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Direito Civil - Aula 01 PDF
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DIREITO CIVIL
AULA 01
PESSOA NATURAL
Aula 01
Pessoas Naturais
Sumário
1. PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL ............................................. 03
1.1 Início ............................................................................................ 04
1.1.1 Nascituro ............................................................................... 07
1.1.2 Direitos da Personalidade ...................................................... 11
1.2 Individualização ........................................................................... 18
1.2.1 Nome ..................................................................................... 18
1.2.2 Estado ................................................................................... 23
1.2.3 Domicílio ............................................................................... 24
1.3 Fim da Personalidade ................................................................... 29
1.3.1 Morte Real ............................................................................. 29
1.3.2 Morte Presumida ................................................................... 30
1.3.3 Comoriência ........................................................................... 34
2. CAPACIDADE CIVIL ............................................................................ 36
2.1 Absolutamente Incapazes ............................................................ 38
2.2 Relativamente Incapazes ............................................................. 40
INÍCIO DA PERSONALIDADE
Há muita polêmica doutrinária envolvendo o início da personalidade
civil. As três principais teorias são:
a) Teoria Natalista: a personalidade jurídica começa com o nascimento
com vida. A adoção desta teoria de forma absoluta leva à conclusão de que o
nascituro não é considerado pessoa, portanto, tem apenas expectativa de vida e
de direitos.
b) Teoria Concepcionista: a personalidade tem início desde a concepção.
Ou seja, no momento em que o óvulo fecundado pelo espermatozoide se junta à
parede do útero. A partir desse momento o nascituro já é considerado como
pessoa, e, como tal, tem todos os direitos resguardados pela lei, sendo
considerado sujeito de direitos.
c) Teoria da Personalidade Condicional: o nascituro possui personalidade
jurídica desde o momento da concepção, no entanto isso é condicionado ao
nascimento com vida. Nascendo com vida a personalidade retroage ao
momento de concepção do nascituro, conferindo a ele uma tutela jurídica que
atinge o passado. Essa corrente defende que o nascituro possui direitos,
entretanto estes estariam subordinados a uma condição suspensiva que seria o
próprio o nascimento com vida. Se não nascer com vida não houve
personalidade.
No Brasil a doutrina se manifesta de forma divergente, pois, se por
um lado a lei estabelece que a personalidade civil tem início com o nascimento
com vida, o mesmo dispositivo, logo a seguir assegura ao nascituro (falaremos
sobre essa expressão mais adiante) direitos desde sua concepção. Na doutrina
brasileira há ferrenhos defensores de todas as teorias.
Analisando a Lei
Pelo Código Civil, podemos afirmar que a personalidade da pessoa
natural ou física se inicia com o nascimento com vida, ainda que por poucos
momentos. Esta é a primeira parte do art. 2° do CC. Se a criança nascer com
vida, ainda que por um instante, já adquire a personalidade.
1. Nascimento: quando a criança é separada do ventre materno (parto
natural ou por intervenção cirúrgica), mesmo que ainda não tenha sido cortado
o cordão umbilical (isso significa a separação da criança do corpo da mãe e não
o nascimento em si).
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2. Com vida: há nascimento e há parto quando a criança, deixando o
útero materno, tenha respirado. Segundo a Resolução n° 01/88 do Conselho
Nacional de Saúde, nascer com vida significa respirar e ter batimentos
cardíacos (funcionamento do aparelho cardiorrespiratório). É nesse momento
que a personalidade civil terá início em sua plenitude, com todos os efeitos
subsequentes, conforme veremos.
Para se saber se nasceu viva e em seguida morreu, ou se já nasceu
morta, é realizado um exame chamado de docimasia hidrostática de Galeno,
que consiste em colocar o pulmão da criança morta em uma solução líquida; se
flutuar é sinal que a criança chegou a dar pelo menos uma inspirada e, portanto,
nasceu com vida; se afundar, é sinal que não chegou a respirar e, portanto,
nasceu morta, não recebendo e nem transmitindo direitos. No entanto,
atualmente a medicina dispõe de técnicas mais modernas e eficazes para tal
constatação (ex.: ultrassom).
Curiosidade
Vejamos o que diz o art. 29, da Resolução n° 01/88 do CNS:
Art. 29 Além dos requisitos éticos genéricos para pesquisa em seres humanos, as
pesquisas em indivíduos abrangidos por este capítulo conforme as definições que se
seguem, devem obedecer as normas contidas no mesmo.
NASCITURO
O termo nascituro significa “aquele que há de nascer”. É o ser que já foi
gerado ou concebido, mas ainda não nasceu, embora tenha vida intrauterina e
natureza humana. Tecnicamente (teoria natalista) ele não tem personalidade,
pois ainda não é pessoa sob o ponto de vista jurídico. Apesar de não ter
personalidade jurídica, a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a
concepção. Trata-se da segunda parte do art. 2°, CC. Na realidade o nascituro
tem uma expectativa de direito. Ex.: o nascituro tem o direito de nascer e de
viver (o aborto é considerado como crime: arts. 124 a 127 do Código Penal,
salvo raríssimas exceções previstas em lei).
Observações
01) Durante nosso curso, às vezes, vamos mencionar a expressão
“Jornadas do CJF”. Na realidade estas “jornadas” foram encontros de pessoas
ligadas ao Direito Civil, promovidas pelo Centro de Estudos Judiciários do
Conselho da Justiça Federal (CJF), sob os auspícios do Superior Tribunal de
Justiça, em que foram aprovados alguns enunciados, que têm sido acolhidos
pelo mundo jurídico nacional. Quando nos referirmos a elas, vamos mencionar
qual jornada foi essa e o número do enunciado (como fizemos acima).
02) Segundo a doutrina, nascituro é uma expressão mais ampla do que
feto, pois este seria o nascituro somente depois que adquiriu a forma humana.
03) É importante salientar que a expressão natimorto não é considerada
juridicamente técnica. O vocábulo é composto pelas palavras latinas natus
(nascido) e mortus (morto), não tendo previsão no Código Civil. Possui um
duplo sentido. Os dicionários jurídicos conceituam o natimorto como sendo
"aquele que nasceu sem vida (morreu dentro do útero) OU aquele que veio à
luz, com sinais de vida, mas, logo morreu (morreu durante o parto)". Portanto,
qualquer uma dessas situações está correta para conceituar natimorto.
OBSERVAÇÕES
Em regra o nome é imutável. Ou seja, uma vez registrado não pode mais
ser alterado, No entanto... o princípio da inalterabilidade do nome sofre
diversas exceções em casos justificados. A lei e a jurisprudência admitem a
retificação ou a alteração de qualquer dos seus elementos. Na prática há um
maior rigor quanto à modificação do prenome e um menor rigor em relação ao
sobrenome.
A propósito, vejam a alteração que a Lei n° 9.708/98 fez na Lei de Registros
Públicos (LRP – Lei n° 6.015/73), em especial no art. 58: “O prenome será
definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos
notórios”. O parágrafo único deste mesmo dispositivo estabelece outra
possibilidade: “A substituição do prenome será ainda admitida em razão de
fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime,
por determinação, em sentença, de Juiz competente, ouvido o Ministério
Público”.
Outro exemplo é o previsto no art. 56 da própria LRP que permite que o
interessado, no primeiro ano, após completar a maioridade civil, altere seu
nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a
alteração que será publicada pela imprensa (trata-se da única hipótese legal em
que a alteração do nome não precisa ser motivada). No entanto o art. 57
determina que qualquer alteração posterior de nome, somente será feita por
exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, e por sentença
do Juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-
se a alteração na imprensa. Vejamos outras situações:
• Casamento: atualmente o art. 1.565, §1°, CC permite que qualquer
dos nubentes acrescente ao seu, o sobrenome do outro.
B) ESTADO
Estado é a soma das qualificações da pessoa natural hábeis a identificá-la
na sociedade e produzir efeitos jurídicos; é o modo particular da pessoa existir.
Apresenta três aspectos:
Individual (ou físico) é o modo de ser da pessoa quanto à idade,
sexo, cor, altura, saúde, etc. Algumas dessas particularidades, como a
idade exercem influência sobre a capacidade e o seu poder de praticar
atos da vida civil (maioridade ou menoridade).
Familiar indica a situação que a pessoa ocupa na família: a) quanto
ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, divorciado); b) quanto ao
parentesco consanguíneo (ascendentes: pai, mãe, avós; descendentes:
filho, neto; colaterais: irmãos, tios, primos, etc.); c) quanto à afinidade
(sogro, sogra, genro, nora, cunhados, etc.).
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Político identifica a pessoa a partir do local em que nasceu ou de sua
condição política dentro de um País: nacional (nato ou naturalizado),
estrangeiro, apátrida. Obs.: já vi cair em concurso o termo heimatlos.
Trata-se de uma expressão de origem alemã que significa apátrida
(pessoa que não é considerado nacional por qualquer País).
O estado é regulado por normas de ordem pública (suas regras não
podem ser alteradas pela vontade das partes). É irrenunciável, pois não se pode
renunciar aquilo que é uma característica pessoal. É uno e indivisível, pois
ninguém pode ser simultaneamente casado e solteiro; maior e menor, etc. Por
ser um reflexo da personalidade, é inalienável, não podendo ser objeto de
comércio. Trata-se de um direito indisponível (não se transferem as
características pessoais) e imprescritível (o decurso de tempo não faz com que
se percam as qualificações pessoais). As ações tendentes a afirmar, obter ou
negar determinado estado, também são chamadas de ações de estado (ex.:
investigação de paternidade, divórcio, etc.), sendo consideradas
personalíssimas.
C) DOMICÍLIO
O conceito de domicílio (domus, em latim, significa casa) surge da
necessidade legal que se tem de fixar as pessoas em determinado ponto do
território nacional, onde possam ser encontradas para responder por suas
obrigações. Exemplo: vou ingressar com uma ação judicial! Onde essa ação será
proposta? Resposta: em regra no domicílio do réu. E se uma pessoa morre,
onde deve ser proposta a ação de inventário? Resposta: no último domicílio do
“de cujus” (falecido). E assim por diante... O conceito de domicílio está sempre
presente em nosso dia-a-dia, mesmo que não percebamos. Inicialmente,
devemos fazer a seguinte distinção:
a) Moradia ou habitação: é o local onde a pessoa se estabelece
provisoriamente, sem ânimo de permanecer; é uma relação bem frágil entre
uma pessoa e o local onde ela está (ex.: alugar uma casa de praia por um mês,
aluno que ganha uma bolsa de estudos por três meses na França, casa usada
apenas para ficar nos fins de semana, feriados ou férias, etc.).
b) Residência: é o lugar em que o indivíduo se estabelece habitualmente,
com a intenção de permanecer, mesmo que dele se ausente temporariamente;
trata-se de uma situação de fato.
c) Domicílio: é a sede da pessoa, tanto física como jurídica, onde se
presume a sua presença para efeitos de direito e onde exerce ou pratica,
habitualmente, seus atos e negócios jurídicos. É o lugar onde a pessoa
estabelece sua residência com ânimo definitivo de permanecer (art. 70, CC),
convertendo-o, em regra, em centro principal de seus negócios jurídicos ou de
Outras Regras
A) Domicílio familiar: uma pessoa pode residir em mais de um local,
tomando apenas um como sendo o centro principal de seus negócios; este local
então será o seu domicílio. Mas se a pessoa tiver várias residências, onde
alternadamente viva, sem que se possa considerar uma delas como sendo o seu
centro principal, o domicílio pode ser qualquer delas → o Brasil adotou o sistema
da pluralidade domiciliar ou domicílio múltiplo (art. 71, CC).
B) Domicílio aparente, ocasional ou eventual: pode ocorrer que uma
pessoa não tenha uma residência habitual; ela não tem um ponto central de
negócios. O exemplo clássico é o dos circenses e ciganos que a cada momento
estão em uma localidade diferente (a doutrina os chama de adômidas). O
domicílio destas pessoas então será o lugar onde elas forem encontradas
(art. 73, CC). Trata-se de uma ficção jurídica, uma hipótese de aplicação da
ESPÉCIES DE DOMICÍLIO
1) Domicílio Voluntário escolhido livremente pela própria vontade do
indivíduo e por ele pode ser modificado (geral: art. 70, CC) ou estabelecido
conforme interesses das partes em um contrato (especial: art. 78, CC).
Também pode ser simples ou múltiplo (plural).
2) Domicílio Legal (ou necessário) é o que decorre da lei em razão da
condição ou situação de certas pessoas. Deixa de existir a liberdade de escolha
do domicílio (art. 76 e seu parágrafo único, CC):
Incapazes (qualquer tipo de incapacidade): têm por domicílio o de seus
representantes legais (pais, tutores ou curadores). A doutrina costuma
chamar de domicílio de origem aquele que o filho adquire ao nascer ou
enquanto ele estiver sob o poder familiar.
Servidor Público: seu domicílio é o lugar onde exerce
permanentemente sua função. Cuidado: não se aplica ao servidor
público de função temporária.
Observações
01) Para quem gosta de métodos de memorização: PIS-M² (preso, incapaz,
servidor, militar e marítimo).
02) Como vimos, o Brasil possibilita a pluralidade domiciliar, por isso a
existência do domicílio legal não inibe eventual domicílio voluntário. Ex.:
funcionário público tem domicílio legal onde exerce suas funções (Município
“A”), mas reside com ânimo definitivo (domicílio voluntário) no Município “B”.
Nesse sentido a jurisprudência de nossos Tribunais: “Havendo mais de um
domicílio, sendo um necessário e outro voluntário, é faculdade do autor a
escolha do foro, tendo por base um ou outro domicílio”.
03) O art. 77, CC ainda traz uma situação especial para o Agente Diplomático
do Brasil que, citado no estrangeiro, alega extraterritorialidade, sem indicar
seu domicílio no país. Neste caso poderá ser demandado no Distrito Federal ou
no seu último domicílio.
O domicílio voluntário especial merece um destaque à parte. Segundo
a doutrina ele pode ser subdividido: a) domicílio contratual (art. 78, CC):
local especificado no contrato para o exercício e cumprimento das obrigações
dele resultantes; b) domicílio (ou foro) de eleição ou cláusula de eleição de
foro (previsto no art. 63 do Código de Processo Civil): escolhido pelas partes
para a propositura de ações relativas às obrigações. Essas duas espécies de
domicílio derivam de cláusula escrita. E quando se tratar de ação que verse
sobre imóveis a competência é a da situação da coisa.
Domicílio Necessário
Incapaz = representante ou assistente.
MORTE REAL
A personalidade civil termina com a morte física, deixando o indivíduo
de ser sujeito de direitos e obrigações. A morte, portanto, é o momento
extintivo da personalidade. A morte real se dá com o óbito comprovado da
pessoa natural. Tradicionalmente isso ocorre com a parada total do aparelho
cardiorrespiratório. No entanto, a comunidade científica mundial, assim como o
Conselho Federal de Medicina, tem afirmado que o marco mais seguro para se
aferir a extinção da pessoa física é a morte encefálica, inclusive para efeito de
transplante (Lei n° 9.434/97 – Lei de Transplantes). Isso porque a morte
encefálica é irreversível.
Inicialmente exige-se um atestado de óbito (para isso é necessário o
corpo) que irá comprovar a certeza do evento morte, devendo o mesmo ser
lavrado por profissional registrado no Conselho Regional de Medicina. Na
ausência deste, a Lei n° 6.015/73 (Lei de Registros Públicos) permite que a
declaração de óbito possa ser feita por duas testemunhas. Com este documento
é lavrada a certidão de óbito, por ato do oficial do registro civil de pessoa
natural, sendo esta a condição para o sepultamento.
MORTE CIVIL
A morte civil era a perda da personalidade em vida. A pessoa estava
viva, mas era tratada como se estivesse morta. Geralmente era uma pena
aplicada a pessoas condenadas criminalmente, em situações especiais.
Atualmente, pode-se dizer ela não existe mais. No entanto, há resquícios de
morte civil. Ex.: exclusão de herança por indignidade do filho, “como se ele
morto fosse” (observem esta expressão no art. 1.816, CC); embora viva, a
pessoa é ignorada, mas somente para efeitos de herança.
No entanto este cônjuge não precisa esperar tanto tempo para se casar
novamente. Mesmo antes de ser considerado viúvo ele pode ingressar com um
pedido de divórcio. Até porque, com a edição da Emenda Constitucional n°
66/2010, tudo ficou muito mais simples, sem a necessidade de se ingressar
primeiro com a separação judicial e aguardar prazos. E, divorciada, a pessoa já
está livre para convolar novas núpcias.
Resumindo
a) Ausência (curadoria dos bens do ausente): 01 ou 03 anos, dependendo
da hipótese (com ou sem representante), arrecadando-se os bens que
serão administrados por um curador.
b) Sucessão Provisória: é feita a partilha de forma provisória,
aguardando-se 10 anos.
c) Sucessão Definitiva: na abertura já se concede a propriedade plena e
se declara a morte (presumida) do ausente. Seu cônjuge é reputado viúvo.
Aguardam-se mais dez anos. Se o ausente retornar recebe os bens
existentes no estado em que se acharem (ou o preço em seu lugar).
d) Fim.
B) Art. 7°, CC
Esta é uma situação mais simples, pois permite a declaração da morte
presumida sem decretação de ausência. Isso para melhor viabilizar o
registro do óbito, resolver problemas jurídicos e regular rapidamente a sucessão
causa mortis. Vejamos as duas situações excepcionais, expressamente
previstas no Código Civil:
For extremamente provável a morte de quem estava em perigo de
vida.
Pessoa desapareceu em campanha ou feito prisioneiro e não foi
encontrado até dois anos após o término da guerra.
Nestas hipóteses, não havendo corpo, recorre-se aos meios indiretos de
comprovação; a declaração de morte presumida é concedida judicialmente,
independentemente de declaração de ausência. Entretanto, só pode ser
requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
sentença fixar a data provável do falecimento. Estabelece o art. 88 da Lei
de Registros Públicos (Lei n° 6.015/73): “Poderão os juízes togados admitir
justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágios,
incêndio, terremoto ou outra qualquer catástrofe, quando estiver provada a
sua presença no local do desastre e não for possível encontrar o
cadáver para exame” (justificação judicial da morte).
Podemos dar como exemplo, as últimas tragédias aéreas ocorridas no
Brasil. Se um avião cai ou explode de forma que não haja possibilidade de
sobreviventes, ainda que não se encontre os corpos de todos os passageiros,
têm-se a certeza de que houve a morte de todos. Basta provar que aquela
pessoa desaparecida realmente estava no avião que se acidentou. E a Justiça
vem aplicando os arts. 7° do CC e 88 da LRP em conjunto, para declarar a
morte presumida sem a decretação de ausência. Tal declaração substitui
judicialmente o atestado de óbito. Com isso não se passa por aquelas longas
fases já mencionadas acerca da declaração de ausência com declaração de
ausência. Com esta declaração pode-se abrir a sucessão da mesma forma que
seria feito se houvesse morte real (por isso alguns autores ao invés de
COMORIÊNCIA
Comoriência é o instituto pelo qual se considera (presume-se) que duas
ou mais pessoas morreram simultaneamente, sempre que não se puder
averiguar qual delas pré-morreu, ou seja, quem morreu primeiro. Isso tem
especial interesse no Direito das Sucessões, uma vez que quando uma pessoa
morre, seus bens são imediatamente transmitidos aos herdeiros. Segundo o Art.
8°, CC: “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-
se-ão simultaneamente mortos”. Ex.: um avião caiu e todos os passageiros
faleceram no acidente; nesse caso vamos presumir que todos eles morreram no
mesmo momento. Comoriência também é chamada de morte simultânea.
Trata-se de uma presunção relativa (juris tantum), ou seja, que
admite prova em contrário, pois pode ser afastada quando existirem provas
para atestar que a morte de uma das pessoas antecedeu à outra (ex.:
testemunhas que presenciaram o acidente, laudos e perícias médicas, etc.).
Observem: enquanto os arts. 6° e 7° estabelecem uma presunção acerca do
”evento morte”, o art. 8° estabelece uma presunção sobre o “momento da
morte”.
Aplica-se o instituto da morte simultânea sempre que houver uma
relação de sucessão hereditária entre os mortos. Se não houver esta
relação também não haverá qualquer interesse jurídico na questão. A
consequência prática da comoriência é que se os comorientes forem
herdeiros uns dos outros, não haverá transferência de bens e direitos
entre eles; um não sucederá o outro. Abrem-se cadeias sucessórias distintas e
autônomas.
CAPACIDADE CIVIL
CAPACIDADE DE FATO
Capacidade é a regra; incapacidade é a exceção. Ou seja, toda
pessoa tem a capacidade de direito (basta estar vivo). E há uma presunção
(relativa) da capacidade de fato. Como a incapacidade é a exceção, ela deve
ser comprovada e não restringe a personalidade ou a capacidade de direito;
ela apenas limita o exercício pessoal e direto dos direitos. A incapacidade
não se presume. Sendo uma ressalva ao exercício dos atos da vida civil, deve
ser interpretada restritivamente, sendo admitida apenas quando a lei
expressa e taxativamente prevê a situação (matéria de ordem pública).
ATENÇÃO IMPORTANTÍSSIMO
Até 2015 nosso Código estabelecia em seu art. 3°: São
absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I. os
menores de dezesseis anos; II. os que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III. os que,
mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Ocorre que no início de 2016 entrou em vigor a Lei n° 13.146/2015,
que instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que alterou diversos
dispositivos do Código Civil. Portanto, atualmente a redação do art. 3°, CC é a
seguinte: São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos
da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
O art. 2° da Lei n° 13.146/15 estabelece que “considera-se pessoa
com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou
mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas”.
Já o art. 6° da Lei n° 13.146/2015 deixou claro que a deficiência
não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: a) casar-se
e constituir união estável; b) exercer direitos sexuais e
reprodutivos; c) exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter
acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento
familiar; d) conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização
compulsória; e) exercer o direito à família e à convivência familiar e
comunitária; e f) exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção,
como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas.
Assim, reforçando, atualmente só há uma causa de incapacidade
total, qual seja, o menor de 16 anos. Com a nova lei todas as demais
pessoas apontadas no dispositivo revogado passam a ser (ao menos em tese)
plenamente capazes para o Direito Civil, permitindo sua inclusão social, em
prol da dignidade.
Parte-se da premissa que a deficiência não é, em princípio,
causadora de limitações à capacidade civil. Mas isso não implica que o
portador de “deficiência mental severa” não possa ter sua capacidade limitada
para a prática de determinados atos (como veremos mais adiante na análise do
O pródigo pode se casar? Sim, ele pode se casar validamente sem que
haja autorização de seu curador, pois a restrição do pródigo é quanto a seu
patrimônio e não quanto a atos pessoais. Caso contrário haveria uma
indevida ingerência do curador em questões meramente pessoais e afetivas do
pródigo. Também não se impõe ao pródigo o regime da separação total de bens,
pois ele não consta no rol do art. 1.641, CC, que traz de forma taxativa
(numerus clausus) as hipóteses legais. No entanto a doutrina majoritária
entende que caso se deseje adotar qualquer outro regime de bens que não seja
o da separação de bens o curador deverá ser chamado a se manifestar, pois
nesse caso o casamento irar gerar efeitos patrimoniais.
Atenção Indígenas
O atual Código Civil afirma que a capacidade dos indígenas será
regulada por meio de lei especial (art. 4°, parágrafo único, CC). Portanto, o
atual Código não enquadrou genericamente o indígena como absoluta ou
relativamente incapaz... ele será regido por lei especial, que geralmente não
está no edital. A Lei n° 6.001/73 (Estatuto do Índio) coloca o índio e sua
comunidade, enquanto não integrado à comunhão nacional, sob o regime
TUTELA E CURATELA
A tutela é um instituto de caráter assistencial que tem por finalidade
substituir o poder familiar. Protege o menor (impúbere ou púbere) não
emancipado e seus bens, se seus pais falecerem ou forem suspensos ou
destituídos do poder familiar, dando-lhes representação ou assistência no plano
jurídico. Pode ser oriunda de provimento voluntário, de forma testamentária, ou
em decorrência da lei. Observem que o tutor pode representar o incapaz (se
este for menor de 16 anos) ou assisti-lo (se ele for maior de 16, porém menor
de 18 anos). O tutor pode realizar quase todos os atos em nome do menor (não
poderá emancipá-lo, pois isso depende de sentença judicial). Observem que
poder familiar e tutela são institutos que se excluem. Somente se o menor não
tiver pais é que será nomeado o tutor.
Já a curatela é um encargo público (também chamado de munus)
previsto em lei e que é dado para pessoas maiores, mas que não estão em
condições de realizar os atos da vida civil pessoalmente, geralmente em razão
da impossibilidade de poder exprimir sua vontade ou da prodigalidade. O
curador além de administrar os bens do incapaz, deve, também, reger e
defender a pessoa. Decorre de nomeação pelo Juiz em decisão prolatada em
um processo especial. Segundo o art. 1.767, CC (redação dada pela Lei n°
13.146/2015), estão sujeitos a curatela: a) aqueles que, por causa
transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; b) os ébrios
habituais e os viciados em tóxico; c) os pródigos.
Segundo o art. 1.634, V, CC, compete aos pais, quanto à pessoa dos
filhos menores representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e
assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento. Segundo o art. 1.747, I, CC, compete ao tutor representar o
Resumindo
Tutela: amparo a menores órfãos ou com pais suspensos ou
destituídos do poder familiar.
Curatela: amparo a maiores sem condições de praticar atos da
vida civil (relativamente incapazes).
C) CAPACIDADE PLENA
Cessa a incapacidade ao desaparecerem as causas que a
determinaram. Assim, se uma pessoa é alcoólatra (ébrio habitual) ou viciado
em tóxico, ou, se por uma causa transitória ela não puder exprimir sua vontade
(art. 4°, II e III, CC: relativamente incapaz) e se essa causa desaparecer,
cessará a incapacidade, voltando ela a ter capacidade plena. Em relação à
menoridade, a incapacidade cessa no exato dia em que a pessoa completa
18 anos (art. 5°, caput, CC). Neste momento o indivíduo passará a gerir
sozinho todos os atos da sua vida civil, bem como, poderá ser responsabilizado
civilmente pelos danos causados a terceiros. Finalmente o menor também pode
adquirir a capacidade civil plena pela emancipação, que veremos a seguir.
EMANCIPAÇÃO
Atenção
01) Em casos raros a emancipação pode ser anulada (ex.: foi baseada em
documentos falsos, houve coação). Nestes casos, lembrem-se que anular
(cancelar ato inválido) é diferente de revogar (cancelar um ato válido).
02) Emancipar não significa “tornar-se maior”; a emancipação não é causa
de maioridade. Na realidade ela é causa de cessação de incapacidade ou de
antecipação da capacidade de fato (ou de exercício). Por isso é que se justifica o
fato de um menor emancipado poder vender sua casa (tem capacidade para
tanto) e não poder tirar carteira de habilitação (o art. 140, I, do Código de
Trânsito Brasileiro exige que para a condução de veículos automotores o
motorista seja penalmente imputável). O menor, embora emancipado,
continua sendo menor, principalmente para fins penais, permanecendo como
inimputável. Observem que o CTN faz referência ao Direito Penal
(imputabilidade) e não ao Direito Civil (capacidade). Portanto a emancipação
não antecipa a imputabilidade penal (que só ocorre aos 18 anos).
Concluindo: a plena capacidade jurídica não é condição suficiente para que a
pessoa natural esteja legalmente habilitada para determinados atos da vida
civil. Observação: embora menor, a pessoa civilmente emancipada pode ser
presa por inadimplemento de pensão alimentícia (que é uma “prisão civil”).
03) Reforçando: menoridade e incapacidade são conceitos
diferentes. Menoridade é o status da pessoa natural que não conta 18 anos de
vida. Portanto, ser maior ou menor decorre da idade. Já incapacidade é a
Observações Importantes
Como este tipo de emancipação é um ato próprio dos pais, desnecessária
a aquiescência do menor para o ato. Também não é necessário que o
Ministério Público seja ouvido e nem que haja homologação judicial.
A escritura de emancipação deve ser registrada no Cartório de Registro
Civil das Pessoas Naturais (art. 9°, II, CC), sob pena de ineficácia perante
terceiros.
O fato dos genitores serem divorciados e de apenas um deter a guarda
judicial do filho não dispensa a autorização do outro para a emancipação,
pois este ainda mantém o poder familiar sobre o filho, sendo necessário o
ato conjunto.
A doutrina e a jurisprudência apontam no sentido de que, para evitar
situações de injustiça, a emancipação voluntária (parental) não exclui a
responsabilidade civil dos pais por ilícito cometido pelo menor emancipado
até que ele complete dezoito anos. Enunciado 41 da I Jornada de Direito
Civil do CJF: “A única hipótese em que poderá haver responsabilidade
solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado
nos termos do art. 5°, parágrafo único, inciso I, do novo Código Civil”.
Reforço que a emancipação não autoriza que o menor de 18 anos possa
dirigir ou frequentar lugares para maiores de 18 anos.
Observações
O divórcio, a viuvez e mesmo a anulação do casamento não implicam no
retorno à incapacidade. O casamento nulo pode fazer com que se retorne
à situação de incapaz. Mas ainda assim, se o casamento for contraído de
boa-fé o ato produzirá efeitos de um casamento válido e a pessoa
continuará emancipada para os efeitos civis.
Somente em casos excepcionais admite-se o casamento de quem ainda não
alcançou a idade núbil (16 anos). Ex.: gravidez (art. 1.520, CC). Digamos
que uma jovem de 15 anos engravidou de seu namorado que tem 23 anos
e uma situação financeira confortável. Eles querem se casar. Mas a jovem
ainda não tem a idade núbil. Neste caso exige-se uma sentença judicial de
suprimento de idade.
A união estável (convivência pública, contínua e duradoura entre homem
e mulher e estabelecida com o objetivo de constituição de família), apesar
de ser reconhecida pela Constituição Federal como entidade familiar e
merecer proteção do Estado e ser equiparada ao casamento em diversos
diplomas legais, não é hipótese de emancipação legal.
INCAPACIDADE
REGISTRO e AVERBAÇÃO
O último tópico desta aula diz respeito ao registro. Ele é o meio
técnico de prova legal do estado da pessoa (registro das pessoas) ou da
situação dos bens (registro imobiliário). O registro civil é a instituição que tem
por objetivo imediato a publicidade dos fatos de interesse das pessoas e da
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DIREITO CIVIL = ANALISTA JUDICIÁRIO (Área Judiciária) = TRE/SP
AULA 01: PESSOAS NATURAIS
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sociedade. Sua função é dar autenticidade, segurança e eficácia aos fatos
jurídicos de maior relevância para a vida e aos sujeitos de direito. Serve para
preservar eventual direito de terceiros; para que estes saibam com quem estão
se relacionando (se a pessoa é solteira ou casada; se está submetida à curatela,
etc.). Na realidade, o registro das pessoas naturais é um resumo de toda
nossa vida, espelhando os fatos jurídicos relativos à vida em sua dinâmica.
Segundo o art. 9°, CC devem ser registrados no Registro Público:
• Nascimentos, casamentos e óbitos.
• Emancipação por outorga dos pais ou por sentença do Juiz.
• Interdição por incapacidade absoluta ou relativa.
• Sentença declaratória de ausência e de morte presumida.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
Exercícios Comentados
Fundação Carlos Chagas
01) (FCC – MPE/CE – Técnico Ministerial – 2013) Para o Código Civil
brasileiro, a personalidade civil
(A) é extensível aos animais.
(B) extingue-se quando a pessoa, mesmo que por causa transitória, não puder
exprimir sua vontade.
(C) inicia-se com o nascimento com vida.
(D) é atributo exclusivo das pessoas físicas.
(E) abrange, para todos os efeitos, o nascituro.