante 13

3. Resolução Numérica de Equações (Zero de Funções) 17


Zeros ou Raízes de Funções 18
Processos Iterativos 19
Isolamento de Raízes 20
Teorema de Bolzano 20
Método da Dicotomia ou Bissecção 21
Critérios de Parada em um Processo Iterativo 23
Estimativa do Número de AIterações no Método
da Bisseção 23
Método das Aproximações Sucessivas ou Método
de Alteração Linear (MIL) 24
O Problema da Convergência no Método
da Iteração Linear 26
Critérios de Parada no Método da Iteração Linear 30
Método de Newton-Raphson 30
Convergência do Método de Newton-Raphson 31
Interpretação Geométrica 31
Interpolação Polinomial 35
Forma de Lagrange 35
Forma de Newton 38
Forma de Newton para o Polinômio Interpolador 39

4. Referências Bibliográficas 43

02
03
CÁLCULO NUMÉRICO

1. Introdução

O que é o Cálculo Numé- da tensão V e da resistência R. O pri-


rico? meiro passo é formular um modelo
matemático para o nosso sistema fí-

O Cálculo Numérico corresponde


a um conjunto de ferramentas
ou métodos usados para se obter a
sico (o circuito), e encontrar a solu-
ção do problema representado por
esse modelo.
solução de problemas matemáticos
de forma aproximada. Esses méto- Circuito elétrico composto de uma
dos se aplicam principalmente a fonte de tensão e um resistor
problemas que não apresentam uma
solução exata, portanto precisam ser
resolvidos numericamente. O que
isso quer dizer? Vamos tomar um
exemplo para entender melhor os
objetivos do Cálculo Numérico.
Seja um circuito elétrico com-
posto de uma fonte de tensão (uma
pilha, por exemplo) e um resistor,
como ilustrado na Figura 1.1. Diga- No caso do circuito da Figura
mos que desejamos obter a corrente 1.1, o modelo matemático também é
que circula no circuito, dado o valor bastante simples. Utilizando-se a Lei

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CÁLCULO NUMÉRICO

de Kirchoff (não se preocupe com Onde k e Is são constantes, q é


essa lei caso você não a conheça), te- a carga do elétron e T a temperatura
remos a seguinte equação para o cir- do dispositivo. Essa equação corres-
cuito: ponde ao modelo matemático do
diodo (não se preocupe em entender
esta equação, pois isto é só um
exemplo).
Esse é o nosso modelo mate- Portanto, ao se incluir o diodo
mático para o circuito (sistema físi- no circuito da Figura 1.1, tem-se a se-
co). O modelo apresenta uma equa- guinte equação descrevendo o com-
ção bastante simples que tem uma portamento da corrente elétrica no
solução exata. Portanto, nosso pro- circuito:
blema (encontrar a corrente elétrica
do circuito) pode ser resolvido de
maneira exata, cuja solução é dada
por:
A inclusão desse novo compo-
nente no circuito tornou nosso pro-
blema mais complicado e de difícil
Por exemplo, se V=10 V e solução analítica. O que isso quer di-
R=100 Ω, teremos que i=0,1 ª zer? Tornou-se difícil se obter uma
expressão para i, principalmente
Como esse problema tem uma quando comparado ao caso anterior,
solução exata, não é preciso utilizar quando tínhamos simplesmente
os métodos do cálculo numérico i=V/R.
para resolve-lo. Porém, digamos que Como resolver esse problema
um outro componente eletrônico então? Como obter o valor de i? A so-
seja incluído no circuito: um diodo lução está na utilização de métodos
semicondutor. Esse dispositivo tem numéricos que serão aprendidos
uma curva característica, isto é, a neste curso.
tensão nesse componente em função
da corrente, que é dada por: A Importância do Curso de
Cálculo Numérico

Ao resolver um problema ma-


temático numericamente, o mais co-

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CÁLCULO NUMÉRICO

mum é o profissional utilizar um pa-  E as limitações na sua aplica-


cote computacional. Porém, ele terá ção e confiabilidade na solução
que tomar uma série de decisões an- obtida.
tes de resolver o problema. E para
tomar essas decisões, é preciso ter Melhorar a familiarização e
conhecimento de métodos numéri- “intimidade” do aluno com a mate-
cos. O profissional terá que decidir: mática, mostrando seu lado prático
e sua utilidade no dia-a-dia de um
 Pela utilização ou não de um
método numérico (existem engenheiro. Rever conceitos já vis-
métodos numéricos para se re- tos, exercitá-los e utilizá-los de ma-
solver este problema?); neira prática;
 Escolher o método a ser utili- Apresentar ao aluno maneiras
zado, procurando aquele que é práticas de se desenvolver e utilizar
mais adequado para o seu pro- métodos numéricos. Isso significa
blema. Que vantagens cada
mostrar como usar esses métodos
método oferece e que limita-
ções eles apresentam; numéricos na calculadora e em um
 Saber avaliar a qualidade da computador;
solução obtida. Para isso, é im- Treinar o aluno a aprender ou-
portante ele saber exatamente tros métodos numéricos por conta
o que está sendo feito pelo própria. No seu dia-a-dia profissio-
computador ou calculadora, nal, ele pode se deparar com um pro-
isto é, como determinado mé-
blema cuja solução depende de um
todo é aplicado.
método numérico que não foi visto
Os principais objetivos do cur- no curso. Portanto, ele deverá ser ca-
so são: Apresentar diversos méto- paz de encontrar a literatura perti-
dos numéricos para a resolução de nente, estudar o método e aprender
diferentes problemas matemáticos. a sua utilização de maneira concei-
Pretende-se deixar bem claro a im- tual e prática (usando um aplicativo
portância desses métodos, mostran- computacional) por conta própria.
do:
 A essência de um método nu-
mérico;
 A diferença em relação a solu-
ções analíticas;
 As situações em que eles de-
vem ser aplicados;
 As vantagens de se utilizar um
método numérico;

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CÁLCULO NUMÉRICO

2. Representação Numérica

Fonte: Elements1

A fim se realizarmos de maneira


prática qualquer operação com
números, nós precisamos repre-
1,41 ou 1,4142 ou ainda 1,41421356
237. Qual é a diferença entre essas
várias formas de representar √2? A
senta-los em uma determinada base diferença é a quantidade de algaris-
numérica. O que isso significa? Va- mos significativos usados em cada
mos tomar como exemplo o número representação. Agora podemos rea-
√2. A fim de calcularmos, por exem- lizar a operação proposta: √2 -1=
plo, o valor de √2 - 1, nós precisamos 0.41 ou 0.4142 ou ainda 0.41421356
escrever o número √2 de alguma ou- 237, conforme o número de algaris-
tra forma, caso contrário não é pos- mos significativos adotados na nos-
sível realizar essa operação. Pode- sa representação.
mos escreve-lo na base decimal, por Em uma máquina digital,
exemplo, que é a base mais usada na como uma calculadora ou um com-
história da humanidade (graças a putador, os números não são repre-
nossa anatomia). O valor de √2 na sentados na base decimal. Eles são
base decimal pode ser escrito como representados na base binária, ou

1 Retirado em https://elements.envato.com/

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CÁLCULO NUMÉRICO

seja, usam o número 2 como base ao como 1011 (lembre-se que na base
invés do número 10. Como na base binária só existem os algarismos 0 e
decimal existem 10 algarismos dife- 1) significa 1x23 + 0x22 + 1x21 + 1x20
rentes (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9), na que na base 10 seria 8+2+1=11.
base binária existem somente 2 nú- Essa ideia que está por trás da
meros: 0 e 1. Portanto, a base binária representação dos números em ba-
é usada porque essas máquinas uti- ses numéricas é utilizada para repre-
lizam-se de sinais elétricos, sendo o sentar números no computador. A
0 correspondente a ausência de sinal fim de tornar a manipulação de nú-
e o número 1 a presença do sinal elé- meros mais eficiente, os computado-
trico. res fazem a distinção entre números
inteiros e números reais. Um nú-
Ponto Fixo e Ponto Flu- mero inteiro apresenta a chamada
tuante representação de ponto fixo, onde a
posição do ponto “decimal” está fixa
A princípio, toda vez que es- e todos os dígitos são usados para re-
crevemos um número, deveríamos presentar o número em si, com exce-
mencionar a base numérica a qual ção do primeiro dígito usado para
estamos nos referindo. Obviamente, representar o sinal desse número. A
isso não se faz necessário na prática, figura 2.1 ilustra essa representação.
pois estamos sempre representando
os números na base decimal, por- Representação de números inteiros
tanto sabemos exatamente o seu sig-
nificado. Por exemplo, quando es-
crevemos o número 1532, o que real-
mente queremos dizer? Estamos di- Para um número real qual-
zendo que esse número representa quer (inteiro ou não inteiro) é utili-
uma quantidade equivalente a 1 x zada a representação de ponto flu-
1000 + 5 x 100 + 3 x 10 + 2, ou, es- tuante, que é dada pela expressão:
crevendo a base de outra forma, 1 x
103 + 5 x 102 + 3 x 101 + 2 x 100.
Essa é a chamada representação po-
sicional de números. Onde: 0.d1d2d3...dt é uma fração na
Na base binária, o mecanismo base b, também chamada de man-
é o mesmo, porém, ao invés de po- tissa, com 0 ≤ di ≤ b-1, para todo i =
tências de 10, utilizamos potências 1,2,3,...,t, sendo t o número máximo
de 2. Portanto, um número binário

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CÁLCULO NUMÉRICO

de dígitos da mantissa que é deter- ção de ponto fixo) existem duas pa-
minado pelo comprimento de pala- lavras chaves para declarar uma va-
vra do computador; e é um expoente riável: int e long. A diferença entre
que varia em um intervalo dado pe- essas duas representações é o núme-
los limites da máquina utilizada. ro de dígitos a ser usado. No caso do
Esse tipo de representação é int, utiliza-se 15 dígitos binários e
chamada de ponto flutuante pois o mais um dígito para o sinal, ou seja,
ponto da fração “flutua” conforme o 16 bits que é igual a 2 bytes. Por-
número a ser representado e sua po- tanto, uma variável declarada com
sição é expressa pelo expoente e. A int pode armazenar números de –
figura 2.1 ilustra essa representação. 32768 (=-215) a +32767 (=215-1).
Já a palavrachave long corres-
Representação de números reais ponde a representação de ponto fixo
com 32 bits (31 dígitos binários para
o número mais um dígito para o si-
nal), ou seja, 4 bytes. Neste caso,
uma variável declarada como long
Alguns exemplos da represen- pode armazenar números de –2.147.
tação de ponto flutuante pode ser 483.648 (= -231) a 2.147.483. 647
visto na tabela a seguir: (=231-1).
No caso da representação de
ponto flutuante, também existem
duas palavras: float e double. A pa-
lavra float corresponde a represen-
tação com base binária (b=2), nú-
mero máximo de dígitos igual a 24
(t=24) e expoente entre – 126 e 127.
Portanto, uma variável declarada
Aplicação à Linguagem de como float pode armazenar números
Programação C
reais entre ~10-38 e ~1038. Já a pala-
vra chave double apresenta um nú-
Na linguagem C é possível es- mero máximo de dígitos igual a 53
pecificar a representação que deve (t=53) e expoente entre –1022 e
ser usada para os números a serem 1023, ou seja, varáveis declaradas
armazenados em uma dada variável. como double podem armazenar nú-
Para números inteiros (representa- meros entre ~10- 307 a ~10307.

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CÁLCULO NUMÉRICO

Erros Numéricos Podemos criar algumas defini-


ções a fim de facilitar as discussões e
Vamos supor o seguinte pro- trocas de informação sobre esse pro-
blema: como calcular o valor de √2? blema. Vamos definir a diferença
Provavelmente, a primeira resposta entre o valor real da grandeza que
que vem à mente de qualquer pessoa queremos calcular e o valor aproxi-
que nasceu no século XX será: utili- mado que efetivamente calculamos
zando uma calculadora ou um com- como sendo o erro, ou seja:
putador. Indiscutivelmente, essa é a
resposta mais sensata e prática. Po- Erro = valor real – valor aproxi-
rém, um profissional que utilizará o mado (3.1)
resultado fornecido pela calculadora
para projetar, construir ou manter Quanto menor for esse erro,
pontes, edifícios, máquinas, siste- mais preciso será o resultado da ope-
mas, dispositivos eletrônicos, etc., ração. Essa definição corresponde
não pode aceitar o valor obtido antes ao erro absoluto de um cálculo.
de fazer alguns questionamentos Porém, se estivermos traba-
(pelo menos uma vez na sua vida lhando com números muito gran-
profissional). Quando calculamos, des, o erro pode ser grande em ter-
por exemplo, o valor de √2 em uma mos absolutos, mas o resultado
calculadora ou em um computador, ainda será preciso. E o caso inverso
o que realmente estamos fazendo? também pode ocorrer: um erro ab-
Em outras palavras, o que a calcula- soluto pequeno, mas um resultado
dora fez para obter o resultado? Para impreciso. Por exemplo, digamos
um engenheiro, ainda mais impor- que o resultado de uma operação
tante é a pergunta: qual é a confiabi- nos forneça o valor 2.123.542,7 en-
lidade do resultado que obtemos? quanto o valor real que deveríamos
Essa pergunta faz sentido pois obter é 2.123.544,5. O erro absoluto
√2 é um número irracional, isto é, neste caso é 1,8. Comparada com o
não existe uma forma de representa- valor real, essa diferença (o erro) é
lo com um número finito de algaris- bem pequena, portanto, podemos
mos. Portanto, o número apresenta- considerar o resultado preciso. Em
do pela calculadora é uma aproxi- um outro caso, digamos que o resul-
mação do valor real de √2, já que ela tado da operação seja 0,234 e o re-
não pode mostrar infinitos algaris- sultado esperado era 0,128. Desta
mos. E quão próximo do valor real vez o erro será igual a 0,106, porém
está o resultado mostrado? o resultado é bastante impreciso.

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CÁLCULO NUMÉRICO

A fim de evitar esse tipo de mentais serão utilizados para se ob-


ambiguidade, podemos criar uma ter a solução. Como toda medida ex-
nova definição. Podemos definir o perimental apresenta uma incer-
erro relativo, que corresponde ao teza, a solução do problema será in-
quociente entre o erro absoluto e o fluenciada pelas mesmas.
valor real da grandeza a ser calcu- Portanto, logo de início, exis-
lada, ou seja: tem Tipos de Erros diversos fatores
que introduzem incertezas na solu-
ção numérica do problema. Esse
tipo de erro é chamado de erro ini-
cial.
O problema discutido na in-
O erro relativo é uma forma
trodução deste capítulo para o cál-
mais interessante de se avaliar a pre-
culo de √2, que se refere a inevitável
cisão de um cálculo efetuado. No
limitação na representação de nú-
exemplo acima, teremos um erro re-
meros irracionais (por exemplo), in-
lativo de 0,0000008 ou 0,00008%
troduz erros no resultado. Esse tipo
no primeiro caso e um erro relativo
de erro é chamado de erro de arre-
igual a 0,83 ou 83% no segundo
dondamento.
caso.
Vamos considerar um outro
O erro cometido ao se calcular
tipo de problema prático que pode
o valor de √2, por exemplo, é apenas
surgir ao realizarmos determinadas
um tipo de erro que pode surgir ao
operações. Digamos que precisamos
se resolver um problema real. Ou-
calcular o valor de ex. Mais uma vez,
tros tipos de erros também podem
iremos utilizar uma máquina digital
aparecer devido a outros tipos de
(calculadora ou computador). Como
problemas ou limitações.
esse equipamento irá realizar essa
A solução matemática de um
operação? Sabemos que a exponen-
determinado problema envolve di-
cial é uma função que pode ser re-
versas etapas, como discutido na in-
presentada por uma série infinita
trodução desta apostila. A solução
dada por:
do problema se inicia com a criação
de um modelo matemático do sis-
tema em questão. Esse modelo sem-
pre apresentará aproximações e li-
mitações. Além disso, na grande
maioria das vezes, dados experi-

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CÁLCULO NUMÉRICO

E na prática é impossível cal- A propagação de erros é muito


cular seu valor exato. Portanto, mais importante, pois, além de determi-
uma vez, teremos que fazer uma nar o erro final de uma operação nu-
aproximação, que levará a um erro mérica, ela também determina a
no resultado final de ex. Neste caso, sensibilidade de um determinado
faremos um truncamento dessa sé- problema ou método numérico. Se
rie, e o erro gerado no valor de ex é uma pequena variação nos dados de
chamado de erro de truncamento. entrada de um problema levar a uma
grande diferença no resultado final,
Propagação e Condiciona- considera-se que essa operação é
mento de Erros Numéricos mal condicionada, ou seja, existe
uma grande propagação de erros
Vamos supor que queremos
nessa operação. Por outro lado, se
calcular o valor de √2 - e3. Como vi-
uma pequena variação nos dados de
mos anteriormente, ao calcularmos
entrada leva a apenas uma pequena
o valor de √2, teremos que realizar
diferença no resultado final, então
um arredondamento, que leva ao um
essa operação é bem condicionada.
resultado aproximado de √2, ou se-
ja, existe um erro de arredondamen- Erros na Aritmética de Ponto
to associado ao resultado. Para cal- Flutuante
cularmos o valor de e3 teremos que
fazer um truncamento, que também Nós vimos nas seções anterio-
irá gerar um erro no resultado ob- res que ao manipularmos os núme-
tido. Portanto, o resultado da opera- ros de maneira prática, estaremos
ção de subtração entre √2 e e3 apre- sempre trabalhando com erros, de-
sentará um erro que é proveniente vido a diversos fatores. Vamos agora
dos erros nos valores de √2 e e3 se- examinar os erros mais comuns que
paradamente. Em outras palavras, aparecem quando um computador
os erros nos valores de √2 e e3 se manipula os números.
propagam para o resultado de √2 - O primeiro tipo de erro que
e3. Podemos concluir então que, ao está presente na forma como com-
se resolver um problema numerica- putadores trabalham com números
mente, a cada etapa e a cada opera- corresponde aos erros de arredon-
ção realizada devem surgir diferen- damento e truncamento. Como ci-
tes tipos de erros gerados das mais tado anteriormente, esses erros es-
variadas maneiras, e estes erros se tão presentes pois, os computadores
propagam e determinam o erro no precisam representar os números
resultado final obtido.

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CÁLCULO NUMÉRICO

com uma quantidade finita de alga- Apesar de pequeno, é impor-


rismos. tante lembrar que ele se propagará
Vamos supor, para simplifica- nas operações aritméticas realizadas
ção, um computador com uma re- pelo computador. Vamos tomar co-
presentação de ponto flutuante na mo exemplo a soma dos números 65
base decimal (b=10) e uma mantissa 63 (= 0,6563x104) e 3,375 (= 0,33
de 4 algarismos (t=4). A fim de re- 75x101) no nosso computador fictí-
presentarmos em ponto flutuante cio de mantissa com 4 algarismos. A
nesse computador, por exemplo, o soma desses dois números corres-
número 734,68, teríamos que trun- ponde a 6566,375. Como nosso com-
ca-lo para 0,7346x103 ou arredon- putador pode representar com ape-
da-lo para 0,7347x103. Portanto, no nas 4 algarismos, o resultado dessa
truncamento, estaríamos cometen- operação será 0,6566x104 = 6566.
do um erro de 0,8x10-1 e no arredon- Ou seja, apesar de partirmos de dois
damento, um erro de 0,2x10-1. Pode- números exatos, o resultado da so-
mos generalizar esse exemplo e dizer ma não será exata, mais uma vez,
que, em uma representação de pon- para um computador real, esse erro
to flutuante na base b e mantissa de será pequeno, porém, se um número
t algarismos, os erros de truncamen- muito grande de operações for reali-
to serão dados por: zado e se existir a necessidade de se
obter um resultado bastante preciso,
será necessário se levar em conside-
ração esse tipo de erro para avaliar o
resultado obtido.
Onde o número em questão foi
Existe mais um tipo de erro
representado na forma x=fxx be. E os
que aparece quando computadores
erros de arredondamento serão da-
manipulam números. Esse erro se
dos por:
refere à conversão de números de
uma base para a outra. O tipo de
conversão mais comum é da base
decimal (usada por humanos) para a
base binária (usada por computado-
res) e vice-versa. Um exemplo bas-
Portanto, para uma represen-
tante peculiar é o número 0,1. Ao
tação numérica com t=24 ou t=53
convertermos esse número da base
(como no caso da maioria dos com-
decimal para a base binária (existem
putadores) esse erro é muito peque-
diversos algoritmos para se realizar
no.

14
CÁLCULO NUMÉRICO

essa conversão, mas não vamos en-


trar nesse detalhe aqui), obtemos
como resposta:

Onde representamos com um


subscrito a base em que esse número
está escrito.
Portanto, notamos que, ao se
converter o número 0,1 da base de-
cimal para a base binária, obtemos
um número com infinitos algaris-
mos! Como esse número não pode
ser representado pelo computador,
ele será truncado, introduzindo um
erro na sua representação. Uma for-
ma interessante de constatar esse
problema é escrevendo um pequeno
programa que calcule o valor de

. Você verá que esse número


não é igual a 100!

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CÁLCULO NUMÉRICO

3. Resolução Numérica de Equações (Zero de Fun-


ções)

Fonte: Conhecimento Cientifico2

N o exemplo usado na introdu-


ção desta apostila, vimos que
ao tentar calcularmos a corrente elé-
trica de um circuito simples con- Em outras palavras, precisa-
tendo apenas uma bateria, um resis- mos resolver ou encontrar o zero da
tor e um diodo, já nos deparamos função acima.
com um problema matemático de Neste capítulo iniciaremos o
difícil solução. Esse problema cor- estudo de métodos numéricos que
responde ao cálculo do valor da cor- nos permitirão resolver problemas
rente e que satisfaz a equação. como esse.

2 Retirado em https://conhecimentocientifico.r7.com/

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CÁLCULO NUMÉRICO

Zeros ou Raízes de Fun-


ções

Dada uma função f(x), dize-


mos que α é raiz, ou zero de f se e so-
mente f(x)=0. Graficamente, os ze-
ros de uma função f(x) correspon-
dem aos valores de x em que a fun-
ção intercepta o eixo horizontal do
gráfico, como mostrado na figura
4.1.

Interpretação gráfica do zero de


uma função

Porém, nem sempre é possível


se encontrar analiticamente a raiz de
uma função, como nos casos a se-
guir:

A função g(x) da figura 4.1 tem


5 raízes no intervalo [a,b]: x1, x2, x3,
x4, x5.
As raízes de uma função po-
dem ser encontradas analiticamen-
te, ou seja, resolvendo a equação
f(x)=0 de maneira exata, como mos-
trado nos exemplos a seguir:
Nestes casos precisamos de
um método numérico para encon-
trar uma estimativa para a raiz da
função estudada, ou seja, um valor
tão aproximado quando se deseje.
Tais métodos devem envolver
as seguintes etapas:

18
CÁLCULO NUMÉRICO

 Determinação de um intervalo seguida de diferentes formas, con-


em x que contenha pelo menos forme o problema que se deseja re-
uma raiz da função f(x), ou solver;
seja, isolamento das raízes; Convergência: a fim de se obter
 Calculo da raiz aproximada
um resultado próximo do resultado
através de um processo itera-
tivo até a precisão desejada. real, é preciso que a cada passo ou
iteração, o resultado esteja mais pró-
Processos Iterativos ximo daquele esperado, isto é, é pre-
ciso que o método convirja para o re-
Existe um grande número de sultado real. Essa convergência nem
métodos numéricos que são proces- sempre é garantida em um processo
sos iterativos. Como o próprio nome numérico. Portanto, é muito impor-
já diz (consulte um dicionário para tante se estar atento a isso e realizar
verificar o significado de iterativo), a verificação da convergência do mé-
esses processos se caracterizam pela todo para um determinado proble-
repetição de uma determinada ope- ma antes de tentar resolvê-lo;
ração. A ideia nesse tipo de processo Critério de Parada: obviamente
é repetir um determinado cálculo não podemos repetir um processo
várias vezes, obtendo-se a cada repe- numérico infinitamente. É preciso
tição ou iteração um resultado mais pará-lo em um determinado ins-
preciso que aquele obtido na itera- tante. Para isso, devemos utilizar um
ção anterior. E, a cada iteração uti- certo critério, que vai depender do
liza-se o resultado da iteração ante- problema a ser resolvido e da preci-
rior como parâmetro de entrada são que precisamos obter na solu-
para o cálculo seguinte. ção. O critério adotado para parar as
Alguns aspectos comuns a iterações de um processo numérico
qualquer processo iterativo, são: é chamado de critério de parada.
Estimativa inicial: como um pro- Para encontrarmos as raízes
cesso iterativo se caracteriza pela ou zeros de uma função iremos utili-
utilização do resultado da iteração zar métodos numéricos iterativos.
anterior para o cálculo seguinte, a Como já mencionado, o primeiro
fim de se iniciar um processo itera- passo para se resolver um processo
tivo, é preciso que se tenha uma es- iterativo corresponde a obtenção de
timativa inicial do resultado do pro- uma estimativa inicial para o resul-
blema. Essa estimativa pode ser con- tado do problema. No caso de zeros

19
CÁLCULO NUMÉRICO

de funções, usamos a operação cha- sen( x ) – [-cos( x )] = 0


mada de isolamento de raízes, que
veremos na seção seguinte. E que:
sen( x ) = -cos( x )
Isolamento de Raízes

Para determinarmos o núme-


ro e a localização aproximada de ra-
ízes de uma função, a fim de obter-
mos uma estimativa inicial a ser usa-
da nos processo iterativos, podemos
examinar o comportamento dessa
função através de um esboço gráfico.
Por exemplo, seja uma função Pelo gráfico, vemos que a fun-
f(x) tal que: ção g(x) irá interceptar a função h(x)
entre π/2 e π e entre 3π/2 e 2π. Por-
f( x ) = g( x ) - h( x ) tanto, podemos afirmar que existe
uma raiz de f(x) no intervalo [π/2, π]
As raízes de f(x), são tais que: e no intervalo [3π/2,2π].
Nem sempre o esboço gráfico é
a forma mais prática de se obter um
intervalo que contém pelo menos
uma raiz da função f(x). Muitas ve-
zes é preciso se utilizar um método
algébrico. Para isso, vamos recorrer
ao teorema de Bolzano.
Assim, os valores de x em que
o gráfico g(x) intercepta o gráfico de Teorema de Bolzano
h(x) é a raiz de f(x).
Exemplo: Dada a função f(x) = Seja uma função f(x) contínua
sen(x) - [-cos(x)], encontrar os inter- em um intervalo [a,b], tal que,
valos que contenham raízes entre 0 f(a).f(b)<0. Então a função f(x) pos-
e 2π. sui pelo menos uma raiz no intervalo
Partindo de f(x)=0, segue que: [a,b]. Podemos verificar este teore-
ma graficamente:

20
CÁLCULO NUMÉRICO

dos métodos descritos no item ante-


rior.

Inicialmente, subdividimos
este intervalo em suas duas meta-
des, ou seja: Verificamos se a raiz
está contida na primeira ou na se-
gunda metade do intervalo inicial,
usando o teorema de Bolzano. Ou
Exemplo: Seja a função seja, se a função f(x) mudar de sinal
f(x)=x.ln(x)-3.2. Podemos calcular o
valor de f(x) para valores arbitrários
de x, como mostrado na tabela abai- entre a e saberemos que a raiz
xo: está nessa primeira metade do inter-
valo [a,b]. Caso a função f(x) mude

de sinal entre e b, a raiz deverá


estar na segunda metade do in-
tervalo original.
Em seguida repetimos o pro-
Pelo teorema de Bolzano, con- cesso para aquela metade que con-
cluímos que existe pelo menos uma tém a raiz de f(x): dividimos o inter-
raiz real no intervalo [2,3]. valo ao meio e verificamos em qual
metade está a raiz. Podemos conti-
nuar repetindo esse processo indefi-
Método da Dicotomia ou Bis- nidamente.
secção A estimativa da raiz α em cada
etapa será o ponto médio do inter-
O método da dicotomia ou bis- valo em estudo onde sabemos que
secção é a forma mais intuitiva de se existe uma raiz. E, como todo pro-
obter a raiz de uma função. Seja uma cesso numérico, é importante esti-
função f(x) contínua em um inter- marmos o erro nesse resultado ob-
valo [a,b], e α uma raiz de f(x) iso- tido. No caso do método da bissec-
lada neste intervalo através de um ção, o erro na estimativa será dado

21
CÁLCULO NUMÉRICO

pela metade do comprimento do in-


tervalo em estudo.
A seguir, uma ilustração desse
processo, onde os sinais acima do
eixo horizontal representam o sinal
da função:

Através da interseção mos-


trada no gráfico, podemos concluir
que a raiz de f(x) € [-1,0].
Utilizando o método da dico-
tomia, temos:

Exemplo: Encontre uma esti-


mativa para a raiz de:

Com um erro menor ou igual a


0,050. Os gráficos de ex e de -x são:

22
CÁLCULO NUMÉRICO

Portanto, a raiz da função Tanto o critério (4.5), quanto o


f(x)=ex+x é igual a –0,594 ± 0,032. critério (4.6), podem levar a um nú-
mero muito grande de iterações.
Critérios de Parada em um Uma maneira de se contornar este
Processo Iterativo problema é tomar como um critério
de parada adicional, um certo nú-
Foi usado, até o momento, o mero de iterações máximo.
seguinte critério de parada:
Estimativa do Número de Alte-
rações no Método da Bisseção.

Como, no método da bisseção,


Onde é o intervalo em cada passo, dividimos o intervalo
que contêm a raiz da função após k por 2, temos:
iterações.
No entanto, se tivermos uma
função do seguinte tipo:

Onde k é o número de itera-


ções e [ao,bo] é o intervalo inicial que
isola a raiz da função. Dado o se-
guinte critério de parada:

Onde € é o erro estipulado, te-


mos que:
Podemos estar satisfazendo
(1) e, entretanto, f(x0) pode ser
muito maior que zero. Assim, em
certos casos pode-se usar a seguinte
condição:

23
CÁLCULO NUMÉRICO

Arranjando os termos em uma raiz de f(x). O Método de Itera-


(4.10): ção Linear inicia-se reescrevendo a
função f(x) como:

Essa forma de escrever f(x) é


bastante útil. No ponto x que corres-
Tomando o log de ambos os la- ponde à raiz de f(x), isto é, f(x) = 0,
dos de (4.11): teremos que:

E usando as propriedades do
Ou seja, no ponto x que corres-
log segue que:
ponde à raiz de f(x), ao substituir-
mos o valor de x na função φ(x), te-
remos como resultado o próprio va-
lor de x. Portanto, a raiz de f(x) será
o ponto fixo de φ(x), ou seja, o valor
que ao ser substituído em φ(x) re-
A expressão (4.13) dá o nú- torna o próprio valor de x.
mero de iterações necessárias para Por exemplo, a função:
que o critério de parada, definido em
(4.8), seja satisfeito.

Método das Aproximações Su-


cessivas ou Método de Altera-
ção Linear (MIL)

O método da iteração linear é Portanto, para encontrarmos a


um processo iterativo que apresenta raiz de f(x), podemos encontrar o va-
vantagens e desvantagens em rela- lor numérico que ao substituirmos
ção ao método da bissecção. em φ(x) retorna o próprio valor de x.
Seja uma função f(x) contínua Para encontrarmos esse valor de x,
em um intervalo [a,b] que contenha vamos utilizar um processo itera-

24
CÁLCULO NUMÉRICO

tivo, onde começamos a calcular o Ou então, ou ainda,


valor de φ(x) com um valor inicial de
x, e recalculamos repetidamente o
valor de φ(x) sempre usando o resul-
tado de uma dada iteração como a
nova estimativa de x, ou seja, fa-
zendo:

Mais um exemplo,

Onde, k é a ordem da iteração


em que estamos (k = 0, 1, 2, 3, 4, ...).
A função φ(x) é chamada de função
de iteração. Pode-se notar que dada
uma função f(x) existem diversas Exemplo: Encontre uma esti-
funções de iteração que podem ser mativa para a raiz de:
usadas no processo.
Exemplo: Encontre algumas usando o método
funções de iteração a partir de f (x) = da iteração linear.
x2 + ln(x) - x +1. Vamos iniciar a solução en-
contrando uma boa estimativa ini-
cial para o valor da raiz de f(x). Para
isso, vamos usar o método gráfico
para o isolamento de raízes. Escre-
vendo: f(x) = g(x) – h(x) g(x) = x2 e
h(x) = ex
Temos:

25
CÁLCULO NUMÉRICO

A partir do esboço gráfico


acima, conclui-se que a raiz encon-
tra-se no intervalo [-1,0].
Devemos agora escolher uma
função de iteração φ(x). Para isso,
escrevemos:

Ou seja, podemos ter como


função iteração, os dois casos abai- O Problema da Convergência
xo: no Método da Iteração Linear

Como já discutido, para se ob-


ter um resultado coerente e preciso
com um processo iterativo, é neces-
sário que a cada iteração a resposta
se aproxime mais e mais da solução
real, ou seja, que o método convirja
para o valor real. No caso do método
da bissecção, nós não precisamos
nos preocupar com a convergência,
pois com esse método ela está sem-
pre garantida, já que isolamos a raiz
em um dado intervalo e nunca dei-
Substituindo os valores de xk xamos esse intervalo inicial. Já no
em f(x) para cada iteração k, vemos método da iteração linear, a conver-
que a cada etapa nos aproximamos gência não é garantida a priori. A ca-
mais da raiz de f(x), pois o valor da iteração podemos nos aproximar
dessa função fica mais próximo de ou nos afastar da solução real. Por-
zero a cada iteração, como mostrado tanto, antes de resolver um pro-
na tabela abaixo: blema através desse método é pre-

26
CÁLCULO NUMÉRICO

ciso se verificar se haverá ou não a


convergência.
O seguinte Teorema coloca
condições suficientes, porém não
necessárias para que o método de
iteração linear seja convergente.
Teorema: Seja uma função f(x) Vamos iniciar verificando a
contínua em um intervalo [a,b] e α condição (i) para a função φ1(x).
uma raiz de f(x) contida em [a,b]. Ambas as funções φ1(x) e φ1‘(x) são
Seja φ(x) uma função de itera- contínuas (para todo) x € R com x ≠
ção obtida a partir de f(x). - 0,96.
Se:

Então:

Em seguida, vamos verificar a


condição (ii) para φ1(x).
Exemplo: Deseja-se encontrar
a raiz de

. Para isto,
pretende-se usar uma das seguintes
funções de iteração:

Portanto, para os valores de x


que satisfazem a equação acima, te-
remos φ1(x)< 1, ou seja, a condição
(ii) do teorema da convergência é sa-
Verifique se φ1(x) e φ2(x) sa- tisfeita. Vamos encontrar as raízes
tisfazem as condições (i) e (ii) do Te- da função acima (x2 + 1.92x – 1,15
orema de convergência no intervalo 84) e, como ela se trata de uma pa-
[1,2].

27
CÁLCULO NUMÉRICO

rábola com concavidade para cima, Para a condição (i), temos:


sabemos que a função será positiva
para valores menores que a raiz de
menor valor (x1) e valores maiores
que a raiz de maior valor (x2) , como
ilustrado a seguir.
Portanto, φ2 (x) e φ2‘(x) são
contínuas para x € R . Para a condi-
ção (ii) ser satisfeita, devemos ter:

As raízes dessa função são:

Ou seja:

Portanto: Temos, portanto, que φ2(x)


não satisfaz a condição (ii) do Teo-
rema de Convergência, no intervalo
[1,2].
Finalmente, concluímos que Exemplo: Já calculamos o va-
as condições (i) e (ii) do Teorema de lor da raiz da função f(x) = x2 – ex,
Convergência são satisfeitas por: utilizando:

No intervalo [1,2]. Vamos verificar se essa função


satisfaz as condições do teorema da
Vamos verificar se essas con- convergência. Para a condição (i),
dições são satisfeitas para a função temos:
φ2(x).

28
CÁLCULO NUMÉRICO

Ao tentarmos resolver este


problema usando a função

notamos que essa condi-


ção não é satisfeita em todas as eta-
pas do problema. A tabela abaixo
Portanto, φ(x) e φ’(x) são con-
mostra o que acontece ao tentarmos
tínuas para x € R. Para a condição
encontrar a raiz de f(x) usando
(ii), devemos ter |φ’(x)| < 1, ou seja:
. A tabela apresenta o ín-
dice das iterações que estamos (i), o
valor de φ(xi) e de f(xi) para cada ite-
ração:

O Teorema de convergência
será satisfeito se x < 1,386. Final-
mente, para a condição (iii), deve-
mos ter x0 < 1,386, que é satisfeita
para x0 = -0.5, que foi o valor usado.
Ainda nesse exemplo, vimos

que a função , a princípio,


também poderia ser usada. Mas,
será que ela satisfaz todas as condi-
ções do teorema da convergência?
Devido sua semelhança com a
Notamos que o processo está
função , podemos con- divergindo, isto é, se afastando da
cluir que ela satisfaz o teorema da raiz de f(x), já que o valor de f(x) é
convergência também para valores
de x < 1,386.

29
CÁLCULO NUMÉRICO

cada vez mais distante de zero. Tam- Método de Newton-Raphson


bém podemos notar que isso acon-
tece devido ao fato de usarmos valo- O Método de Newton-Ra-
res de x > 1,386 a partir da iteração phson é um caso particular do mé-
i=2. Portanto, essa função não satis- todo de iteração linear.
faz o teorema da convergência em O método de iteração linear
todas as iterações. consiste em estimar a raiz de uma
função f(x) usando o processo itera-
Critérios de Parada no Método tivo:
da Iteração Linear

No caso do método da iteração


linear, podemos usar qualquer uma Podemos escrever uma forma
(ou todas simultaneamente) das geral para a função de iteração:
condições abaixo como critério de
parada:

Pois, para x igual à raiz de f(x),


tem-se f(x)=0, ou seja x= φ(x) para
qualquer A(x)≠0.
Para haver a convergência no
Conforme avançamos no nú- método da iteração linear é preciso
mero de iterações, se as estimativas que |φ’(x)|<1 em um intervalo [a,b]
da raiz de f(x) começam a variar que contém a raiz de f(x). Portanto,
muito pouco, podemos concluir que a ideia no método de Newton-Ra-
estamos bem próximos da raiz de phson é escolher uma função φ(x)
f(x) e o processo iterativo pode ser tal que φ’(α)=0 onde α é a raiz de
parado. f(x) e α € [a,b]. Com isso, teremos
|φ’(x)|<1 desde que não nos afaste-
mos muito do valor de α durante o
processo de resolução do problema.
Derivando φ(x) dada pela ex-
pressão (2) em relação a x, temos:

30
CÁLCULO NUMÉRICO

Exigindo que φ’(x)=0, tem-se: Convergência do Método de


Newton-Raphson

Apesar de obtermos a forma


da função φ(x) procurando garantir
Portanto: a convergência do processo iterati-
vo, esta não esta sempre garantida
para este método (mas quase sem-
pre). A convergência no método de
Newton-Raphson esta sempre ga-
rantida para um certo intervalo [a,b]
segue que: que contém a raiz de f(x), desde que
f(x) e f’(x) sejam contínuas nesse in-
tervalo e que f’(α)≠0, onde α é a raiz
de f(x) (f(α)=0). Portanto, se utili-
zarmos uma estimativa inicial x0 tal
que x0 € [a,b], a convergência estará
garantida. Em outras palavras, para
o método de Newton-Raphson con-
vergir, é preciso que nossa estima-
tiva inicial esteja próxima da raiz de
Escolhendo: f(x). A proximidade exigida para a
convergência vai depender de caso a
caso e nem sempre é simples de de-
terminar.

Interpretação Geométrica

Dado xn, o ponto xn+1 será ob-


tido pela intercessão da reta tan-
gente a f(x) em xn com o eixo x (a
abscissa). Podemos ilustrar isso ma-
O Método de Newton-Ra- tematicamente. A reta tangente a
phson consiste em usar o processo f(x) em xn é dada por:
iterativo xn+1 = φ(xn) e como função
de iteração a expressão (4.26).

31
CÁLCULO NUMÉRICO

A partir dessa expressão, obte-


mos a fórmula de Newton-Raphson,
ou seja: Onde:

Portanto, a cada iteração do Portanto, temos que:


nosso processo, nos aproximamos
cada vez mais da raiz de f(x) através
da tangente (ou seja, da derivada) da
função f(x).
A figura a seguir ilustra essa
interpretação geométrica do Método
de Newton-Raphson.

A estimativa da raiz de f(x) é:

Lista de Exercícios:

1. Quais são as 3 causas mais im-


Exemplo: Calcule a raiz de
portantes de erros numéricos em
, usando o método operações realizadas em computa-
de Newton- Raphson, x0 = 3 como dores e calculadoras?
estimativa inicial e como critério de 2. Cite as características básicas
parada |f(xn)| ≤ 0,020. Para encon- de todo processo iterativo.
trar a raiz de f(x) usando o método 3. O que é um zero ou raiz de fun-
de Newton-Raphson, devemos ter: ção?

32
CÁLCULO NUMÉRICO

4. Como você poderia usar o mé- método da iteração linear? O que fa-
todo da bissecção para estimar o va- zer caso seja constatado que o mé-
todo da iteração linear não irá con-
lor de ? Estime esse valor com
vergir para um dado problema?
uma precisão de (ou erro menor
8. Dada a função f(x)=ln(x) –x2
que) 0,1.
+ 4, mostre 3 formas para a função
5. Dada a função
φ(x) que poderiam ser usadas para
: se estimar a raiz de f(x).
9. Mostre que as seguintes fun-
a. Determine o intervalo em x ções de interação satisfazem as con-
dições (i) e (ii) do teorema de con-
que contém pelo menos uma raiz de
f(x) (graficamente ou aritmetica- vergência:
mente usando o Teorema de Bol-
zano);
b. Partindo-se desse intervalo,
utilize o método da bissecção para
determinar o valor dessa raiz após 4
iterações.
c. Qual é o erro no seu resultado
final?

6. Dada a função :

a. Determine graficamente o in- 10. Estime as raízes positivas das


tervalo em x que contém pelo menos seguintes funções pelo método de
uma raiz de f(x); iteração linear, usando o critério de
b. Faça a mesma estimativa, mas parada dado:
desta vez aritmeticamente usando o
Teorema de Bolzano;
c. Partindo-se desse intervalo,
utilize o método da bissecção para
determinar o valor dessa raiz com
uma precisão de 0,05.

7. O que significa a convergência


de um método iterativo? Que condi-
ções garantem a convergência no

33
CÁLCULO NUMÉRICO

Use as funções de iteração do


exercício anterior. 13. Seja a função

11. Seja a seguinte função: a. Encontre o intervalo que deva


possuir pelo menos uma raiz de f(x).

b. Usando , estime a
raiz de f(x) com |xn-xn-1| < 0,001.
Use o método de Newton-Ra- c. Faça a mesma estimativa
phson para encontrar uma estima- usando o método de Newton-Ra-
tiva da raíz de f(x) tal que |f(x)| < 10- phson. Qual dos dois métodos con-
4. Parta de xo=1. verge mais rapidamente?
d. Um outro critério de parada
12. Deseja-se resolver a seguinte que poderia ser usado corresponde à
equação usando o Método de New- verificação se o valor de f(x) está
ton-Raphson: próximo de zero. Qual resultado
para a raiz de f(x) se obteria caso se
usasse como critério de parada a
condição |f(x)| < 0.001?

Qual o valor da raiz tal que:


14. Seja:

a. Mostre que f(x) possui uma


raiz em [0,1].

Quantas iterações são necessá- b. Mostre que é uma


rias para se encontrar a raiz, atin- possível função de iteração obtida a
gindo o critério acima, com: partir de f(x).
c. Verifique se φ(x) satisfaz as
condições (i) e (ii) do Teorema de
Convergência.
d. Encontre uma estimativa para
a raiz de f(x) através do método da
iteração linear e usando a função
φ(x) do item (c), tal que |f(x)| <
0,0070.

34
CÁLCULO NUMÉRICO

Interpolação Polinomial O polinômio p(x) é chamado


de polinômio interpolador. É possí-
Vamos supor que temos um vel se demonstrar que existe um
conjunto de dados {xi,f(xi)} tal como único polinômio p(x) de grau menor
na tabela abaixo: ou igual a n que passa por todos os
(n+1) pontos do conjunto {xi,f(xi)}
(ver o livro texto Noções de Cálculo
Numérico para uma demonstração
dessa proposição).

Forma de Lagrange
Nosso problema é estimar o
valor de f(x) para um valor de x que Seja um conjunto de n+1 da-
não tenha sido medido, como por dos {xi,f(xi)}. Queremos encontrar
exemplo, x=2.0. um polinômio interpolador p(x) que
Portanto, interpolar um ponto satisfaça a condição (1), isto é, passe
x a um conjunto de n+1 dados {xi, por todos os pontos.
f(xi)}, significa simplesmente, calcu- Uma possível forma para p(x)
lar o valor de f(x), sem conhecer a que satisfaça (1) é:
forma analítica de f(x).
A interpolação polinomial
consiste em se obter um polinômio
p(x) que passe por todos os pontos
do conjunto de (n+1) dados {xi,f(xi)},
Onde os Lk(x) são polinômios
isto é:
tais que:

Sendo que:

(note que a contagem começa


em zero, portanto temos n+1 pontos
na expressão acima). Portanto:

35
CÁLCULO NUMÉRICO

Ou seja:

Interpolação para 2 pontos


(n+1=2) - ajuste de retas (n=1)

O que mostra que o polinômio


interpolador p(x) passa exatamente
sobre os pontos {xi,f(xi)} da tabela
dada.
Temos agora que encontrar os
polinômios Lk(x), que satisfaçam
(3). Uma função que satisfaz a con-
dição (3) é:

As funções Li (x) devem satis-


Que é fácil verificar, pois: fazer (3), ou seja:

De maneira compacta, pode-


mos escrever o polinômio interpola- É fácil verificar que, as seguin-
dor na Forma de Lagrange, como: tes funções, satisfazem (7):

36
CÁLCULO NUMÉRICO

De (8) em (6):

Interpolação para 3 pontos


(n+1=3) - ajuste de parábolas (n=2)

Portanto:

Exemplo: Ajuste uma reta aos se-


guintes pontos:

De (5):

Onde:

Por construção:

37
CÁLCULO NUMÉRICO

Forma de Newton Onde:

Tabela de Diferenças Dividi-


das: Para que possamos discutir a
Forma de Newton temos que antes
nos familiarizar com a construção da
chamada “Tabela de Diferenças Di-
vididas”. Dada a tabela de valores:

Podemos construir a seguinte


tabela:

Exemplo: Dados os seguintes


valores:

A tabela de diferenças dividi-


das é:

38
CÁLCULO NUMÉRICO

Portanto, a expressão (5.3)


pode ser escrita como:

A expressão acima não pode


ser usada diretamente, pois não po-
demos calcular o valor f[x0,x], já que
não conhecemos o de f(x) em qual-
quer ponto x (veja expressão (5.1)
acima). Fora do ponto x0, sabemos
Forma de Newton para o Poli- que o polinômio interpolador é ape-
nômio Interpolador nas uma aproximação de f(x), caso
contrário teríamos uma resposta
Para calcularmos o polinômio exata e não precisaríamos da inter-
interpolador da Forma de Newton, polação. Em outras palavras, tem- se
vamos começar com o caso mais que:
simples: encontrar um polinômio de
grau 0, p0(x), que interpola f(x) no
ponto x0. Vamos partir da diferença
dividida f[x0, x], que é dada por: Para x≠x0

Portanto, da expressão (5.4),


concluímos que f[x, x0].(x-x0) é sim-
Isolando-se f(x) da expressão plesmente a diferença entre o valor
acima, tem-se: de f(x) (valor real da função) e o va-
lor p0(x) que obtivemos com a inter-
polação. Em outras palavras, esse
termo é o erro no processo de inter-
polação, isto é:
Da própria definição de poli-
nômio interpolador, sabe-se que:

39
CÁLCULO NUMÉRICO

Podemos realizar o mesmo


exercício, partindo de uma diferença
dividia de ordem maior, ou seja
f[x0,x1,x], que é dada por:
Podemos continuar indefini-
damente, até encontrarmos o poli-
nômio interpolador de uma ordem n
qualquer, aplicando sempre o mes-
mo raciocínio. A expressão geral pa-
ra um polinômio interpolador de or-
Portanto, tem-se que: dem n será então:

E E o erro é dado por:

Exemplo: Dado:
Podemos verificar que o poli-
nômio interpolador de ordem 1,
p1(x), é dado por:

Encontre o polinômio interpo-


lador p(x) usando a forma de New-
Pois:
ton:

Que são as condições funda-


mentais para se encontrar tal poli-
nômio. Portanto, o erro cometido ao
se aproximar f(x) por p1(x) é:

40
CÁLCULO NUMÉRICO

Usando (5.9):

Note que usando a forma de


Newton, p(xi) = f(xi)

41
42
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CÁLCULO NUMÉRICO

4. Referências Bibliográficas
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