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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Psicologia
Laura Petrenko Dória
Professora: Patrícia Castro
Trabalho sobre o documentário “Josué de Castro – Cidadão do mundo”

A partir do documentário foi possível uma série de reflexões que destacam os pontos que
mais se destacaram positivamente de tal produção. Primeiramente, é fundamental
perceber e pensar como a ação política pode ser desempenhada na revivescência de uma
figura e de uma personalidade de tamanha importância para a história do Brasil.
Conforme Marielle, a potência das camadas vulnerabilizadas, pois são fruto de uma
violência seletiva, é o futuro de uma possibilidade de mudança. Posto isso, pensar o
trabalho de Josué de Castro não é somente entender a história do país, mas o engajamento
em um projeto de país que se articula produz efeitos que ressoam em toda a sociedade,
como foram as obras desse autor e sua proposta de pensar as mazelas emergentes no Brasil
e no mundo. Além disso, outro ponto de destaque foi perceber que o Josué não podia ser
retratado como indivíduo isolado e acabado. Ele estava inserido em uma dinâmica e
constantemente produzindo-se diferentemente. Isto é, uma pessoa não se limita a sua
finitude, mas às diferentes relações que pode tecer a partir dos diferentes momentos e
situações em que se encontra. Como advoga Guareshi, o indivíduo deve ser concebido,
dentro da psicologia social comunitária, como relação.
Ademais, o documentário proporciona também levantar, a partir da história de Josué, a
questão da história e da identidade brasileira. Essa problemática se recoloca em vários
momentos a depender dos cenários notados na hodiernidade, ilustrando a importância e a
permanência dessa ferida aberta nas diversas lutas travadas pela população. As obras
desse autor não somente encarnam tal problemática como demanda de todo povo que se
defronte com tais questionamentos. Outrossim, há em seus trabalhos mais do que simples
irrupções de conflitos, mas proposições de soluções e metodologias que traçam caminhos
e linhas de fuga para pensar a ação e a mobilização em prol de enfrentar o que aflige o
povo com urgência. Isso evidencia-se na possibilidade de mapear a fome e pensar ela e a
miséria e no âmbito ecológico e nutricional, ou seja, como uma necessidade imediata do
desenvolvimento de uma política alimentar para o povo.
É essencial destacar também que existe um cuidado em pensar o conhecimento a partir
de sua relevância social, como quando ele volta sua atenção para a denúncia da fome e a
busca pela paz. Entretanto, esses temas não são tratados de maneira inócua, pois, mais do
que sua relevância, pensa , também, a realidade concreta que impera na vida da
população. O conhecimento produzido possui substância e densidade. Isso é destacado na
medida em que em sua trajetória profissional a vida e a condição de vida dos operários
de Recife, por exemplo, foi o foco de seus estudos. Não foram conhecimentos abstratos
extraídos das cátedras de universidades internacionais que o levaram a entender a fome,
mas no contato com ela de maneira palpável em sua concretude. Por conseguinte, como
se orienta também a psicologia social comunitária, o conhecimento não pode estar
descolado das demandas reais da sociedade. E é nesse sentido que a fome deixa de ser um
problema essencialmente do homem, mas de uma coletividade que funciona de forma
orgânica, como organismo vivo, como comunidade constituída de relações é vínculos
afetivos. A exemplificar, como relatado no documentário, “tecnicamente a Terra não
morrerá de fome, a fome ê um problema político". Posto isso, é inevitável considerar nas
obras de Josué a denúncia das formas de opressão que perpassam a sociedade, seja a
guerra seja a própria fome. Afinal, não é por acaso que tais mazelas acometam conjuntos
específicos, que compõe a maioria, da sociedade. Com a obra A geografia da fome, é
possível entender que esta não é um fenômeno simplesmente dado, ela é produzida. Desse
modo, é imprescindível evocar outros fatores que aviltam a população, como a questão
da terra e latifúndios que são historicamente distribuídos desigualmente, acumulando
riquezas em uma pequena parte da população, o que acarreta em renda concentrada e
generalização da pobreza. Logo, destaca-se as violências estruturais e funcionais que
fazem da fome não só um problema econômico, mas inevitavelmente e fundamentalmente
social. É preciso, então, pensar que uma instância soberana como um governo mundial
que colocaria limites na soberania das nações pode ser um problema, visto que existe uma
luta de forças desproporcional que deixaria muitos países desamparados e à mercê das
decisões de nações que apresentam maior articulação política, força bélica e poder
econômico em prol de interesses próprios que essencialmente os subjugam.

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