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RUMO AO LIXO DA HISTÓRIA

Fernando Alcoforado*
É importante observar, de início, que, na tentativa de defender o governo Dilma
Rousseff, o PT e partidos aliados procuraram difundir a tese de que havia uma
conspiração das elites que, através de um golpe parlamentar, buscava apear do poder um
governo defensor dos pobres. Apesar da catastrófica devastação econômica, do colapso
da Petrobras, da corrupção sistêmica e da gestão incompetente dos governos do PT no
Brasil, algumas pessoas aderiram à tese da conspiração das elites contra os pobres. Para
entender o comportamento dessas pessoas, pode-se afirmar que algumas delas, bem
intencionadas, porém desinformadas, são movidas pela crença de que a saída do PT do
poder significaria um retrocesso para os pobres e, outras pessoas, militantes do PT e de
partidos aliados, agem, algumas equivocadamente e outras cegamente como “soldados”
em obediência ao comando de suas organizações. Todas estas pessoas defendem,
lamentavelmente, um governo que, graças à sua incompetência política e administrativa,
levou o País à bancarrota e à desmoralização das forças progressistas como alternativa
política para governar o Brasil no futuro.

Sobre o compromisso do PT com os pobres, é importante considerar a opinião do


professor Plínio de Arruda Sampaio, fundador do PT e do PSOL, já falecido, que
destacou no artigo Fatos e mitos dos governos progressistas no Brasil, que o governo
Lula não beneficiou os trabalhadores porque: 1) o salário médio da população ocupada
permanecia praticamente estagnado no mesmo nível de 1995; 2) a jornada média do
trabalhador brasileiro foi de 44 horas, fato este que significou a elevação de uma hora
em relação à média dos oito anos anteriores; 3) não impediu que a rotatividade do
trabalho continuasse em elevação, nem significou uma reversão da informalidade em
que se encontra praticamente metade da força de trabalho ocupada no Brasil; 4) as
tendências estruturais responsáveis pela perpetuação da pobreza e da desigualdade
social também não foram alteradas porque aproximadamente 40% da força de trabalho
brasileira ainda permanece desempregada ou subempregada, isto é, sem renda de
trabalho ou com trabalho que remunera menos do que um salário mínimo; 5) a
concentração funcional da renda permaneceu praticamente inalterada num dos piores
patamares do mundo; 6) a pequena melhoria na distribuição pessoal da renda, apontada
como prova cabal do processo de “inclusão” social do governo Lula, na realidade
apenas registra uma ligeira diminuição no grau de concentração dos salários; e, 7) é uma
falácia a “inclusão” social do governo Lula evidenciada na persistência de uma
população de pobres da ordem de 30 milhões de brasileiros (Ver o artigo Fatos e mitos
dos governos progressistas no Brasil de Plínio de Arruda Sampaio, disponível do
website
<http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id
=7758:manchete241012&catid=72:imagens-rolantes>). Os governos Lula e Dilma
Rousseff deram continuidade, também, à política do governo FHC que aprofundou o
processo de flexibilização e precarização das relações de trabalho no Brasil. Portanto, é
uma falácia que os governos Lula e Dilma Rousseff foram defensores dos pobres.
Feita esta introdução sobre a falácia de que o PT é defensor dos pobres, é importante
observar que o impeachment de Dilma Rousseff consumado no dia de hoje
(12/05/2016) representa o fim da era PT que se caracterizou por ter produzido a maior
devastação sobre a economia brasileira e a maior corrupção em toda a história do País.
Durante a era PT, o Brasil foi arruinado economicamente porque o sistema econômico

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brasileiro faliu ao dobrar a dívida pública que evoluiu de R$ 1,6 trilhões em 2010 para
R$ 3,3 trilhões em 2016, além de apresentar crescimento econômico negativo rumo à
depressão, taxa de inflação acima de 10%, desemprego em massa (10 milhões de
desempregados), falência generalizada de empresas (51,4% micro e pequenas empresas,
22,2% companhias de médio porte e 26,4% de grandes empresas), desindustrialização
(10% do PIB), precariedade extrema dos serviços públicos de educação e saúde e
gargalo logístico.

A estagnação da economia brasileira em que ela se encontra está contribuindo, também,


para a queda da arrecadação do governo em todos os níveis que está resultando em não
haver recursos públicos para investimento na infraestrutura econômica e social em
quantidade suficiente, bem como para atender suas necessidades mais elementares como
já vêm ocorrendo em todos os quadrantes do País. Os governos do PT de Lula e Dilma
Rousseff contribuíram, também, para o colapso da Petrobras cujo valor de mercado
encolheu em US$ 200 bilhões desde o início do governo Dilma Rousseff. Em 31 de
dezembro de 2010, um dia antes da posse de Dilma Rousseff, a empresa valia US$
228,211 bilhões e, ao final do pregão de 22/01/2016, o valor de mercado da Petrobras
era de US$ 28,032 bilhões, isto é, uma queda de quase 90%. O ano de 2015 terminou
com a empresa endividada em R$ 522 bilhões. A Petrobras chega à pior situação de sua
história ao se transformar na petroleira mais endividada do planeta. Este é o resultado
de 12 anos de incompetência gerencial e corrupção da gestão petista que transformou a
Petrobras de modelo de eficiência empresarial em um abrigo de larápios segundo a
Operação Lava-Jato.

Os resultados desastrosos da Petrobras resultaram não apenas da má gestão e das


decisões equivocadas de seus dirigentes nos investimentos realizados como, por
exemplo, a aquisição das refinarias de Pasadena nos Estados Unidos e de Okinawa no
Japão e a construção da refinaria Abreu e Lima no Brasil, mas também da corrupção. A
corrupção que caracterizou os governos do PT está demonstrada pela delação do
senador Delcídio do Amaral, ex-lider do governo Dilma Rousseff no Senado, que revela
o comprometimento de Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula em vários crimes
capitulados em lei (Ver o texto publicado pela revista Isto É sob o título A delação de
Delcídio disponível no website
<http://www.istoe.com.br/reportagens/447783_A+DELACAO+DE+DELCIDIO>).

Com extraordinária riqueza de detalhes, o senador Delcídio do Amaral descreveu a ação


decisiva da presidente Dilma Rousseff para manter na Petrobras os diretores
comprometidos com o esquema do Petrolão e demonstrou que, do Palácio do Planalto, a
presidente usou seu poder para evitar a punição de corruptos e corruptores. O relato de
Delcídio complica definitivamente Dilma Rousseff e Lula, pois se trata de uma
narrativa de quem não só testemunhou e esteve presente nas reuniões em que decisões
nada republicanas foram tomadas, como participou ativamente de ilegalidades ali
combinadas a mando de Dilma e Lula. Em sua delação, Delcidio afirma que Dilma
Rousseff tinha todas as informações sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas,
considerada um dos negócios mais desastrosos da Petrobras e que foi firmado em 2006
com um superfaturamento de US$ 792 milhões, quando Dilma presidia o Conselho de
Administração da estatal.

Além de ter fracassado na gestão do Brasil levando o País à bancarrota, os governos


Lula e Dilma Roussef traíram os compromissos do PT e das forças progressistas em

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geral com as grandes lutas do povo brasileiro levadas avante nos últimos 50 anos, numa
incoerência histórica traidora. Esta incoerência se coloca em três planos: 1) ao aderir ao
modelo econômico neoliberal de subordinação do Brasil ao capital financeiro nacional e
internacional que foi introduzido pelo ex-presidente Collor; 2) pelo abandono do PT e
de suas lideranças de um princípio que se constituía no passado em uma marca do
partido, que o diferenciava dos demais, qual seja a prática da ética e da moralidade no
exercício da política como ficou evidenciado com as alianças que realizou com
“escórias” da política brasileira como Collor, Sarney, Maluf e Renan Calheiros, entre
outros, para conquistar e se manter no poder, além de adotar o método espúrio de
compra de votos no parlamento demonstrado no caso do “mensalão”; e, 3) a adoção de
uma política clientelista institucionalizando o programa Bolsa Família de transferência
de renda que, sob o pretexto de ajudar os pobres, funcionou, na prática, como
instrumento de compra de votos nas eleições.

Pelo exposto, a penalidade sofrida por Dilma Rousseff de impeachment pelo crime de
responsabilidade foi muito pequena quando deveria ser responsabilizada, também, por
ter arruinado economicamente o Brasil, quebrado a Petrobras e ter sido conivente com o
estado de corrupção política sistêmica desenfreada que é conhecido como cleptocracia,
o que literalmente significa "país governado por ladrões". O PT e seus aliados se
encaminham definitivamente para o lixo da história.

*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em


Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br

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