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Da Universidade para a

Comunidade: perspectivas em
psicologia social e comunitária
Volume I
Prof. Ms. Gil Barreto Ribeiro (PUC Goiás)
Diretor Editorial
Presidente do Conselho Editorial

Dr. Cristiano S. Araujo


Assessor

Engenheira Larissa Rodrigues Ribeiro Pereira


Diretora Administrativa
Presidente da Editora

CONSELHO EDITORIAL
Profa. Dra. Solange Martins Oliveira Magalhães (UFG)
Profa. Dra. Rosane Castilho (UEG)
Profa. Dra. Helenides Mendonça (PUC Goiás)
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Prof. Dr. João Batista Cardoso (UFG - Catalão)
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Prof. Dr. Nivaldo dos Santos (PUC Goiás)
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Profa. Dra. Telma do Nascimento Durães (UFG)
Profa. Dra. Terezinha Camargo Magalhães (UNEB)
Profa. Dra. Christiane de Holanda Camilo (UNITINS/UFG)
Profa. Dra. Elisangela Aparecida Pereira de Melo (UFT)
Jackeliny Dias da Silva
Organizadora

Da Universidade para a
Comunidade: perspectivas em
psicologia social e comunitária
Volume I

1ª edição

Goiânia - Goiás
Editora Espaço Acadêmico
- 2019 -
Copyright © 2019 by Jackeliny Dias da Silva

Editora Espaço Acadêmico


Endereço: Rua do Saveiro, Quadra 15 Lote 22, Casa 2
Jardim Atlântico - CEP: 74.343-510 - Goiânia/Goiás
CNPJ: 24.730.953/0001-73
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Contatos:
Prof. Gil Barreto - (62) 98345-2156 / (62) 3946-1080
Larissa Pereira - (62) 98230-1212

Editoração: Franco Jr.

CIP - Brasil - Catalogação na Fonte

U58 Da universidade para a comunidade : perspectivas em psicologia so-


cial e comunitária [livro eletrônico] / Organizadora Jackeliny Dias
da Silva. – 1. ed. – Goiânia : Editora Espaço Acadêmico, 2019.
1 v. ; PDF.

Inclui referências bibliográficas


ISBN: 978-65-80274-30-7

1. Psicologia social. I. Silva, Jackeliny Dias da (org.).


CDU 316.6

O conteúdo da obra e sua revisão são de total responsabilidade dos autores.

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por qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito dos autores.
A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido
pelo artigo 184 do Código Penal.

Impresso no Brasil | Printed in Brazil


2019
“Ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção.”

Paulo Freire
PRÓLOGO

O mundo mudou, e se quisermos fazer uma psicologia que


abarque a realidade das pessoas, precisamos primeiramente
modificar a nossa forma de levá-la até elas. E foi nesta perspec-
tiva, que inicie minha atuação em psicologia, no início não sabia,
mas estava me preparando para docência por meio dos inúme-
ros treinamentos e cursos que realizava.
Neste tempo fui responsável por implantar e conduzir pro-
cessos de desenvolvimento de pessoas em um incorporadora, e
foi neste lugar, rodeada por pessoas maravilhosas, que percebi o
quanto era bom trabalhar com gente, auxiliar as pessoas a com-
preenderem melhor sobre si mesmas, sobre os processos sociais
que as rodeiam, sobre a importância do trabalho em equipe e
dos relacionamentos interpessoais.
Estava adentrando um novo universo, que não havia ex-
perienciado durante a graduação, mas que nos envolve desde o
nosso nascimento, a minha querida psicologia social.

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Foi a partir de então, que comecei minha jornada em busca
da minha identidade profissional, do meu sentido neste mundo.
E foi neste caminho de busca, que anos depois, comecei o meu
propósito, este que mudou a minha vida e que levarei para sem-
pre dentro da minha alma – utilizar o meu trabalho para trans-
formar e inspirar vidas.
Eu me descobri na docência o espaço no qual encontrei o
verdadeiro sentido da minha profissão, e que me fez apaixonar.
Me transformei em educadora, ensinando, aprendendo e aman-
do o que fazia, junto aos meus queridos alunos, a termos um
olhar humano para a psicologia, por meio do social.
E foi nesta caminhada, que pude perceber que se não
modificarmos nós mesmos, a nossa realidade, ninguém mais a
modificará. E com estas perspectivas, comecei a aplicar este pen-
samento em minhas aulas, descobrindo e cultivando um novo/
velho modelo de ensino, baseado na afetividade e na constante
busca pelo envolvimento dos meus alunos com o que estavam
aprendendo.
Hoje posso dizer que aprendi mais do que ensinei, e esta
é a recompensa de ter vivenciado momentos incríveis com alu-
nos tão maravilhosos, que me fizeram ver que é possível ensinar
e aprender com prazer, lição esta que carregarei para toda vida.
Ao fim, pude ver florescer a sementinha que havia planta-
do, e que eles também plantaram em meu coração: de que a mu-
dança começa em nós mesmos, e se quisermos fazer do mundo
um lugar melhor, somos nós que temos que mudá-lo, através de
nossas próprias ações e intervenções.
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

E foi neste espírito de transformação social, de mudança


de olhar, de mudança de lugar e de perspectiva, de tentar enxer-
gar o antigo por meio de novas lentes e novos olhares, que decidi
organizar um livro, fruto de experiências partilhadas com alguns
dos incríveis alunos que tive.
Alguns trabalhos aqui encontrados, são frutos de experiên-
cias vinculadas a disciplinas que eu ministrava, e também de in-
vestigações teóricas que nos aventuramos a fazer.
Acredito, que quando entrelaçamos conhecimentos, e aju-
damos a despertar o potencial do outro, podemos desenvolver
trabalhos fantásticos. Como educadores, não podemos achar
que somos os donos do conhecimento, afinal somos meramente
facilitadores, que estão de passagem naquele tempo, e naquele
espaço.
A sala de aula é um espaço privilegiado, e quando acredi-
tamos no potencial de cada aluno, enxergamos muito além, e
juntos nessa relação de reciprocidade, conseguimos obter uma
visão mais ampla sobre aquilo que estudamos, nos permitin-
do assim a oportunidade de pensar, elaborar e decidir coleti-
vamente.
Portanto, tornamo-nos, cada dia mais protagonistas em
nosso próprio caminho, e auxiliamos o outro em seu empodera-
mento pessoal.
Este livro, tem o intuito de trazer à tona experiências incrí-
veis vivenciadas pelos autores, assim como trabalhos duros de
investigações qualitativas. Compostas por ex-alunos, e alguns
agora colegas de profissão, que sempre me procuraram para

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

desenvolvermos algo em prol da ciência psicológica, mesmo de-


pois que não mais me encontrava na instituição a qual nos co-
nhecemos.
Sei que para muitos dos autores, esta pode ser uma das
primeiras publicações científicas, de muitas que virão. E podem
sentir-se orgulhosos disso! O caminho pode até ser longo, mas
jamais duvidem do seu potencial, e quando o desanimo bater,
lembrem sempre dessas palavras: vocês são capazes de ser e fa-
zer! não deixem que ninguém diga o contrário.
Esta fala serve também para todos alunos que tive o pri-
vilégio de ser professora e/ou orientadora durante a minha jor-
nada como docente, e que não estão nesta coletânea, mas que
caso queiram seguir o mesmo caminho, dos que aqui estão, es-
tarei sempre disponível para ajudá-los.
A todos os leitores, desejo uma jornada de conhecimen-
to, e quem sabe de novas aplicações do que aqui está publi-
cado. Sempre com ética e respeito ao ser humano, se assim o
fizerem sinta-se, pertencente a este espaço a este universo: de
uma psicologia humana e que obtém um olhar para o outro, e
com o outro.
Para todos leitores, espero que façam uma jornada praze-
rosa por estas páginas, e que na prática, em nosso cotidiano pos-
samos fazer da psicologia, uma profissão mais solidária e menos
solitária (Matraga).
Um grande abraço,

Jackeliny Dias

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SUMÁRIO

Capítulo 1
OFICINA PSICOSSOCIAL COMO INSTRUMENTO
PARA MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA DE
IDOSOS.................................................................... 12
João Manoel Borges de Oliveira
Jackeliny Dias da Silva

Capítulo 2
PSICOLOGIA JURÍDICA: UMA ANÁLISE DA
IDENTIDADE PROFISSIONAL, BEM-ESTAR E
RISCOS DA PROFISSÃO POLICIAL.............................. 48
Guilherme Luiz da Rocha
Ana Paula Martins
Jackeliny Dias da Silva

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Capítulo 3
REPRESENTATIVIDADE SOCIAL E PSICOLOGIA:
UM ENSAIO TEÓRICO............................................... 69
Edviges Guimarães de Oliveira
Lais Marques de Brito
Pablo Netto Costa
Jackeliny Dias da Silva

Capítulo 4
PSICOEDUCAÇÃO E EMPODERAMENTO
FEMININO............................................................... 87
Virgínia Beraldo Rodrigues
Maria Eduarda José de Oliveira
Fernanda Maria Nunes
Jackeliny Dias da Silva

AUTORES................................................................. 96

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Capítulo 1
OFICINA PSICOSSOCIAL COMO
INSTRUMENTO PARA MELHORIA DA
QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS

João Manoel Borges de Oliveira


Jackeliny Dias da Silva

INTRODUÇÃO

A palavra “idoso” é um adjetivo que de acordo com o No-


vo Dicionário da Língua Portuguesa tem por significado “que
tem bastante idade; velho”. Já diante da palavra “velhice” en-
contramos: “1. Estado ou condição de velho. 2. Idade avançada.
3. Antiguidade, vetustez. 4. As pessoas velhas. 5. Rabugice ou
disparate próprio de velho.” Interessante notar a palavra “rabugi-

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ce” ser exposta como um sinônimo da velhice. A referida palavra


denota: “1. Qualidade ou modos de rabugento; impertinência,
rabugem. 2. Mau-humor permanente de pessoa rabugenta, ran-
zinza.” Apesar de tal descrição, o processo de envelhecimento
vai muito além de tais definições.
Observa-se que a população idosa tem crescido vertigino-
samente com o passar das décadas. Dados da Organização Mun-
dial de Saúde (ONU) mostram esse aumento e evidenciam que a
expectativa de vida aumentou (BARROS; GOMES JUNIOR, 2015).
De 1950 até 2000 a população com 60 anos ou mais cresceu três
vezes e, até a metade do século atual aumentará mais três vezes.
A expectativa média de vida de um bebê nascido em 1900 era
de 47-55 anos, atualmente, cerca de 70% da população ociden-
tal viverá mais de 65 anos e 30-40%, ultrapassarão seus 80 anos
(STUART-HAMILTON, 2002).
Historicamente, a velhice possui nuances que divergem de
acordo com o momento em que a sociedade se encontra. Estu-
dos sociológicos e históricos apresentam a velhice, entre o sé-
culo XVIII e XIX, como um estágio de sabedoria, de reserva das
lendas, costumes e valores locais, ocupando um lugar de prestí-
gio nos conselhos comunitários das sociedades ocidentais (HILL-
MAN, 2001).
Com as transformações sociais ocorridas entre esse per-
curso histórico, os governos priorizaram como bem maior a qua-
lidade da população. Essa mudança gerou maior investimento
nas condições biológicas e sanitárias objetivando o aumento de
riquezas materiais (LIMA, 2009).

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Nota-se que por volta da segunda metade do século XIX


a velhice era tratada como um momento de decadência e au-
sência de papeis sociais. Por estar delimitado aos estudos fisio-
lógicos, o envelhecimento estava associado à deterioração do
corpo, apenas recentemente tem se destacado outros aspectos
e a visão sobre este momento da vida passou a ser objeto de re-
flexão e estudo de outras áreas (UCHÔA; LIMA-COSTA, 2002).
Antecedentes ao século XIX não se preocupavam em categori-
zar fases da vida, mas durante a época moderna surgem as de-
limitações não só etárias, mas funcionais e sociais relacionadas
a cada grupo. Ou seja, inicia-se uma segmentação dos estágios
bem como suas transições e separações formais de cada catego-
ria (SILVA, 2008).
A ascendência dos estudos sobre desenvolvimento huma-
no focado em crianças e adolescentes no século XIX traz para a
velhice características de decrepitude e decadência. Com a qua-
lidade de vida atrelada à juventude, os idosos são marginaliza-
dos e representados como aqueles que já viveram, realizaram
seus planos de vida e o único destino esperado é a morte. Nesse
contexto histórico a modernidade trouxe consigo acréscimos de
anos à vida, mas diminuiu o valor dos idosos em várias socieda-
des (LIMA, 2009).
Em meados do século XX tornou-se mais visível o desen-
volvimento de pesquisas e estudos envolvendo a velhice. As
mudanças na sociedade oriundas do final da Segunda Guerra
Mundial geraram o declínio da população masculina em ida-
de reprodutiva e redução das taxas de natalidade provocando

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aumento da longevidade. Mesmo com os idosos sendo alvo da


preocupação do governo e da sociedade no que se refere à saú-
de e condições de vida, não houve espaço social ativo para esta
população construir uma práxis que a identificasse enquan-
to sujeitos participantes (LIMA, 2009). Só a partir da segunda
metade do século XX o envelhecimento torna-se tema de in-
teresse passando a ser considerado etapa do desenvolvimen-
to humano com peculiaridades próprias, marcada por perdas
e ganhos (CURADO; CAMPOS; DECNOP, 2007, LIMA; COELHO;
GÜNTHER, 2011).
Ainda que o aumento da população idosa ocorrido no
século XX até os dias atuais seja um fenômeno conspícuo, os
olhos da sociedade ocidental continuam cerrados para o velho.
O combate à velhice por meio da biomedicalização no século
XXI reforça o padrão impresso por uma sociedade que rejeita
e segrega os que não se adequam à sua normatização. Desse
modo, as marcas e rugas gravadas pelo tempo nos corpos ido-
sos são interpretadas como sinônimos de vergonha e fraque-
za e não como evidências de sabedoria e experiência de vida
(LIMA, 2009).
A velhice hoje é retratada como uma fase específica da vida
e, por mais que a idade cronológica seja um critério socialmen-
te utilizado para designar a entrada de um sujeito na senilida-
de, há transformações tanto em nível orgânico, quanto em nível
psicossocial (COCENTINO, 2013). Condições adequadas de edu-
cação, urbanização, habitação, saúde e trabalho influenciam o
envelhecimento de forma positiva intervindo na saúde, eficácia

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cognitiva, relações afetivas e sociais (CURADO; CAMPOS; DEC-


NOP, 2007). Destarte, tanto a genética e o ambiente, quanto os
comportamentos adotados ao longo da vida, sugestionam o cur-
so do envelhecimento (NERI, 2013).
Um dos fatores primaciais que exercem influência na qua-
lidade de vida na velhice é a relação estabelecida entre o ido-
so e sua família. Os vínculos construídos no meio familiar são
fortemente fixados e difíceis de desapegar. Mesmo havendo de-
sagregação desse núcleo de construção histórica, os laços per-
manecem enraizados por memórias sobrepujando o sentimento
individual. Independente da localidade geográfica, estado civil,
profissão ou posição social, o elo que ata um sujeito à sua família
é irreversível (BOSSI, 1994)
A família constitui-se como espaço de destaque na cria-
ção de uma estrutura que estimula novos caminhos para o idoso
e assegura efetivas possibilidades àqueles que decidem ou são
compelidos a deixar o serviço ativo. Mas o desafio frente ao en-
velhecimento de um ente pode ser construído de diversas ma-
neiras, benéficas ou não. Os idosos e familiares imersos em um
ambiente sadio e harmonioso entendem seus lugares e papeis
nesse processo, respeitando as funções, posições e diferenças de
cada um. Em espaços de desarmonia e falta de respeito, a família
como um todo retrocede tornando o idoso isolado socialmente e
com medo de ser punido por erros eventuais. Já o zelo em dema-
sia produz um idoso dependente e uma família sobrecarregada
que desconsidera a autonomia ao executar tarefas que ele mes-
mo poderia realizar (MENDES et al., 2005).

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Desse modo, cada família assume o envelhecimento de


forma diferente, considerando sua própria estrutura, dinâmi-
ca, valores e peculiaridades. Esse processo pode apresentar-se
tanto em aspectos de satisfação como de pesadelo. Por vezes a
família enfrenta dificuldades em aceitar e entender o envelheci-
mento de um ente ocasionando empecilhos no relacionamento
familiar. Ainda assim é fundamental compreender que a família
exerce relevância essencial no fortalecimento das relações sen-
do ela um elemento chave para um envelhecimento satisfatório
(MENDES et al., 2005). O modo de relacionamento interfamiliar
é um dos pontos que podem elevar a qualidade de vida do ido-
so. Porém outros fatores também associam-se ao bem-estar na
senilidade.
A qualidade de vida possui várias interpretações, tanto po-
pulares quanto literárias e científicas. De fato, esse conceito é
diretamente relacionado à escolaridade, sexo, idade, condição
econômica e presença de incapacidades (PEREIRA et al., 2006).
Uma das definições parte das pesquisas elaboradas pe-
lo grupo de estudiosos em qualidade de vida da Organização
Mundial de Saúde (OMS), The World Health Organization Qua-
lity of Life Group (WHOQOL-Group), que sugere uma delimita-
ção multidimensional e subjetiva incluindo elementos positivos
e negativos. Para o grupo: “qualidade de vida é a percepção do
indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e siste-
mas de valores nos quais vive, e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações” (The WHOQOL Group,
1995, p. 1405).

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Tal conceito engloba a saúde física, estado psicológico, ní-


vel de independência, as relações sociais, as crenças pessoais e
a relação com as características do meio ambiente (PEREIRA et
al., 2006). Se tratando especificamente da velhice, ao se anali-
sar qualidade de vida nesse grupo social, é importante conside-
rar a autonomia para realizar o que se deseja, a auto realização
por meio de objetivos conquistados, e atividades que propor-
cionem prazer.
Além disso, o aumento da expectativa de vida, a ausência
de responsabilidade em formar uma família, aposentadoria e a
independência física tornam-se notáveis colaboradores para que
o idoso usufrua de uma qualidade de vida (LIMA, 2009).
Ante o exposto, a avaliação das condições de vida do ido-
so possui grande importância, pois permite a investigação dos
fenômenos benéficos e maléficos no envelhecimento. Sabe-se
que para além das possibilidades de alcance de uma qualidade
de vida satisfatória, o idoso precisa enfrentar uma sucessão de
perdas de capacidades o que o confronta com sua atualidade psi-
cossocial de ser idoso (MENEZES; LOPES, 2013). A velhice pode
traduzir-se a eles como sinal negativo e presença constante de
pensamentos de incapacidade e morte.
A relação entre velhice e morte passa a ser associada quan-
do entende-se que esta fase da vida é a que mais se aproxima da
morte. Assim, ambas são rejeitadas em decorrência dessa apro-
ximação (SANTOS, 2010).
Ao lidar com perdas, os idosos vivenciam simbolicamente
a morte e o processo de morrer ultrapassa o contexto biológico

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e se apresenta também como construto social (MENEZES; LOPES,


2013). Logo, a morte manifesta a grande e imponente força da
natureza sobre o ser humano e revela os limites da condição hu-
mana (COCENTINO, 2013).
Em vista disso, o envelhecimento denota manifestações
múltiplas que suscitam investigações e ações ante este fenôme-
no. Atividades e programas que contemplem e promovam bem-
-estar e interação com idosos são estratégias utilizadas com o
fito de minimizar os danos e fomentar uma melhor adaptação ao
envelhecimento.
Dentre outras alternativas, as atividades em grupo são ações
que permitem aos participantes o compartilhamento de experi-
ências favorecendo o crescimento mútuo (VICTOR et al., 2007).
Em um dos modelos de grupo, o operativo tem por obje-
tivo promover a saúde e bem-estar, instigar o aprendizado em
termos de resolução de problemas e encorajar a ajuda recíproca
(VICTOR et al., 2007). Além disso, constrói-se nesse espaço uma
comunicação que se mantém ativa e criadora centrada na tarefa
que tem por finalidade aprender a pensar na resolução das difi-
culdades criadas e manifestadas o campo grupal (PICHON-REVIE-
RE, 2000).
Em uma perspectiva, os grupos operativos podem ser clas-
sificados como comunitários e são utilizados em programas vol-
tados para a promoção da saúde mental, como grupo de crianças,
gestantes e idosos, nos quais profissionais não-médicos são trei-
nados para o ofício de integração e incentivo a capacidades posi-
tivas (TEIXEIRA, 2002).

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Pelo exposto, o presente trabalho visa colaborar para uma


melhor compreensão do fenômeno do envelhecimento a partir
da instrumentalização de um grupo operativo comunitário em
um Centro de Convivência da Terceira Idade na cidade de Cata-
lão-Goiás. Objetiva apreender o significado da vida, morte e re-
lações familiares vividas pela pessoa idosa.
Trazer para o centro das discussões as questões que envol-
vem a velhice e mostrar como ela pode vir a impactar diretamen-
te a maneira como os indivíduos seguem suas vidas, podem ser
passos decisivos para que repensemos o processo de envelheci-
mento. Discutir as consequências da senilidade e suas relações
com a vida, morte e família tem reflexos diretos na implantação
de ações que envolvam esse público.
Idosos, familiares, instituições e a sociedade como um to-
do podem se beneficiar da discussão acerca da senescência e
seus impactos. Por outro lado, negar a importância das questões
inerentes à velhice pode significar maior segregação e discrimi-
nação de uma parcela social que só aumenta, comprometendo a
dignidade e direito à vida desses idosos.
Devido ao aumento da população idosa, a intervenção psi-
cossocial descrita no presente trabalho tem sua relevância, abar-
cando temas pertinentes e recorrentes a idosos promovendo
interação, reflexão e bem-estar.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

1. METODOLOGIA

A intervenção foi conduzida em um Centro de Convi-


vência da Terceira Idade na cidade em uma cidade do sudes-
te Goiano. A motivação partiu do envolvimento anterior por
parte do Facilitador como professor de Educação Física con-
tratado pela instituição e proximidade prévia com o público
frequente, além do interesse pessoal de estudo no campo do
envelhecimento.
No primeiro contato com a instituição realizou-se jun-
tamente com a Diretora do Centro o questionário para le-
vantamento de necessidades psicossociais (NEIVA, 2010).
O instrumento visa investigar questões como: dados da insti-
tuição, histórico da instituição, serviços/clientela, infraestrutura
da instituição, funcionários/profissionais, necessidades psicos-
sociais, interesse e disponibilidade institucional para o desen-
volvimento de um projeto de intervenção psicossocial. Com os
dados coletados e autorização da direção para o funcionamento
da intervenção, foi feito o contato com as associadas para dar
início ao trabalho.
O grupo formado para a intervenção foi composto por no-
ve mulheres que já são cadastradas e estão envolvidas em ou-
tras atividades no Centro. A faixa etária alternou entre 52 e 74
anos de idade. Foi garantido às idosas a participação por livre e
espontânea vontade e o direito de abandono em qualquer fase,
por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Es-
clarecido.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

O primeiro encontro realizado objetivou o conhecimento


das participantes do grupo e o levantamento de demanda a ser
trabalhada nos encontros subsequentes. Cinco mulheres esta-
vam presentes e utilizou-se a dinâmica do barbante no qual cada
idosa deveria segurar uma ponta e apresentar-se além de com-
partilhar dois momentos da vida: uma experiência ou um tempo
muito difícil vivido e um momento muito feliz.
As participantes evidenciaram como momento de alegria
na vida, o casamento, nascimento dos filhos, conquistas como o
ingresso em um universidade e períodos que viveram entre seus
entes queridos. Como acontecimentos tristes, destacaram-se, a
saída de casa dos filhos e conflitos em seus relacionamentos, as
perdas e morte dos maridos e pessoas próximas, a solidão diante
da viuvez e desafios em criar os filhos só. A viuvez e as perdas en-
frentadas por idosos tem um impacto significativo na identidade
e no sentido da própria vida, que incita o aparecimento de novas
orientações para significar a perda e acarreta novas exigências
práticas no cotidiano (SILVA; FERREIRA-ALVES, 2011). Assim, as
necessidades manifestas no primeiro encontro foram temas re-
lacionados à família, perdas e morte.
A partir dessa atividade foi possível especificar as principais
demandas e construiu-se um cronograma de intervenção eviden-
ciando um planejamento detalhado contendo data, horário, objeti-
vo de cada encontro, técnicas a serem utilizadas, materiais a serem
utilizados e tempo programado, conforme mostra o Quadro 1.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Quadro 1. Cronograma de intervenção

CRONOGRAMA DE INTERVENÇÃO – CENTRO DE CONVIVÊNCIA DA TERCEIRA IDADE


Objetivo do Encontro: Apresentação do grupo e levantamento de demanda e temas a serem tra-
balhos nos próximos encontros.
Encontro 1

Técnicas a serem utilizadas: Dinâmica do barbante seguido do compartilhamento de dois momen-


tos da vida: uma experiência ou um tempo muito difícil vivido e um momento muito feliz.

Materiais a serem utilizados: Um rolo de barbante.

Tempo programado: 1 hora


Objetivo do Encontro: Trabalhar temas relacionados à família, sua concepção e organização e
mudanças familiares ao longo da vida e Aplicação do Questionário de Qualidade de Vida – WHO-
QOL-OLD.

Técnicas a serem utilizadas: Inicialmente o Questionário de Qualidade de Vida – WHOQOL-OLD


será aplicado. Em seguida será feita a apresentação de imagens de famílias em variados momen-
tos (Casal jovem, casal com crianças, casal com os filhos adolescentes, casal com filhos adultos e
Encontro 2

netos, casal sozinho). Essa atividade permitirá o compartilhamento das participantes acerca do
próprio curso de suas famílias ao longo dos anos e as formas como elas lidaram ou pretendem
lidar com as diversas transições, transformações e acontecimentos entre o casal e os filhos. Ao
final do encontro será solicitado às participantes que levem na semana seguinte fotos de momen-
tos de sua vida com seus familiares e pessoas queridas.

Materiais a serem utilizados: Questionário de Qualidade de Vida – WHOQOL-OLD e Imagens im-


pressas

Tempo programado para Oficina: 1 hora

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Objetivo do Encontro: Refletir sobre momentos em família enaltecendo a memória de ocasiões


que trazem boas lembranças e também as inevitáveis mudanças que ocorrem ao longo dos anos.

Técnicas a serem utilizadas: Em uma caixa serão colocadas todas as fotos que as participantes le-
varam. Cada uma irá fechar os olhos e pegar uma foto aleatória e tentar descrever o que a foto-
Encontro 3

grafia relata, qual a expressão das pessoas e em qual situação foi registrada. Após esta descrição,
a participante que trouxe a foto irá contar a história por trás da imagem. A atividade permitirá
o compartilhamento e rememoração de fatos marcantes e agradáveis em família vividos pelas
participantes.

Materiais a serem utilizados: Fotografias

Tempo programado para Oficina: 1 hora


Objetivo do Encontro: Refletir sobre o ciclo da vida

Técnicas a serem utilizadas: O facilitador levará para o grupo um vaso com uma planta e irá pe-
dir para que as participantes observem-na. A partir da observação começaremos uma conversa
sobre como é a origem da planta (como ela nasce, como ela é quando é pequena e quais cuida-
dos necessita), sobre o crescimento (como se dá seu desenvolvimento, como ela fica quando está
crescendo e do que precisa nessa fase), sobre sua reprodução (geração de flores e frutos), sobre
as fases em que, por ventura, tem alguma doença ou está fraca e debilitada, e finalmente sobre
Encontro 4

sua morte. Intrínseca à conversa será feita uma comparação entre a vida da planta e a nossa. Re-
fletiremos então sobre os cuidados que demandamos em cada fase da vida, bem como o curso
natural, porém duro e sofrido, da morte. Após a conversa, cada participante receberá uma folha
de papel A4 em branco e será disponibilizado lápis de cor, canetinhas e giz de cera. Cada uma de-
verá desenhar uma árvore que representa a sua própria vida e apresentar seu desenho para as
demais. Ao final do encontro, a planta será sorteada entre as participantes.

Materiais a serem utilizados: Vaso de planta, folhas de papel A4, canetinhas, lápis de cor e giz de
cera.

Tempo programado para Oficina: 1 hora

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Objetivo do Encontro: Reflexão sobre chegadas e partidas, perdas e ganhos e sobre viver melhor
por meio da compreensão da morte.

Técnicas a serem utilizadas: Em duplas, as participantes receberão uma cartolina e será disponibi-
lizado tinta e pincéis. Inicialmente, cada dupla será orientada a pintar algo que simbolize a morte
e o luto para si. A ideia é que as duplas dialoguem entre si para pensar desenhos que retratem,
para ambas, o significado de cada tema a ser pintado. Após um tempo para que criem suas ima-
Encontro 5

gens, elas irão compartilhar com o grupo seu desenho e explicar os significados que o envolvem.
Em seguida, na outra cartolina, deverão fazer o mesmo, só que retratando o significado da vida
para si. Novamente, irão fazer sua apresentação e encerraremos com um debate conversando
sobre como viver melhor aproveitando os bons momentos com quem amamos antes que nós ou
eles venhamos a morrer.

Materiais a serem utilizados: Folhas de cartolina, tinta e pincéis.

Tempo programado para Oficina: 1 hora


Objetivo do Encontro: fechamento

Técnicas a serem utilizadas: Faremos uma retrospectiva dos encontros, os temas trabalhados, os
avanços e resultados alcançados. Será aplicado um questionário como instrumento de feedback
Encontro 6

e nova aplicação do Questionário de Qualidade de Vida – WHOQOL-OLD. Encerraremos com um


lanche especial.

Materiais a serem utilizados: Instrumento de avaliação da intervenção e Questionário de Quali-


dade de Vida – WHOQOL-OLD.

Tempo programado da Oficina: 1 hora

Org. João Manoel Borges de Oliveira (2017).

25
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

O segundo e terceiro encontro tiveram por objetivo tra-


balhar questões relacionadas à família discutindo sua concep-
ção, organização, mudanças e refletindo sobre momentos entre
os entes evocando memórias que trazem boas lembranças sem
desconsiderar as inevitáveis mudanças que ocorrem ao longo
dos anos.
Também foi aplicado o questionário WHOQOL-old nas par-
ticipantes presentes com o objetivo de levantar dados sobre a
qualidade de vida de cada uma. A dinâmica das imagens no se-
gundo encontro proporcionou um espaço de compartilhamen-
to de histórias no qual as sete participantes presentes relataram
a alegria do nascimento dos filhos, mas também a dificuldade e
sofrimento no parto. Três delas são mães de filhos com neces-
sidades especiais, duas em decorrência de problemas no parto.
Em decorrência disso, manifestaram-se vários questionamentos
e um sentimento de culpa pela condição dos filhos.
Outra participante, viúva há dois anos, relatou a perda si-
multânea dos dois filhos enquanto ainda eram crianças, vítimas
de um afogamento. Contou que após quatro anos ela e seu ma-
rido resolveram adotar outras duas crianças, hoje adultos. Esta
história demonstra que por mais que os indivíduos que sofrem
perdas tornam-se mais vulneráveis, principalmente quando não
conseguem recursos internos para superá-las (FARINASSO; LABA-
TE, 2015), existem meios que atenuam a dor e trazem novos sig-
nificados a partir da perda.
A seguir, foi perguntado para as participantes quais são os
principais desafios do momento em que os filhos crescem e elas

26
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

precisam lidar com a saída deles de casa, mudanças, dentre ou-


tros acontecimentos. Uma participante compartilhou que um de
seus filhos foi morar em outro país a trabalho e ela sofreu muito
com a distância.
Porém, ao ver seu crescimento entendeu que não poderia
exigir que o filho não fosse, que seria interromper os sonhos de-
le, e hoje, ela olha pra trás e pensa o que seria do filho se ela ti-
vesse impedido. Questionadas sobre quais são as estratégias que
podem ser utilizadas para superar a saída dos filhos de casa, elas
disseram que a felicidade e bem-estar os filhos é o mais impor-
tante e que não adianta fazer nada que o mais importante é dar
apoio aos sonhos e desejos dos filhos.
Direcionando a reflexão ao momento em que os filhos sa-
em de casa e restam somente o casal, as participantes começa-
ram a compartilhar a história das perdas de seus maridos.
Uma disse que seu marido ficou doente por 30 anos, e no
dia do aniversário de casamento dos dois ela estava em casa
preparando todas as coisas para uma festa, seu marido faleceu.
Duas relataram a perda do marido em consequência de um cân-
cer e o sofrimento ao acompanhar as dores dos maridos. Ape-
sar de compartilharem tantos momentos difíceis, elas também
salientaram que viveram muitos momentos felizes ao lado de
seus companheiros e agradecem pelos anos que tiveram ao la-
do deles.
Diante de tais depoimentos destaca-se a difícil arte de so-
breviver perante ausência de pessoas importantes com o de-
safio de recomeçar. Ainda que as perdas sejam contínuas ao

27
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

longo da vida e a saudade permaneça, restam as inesquecíveis


lembranças que ajudam a refazer o amanhã (BALDIN; FORTES,
2008).
A saudade presente é um traço característico do luto e as-
semelha-se a um testamento da memória, uma herança da lem-
brança e presença na continuidade da existência dos enlutados
(FARINASSO; LABATE, 2015).
No terceiro encontro, nove idosas participaram e levaram
consigo fotos de momentos marcantes de suas vidas. Segundo
elas, o processo de busca e escolha das fotos permitiu reviver
lembranças, e o sentimento predominante foi a saudade de um
tempo que não volta mais. Uma participante pediu permissão
para compartilhar uma poesia de sua autoria:

Título: Passou...

Pare o tempo!
Volte o tempo!
Que eu quero
Olhar com carinho
Com mais atenção
Com mais cuidado
Tudo que passou
E eu, correndo...
Não vi

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Pare
Que eu quero...

Não dá mais
Passou!
(Autora: Lu Frei)

Diante da poesia recitada, perguntou-se qual ensinamen-


to podemos extrair dela. Elas disseram que o tempo não volta, e
que é preciso aproveitar o presente, os momentos importantes e
as pessoas ao nosso lado. A seguir, as participantes foram orien-
tadas a escolher, dentre as fotos que levaram, uma para que fos-
se colocada dentro da “caixa de memórias”.
Esta atividade consistiu que uma por vez retirasse uma fo-
tografia de dentro da caixa e tentasse relatar às demais o que a
foto expressava, quem são as pessoas, qual a situação e lugar ex-
pressos na foto, e qual o sentimento ela pode descrever a partir
da imagem.
Cada participante retirou uma foto, e em todas, o con-
texto mais presente foi o familiar. Elas lembraram momentos
importantes em família e acontecimentos marcantes como via-
gens, formatura, aniversário, casamento entre outros. A questão
do casamento também esteve muito presente. As participantes
trouxeram o momento do casamento em suas vidas, como um
tempo de alegria, mas também de mudanças significativas que
foram enfrentadas (saída da casa dos pais, mudança de cidade,
entre outras).

29
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

O clima da atividade se manteve descontraído, alegre e di-


vertido com as histórias provenientes das fotos. Por mais que
os retratos apresentassem pessoas importantes para elas que já
faleceram, o que predominou foi o sorriso e a felicidade em re-
lembrar tais momentos. Após todas realizarem a atividade, foi
pedido que retirassem novamente uma mensagem de dentro da
caixa das memórias.
Cada uma retirou um cartão que dizia: “Boas lembranças
nunca morrem!”. Questionadas sobre o significado dessa frase,
as participantes ressaltaram que por mais que na vida a perda de
uma pessoa amada seja inevitável e extremamente dolorosa, as
lembranças dos bons momentos construídos com elas jamais de-
saparecerão de nossa memória e coração.
A atividade expressa a existência de uma obrigação social
designada aos idosos, que por sua vez, não recai sobre sujeitos
de outras idades, a obrigação de lembrar, e lembrar bem. Na so-
ciedade em que vivemos, em consequência do ativismo, os in-
divíduos se ocupam menos de lembrar e exercer a memória, ao
passo que aqueles que estão afastados de seus afazeres se de-
param com mais frequência com seu passado. Por meio das me-
mórias dos idosos é possível verificar uma história social bem
desenvolvida, visto que, elas já transpuseram um determinado
tipo de sociedade possibilitando um pano de fundo mais defini-
do do que a memória de uma pessoa jovem (BOSSI, 1994).
O objetivo do quarto encontro foi promover a reflexão so-
bre o ciclo da vida, sete idosas participaram da atividade. Uma
planta foi apresentada para as participantes e a partir dela, co-

30
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

meçamos a representar as fases da vida comparando com as


etapas da própria planta. Ao pensar no início da vida, as parti-
cipantes trouxeram duras memórias da infância, sobrepujando
sentimento de rejeição e ausência de afeto e proximidade dos
pais, além de apanharem muito.
Disseram que muitas vezes ainda tem sentimentos ruins e
tristeza pelo que passaram na infância e que mesmo tendo uma
vida estável hoje, a dura vida no passado pode influenciar o pre-
sente. Elas buscam não repetir o que viveram com seus filhos e
afirmaram que a criação de filhos hoje em dia é mais próxima,
mais amorosa do que no passado.
Ao passar para a adolescência e juventude, o tema que
prevaleceu foi a respeito da vida sentimental. As participantes
descreveram a grande influência dos pais na escolha do parcei-
ro e as divergências entre elas e seus pais que por vezes, esco-
lhiam homens a partir de critérios financeiros desconsiderando
suas opiniões. Além disso, a inocência diante de vivências se-
xuais e total desconhecimento em relação ao sexo também foi
discutido.
Foi feita uma comparação das folhas amareladas da plan-
ta com as doenças e dificuldades que passamos ao longo da vida
e, ao pensar na fase madura da planta, uma participante disse
que quando chega a velhice, as pessoas mais jovens se afastam
pois tem seus afazeres assim como elas tiveram suas ocupações
quando eram mais novas, e a única companhia que se tem nesse
momento é o passado. Nesse momento, ela pediu para compar-
tilhar com o grupo uma poesia de sua autoria:

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Título: Mudanças

A vida passa
Repassa
Deixa marcas
Leves, indeléveis
Profundas
E
Em muitos recantos,
Nos recônditos da alma
Lembranças abundam

Marcam
Remarcam
Desmarcam
E levam
A outras paragens
Miragens e sonhos

E aos poucos
De leve
De modo indelével
Me recomponho
E vivo!
(Autora: Lu Frei)

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Após a poesia foi entregue às participantes uma folha em


branco e pedido que desenhassem uma árvore que as repre-
sentasse hoje. A pergunta feita foi: Se vocês fossem uma árvo-
re, como estariam hoje? Cada uma desenhou e posteriormente
compartilharam com o grupo seu desenho.
Uma participante que está viúva há 8 meses desenhou
uma árvore florida e disse que por mais que tenha tristeza, ela
busca coisas boas pois tem uma família linda que a apoia e a ama
por isso tem forças para seguir em frente ciente que ainda há vi-
da para se viver. Outra desenhou uma árvore com algumas fo-
lhas secas e dois galhos quebrados, representando, segundo ela,
as dificuldades enfrentadas na vida, mas também desenhou três
flores representando seus filhos.
Observa-se a importância que estas idosas dão à família
como âncora em meio ao sofrimento e as perdas. A família faz
com que o idoso continue querendo viver, afinal é nesse meio
que ele cria sua identidade, se sente amado e útil. Para idosos
desprovidos de laços familiares a vida faz-se solitária e o futuro
lhe parece hostil, dessa forma, a morte é sua única saída (COU-
RA; MONTIJO, 2014).
Outra participante desenhou uma árvore florida, bem ver-
de e viva, mas, segundo ela, com as raízes podres representando,
para ela, os muitos anos já vividos, mas ainda com muita alegria,
vivacidade e disposição. A participante seguinte desenhou uma
árvore, mas disse que se sente seca e triste.
As outras participantes a responderam dizendo que ela
precisa ver suas conquistas e as coisas boas da vida. O facilitador

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

perguntou o que significava as flores desenhadas em sua árvore,


ela respondeu é a felicidade por ainda estar viva mesmo passan-
do por muitas dificuldades ela se sente vitoriosa.
Outra desenhou uma árvore com o tronco forte e com flo-
res, segundo ela, representando as coisas boas da vida. A se-
guinte desenhou um coqueiro. Para ela, um coqueiro não cai
com facilidade e por mais que haja dificuldades que ameaçam
a queda, ele permanece firme. Também colocou as folhas dele
bem perto das nuvens, simbolizando para ela sua proximidade
com Deus.
Percebe-se que mesmo as idosas tendo experimentado si-
tuações de perdas, privações e tristeza, existe algo em suas vidas
que lhe traz um significado e preenche de forma que as faz pros-
seguir e manter a vivacidade.
No quinto encontro, oito idosas participaram. Foi pedido
às participantes que se dividissem em duplas, e cada dupla re-
cebeu uma cartolina. A orientação dada foi que conversassem
brevemente entre elas sobre qual o significado da vida para ca-
da uma. Após a conversa cada dupla pintou sua representação
da conversa anterior trazendo elementos que compreendem a
significação da vida. Posteriormente cada dupla apresentou sua
pintura explicando-a e expondo suas significâncias.
Em um dos desenhos encontrou-se elementos que retra-
tam a família representada por uma grande casa bem como flo-
res, grama, árvore e o céu azul como símbolos da alegria. Em
outro, as participantes explicaram que desenharam em uma par-
te da cartolina sementes no chão ao lado de uma mulher grávi-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

da, em outra parte, um pequeno broto ao lado de uma criança,


e por fim, uma família ao lado de uma grande árvore com frutos,
retratando o ciclo da vida.
Considerando a importância da família como significado da
própria vida, percebe-se que ao envelhecer o processo de trans-
formação dos sentimentos se aflora, e a infinita nuance de afeto
e amor com a família se acentuam. Assim, a afetividade se reve-
la significativamente na vida cotidiana dos idosos, expressando
mais uma vez que a família deve estar presente nesta etapa, ofe-
recendo suporte necessário (VITOLA, 2015)
Outra dupla trouxe elementos de sua própria existência e
explicando sua vida na roça, do tempo em que plantava, colhia
e trabalhava no sol com o desenho da terra com sementes, céu
e sol. Como em outras atividades, nesta, mais uma vez, houve
compartilhamento de histórias de vida e a presença de lembran-
ças do passado.
Observa-se que as experiências de vida são caracteriza-
das através de eventos e episódios que especificam a existên-
cia tanto de pessoas quanto de determinados grupos sociais.
Reviver acontecimentos por meio de depoimentos proporcio-
na uma reconstrução das vidas quando são contadas, visto
que, as pessoas não são simples depositárias de suas experiên-
cias, mas sujeitos ativos e construtores de sua própria essência
(BASSIT, 2002).
Terminado esse momento, as participantes foram nova-
mente incentivadas a pintar em dupla, mas agora retratando a
morte. Inicialmente houve certa resistência em pensar um dese-

35
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

nho que simbolizasse o tema. A mortalidade constitui-se por um


acontecimento medonho, pavoroso, um medo universal.
A nível inconsciente a morte nunca é possível quando se tra-
ta de nós mesmos, chegando a ser inconcebível imaginar um fim
real para a vida (KÜBLER-ROSS, 2008). Diante da resistência, uma
breve conversa do grupo sobre o assunto foi necessária. A medida
que se sentiram mais confortáveis, a atividade prosseguiu.
Posteriormente as idosas começaram a pintar e também
apresentaram suas criações. Em uma das telas a dupla trouxe
o tema como escuridão e incerteza sobre o que acontece após
a morte e um coração partido. Uma das participantes disse que
muitas vezes as pessoas dizem que: “Morreu acabou”, mas ela
discorda, quando alguém morre não acaba. Relatou que mesmo
perdendo dois filhos há mais de trinta anos e o marido há dois, é
como se tudo tivesse ocorrido ontem.
Outra participante disse que mesmo com a morte do mari-
do, ela o sente perto dela por várias vezes “É como se ele estives-
se comigo” – relatou. Diante de tais afirmações constatamos que
a morte é um acontecimento que só diz respeito ao corpo físico.
A relação que foi estabelecida entre quem faleceu e quem ficou
permanece, assim como tudo o que foi vivido entre as duas par-
tes continua viva em uma delas (ARANTES, 2016).
Após apresentarem seus cartazes iniciou-se um debate so-
bre a morte. Apesar do medo e receio em tratar do tema as par-
ticipantes encaminharam a conversa para pensar a morte como
um momento de dor, mas também como oportunidade de viver
uma vida melhor.

36
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Quando se discute sobre a morte os valores pessoais im-


portantes ganham novos significados. As idosas afirmaram que
trazer esse tema à tona faz com que pensemos na nossa própria
vida e no que temos feito com ela. Salientaram que nos últimos
dias de vida é essencial olhar para trás e ter contentamento e paz
com a vida que levou.
O facilitador destacou a diferença do entendimento do sen-
tido da morte construído em diferentes momentos do encontro.
A priori, quando as participantes foram surpreendidas com o te-
ma, foram resistentes em querer abordá-lo, mas quando houve
uma mudança de pensamento encontrou-se um sentido diferen-
ciado que impulsionou a conversa de forma fluida. Uma partici-
pante levou para o encontro uma poesia e compartilhou com as
demais:

Título: Renascer

A morte chegou
E trouxe a vida,
abrigou
e deu guarida

Trouxe o amor,
amor perdido
que dentro do peito
jazia adormecido.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

E a tristeza
veio mansinha
Desalojou a amargura
E com muita ternura
irrigou o amor.
Que cresceu
se fez forte
e se espalhou

E a vida
ressurgiu
da morte.
(Autora: Lu Frei)

Todas as pessoas morrem, mas nem todas um dia poderão


saber por que viveram. A reflexão sobre a morte promove a con-
dição de perceber a verdade trazida em cada escolha passada,
presente e futura de nossa vida. Principalmente porque nada é
definitivo com exceção da experiência já vivida.
Sejam as relações, as escolhas, empregos, escolhas, tudo
terminará. Se bem ou mal, dependerá de como foi vivido cada
um desses processos (ARANTES, 2016). A vida não é construída
nos últimos dias ou semanas, mas na maneira que se conduz a vi-
da até o momento da morte. Cada um adoece, envelhece e mor-
re como viveu (BIFULCO; CAPONERO, 2016).
No último encontro, foi perguntado às idosas quais foram
os aspectos positivos que se destacaram no processo e benefí-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

cios identificados provenientes do grupo. As participantes apon-


taram o fato de o grupo se tornar uma opção de atividade extra
em suas vidas, uma oportunidade para sair de casa, conversar e
se encontrar com outras pessoas. Outras afirmaram que o bene-
fício do compartilhamento de histórias e problemas possibilitava
um alívio emocional, além disso, o fato de poder ouvir outras his-
tórias fez com que elas percebessem que as outras pessoas tam-
bém têm problemas e, às vezes, maiores que os seus.
Também foi aplicado novamente o questionário de quali-
dade de vida WHOQOL-old para que se tenha um parâmetro de
comparação entre o início e o final da intervenção. Na primeira
aplicação, sete mulheres responderam, no último as mesmas se-
te participaram novamente.
O WHOQOL-OLD é composto por seis facetas, em cada
uma se avalia um aspecto relacionado à qualidade de vida do
sujeito. São elas: 1) Funcionamento do Sensório (FS), que anali-
sa o funcionamento sensorial e o impacto da perda das habilida-
des sensoriais. 2) Autonomia (AUT), refere-se à independência
na senilidade, ou seja, até que ponto se é capaz de viver de for-
ma autônoma e independente. 3) Atividades Passadas, Presen-
tes e Futuras (PPF), avalia a satisfação sobre conquistas na vida e
coisas a que se anseia. 4) Participação Social (PSO), busca averi-
guar a participação em atividades cotidianas, especialmente na
comunidade. 5) Morte e Morrer (MEM), relaciona-se com as pre-
ocupações, inquietações e temores sobre a morte e morrer, 6)
Intimidade (INT), analisa a capacidade de se ter relações pesso-
ais e íntimas (WORLD HEALTH ORGANIZATION et al., 2006).

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Cada faceta possui quatro questões com cinco alternativas


cada, de forma que a soma dos valores resulta no escore final
podendo oscilar de 4 a 20. Os escores destas seis facetas ou os
valores dos vinte e quatro itens podem ser combinados para pro-
duzir um escore geral (global), denotado como o “escore total”.
Basicamente, escores altos representam uma alta qualidade de
vida, escores baixos representam uma baixa qualidade de vida
(WORLD HEALTH ORGANIZATION et al., 2006).
O Quadro 2 mostra os escores da primeira aplicação, e o
Quadro 3 expõe os resultados da segunda aplicação.

Quadro 2. Resultados 1ª Aplicação

Resultados 1ª Aplicação
Participantes I II III IV V VI VII
Escore Total 82 55 104 82 99 99 87
FS 11 10 15 20 18 20 8
AUT 14 6 17 10 15 16 17
PPF 12 8 17 14 18 17 16
PSO 17 10 19 17 15 17 17
MEM 12 10 17 4 13 12 11
INT 16 11 19 17 20 17 18
Org. João Manoel Borges de Oliveira (2017).

40
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Quadro 3. Resultados 2ª Aplicação

Resultados 2ª Aplicação
Participantes I II III IV V VI VII
Escore Total 89 76 104 87 103 101 95
FS 13 8 19 8 19 20 18
AUT 16 14 13 16 13 14 14
PPF 16 11 19 16 19 17 16
PSO 18 10 18 16 16 17 16
MEM 11 17 17 16 16 16 14
INT 15 16 18 15 20 17 17
Org. João Manoel Borges de Oliveira (2017).

Os dados revelaram que em seis participantes houve au-


mento no escore total e um se manteve igual. Por meio disso
pode-se afirmar que a intervenção proporcionou relevante con-
tribuição à qualidade de vida. Portanto, evidencia-se a impor-
tância de intervenções psicossociais com grupos como uma
ferramenta significativa no cuidado à população idosa se fazen-
do capaz de auxiliar no enfrentamento dos desafios da senili-
dade e no descobrimento de novas potencialidades (RABELO;
NERY, 2013).
Assim, confirma-se os benefícios provenientes dos encon-
tros realizados, que consistiram em espaços que utilizou-se o di-
álogo e a comunicação como a base de todas atividades. Esse
tipo de proposta de intervenção possui inúmeros benefícios co-
mo: trocas sociais de experiências e problemas, aprendizagens,

41
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

estímulo das capacidades cognitivas, respaldo emocional, pro-


moção de sentimentos positivos, compartilhamento de ansieda-
des, dúvidas e medos e a emergência de soluções criativas para
as dificuldades enfrentadas no cotidiano (MENDIZÁBAL; CABOR-
NERO, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É evidente que o envelhecer ocasiona profundas transi-


ções, rupturas e novos desafios na vida de um sujeito. Com o
crescimento populacional dessa parcela da sociedade, é funda-
mental que se tenha maior preocupação com os idosos e ferra-
mentas eficazes capazes de produzir bem-estar, interação social
e promovam qualidade de vida. A experiência vivenciada na in-
tervenção possibilitou um espaço de reflexão, discussão, acolhi-
mento e amparo às participantes. Houve participação efetiva e
construção coletiva nas discussões dos temas tratados.
O grupo operativo comunitário no Centro de Convivência
da Terceira Idade em Catalão - Goiás colaborou para um melhor
entendimento do fenômeno do envelhecimento trabalhando te-
mas a partir da demanda identificada. Por meio dos encontros,
as participantes puderam apreender o significado da vida, morte
e refletir sobre as relações familiares vividas em suas próprias re-
alidades. Destaca-se a família como importante fator auxiliador
na velhice operando como um amparo pessoal de enfrentamen-
to de dificuldades.

42
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Se tratando da morte, a resistência inicial em pensar o te-


ma, deve-se as perdas vividas e medo de enfrentar a própria
morte ou sofrer. Mas a ressignificação do tema possibilitou um
novo olhar sobre o morrer. As participantes concluíram que viver
a vida de forma completa, alegre, sem arrependimentos propor-
ciona nos últimos dias o sentimento de contentamento e alívio
por estar em paz com suas decisões e consigo mesmo.
De fato, os resultados obtidos das aplicações do Questio-
nário WHOQOL-OLD evidenciaram uma melhoria significativa
na qualidade de vida das participantes. E, como apontado por
elas, a interação social, compartilhamento de histórias, convívio
e promoção de diálogo foram aspectos relevantes desencade-
adores de bem-estar e consequentemente auxílio em questões
pessoais vividas por cada uma.

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47
Capítulo 2
PSICOLOGIA JURÍDICA: UMA ANÁLISE DA
IDENTIDADE PROFISSIONAL, BEM-ESTAR E
RISCOS DA PROFISSÃO POLICIAL

Guilherme Luiz da Rocha


Ana Paula Martins
Jackeliny Dias da Silva

Desde a antiguidade, a ciência tem buscado a origem de


diversos comportamentos humanos. Indagações sobre o porquê
nós agimos ou pensamos de determinada forma, ou como nos
relacionamos em sociedade, sempre estiveram presentes em li-
vros e escritos desde a época pré-socrática (TRINDADE, 2011).
Neste contexto foram observados os comportamentos
mais comuns ou menos comuns nos grupos sociais, comporta-
mentos estes chamados mais tarde de “anormais” e com o sur-

48
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

gimento deste discurso, foram disseminadas ideias acerca da


criminologia. Surgia então, um relacionamento entre a Psicolo-
gia e o Direito (MARTINS; BEIRAS; CRUZ, 2012).
Em 1997 Michel Foucault em seu livro Vigiar e Punir, faz
uma crítica às correntes positivistas, dizendo que estas, busca-
vam uma razão para além do criminoso e criou um personagem
que devido às suas condições físicas ou sociais, demonstravam
que este tinha ligação com o crime. O delinquente então tinha
traços físicos e lugar onde residia. Posteriormente às publicações
de Foucault sobre o positivismo no sistema penal foi considera-
do insuficiente (BICALHO; KASTRUP; 2012).
A inserção de equipes multiprofissionais nas instituições
jurídicas iniciou lentamente e, muitas vezes, de modo infor-
mal, mediante estágios ou serviços voluntários. A área em que
ocorreram as primeiras incursões, seguindo as características da
própria história da Psicologia Jurídica, foi aquela relacionada às
criminais (ROVINSKI; CRUZ, 2009, p. 14).
Sabendo-se a importância da área de psicologia jurídi-
ca, o presente artigo visa apresentar uma revisão sistemática
de literatura no que tange a atuação do Psicólogo no âmbito
policial.

1. METODOLOGIA

De acordo com Koller (2014) a revisão sistemática de lite-


ratura surgiu a partir de conceitos retirados da metanálise, em

49
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

estudos realizados na década de 1970. Contudo os dois termos


diferenciam-se nos procedimentos de análise de dados, sendo
a metanálise um procedimento ao qual irá realizar o tratamen-
to dos dados por forma de agrupamento estatístico, já a revisão
sistemática refere-se a uma compactação de vários estudos, con-
tendo avaliação crítica e resumida dos resultados dos mesmos,
neste tipo de procedimento metodológico poderá ou não ocor-
rer a inclusão de metanálise.
Neste sentido no presente estudo, optou-se por realizar a
revisão sistemática de literatura, a fim de sistematizar o estudo
em torno de uma questão norteadora. A realização da pesqui-
sa deu-se por inquietação dos pesquisadores e visou investigar
“qual atuação do psicólogo no âmbito policial?”.
O levantamento dos dados, foi realizado por meio de bases
reconhecidas nacional e internacionalmente, sendo estas: Portal
de Periódicos da Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de
nível superior (CAPES), Scientific Electronic Library Online (SCIE-
LO), Biblioteca Virtual em Saúde (BIREME). As buscas nas bases
foram realizadas em Agosto de 2018.
Para seleção dos descritores, foi utilizado o vocabulário
de descritores Decs, utilizado para análise de linguagem na
indexação de artigos e revistas. Os descritores selecionados
para busca dos resultados foram: “Polícia and Psicologia and
atuação”.
Como critérios de inclusão de artigos, foram escolhidos ar-
tigos científicos, disponíveis em formato completo, publicado
nos últimos 6 anos, em língua portuguesa, que envolvessem a

50
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

temática de investigação. Como critérios de exclusão, foram eli-


minados artigos de opinião, artigos de revisão de literatura, arti-
gos que não estivessem disponibilizados em formato completo,
artigos em língua estrangeira, artigos repetidos e que não se re-
lacionassem a temática de investigação.
Os artigos que se enquadraram nos critérios, foram sele-
cionados e sistematizados em um quadro, contendo as principais
informações dos estudos. Para desenvolvimento metodológico
do trabalho foi utilizado o checklist Prisma, para auxilio e melhor
análise crítica dos resultados da RSL (GALVÃO, 2015).

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 demonstra as etapas de busca e seleção dos ar-


tigos, seguindo orientações do check-list Prisma. A fase de iden-
tificação, corresponde ao levantamento inicial dos trabalhos nos
bancos de dados selecionados para a pesquisa, utilizando os des-
critores anteriormente mencionados. Nesta fase, foram identifi-
cados 121 trabalhos no banco de dados da CAPES, 5 trabalhos
no banco de dados do SCIELO e 13 trabalhos no banco de dados
do BIREME.

51
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Figura 1. Utilização do checklist Prisma para refinamento dos ar-


tigos levantados nas bases de dados.

Bases de Dados Capes Scielo Bireme

IDENTIFICAÇÃO
121 5 13
(Refinamento por Descritores)

TRIAGEM
(Refinamento de artigos do 46 4 10
últimos 6 anos)

ELEGIBILIDADE
(Refinamento utilizando
10 3 7
critérios de inclusão e
exclusão)

Artigos Selecionados 6 2 1

Resultados 9
Org. pelos autores (2018).

Na segunda fase correspondente a Triagem, foi utiliza-


do como forma de refinamento, trabalhos que foram publica-
dos nos últimos 6 anos. Desta forma foram selecionados, 46
trabalhos da CAPES, 4 trabalhos do SCIELO E 10 trabalhos do
BIREME.
A terceira fase, Elegibilidade, foi realizada a leitura dos
resumos dos trabalhos e aplicado os critérios de exclusão, re-
sultando em 10 trabalhos da CAPES, 3 trabalhos do SCIELO e 7

52
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

trabalho do BIREME. A quarta fase, Inclusão, foi realizada a leitu-


ra completa dos artigos e aplicados os critérios e inclusão, verifi-
cando se os trabalhos correspondiam a temática de investigação,
resultando em 6 artigos da CAPES, 2 artigos do SCIELO e 1 artigo
do BIREME.
O Quadro 1, apresenta uma exposição sumarizada dos ar-
tigos selecionados para compor a RSL.

Quadro 1. Exposição sumarizada dos artigos

Título Ano/Autor
Os Agentes Sociais da R de de 2012
Proteção e Atendimento no En- PEREIRA ALBERTO, Maria de Fáti-
frentamento da Exploração Sexu- ma et al.
al Comercial
Cartografia clínica em plantão 2012
psicológico: investigação inter- BRAGA, Tatiana Benevides Ma-
ventiva num projeto de atenção galhães; MOSQUEIRA, Sáshenka
psicológica em distrito policial Meza; MORATO, Henriette Tog-
netti Penha
Percepção do risco entre policiais 2013
civis de diferentes territórios do CONSTANTINO, Patrícia; RIBEIRO,
Estado do Rio de Janeiro Adalgisa Peixoto; CORREIA, Bru-
na Soares Chaves
Estresse ocupacional em mulhe- 2013
res policiais BEZERRA, Claudia de Magalhães;
MINAYO, Maria Cecília de Souza;
CONSTANTINO, Patrícia

53
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

A identidade de policiais civis e 2013


sucessivos espelhamentos GOMES, Romeu; SOUZA, Edinilsa
Ramos de. A
Valores Organizacionais e Atitu- 2014
des Frente à Mudança: o Caso da RODRIGUES, Leandro Guimarães;
Polícia Militar do Distrito Federal NASCIMENTO, Thiago Gomes;
NEIVA, Elaine Rabelo
Bem-Estar Subjetivo e Burnout 2015
em Cadetes Militares: O Papel ALBUQUERQUE SÁ SOUZA, Lucia-
Mediador da Autoefi cácia ne
Prevalência de Transtorno Men- 2015
tal e Comportamental em Po- LIMA, Fabíola Polo de; BLANK,
licias Militares/SC, em Licença Vera Lúcia Guimarães; MENE-
para Tratamento de Saúde GON, Fabricio Augusto
Trabalho emocional e burnout: 2017
um estudo com policiais militares COELHO-ALVES, Joatã Soares;
BENDASSOLLI, Pedro Fernando;
GUEDES-GONDIM, Sônia Maria
Org. pelos autores (2018).

Por meio dos resultados pode-se verificar que em relação


ao ano de publicação, 34% dos trabalhos foram publicados no
ano de 2013, 22% no ano de 2012; 22% no ano de 2015, 11%
no ano de 2014 e 11% no ano de 2017. Em relação metodologia
de pesquisa dos estudos, observou-se 4 trabalhos qualitativos, 4
trabalhos utilizando-se de método misto (qualitativo e quantita-
tivo), e 1 artigo de intervenção.
Para análise dos dados qualitativos dos estudos, os mes-
mos foram divididos em três categorias para análise: 1. Estresse,

54
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

e Bem-estar do Policial; 2. Intervenção, Transtornos Mentais e


Riscos da Profissão de Policial e 3. Identidade Profissional e Valo-
res Organizacionais.

2.1 Estresse e Bem-estar do Policial

O objetivo deste artigo foi verificar o papel preditor das ex-


periênciações emocionais em convergência com a Síndrome de
Burnout em policiais militares. Os autores apontam que a profis-
são de policial demanda maior inteligência emocional, conside-
rando o fato que estes servidores lidam com grande diversidade
de interações sociais, além de tensões que colaboram para uma
exigência crescente de habilidade emocional.
Com relação aos métodos de pesquisa, os resultados foram
obtidos através de coleta de dados e escalas, sendo elas Emotio-
nal Labor Scale, Emotion Work Requirements Scale e a Subescala
de Exaustão Emocional de Maslach Burnout Inventory.
Para atingir o objetivo pretendido, Alves, Bendassolli e
Gondim (2017) contataram 525 servidores, sendo 408 do sexo
masculino e 117 do sexo feminino, selecionados de forma pros-
pectivas por indicações de órgãos de classe e de voluntários que
participaram de uma pesquisa anterior. Os selecionados deve-
riam possuir vínculo com a Polícia Militar do Estado Funcional e
estarem ativos.
A primeira hipótese desenvolvida por Alves, Bendassolli
e Gondim (2017) verificou se as estratégias de atuação profun-
da e atuação superficial estariam positivamente relacionadas a

55
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

exaustão emocional. Esta hipótese foi corroborada, visto que


tanto a atuação profunda quanto a superficial foram predito-
ras de exaustão emocional dentre os investigadores. Entretanto,
a segunda hipótese elaborada por Alves, Bendassolli e Gondim
(2017) não foi corroborada empiricamente, tendo em vista que
os achados se mostraram atenuantes para o efeito negativo da
exaustão emocional.
Em contrapartida, a terceira hipótese proposta por Alves,
Bendassolli e Gondim (2017) indicou que a variedade e a inten-
sidade são os principais precursores da exaustão emocional e
consequentemente da Síndrome de Burnout, pois a exigência
de manifestações diversificadas de emoções determina maior
quantidade de recursos físicos e mentais. Em síntese, o artigo
proposto por Alves, Bendassolli e Gondim (2017) contribui para
transmitir a importância de pautas correntes envolvendo reivin-
dicações dos policiais militares.
Além disso, ressalta-se a necessidade da adoção de proje-
tos que auxiliam na elaboração e desenvolvimento de compe-
tências emocionais vinculadas ao ambiente laboral.
Os estudos de ALBUQUERQUE (2015) apontaram como
principal finali1dade verificar a hipótese de que a autoeficácia,
além de uma possível preditora do Burnout, também atuaria co-
mo um mediador das avaliações cognitivas e afetivas, relaciona-
das ao ambiente laboral.
O trabalho foi realizado com a participação de 228 cade-
tes, sendo eles policiais e bombeiros, pois de acordo com SOUZA
et al. (2015) servidores em específico são mais suscetíveis a de-

56
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

monstrar estresse no trabalho. Segundo SOUZA et al. (2015), isto


ocorre devido ao ambiente e a periculosidade da profissão, além
de envolver fatores individuais e crenças pessoais que eliciam
certos comportamentos em determinadas situações.
Esta crença é a que os autores tomaram como denomina-
ção da autoeficácia, uma crença fundamental para a aquisição e
manutenção de padrões comportamentais.
De acordo com os resultados das análises de mediação, a
autoeficácia é um mediador relevante entre os afetos positivos,
os afetos negativos, a vitalidade subjetiva e satisfação com a ati-
vidade. Concluiu o objetivo mostrando que a percepção que o
indivíduo possui de desempenhar de forma satisfatória deter-
minada atividade, auxiliava na regulação do impacto das avalia-
ções cognitivas e afetava o ambiente laboral ao qual ele estava
inserido.
Os resultados ainda indicam que quanto maior o tempo na
corporação, maior é o nível de Burnout apresentado, e essa rela-
ção é mediada pela autoeficiência.
Bezerra (2013) retrata o quão estressante é ser uma servi-
dora pública atuante no contexto policial, e como os estressores
ocupacionais interferem de forma negativa nos contextos biop-
sicossociais.
Através de uma pesquisa qualitativa e discussões grupais
baseadas em relatos experienciais, verificou que as próprias ser-
vidoras compreendem o quanto sintomas estressantes relacio-
nados a profissão exercida influenciam em aspectos importantes
de suas realidades pessoais.

57
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Assim, existem alguns principais fatores que desencadeiam


o estresse ocupacional, e envolvem as questões hierárquicas, a
demanda excessiva de trabalho, a jornada dupla, as atribuições
domésticas e a discriminação relacionada ao gênero, que inclui o
assédio sexual dentro do ambiente de atuação.
Os depoimentos de oficiais demonstram maior sofrimento,
contudo, ao discutirem sobre a atuação destas profissionais na
rua, é unânime os relatos acerca de risco ou morte como maior
fonte de sofrimento.
Como estratégia para reduzir a tensão causada pelo meio
de trabalho, as atividades físicas foram citadas como meio de
maior efetividade, seguidas por convívios sociais e formas de la-
zer diversas, ressaltam que meios prejudiciais à saúde, como o
consumo de bebidas alcoólicas e a ingestão de remédios tam-
bém foram citados, salientando que a corporação da Policia Mi-
litar deveria elaborar práticas acerca de questões de gênero e
realizar programas que busquem incentivar a troca de informa-
ções entre as policiais.
Por fim, recomendam a prática de modalidades de rela-
xamento, investimento em alimentação equilibrada e consultas
médicas como prática auxiliar ao tratamento destes estressores.

2.2 Intervenção, Transtornos Mentais e Riscos da Profissão de


Policial

Braga (2002) iniciou suas atividades no ano 2000 por ini-


ciativa do Conselho de Segurança da Comunidade (CONSEG) que

58
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

entrou em contato com a PUC de Poços de Caldas em Minas Ge-


rais e USP em São Paulo; propondo uma intervenção psicológi-
ca com os agentes de segurança, teve prosseguimento por doze
anos, tinha como objetivo o atendimento clínico psicológico de
policiais civis em uma delegacia e Policiais Militares em uma
Companhia da PM, em forma de plantão e em uma abordagem
fenomenológica registrada em cartilhas.
O projeto relata a dificuldade de se construir um espaço clí-
nico tradicional de terapia e como, com o tempo se adaptaram a
atender em espaços não convencionais, sempre se mantendo dis-
poníveis e atentas para atendimento demandado em forma de pia-
das, ou simplesmente puxando papo em um intervalo para o café
no caso dos Policiais Civis e em preleções no caso da Polícia Militar.
O trabalho também explicitou muitas diferenças entre as
duas instituições, assim como conflitos entre elas. A banalização
da violência, recusa em humanizar os usuários do sistema pe-
nal, o sentimento de impotência diante de casos de violência ou
do uso de drogas, demandas da sociedade por atendimento que
não cabiam aos policiais como brigas sem lesão corporal entre
familiares e pedidos de socorros de parentes que não sabiam
mais o que fazer com um dos seus, que abusava do uso de dro-
gas, principalmente crack, eram frequentes e transformavam o
trabalho em uma constante frustração tanto da Polícia quanto
da Comunidade.
Os trabalhadores daquele local negavam seus sentimentos
ou ignorava qualquer emoção, ora, eram receptivos e simpáticos
com as plantonistas, ora as ignoravam ou eram grossos.

59
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

A intervenção clínica foi construída de modo a treinar os


policiais a serem mais atentos e solícitos aos problemas da co-
munidade, transformando o atendimento da ocorrência em algo
humanizado, onde o policial buscava entender as questões so-
ciais, pessoais e emocionais do indivíduo, ajudavam a melhorar a
inter-relação entre instituição e pessoas.
Deste modo, a prática psicológica constituída pela atenção
clínica implica uma disposição, certo modo de estar e, portan-
to, uma atitude, expressa nos gestos e modos pelos quais se é
afetado pelo mundo (olhar, ouvir, sentir), bem como pela orien-
tação com que se dirige ao outro (alerta, cuidado, dedicação,
inclinar-se).
É a partir do modo como o plantonista é tocado pelas si-
tuações presentes no cotidiano do distrito policial que ele po-
de questionar o sentido das experiências que emergem na cena
social e, assim, auxiliar os atores sociais a construir suas pró-
prias possibilidades de sentido e encaminhamento destas ex-
periências.
Outros estudos como LIMA (2015), sobre a prevalência
de transtornos mentais e comportamentais em policiais bus-
cou quantificar e qualificar quais transtornos mentais e com-
portamentais são mais comuns entre Policiais Militares do
estado de Santa Catarina, levando em consideração fatores de-
mográficos como idade e sexo e ocupacionais como tempo de
serviço, batalhão que está lotado, nível hierárquico dentro da
instituição.

60
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Segundo os autores, o estresse está diretamente ligado ao


alto número de adoecimento dos trabalhadores, dentre os sinto-
mas do estresse relatado pelos participantes foi: tensão muscu-
lar, insônia, fadiga, sensação de desgaste e etc. Para os PM’s do
estado o principal fator estressor é a necessidade de se fazer de-
masiadas horas extras para complementar a renda familiar. Os
oficiais são os mais afetados pelos Transtornos Mentais Compor-
tamentais, talvez devido ao cargo de chefia e responsabilidade
com a integridade física de seus comandados.
A pesquisa aponta que 24% dos Policiais Militares apresen-
taram algum transtorno e verificou-se que o TMC mais comum
(61%) está associado ao abuso de álcool. Porém o estudo ba-
seou-se apenas nos casos com afastamentos, não levando em
consideração os casos subnotificados.
Os agentes que se recusam a procurar tratamento, o fa-
zem por diversos motivos. Todavia os resultados encontrados
evidenciam a necessidade de mais estudos na área e implemen-
tação de políticas de saúde mental preventivas para estes traba-
lhadores. E a construção de um desenho realista sobre a saúde
dos Policiais é fundamental para uma estratégia que busque
melhorar a saúde mental e qualidade de vida dos Servidores da
Polícia Militar.
Constantino (2013) ao realizar estudo com policiais civis no
Rio de Janeiro destaca em sua discussão sobre a importância do
trabalho na construção social do “EU”, como a profissão define
as pessoas e como essas querem ser reconhecidas pela socieda-
de como competentes. Os resultados apontaram que indepen-

61
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

dente da região todos os agentes se enxergam como possíveis


alvos de atentados pelo simples fato de estarem ou forem identi-
ficados como Policiais, porém comparativamente em todas as re-
giões, os servidores concordam que o risco nas capitais é maior
e mais frequente.
Também foi constatado que os agentes operacionais con-
sideram estar em maior perigo do que os que exercem função
burocrática ou técnica dentro da instituição, mesmo na capital.
Demonstrando uma diferença de percepção pela atribuição que
é conferida a cada um. Constaram que a percepção de risco varia
dependendo da situação que o policial esteja exposto, os resul-
tados apontam o seguinte, a variar pela região. No estudo tam-
bém foi constatado que os servidores da Policia Civil lotados na
capital exercem com mais frequência atividades remuneradas
fora da polícia, o que compromete seu descanso, convívio com a
família e lazer e o expõe a mais riscos. Há outras variáveis quanto
às percepções de risco entre os policiais de diferentes áreas co-
mo demonstra o gráfico abaixo.
O indicador criado para mensurar a vitimização mostra que
ela foi muito mais frequente entre os policiais estudados na Ca-
pital do Estado que entre seus pares das outras áreas. Segun-
do esse indicador 67,8% dos agentes da Capital, 13,7% daqueles
que atuam na Baixada e 9,7% no Interior sofreram algum aciden-
te ou agressão em sua atividade policial.
Foi constatado que a percepção de risco é maior do que a
real vitimização dos policias. Uma das explicações é que os poli-
ciais não se descolam da identidade de servidores da segurança

62
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

pública e acham que todos vão reconhece-lo, porque polícia tem


cara de polícia.

2.3 Identidade Profissional e Valores Organizacionais

Gomes e Souza (2013) realizaram um estudo com vistas a


analisar a percepção dos policiais civis em relação a sua identi-
dade profissional e a relação na qual eram colaboradores, com a
utilização de questionários, entrevistas, grupos focais, etc. Os re-
sultados apontaram que 90,1% dos policiais eram do sexo mas-
culino com predominância de idades acima de 46 anos.
Em termos gerais, no que tange a percepção do policial so-
bre sua identidade profissional, os mesmos apontavam que a so-
ciedade não vê o policia de forma positiva, são sempre tachados
como algo ruim “vou chamar o guarda para te prender” mos-
trando uma negatividade na imagem social do profissional, al-
guns policiais apontaram que ninguém gosta de policiais, e esta
percepção faz com que se sintam injustiçados, pois quando er-
ram são severamente criticados, mas quando acertam não são
recompensados, e esta imagem contribui para reforçar uma des-
valorização social da profissão.
Nos estudos de Pereira (2002), sobre a percepção de agen-
tes sociais que atuam no enfrentamento a exploração sexual e
comercial de crianças e adolescentes, ressalta-se que no que
tange a legislação, os profissionais revelam grande conhecimen-
to em relação a defesa de deveres e direitos das crianças e dos
adolescentes, contudo em relação a medidas de punição ou pro-

63
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

tetivas, nem todos os agentes possuem clareza sobre o que com-


pete a cada instituição, apontando uma necessidade para uma
integração das redes para melhor atendimento.
Embora grande maioria dos profissionais reconhecem teo-
ricamente o papel da legislação para os crimes, na pratica mui-
tas vezes não possuem clareza necessária sobre o papel de cada
instituição no enfrentamento aos crimes de abuso, não tomando
dimensão da importância da prevenção, e em algumas situações
até culpabilizando as vítimas. Destarte ressalta-se um campo
vasto para atuação junto aos órgãos públicos para melhor orga-
nização e preparação dos agentes.
Por fim, os estudos de Rodrigues et al. (2014) ao analisar
os valores organizacionais e atitudes frente a mudanças de poli-
ciais militares do DF apontam que na instituição pesquisada, va-
lores como hierarquia e conservação são os mais presentes na
organização, e podem impactar em atitudes negativas no que
tange a mudanças, visto seu caráter rígido. Este dado permite
refletir a resistência a mudanças da organização como um todo,
o que pode impactar negativamente em formas mais flexíveis de
gestão, assim como cuidados com a saúde mental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os trabalhos encontrados na presente RLS indicam pistas


sobre os principais fatores de saúde emocional assim como sin-
tomas mais comuns entre os Policiais, auxiliando sobre quais po-

64
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

líticas preventivas de saúde podem ser implementadas e como


a atuação do psicólogo é fundamental para uma instituição mais
saudável emocionalmente e fisicamente e como isso pode cola-
borar para uma Polícia mais humana e eficiente.
Para futuros trabalhos, indica-se uma ampliação para bus-
ca de trabalhos em periódicos específicos da área de psicologia,
para maior abrangência.

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68
Capítulo 3
REPRESENTATIVIDADE SOCIAL E
PSICOLOGIA: UM ENSAIO TEÓRICO

Edviges Guimarães de Oliveira


Lais Marques de Brito
Pablo Netto Costa
Jackeliny Dias da Silva

A nossa sociedade tem mudado ao longo dos anos, assun-


tos que antes eram silenciados estão começando a ganhar força
e espaço na discussão social, permitindo que aos poucos seja ini-
ciado um processo de quebrada de tabus.
E não seria diferente com a comunidade LGBTQ+, que ape-
sar de estar em um processo progressivo de visibilidade, ainda
encontram muitas dificuldades para verem-se verdadeiramente
representados.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Esses grupos, anteriormente “invisíveis” ou renegados


pelos tradicionais, que tinham que se calar e esconder come-
çaram a conquistar aos poucos e arduamente espaços de visi-
bilidade.
Contudo há ainda muito que se discutir, muito para lutar e
conquistar. Ultimamente, vários artistas, escritores, blogueiros e
youtubers vêm falando sobre a importância da representativida-
de para esse grupo.
No entanto, mesmo com tanta divulgação e vídeos expli-
cando a importância sobre a temática, muitos persistente em
não aceitar a seriedade destes espaços de visibilidade que vem
sendo conquistados, descaracterizando muitos movimentos, dis-
torcendo realidades e espalhando falsas verdades sobre a repre-
sentatividade.
Percebendo a importância de se discutir a temática, não
apenas enquanto profissionais e acadêmicos de psicologia, mas
também como seres humanos e sociais, o presente artigo busca-
rá, por meio de um ensaio teórico retratar sobre representativi-
dade e visibilidade social.

1. METODOLOGIA

De acordo com Meneghetti (2011), um ensaio teórico


constitui-se pela “relação permanente entre o sujeito e objeto,
um vir-a-ser constituído pela interação da subjetividade com a
objetividade dos envolvidos”. Ou seja, constitui-se de um gênero

70
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

textual, trazendo como objetivo discussões sobre temas e expo-


sição de ideia sobre o mesmo.
Sendo assim, o presente trabalho, compõe-se de um en-
saio teórico com objetivo de refletir sobre a visibilidade LGBTQ e
sua representatividade social.
O ensaio foi estruturado em três momentos reflexivos: a
representatividade e a psicologia, a representatividade lésbica, a
representatividade LGBTQ e a produção industrial.

1.1 O que é representatividade?

De acordo com documentos da base legal do FUNDEF


(2004) o termo representatividade refere-se a ideia daquele que
representa politicamente os interesses de um grupo, de uma
classe ou de uma nação. Ela se concretiza através da ação, ade-
são e participação dos representados.
O vínculo que liga um representante aos seus representa-
dos é a confiança política em geral, uma vez que o representante
é muito mais que um gestor.
No entanto o conceito não se restringe a atividades polí-
ticas, outra forma de se compreender a representatividade está
ligada não somente aos campos políticos, como também a visibi-
lidade daquilo ao qual se identifica, seja em relação a fenômenos
musicais, credos, costumes ou valores.
Afetando como as pessoas convivem no meio social e de
como se veem, veem o outro e compreendem e absorvem aquilo
que se diverge do que é apresentado como socialmente aceito.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Nos estudos teóricos da psicologia social é possível encon-


trar pesquisas que demonstrem o quanto a representatividade
social afeta o imaginário coletivo.
Moscovici (2009) em seu livro sobre a teoria das repre-
sentações sociais disserta que o convívio humano permite
que se crie um conjunto de crenças, ideias, explicações e va-
lores que são comuns e que serão compartilhadas pelas pes-
soas que fazem parte daquele ambiente, a isto damos o nome
de cultura.
A cultura é permeada por símbolos, significantes e signi-
ficados que pertencem a um grupo de indivíduos que ocupam
um mesmo espaço. Esse conjunto pode ser repassado de gera-
ção em geração, ou pode até se modificar com o tempo, de acor-
do com o que os indivíduos pertencentes ao grupo aceitarem ou
não como sendo próprio, modificando o anterior e ancorando
novas formas de ver, sentir, pensar, agir e conviver (MOSCOVICI,
2009).
Neste sentido, a teoria das representações sociais apresen-
ta-se como indispensáveis nas relações humanas, fazendo parte
de um processo de interação social, permitindo aos membros de
um grupo comunicar e compreenderem-se.
Quando as representações são aceitas e partilhadas por
uma dada sociedade ou grupo de indivíduos estamos perante
as designadas Representações Sociais. As representações sociais
são características de uma determinada época e contexto histó-
rico, por isso, a sua alteração ocorre lentamente, fazem parte do
pensamento social e são imprescindíveis nas relações humanas,

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

uma vez que, dão uma explicação, um sentido à realidade, se


manifestando como elementos cognitivo, determinando concei-
tos, comportamentos, imagens, definindo identidades pessoais
e coletivas (MOSCOVICI, 2003).
A forma como esses elementos são processados, ocor-
rem por meio do que Moscovici (2009) considera como objeti-
vação, processo através do qual as representações complexas
e abstratas se tornam simples e concretas e possam ser expe-
rienciadas de forma simbólica pelas pessoas (ALVARO E GAR-
RIDO, 2003).
Um exemplo de objetivação, pode ser a imagem represen-
tada em nossa mente, é quando pensamos na palavra “Família”
o que pensamos? E por que essa imagem representa família pa-
ra nós?
Essa explicação não gira apenas em torno da teoria de Mos-
covici (2009) pois as experiencias vivenciadas por cada indivíduo
auxiliam para sua formação individual de esquemas mentais,
contudo a cultura a qual fazemos parte influencia grandemente
para a imagem mental representada em nossa cognição, quando
pensamos no que é família.
Por exemplo, no ocidente historicamente, as famílias eram
vistas como uma imagem composta por pai, mãe e filhos e eram
estes os conceitos reproduzidos nas escolas, literaturas, filmes e
sociedade no geral.

73
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Figura 1. Quadro representando uma família ocidental “tradicio-


nal” do século XVIII.

Fonte: Google imagens.

Contudo, sabe-se que o que é imposto culturalmente nem


sempre é a realidade de uma sociedade, sendo que existem múl-
tiplas e várias formas de se constituírem famílias. E assim, caso
essas diferentes formas de ver o “socialmente aceito” e sedi-
mentado não obtiver um espaço, uma lacuna para modificar o
pensamento social, não haveriam mudanças na forma das pes-
soas pensarem sobre si o mundo a cultura e o novo.
Para Moscovici (2009) essa forma de mudança no imagi-
nário social se dá por meio da ancoragem, processo no qual as
quando imagens se juntam as anteriores nascendo assim novos
conceitos.
Neste sentido, a família “tradicionalmente” aceita no sécu-
lo XVIII no ocidente, vem aos poucos ganhando um novo formato,
tais como: famílias compostas casais homossexuais, bissexuais,

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

transexuais, famílias apenas com mulheres, famílias apenas com


homens, família de amigos, etc.

Figura 2. Representação de uma Ancoragem

Fonte: Google imagens.

A objetivação e a ancoragem funcionam como um todo no


processo de formação das representações sociais, e estabele-
cem-se como um filtro cognitivo, uma vez que as novas represen-
tações são interpretadas segundo os quadros de representação
preexistentes (ALVARO E GARRIDO, 2003).
Contudo, para que as novas formas de representações in-
filtrem no imaginário coletivo, auxiliando para que as pessoas,
comunidades, sociedades pensem em novas formas de ver o

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

“novo”, diminuindo o preconceito ou discriminação do imposto


é necessário que se sejam permitidos espaços de visibilidade e
representatividade.
Sendo assim, hoje por exemplo, as mídias sociais, internet,
marcas, empresas, assim como as instituições tradicionais (esco-
las, faculdades, etc) são importantes espaços para auxiliar nesta
mudança de pensamento social, inclusive para que as pessoas
que se encontrem “fora” do que é imposto, comecem a encon-
trarem-se e reconhecerem-se como iguais, sendo notável a rele-
vância cada vez maior de representatividade e visibilidade para
as pessoas, socialmente excluídas do culturalmente imposto.

1.2 Representatividade LGBTQ

Para se falar em representatividade LGBTQ é importante


inicialmente esclarecer algumas dúvidas sobre o modo como nos
classificamos perante a cultura heterossexual, essa que foi vista
como a única verdadeira, ideal e legítima por muito tempo pelo
senso comum, tudo que não se enquadrava nela era banalizado.
ornava-se caricato, ver como os rastros dessa cultura continuam
fortes até os dias de hoje.
Para início, é importante refletir como a comunidade em
geral é classificada perante os heterossexuais, ou seja, de um la-
do existem os heterossexuais e do outro lado toda uma comuni-
dade que não se enquadra nos requisitos heterossexual. 
As classificações que serão discorridas a saber, foram reti-
radas da Conferência Nacional LGBT (2008).

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Socialmente, seja para fins sociodemográficos ou outros,


existem uma serie de categorias para que possamos estratificar
as pessoas. No que tange pessoa que nasce identificando-se com
seu gênero é chamada de CISGÊNERO, dá-se esse nome, pois an-
tes as pessoas chamavam-nas de normais, “sou mulher normal”,
“sou homem normal”, logo isso dizia aos demais que pessoas
trans eram “anormais”. Então há “mulher trans”, “mulher cis” e
“homem trans”, “homem cis”.
Outra nomenclatura utilizada, “Travesti”, diz respeito a
uma pessoa que não se identifica com o gênero biológico e se
veste e se comporta como pessoas de outro sexo.
O Transsexual é a pessoa que, por se sentir pertencente ao
outro gênero, pode manifestar o desejo de fazer uma cirurgia no
seu corpo para mudar de sexo, o que não acontece com as tra-
vestis. Muitas travestis modificam seus corpos com ajuda de hor-
mônios, terapias, implantes de silicone e cirurgia plásticas, mas
ainda desejam manter o órgão sexual de origem.
Ao discutir a representação da mídia dos variados gru-
pos, especialmente daqueles que consideramos marginali-
zados, os estereótipos são muitas vezes uma preocupação
primordial. Mas às vezes, “quebrar” um estereótipo não é o
suficiente, pois há ainda a preocupação de retratar esses per-
sonagens de uma forma positiva e diversificada em sua própria
comunidade.
Assim podemos explorar e analisar as maneiras que o en-
tretenimento que conseguem chegar de forma mais rápida a
grande parcela da população, e neste caso o cinema resolve

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

abordar o conteúdo LGBT e ainda como lidam com suas carac-


terizações.
Nos últimos anos podemos ver a crescente competitivida-
de entre cinema e TV, não apenas pela quantidade de conteúdo,
mas principalmente qualidade. Há algum tempo as séries deci-
diram explorar a diversidade colocando em jogo a popularidade
das mesmas. Porém a decisão ambiciosa de representar varia-
dos grupos foi muito além das expectativas sendo muito bem
recebida.
Plataformas como a Netflix que agora lançam conteúdos
originais o ano todo, encontraram um público enorme que
respondem bem à ousadia de suas temáticas estabelecendo
então uma normalidade em assuntos tais como homossexua-
lidade e transexualidade, não deixando ninguém de fora das
histórias que estão ali para refletir o mundo real em que vi-
vemos.
Séries tais como Orange Is The New Black, Sense 8, Grace
and Frankie, Modern Family, entre outras, vieram para acabar de
vez com as dúvidas da audiência existente para o assunto. Mui-
tos estúdios tentam ingressar nestas inovações fazendo grandes
anúncios de personagens LGBT em seus filmes, mas que na ver-
dade não são nem mencionados na trama principal.
Dois grandes exemplos são A Bela e a Fera (2017) e Power
Rangers (2017), que declararam duas personalidades oficialmen-
te gays. Estas alegações, porém, foram nada menos que tentati-
vas de atrair o novo público que se decepcionou ao, mais uma
vez, presenciar a ausência da temática nos filmes.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

1.3 Representatividade Lésbica

Ainda no que se concerne a representatividade, no dia 29


de agosto é considerado o dia da visibilidade lésbica. Esta da-
ta foi instituída através do 1º Seminário Nacional de Lésbicas,
que ocorreu em 29 de agosto de 1996. Porém, tantos anos de-
pois, ainda há uma notoriedade tão pequena desse grupo. Mui-
tas mulheres são ainda esquecidas e deixadas de lado por sua
orientação sexual. É por isso, que precisamos falar de represen-
tatividade.
A mulher lésbica, que além de lutar por um espaço en-
quanto mulher precisa ir além e encontrar um espaço como mu-
lher e lésbica. Visto que dentro de vários grupos, ela muita das
vezes é esquecida, como dentro do feminismo e até mesmo do
LGBTQ.
Todos queremos nos enxergar em algo, seja quando ve-
mos um filme, ou até mesmo quando escutamos uma música.
Ao acessarmos a internet, principalmente para lazer, buscamos
sempre algum site que tenha um conteúdo que nos interessa.
Ao pesquisarmos no youtube é possível encontrar alguns
canais lésbicos. Um canal muito interessante e que retrata vários
temas importantes sobre o lesbianismo é o “Louie Ponto”. Escri-
to pela jovem Louise, você vai encontrar vídeos que falam desde
“Como saber se é lésbica”, abusos, bullying e até mesmo repre-
sentatividade e visibilidade lésbica.
Em um dos vídeos intitulado “Como é ser lésbica?” traz
o relato de mulheres lésbicas: negras, brancas, jovens, adultas,

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

que tiveram relacionamentos heterossexuais, ou seja, bastante


diferentes, mas com a opção sexual em comum. No vídeo rela-
tam como é ser uma mulher lésbica, o processo de se assumir e
no fim deixam dicas para outras mulheres que ainda não tem co-
ragem de se assumirem. Sendo unânime a fala sobre a luta que é
ser uma minoria, que em muitos casos vive a margem da socie-
dade. Ressaltando a importância de estarem em grupo, juntas,
lutando por seus direitos.
Ainda na web, há um site de narrativas com temáticas lés-
bicas, que é o LETTERA. Conta com mais de 4000 membros ativos
e há um banco de dados com cerca de 1200 histórias publicadas.
O site busca suprir a necessidade por uma literatura menos pre-
conceituosa e heteronormativa.
Dentro ainda dessa temática de se sentir representada na-
quilo que assiste, por muito tempo na televisão, em novelas e
filmes era um “tabu” a relação homoafetiva. Mas nos últimos
tempos, tem-se tentado mudar isso, como aconteceu por exem-
plo na série de tv “Malhação”, na temporada 2017, quando teve
o primeiro casal lésbico da história da série, com as jovens per-
sonagens Lica e Samantha. O que foi de extrema importância
para mostrar aos jovens a necessidade de falar de sexualidade e
que não há nada de errado em uma relação amorosa entre du-
as garotas.
Sobre filmes que exploram a relação entre duas mulheres,
temos alguns que fizeram sucesso, como: “Amor por direito” e
“Azul é a cor mais quente”. O primeiro retrata a busca por direi-
tos para a parceira da personagem principal que está doente. Já

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

o segundo, retrata a chegada da maturidade e as descobertas da


sexualidade para a jovem personagem principal.
Podemos assim então concluir que, ao longo dos anos mui-
tas foram as conquistas feitas pelas mulheres lésbicas. Mas ainda
há muito o que conquistar, por isso é importante insistir na re-
presentatividade. Precisamos dar voz à essas mulheres.

1.4 Produção Industrial e Representatividade

Outro importante aspecto a ser refletido sobre a repre-


sentatividade LGBTQ está relacionado ao mercado consumidor
envolvido com este grupo. E pensando em comunidade LGBTQ
hoje várias equipes comerciais, sites, agencias de marketing etc
vêm instaurando lojas que possibilita o público a este público
comercializarem variados produtos, viagens, roupas, sapatos,
músicas, etc.
Um site comumente reconhecido pela comunidade LGBTQ
é o E-commerce, o qual oferece oportunidade de emprego para
quem deseja ter uma loja online. Infelizmente, no Brasil, ainda
esse tipo de meio empregatício é cercado de preconceito, en-
quanto isso no exterior vem crescendo cada vez mais. O E-com-
merce: comercio eletrônico de produtos voltados para o público
(DAMASCENO, 2018).
No site, há uma parte voltada para ao turismo do público
LGBTQ, pois a maioria dos casais homossexuais não tem filhos,
deixando mais fácil para a agência a escolha do local de viagem,
pontos turísticos do local da viagem, baladas, hotéis, etc. Es-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

se tipo de comercio aqui no Brasil é muito lucrativo, pois não


há muitas pessoas que desenvolvam esse mercado de trabalho
(MENDES, 2017).
Muitas marcas sabendo da importância da confecção de
produtos para LGBTQ+, cria produtos com o perfil desse público,
e pensando também nos fins lucrativos, vão atrás do Pink Mo-
ney, que é nada mais que o investimento que tal público faz para
adquirir produtos que estejam representando suas comunida-
des, no qual a moda e o turismo se destacam. E por ano, a movi-
mentação chega a ser de aproximadamente 160 bilhões de reais
somente em Pink Money (GOMES, 2018).
Empresas como a Pepsico, Coca-Cola, patrocinam grandes
eventos como “A Parada Gay” no Rio de Janeiro, mas uma marca
que faz campanha para arrecadar fundos para instituições sem
fins lucrativos, é a Doritos, que deixa a escolha de seu público
para qual instituição irá todo o lucro arrecadado no evento (DI-
GAI, 2017).
Esse tipo de movimento não é novo desde os anos 80, já
iniciaram e arriscaram o marketing LGBTQ. Um deles foi a empre-
sa de moveis Ikea, que em 1994, em um comercial que mostrava
um casal de homens escolhendo uma mesa de jantar. Transmi-
tidas apenas duas vezes, o comercial foi retirado do ar por con-
ta de ameaças de bombas que iriam ser jogadas em suas lojas
(MENDES, 2017).
Tais premissas permitem apontar que o mercado consu-
midor também está em transição, gradativamente aumentando
a representatividade de produtos que permitam mais plurali-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

dade, auxiliando na despadronização social inclusive no comér-


cio, mesmo assim notam-se em pacotes, como por exemplo de
viagens que há ainda uma estigmatização da comunidade con-
sumidora.
Por fim, é possível concluir que todos somos diferentes,
pois cada ser humano possui sua singularidade e suas particula-
ridades, que o tornam diferentes uns dos outros.
Contudo é preciso que cada pessoa sinta-se representada
no imaginário social em sua singularidade, para que esta não se-
ja mais considerada como “atípico” ou “desviante” ou que sinta
medo por ser quem é.
É importante que sejam produzidos mecanismos para
que cada um sinta-se pertencente a algum lugar, sinta-se igual
na comunidade em que se reconhece, é importante que se
pense em uma produção industrial e social que abarque, de
forma geral e cada vez mais, a diversidade, sem estigmatização,
exclusão ou segregação das comunidades pelo imaginário só-
cionormativo.
Esse imaginário, que castra, que reprime e que produz do-
enças emocionais. Então que consigamos aos poucos construir
uma sociedade em que as pessoas não sejam mais recrimina-
das por comprar uma roupa que “é para o sexo” diferente do seu
(roupa tem sexo?).
Ou que a criança não seja estereotipada por gostar de brin-
car com aqueles objetos que “não são destinados ao seu sexo”
(todos os brinquedos não são pra brincar?) ou que as pessoas
não sejam constrangidas, por ter vestido a “roupa errada” ou por

83
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

medo de escolher a “cor errada para seu sexo” (cor tem sexo?).
Ou por agir “como menina” ou por agir “como menino” (o sexo
deve ter um comportamento padrão?)
São muitas as mudanças que precisam ser realizadas no
imaginário coletivo, para que possamos ver o outro como igual
na sua singularidade.
Se não conseguimos mudar a sociedade de uma só vez,
que comecemos primeiramente por nós mesmos, pois fomos
construídos nessa sociedade estereotipada, castrativa e puniti-
va, então que comecemos a questionar o que nós próprios pen-
samos, os estereótipos que estão na nossa própria cognição e
que precisam ser remodelados.
Quando fizermos isso, que passemos para o segundo pas-
so, o de auxiliar as pessoas do nosso convívio a questionarem os
estereótipos “implantados” em sua cognição, e que assim possa-
mos aos poucos criar uma rede de mudança social, e que daqui
a um tempo possamos ver a representatividade não como algo
diferente, mas como algo comum em nosso dia-dia.
Enfim que tenhamos em nosso DNA, impregnado, que nin-
guém está acima de ninguém, e o que deve representar a todos
são: as leis e os direitos humanos.

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86
Capítulo 4
PSICOEDUCAÇÃO E
EMPODERAMENTO FEMININO

Virgínia Beraldo Rodrigues


Maria Eduarda José de Oliveira
Fernanda Maria Nunes
Jackeliny Dias da Silva

A psicologia comunitária engloba um importante campo


teórico prático para atuação do profissional de psicologia, visto
que possibilita a este profissional a sua inserção nos mais varia-
dos contextos grupais.
Nesta área de psicologia o profissional atua com o ob-
jetivo de promover a mudança das condições sociais de um
determinado grupo de indivíduos. O psicólogo no âmbito co-
munitário tem o papel de facilitador, ou seja, colaborar com o

87
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

grupo em que ele esteja inserido para que estes encontrem ou


redescubram novas possibilidades para que o grupo tenha con-
dições de forma autônoma e mais consciente de resolver suas
questões se tornando assim protagonistas de sua própria histó-
ria (SILVA, 2008).
O ser humano é um ser social por natureza, e seus inter-
-relacionamentos grupais são fator fundamental para sua exis-
tência. Desde o nascimento o sujeito está inserido em diversos
grupos e realidades numa constante tentativa de construir sua
identidade enquanto pessoa e também na busca de uma iden-
tidade grupal. Sendo assim, a psicologia de grupo se torna um
campo fundamental nesse processo, pelo fato de sua definição e
configuração de que o sujeito está constantemente em contato
com o outro e participando de diversos tipos de grupos (ZIMER-
MAN, 2007).
No âmbito grupal a universalidade é um fator terapêu-
tico muito importante, ela promove nos indivíduos a tomada
de consciência ao identificar que existem outras pessoas que
vivem situações semelhantes as suas, esse fator atua como
fonte de alivio para o sujeito. Com a aceitação dessas seme-
lhanças o indivíduo ao se colocar em contato com o outro se
coloca consequentemente também em contato com o mundo
(YALOM, 2006).

88
Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

1. PSICOEDUCAÇÃO

A psicoeducação pode ser utilizada nos mais diversos con-


textos e situações, e sua aplicação contribui de forma significati-
va no ambiente pois, seu objetivo visa a promoção, prevenção e
a educação em saúde (LEMES & NETO, 2017).
A psicoeducação consiste na utilização de métodos cientí-
ficos e experimentais é uma abordagem que parte do pressupos-
to de que as cognições regulam as emoções e comportamentos.
A psicoeducação utiliza de vários recursos em sua abordagem,
tais como, folders, filmes, vídeos e muitas outras técnicas que
proporcionam ao indivíduo de forma pratica a aprender a identi-
ficar comportamentos e pensamentos disfuncionais ou distorci-
dos (BASCO & RUSH, 2005).
Segundo Caminha e colaboradores (2003), a partir da psi-
coeducação o indivíduo tem condições de fazer distinção de suas
características enquanto pessoa e as características do transtor-
no psicológico que possa estar enfrentando. Com a psicoeduca-
ção ele passa a se conhecer, e com isso passa a ter conhecimento
dos fatores que desencadeiam o problema ou patologia que
apresenta.
De acordo com Sarriera (2004) uma intervenção psicosso-
cial é um trabalho de relação direta entre facilitador-interventor
com o grupo-alvo, que resulta em transformações nos espaços
onde as histórias pessoais, grupais ou coletivas ocorrem. Sendo
assim, o objetivo deste trabalho foi promover a partir de uma in-
tervenção psicossocial a psicoeducação em grupo.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

2. METODOLOGIA

Local
As intervenções foram realizadas em uma Instituição não-
-governamental que atende mulheres da comunidade, oferecen-
do cursos de artesanato e assessoria jurídica.

Participantes
Ao longo da intervenção participaram doze mulheres com
idades entre trinta e cinco e cinquenta anos.

Procedimentos
A intervenção ocorreu no período de agosto de 2017 a no-
vembro de 2017. Para realização das atividades foi assinado ter-
mo junto a coordenação da ONG para realização do trabalho
junto as integrantes, e informado junto ao termo que divulga-
ções provenientes do trabalho não envolveriam o nome da insti-
tuição nem das participantes.
Inicialmente foram realizados levantamentos de deman-
das do grupo e escutas individuais com as participantes. A es-
cuta era direcionada para as mulheres participantes da ONG, as
quais frequentavam a instituição semanalmente.
Após escuta individual, as Facilitadoras realizaram um pla-
nejamento para encontros de psicoeducação, que pudessem
proporcionar aos participantes momentos de autoconhecimen-
to e compartilhamento de informações.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho desenvolvido na instituição iniciou-se com uma


visita de reconhecimento do local a fim de, obter informações
de seu funcionamento, bem como horário, público alvo e ou-
tras informações pertinentes ao atendimento foram estabele-
cidas com a supervisão dos atendimentos e com o responsável
da instituição.
Os atendimentos iniciaram-se no mês de setembro de
2017 em forma de acolhimento, escuta, observação e encami-
nhamento para posterior atendimento psicoterápico individual
ou em grupo.
No período do mês de setembro a outubro do mesmo ano
foram realizadas observações do grupo e suas demandas duran-
te as oficinas de artesanato que a instituição realizava, foram re-
alizadas ainda escuta e triagem das demandas para atendimento
individual. Durante as observações ocorreram progressivamente
por parte das Facilitadoras noções básicas de saúde mental.
O fato de ter outras pessoas que não estariam ali para bor-
dar, ou pintar e sim analisar e intervir, alterando o protocolo e a
rotina das aulas, fez com que algumas alunas ficassem recolhi-
das e pensativas no início da intervenção. Porém após o perío-
do de adaptação e reconhecimento não só das Facilitadoras mas
também das frequentadoras da ONG, houve uma aceitação e um
acolhimento favorável.
Durante as observações foram levantadas as demandas co-
muns ao grupo e com orientação da supervisão foram estabeleci-

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

das que seriam trabalhadas questões básicas de psicoeducação.


O processo de psicoeducação ocorreu em quatro encontros, no
primeiro encontro foram apresentadas as demandas observa-
das, fez-se um discurso acerca da saúde mental e apresentou-
-se a proposta para os encontros seguintes. Foram distribuídos
cadernos e sugerido aos participantes das oficinas para escrever
sobre seus sentimentos e suas percepções sobre si mesmo.
Este primeiro encontro trouxe uma técnica de expressão,
que fez com que elas (através de desenhos, frases ou palavras)
tirassem de si, pensamentos e sentimentos e transcrevessem pa-
ra o papel, possibilitando uma maior reflexão e acompanhamen-
to da evolução de seus estados. Cerca de 90% adotou o caderno
como atividade rotineira.
No segundo e terceiro encontro foram trabalhados as-
pectos voltados para as emoções e sentimentos e as diferenças
entre eles de modo que proporcionasse aos participantes meca-
nismos para lidar com esses aspectos.
Estes dois encontros foram voltados basicamente para a
ideia de que, uma vez expressado tal sentimento (1º encontro),
deve-se entender o que fazer com ele. Manteve-se a mesma por-
centagem de participação efetiva.
No quarto encontro trabalhou-se a importância das rela-
ções grupais e o fortalecimento do grupo, na oportunidade foi
possível devolver ao grupo aspectos voltados a identidade gru-
pal. Como resultado, este encontro fez com que elas refletissem
e falassem sobre a importância do outro no grupo e os impactos
positivos que um grupo fortalecido traz.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

Em geral, os resultados foram bastante expressivos uma


vez que o grupo estava mobilizado e voltado para um determina-
do fim. Compartilhou-se sentimentos, vontades, pontos de vista
de forma que ao final, elas pudessem entender a importância de
cada uma no papel grupal.
Para tal, a intervenção que antes era vista como desafio,
foi crucial para construção do relacionamento, pois ao invés de
ser algo imposto, foi algo adaptado, fazendo com que a proposta
fosse bem recebida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho comunitário, requer um cuidado e adaptação


ao meio. De certa forma, a psicologia permite esta acessibilida-
de, e isto fez com que alcançássemos resultados expressivos na
intervenção.
Atuar na prática, e estabelecer a construção de relaciona-
mentos entre indivíduos, de forma que se permita trazer uma
reflexão diária dos problemas enfrentados, traz autonomia para
que as mulheres possam enfrentar (e saibam como) conflitos in-
ternos e externos.
Portanto, por meio dos feedbacks das participantes, po-
de-se observar que a intervenção trouxe bons resultados, per-
mitindo a promoção e acesso da saúde psíquica através da
psicoeducação e autorreflexão.
As mudanças aconteceram, e comprovadas em alguns re-
latos como: “houve uma evolução no meu estado emocional”,

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

ou “me senti muito melhor durante a semana”, e até mesmo in-


tegrantes que antes eram ociosas no resto do tempo, e (após a
intervenção) procuraram outras ocupações como dança e cami-
nhada, para promoção da saúde física e mental conforme orien-
tado, além também do carinho e palavras de “voltem sempre”
no último dia de intervenção.

REFERÊNCIAS

BASCO, M. R. & RUSH, A. J. Cognitive-Behavioral Therapy for Bi-


polar Disorder. New York: The Guilford Press-2nd Edition. 2005.

CAMINHA, R., WAINER, R., OLIVEIRA, M. & PICCOLOTO, N. Psico-


terapias Cognitivo Comportamentais: Teoria e Prática. São Paulo:
Casa do Psicólogo. 2003.

LEMES, C. B., NETO, O, J. Aplicações da psicoeducação no contex-


to da saúde: Temas em Psicologia, 2017.

SARRIERA, J. C. Psicologia Comunitária: estudos atuais. 1. ed.


Porto Alegre: Sulina. 2004.

SILVA, R. Facilitando a cooperação: relato de estágio de psico-


logia comunitária com crianças. 2008. Disponível em: <http://
newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/RenataPereiraSilva.pdf>. Acesso em:
01 de dezembro de 2017.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

YALOM, I. D. Psicoterapia de Grupo: Teoria e Prática. Porto Ale-


gre: Editora Artmed, 2006.

ZIMERMAN D. A importância dos grupos na saúde, cultura e di-


versidade. São Paulo: Vínculo. 2007.

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AUTORES

JACKELINY DIAS DA SILVA (Org.)


Psicóloga, graduada pela Universidade Federal de Goiás, Espe-
cialista em Gestão de Pessoas pelo Instituto de Graduação e Pós-
-graduação (IPOG), Mestranda no PPGGO da pela Universidade
Federal de Goiás, na linha de pesquisa Indivíduo, Organização,
Trabalho e Sociedade. Professora orientadora no curso de Espe-
cialização em Ensino Interdisciplinar em Infância e Direitos Hu-
manos da Universidade Federal de Goiás. Revisora de artigos
científicos da revista de administração da Universidade Estadual
de Goiás - UEG. E-mail: jackelinydias@hotmail.com

ANA PAULA MARTINS DA SILVA


Graduanda em Psicologia, Faculdade Una/Catalão, estagiária no
Centro de referência de assistência social - CRAS. Estagiária da
DEAM/Catalão.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

EDVIGES GUIMARÃES DE OLIVEIRA


Possui graduação em Direito pela Universidade Paulista. Gradu-
anda em Psicologia. Desenvolve trabalho social com a juventude
católica estigmatina como assessora juvenil. E-mail: edviges_gl@
hotmail.com

FERNANDA MARIA NUNES


Psicóloga, graduada pela Faculdade UNA/Catalão e com atua-
ções em psicologia clínica.

GUILHERME LUIZ DA ROCHA


Tecnólogo de gestão de projetos estruturais, pela Fundação Ge-
túlio Vargas, Graduando em Psicologia pela Una/Catalão.

JOÃO MANOEL BORGES DE OLIVEIRA


Especialista em Micropolítica da Gestão e Trabalho em Saúde
pela Universidade Federal Fluminense, graduado em Educação
Física pela Universidade Federal de Goiás - Campus Catalão, gra-
duando em Psicologia pela Faculdade UNA/Catalão. Exerce cargo
de professor de Educação Física no Centro de Convivência Muni-
cipal da Terceira Idade - João Fayad há cinco anos, ministrando
aulas de hidroginástica, ginástica aeróbica e localizada, dança,
alongamento e relaxamento.

LAIS MARQUES DE BRITO


Graduanda em Psicologia pela Faculdade Una/Catalão. Estagiá-
ria de psicologia na área escolar. Voluntária na escola Pestalozzi
de Catalão.

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Da Universidade para a Comunidade: perspectivas em psicologia social e comunitária - Vol. I

MARIA EDUARDA JOSÉ DE OLIVEIRA


Psicóloga, graduada pela Faculdade UNA/Catalão e com atua-
ções em psicologia clínica.

PABLO NETTO COSTA


Graduando em Psicologia, estagiando na área Hospitalar e aten-
dimento na Clínica Escola da Faculdade Una/Catalão. Participou
como estagiário voluntário no projeto piloto de Orientação Vo-
cacional realizado em 2017, que promoveu a alunos da comuni-
dade de Catalão e região uma melhor forma de tomar decisão na
hora do vestibular. Realiza palestras em empresas e instituições.
E-mail: pablonfox@hotmail.com

VIRGÍNIA APARECIDA BERALDO RODRIGUES


Bacharela em Psicologia pela Faculdade UNA/Catalão.

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