Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
O artigo pode ser acessado em <https://neoiluminismo.com/2019/07/24/a-paz-perpetua-um-ideal-regulativo-
para-uma-realidade-concreta/>
‘Maquiavel Ou a Confusão Demoníaca’ (2011), e se apresenta como uma crítica aos quatro
aspectos exegéticos da corpus bibliográfico de Maquivel: o científico, o imoralista, o
republicano e o nacionalista. A crítica exposta no livro supracitado visa desconstruir cada uma
dessas facetas, reduzindo Maquiavel a um filósofo raso de serventia impetuosa para
movimentos políticos que vieram posteriormente:
“um dos primeiros ícones filosóficos da modernidade é um autor que ela mesma admite não
compreender. As idéias dele não ficaram no papel, nem se limitaram a gerar outras idéias : transfiguraram-se em
ambições e atos, inspiraram golpes e revoluções, fundaram nações e regimes políticos, mas, na soma final, não
as compreendemos.” (DE CARVALHO, 2011, p. 14)
O grande problema desta crítica (e tal problema explicita o modus operandi típico desse
setor de intelectuais autodeclarados) é a ideologização exacerbada do conteúdo sendo
analisado: busca-se, erraticamente, uma conexão entre os ditames da obra e fatos históricos
posteriores que teriam se pautado em tais ditames e, a partir disso, conecta-se automaticamente,
sem um processo crítico, a obra como uma espécie de profecia dos horrores que se escolhe
associar à ela. Muito distante de uma análise ponderada e harmônica com o princípio de
caridade, o que o autor desta crítica faz é, evidentemente, ‘weaponizar’ o texto para fins de
vilanização do autor estudado. É uma tática muito eficiente para estigmatizar um autor perante
um público, mas que destoa tanto de uma análise genuinamente que crítica que creio ser
necessário fazer essa menção para nos policiarmos em face desse tipo de leitura que,
ironicamente, é tão rasa quanto a superficialidade que acusa existir no autor estudado aqui.
Agora, na tentativa de fazer erigir uma estrutura normativa que, não sendo incipiente,
seja ao menos encaixável no arcabouço de diretrizes com as quais nos deparamos na leitura do
Príncipe, espero que possamos vislumbrar uma saliência maquiavélica dentro da filosofia
kantiana. Algo que soa inesperado, mas que pode produzir frutíveis pontos de pacificidade
entre o normativismo e o materialismo (uma das facetas da disputa entre o realismo e o
idealismo) - a incessante busca pela neutralização de um pêndulo que está acostumado demais
a habitar nos extremos.
O Príncipe de Maquiavel é uma obra que costuma ser exaltada por sua originalidade,
sendo muitas vezes indicada como ponto de partida da ciência política moderna. Entende-se
que a ênfase de Maquiavel na “soberania” da política sobre outras matérias (como a ética)
permite um olhar constituído de frieza e imparcialidade (na medida possível) na análise dos
fatos políticos, algo que é louvável no saber moderno, fruto de uma concepção iluminista de
ciência. A presença deste tipo de análise aproxima a política das outras ciências “duras” e
contribui para o projeto de “positivação” do saber que já oscilou muito na história da filosofia
e das ciências sociais de forma geral, tendo o seu cume dentro das Relações Internacionais
durante o segundo debate interparadigmático, exemplificado pela digladiação entre as correntes
tradicionalistas e as cientificistas.
Essa contextualização é importante porque permite que enxerguemos o primeiro
paralelo de Kant e Maquiavel já é em algo que é fundamental no pensamento do florentino: a
ideia de estabelecer uma ótica de autonomia da política está presente em um determinado
momento na filosofia política kantiana, mais precisamente após as discussões a respeito da
legitimidade do Estado na Metafísica dos Costumes (tratei desta temática em meu artigo ‘Kant
e a legitimidade do Estado – Raffz Vieira’2). Vejamos a seguinte passagem:
“Contra o soberano legislador do Estado não há, portanto, resistência legítima do povo, pois somente pela
submissão à sua vontade universalmente legisladora é possível um estado jurídico. Desse modo, não há nenhum
direito de insurreição (seditio), menos ainda de rebelião (rebellio), e muito menos, em relação a ele enquanto
pessoa singular (monarca), de atentar contra sua pessoa e mesmo contra sua vida (monarchomachismus sub
specie tyrannicidii) sob pretexto de abuso de seu poder (tyrannis)” (KANT, 2013, p. 126)
É preciso muito cuidado ao analisar essa passagem e, de forma geral, toda a discussão
kantiana a respeito do direito à revolução. Longe, por exemplo, da concepção lockeana de um
direito firme de revolução em caso de insatisfação com o governo vigente, a concepção
kantiana toma muito mais cuidado com essa abertura normativa do que sua contraparte liberal3.
Kant promove, aqui, um argumento que pode ser lido como pressupondo uma noção indexical
de prioridade epistemológica, ontológica e, antes de tudo, deontológica: não se pode exigir,
enquanto um direito, a destituição do conjunto institucional que configura o Estado justamente
pela pressuposição deste conjunto na própria noção do que são direitos, afinal, de acordo com
Kant, todos os direitos no estado de natureza tem caráter meramente provisório e, a existência
de um direito conclusivo que permita a desconfiguração do Estado é contraditória à noção de
que o Estado tem a função primordial de auferir conclusividade aos direitos que eram, até então,
provisórios.
Tendo isso em mente, é possível conectar Kant e Maquiavel. Enquanto o florentino foca
na necessidade de um estudo autônomo da política, focado nos meios para que a perpetuação
do poder político presente na pessoa do príncipe seja alcançada, o filósofo prussiano é rígido
em sua defesa, dentro de uma perspectiva legal e normativa, da necessidade de autopreservação
do corpo institucional que configura o Estado, seja ele pessoalizado na figura do monarca ou
burocratizado no maquinário institucional que gere a sociedade (consistindo na distinção
weberiana entre dominação tradicional e legal-racional).
Note que o objetivo dos autores é o mesmo: a perpetuação de uma certa quantidade de
poder encalcada no Estado. Maquiavel, em sintonia com o seu papel de conselheiro, visa
indicar ao príncipe os métodos que melhor alcançam tal perpetuação; Kant, em sintonia com a
sua valorização previamente explicitada de um certo arranjo institucional estatal, visa conceber
os limites dos subordinados à essa instituição a fim de impedir a degradação desta.
No entanto, essa similaridade identificada trouxe um problema: Maquiavel pessoaliza
o Estado na figura do príncipe, já Kant, com uma sutileza impecável, afasta-se dessa noção no
decorrer da Metafísica dos Costumes, instituindo um cárater essencialmente republicano na sua
2
O artigo pode ser acessado em <https://neoiluminismo.com/2019/04/16/kant-e-a-legitimidade-do-estado-raffz-
vieira/>
3
É interesse frisar que John Locke (1632-1704) é muito mais nitidamente identificado como preceptor da
tradição liberal do que Kant, que é muitas vezes excluído desta. No entanto, sou adepto das interpretações que
sintonizam o pensamento político kantiano como uma faceta do liberalismo. cf. Guyer, 1997; Rawls, 1993 e
Ripstein, 2009.
noção de Estado de Direito (o Estado defendido pela Rechtslehre kantiana4). Precisamos
explicitar e contextualizar essa diferença antes de entrarmos na análise direta dos primeiros
capítulos do livro O Príncipe.
No decorrer dos seus conselhos, Maquiavel expressa uma visão que iguala o Estado à
um indivíduo e, como é bem sabido nas Relações Internacionais, essa visão goza de extrema
proficuidade analítica, sendo ponto pacífico entre o neoliberalismo Keohaneano e o
neorrealismo Waltziano, por exemplo. Essa espécie de individualismo metodológico é, no
contexto moderno, uma teorização de algo (o Estado) que possui um modus operandi análogo
ao de um indivíduo, o que permite a proficuidade dessa confluência metodológica. No entanto,
temos um sentido muito mais literal disso presente em Maquiavel. Nele, o Estado é,
literalmente, um indivíduo, já que temos o príncipe como representante máximo do poder
político. Lembremos, afinal, que Maquiavel está num contexto proto-absolutista, situado no
período histórico de eventual vitória do Estado sobre a Igreja, configurando a consolidação das
monarquias absolutistas (e nacionalistas - nacionalismo este que viria a ser a fagulha
revolucionária mor proponente das reformas políticas cauterizadas no seio da Revolução
Francesa).
Assim, é de crucial necessidade frisar essa junção do caráter público com o caráter
privado do Estado que existe em Maquiavel: a vontade do Estado e a do príncipe são idênticas,
não há distinção. Mais tarde, teríamos Rousseau e sua distinção entre vontade particular e
vontade geral (que pode ser problematizada com a inserção do conceito intermediário de
“vontade de todos”), distinção essa devidamente apropriada por Kant em sua distinção entre
vontade unilateral (ou multilateral) e vontade onilateral. Tais distinções não existem em
Maquiavel e, desta forma, é preciso transpor a metodologia individualista de Maquiavel, que
tem nele uma aplicação literal, para o âmbito formal/metafórico de Kant, onde o Estado é
dotado de uma vontade onilateral distinta das vontades unilaterais de seus governantes - mesmo
que o governante seja um monarca, inclusive. Essa vontade, que tem um cárater racional e
diretivo, servindo de princípio norteador e normatizador para as questões do Estado, é pública
na medida em que sempre concerne ao todo, isto é, à todo ente de direito abarcado pelo Estado
e que tenha um status de cidadão5. É, em suma, equivalente àquilo que é dever de todo
funcionário do Estado, independente do seu grau hierárquico, fazer - ou abster-se de fazer.
Para Kant, a ideia de uma condição pública legítima é meramente a ideia de que o
objetivo do Estado é proporcionar relações jurídicas legítimas entre seus cidadãos. Um papel
alicerçal. A ênfase de Kant é, portanto, normativa. Isso dá ao Estado o direito de fazer uma
série de coisas que nenhuma pessoa privada está autorizada a fazer. Por exemplo, o Estado
4
Faço uso do conceito de Rechtslehre exposto por Thomas Pogge (POGGE, 1998) cujo significado é uma teoria
particular (com uma ênfase metafísica, no caso de Kant) sobre o direito, isto é, como este deve ser instituído e
mantido. O autor usa os termos Rechtslehre e “liberalismo kantiano” de forma intercambiável.
5
Aqui a distinção cidadão vs. súdito se faz crucial: na qual o cidadão é, formalmente, co-legislador via seus
representantes; enquanto o súdito é fator necessário, mas não suficiente, para o status de citoyen/cidadão; o fator
auto legislativo, formalmente, institui a cidadania. cf. Mentiram para mim sobre Kant - Raffz Vieira. Link de
acesso: <https://neoiluminismo.com/2019/05/10/mentiram-pra-mim-sobre-kant-raffz-vieira/>
pode impor resoluções vinculativas sobre disputas, punir transgressores das leis, dentre
diversas outras coisas que, em maior ou menor grau, estão presentes na vida de qualquer pessoa
inserida em um Estado de Direito contemporâneo.
Porém, há também diversas coisas que o Estado, nessa concepção, não tem a
legitimidade de fazer. Por exemplo, o Estado não poderia simplesmente agir de acordo com os
gostos ou preferências de um grande número de cidadãos. De fato, mesmo que todos
concordassem que "não seria legal se fizéssemos isso?", esses são meramente fins privados
convergentes, não são um propósito público. Aqui resgato o conceito intermediário de vontade
de todos rousseauniano que funciona meramente como um catalisador das vontades
particulares e é qualitativamente distinto da vontade geral, que é abstrata e tem esse cárater
público supracitado. O mesmo ocorre em Kant, onde vontades multilaterais, ainda que
convergentes ao máximo, são equivalentes à vontade de todos em Rousseau e, assim, estão
abissalmente distantes da vontade onilateral, que tem qualidade distinta e irredutivelmente
formal.
Para finalizar, friso que Maquiavel, em sua junção do cárater público com o cárater
privado do Estado (ao menos na obra O Príncipe - como vimos, há uma tradição republicana
identificada em Maquiavel na sua outra obra de fama menor, Discursos sobre a Primeira
Década de Tito Lívio), trata também de fundir a distinção entre governo e Estado, tão
importante para a ciência política. Aqui há um prejuízo duplo para essa tradição realista que
acaba deixando a desejar em suas análises no que tange à essas nuances normativas. Ponto para
o tradicionalismo. O que um kantiano certamente herda dessa análise maquiavélica é a
transposição desses conselhos para um contexto que mantém as distinções entre vontade
pública e privada e governo e Estado, assim permitindo uma verdadeira higienização teórica
que irá despir-se da maioria das atrocidades aconselhadas por Maquiavel - certamente uma
vitória para o nosso contexto moderno, se me perguntar.
Um kantiano também identifica a necessidade da subordinação da vontade estatal
(agora pública e não mais privada, como no Príncipe) à política e sua cruel realidade, notando
a veemência das relações políticas e a potencial destruição da coisa pública se for gerida
idealizadamente ou partindo de pressuposições ingênuas. Kant não é nenhum Platão: uma
sociedade idealizada não é o seu objeto de análise; pelo contrário, é a relação entre o Estado
na ideia e um Estado jurídico, i.e., uma condição real de Estado de Direito.
“Um Estado (civitas) é a união de um conjunto de homens sob leis jurídicas. Na medida em que estas,
enquanto leis a priori, são necessárias (não estatutárias), isto é, resultam por si mesmas dos conceitos do direito
externo em geral, sua forma é a de um Estado em geral, ou seja, o Estado na ideia, tal como deve ser segundo os
princípios jurídicos puros; ideia que serve de norma (norma) a toda unificação efetiva em uma comunidade
política (portanto internamente)” (KANT, 2013, p. 104-105)
Kant é enfático em dizer que “[o Estado na ideia] serve de norma” para quaisquer situações nas
quais nos encontremos perante um Estado. Absorvendo Maquiavel aqui, então, chegamos à
conclusão que o tratamento do Estado como um indivíduo com interesse próprio e que busca
sua sobrevivência e perpetuação é compatível tanto com a implacabilidade hobbesiana-
maquiavélica do Estado como com o republicanismo vigente em Kant. Basta efetuarmos uma
transposição que respeite as distinções pontuadas aqui e temos para nós um ferramental realista
adaptado frutiferamente dentro da teoria kantiana.
ATO III - MIDDLE GROUND
6
Discorro sobre no artigo ‘Kant e a legitimidade do Estado’
pelas figuras de vários barões semi-autônomos e localmente valorizados, têm uma similaridade
notável ao conceito de algo que é categórico ou hipotético: a conquista do principado cujo
príncipe tem domínio amplo e os líderes no âmago daquela sociedade ostentam uma
subserviência ao príncipe é, apesar de mais difícil, categoricamente firmada, isto é, uma vez
alcançada, obtêm-se um status de conquista categórica, definitiva.
Por outro lado, naquele principado dotado de uma fragmentação de lideranças, cujas
realidades locais se identificam com notável força àqueles líderes que ali se estabelecem e que
ostentam certa independência da liderança central (exemplificado por Maquiavel com o Rei
Luis XIV na França), uma conquista, apesar de mais tangível, se mostra condicionada,
efetivamente algo expressável numa relação de if... then (se… então); ou seja, o conhecido
imperativo hipotético kantiano: se mantém-se a lealdade de uma parte significativa desses
líderes autônomos, então há estabilidade; na perda dessa lealdade, no evento de uma
dissidência entre uma parte representativa desses líderes, inicia-se um processo de turbulência
que ameaça a conquista que foi alcançada. Essa aplicação de um conceito tipicamente kantiano
numa ótica de conquista maquiavélica mostra a flexibilidade conceitual da filosofia kantiana,
que dispõe de ferramentas analíticas que, se usadas de forma multifacetada, podem expor a real
densidade desta filosofia e o seu potencial de escopo quase infinito (algo que confirma o caráter
arquitetônico - holista - da filosofia kantiana).
Já o capítulo 5 do Príncipe fornece uma forte tensão entre o pensamento maquiavélico
e o kantiano: temos aqui um conselho explícito maquiavélico das benesses, na perspectiva do
príncipe, da aniquilação de uma sociedade acostumada com o que podemos chamar de (em
alusão ao conceito moderno) autodeterminação. Tal conselho prova-se um desafio nesta
empreitada de harmonização de Maquiavel com o pensamento kantiano, que é estritamente
afeiçoado com esse tipo de sociedade, efetivamente sendo o tipo de sociedade visionada pela
teoria política kantiana, com sua famosa obra À Paz Perpétua (1795).
Bom, para fins de resolver tal tensão, é preciso que elucidar algo implícito no conselho
de Maquiavel: há um certo reconhecimento de que uma sociedade livre acostuma-se com tal
status a ponto de lutar pela manutenção deste nas mais desfavoráveis situações. Esse
reconhecimento mostra, para o kantiano, que o valor da liberdade se finca no seio social de
forma permanente, servindo de evidência, ao menos anedótica, de que tal caminho expressa
algo que reside em algum âmbito da natureza humana - ainda que ainda inarticulado. O
conhecimento da liberdade é virulento, espalha-se em tal grau que somente a aniquilação
daqueles que a conheceram consistiria num seguro controle daquela sociedade por parte de um
príncipe conquistador.
Outro ponto, que ameniza a tensão, é o meio termo proposto por Maquiavel: o
estabelecimento de uma condição que mantenha relativa liberdade daquela sociedade ao preço
do estabelecimento de um sistema oligárquico oriundo do príncipe conquistador, somado à
instauração de um sistema de tributos. Tal cenário pode ser lido como um encontro de
segundos-melhores cenários, tanto em Kant como em Maquiavel, já que para Kant, tal cenário
ainda seria um Estado de Direito7, ao menos entendido superficialmente, apesar de ser menos
7
O artigo ‘Mentiram para mim sobre Kant’ elucida as condições mínimas para que um Estado seja identificado
como um Estado de Direito: <https://neoiluminismo.com/2019/05/10/mentiram-pra-mim-sobre-kant-raffz-
vieira/>
desejável que a prévia condição de autodeterminação; já em Maquiavel, que adota a
perspectiva do príncipe, também há o entendimento de que tal cenário seria válido, já que
configura uma efetiva conquista do príncipe sobre aquela sociedade, adaptando-se ao contexto,
mesmo que algum nível de segurança esteja sendo descartado, já que a não aniquilação de uma
sociedade que havia sido livre constitui-se num perigo pervasivo dali pra frente: tal perigo
certamente rondará a existência do príncipe incessantemente.
Assim, uma vez que tais pontos de amenização tenham sido postos, o que podemos
extrair de harmonia entre o pensamento kantiano e o maquiavélico neste local é, evidentemente,
a solidez interna que ambos identificam numa sociedade livre: esta tem uma volatilidade
mínima que dificulta a perscrutação de um agente externo àquela sociedade. Além disso, ambos
os autores reconhecem em seus escritos a importância da continuidade e da transição gradual.
Já vimos nos primeiros capítulos do Príncipe a ênfase dada por Maquiavel na ideia de prudência
por parte do príncipe, mas em Kant, ela existe? Onde podemos encontrar uma noção de
prudência que se espelhe nesta discorrida pelo grande teórico italiano? É do que tratarei a
seguir.
Referências
DE CARVALHO, Olavo. Maquiavel: Ou a Confusão Demoníaca. 1. ed. São Paulo:
Vide Editorial, 2011.
FOSTER, Jay. Kant’s Machiavellian Moment. International Journal of Philosophy , [S.
l.], p. 238-260, 1 out. 2015.
KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução Leopoldo Holzbach.
2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2011.
KANT, I. Metafísica dos costumes. Tradução de Clélia Aparecida Martins, Bruno
Nadai, Diego Kosbiau e Monique Hulshof.: Editora Vozes, 2013.
GUYER, Paul. Kantian Foundations for Liberalism. Jahrbuch für Recht und Ethik /
Annual Review of Law and Ethics, Alemanha, ano 1997, p. 121-140.
HRUSCHKA, Joachim; BYRD, B. Sharon. Kant's Doctrine of Right: A Commentary.
1. ed. Estados Unidos: Cambridge University Press, 2010.
NELSON, Eric S. Moral and Political Prudence in Kant. International philosophical
quarterly, [S. l.], p. 305-319, 1 set. 2004.
POGGE, Thomas. Is Kant's rechtslehre a "comprehensive liberalism"?. In: TIMMONS,
Mark. Kant's Metaphysics of Morals: Interpretative Essays. Estados Unidos: Oxford University
Press, 1998.
RAWLS, John. Political Liberalism. Estados Unidos: Columbia University Press, 1993.
RIPSTEIN, Arthur. Force and Freedom: Kant’s Legal and Political Philosophy.
Londres: Harvard University Press, 2009.