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CAPÍTULO IV

Visita de uma grande dama recém-desencarnada. — Uma retribuição


de ação. — Duas almas secularmente rivais reencarnam como mãe e
filha. — Todos os atos praticados na Terra são conhecidos no mund o
espiritual. — A criatura que viajou inesperadamente.

As dificuldades encontradas vida afora pelas almas encarnadas na Terra


constituem os pequenos problemas que lhes são propostos como parte das
lições que vieram aprender em sua nova encarnação. São pequenas lições
que lhes cabe estudar ao longo dos seus dias terrenos, como exercício que
todas devem fazer para marcharem adiante, em busca de cursos mais
adiantados. Não há, por conseguinte, problemas, superiores à capacidade de
cada alma, porque tudo é determinado exatamente segundo as possibilidades
de cada uma. Paralelamente é facultado às almas encarnadas apelarem aos
céus em qualquer momento em que defrontem dificuldades aparentemente
superiores às suas forças, e receberão então do Alto o socorro, ajuda ou
esclarecimento que lhes permita vencer o impasse. Bom seria para todos os
encarnados firmarem-se nesse princípio de recorrerem ao Alto o mais
freqüentemente possível, porque essa prática lhes proporcionaria sem dúvida
uma trajetória terrena bem mais suave e tranqüila do que possam imaginar.
Todos nós que vivemos no Alto após havermos percorrido seguidamente os vários
caminhos da Terra, onde logramos acumular os conhecimentos e experiências que
possuímos, todos nós nos empenhamos de toda a maneira em cooperar com as almas
encarnadas, sempre que um pedido nos chega nesse sentido. Da observação que
habitualmente fazemos do nosso plano de vida, temos constatado que ainda vivem muitas
almas encarnadas no solo terreno, inteiramente desligadas do seu plano espiritual, onde
não chega um pensamento sequer, por se encontrarem completamente mergulhadas nos
interesses da vida material. Muitas há, inclusive, que nesse estado de absoluto
desinteresse partem de regresso deste mundo terreno, onde não cuidaram, mesmo por
alto, da vida espiritual. Essas almas assim desencarnadas sem o menor cabedal de
conhecimentos da vida espiritual e inteiramente desprovidas da luz que teriam adquirido
através do hábito da oração diária, encontram-se numa situação deveras
lamentável. Não tendo adquirido a luz que vieram buscar na Terra, motivo
principal da sua encarnação, não podem ascender, em muitos casos, aos
planos que lhes estavam reservados. Eu vos apresentarei uma imagem
terrena que poderá ajudar a compreensão do que venho dizer-vos.
Imaginai uma criatura humana que, por motivos superiores à sua vontade,
foi retirada da cidade em que vivia confortavelmente, mas absolutamente
despreocupada de seu futuro, e foi levada para bordo de um navio juntamente
com muitas outras, cujo destino ignorava. Isto não fora, entretanto, uma
surpresa, porquanto todas aquelas criaturas sabiam que um dia isso
aconteceria, mas sem saberem quando. Uma vez a bordo, essa criatura da
minha imagem começou a pensar seriamente em sua situação, uma vez que
não se prevenira de recursos para viver no porto onde tivesse de
desembarcar. Chegado então o momento de desembarcar, teria essa criatura
verificado tratar-se duma bela cidade muito bem construída, muito ampla,
dotada de excelentes casas de hospedagem, hotéis de fino trato, etc.
Verificou porém, profundamente constrangida a criatura imaginária, que não
dispunha sequer de um mínimo que lhe permitisse tentar viver nas condições
mais precárias da cidade. Seus pensamentos voltavam-se, desolados, para a
vida que logrou construir na cidade que deixara para trás, donde não trouxera
o necessário, o indispensável mesmo para viver em sua nova situação. E o
que testemunhava, então, a nossa criatura imaginária? Apenas isto: outros
passageiros do mesmo navio em que viera, iam-se acomodando
confortavelmente nos melhores hotéis e outras casas de hospedagem, para o
que se encontravam fartamente providas da moeda que tal situação lhes
permitia. E depois de muito peregrinar através dos vários bairros de sua nova
cidade, sentindo já necessidades alimentares impossíveis de satisfazer, o que
é que restava à nossa criatura imaginária? Nada mais do que estender a mão
à caridade pública para poder sobreviver.
Transportemos em seguida esta imagem para o plano espiritual, e facilmente vos
convencereis, filhas e filhos meus, do valor da oração sincera, com o mesmo propósito
com que diariamente cuidais da alimentação do corpo. As almas que aportam ao plano
espiritual desprovidas de um foco de luz própria, objeto fundamental de sua vinda à Terra,
podem ser comparadas àquela criatura da imagem precedente. Não possuindo luz própria
decorrente de seus atos e pensamentos vividos no corpo, as almas nestas condições ou
permanecem estacionadas no local em que foram deixadas após largarem na Terra os
seus despojos, ou se decidem a implorar a caridade daquelas que lhes passarem
próximas, para que as ajudem a caminhar. Direis vós talvez: e essas almas não possuíam
luz antes de reencarnarem?
Sim, é a resposta certa. A luz anteriormente alcançada pelas almas em
referência pertence-lhes, efetivamente, mas está-lhes reservada para ser
entregue no momento oportuno. No regresso ao mundo espiritual, deve viver
cada alma daquilo que logrou adquirir em sua última existência no corpo,
como prova e conseqüência do que tiver alcançado ao longo dessa existência.
Já tem acontecido, serem tão precárias as condições em que regressam ao
Espaço certas almas que não se preocuparam jamais com esse momento, que
muitas outras se reúnem para orar por elas, com o objetivo de implorar ao
Senhor uma velinha que seja para que possam caminhar.
Isto que aqui escrevo, filhas e filhos a quem muito quero e estimo, tem o
propósito de radicar em vossos belos Espíritos a idéia da necessidade que a
todos assiste de vos preparardes para a vivência nos planos do Além.
Nenhum de vos aqui se encontra pela primeira vez, nem provavelmente pela
última, tendo reencarnado muitas e muitas vezes nas várias regiões do mundo
terreno, mas sempre com este único objetivo: aumentar a luz do vosso
Espírito por meio da prática de ações meritórias, mas também da oração
constante, como alimento que é do vosso Espírito. Efetivamente, enquanto o
corpo se alimenta e conserva por meio do alimento material oriundo do solo
terreno, o Espírito, que é luz, só se alimenta de luz, luz e mais luz, mediante a
qual se engrandece e progride. A luz espiritual, o Espírito a adquire em
primeiro lugar por meio da oração preferida como hábito diário em momentos
de recolhimento, nos quais ele se dirige ao Senhor Jesus para agradecer as
graças recebidas nesse dia e pedir sua continuação para o dia seguinte.
Recebe igualmente luz o Espírito que ora pelos semelhantes, os quais lucram
com isso esclarecer-se e vencer possíveis dificuldades momentâneas, graças
à oração proferida em seu favor pelos Espíritos bondosos, a quem a
Misericórdia divina distribui porção igual à que solicitaram para outrem. É,
pois, da prática da oração que resulta a iluminação das almas encarnadas,
para o seu engrandecimento. É também a oração uma das maneiras ao
alcance dos mais humildes, para praticarem a caridade aos semelhantes.
Enquanto a prática de obras assistenciais requer a posse de recursos que a
possibilitem, a caridade por meio da oração depende exclusivamente do
desejo de praticá-la, de boa-vontade apenas.
Em seguida eu vou narrar-vos uma pequena história que muito haveis de apreciar
pelo ensinamento que da mesma há de resultar para os vossos Espíritos. Eu recebi certa
ocasião, em meio às minhas ocupações habituais de orientação e ajuda a quantas almas
boas apelam para mim de muitos recantos da Terra, uma comunicação dos meus
assessores de que uma grande dama da Terra, recém-desencarnada, desejava muito
falar-me e solicitava dia e hora para ser recebida. Este protocolo era comum na Corte
donde provinha a grande dama, e por isso assim marcava o seu pedido de audiência.
Recebida a comunicação dos meus auxiliares, eu determinei que mandassem
entrar imediatamente a ilustre dama, porque eu a atenderia naquele mesmo
momento, como costumo fazer a quantas almas me procuram, e que são
muitas diariamente. Levada a minha resolução à visitante, ela surpreendeu-
se com a minha disposição de a receber prontamente, porém pediu para a
receber no dia seguinte, visto desejar apresentar-me certos documentos que
não estavam presentes. Ela estava habituada, como é óbvio, às audiências
em seu palácio deixado na Terra, e por isso desejava apresentar-me
elementos que possuía e que julgava importantes. Cientificada deste fato,
resolvi dirigir-me ao seu encontro no salão em que se encontrava, e isto
surpreendeu-a bastante. Com o propósito de a deixar à vontade, fui-lhe
dizendo que era meu o interesse em receber naquele momento a sua visita,
cuja vivência terrena eu acompanhara atentamente do Alto. E quanto aos
documentos, seria bastante citá-los ela mesma, porque eu lhe daria ali mesmo
o conteúdo de cada um. A minha visitante ficou maravilhada com este fato,
mas ao mesmo tempo notei o seu receio de que eu conhecesse em minúcias
todos os detalhes da sua última existência terrena. Para a tranqüilizar eu
disse-lhe mais ou menos o seguinte:
— Minha filha muito querida: não há um único ato praticado no mundo
terreno, pelas almas que nele se encontram, que não seja aqui conhecido por
nós, sobretudo pelo Senhor e por mim, pelas responsabilidades que nos
pesam em relação à vivência de cada uma. No teu caso, por exemplo, eu te
direi que conheço todos os atos que praticaste nos setenta anos que na Terra
estiveste, tanto aqueles extremamente meritórios, em que muitas lágrimas
enxugaste graças à generosidade do teu coração, como alguns outros que
não desejo recordar, mas que estão visíveis na tela da tua consciência.
A milha filha presente, ao ouvir minhas últimas palavras, perturbou-se e
arrojou-se aos meus pés em pranto e implorando perdão pelo que de injusto e
condenável praticou na Terra. Eu levantei-a carinhosamente, abracei-a e
sentei-a novamente no lugar próprio. E prossegui:
Como vês, minha filha querida, aqui não necessitamos de comprovantes para
ajuizarmos da conduta dos filhos que se encontram na Terra. No teu caso
particular, eu verifico que possuis uma percentagem muito alta de atos bons,
mediante os quais proporcionaste internação e assistência hospitalar a milhares de
criaturas necessitadas. No caso o teu mérito inconteste reside na tua ação
decidida no sentido de que o Estado construísse os hospitais para a população
pobre; ainda assim, vale a tua iniciativa e determinação de insistir para que os
homens do governo fornecessem os recursos para as obras. Verifico, igualmente,
com grande alegria que muito te empenhaste em povoar de escolas o território do
teu país, em virtude das quais muitos milhares de seres infantis lograram despertar
a inteligência para a vida terrena. Sim, minha filha; louvo e muito a tua decisão de
angariar recursos através das reuniões sociais que organizaste, e que muitas
foram, para atender aos necessitados de tudo: roupas e alimento. Observo que
boa parte da tela na qual a tua vida se reflete, está iluminada de estrelas muito
belas, nela incrustadas por esses atos bons, altamente meritórios. A sombra do
brilho refletido para esse conjunto de estrelas é que produz este belo foco de luz
que ostentas e pelo qual eu te felicito, minha filha muito estimada.
Ela, profundamente emocionada, desejava falar-me. Desejava dizer-me
algo que eu bem conhecia. Concedi-lhe a palavra, porém aquela filha ali
presente, envolvida na intensa onda de autor que eu projetava sobre ela para
seu maior conforto na minha presença, não conseguia articular as palavras.
Para a consolar eu disse-lhe que apenas pensasse o que desejava dizer-me,
e eu lhe responderia o que fosse necessário. Ela assim fez. Projetou na tela
de sua consciência alguns fatos em que fora parte principal na Terra, entre
eles, lamentavelmente, o sacrifício de uma criatura por motivo de zelos
excessivos. Contribuíra, se não mesmo determinara o extermínio de uma vida
que não lhe pertencia, mas desejava livrar-se de sua presença. Eu conhecia
realmente o fato lamentável, e assim lhe falei:
— Filha do meu coração: a vida terrena, infelizmente, ainda comete
dessas infrações às leis divinas, uma vez que a ninguém é dado interromper o
fio da vida do semelhante. Compreendo bem, que esse ato condenável muito
influiu para que te dedicasses posteriormente à prática de todos aqueles atos
meritórios já mencionados. Isto redimiu em boa parte a falta que cometeste.
Devo acrescentar, porém, que a tua falta ainda sofreu uma redução bastante
notável, por se tratar duma retribuição de ação, na qual a vítima foste tu
própria em vida precedente. As circunstâncias determinaram que novamente
vos encontrásseis no mundo, e os fatos assim aconteceram. Houve, por
conseguinte, aí, uma retribuição pela lei de causa e efeito. Levanta, pois, o
teu moral, minha querida. Eu me incumbirei em seguida de vos reaproximar,
não mais como rivais, mas como boas amigas, numa encarnação em que
sereis mãe e filha. Acalma-te, pois, minha filha. Afasta essa triste recordação
da tua memória, e prepara-te para regressares à Terra, onde receberás em
teu lar como filha a quem muito hás de amar, essa nossa irmã.
Foi assim que eu me desempenhei da visita daquela filha muito querida.
Devo acrescentar, para finalizar, que ambas voltaram à Terra como eu
desejei, aqui viveram uma longa existência como mãe e filha, através da qual
se constituíram em verdadeiras e grandes amigas.
Deixo-vos aqui a bênção que o Senhor vos envia por meu intermédio, e a
minha própria que eu vos ofereço de todo o coração.

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